Acessibilidade / Reportar erro

Opressão e resistência nos estudos organizacionais críticos: considerações acerca do discurso da servidão voluntária e da pedagogia do oprimido

Oppression and resistance in organizational studies: considerations about the discourse of voluntary servitude and the pedagogy of the oppressed

Resumos

Este artigo tem como objetivo discutir a abordagem crítica nacional para a questão da opressão e da resistência nos estudos organizacionais, apresentando novas contribuições teóricas que podem reforçar sua tese central: a opressão é um fenômeno coletivo, portanto, quando se busca um projeto emancipatório mais amplo, a resistência também precisa ser empreendida como uma ação coletiva. Para além destas contribuições, também pretendemos apontar a pedagogia crítica como um caminho para analisar e mesmo colocar em práticas novas formas coletivas de resistência. Para isto, realizaremos um percurso que resgatará o clássico texto de Etienne La Boétie, "O Discurso da Servidão Voluntária" e também a "Pedagogia do Oprimido" de Paulo Freire.

Teoria Organizacional; Resistência; Estudos Críticos Organizacionais


The aim of this article is to discuss the national critical approach to the issue of oppression and resistance in organization studies by presenting new theoreticalcontributions that can strengthen its central thesis: oppression is a collective phenomenon, therefore when seeking a broader emancipatory project, resistance also needs to be undertaken as collective action. Furthermore we attempt to highlight critical pedagogy as a way to analyze and even put into practice new forms of collective resistance. In order to do this we follow a route in which we review the classic text ofEtienne La Boétie, "The Discourse on Voluntary Servitude" and also the "Pedagogy of the Oppressed" by Paulo Freire.

Organizational Theory; Resistance; Critical Organization Studies


ARTIGOS

Opressão e resistência nos estudos organizacionais críticos: considerações acerca do discurso da servidão voluntária e da pedagogia do oprimido

Oppression and resistance in organizational studies: considerations about the discourse of voluntary servitude and the pedagogy of the oppressed

Ana Paula Paes de PaulaI; Carolina Machado Saraiva de Albuquerque MaranhãoII

IPósDoutora em Administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo – EAESP/ FGV. Profª. Adjunta do Centro de PósGraduação e Pesquisas em Administração – CEPEAD/UFMG. Coordenadora de pesquisas na área de estudos críticos organizacionais, ensino e pesquisa em admi nistração da UFMG. Endereço: Av. Antônio Carlos Campus 6627, sala 4033, Pampulha. Belo Horizon te/ MG. Cep 31270901. Email: appaula@face.ufmg.br

IIDoutoranda bolsista da CAPES do CEPEAD/UFMG. Email: carola.maranhao@gmail.com

RESUMO

Este artigo tem como objetivo discutir a abordagem crítica nacional para a questão da opressão e da resistência nos estudos organizacionais, apresentando novas contribuições teóricas que podem reforçar sua tese central: a opressão é um fenômeno coletivo, portanto, quando se busca um projeto emancipatório mais amplo, a resistência também precisa ser empreendida como uma ação coletiva. Para além destas contribuições, também pretendemos apontar a pedagogia crítica como um caminho para analisar e mesmo colocar em práticas novas formas coletivas de resistência. Para isto, realizaremos um percurso que resgatará o clássico texto de Etienne La Boétie, "O Discurso da Servidão Voluntária" e também a "Pedagogia do Oprimido" de Paulo Freire.

Palavras-chave: Teoria Organizacional. Resistência. Estudos Críticos Organizacionais

ABSTRACT

The aim of this article is to discuss the national critical approach to the issue of oppression and resistance in organization studies by presenting new theoreticalcontributions that can strengthen its central thesis: oppression is a collective phenomenon, therefore when seeking a broader emancipatory project, resistance also needs to be undertaken as collective action. Furthermore we attempt to highlight critical pedagogy as a way to analyze and even put into practice new forms of collective resistance. In order to do this we follow a route in which we review the classic text ofEtienne La Boétie, "The Discourse on Voluntary Servitude" and also the "Pedagogy of the Oppressed" by Paulo Freire.

Key words: Organizational Theory. Resistance. Critical Organization Studies

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Referências

ABENSOUR, M. Sobre o uso adequado da hipótese da servidão voluntária? In: NOVAES, Adauto. O esquecimento da política. Rio de Janeiro: Agir, 2007. ARENDT, H. A condição humana. São Paulo: Forense/Edusp,1981. 352p.

______. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 114p. CARVALHO, C. A. Teoria e práxis na construção coletiva das práticas de resistência. In: ENEO, 4, 2006, Porto Alegre. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD ROM.

CARVALHO, J. M. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. 196p.

CHAUÍ, M. S. Amizade, recusa do servir. In: CLASTRES, P.; LEFORT, C.; CHAUÍ, M. S. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1982. 239p.

______. Conformismo e resistência. Aspectos da cultura popular no Brasil. 4.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.179p.

CLASTRES, P. Liberdade, mau encontro, inominável. In: ______; LEFORT, C.; CHAUÍ, M. S. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1982. 239p.

DA MATTA, R. Carnavais, malandros e heróis. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. 272p.

_______. A casa e a rua. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 177p.

DOIMO, A. M. A vez e a voz do popular. Movimentos sociais e participação política no Brasil pós70. Rio de Janeiro: RelumeDumará, ANPOCS, 1995. 353p.

DOSSE, F. História do estruturalismo: o canto do cisne. Bauru: EDUSC, 2007. v.2

ENRIQUEZ, E. Sociedade contemporânea: rupturas e vínculos sociais. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL DE PSICOSSOCIOLOGIA E SOCIOLOGIA CLÍNICA: sociedade contemporânea, rupturas e vínculos sociais, 11, 2007. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG, 2007.

FARIA, J. H. Economia política do poder: fundamentos. Curitiba: Juruá, 2004a. v.1

______. Economia política do poder: uma crítica da teoria geral da administração. Curitiba: Juruá, 2004b. v.2

_______. Economia política do poder: as práticas do controle nas organizações. Curitiba: Juruá, 2004c. v.3.

_______; DORIGAN, R. M. Poder, controle e resistência no trabalho: o caso de uma organização de transporte coletivo urbano. In: ENEO, 4, 2006, Porto Alegre. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD ROM.

FOUCAULT, M. Structuralism and post structuralism: an interview with Michel Foucault, by G. Raulet. Telos, [S.l.], n.55, p.195211, 1983.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 43.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 213p.

_______. Educação como prática da liberdade. 29.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. 140p.

GOHN, M. G. História dos movimentos e lutas sociais. A construção da cidadania pelos brasileiros. São Paulo: Loyola, 1995. 213p.

GOMES, M J. O discurso da servidão voluntária. 2007. Tradução. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/boetie.html> Acesso em: 09 abr. 2007.

GRUPO DE ESTUDOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA. Os movimentos sociais e a construção democrática: sociedade civil, esfera pública e gestão participativa. Revista Idéias, [S.l.], n.5/6, p.7122, 1999.

HARDY, C.; CLEGG, S. Alguns ousam chamálo de poder. In: CALDAS, M.; FACHIN,R.; FISCHER, T.; CLEGG, S.; HARDY, C.; NORD, W. (Org.) Handbook de estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 2001.

LA BOÉTIE, E. O discurso da servidão voluntária ou O contra Um. In: CLASTRES, P.; LEFORT, C.; CHAUÍ, M. S. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1982.

LEFORT, C. O nome de Um. In: CLASTRES, P.; LEFORT, C.; CHAUÍ, M. S. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1982. 239p.

______. Ainda sobe o nome de Um. Discurso, v.35, p.117127, 2005.

MISOCZKY, M. C. Vozes da dissidência e a organização das lutas e resistências: uma edição especial sobre a América Latina. Ephemera, v.6, n.3, 224239, 2006.

______; BOEHM, S. A práxis da resistência e a hegemonia da organização. In: COLÓQUIO SOBRE O PODER LOCAL, 10, 2006, Salvador. Anais... Salvador: CIAGS, 2006. 1 CD ROM.

NUNES, L. H. M. Ação e reação: uma leitura histórica do discurso da servidão voluntária. Cadernos de Ética e Filosofia Política, v.7, n.2, p.5363, 2005.

PETERS, M. Pósestruturalismo e filosofia da diferença. Uma introdução. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 94p.

PRESTES MOTTA, F. C. Organização e poder: empresa, Estado e escola. São Paulo: Atlas, 1986. 143p.

______; ALCADIPANI, R. O pensamento de Michel Foucault na teoria das organizações. In: ENANPAD, 27, 2003, Atibaia. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2003. 1 CD ROM.

TRAGTENBERG, M. Burocracia e ideologia. São Paulo: Ática, 1974. 228p.

_______. Administração, poder e ideologia. São Paulo: Moraes, 1980a. 198p.

_______. Lages, a cidade onde o povo tem o poder. Folha de São Paulo, 26 dez. 1980b.

_______. Criada a comissão de fábrica da Asama. Notícias Populares, 10 jan. 1981a.

_______. Costureiras mostram que cooperativismo pode ser possível. Folha de São Paulo, 10 jan 1981b.

_______. Administração comunitária ressuscitou Boa Esperança. Folha de São Paulo, 04 jan 1981c.

Artigo recebido em 14/05/2008. Artigo aprovado, na sua versão final, em 15/04/2009.

  • ABENSOUR, M. Sobre o uso adequado da hipótese da servidão voluntária? In: NOVAES, Adauto. O esquecimento da política. Rio de Janeiro: Agir, 2007.
  • ARENDT, H. A condição humana. São Paulo: Forense/Edusp,1981. 352p.
  • ______. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 114p.
  • CARVALHO, C. A. Teoria e práxis na construção coletiva das práticas de resistência. In: ENEO, 4, 2006, Porto Alegre. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD ROM.
  • CARVALHO, J. M. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. 196p.
  • CHAUÍ, M. S. Amizade, recusa do servir. In: CLASTRES, P.; LEFORT, C.; CHAUÍ, M. S. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1982. 239p.
  • ______. Conformismo e resistência. Aspectos da cultura popular no Brasil. 4.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.179p.
  • CLASTRES, P. Liberdade, mau encontro, inominável. In: ______; LEFORT, C.; CHAUÍ, M. S. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1982. 239p.
  • DA MATTA, R. Carnavais, malandros e heróis. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. 272p.
  • _______. A casa e a rua. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 177p.
  • DOIMO, A. M. A vez e a voz do popular. Movimentos sociais e participação política no Brasil pós70. Rio de Janeiro: RelumeDumará, ANPOCS, 1995. 353p.
  • DOSSE, F. História do estruturalismo: o canto do cisne. Bauru: EDUSC, 2007.
  • ENRIQUEZ, E. Sociedade contemporânea: rupturas e vínculos sociais. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL DE PSICOSSOCIOLOGIA E SOCIOLOGIA CLÍNICA: sociedade contemporânea, rupturas e vínculos sociais, 11, 2007. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG, 2007.
  • FARIA, J. H. Economia política do poder: fundamentos. Curitiba: Juruá, 2004a. v.1
  • ______. Economia política do poder: uma crítica da teoria geral da administração. Curitiba: Juruá, 2004b. v.2
  • _______. Economia política do poder: as práticas do controle nas organizações. Curitiba: Juruá, 2004c. v.3.
  • _______; DORIGAN, R. M. Poder, controle e resistência no trabalho: o caso de uma organização de transporte coletivo urbano. In: ENEO, 4, 2006, Porto Alegre. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD ROM.
  • FOUCAULT, M. Structuralism and post structuralism: an interview with Michel Foucault, by G. Raulet. Telos, [S.l.], n.55, p.195211, 1983.
  • FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 43.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 213p.
  • _______. Educação como prática da liberdade. 29.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. 140p.
  • GOHN, M. G. História dos movimentos e lutas sociais. A construção da cidadania pelos brasileiros. São Paulo: Loyola, 1995. 213p.
  • GOMES, M J. O discurso da servidão voluntária. 2007. Tradução. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/boetie.html> Acesso em: 09 abr. 2007.
  • GRUPO DE ESTUDOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA. Os movimentos sociais e a construção democrática: sociedade civil, esfera pública e gestão participativa. Revista Idéias, [S.l.], n.5/6, p.7122, 1999.
  • HARDY, C.; CLEGG, S. Alguns ousam chamálo de poder. In: CALDAS, M.; FACHIN,R.; FISCHER, T.; CLEGG, S.; HARDY, C.; NORD, W. (Org.) Handbook de estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 2001.
  • LA BOÉTIE, E. O discurso da servidão voluntária ou O contra Um. In: CLASTRES, P.; LEFORT, C.; CHAUÍ, M. S. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1982.
  • LEFORT, C. O nome de Um. In: CLASTRES, P.; LEFORT, C.; CHAUÍ, M. S. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1982. 239p.
  • ______. Ainda sobe o nome de Um. Discurso, v.35, p.117127, 2005.
  • MISOCZKY, M. C. Vozes da dissidência e a organização das lutas e resistências: uma edição especial sobre a América Latina. Ephemera, v.6, n.3, 224239, 2006.
  • ______; BOEHM, S. A práxis da resistência e a hegemonia da organização. In: COLÓQUIO SOBRE O PODER LOCAL, 10, 2006, Salvador. Anais... Salvador: CIAGS, 2006. 1 CD ROM.
  • NUNES, L. H. M. Ação e reação: uma leitura histórica do discurso da servidão voluntária. Cadernos de Ética e Filosofia Política, v.7, n.2, p.5363, 2005.
  • PETERS, M. Pósestruturalismo e filosofia da diferença. Uma introdução. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 94p.
  • PRESTES MOTTA, F. C. Organização e poder: empresa, Estado e escola. São Paulo: Atlas, 1986. 143p.
  • ______; ALCADIPANI, R. O pensamento de Michel Foucault na teoria das organizações. In: ENANPAD, 27, 2003, Atibaia. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2003. 1 CD ROM.
  • TRAGTENBERG, M. Burocracia e ideologia. São Paulo: Ática, 1974. 228p.
  • _______. Administração, poder e ideologia. São Paulo: Moraes, 1980a. 198p.
  • _______. Lages, a cidade onde o povo tem o poder. Folha de São Paulo, 26 dez. 1980b.
  • _______. Criada a comissão de fábrica da Asama. Notícias Populares, 10 jan. 1981a.
  • _______. Costureiras mostram que cooperativismo pode ser possível. Folha de São Paulo, 10 jan 1981b.
  • _______. Administração comunitária ressuscitou Boa Esperança. Folha de São Paulo, 04 jan 1981c.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Set 2014
  • Data do Fascículo
    Set 2009

Histórico

  • Aceito
    15 Abr 2009
  • Recebido
    14 Maio 2008
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: revistaoes@ufba.br