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Bailão: Trajetórias, sociabilidades e geração entre homens com condutas homossexuais em São Paulo

Bailão: Trajectories, sociability and generation among men with homosexual conducts in São Paulo

Bailão: Trayectorias, sociabilidades y generación entre hombres con conductas homosexuales en São Paulo

Resumo:

Este artigo tem como objetivo discutir homossexualidade masculina e geração a partir de uma análise crítica de Bailão, curta-metragem documental lançado em 2009. Com base nos discursos dos entrevistados, exploramos suas trajetórias e regimes de visibilidade, considerando-os como representativos de uma geração que atravessou mudanças profundas no que concerne à homossexualidade masculina no Brasil e, em especial, na cidade de São Paulo. Em seguida, debruçamo-nos sobre eventos que marcaram o início de uma visibilidade positiva para homens homossexuais a partir da década de 1970, bem como a epidemia de Aids na década seguinte. Concluímos com a percepção de que não se trata meramente de um filme sobre a danceteria que o intitula mas, acima de tudo, sobre uma miríade de subjetividades e acontecimentos cuja importância para o segmento populacional analisado não deve ser subestimada.

Palavras-chave:
homossexualidade masculina; geração; trajetória; sociabilidade; subjetividades

Abstract:

This article discusses male homosexuality and generation based on a critical review of Bailão, a short documentary released in 2009, through an analysis of its interviews. The trajectories narrated by the interviewees and its visibility regimes are explored as representatives of a generation that underwent profound changes regarding male homosexuality in Brazil and, most especially, in the city of São Paulo. We take an in-depth look at events that marked the beginning of a positive visibility for homosexual men starting in the 1970s, as well as the AIDS epidemic in the following decade are. We conclude with the perception that Bailão is not merely a movie about the nightclub for which it is named but, above all, about a wide range of subjectivities and events not to be underestimated in its importance for the population analyzed.

Key words:
male homosexuality; generation; trajectory; sociability; subjectivities

Resumen:

Este artículo tiene como objetivo discutir homosexualidad masculina y generación a partir de un análisis crítico de Bailão, cortometraje documental lanzado en 2009. A partir de los discursos de los entrevistados, exploramos sus trayectorias y regímenes de visibilidad, considerándolos como representativos de una generación que pasó por cambios profundos en lo concerniente a la homosexualidad masculina en Brasil y, en especial, en la ciudad de São Paulo. Posteriormente, nos ocupamos de los eventos que marcaron el inicio de una visibilidad positiva para hombres homosexuales a partir de la década de 1970, así como de la epidemia de HIV/Sida en la década siguiente. Concluimos apuntando que no se trata de una película solamente sobre la discoteca homónima, sino, antes que nada, sobre un amplio espectro de subjetividades y de acontecimientos cuya importancia para el segmento poblacional analizado no debe ser subestimada.

Palabras clave:
homosexualidad masculina; generación; trayectoria; sociabilidad; subjetividades

Introdução

No documentário Bailão (2009CAETANO, Marcelo. 2009. Bailão. Brasil (16min)), dirigido por Marcelo Caetano, são contadas histórias que envolvem a sociabilidade homossexual de homens de meia-idade e idosos a partir da boate ABC Bailão, na região central da cidade de São Paulo. Bailão é um filme que nos possibilita pensar uma série de questões. Trajetórias, regimes de visibilidade e mudanças podem ser alguns temas relevantes para olhar com um pouco mais vagar. Como destacado no filme, a visibilidade dos desejos e das práticas homossexuais constituiu por muito tempo uma questão problemática mesmo em São Paulo, a maior metrópole do país.

Por outro lado, também é flagrante no documentário uma alteração no que diz respeito à construção do lugar social da homossexualidade (Carrara, 2016CARRARA, Sérgio. 2016. “A antropologia e o processo de cidadanização da homossexualidade no Brasil”. Cadernos Pagu [online]. Nº. 47. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332016000200604&lng=en&nrm=iso >. [Acesso em: 13.07.2017].
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), bem como às relações que se estabelecem a partir dela, especialmente quanto à questão etário-geracional. Ainda que esse marcador possa ser relativizado sob diversos aspectos (Mannheim, 1982MANNHEIM, Karl. 1982. “O problema sociológico das gerações”. In: FORACCHI, Marialice M. (ed.). Karl Mannheim: Sociologia. São Paulo: Ática. 240 p.), é evidente o estabelecimento, entre as décadas de 1990 e os anos 2000, de uma visibilidade mais “inclusiva” via consumo (França, 2006FRANÇA, Isadora Lins. 2006. Cercas e pontes. O movimento GLBT e o mercado GLS na cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, Universidade de São Paulo.) que não era percebida pelos sujeitos do filme em décadas anteriores, época em que eles eram mais jovens e começavam a se “aventurar” nas práticas e com os desejos homossexuais. Como veremos adiante, para muitos deles manter tais práticas e desejos na clandestinidade era a única opção verdadeiramente viável.

Na primeira parte do artigo destacaremos alguns elementos presentes no filme que nos ajudam a pensar questões que envolvem visibilidade, vergonha, medo, aventura e desejo. Para tanto, isto se dará a partir de conceitos sobre regimes de visibilidade, de maneira que possamos refletir a respeito de uma geração que atravessou transformações significativas no que concerne à compreensão da homossexualidade masculina. Tanto no plano social quanto individualmente, operaram-se mudanças no campo dos afetos, da sociabilidade, do consumo e da política, aspectos estes que aparecem com força no filme através dos discursos das pessoas entrevistadas.

A segunda parte do artigo, que continua a percorrer as trajetórias apresentadas por Bailão, se debruça sobre determinados acontecimentos que marcaram o início de uma visibilidade positiva para homens homossexuais a partir de finais da década de 1970, bem como uma tragédia que assolou a comunidade gay em grande parte do mundo - inclusive o Brasil - na década posterior. Ainda centrados nas narrativas evocadas por esses mesmos protagonistas, visamos discorrer sobre o impacto trazido por uma montanha-russa de experiências ocorridas num curto espaço de tempo.

1. Desejos marginais: a geração que bailou da vergonha à visibilidade

Bailão é um filme que nos estimula a refletir sobre vários temas que intersectam marcadores como sexualidade, gênero, geração e classe. Já nas primeiras cenas destaca-se a presença de uma compreensão valorativa sobre a juventude que a faz extrapolar os limites de uma “fase da vida”. Como aponta Guita Debert (2004DEBERT, Guita. 2004. A Reinvenção da Velhice: socialização e processos de privatização do envelhecimento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 272 p.), nas últimas décadas, a juventude passa a ser perseguida como um valor, sujeito a regras, códigos e regimes que seriam desejáveis (e urgentes) durante todos os momentos da vida, para todos os sujeitos. Assim, a cronologização do curso da vida perderia um caráter mais linear, orientado por aspectos biológicos, e restaria à mercê das particularidades dos scripts (Gagnon & Simon, 1973GAGNON, John & SIMON, William. 1973. Sexual conduct: the social source of human sexuality. Chicago: Aldine. 378 p.) de cada sujeito e das relações por eles estabelecidas.

Em vista dessas novas conjunturas é que alguns sujeitos do filme parecem “perdidos”, “fora do prumo”, “deslocados”, incomodados com as “conquistas” que sinalizariam estar fora do seu tempo. Nesse sentido, parece interessante pensar estas temáticas, explicitadas em Bailão, a partir do que foi problematizado na dissertação de Saggese (2009SAGGESE, Gustavo Santa Roza. Quando o armário é aberto: visibilidade e estratégias de manipulação no coming out de homens homossexuais. Dissertação. (Mestrado em Saúde Coletiva). IMS. Universidade do Estado do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2009.) sobre o conceito de “mapas de segurança”. Com base na contribuição de Gail Mason (2002MASON, Gail. 2002. The spectacle of violence: homophobia, gender and knowledge. London: Routledge. 176 p.), o autor problematiza essa noção entre as estratégias de visibilidade e manipulação do coming out entre homens homossexuais na cidade do Rio de Janeiro e seus arredores.

Para Mason, que pesquisou mulheres lésbicas na Austrália dos anos 1990, os “mapas de segurança” seriam “uma matriz de atributos e relações em constante mutação, personalizada, ainda que compartilhada, que os indivíduos empregam a fim de circular no espaço público e privado” (2002: 84). Portanto, a noção de “mapas de segurança” é potente como um elemento estratégico para gerir a visibilidade da homossexualidade em contextos nos quais há a vigência de um discurso de violência contra pessoas LGBT. A argumentação de Bailão, especialmente os depoimentos dos homens que aparecem no filme, resta de acordo com esta perspectiva.

Em Bailão, os “mapas de segurança” podem se referir a estratégias que falam de circulação, espaços de sociabilidade, corporalidades, orientação sexual, paquera, práticas sexuais, enfim, possibilidades de tornar uma vida vivível em contextos adversos. A partir da descoberta do que um dos entrevistados chama de núcleo escondido, por exemplo, trocas sexuais e afetivas tornavam-se possíveis numa sociedade que o considerava, ainda de acordo com suas palavras, uma “aberração da humanidade”.

Interessante, portanto, pensar essa noção como um balizador da análise dos riscos a que estes sujeitos poderiam estar submetidos, bem como estabelecer critérios de negociações que cotidianamente se apresentariam como necessários para gerir as possibilidades de perambulação pelos mais variados espaços sociais (Saggese, 2009). Em síntese: como se deve performar? Onde é possível ser bicha? Como ser bicha e estar em segurança? “Assumir-se”, ou “esconder-se”, algo que hoje talvez seja uma preocupação pouco relevante para grande parte dos jovens que vivenciam práticas homoeróticas em São Paulo, revelaria uma cuidadosa avaliação de riscos e benefícios. Para Saggese,

Os “mapas de segurança” têm por objetivo reduzir ao máximo a possibilidade de vitimização pela homofobia, mas da mesma forma que a negociação de limites nos espaços mais restritos ao âmbito privado, funcionam também como ferramenta de demarcação de fronteiras (Saggese, 2009: 82).

Como se percebe em muitos momentos de Bailão, há preocupações sobre como a visibilidade das orientações sexuais e identidades de gênero que não seguem a norma heterossexual serão interpretadas pelo conjunto do corpo social, e também o que pode decorrer desta interpretação. Tal preocupação justifica-se em virtude das inúmeras formas de violência dispensadas a esta população (Venturi, 2011VENTURI, Gustavo. 2011. “Da construção dos dados à cultura da intolerância às diferenças”. In: VENTURI, Gustavo. Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo. 256 p.). Em vista disto, a necessidade de constantemente “mapear” corpos e condutas.

O objetivo é claro: sujeitar as pessoas a controlar e a administrar, em diferentes graus, suas estratégias de visibilidade - as quais serão mais ou menos possíveis segundo os territórios desejantes em que estarão perambulando. Mesmo respeitando o confinamento dos espaços em que a vazão de determinadas práticas era possível, não se estava, contudo, completamente livre da discriminação, como atenta uma das vozes ao discorrer sobre o que acontecia nos cinemas, por exemplo, pois às vezes “o lanterninha pegava você no flagra e chamava a polícia”.

Em outro momento do filme, esse mesmo entrevistado conta que era impensável, para um homem que desejava sexualmente outro homem, viver junto. A possibilidade de uma relação amorosa entre dois homens era tida como impossível, pois ela não existia na sua rede de relações mais próxima. Razões para essa impossibilidade estavam na falta de conhecimento e de informação sobre o que ele nomeia de homossexualismo, além de uma percepção da homossexualidade como uma aventura.

Este ponto é muito sintomático de uma época. A homossexualidade não aduzia à relação, a sentimentos, ao amor romântico - pelo menos para este entrevistado. Ela era percebida como uma aventura, furtiva, era um fluxo desejante, libidinosa, levada a cabo por sujeitos marginais, subversivos, e não havia nem tempo nem espaço para pensá-la de maneira mais rósea. Não havia virtude e sobrava possibilidade de pecado. “Deus que me livre de no emprego você ser descoberto que era gay!”, diz outro entrevistado.

Talvez quem tenha conseguido captar, com sutileza, a especificidade desse tempo foi Néstor Perlongher em sua obra seminal O Negócio do Michê (1987). Debruçando-se sobre a prostituição masculina em São Paulo nos anos 1980, ele conseguiu interseccionar o que anos mais tarde ficaria conhecido como marcadores sociais da diferença, tais como gênero, sexualidade, raça e classe - elementos que eram fundamentais para pensar a relação de desejo e negócio entre clientes e michês.

Mas a aproximação de Perlongher com a narrativa de Bailão não se dá apenas por compartilhar algumas categorias presentes no filme, mas sim por serem aqueles territórios de desejo os mesmos que foram perambulados pelo autor; além disso, tanto o antropólogo como o filme fazem referência a uma mesma época. Parte da narrativa dos entrevistados tem lugar entre o final dos anos 1970 e o começo dos anos 1980 e eles são filmados no “centro velho” de São Paulo - a então chamada Boca do Lixo - que deu vida aos fluxos desejantes das personagens de Bailão, e também do negócio de Perlongher.

Bailão e o texto de Perlongher, dentre outros, nos mostram como é possível que determinados marcadores funcionem como um elo capaz de aguçar o desejo. Os “tensores libidinais”, como diria Perlongher, especialmente a classe, mostravam como o desejo não respeita as fronteiras demarcadas por uma espécie de veludo cultural que se convenciona como “normal”. E isto está presente em outro momento do filme, quando determinado entrevistado conta que essa “liberação e essa maior tolerância” teriam chegado “tarde demais”.

Por liberação e tolerância podemos pensar a maior visibilidade da homossexualidade. Esta percepção, bem como conquistas nos âmbitos social e político, desdobramentos desse novo cenário, aliadas a transformações de outras ordens, podem ter contribuído também para a constituição daquilo que ficou conhecido como “mercado GLS”, cujo epicentro nacional é a cidade de São Paulo, isto é, um circuito de entretenimento e sociabilidade direcionado à população LGBT e, mais especialmente, aos gays, que tão somente propicia uma sensação de liberdade e bem-estar, como bem problematiza Isadora Lins França (2012FRANÇA, Isadora. 2012. Consumindo lugares, consumindo nos lugares: homossexualidade, consumo e subjetividades na cidade de São Paulo. Rio de Janeiro: Eduerj. 282 p.).

Junto a isso aparecem também determinações e políticas especificamente direcionadas aos homossexuais, como o reconhecimento da união homoafetiva, em 2011, e a posterior possibilidade de casamento, dois anos depois. Mesmo antes disso e já no tempo em que Bailão foi lançado, muitos estados brasileiros, incluindo São Paulo, já tinham leis antidiscriminatórias que visavam combater a homofobia (Saggese, 2015SAGGESE, Gustavo Santa Roza. Entre perdas e ganhos: homossexualidade masculina, geração e transformação social na cidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Antropologia Social). PPGAS. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2015.).

Mas por que nosso interlocutor disse que isso chegara tarde demais? Sua compreensão é a de que ele teria crescido num período histórico em que ser homossexual era ser “criminoso e pecaminoso”. Suas palavras nos informam que a homossexualidade “era uma coisa feia, que não se conta, vergonhosa”. Em virtude da construção desse lugar, seu desejo teria sido educado para a manifestação em situações de marginalidade. Por contextos marginais ele entende a noite, os becos escuros, as saunas, dentre outros. Portanto, se toda uma trajetória, já longeva, foi estabelecida desde outrora sob os auspícios da marginalidade, segundo ele, “não dá mais para me reeducar. Eu fui educado para ser marginal, não dá para ser mocinho agora com 66 anos. Então, eu vou continuar sendo marginal”.

Ao assistir Bailão, está presente uma sensação de trânsito e de descontentamento com os novos tempos. Apesar de certo reconhecimento de avanços e transformações que podem ser encaradas como positivas, há a permanência de desconfortos em vista das mudanças operadas. Quer dizer, mesmo na maior metrópole do país havia alguma desinformação em torno das práticas eróticas e sexuais entre pessoas do mesmo sexo, pelo menos entre alguns dos homens que aparecem no filme.

Isso é bastante interessante, pois havia uma visão completamente diferente de São Paulo da parte daqueles homens que lá chegavam de outras regiões do país. Na tese de Passamani (2015PASSAMANI, Guilherme R. Batalha de Confete no “Mar de Xarayés”: condutas homossexuais, envelhecimento e regimes de visibilidade. Tese. (Doutorado em Ciências Sociais). PPGCS. Universidade Estadual de Campinas: Campinas-SP, 2015.), um dos entrevistados, Rubens (66 anos), que foi estudar em São Paulo na década de 1960, oriundo de Corumbá, região do Pantanal de Mato Grosso do Sul, assim compreende a nova cidade em que passou a residir:

Achava São Paulo a coisa mais louca do mundo. Eu fiquei aterrorizado quando cheguei. Mas acostumei e vivi cinco anos lá. Daí aconteceu o contrário, o baque foi voltar. Voltar pro Pantanal foi muito ruim, porque eu já era outra pessoa. Sinto uma falta de mim em São Paulo. Por isso, sempre que posso, estou lá.

A São Paulo dos anos 1960 foi para Rubens um tempo de descobertas, circulação, novas experiências e a possibilidade concreta de aproximações afetivas e sexuais com outros homens, sem o “peso” do controle que teria experimentado na cidade de origem. Isto não quer dizer que todos os “empecilhos” destacados pelos entrevistados de Bailão não estivessem presentes também. Mas a perspectiva de Rubens é outra, porque a cidade de origem seria sempre a sua base de comparação (Passamani, 2015PASSAMANI, Guilherme R. O casamento como “armário”: histórias de um homem com conduta homossexual no pantanal de Mato Grosso do Sul. Sex., Salud Soc. (Rio J.) [online]. 2015a, n.21, pp.111-135.a).

Precisamos destacar ainda que as trocas culturais, quem sabe, ocorreram de forma mais acentuada em São Paulo devido aos inúmeros fluxos a que está submetida a vida metropolitana, o que fez com que acabasse por ser construída uma gama de discursos que permitiram uma parcial desconstrução da ideia de anormalidade associada à homossexualidade, haja vista a chegada de um tempo de “maior tolerância e liberação”.

Ernesto Meccia (2011MECCIA, Ernesto. 2011. Los últimos homosexuales. Sociología de la homosexualidad y la gaycidad . Buenos Aires: Gran Aldea Editores. 253 p.), a partir de interlocução com sujeitos bonaerenses com mais de 40 anos e influenciado pelo interacionismo simbólico, apresenta tipos ideais de dois regimes de gestão das relações e das práticas de homens homossexuais. Estes regimes são nomeados por ele de homossexualidade e gaycidade. Entre as mudanças operadas no intervalo destes dois polos, existiria o que o autor chama de três eras, em que diferentes comportamentos, práticas e relações determinariam o ritmo das mudanças operadas e em constante trânsito. Seriam elas as eras homossexual, pré-gay e gay.

Segundo Sérgio Carrara (2011CARRARA, Sérgio. 2011. “Prólogo”. In: MECCIA, Ernesto. Los últimos homosexuales. Sociología de la homosexualidad y la gaycidad. Buenos Aires: Gran Aldea Editores. 247 p.), que assina o prólogo do livro de Meccia, o que marcaria de maneira sintomática o trânsito entre um e outro regime - da homossexualidade à gaycidade - seria a passagem da “vergonha” ao “orgulho”. Para Carrara:

Habría una especie de abismo entre el régimen de la homosexualidad, caracterizado por el sufrimiento, la marginalidad y el silencio; y el régimen de la gaycidad - tal como Meccia designa, con mucha propriedad, el contexto contemporáneo - caracterizado por el orgullo, el reconocimiento y visibilidad social (Carrara, 2011: 18).

Alguns destes elementos estão em Bailão. O regime da “vergonha” diante da homossexualidade, no entanto, parece ainda existir, conforme o extrato destacado a partir da fala do entrevistado que se queixa do “atraso” na chegada de um regime de visibilidade mais tolerante e liberal. Quer dizer, a homossexualidade ainda não teria desaparecido, mesmo que os sinais diacríticos da gaycidade e do que Meccia chama de desdiferenciação - marcada, dentre outras características, por uma profusão de novos espaços onde a homossexualidade pode ser vivida de maneira mais aberta - estejam por todo lado. Portanto, a homossexualidade e seus códigos ainda seriam determinantes para certa coorte geracional e se imporiam como uma espécie de “segredo público”.

Há diferenças sintomáticas e contextuais entre a Buenos Aires analisada por Ernesto Meccia e a São Paulo retratada em Bailão. Não se trata de mais do mesmo, então não é possível transpor uma realidade para outra. Acreditamos, no entanto, que é possível estabelecer diálogos profícuos. A partir das falas presentes em Bailão conseguimos demarcar etapas claras de um tempo caracterizado por vergonha, segredo, medo. Um tempo que vai lentamente sendo enfrentado, tornado visível e sendo representado por um sentimento de orgulho e resistência.

Esses momentos, que Meccia (2011) representa como um trânsito da homossexualidade à gaycidade, teriam a ver com um sistema de visibilidade acentuado, conquista de direitos e explosões do mercado que também aproximam as pessoas homossexuais das demais, propiciando espaços de circulação, entretenimento e vivências específicos.

A primeira parte de Bailão é assim representada por meio de uma narrativa que aloca no passado - ainda que cheio de desafios e intempéries - uma época de ouro, uma espécie de comunidade harmônica, sem conflitos internos e com um “inimigo” comum. O passado aparece no filme de maneira idealizada e certos temas são silenciados. A dor e a angústia aparecem em relação ao preconceito e à discriminação, naquela altura, os grandes “vilões da história”. A idealização do passado e a reconstrução dessa temporalidade a partir do presente se dão com os olhos de hoje. As interpretações não são sincrônicas, pelo contrário, há diacronia o tempo todo.

Verbalizar e silenciar sobre experiências vividas é uma constante na vida de todos os sujeitos, aquém e além do filme. No entanto, lançar luz sobre protagonismos específicos alocados em um passado que já não pode mais ser revivido, mas sim reelaborado, parece ser, a partir da narrativa dos sujeitos de Bailão, mais interessante do que os infortúnios indesejados que, talvez, também tenham sido sintomáticos de uma geração.

2. Construindo um espaço: entre tamancos, trepadas e perdas

Avançando para a segunda metade do filme, percebe-se um deslocamento importante nos discursos dos entrevistados: se, no início, suas referências se concentram na clandestinidade de um tempo em que a homossexualidade só podia ser vivida “nas sombras”, um sopro de visibilidade surge a partir do momento em que um deles faz menção ao desbunde do final da década de 1970. Embora a ditadura militar brasileira ainda estivesse em andamento, o esboço de uma “abertura política” permitia também uma contestação mais vigorosa, que se expressava, por exemplo, na maneira de se vestir e de se comportar: eram os tamancões, homens de cabelo comprido, festas de arromba, surubas.

Ainda que mais tardiamente, caminhávamos na esteira do que já vinha acontecendo em lugares como Estados Unidos, parte da Europa e Austrália, onde desde o final da década de 1960 movimentos oriundos da chamada “contracultura” contestavam o status quo de uma série de valores sociais, dentre eles, paradigmas ligados ao que se considerava até então a maneira “correta” de vivenciar a sexualidade. Entrávamos finalmente no tempo do Somos, primeiro grupo organizado no Brasil com o objetivo de chamar a atenção para a causa homossexual. Parafraseando o entrevistado que traz à baila a popularização em São Paulo de práticas e visuais contestadores, “No meio desse desbunde, deve ter um lugar para nós. Se não houver, a gente caça esse lugar, a gente faz”.

Como aponta MacRae (1990), o grupo Somos surge em meio a uma conjuntura política que favoreceu o fortalecimento de diversos movimentos sociais em vias de consolidação no país, como o feminismo em sua “segunda onda”, o movimento negro e o movimento operário, nos quais o Somos não apenas se inspirou, mas com os quais se articulou em diversos momentos. Ao mesmo tempo em que reivindicavam visibilidade social, grupos como o Somos estavam interessados, tais quais seus correspondentes estrangeiros, em questionar as instituições vigentes e seus valores, como o casamento e a monogamia, promovendo, especialmente em seu início, os chamados “grupos de identificação” (Green, 2000GREEN, James Naylor. 2000. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Edunesp.; MacRae, 1990MACRAE, Edward. 1990. A construção da igualdade: identidade sexual e política no Brasil da “abertura”. Campinas: Ed. Unicamp. 321 p.; Trevisan, 2011TREVISAN, João Silvério. 2011. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. Rio de Janeiro: Record. 588 p.), nos quais os participantes eram estimulados a falar sobre experiências de vida e descobrir seus pares a partir de características em comum.

Além de servir como um espaço de catarse, onde era possível - para muitos, pela primeira vez - expor vivências de preconceito e discriminação em virtude da homossexualidade, esses encontros definiam afinidades que poderiam mais tarde se desdobrar em experiências afetivas e/ou sexuais. Sendo um dos propósitos do grupo colocar em xeque os limites entre amor, sexualidade e monogamia, relacionamentos abertos e poligâmicos não eram raros entre os membros do Somos. Ainda que algo romantizada, a fala de outro entrevistado do filme ilustra bem essa característica: “Nós não separávamos sexo de amor. Pode parecer ridículo falar isso hoje, mas não separava [...] A gente podia trepar com 10 por dia, mas nós amamos os 10 com que a gente trepou”.

Tendo perdurado cerca de três anos - de 1978 a 1981 - o Somos foi alvo de uma série de disputas internas que acabaram levando ao seu esfacelamento (MacRae, 1990; Trevisan, 2011), embora muitos de seus líderes continuassem a lutar pela causa homossexual, fosse de maneira independente ou em outros grupos que surgiram posteriormente. Passados alguns anos após o encerramento de suas atividades, no entanto, uma questão que atingiria direta ou indiretamente seus ex-membros fez com que muitos deles voltassem a unir forças: o aparecimento no Brasil dos primeiros casos de Aids. De modo idêntico ao que já se vinha percebendo em outros países, dentre as primeiras vítimas preferenciais estavam homens com algum histórico de prática homossexual, além de hemofílicos, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo.

Aterrissando no Brasil em 1980,, o que inicialmente foi classificado pela comunidade médica internacional como “câncer gay” fez do estilista mineiro Markito sua primeira vítima fatal conhecida e se disseminou rapidamente por várias cidades brasileiras (Bastos, 2002BASTOS, Cristiana. 2002. Ciência, poder, acção: as respostas à Sida. Lisboa: ICS. 258 p.; Parker, 1994PARKER, Richard. 1994. A construção da solidariedade: Aids, sexualidade e política no Brasil. Rio de Janeiro: ABIA/IMS-UERJ/Relume-Dumará. 144 p.). Em meados da década, quando o HIV foi finalmente isolado por uma equipe de pesquisa do Instituto Pasteur, na França, o Brasil já contabilizava um número considerável de infecções que levariam, mais cedo ou mais tarde, ao falecimento de seus portadores.

Em que pese a visibilidade positiva conquistada nos anos imediatamente anteriores, o surgimento da epidemia de HIV/Aids teve um impacto considerável na maneira pela qual a sociedade brasileira enxergava a homossexualidade e, mais especificamente, a homossexualidade masculina. Se é notável entre os entrevistados de Bailão, que discorrem sobre a vivência da homossexualidade na São Paulo pré-Somos, um regime de visibilidade permeado por “armários” e “mapas de segurança” (Mason, 2002) que impunha determinados limites às suas experimentações, com o aparecimento do HIV a homossexualidade masculina retorna à esfera da patologia - se não diretamente, como o foi durante décadas, pela associação imediata com uma doença incurável e transmissível pelo sexo.

Para muitos, revelar-se soropositivo era também revelar-se homossexual ou, no mínimo, levantar forte suspeita sobre essa possibilidade. O inverso, por sua vez, também se tornou uma realidade: ser homossexual era estar, aos olhos de uma parcela considerável da sociedade e até mesmo para os próprios homossexuais, sob o risco permanente de infecção pelo HIV (Eribon, 2008ERIBON, Didier. 2008. Reflexões sobre a questão gay. Rio de Janeiro: Companhia de Freud. 445 p.; Pollak, 1990POLLAK, Michael. 1990. Os homossexuais e a AIDS: sociologia de uma epidemia. São Paulo: Estação Liberdade. 212 p.). A histeria difundida pelos meios de comunicação de massa, que destacavam cada vez mais casos de homossexuais famosos afetados pela epidemia, tanto no Brasil quanto no exterior, acentuaria sobremaneira tal associação (Perlongher, 1987PERLONGHER, Nestor. 1987. O negócio do michê. A prostituição viril. São Paulo: Brasiliense. 272 p.; Sontag, 1988SONTAG, Susan. 1988. Doença como metáfora/AIDS e suas metáforas. São Paulo: Companhia das Letras. 112 p.).

Como é possível constatar nas mesmas falas que exaltam o “desbunde” em cuja esteira iniciativas como o Somos se apoiaram, o recrudescimento da homofobia que acompanhou a Aids é notável: “Houve toda a volta [...] da culpa, do pecado, do mal-estar, do dedo em riste. ‘Tá vendo, quem mandou você sair e fazer um sexo que não é considerado o natural, o aceito?’”, diz um entrevistado. O adjetivo apavorada, por sua vez, é utilizado por outro para caracterizar o estado em que a comunidade homossexual se encontrava ao se deparar com o mal imprevisível. Talvez simbolizando o ocaso da esperança, ainda que tímida, trazida pelo Somos e outros grupos, essa voz é acompanhada da imagem de uma lua cheia parcialmente obscurecida pelas nuvens.

De outro lado, o filme também aponta para as perdas pessoais, sem deixar de mostrar o significado mais amplo que essas mortes prematuras tiveram: Heitor, Zezé e Reginaldo são apenas alguns dos nomes citados para fazer referência a pessoas que lutaram, de uma forma ou de outra, para a construção de um mundo onde a homossexualidade pudesse ser vivida sem as amarras do preconceito. Ironia cruel do destino que essas mesmas pessoas viessem a falecer em decorrência de um mal que, para muito além de seus efeitos fisiológicos, contribuiu significativamente para o reforço de um estigma ainda em vias de amenização (Pollak, 1990).

Mesmo que mais tarde a crise social deflagrada pela doença viesse a auxiliar na construção de políticas públicas voltadas ao seu combate e em uma discussão mais aberta sobre a sexualidade (Bastos, 2002; Pollak, 1990; Trevisan, 2011), o impacto de mortes tão próximas foi sentido com força, especialmente por aqueles que haviam se envolvido de algum modo na construção das primeiras lutas. Como bem coloca um ex-integrante do Somos entrevistado por Saggese (2015) em sua pesquisa de doutorado com homens homossexuais de meia-idade em São Paulo, o contraste observado num espaço de poucos anos era abismal:

[...] Eu me lembro que logo quando começou essa história [a epidemia de HIV/Aids], teve uma palestra, uma conversa, com médicos, no teatro Ruth Escobar [...], e eu me lembro que eu tive uma sensação muito estranha, porque... justamente lá naquele teatro, o primeiro congresso de grupos homossexuais que teve no Brasil foi em São Paulo, acho que foi em 1979, ou 80, por aí, e terminou justamente no Ruth Escobar. E foi uma coisa incrível, tava fortíssima essa história, o Somos tava no auge. E aí eu me lembro [que] a sensação que eu tive lá no Ruth Escobar foi horrível, porque há uns anos atrás tava todo mundo lá, feliz, alegre, contente, comemorando uma política de afirmação, e de repente tava todo mundo lá ouvindo falar de prevenção à Aids, e... vendo aquela decadência toda; senti uma coisa totalmente decadente, assim... uma impressão muito triste, que a gente tava falando de vida, de afirmação, e de repente a gente tava falando de morte. E o que se passou a partir daí foram os amigos que começaram a ir embora. Foi um, foi outro, foi outro, foi outro, enfim, perdi muitos amigos. Dez, por aí, no mínimo. Tem que fazer as contas.

Embora Bailão não explore detidamente as consequências da Aids e o reflorescimento, entre as décadas de 1980 e 1990, do que hoje conhecemos como movimento LGBT (Facchini, 2005FACCHINI, Regina. 2005. “Sopa de letrinhas?”: movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro: Garamond. 301 p.; Simões & Facchini, 2009), o curta traz à baila a dimensão que uma visibilidade homossexual positiva tomou nas últimas décadas através da mesma voz que ecoa os nomes de amigos mortos:

Fico imaginando como eles se sentiriam hoje vendo as Paradas que têm acontecido. Foram sonhos, também, que eles ajudaram a construir [...] E de repente quando [...] esse sonho começa a se tornar realidade, eles não estão pra desfrutar disso. Acho isso uma sacanagem muito grande.

Não à toa, imaginamos, em um dos últimos momentos do filme há uma passagem dessa fala melancólica para uma cena animada na boate: o ABC Bailão, inaugurado em 1997, surge logo após o advento do chamado “coquetel”, conjunto de medicamentos que permitiu, se não a cura, uma sobrevida muito maior de pessoas afetadas pelo HIV. Esse acontecimento, inclusive, é mencionado na fala do entrevistado que relembra os amigos falecidos: Heitor, cuja morte veio a acontecer no início de 1996, por muito pouco não teve acesso aos modernos antirretrovirais, disponibilizados no Brasil poucos meses depois.

Considerações finais

Bailão é um filme multifacetado, que joga constantemente com as emoções de seus personagens e espectadores. Alternando presente e passado, em apenas 16 minutos o curta resume uma história de décadas e transporta quem o assiste para uma miríade de episódios marcantes no que concerne às transformações da visibilidade homossexual em São Paulo. Seu maior mérito, contudo, talvez resida na sensibilidade com que trata esses acontecimentos: ao mesmo tempo em que não se aprofunda, pela própria limitação de um curta-metragem, nas minúcias de cada um deles torna evidente o impacto que tiveram para as pessoas entrevistadas.

Não se trata, portanto, como poderíamos pensar à primeira vista, de um filme sobre a danceteria que empresta seu nome ao título, embora muito de sua ambientação esteja lá localizada e haja inclusive algumas falas do proprietário a respeito do lugar. Parece-nos que o ABC Bailão é apenas um personagem secundário de uma história extremamente rica que porventura pode ter, entre seus frequentadores, os protagonistas cujos discursos constituem o ponto alto do filme. Na melhor das hipóteses, poderíamos enxergar o ABC Bailão, considerando a história que carrega na geografia de seus arredores, como um pano de fundo para a contextualização de uma narrativa muito mais ampla.

Se o uso da danceteria como personagem coadjuvante ou panorama,, através do qual são contadas histórias de vida que envolvem sofrimento, decepções e esperança, é eficaz, a estratégia só funciona porque Marcelo Caetano está ciente de que boa parte dos frequentadores não entrevistados provavelmente compartilha muitas das experiências relatadas no filme. Talvez nem todos tenham sido flagrados pelo lanterninha em pleno ato sexual ou feito parte do Somos, mas é certo que viveram, de maneira mais ou menos direta, as transformações sociais experimentadas até a primeira década do século XXI, momento em que Bailão foi lançado. Se o filme fosse rodado hoje, quase dez anos depois, teríamos ainda mais êxitos e revezes a acrescentar.

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  • WEEKS, Jeffrey. 1985. Sexuality and its discontents: meanings, myths and modern sexualities London: Routledge. 336 p.
  • CAETANO, Marcelo. 2009. Bailão Brasil (16min)
  • 1
    Até o início dos anos 1980, funcionava no local outra danceteria muito famosa chamada Homo Sapiens. Inaugurado em 1997, o ABC Bailão tem como proposta o “encontro de gerações”, embora seja majoritariamente frequentado por homens mais velhos. Para mais informações, ver Saggese (2015) e também o site do estabelecimento (http://novo.abcbailao.com.br. Acesso em 07.02.2017).
  • 2
    Há esforços significativos de pensar territorialidade como marcador social. Isto se reflete em um ganho qualitativo nas pesquisas sobre sociabilidade, gênero, sexualidade e interseccionalidades. Nesse sentido, a cidade é importante por mostrar a produção da diferença a partir de realidades espaço-temporais matizadas por diversos marcadores sociais. É de se destacar os trabalhos de Puccinelli (2013PUCCINELLI, Bruno. 2013. Se essa rua fosse minha: sexualidade e apropriação do espaço na rua gay de São Paulo. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais, Universidade Federal de São Paulo.), Massey (2013MASSEY, Doreen. 2013. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 314 p.), França, Facchini e Gregori (2016FRANÇA, Isadora Lins; FACCHINI, Regina & GREGORI, Maria Filomena. 2016. “Ville et différence: les études sur l’érotisme et la diversité sexuelle et de genre au Brésil. Brésil(s)”. Sciences humaines et sociales [online]. Nº 9. Disponível em: < Disponível em: https://bresils.revues.org/1773 > [Acesso em: 13.07.2017].
    https://bresils.revues.org/1773...
    ) e Reis (2017REIS, Ramon Pereira dos. 2017. Cidades e subjetividades homossexuais: cruzando marcadores da diferença em bares nas “periferias” de São Paulo e Belém. Tese de Doutorado em Antropologia Social, Universidade de São Paulo.).
  • 3
    Vale lembrar que até 1973 a homossexualidade era considerada um transtorno mental pela Associação Americana de Psiquiatra, e assim o foi pela Organização Mundial da Saúde até 1990. O termo homossexualismo, portanto, era bastante disseminado até poucas décadas e só muito recentemente vem sendo substituído por homossexualidade, cujo sufixo não denota doença ou desvio.
  • 4
    O que se convencionou chamar de marcadores sociais da diferença está presente na obra de Perlongher. Como sua produção é anterior à popularização desse conceito, na obra a diferença acionada pela confrontação destes marcadores é o que ele chama de “tensores libidinais”. Assim os nomeia porque eles permitem a produção de classificações, ao mesmo tempo em que, igualmente, produzem formas variadas de desejo. Merece destaque a análise de Julio Simões (2008SIMÕES, Julio Assis. 2008. “O negócio do desejo”. Cadernos Pagu. Nº 31, p. 535-546, jul.-dez.) sobre O Negócio do Michê.
  • 5
    Sigla para “gays, lésbicas e simpatizantes”. Sua origem remete ao início da década de 1990 e foi usada pela primeira vez no Festival Mix Brasil (França, 2012).
  • 6
    França apresenta algumas críticas que restam fundamentais sobre a atuação do “mercado GLS”. Especialmente a autora questiona as formas como esse mercado atinge os sujeitos e quais são os sujeitos atingidos por ele. Em outras palavras, é possível que as noções de “liberdade” e “tolerância” relacionadas à homossexualidade possam estar reafirmando convenções e hierarquias no campo do gênero e da sexualidade aplicadas à população LGBT, inclusive no que diz respeito à segregação socioespacial.
  • 7
    A tese de Passamani (2015) discute envelhecimento, regimes de visibilidade e condutas homossexuais na região do Pantanal de Mato Grosso do Sul com 17 interlocutores que têm entre 52 e 82 anos, oriundos de camadas sociais diferentes, com grau de escolaridade e pertencimento étnico-racial igualmente distintos.
  • 8
    Homosexualidad e gaycidad, no original.
  • 9
    Desdiferenciación, no original.
  • 10
    Um dos acontecimentos mais marcantes desse período, especialmente no que concerne à visibilidade homossexual, foram os motins de Stonewall, ocorridos na cidade de Nova York em junho de 1969. Após uma série de batidas no bar de mesmo nome, predominantemente frequentado pela população que hoje se conhece como LGBT, seus clientes revoltaram-se e decidiram enfrentar a polícia, num confronto que se estendeu pelos dias subsequentes. Para mais informações, ver, por exemplo, D’Emilio (1998D’EMILIO, John. 1998. Sexual politics, sexual communities: the making of a homosexual minority in the United States, 1940-1970. London: University of Chicago Press. 286 p.) e Weeks (1985WEEKS, Jeffrey. 1985. Sexuality and its discontents: meanings, myths and modern sexualities. London: Routledge. 336 p.). Vale notar, entretanto, que mesmo no cenário nacional certos agrupamentos já esboçavam o início desta nova visibilidade, como a sociabilidade homossexual que se estabelecia no centro de São Paulo em finais da década de 1950 (Barbosa da Silva, 2005BARBOSA DA SILVA, José Fábio. 2005. “Lembranças passadas a limpo: a homossexualidade masculina em São Paulo”. In: GREEN, James et al. (eds.). Homossexualismo em São Paulo e outros escritos. São Paulo: Unesp. 344 p.) e o surgimento da Turma OK, no Rio de Janeiro da década de 1960 (Soliva, 2012SOLIVA, Thiago Barcelos. 2012. A confraria gay: um estudo de sociabilidade, homossexualidade e amizades na Turma OK. Dissertação de Mestrado em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.).
  • 11
    É importante ressaltar que naquela época não se falava em “movimento LGBT” tal qual denominamos atualmente. Isto reflete, ao menos em parte, a conjuntura internacional, que até o momento não incorporava em seus grupos discussões aprofundadas sobre transexualidade, travestilidade ou mesmo a bissexualidade. Não à toa, esse primeiro momento de luta ficou conhecido como Movimento Homossexual Brasileiro (MHB). Para uma cronologia detalhada dos grupos e das nomenclaturas no contexto nacional, ver Simões e Facchini (2009SIMÕES, Julio Assis & FACCHINI, Regina. 2009. Na trilha do arco-íris. Do movimento homossexual ao LGBT. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. 194 p.).
  • 12
    Fonte: Ministério da Saúde (http://www.aids.gov.br/pagina/aids-no-brasil [Acesso em 26.01.2017]).
  • 13
    Defendida em março de 2015, a pesquisa teve por base trabalho etnográfico e entrevistas em profundidade com 20 homens homossexuais de camadas médias residentes em São Paulo, conduzidas entre 2011 e 2013.
  • 14
    Famoso teatro de São Paulo, localizado no bairro da Bela Vista. Recebe o nome de sua proprietária, atriz portuguesa radicada há muitas décadas na capital paulista.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2018
  • Data do Fascículo
    Ago 2018

Histórico

  • Recebido
    14 Jul 2017
  • Aceito
    11 Jul 2018
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