Acessibilidade / Reportar erro

Escrita autoetnográfica e performática do silenciamento, embaçamento e colonização dos nossos corpos

Autoetnographic and performance writing of the silencing, blurring and colonization of our bodies

Escrita autoetnográfica y performativa del silenciamiento, borramiento y colonización de nuestros cuerpos

Resumo

A autoetnografia performática é uma linha crítica, criativa, política e múltipla em que o corpo da/o escritora/escritor interage com outros corpos e tecidos para a produção de conhecimento anticolonial. O objetivo deste artigo é analisar criticamente os tipos de malhas que são produzidas por diferentes situações, ações e sensações experienciadas no corpo a partir das interações com outros corpos e leituras. Refletimos sobre elementos de silenciamento, embaçamento e colonização presentes ao longo da vida e no nosso cotidiano. Discutimos sobre a constituição das estruturas excludentes do conhecimento com a crítica à filosofia cartesiana e a denúncia da omissão dos saberes de corpos colonizados. Concluímos que revisitar nossas costuras, multiplicar possibilidades e difundir essas multiplicidades contribui para as identificações e reflexões sobre nós e sobre as diferentes teorias, visões e interpretações explanadas enquanto conhecimento.

Palavras-chave:
autoetnografia; escrita performática; decolonialidade; corpos; ensino

Abstract

Performance autoethnography is a critical, creative, political and multiple line in which the writer’s body interacts with other bodies and tissue for the production of anticolonial knowledge. The aim of this article is to critically analyze the types of mesh that are produced by different situations, actions and sensations experienced in the body from interactions with other bodies and readings. We reflect on elements of silencing, blurring and colonization present throughout life and in our daily lives. We discuss the constitution of excluding structures of knowledge with the criticism of Cartesian philosophy and denunciation of the omission of knowledge from colonized bodies. We conclude that revisiting our seams, multiplying possibilities and spreading these multiplicities contributes to the identifications and reflections about us and about the different theories, visions and interpretations explained as knowledge.

Keywords:
autoethnography; performance writing; decoloniality; bodies; teaching

Resumen

La autoetnografía performativa es una línea crítica, creativa, política y múltiple en que el cuerpo del escritor interactúa con otros cuerpos y tejidos para la producción de conocimiento anticolonial. El objetivo de este artículo es analizar críticamente los tipos de mallas que se producen por diferentes situaciones, acciones y sensaciones experimentadas en el cuerpo a partir de las interacciones con otros cuerpos y lecturas. Reflexionamos sobre elementos de silenciamiento, borramiento y colonización presentes al largo de la vida y en nuestro cotidiano. Discutimos la constitución de las estructuras excluyentes del conocimiento con la crítica de la filosofía cartesiana y denuncia de la omisión del conocimiento de los cuerpos colonizados. Concluimos que revisar nuestras costuras, multiplicar posibilidades y difundir estas multiplicidades contribuye a las identificaciones y reflexiones sobre nosotros y sobre las diferentes teorías, visiones e interpretaciones explicadas como conocimiento.

Palabras clave:
auto-etnografía; escritura performática; decolonialidad; cuerpos; enseñanza

Este texto1 1 O presente artigo recorre, em alguns trechos, à linguagem e à estrutura poética, com trechos em poesia e linguagem subjetiva, a fim de aprofundar a experimentação desta pesquisa. inspira-se nas linhas e nos tecidos que me cercam. Pretendo trançar estes meus tecidos com parte das apresentações e perspectivas de autoras e autores que me seduzem, me fascinam e me impulsionam a revisitar minhas costuras e (re) (a)ver o que me foi apresentado-ensinado-imposto.

Nós........

vemos imposições, revemos ensinamentos, reavemos nossos corpos.

Pautamo-nos no método da autoetnografia tendo em vista que este método incentiva as pessoas a confiarem em suas experiências pessoais e culturais como fontes de conhecimento. Para reavermos nossos corpos, consideramos as alternativas expostas por Collins (1986COLLINS, Patricia Hill. 1986. “Learning from the Outsider within: The sociological significance of black feminist thought”. Social Problems, Special Theory Issue, Oct.-Dec., 1986. Vol. 33, nº 6, p. S14-S32.) e Grosfoguel (2016GROSFOGUEL, Ramón. 2016. “A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/ epistemicídios do longo século XV”. Revista Sociedade e Estado. Vol. 31, nº 1, p. 25-49.): de reconhecermos um provincialismo nas teorias científicas sociais disfarçado de “universal” para rompermos com esse universalismo, e encorajarmos/institucionalizarmos perspectivas outras - contingentes, políticas, heterogêneas e múltiplas.

O processo de escrita autoetnográfica e performática possui essa abertura contingente e ampla, já que sua “única” constante é o corpo da pesquisadora ou do pesquisador como espaço de valorização e produção de conhecimento, de modo que este método não se reconhece em nenhum tipo de técnica e de definições fixas e simplistas (Brilhante e Moreira, 2016BRILHANTE, Aline; MOREIRA, Claudio. 2016. “Formas, fôrmas e fragmentos: uma exploração performática e autoetnográfica das lacunas, quebras e rachaduras na produção de conhecimento acadêmico”. Interface (Botucatu) [online]. Vol. 20, n. 59, p.1099-1113.; Raimondi, 2019RAIMONDI, Gustavo Antonio. 2019. Corpos que (não) importam na prática médica: uma autoetnografia performática sobre o corpo gay na escola médica. Tese [Doutorado em Saúde Coletiva] - Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. p. 67-81.). É importante frisarmos também que a autoetnografia performática não se resume apenas em um método, mas em uma escrita crítica, criativa e política, em que o corpo da escritora ou do escritor interage com outros corpos e tecidos e, com isso, observa criticamente que tipos de malhas foram e estão sendo criadas pelas mais variadas situações, ações e sensações experienciadas no corpo ao longo da vida e no nosso cotidiano (Brilhante e Moreira, 2016; Raimondi, 2019RAIMONDI, Gustavo Antonio; MOREIRA, Cláudio; BARROS, Nelson Filice. 2019. “O corpo negado pela sua ‘extrema subjetividade’: expressões da colonialidade do saber na ética em pesquisa”. Interface (Botucatu) [online]. Vol. 23. p. 1-14.; Raimondi, Moreira e Barros, 2019). Nesse sentido, pretendemos, com este texto, costurar diferentes linhas sobre diversas malhas e analisar criticamente os tipos de tecidos que foram e estão sendo produzidos/vestidos no meu corpo a partir das interações com outros corpos, outras linhas, outros tecidos e outras experimentações.

Meu corpo, meus tecidos

O meu corpo está cercado de tecidos, malhas, redes e linhas de muitas cores, formas e aplicabilidades: preto, cinza, branco, colorido, pano de chão, alguns enormes que pretendo bordar e outros ainda maiores dos quais pretendo me desfazer.

Que tecidos são estes?........................................

São meus? .......................................................... São seus? ...........................................................

Que linhas são estas? ........................................

São também muitas texturas, muitos pontos e muitos nós. Às vezes eu me distraio - passo anos em um nozinho. Eles até vão se dissolvendo, mas um emaranhado de outros nós se apresenta ao redor......

Essas linhas são múltiplas: podem ser formadas, cortadas e dissolvidas a todo instante e, por isso, gosto de imaginar estes tecidos e estas linhas me cercando, envolvendo e voando, em um constante movimento, desprendimento, tecelagem e crescimento (Ingold, 2007INGOLD, Tim. 2007. Lines: a brief history. London: Routledge. p. 1-5.). A partir disso, costuro com as palavras de Ingold (2007):

[Por que], então, que tantas das linhas que enfrentamos hoje parecem tão estáticas? Por que a própria menção da palavra “linha” ou “linearidade”, para muitos(as) pensadores(as) contemporâneos(as), evoca uma imagem da suposta mente estreita e esterilidade, bem como a lógica de pista única, do pensamento analítico moderno? (Ingold, 2007INGOLD, Tim. 2007. Lines: a brief history. London: Routledge. p. 1-5.: 2, tradução nossa).

Acrescento que cada uma das “linhas” de pensamento às quais somos constantemente expostas na academia e na vida não me parecem totalmente coerentes ou compreensíveis e nem me representam por completo. Estamos continuamente em mudança, vivendo e refletindo os acontecimentos da vida. No meu corpo, estas reflexões muitas vezes me parecem um redemoinho de novas ideias misturadas com as antigas, novas linhas misturadas com as antigas, com muitos pontos e muitos nós. E aqui, então, faço um convite. Pensemos nos movimentos das linhas. Linhas como observações, experimentações e afetações no meu corpo e no seu corpo, que perpassam de maneira fluida e porosa os tecidos que carregamos.

Minhas linhas passando pelas suas.

Suas linhas passando pelas minhas.

Tecelagem, trançado, tricô e bordado.

Um corpo em movimento, um tecido em crescimento.

Este texto é sobre um dos tecidos que me vestem, que tem sido trançado com as discussões de decolonialidade, hegemonias e poder. Hoje este tecido ainda me silencia muito, mas já foi um tecido sufocante.

Sufocante.

Penso nele no pescoço.

Na tentativa de olhar um caminho de formação, corte e dissolução de um tecido sufocante sobre esse corpo que pouco fala, começo a refletir a partir da minha história. E, refletindo sobre a minha história e sobre as diversas experiências pelas quais passei, penso aqui no que precisa ser dito ou quais escolhas opto por dizer para que vocês me identifiquem:

Flávia; mulher; branca; feminista; vegana; classe média; terapeuta tântrica; nutricionista; estranha por um ano em um país europeu???

Cada uma destas identificações dão um panorama desta pessoa que aqui escreve, mas não dizem (quase) nada sobre mim (Brilhante e Moreira, 2016BRILHANTE, Aline; MOREIRA, Claudio. 2016. “Formas, fôrmas e fragmentos: uma exploração performática e autoetnográfica das lacunas, quebras e rachaduras na produção de conhecimento acadêmico”. Interface (Botucatu) [online]. Vol. 20, n. 59, p.1099-1113.).

Por que me vestiram este nome?........................................................................

Que mulher é esta?.............................................................................................

Branca? Olho para minha pele e parece mais um marrom amarelado. Não pretendo, com isso, rejeitar as consequências da invenção de raça (Quijano, 2005QUIJANO, Aníbal. 2005. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. p. 107-130.; 2009) em meu corpo e em outros corpos, mas considero interessante discutirmos a partir dos porquês e a quem serve esta invenção. Acrescento que os tipos de linhas traçadas por esta experiência de ser branca no Brasil foram bem diferentes das linhas traçadas por ser também branca na europa. Explicarei nas próximas linhas. No Brasil, as experiências de ser branca, apresentada como a filha de um médico, foram bem diferentes das experiências vivenciadas sendo branca e vendendo artesanato na praia. No mesmo ambiente, as fortes regulações pelos olhares e pelas ações iam de um extremo desprezo e violência até uma extrema aprovação e bajulação, a depender se eu estava na identidade de “hippie” ou de “turista” e “filha” de um profissional “médico”.

Que tipo de Feminista? Existem linhas de pensamento feminista que me parecem machistas, por exemplo. E, com isso, eu fico me perguntando, também, “será mesmo que eu não reforço muitas ações do patriarcado?”. Aqui faço um esclarecimento: ao ler, ouvir e participar dos encontros de profissionais do sexo - com quem estou construindo a tese de doutorado - foi surpreendente notar um ataque às mulheres trabalhadoras sexuais (putafeministas) por parte expressiva de outras linhas de pensamento feministas. Muitas(os) feministas reforçam os estigmas da prostituição e desvalorizam a atividade profissional destas mulheres, utilizando linguagens e estratégias idênticas àquelas utilizadas em discursos machistas (Prada, 2018PRADA, Monique. 2018. Putafeminista. São Paulo: Veneta.).

Vegana? Muitas e muitos colegas diriam que não. Em um debate interno no movimento vegano, existe um questionamento se seriam veganas pessoas que utilizam serviços e/ou instituições que, além de produtos exclusivamente de origem vegetal, vendem outros produtos com ingredientes de origem animal. Com isso, posso não ser identificada como vegana por um grupo do movimento.

Classe média alta ou baixa?

Terapeuta tântrica? Por ser um tecido novo com linhas milenares, parece-me estra nho. Penso talvez em um tecido com muitas sobreposições e muitos remendos. E aqui é importante informar que remendos não representam depreciação do tecido. Muitas destas sobreposições/desses remendos da terapia tântrica me soam grotescos, mas a maioria do tecido me veste bem confortável.

Nutricionista? Quase me esqueço que me formei em nutrição.

Estranha por um ano em um país europeu? O que poderia ser um sonho para algumas e alguns, para mim foi um grande pesadelo.

Cada uma dessas características me proporcionou uma multiplicidade de experiências que foram compondo meus pontos de vista, meus nós, minhas linhas e minhas vestes - diria, a minha identidade. Volto aqui então ao tecido que silencia esta minha identidade desfiando parte de uma multiplicidade de linhas: linhas cortantes, linhas emprestadas, linhas extensas, linhas grossas e linhas soltas, de todas as cores e texturas, neste tecido envolto ao pescoço.

Linha cortante

Leio, reflito, escuto, observo e não falo: despercebida.

Escuto, observo, leio, reflito e não falo: invisível.

Observo, escuto, reflito, leio e não falo: ausente?

Reflito, leio, observo, escuto e não falo: me emudeço.

......................................................................................

...................................................................................... Eu me emudeço............................................................

......................................................................................

......................................................................................

Olhar para este tecido junto com o que ia sendo apresentado nas aulas sobre decolonialidade, cultura, hegemonia e poder foi construindo, sobressaindo e dissolvendo algumas tranças. Eu me perguntava:

Trazer o meu corpo e a minha fala para quê?

Por quê?

E para quem?

Desde quando, e por quê, eu comecei a entender como desnecessária minha fala, minhas linhas e meus nós?

Ficou compreensível que existem muitos elementos de opressão e dominação que são difíceis de visualizar. Logo, seguindo as linhas de Collins (1986COLLINS, Patricia Hill. 1986. “Learning from the Outsider within: The sociological significance of black feminist thought”. Social Problems, Special Theory Issue, Oct.-Dec., 1986. Vol. 33, nº 6, p. S14-S32.), hooks (2013) e Freire (1967FREIRE, Paulo. 1967. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra LTDA.), compreendi que trazer nossos diferentes corpos na escrita ou na fala contribui para uma pedagogia anticolonial; contribui para os esclarecimentos e as decodificações de diferentes visões, teorias e interpretações que estão presentes nas nossas vidas cotidianas; transgride fronteiras - ou melhor - barreiras do que é considerado aceitável/inaceitável, normal/estranho, possível/ impossível; e transforma nossos corpos em práticas constantes de liberdade. E, com isso, conseguimos mudar algumas estruturas hegemônicas na nossa sociedade............................................

Linha emprestada

Quando criança, morei um ano na Alemanha e experimentei os olhares e as percepções em relação ao meu corpo de criança latina. Fui em 1990, aos 10 anos de idade.

Na escola, tínhamos aulas de religião; foram obrigatórias para mim na época. E eu não fazia ideia do que era religião. Lembro-me de que, quando me perguntaram qual era a minha religião, eu respondi por diversas vezes:

“Ich weiß es nicht”..............................................................................................

................................. “Ich weiß es nicht”............................................................ ......................................................................... “Ich weiß es nicht”....................

O combinado era responder isso quando não entendia o alemão, significa “eu não sei”. Explicaram e explicaram na certeza de que eu não tinha entendido o alemão, mas não entenderam que eu realmente não sabia qual seria a minha religião e que era necessário escolher uma. Chamaram meu primo que já morava há três anos na Alemanha, portanto, já compreendia bem o idioma, ao contrário de mim. Lembro vagamente do diálogo entre duas crianças, eu e meu primo, também com seus 10 anos de idade. Mas era algo do tipo:

Sério? Sério.

Eu preciso escolher? Sim.

Quais são as opções então? Católica ou protestante. Eu posso revezar? Não, não pode.

Quero pensar que não era obrigatório. Mas na época me pareceu. Esco

lhi, então, dizer a religião católica, que me aparentou mais próxima. Na igreja eu observava os movimentos, não entendia os discursos, sentava, levantava, pegava aquela rodela esquisita, colocava na boca e fingia orar. Parecia-me um teatro em que eu performava figurante, não entendia absolutamente nada e ia tentando não destoar (tanto) dos outros e das outras; me passar despercebida.............................................................

Despercebida...

Des........ costuro... talvez agora........ percebo.

Ao retornar ao Brasil, experimentei os olhares e as percepções em relação ao meu corpo de criança que havia morado por um ano na Europa. Eram olhares de aprovação. Para mim, eram destoantes tantos elogios a um país no qual eu não tinha observado beleza alguma, nem no aspecto físico dos espaços e muito menos na cultura. Dizer que o Brasil era muito mais encantador soava como a não fala da Spivak (2007): eu até dizia, mas era exatamente como se não estivesse dizendo nada.

Invisível...

In......... dissolúvel... talvez agora......... visível.

As linhas decoloniais me costuraram a compreensão do deslumbramento com a identidade europeia, a compreensão de uma classificação dos países e de seus povos em uma situação “natural” de inferioridade ou superioridade a partir de uma visão eurocêntrica do que seria “o moderno” e do que seria “o desenvolvido”. Esta classificação é um dos eixos fundamentais do padrão de poder mundial e, constantemente, associa as identidades às hierarquias, aos lugares e aos papéis sociais correspondentes (Dussel, 1994DUSSEL, Enrique. 1994. 1942: “El encubrimiento del otro: hacia el origen del mito de la modernidad”. Colección Académica nº 1. La Paz: UMSA. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación Plural Editores. p. 40-48.; Quijano, 2005QUIJANO, Aníbal. 2005. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. p. 107-130.; 2009; Grosfoguel, 2007GROSFOGUEL, Ramón. 2007. “Descolonizando los universalismos occidentales: el pluri-versalismo transmoderno decolonial desde Aimé Césaire hasta los Zapatistas”. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago e GROSFOGUEL, Ramón (Orgs). El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar. p. 63-71.; Santos, Meneses, 2009SANTOS, Boaventura de Souza; MENESES, Maria Paula. 2009. “Introdução”. In: SANTOS, Boaventura de Souza e MENESES, Maria Paula (Orgs). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina. SA. p. 9-19.). As percepções e os olhares em relação ao meu corpo pareciam classificá-lo como “inferior” na Europa, mas, no Brasil, pareciam classificá-lo como “superior” por ter morado este um ano na Europa.

Linha extensa

“‘Penso, logo existo’ - ‘Extermino, logo existo’ - ‘Conquisto, logo existo’” (Grosfoguel, 2016GROSFOGUEL, Ramón. 2016. “A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/ epistemicídios do longo século XV”. Revista Sociedade e Estado. Vol. 31, nº 1, p. 25-49.).

Trago agora parte da bonita reflexão de Grosfoguel (2016GROSFOGUEL, Ramón. 2016. “A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/ epistemicídios do longo século XV”. Revista Sociedade e Estado. Vol. 31, nº 1, p. 25-49.) sobre a constituição das estruturas excludentes do conhecimento em universidades ocidentalizadas. São muitos elementos e, para construir o raciocínio, ele se inspira principalmente em Enrique Dussel, com a crítica à filosofia cartesiana; e em Boaventura de Sousa Santos, com a denúncia da omissão dos saberes dos corpos colonizados (Grosfoguel, 2016).

No que diz respeito à filosofia cartesiana e às omissões de saberes de corpos colonizados, uma extensa tradição da produção de conhecimento com pretensões de neutralidade e verdades únicas, em parte, baseada nos escritos e nos métodos do filósofo René Descartes (1596-1650), perdura até o momento atual nas estruturas de saberes das universidades (Castro-Gomez, 2005CASTRO-GÓMEZ, Santiago. 2005. “Lugares de la ilustración: Discurso colonial y geopolíticas del conocimento em el Siglo de las Luces”. In: Castro-Gómez Santiago. La hybris del punto cero: ciencia, raza e ilustración em la Nueva Granada (1750-1816). Bogotá: Editorial Pontificia Universidad Javeriana. p. 23-33.; Grosfoguel, 2007GROSFOGUEL, Ramón. 2007. “Descolonizando los universalismos occidentales: el pluri-versalismo transmoderno decolonial desde Aimé Césaire hasta los Zapatistas”. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago e GROSFOGUEL, Ramón (Orgs). El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar. p. 63-71.; 2016). Autor do famoso bordão “Penso, logo existo”, Descartes utilizou dois argumentos principais: 1 - a ideia de uma mente separada e distinta de um corpo, o que permite entender o sujeito pensante desconectado do seu corpo (dualismo mente-corpo) e, consequentemente, um “eu” que poderia produzir uma “verdade universal” não condicionada ao tempo ou ao lugar em que este corpo se localiza; e 2 - o método do solipsismo como único modo de ter certeza sobre um determinado assunto ou conhecimento (Grosfoguel, 2007; 2016). Este método diz respeito a isolar a consciência individual em si a partir de um monólogo interior e imaginando possível uma observação neutra sem interferências de corpo, localização, tempo e opiniões entendidas como irrelevantes do senso comum (Castro-Gomez, 2005; Grosfoguel, 2007; 2016).

De acordo com Descartes, era possível e imprescindível que o “Eu” investigador do comportamento humano se separasse de qualquer ideia anterior ao processo de investigação e que deduzisse - a partir dos elementos proporcionados única e exclusivamente pela experiência e observação do “objeto” investigado - uma certeza única de conhecimento (Castro-Gomez, 2005; Grosfoguel, 2007GROSFOGUEL, Ramón. 2007. “Descolonizando los universalismos occidentales: el pluri-versalismo transmoderno decolonial desde Aimé Césaire hasta los Zapatistas”. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago e GROSFOGUEL, Ramón (Orgs). El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar. p. 63-71.; 2016). Para isso, fez-se necessário imaginar como possíveis as rejeições de qualquer fonte de “erro”, as desassociações de qualquer relação dialógica entre sujeitos e as dissimulações de uma filosofia sem corpo - sem raça, sem etnia, sem sexo, sem gênero, sem classe e sem espiritualidade (Grosfoguel, 2007). Muitas linhas de pensamento, ainda que críticas às premissas cartesianas, também utilizam como critério de validação do conhecimento uma ideia de objetividade em que apresentar o lugar de onde fala este corpo produtor de ciência é compreendido como tendencioso, sem seriedade e, consequentemente, irrelevante (Grosfoguel, 2007; 2016).

É notável que a inserção do “Eu” onde antes estava o “deus cristão” como fundamento do conhecimento foi uma importante luta contra a doutrina hegemônica cristã da época (meados do século XVII). No entanto, Dussel (1997DUSSEL, Enrique. 1997. “Cultura imperial, cultura ilustrada e libertação da cultura popular”. In: DUSSEL, Enrique. Oito ensaios sobre cultura Latino-americana e libertação. Tradução de Sandra Trabacco Valenzuela. São Paulo: Paulinas. p. 131-132.) e Grosfoguel (2007GROSFOGUEL, Ramón. 2007. “Descolonizando los universalismos occidentales: el pluri-versalismo transmoderno decolonial desde Aimé Césaire hasta los Zapatistas”. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago e GROSFOGUEL, Ramón (Orgs). El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar. p. 63-71.; 2016) nos perguntam e nos respondem: quem substituiu esse lugar equivalente à deidade dos “olhos de deus”? Exatamente esse ser que funda tudo a partir de si mesmo: homens brancos europeus absolutizados e divinizados. E quem impõe limites a esse “Eu” divinizado? “Nada nem ninguém” (Dussel, 1997, p. 132). As respostas a estas perguntas são tanto chocantes quanto óbvias se olharmos a maior parte das referên cias de conhecimento que utilizamos ainda hoje e se olharmos as desvalorizações e as rejeições aos nossos corpos ao trazermos ou argumentarmos um pensamento.

Seguindo o raciocínio, Dussel (1994DUSSEL, Enrique. 1994. 1942: “El encubrimiento del otro: hacia el origen del mito de la modernidad”. Colección Académica nº 1. La Paz: UMSA. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación Plural Editores. p. 40-48.; 1997) argumenta que a condição de possibilidade de um “eu” se assumir como deus e ser pensante da verdade do(a) “outro(a)”, inclusive se entendendo no direito de controle do(a) “outro(a)”, é a sua localização geopolítica que se pensa centro porque já conquistou (leia-se: atacou e explorou) o mundo do(a) “outro(a)” (Dussel, 1994; 1997; Grosfoguel, 2007GROSFOGUEL, Ramón. 2007. “Descolonizando los universalismos occidentales: el pluri-versalismo transmoderno decolonial desde Aimé Césaire hasta los Zapatistas”. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago e GROSFOGUEL, Ramón (Orgs). El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar. p. 63-71.; 2016). Com isso, o argumento “Penso, logo existo”, da filosofia cartesiana, só se fez possível por conta do massacre físico e epistêmico de tantos povos que foram colonizados (Dussel, 1994; 1997; Grosfoguel, 2007; 2016). Logo, para que o “Penso, logo existo” fosse possível, ocorreram o “Extermino, logo existo” e o “Conquisto, logo existo” de diversas populações e culturas não europeias (Dussel, 1994; 1997; Grosfoguel, 2007; 2016) e mulheres em geral (Grosfoguel, 2016). Acrescentamos que essa lógica de exterminar corpos e pensamentos diversos se faz presente e ocorre continuamente desde corpos indígenas, corpos negros, mulheres, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e queer (LGBTQ) até corpos protegidos que não reproduzem linguagens hegemônicas.

Linhas grossas

Lembro-me, não tão perfeitamente, já que a memória me falha, de elaborar um trabalho durante a graduação escrevendo: ......................................... .......................................................................................................................... ........................................................................................................................... “Penso que (...)” .......................................................................... .............................................................................................................

.............................................................................................................

O retorno foi grosseiro para quem era ali uma aprendiz, mas ficou alinhavado, acredito que até hoje, nos meus textos, nos meus tecidos e no meu corpo: “Você não pensa nada, quem pensa são os autores!”

Não pensa.......................

Você.................

Nada!

Os autores......................

Pensam!

Como se não bastasse, ainda eram Os autorEs (homens). Gerou-me incômodo, mas, na época, não escutei meu corpo, e nem confrontei com este corpo. Por algum motivo, parecia fazer sentido. Eu precisava, de certa maneira, comprovar a partir de outrOs o que EU gostaria de dizer. A partir daí minha vida acadêmica foi uma sequência de citações:

............................................................................................................................

“Os autorEs colocam que...”; ............................................................................ “De acordo com fulanO...”; .............................................................................. “CiclanO diz...”..................................................................................................

.............................................................................................................................

Até um pouco mais recentemente, mudei o traçado para uma frase minha com citações ao final (Fulane, Beltrane, Ciclane, ano X). Parece-me um caça-palavras - procuramos nas bases de dados científica exatamente aquilo o que queremos dizer - e performamos neutralidade.............................

Ausentes?

Gostaria de acreditar que essa ausência, esse embaçamento ou essa invisibilidade fosse algo aleatório, algo apenas meu por conta de uma situação particular vivenciada na graduação. No entanto, as inúmeras experiências na academia e os textos decoloniais me dizem o contrário. Me dizem que uma fala, para ser acolhida, reconhecida ou entendida como “verdade” (hooks, 2013HOOKS, Bell. 2013. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. 1ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.) precisa passar pelo crivo do que já foi dito anteriormente - de preferência por autores europeus; o crivo de algumas universidades e revistas; o crivo do orientador ou da orientadora; o crivo das professoras e dos professores nas disciplinas - exercendo uma espécie de coerção sobre as linguagens possíveis em cada ambiente (Foucault, 1999FOUCAULT, Michel. 1999. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola.). Ficou visível o “extermino, logo existo” exposto por Grosfoguel (2016GROSFOGUEL, Ramón. 2016. “A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/ epistemicídios do longo século XV”. Revista Sociedade e Estado. Vol. 31, nº 1, p. 25-49.). Um massacre - não somente no passado - de mulçumanos e judeus no ataque e na exploração de Al-Andalus, de indígenas e africanos no ataque e na exploração das Américas e da África, e das mulheres queimadas vivas acusadas de bruxaria, que foram processos históricos constitutivos das estruturas atuais de conhecimento (Grosfoguel, 2016). Um extermínio constante e atual, que se prolonga por séculos, das nossas maneiras de pensar e agir. Seguem por muito tempo dentro de uma lógica de imposição de tecidos ou linhas aos nossos corpos.............. ainda que eles não nos façam sentido, sejam desconfortáveis e até sufocantes no meu corpo, no seu corpo ou nos nossos corpos.

Me emudece...

Nos emudecem...

Linhas soltas

Ao terminar o mestrado, as vestes da academia pareciam não me caber. Parecia-me que as linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação e das universidades pontuavam de acordo com o tamanho da mesma linha envolta no novelo. Depois de muita linha de mesma cor e textura no carretel, poderíamos - tentando evitar cortes e desfiados - tecer e, aparentemente, sermos valorizadas.

Tecidos longos, neutros, compridos e homogêneos:

Costurados com uma só linha.

Contrapondo com aqueles muitos fios diferentes.

Tecidos curtos, heterogêneos, posicionados e remendados: Costurados com muitas linhas “estranhas”!

Neste momento, descobri um sistema de trocas em uma comunidade de Tantra. Nós morávamos e trabalhávamos em coletivo e íamos acumulando pontos para fazermos os cursos e os workshops desta comunidade. Os trabalhos estavam relacionados ao funcionamento do espaço, por exemplo, faxina, ajudante de cozinha, jardinagem, cuidado das crianças, entre outros. Sabemos que a maioria desses trabalhos são marginalizados, desvalorizados e invisibilizados na nossa sociedade. Esta experiência, por mais de um ano, de intenso trabalho físico sem retorno monetário, possibilitou muitas observações in loco, trocas e vivências inovadoras no corpo. Muitas destas experiências e experimentações iam na contramão das hierarquias sociais, sexuais e estéticas.

O corpo nu não pornográfico,

as repetições constantes de todas e todos como deusas e deuses, o afastamento de mídias sociais, televisão e leitura, o trabalho físico exaustivo e as meditações ativas diárias.

Estas experimentações possibilitaram observar o modus operandi, digamos assim, dos espaços em que habitamos. O nu se torna pornográfico porque é lucrativo; o menosprezo se torna constante porque é lucrativo; nos sentirmos inadequadas(os) ou incompleta(os) também é muito lucrativo. E, dentro disso, as mídias e os canais digitais se instrumentalizam como importantíssimos meios de venda de produtos e alienação dos nossos corpos. O afastamento das mídias, o foco nas sensações corporais, no hoje, e o nos compreendermos adequadas(os) fazem re-pensar algumas necessidades e prioridades e, com isso, valorizarmos os afetos e revermos esse “sistema-mundo capitalista, patriarcal, ocidental, cristão, moderno e colonialista” (Grosfoguel, 2016GROSFOGUEL, Ramón. 2016. “A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/ epistemicídios do longo século XV”. Revista Sociedade e Estado. Vol. 31, nº 1, p. 25-49.) voltado para o lucro, as subjugações, as banalidades e as trocas sem sentido, trocas incoerentes e, sobretudo, trocas injustas. Fazem repensar as imposições de desempenho e “normalidade” que só são viáveis a partir do silenciamento e do menosprezo dos nossos corpos. E fazem repensar as hierarquias sociais, sexuais e estéticas em que estamos inseridas(os).

Costuras e ex-fios finais

Costuro, esfio e concluo PENSANDO sobre o apagamento e o silenciamento dos nossos corpos dentro e fora da academia e a lógica de ensino e mercado nas escritas acadêmicas, a partir das linhas e dos tecidos que me vestem. Uma lógica de existência e de ensino que silencia corpos e uma lógica de escrita que capitaliza textos. Qual o sentido dessa lógica, senão enaltecer pouquíssimas pessoas e, inclusive, pessoas que também estão aprisionadas em seu próprio corpo? No meu corpo, falta sentido. Muitas vezes, todas(os) nós nos emudecemos, nos colocamos em terceira pessoa, citamos corpos outros desconhecidos e desvalorizamos aquelas linhas constituídas a partir das inúmeras experiências que vivenciamos ao longo da vida e no nosso cotidiano.

Com isso, sobressaem deste texto alguns questionamentos para mim, para vocês e para nós:

O que fazer então na academia?

Com todas estas críticas à produção de conhecimento desenvolvida por parte das universidades, o que nos faz continuar neste círculo acadêmico e desejar fortemente publicar artigos?

Para quê? Por quê? E para quem queremos trazer o meu, o seu e os nossos corpos silenciados e/ou embaçados?

Sabemos que muitas linhas de pensamento, grupos de estudo, associações, universidades e revistas realizam um exercício político de interrogar as hegemonias, o eurocentrismo e os fundamentos das ciências a partir das próprias (ou não) experiências de corpos....................................................

............... “estranhos” (Collins, 1986COLLINS, Patricia Hill. 1986. “Learning from the Outsider within: The sociological significance of black feminist thought”. Social Problems, Special Theory Issue, Oct.-Dec., 1986. Vol. 33, nº 6, p. S14-S32.),

...........................subalternizados (Spivak, 2010SPIVAK, Gayatri Chakravorty. 2010. Pode o Subalterno Falar? Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa e André Pereira Feitosa. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG.),

..........................................oprimidos (Freire, 1987FREIRE, Paulo. 1987. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra LTDA .),

............................contra hegemônicos (Hall e Jefferson, 2003HALL, Stuart; JEFFERSON, Tony. 2003. Resistance through Rituals: Youth subcultures in post-war Britain. 2. ed. London and New York: Routledge.), ou

...................colonizados (Dussel, 1994DUSSEL, Enrique. 1994. 1942: “El encubrimiento del otro: hacia el origen del mito de la modernidad”. Colección Académica nº 1. La Paz: UMSA. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación Plural Editores. p. 40-48.; Quijano, 2005QUIJANO, Aníbal. 2005. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. p. 107-130.; 2009QUIJANO, Aníbal. 2009. “Colonialidade do poder e Classificação Social”. In: SANTOS, Boaventura de Souza e MENESES, Maria Paula (Orgs). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina. SA. p. 73-118.; Grosfoguel, 2007GROSFOGUEL, Ramón. 2007. “Descolonizando los universalismos occidentales: el pluri-versalismo transmoderno decolonial desde Aimé Césaire hasta los Zapatistas”. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago e GROSFOGUEL, Ramón (Orgs). El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar. p. 63-71.; Santos, Meneses, 2009SANTOS, Boaventura de Souza; MENESES, Maria Paula. 2009. “Introdução”. In: SANTOS, Boaventura de Souza e MENESES, Maria Paula (Orgs). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina. SA. p. 9-19.).

Essas linhas de pensamento nos ilustram que existem certos elementos no cenário observado/sentido que são compartilhados enquanto grupo, elementos que não são observados/sentidos da mesma maneira no mesmo grupo e elementos de opressão ou dominação que podem não estar sendo visualizados (Collins, 1986COLLINS, Patricia Hill. 1986. “Learning from the Outsider within: The sociological significance of black feminist thought”. Social Problems, Special Theory Issue, Oct.-Dec., 1986. Vol. 33, nº 6, p. S14-S32.). Com isso, discutirmos sobre nossos corpos na vida, nas universidades, e artigos e revistas acadêmicas contribuem para as identificações e reflexões sobre nós e sobre as diferentes teorias, visões e interpretações explanadas enquanto conhecimento. Precisamos multiplicar possibilidades, encorajar e institucionalizar essas multiplicidades para reavermos urgentemente nossos corpos.

Agradeço aos ensinamentos transgressores, às malhas, aos nós, aos textos e às experiências de amigas, colegas e outras(os) que me fizeram PENSAR

muito sobre nossos tecidos e nossos corpos tão complexos, variados e lindos...........................................................................................................................

.......................................................................................................................... ............................................................ Suas linhas nas minhas.......................

..................................................................................... e minhas linhas nas suas!

Agradecimentos

À professora Juliana Luporini do Nascimento e ao professor Rafael Afonso da Silva, que, por meio de suas aulas participativas, reflexões e recomendações de leitura, nos permitiram costurar este texto.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes), pela bolsa do Programa de Doutorado de Flávia Liparini Pereira. Código de Financiamento 001. Processo 88882.434628/2019-01.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de produtividade em pesquisa de Nelson Filice de Barros.

Referências bibliográficas

  • BRILHANTE, Aline; MOREIRA, Claudio. 2016. “Formas, fôrmas e fragmentos: uma exploração performática e autoetnográfica das lacunas, quebras e rachaduras na produção de conhecimento acadêmico”. Interface (Botucatu) [online]. Vol. 20, n. 59, p.1099-1113.
  • CASTRO-GÓMEZ, Santiago. 2005. “Lugares de la ilustración: Discurso colonial y geopolíticas del conocimento em el Siglo de las Luces”. In: Castro-Gómez Santiago. La hybris del punto cero: ciencia, raza e ilustración em la Nueva Granada (1750-1816) Bogotá: Editorial Pontificia Universidad Javeriana. p. 23-33.
  • COLLINS, Patricia Hill. 1986. “Learning from the Outsider within: The sociological significance of black feminist thought”. Social Problems, Special Theory Issue, Oct.-Dec., 1986. Vol. 33, nº 6, p. S14-S32.
  • DUSSEL, Enrique. 1994. 1942: “El encubrimiento del otro: hacia el origen del mito de la modernidad”. Colección Académica 1. La Paz: UMSA. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación Plural Editores. p. 40-48.
  • DUSSEL, Enrique. 1997. “Cultura imperial, cultura ilustrada e libertação da cultura popular”. In: DUSSEL, Enrique. Oito ensaios sobre cultura Latino-americana e libertação Tradução de Sandra Trabacco Valenzuela. São Paulo: Paulinas. p. 131-132.
  • FOUCAULT, Michel. 1999. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970 Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola.
  • FREIRE, Paulo. 1967. Educação como prática da liberdade Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra LTDA.
  • FREIRE, Paulo. 1987. Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra LTDA .
  • GROSFOGUEL, Ramón. 2016. “A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/ epistemicídios do longo século XV”. Revista Sociedade e Estado Vol. 31, nº 1, p. 25-49.
  • GROSFOGUEL, Ramón. 2007. “Descolonizando los universalismos occidentales: el pluri-versalismo transmoderno decolonial desde Aimé Césaire hasta los Zapatistas”. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago e GROSFOGUEL, Ramón (Orgs). El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar. p. 63-71.
  • HALL, Stuart; JEFFERSON, Tony. 2003. Resistance through Rituals: Youth subcultures in post-war Britain 2. ed. London and New York: Routledge.
  • HOOKS, Bell. 2013. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. 1ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.
  • INGOLD, Tim. 2007. Lines: a brief history London: Routledge. p. 1-5.
  • PRADA, Monique. 2018. Putafeminista São Paulo: Veneta.
  • QUIJANO, Aníbal. 2005. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. p. 107-130.
  • QUIJANO, Aníbal. 2009. “Colonialidade do poder e Classificação Social”. In: SANTOS, Boaventura de Souza e MENESES, Maria Paula (Orgs). Epistemologias do Sul Coimbra: Edições Almedina. SA. p. 73-118.
  • RAIMONDI, Gustavo Antonio; MOREIRA, Cláudio; BARROS, Nelson Filice. 2019. “O corpo negado pela sua ‘extrema subjetividade’: expressões da colonialidade do saber na ética em pesquisa”. Interface (Botucatu) [online]. Vol. 23. p. 1-14.
  • RAIMONDI, Gustavo Antonio. 2019. Corpos que (não) importam na prática médica: uma autoetnografia performática sobre o corpo gay na escola médica Tese [Doutorado em Saúde Coletiva] - Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. p. 67-81.
  • SANTOS, Boaventura de Souza; MENESES, Maria Paula. 2009. “Introdução”. In: SANTOS, Boaventura de Souza e MENESES, Maria Paula (Orgs). Epistemologias do Sul Coimbra: Edições Almedina. SA. p. 9-19.
  • SPIVAK, Gayatri Chakravorty. 2010. Pode o Subalterno Falar? Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa e André Pereira Feitosa. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG.
  • 1
    O presente artigo recorre, em alguns trechos, à linguagem e à estrutura poética, com trechos em poesia e linguagem subjetiva, a fim de aprofundar a experimentação desta pesquisa.
  • 2
    Apresentamos uma das linhas sem caixas, com seus pontos e seus nós. Nossa intenção é ilustrar palavras não ditas, enoveladas e embaçadas, contudo, muito presentes no nosso corpo. Criação da autora e do autor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    12 Fev 2021
  • Aceito
    23 Jun 2021
Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ) R. São Francisco Xavier, 524, 6º andar, Bloco E 20550-013 Rio de Janeiro/RJ Brasil, Tel./Fax: (21) 2568-0599 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: sexualidadsaludysociedad@gmail.com