Acessibilidade / Reportar erro

Fenologia reprodutiva, síndromes de polinização e dispersão em espécies de Leguminosae dos campos rupestres do Parque Estadual do Itacolomi, Minas Gerais, Brasil1 1 Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora. Curso de Pós-Graduação em Botânica, Universidade Federal de Viçosa, MG, Brasil

Reproductive phenology, pollination and dispersal syndromes in Leguminosae from the campos rupestres of Itacolomi State Park, Minas Gerais, Brazil

RESUMO

A fenologia reprodutiva e as síndromes florais e de dispersão em 45 táxons de Leguminosae foram estudadas nos campos rupestres do Parque Estadual do Itacolomi (PEI), Minas Gerais, Brasil, entre setembro/2003 e outubro/2004. A floração na comunidade ocorreu durante todo o período de estudo, com o maior pico observado em março (66,6% dos táxons), havendo correlação positiva com a precipitação e a temperatura. A maioria dos táxons estudados (88,8%) apresentou características florais da síndrome de melitofilia. Foram descritos, para as espécies de Chamaecrista, dois padrões de deposição de pólen no corpo do polinizador, o direto e o indireto. Houve frutificação durante todo o período de estudo, com o maior pico em abril (57,7%), havendo correlação significativa dessa fenofase com a temperatura. A autocoria foi a síndrome de dispersão mais frequente (66,6%), associada principalmente aos frutos dos tipos legume e folículo. Os resultados indicam que a sazonalidade climática é importante para a floração, frutificação e dispersão dos diásporos nos campos rupestres do PEI e reforçam a importância das espécies de Leguminosae como uma importante fonte de recursos alimentares (pólen e néctar) para as abelhas.

Palavras-chave:
autocoria; melitofilia; campo rupestre; Chamaecrista

ABSTRACT

The reproductive phenology, floral and dispersal syndrome were studied in 45 taxa of Leguminosae from the "campos rupestres" of the Itacolomi State Park, Minas Gerais, Brazil, from September/2003 to October/2004. Flowering, in the community, occurred throughout the study period, with the highest peak in March (66.6% of taxons), displaying positive correlation with rainfall and temperature. Most of the studied taxa (88.8%) presented floral characteristics of bee-pollination syndrome. Two patterns of pollen deposition on the pollinator's body were described for Chamaecrista species; direct and indirect Taxa were observed fruiting throughout the study period, with the highest peak in April (57.7%), with this phenophase displaying significant correlation with temperature. Autochory was the most frequent dispersal syndrome (66.6%), mainly represented by legume- and follicle-type fruits. The results indicate that the climatic seasonality is important for the flowering, fruiting and dispersal of the diaspores in the "campos rupestres" of the Itacolomi State Park and emphasize the importance of the Leguminosae as an important source of food resources (pollen and nectar) for the bees.

Key words:
autochory; mellitophilous syndrome; campos rupestres; Chamaecrista

Texto completo disponível apenas em PDF.

  • 1
    Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora. Curso de Pós-Graduação em Botânica, Universidade Federal de Viçosa, MG, Brasil

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), pela autorização concedida para a realização das coletas; aos funcionários do Parque Estadual do Itacolomi, pelo auxílio nos trabalhos de campo; à Profa. Maria Cristina T. B. Messias (UFOP), pelo auxílio com as análises estatísticas; ao Dr. Luciano Paganucci de Queiroz (UEFS), pelas críticas e sugestões ao manuscrito; ao Dr. Lúcio Antônio de Oliveira Campos, pela identificação das abelhas; e ao Reinaldo A. Pinto, pela elaboração das ilustrações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • Arroyo, M. T. K. 1981. Breeding systems and pollination biology in Leguminosae. In: Polhill, R. M. & Raven, P. H. (eds.). Advances in legume systematics. Part II. Royal Botanic Gardens, Kew. Pp.723-769.
  • Barros, M. A. G. & Caldas, L. S. 1980. Acompanhamento de eventos fenológicos apresentados por cinco gêneros nativos do Cerrado (Brasília-DF). Brasil Florestal 42: 7-14.
  • Batalha, M. A.; Aragaki, S. & Mantovani, W. 1997. Variações fenológicas das espécies do cerrado em Emas (Pirassununga, SP). Acta Botanica Brasilica 11(1): 61-78.
  • Batalha, M. A. & Mantovani, W. 2000. Reproductive phenological patterns of Cerrrado plant species at the Pé-de-Gigante Reserve (Santa Rita do Passa Quatro, SP, Brazil): a comparison between the herbaceous and woody floras. Revista Brasileira de Biologia 60(1): 129-145.
  • Bawa, K. S. 1990. Plant-pollinator interactions in tropical rain forests. Annual Review of Ecology and Systematics 21: 399-422.
  • Brandão, M. & Costa, N. M. S. 1979. O gênero Stylosanthes Sw. no Brasil. EPAMIG, Belo Horizonte, 108p.
  • Carmo, R. M. & Franceschinelli, E. V. 2002. Polinização e biologia floral de Clusia arrudae Planchon & Triana (Clusiaceae) na Serra da Calçada, município de Brumadinho, MG. Revista Brasileira de Botânica 25(3): 351-360.
  • Carvalho, D. A. & Oliveira, P. E. 2003. Biologia reprodutiva e polinização de Senna sylvestris (Vell.) H.S. Irwin & Barneby (Leguminosae, Caesalpinioideae). Revista Brasileira de Botânica 26(3): 319-328.
  • Conceição, A. A.; Funch, L. S. & Pirani, J. R. 2007. Reproductive phenology, pollination and seed dispersal syndromes on sandstone outcrop vegetation in the "Chapada Diamantina", northeastern Brazil: population and community analyses. Revista Brasileira de Botânica 30(3): 475-485.
  • Cortopassi-Laurino, M.; Knoll, F. R. N. & Imperatriz-Fonseca, V. L. 2003. Nicho trófico e abundância de Bombus morio e Bombus atratus em diferentes biomas brasileiros. In: Melo, G. A. R. & Santos, I. A. (eds.). Apoidea neotropica: homenagem aos 90 anos de Jesus Santiago Moure. Ed. UNESC, Criciúma. Pp. 285-295.
  • Costa, J. A. S. & Ramalho, M. 2001. Ecologia da polinização em ambiente de duna tropical (APA do Abaeté, Salvador, Bahia, Brasil). Sitientibus, série Ciências Biológicas 1(2): 141-153.
  • Drummond, G. M.; Martins, C. S.; Machado, A. B. M.; Sebaio, F. A. & Antonini, Y. 2005. Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas para sua conservação. Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte, 222p.
  • Dutra, V. F. 2005. Leguminosae Adans. nos campos rupestres do Parque Estadual do Itacolomi, Minas Gerais, Brasil: florística, preferência por habitat, aspectos reprodutivos e distribuição geográfica. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 171p.
  • Dutra, V. F; Garcia, F. C. P.; Lima, H. C. & Queiroz, L. P. 2008. Diversidade florística de Leguminosae Adans. em áreas de campos rupestres. Megadiversidade 4(1-2): 145-153.
  • Dutra, V. F.; Messias, M. C. T. B. & Garcia, F. C. P. 2005. Papilionoideae (Leguminosae-Papilionoideae) dos campos ferruginosos do Parque Estadual do Itacolomi, MG, Brasil: florística e fenologia. Revista Brasileira de Botânica 28(3): 493-504.
  • Endress, P. K. 1994. Diversity and evolutionary biology of tropical flowers. Cambridge University Press, Cambridge, 511p.
  • Faegri, K. & van der Pijl, L. 1979. The principles of pollination ecology. Pergamon Press, Oxford, 242p.
  • Fantz, P. R. 1980. Flora of Panama. Annals of the Missouri Botanical Garden 67: 582-593.
  • Faria, G. M. 1994. A flora e a fauna apícola de um ecossistema de campo rupestre, Serra do Cipó - MG, Brasil: composição, fenologia e suas interações. Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 239p.
  • Felfili, J. M.; Silva-Junior, M. C.; Dias, B. J. & Rezende, A. V. 1999. Estudo fenológico de Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville no cerrado sensu stricto da Fazenda Água Limpa no Distrito Federal, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 22(1): 83-90.
  • Flores, A. S. & Miotto, S. T. S. 2001. Gênero Crotalaria L. (Leguminosae-Faboideae) na Região Sul do Brasil. Iheringia, série Botânica 55: 189-247.
  • Fournier, L. A. 1976. Observaciones fenologicas en el bosque húmedo de premontano de San Pedro de Montes de Oca, Costa Rica. Turrialba 26(1): 54-59.
  • Frankie, G. W.; Baker, H. G. & Opler, P. A. 1974. Tropical plant phenology: applications for studies in community ecology. In: Lieth, H. (ed.). Phenology and seasonality modeling. Springer Verlag, Berlim. Pp. 287-296.
  • Freitas, L. & Sazima, M. 2006. Pollination biology in a tropical high-altitude grassland in Brazil: interactions at the community level. Annals of the Missouri Botanical Garden 93: 465-516.
  • Giulietti, A. M.; Menezes, N. L.; Pirani, J. R.; Meguro, M. & Wanderley, M. G. L. 1987. Flora da Serra do Cipó: caracterização e lista das espécies. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 9: 1-151.
  • Gottsberger, G.; Camargo, J. M. F. & Silberbauer-Gottsberger, I. 1988. A beepollinated tropical community: The beach dune vegetation of Ilha de São Luís, Maranhão, Brasil. Botanische Jahrbücher für Systematik, Pflanzengeschichte und Pflanzengeographie 109: 469-500.
  • Gottsberger, G. & Silberbauer-Gottsberger, I. 1988. Evolution of flower structures and pollination in Neotropical Cassiinae (Caesalpiniaceae) species. Phyton (Austria) 28(2): 293-320.
  • Goulart, M. F.; Filho, J. P. L. & Lovato, M. B. 2005. Phenological variation within and among populations of Plathymenia reticulata in Brazilian Cerrado, the Atlantic Forest and transitional sites. Annals of Botany 96: 445-455.
  • Harley, R. M. 1995. Introduction. In: Stannard, B. L. (ed.). Flora of the Pico das Almas, Chapada Diamantina, Bahia, Brazil. Royal Botanical Gardens, Kew. Pp. 1-40.
  • Koptur, S. 1983. Flowering phenology and floral biology of Inga (Fabaceae: Mimosoideae). Systematic Botany 8(4): 354-368.
  • Machado, I. C. & Lopes, A. V. 2004. Floral traits and pollination systems in the Caatinga, a Brazilian Tropical Dry Forest. Annals of Botany 94(3): 365-376.
  • Macior, L.W. 1971. Coevolution of plants and animals-systematic insights from plantinsect interactions. Taxon 20: 17-28.
  • Madeira, J. A. & Fernandes, G. W. 1999. Reproductive phenology of sympatric taxa of Chamaecrista (Leguminosae) in Serra do Cipó, Brazil. Journal of Tropical Ecology 15: 463-479.
  • Mantovani, M.; Ruschel, A. R.; Reis, M. S.; Puchalski, A. & Nodari, R. O. 2003. Fenologia reprodutiva de espécies arbóreas em uma formação secundária da Floresta Atlântica. Revista Árvore 27(4): 451-458.
  • Mantovani, W. & Martins, F. R. 1988. Variações fenológicas das espécies do cerrado da Reserva Biológica de Moji Guaçu, estado de São Paulo. Revista Brasileira de Botânica 11: 101-112.
  • Mansano, V. F. & Tozzi, A. M. G. A. 2004. Swartzia (Leguminosae, Papilionoideae, Swartzieae s.l.) na Reserva Natural da Companhia Vale do Rio Doce, Linhares, ES, Brasil. Rodriguésia 55(85): 95-113.
  • Mendonça-Filho, C. V. 1995. Fenologia de Leguminosas arbóreas da Estação Biológica de Caratinga, Caratinga - MG. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 100p.
  • Menezes, N. L. & Giulietti, A. M. 1986. Campos rupestres - paraíso botânico na Serra do Cipó. Ciência Hoje 5(25): 38-44.
  • Messias, M. C. T. B.; Dias, S. J.; Roschel, M. B.; Sousa, H. C. & Matos, A. M. 1997. Levantamento florístico das matas e distribuição de algumas espécies endêmicas da região na área do Parque do Itacolomi. Relatório técnico. UFOP/BIRD/IEF-Profloresta, Ouro Preto, 151p.
  • Morellato, L. P. C.; Rodrigues, R. R.; Leitão-Filho, H. F. & Joly, C. A. 1989. Estudo comparativo da fenologia de espécies arbóreas de floresta de altitude e floresta mesófila semidecídua na Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo. Revista Brasileira de Botânica 12: 85-98.
  • Morettin, P. A. & Bussab, W. O. 2004. Estatística básica. 5ed. Saraiva, São Paulo, 526p.
  • Munhoz, C. B. R. & Felfili, J. M. 2005. Fenologia do estrato herbáceosubarbustivo de uma comunidade de campo sujo na Fazenda Água Limpa no Distrito Federal, Brasil. Acta Botânica Brasilica 19(4): 979-988.
  • Neto, O. C.; Lopes, A. V. F. & Machado, I. C. 2007. Ecologia da polinização de Inga striata (Benth.) (Leguminosae-Mimosoideae) em um remanescente de mata Atlântica no Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Biociências 5(supl.1): 570-572.
  • Newstrom, L. E.; Frankie, G. W. & Baker, H. G. 1994. A new classification for plant phenology based on flowering patterns in Lowland Tropical Rain Forest Trees at La Selva, Costa Rica. Biotropica 26(2): 141-159.
  • Pedroni, F.; Sanchez, M. & Santos, F. A. M. 2002. Fenologia da copaíba (Copaifera langsdorffii Desf. - Leguminosae, Caesalpinioideae) em uma floresta semidecídua no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Botânica 25(2): 183-194.
  • Pennington, R. T. 2003. Monograph of Andira (Leguminosae-Papilionoideae). Systematic Botany Monographs 64:1-143.
  • Peron, M. V. 1989. Listagem preliminar da flora fanerogâmica dos campos rupestres do Parque Estadual do Itacolomi - Ouro Preto/Mariana, MG. Rodriguésia 67(41): 63-69.
  • Ramírez, N. 2004. Ecology of pollination in a tropical Venezuelan savanna. Plant Ecology 173: 171-189.
  • Rathcke, B. & Lacey E. P. 1985. Phenological patterns of terrestrial plants. Annual Review of Ecology and Systematics 16: 179-214.
  • Romero, R. 2002. Diversidade da flora dos Campos Rupestres de Goiás, Sudoeste e Sul de Minas Gerais. In: Araújo, E. L.; Moura, A. N.; Sampaio, E. V. S. B.; Gestinari L. M. S. & Carneiro, J. M. T. (eds.). Biodiversidade, conservação e uso sustentável da flora do Brasil. Editora Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Pp. 81-86.
  • Sartori, A. L. B. & Tozzi, A. M. G. A. 1998. As espécies de Machaerium Pers. (Leguminosae - Papilionoideae - Dalbergieae) ocorrentes no estado de São Paulo. Revista Brasileira de Botânica 21(3): 211-246.
  • Silberbauer-Gottsberger, I. & Gottsberger, G. 1988. A polinização de plantas do cerrado. Revista Brasileira de Biologia 48(4): 651-663.
  • Silva, S. S. P. & Peracchi, A. L. 1999. Visits of bats to flowers of Lafoensia glyptocarpa Koehne (Lythraceae). Revista Brasileira de Biologia 59(1): 19-22.
  • Stirton, C. H. 1981. Petal sculpturing in papilionoid legumes. In: Polhill, R. M. & Raven, P. H. (eds.). Advances in legume systematics Royal Botanical Gardens, Kew. Pp. 771-788.
  • Thomson, J. D. 1980. Skewed flowering distributions and pollinator attraction. Ecology 61: 572-579.
  • van der Pijl, L. 1982. Principles of dispersal in higher plants. Springer-Verlag, New York, 215p.
  • Yamamoto, L. F.; Kinoshita, L. S. & Martins, F. R. 2007. Síndromes de polinização e de dispersão em fragmentos da Floresta Estacional Semidecídua Montana, SP, Brasil. Acta Botanica Brasilica 21(3): 553-573.
  • Wunderlee Jr., J. M. 1997. The role of animal seed dispersal in accelerating native forest regeneration on degraded tropical lands. Forest Ecology and Management 99: 223-235.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2009

Histórico

  • Recebido
    Jun 2008
  • Aceito
    Abr 2009
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br