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A mobilidade como novo capital simbólico nas organizações ou sejamos nômades?

Mobility as a new organizational simbolic capital or are we becoming nomads?

Resumos

O objetivo deste artigo, de natureza exploratória, é o de analisar a mobilidade como um novo capital simbólico no mundo organizacional. Argumentamos três questõeschave: a) a de que a mobilidade já é uma necessidade sócioorganizacional; b) a de que a transformação ideológica dessa necessidade em virtude legitima a mobilidade como um novo capital; e c) a de que a circulação mundial de profissionais, por meio de processos de expatriação, e a de empresas, a partir de processos de relocalização, fusões e aquisições, traduzem um novo tipo de nomadismo que reforça a mobilidade como um valor desejável. Em virtude da ausênciade bibliografia específica sobre o tema no universo organizacional, construímos ao longo do texto alguns conceitos, dentre eles o de mobilidade. Esta se refere à capacidade, à disposição e ao desejo que um individuo tem de mudar de país para interagir com diferenças em relação à sua cultura, à sua profissão, aos seus saberes e ao seu cargo. O conceito de capital simbólico foi tomado de empréstimo de Bourdieu, que desenvolveu e consolidou, progressivamente, elementos conceituais para uma teoria da ação social(1972, 1980 e 1994) e, junto com Passeron (1964 e 1970), analisou mecanismos de reprodução social.

Mobilidade; Administração intercultural; Expatriação; Valor simbolico


This article aims to analyze the mobility as a new symbolic capital in the organizational world. We based our analyses in three key questions: a) mobility is already a socioorganizational need; b) the ideological transformation from this need into virtue gives to mobility the character of new capital; and, c) the expatriation of both - professionals and companies - leads to a new type of nomadism which reinforces mobility as a desirable value. We propose and use a wide concept of mobility, based on organizational empirical life, which means the ability, the disposition and the individual wish to move abroad in order to interact with cultural differences, different types of organizations, positions and knowledge. The concept of symbolic capital was taken from Bourdieu, whom developed and consolidated conceptual elements for a social action theory (1972, 1980, 1994), and, in association with Passeron (1964, 1970), analyzed social reproduction mechanisms.

Mobility; Intercultural management; Expatriation; Symbolic value


ARTIGO

A mobilidade como novo capital simbólico nas organizações ou sejamos nômades?

Mobility as a new organizational simbolic capital or are we becoming nomads?

Maria Ester de Freitas

Pósdoutorada em Administração Intercultural pela HEC/França. Profª titular da Escola de Administração de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - EAESP/FGV. Pesquisadora NPD. Endereço: Rua Caconde, 437, apt. 103. CEP: 01425010, São Paulo/SP. Email: ester.freitas@fgv.br

RESUMO

O objetivo deste artigo, de natureza exploratória, é o de analisar a mobilidade como um novo capital simbólico no mundo organizacional. Argumentamos três questõeschave: a) a de que a mobilidade já é uma necessidade sócioorganizacional; b) a de que a transformação ideológica dessa necessidade em virtude legitima a mobilidade como um novo capital; e c) a de que a circulação mundial de profissionais, por meio de processos de expatriação, e a de empresas, a partir de processos de relocalização, fusões e aquisições, traduzem um novo tipo de nomadismo que reforça a mobilidade como um valor desejável. Em virtude da ausênciade bibliografia específica sobre o tema no universo organizacional, construímos ao longo do texto alguns conceitos, dentre eles o de mobilidade. Esta se refere à capacidade, à disposição e ao desejo que um individuo tem de mudar de país para interagir com diferenças em relação à sua cultura, à sua profissão, aos seus saberes e ao seu cargo. O conceito de capital simbólico foi tomado de empréstimo de Bourdieu, que desenvolveu e consolidou, progressivamente, elementos conceituais para uma teoria da ação social(1972, 1980 e 1994) e, junto com Passeron (1964 e 1970), analisou mecanismos de reprodução social.

Palavras-chave: Mobilidade. Administração intercultural. Expatriação. Valor simbolico.

ABSTRACT

This article aims to analyze the mobility as a new symbolic capital in the organizational world. We based our analyses in three key questions: a) mobility is already a socioorganizational need; b) the ideological transformation from this need into virtue gives to mobility the character of new capital; and, c) the expatriation of both - professionals and companies - leads to a new type of nomadism which reinforces mobility as a desirable value. We propose and use a wide concept of mobility, based on organizational empirical life, which means the ability, the disposition and the individual wish to move abroad in order to interact with cultural differences, different types of organizations, positions and knowledge. The concept of symbolic capital was taken from Bourdieu, whom developed and consolidated conceptual elements for a social action theory (1972, 1980, 1994), and, in association with Passeron (1964, 1970), analyzed social reproduction mechanisms.

Keywords: Mobility. Intercultural management. Expatriation. Symbolic value.

Texto completo disponivel apenas em PDF.

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REFERÊNCIAS

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Recebido em 02/10/2006

Aprovado em 27/12/2007

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Set 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2009

Histórico

  • Aceito
    27 Dez 2007
  • Recebido
    02 Out 2006
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