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Editorial

Abrimos o ano de 2012 com o v. 37 n. 1 de Educação & Realidade, o qual contempla uma seção temática apresentada à editoria no âmbito de edital público de 2010 para apresentação de propostas. Efetivamos, assim, mais uma ação dentre as linhas de nossa política editorial, que diz respeito à publicação de um conjunto de artigos que se articulem em torno de uma temática, resguardando a diversidade teórico-metodológica e a vinculação institucional dos autores, por meio da apresentação de proposições reguladas pelos termos de um edital anualmente reeditado desde 2008; a publicização da oportunidade de publicação e de procedimentos e critérios de submissão e avaliação das propostas é princípio maior a orientar essa linha da política editorial de nossa revista, na perspectiva do resguardo e da promoção da qualidade científica da E&R, amplamente reconhecida no meio educacional do nosso país.

A seção temática Cuidado Humano e Educação foi organizada por Maria Helena Menna Barreto Abrahão, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e Miriam Suzéte de Oliveira Rosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A seção reúne oito artigos e conta com autores de diferentes instituições, do Brasil e do exterior: Universidade de Genebra, na Suíça; Universidade Fernando Pessoa e Universidade de Coimbra, em Portugal; Universidade do Québec, no Canadá; os autores brasileiros vinculam-se à Pontifícia Universidade de São Paulo, ao Centro Universitário Ítalo-Brasileiro (São Paulo), à Universidade Cidade de São Paulo e à Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Na apresentação da seção temática, as organizadoras registram a aspiração de que sejam introduzidas na educação novas formas de ressignificar a vida vivida e de dar relevância ao processo de rememorar o velho, tornando-o estranho e novo, aspiração essa que guiou a organização da coletânea. Novas formas, novos relevos... imperativos que também estão no cântico de Cecília Meireles reproduzido na epígrafe da apresentação - criar outros olhos para visões novas.

Interpõe-se aqui a intencionalidade de uma perturbação. José Saramago, no seu livro As Intermitências da Morte, constrói uma fábula que assim inicia: No dia seguinte ninguém morreu. E seguem-se pródigos relatos de fatos e sentimentos das gentes de um país apreendidas pelo inusitado sumiço de uma figura - a morte -, que abala as normas da vida. Desfilam pelo texto celebrações, razões e desvarios diante, primeiro, do mistério e, na sequência, dos embaraços e do mal-estar, sempre crescentes, que vão acompanhando o descabido.

Evocamos essa narrativa de Saramago do repto da imortalidade do corpo tão somente para assinalar um fio que liga a história fantástica e a epistemologia do sujeito que sustenta, como constructo de base, os artigos da seção temática Cuidado Humano e Educação - o desafio de pensar a condição humana fora de padrões mais comuns. Em As Intermitência da Morte, as pessoas se veem na contingência de viver sem a morte; nos artigos que integram a seção temática uma interpelação incômoda também se insinua: pensar a ciência para além do sujeito e da vida recortados disciplinarmente.

Contamos com oito artigos na seção Outros Temas, que tipificam o variado e fértil repertório de temáticas e perspectivas teóricas que transitam na produção nacional da área da educação, bem como na Educação & Realidade, dado seu escopo abrangente. Sumarizamos, na sequência, esses oito textos.

A compreensão de modos de subjetivação da juventude, por meio de uma reflexão acerca de relações de amizade entre jovens estudantes dos anos finais do ensino fundamental de uma escola pública da região metropolitana de Porto Alegre, é o tema do artigo de Suzana Feldens Schwertner, intitulado Palavras e Imagens sobre Amizade Jovem na Contemporaneidade. A base teórica em que se assenta a reflexão é a hermenêutica de Michel Foucault e seus estudos sobre a ética e a estética. Palavras e imagens do discurso dos jovens estudantes sobre a amizade incitam a educação, como campo de saber, e a educação escolar, como prática social, a lançarem novos olhares sobre os laços de amizade, nas suas dimensões conflitiva, de risco e de reinvenção.

No artigo intitulado O Ensino de Evolução Biológica e sua Abordagem em Livros Didáticos, Edmara Silvana Joia Zamberlan e Marcos Rodrigues da Silva analisam livros didáticos de Biologia, de ensino médio, focando os conteúdos relativos a competição interespecífica e a vírus, tomados como mote para discutir se e como são estabelecidas relações entre esses conteúdos e a evolução biológica. Os autores têm como discussão de fundo a concepção da evolução biológica como ideia reguladora da Biologia e sua aplicação ao ensino, bem como as potencialidades do livro didático no desenvolvimento de concepções científicas hoje paradigmáticas.

A inclusão de atividades lúdicas nos primeiros anos do ensino fundamental de nove anos é tratada no artigo Brincadeiras no Ensino Fundamental: pistas para a formação de professoras, de autoria de Maria Silvia Pinto de Moura Librandi da Rocha, Marina Leme Pasqual e Mayara Carrijo Ferreira, oriundo de uma pesquisa realizada em duas escolas municipais do estado de São Paulo. Referenciadas na teoria histórico-cultural, as autoras situam a importância da atividade lúdica para o desenvolvimento infantil e, diante de evidências de que os professores ainda não se apropriaram dessa significação e de seu papel na inclusão das brincadeiras no currículo escolar, discutem desafios que se apresentam à inclusão do brincar como prioridade no debate pedagógico.

Rose Gurski, no artigo Violência Juvenil e Laço Social Contemporâneo, interroga o uso da violência por jovens de classe média e alta na contemporaneidade, valendo-se de narrativas da mídia, do cinema e de seus pacientes de psicanálise. A autora recorre aos aportes da Psicanálise, do pensamento crítico de Walter Benjamin e da filosofia de Hannah Arendt, entre outros, para discutir modos de representação de si nas condições sociais atuais, o que lhe permite complexificar a compreensão dos atos violentos juvenis, pelo exercício de possíveis ângulos de análise e pelo levantamento de novas questões.

As Singularidades das Crianças Pequenas Expressas em suas Brincadeiras, artigo de Bruna Prange e Regina Ingrid Bragagnolo, vai ao encontro das manifestações de distinções entre as crianças em momentos de brincadeira. As autoras, referenciadas na psicologia sócio-histórica, situam a brincadeira como uma produção cultural e procuram, ao longo do texto, exemplificar as singularidades infantis por meio de relatos de observações de crianças em momentos de brinquedo numa escola de educação infantil; a produção põe em xeque as práticas de homogeneização no trabalho pedagógico escolar.

Num momento em que a perspectiva da educação inclusiva é alçada a diretriz central da política de educação especial brasileira, Jardel Pelissari Machado e Miriam Aparecida Graciano de Souza Pan tematizam - no artigo intitulado Do Nada ao Tudo: políticas públicas e a educação especial brasileira - o discurso da inclusão inscrito em documentos normativos. Da incursão pela teia discursiva, preocupam-se em acentuar a importância do reconhecimento e do respeito às diferenças, pelo qual o tudo da inclusão (inclusão radicalizada) é questionado do ponto de vista de seu potencial apagamento das diferenças.

Infância e Cidade: Porto Alegre através das lentes das crianças, artigo de autoria de Fernanda Müller, enfoca, numa perspectiva analítica de inspiração etnográfica, imagens da cidade fotografadas por um grupo de crianças de quatro a 12 anos de idade. Posicionando as crianças como agentes ativos em seus processos de socialização, a autora busca explorar como as crianças entendem suas vidas e sua participação na cidade, por intermédio das fotografias e do diálogo com as crianças em torno de suas significações, o que remete a reflexões sobre a importância do ponto de vista das crianças na ação de pensar o espaço público.

As influências dos jogos eletrônicos sobre processos de construção da moralidade e da ética constitui o principal interrogante do artigo Ciberética: a ética no espaço virtual dos jogos eletrônicos, de Daniela Karine Ramos. A questão é enfocada com base em pesquisa que utilizou elementos da cartografia e que envolveu relatos de experiências de jovens, observações dos jovens em situação de jogo e a prática de jogos eletrônicos pelo próprio autor-pesquisador.

Ao iniciarmos as publicações do ano de 2012, reiteramos nossa pretensão de fazer chegar aos leitores de Educação & Realidade produções acadêmicas designadas como qualificadas no curso de nosso processo editorial.

Boa leitura!

Luís Armando Gandin - Editor-Chefe
Editor-ChefeEditor AssociadoEditora AssociadaGilberto Icle - Editor Associado
Editor-ChefeEditor AssociadoEditora Associada
Nalú Farenzena - Editora Associada
Editor-ChefeEditor AssociadoEditora Associada

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2012
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