Acessibilidade / Reportar erro

Composição florística e chaves de identificação para as lianas da Estação Ecológica dos Caetetus, estado de São Paulo, Brasil1 1 Parte da dissertação de mestrado da primeira autora.

Floristic composition and identification keys to the lianas from Caetetus Ecological Station, São Paulo state, Brazil

Resumo

Os estudos florísticos voltados às plantas mecanicamente dependentes (lianas e epífitas) permitiram vislumbrar a possível contribuição destes elementos para a riqueza e diversidade das florestas tropicais. No Brasil, o número de trabalhos enfocando especificamente o estudo florístico das lianas ainda é escasso. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivos caracterizar a composição florística de lianas e de seus mecanismos de ascensão na Estação Ecológica dos Caetetus, uma floresta estacional semidecidual do sudeste brasileiro, e apresentar chaves de identificação para as famílias e espécies de lianas deste fragmento florestal. Foram amostradas 74 espécies de 19 famílias, sendo as mais representativas Bignoniaceae (25 espécies), Sapindaceae (11), Apocynaceae (7), Malpighiaceae (7) e Fabaceae (6). Quanto aos mecanismos de ascensão, a forma preênsil foi a mais frequente, ocorrendo em 57% das espécies. Baseando-se nos resultados obtidos e nos demais estudos florísticos que enfocaram essa forma de vida, foi possível verificar que, para as florestas estacionais semideciduais do sudeste brasileiro, a família com maior riqueza específica é Bignoniaceae, seguida por Sapindaceae e Malpighiacae, e o mecanismo de ascensão predominante para as espécies lenhosas é a forma preênsil.

Palavras-chave:
floresta estacional semidecidual; mecanismos de ascensão; sudeste do Brasil

Abstract

Floristic studies dedicated to non-self-supporting plants (lianas and epiphytes) made possible a better understanding of the contribution of these plants to the species richness and diversity of tropical forests. However, in Brazil, floristic studies on lianas are still rare. This study aimed at characterizing the floristic composition of lianas and their climbing mechanisms in a seasonal semideciduous forest in the Caetetus Ecological Station in southeastern Brazil, and providing identification keys to families and species of this forest fragment. We found 74 species belonging to 19 families, of which Bignoniaceae (25 spp.) is the most representative, followed by Sapindaceae (11 spp.), Apocynaceae (7 spp.), Malpighiaceae (7 spp.), and Fabaceae (6 spp.). As regards the attachment mechanisms, gripping was the most frequent (observed on 57% of the species). Based on our results, as well as on previously published ones, we suggest that in seasonal semideciduous forests of southeastern Brazil, Bignoniaceae is the most species-rich family, followed by Sapindaceae and Malpighiaceae, and that gripping is the most frequent climbing mechanism of lianas.

Key words:
seasonal semideciduous forest; climbing mechanisms; southeastern Brazil

Texto completo disponível apenas em PDF.

  • 1
    Parte da dissertação de mestrado da primeira autora.

Agradecimentos

Agradecemos aos taxonomistas Julio A. Lombardi, Luiza S. Kinoshita, Marco A. Assis, Maria Cândida H. Mamede, María Silvia Ferrucci e João Renato Stehmann o auxílio nas identificações e ao Haroldo C. de Lima e a um revisor anônimo as valiosas sugestões. Também agradecemos à FAPESP as bolsas e auxílio à pesquisa concedidos (RGU proc. 01/11558-5, RRR proc. 99/09635-0 e PD proc. 02/09762-6).

Referências

  • APG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society 161: 105-121.
  • Balée, W. & Campbell, D.G. 1990. Evidence for the successional status of liana forest (Xingu river basin, amazonian Brazil). Biotropica 22: 36-47.
  • Barros, A.A.M.; Ribas, L.A. & Araujo, D.S.D. 2009. Trepadeiras do Parque Estadual da Serra da Tiririca (Rio de Janeiro, Brasil). Rodriguésia 60: 681-694.
  • Burns, K.C. & Dawson, J. 2005. Patterns in the diversity and distribution of epiphytes and vines in a New Zealand forest. Austral Ecology 30: 883-891.
  • Clark, D.B. & Clark, D.A. 1990. Distribution and effects on tree growth of lianas and woody hemiepiphytes in a Costa Rican tropical wet forest. Journal of Tropical Ecology 6: 321-331.
  • Darwin, C. 1865. On the movements and habits of climbing plants. Journal of the Linnean Society. Botany. 9: 1-118.
  • Durigon, J.; Canto-Dorow, T.S. & Eisinger, S.M. 2009. Composição florística de trepadeiras ocorrentes em bordas de fragmentos de floresta estacional, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Rodriguésia 60: 415-422.
  • Eilu, G. 2000. Liana abundance in three tropical rain forests of western Uganda. Selbyana 21: 30-37.
  • Emmons, L.H. & Gentry, A.H. 1983. Tropical structure and the distribution of gliding and prehensile vertebrates. The American Naturalist 121: 513-524.
  • Feroz, S.M.; Hagihara, A. & Yokota, M. 2006. Stand structure and woody species diversity in relation to stand stratification in a subtropical evergreen broadleaf forest, Okinawa Island. Journal of Plant Research 119: 293-301.
  • Gentry, A.H. 1991. The distribution and evolution of climbing plants. In: Putz, F.E. & Mooney, H.A. The biology of vines. Cambridge University Press, Cambridge. Pp. 3-49.
  • Gentry, A.H. 1996. A field guide to the families and genera of woody plants of Northwest South America (Colombia, Ecuador, Peru) with supplementary notes on herbaceous taxa. 2ed. The University of Chicago Press, Chicago and London. 920p.
  • Gentry, A.H. & Dodson, C.H. 1987a. Contribution of nontrees to species richness of a tropical rain forest. Biotropica 19: 149-156.
  • Gentry, A.H. & Dodson, C.H. 1987b. Diversity and biogeography of neotropical vascular epiphytes. Annals of the Missouri Botanical Garden 74: 205-233.
  • Hegarty, E.E. 1991. Vine-host interactions. In: Putz, F.E. & Mooney, H.A. The biology of vines. Cambridge University Press, Cambridge. Pp. 357-375.
  • Hegarty, E.E. & Caballé, G. 1991. Distribution and abundance of vines in forest communities. In: Putz, F.E. & Mooney, H.A. The biology of vines. Cambridge University Press, Cambridge. Pp. 313-335.
  • Hora, R.C. & Soares, J.J. 2002. Estrutura fitossociológica da comunidade de lianas em uma floresta estacional semidecidual na Fazenda Canchim, São Carlos, SP. Revista Brasileira de Botânica 25: 323-329.
  • Ibarra-Manríquez, G. & Martínez-Ramos, M. 2002. Landscape variation of liana comunities in a neotropical rain forest. Plant Ecology 160: 91-112.
  • Isnard, S. & Silk, W.K. 2009. Moving with climbing plants from Charles Darwin’s time into the 21st century. American Journal of Botany 96: 1205-1221.
  • Köppen, W.P. 1948. Climatologia. Fundo de Cultura Econômica. Cidade do México, Buenos Aires. 479p.
  • Krings, A. 2000. Floristic and ecology of mesoamerican montane climber communities: Monteverde, Costa Rica. Selbyana 21: 156-164.
  • Lee, D.W. & Richards, J.H. 1991. Heteroblastic development in vines. In: Putz, F.E. & Mooney, H.A. The biology of vines. Cambridge University Press, Cambridge. Pp. 205-243.
  • Leitão Filho, H.F. 1995. A vegetação da reserva de Santa Genebra. In: Morellato, L.P.C. & Leitão Filho, H.F. Ecologia e preservação de uma floresta tropical urbana, Reserva de Santa Genebra. Ed. UNICAMP, Campinas. Pp. 19-29.
  • Lima, H.C.; Lima, M.P.M.; Vaz, A.M.S. & Pessoa, S.V.A. 1997. Trepadeiras da reserva ecológica de Macaé de Cima. In: Guedes-Brunini, R.R. & Lima, H.C. Serra de Macaé de Cima: diversidade florística e conservação em Mata Atlântica. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Pp. 75-87.
  • Lowe, R.G. & Walker, P. 1977. Classification of canopy, stem, crown status and climber infestation in a natural tropical forest in Nigeria. Journal of Applied Ecology 14: 897-903.
  • Mattos, I.F.A.; Rossi, M.; Silva, D.A. & Pfeiffer, R.M. 1996. Levantamento do meio biofísico e avaliação da fragilidade do ecossistema na Estação Ecológica dos Caetetus, SP. Sociedade e Natureza 15: 388-393.
  • Menninger, E.A. 1970. Flowering vines of the world: an encyclopedia of climbing plants. Hearthside Press Incorporated, New York. 410p.
  • Morellato, L.P.C. & Leitão Filho, H.F. 1998. Levantamento florístico da comunidade de trepadeiras de uma floresta semidecídua no sudeste do Brasil. Boletim do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Botânica 103: 1-15.
  • Muoghalu, J.I. & Okeesan, O.O. 2005. Climber species composition, abundance and relationship with trees in a Nigerian secondary forest. African Journal of Ecology 43: 258-266.
  • Muthuramkumar, S. & Parthasarathy, N. 2000. Alpha diversity of lianas in a tropical evergreen forest in the Anamalais, Western Ghats, India. Diversity and Distributions 6: 1-14.
  • Ødegaard, F. 2000. The relative importance of trees versus lianas as hosts for phytophagous beetles (Coleoptera) in tropical forests. Journal of Biogeography 27: 283-296.
  • Oliveira, A.N.; Amaral, I.L.; Ramos, M.B.P. & Formiga, K.M. 2008. Aspectos florísticos e ecológicos de grandes lianas em três ambientes florestais de terra firme na Amazônia Central. Acta Amazonica 38: 421-430.
  • Pérez-Salicrup, D.R.; Claros, A.; Guzman, R.; Licona, J.C.; Ledezma, F.; Pinard, M.A. & Putz, F.E. 2001a. Cost and efficiency of cutting lianas in a lowland Liana Forest of Bolivia. Biotropica 33: 324-329.
  • Pérez-Salicrup, D.R.; Sork, V.L. & Putz, F.E. 2001b. Lianas and trees in a liana forest of Amazonian Bolivia. Biotropica 33: 34-47.
  • Putz, F.E. 1983. Liana biomass and leaf area of terra firme forest in the Rio Negro basin, Venezuela. Biotropica 15: 185-189.
  • Putz, F.E. 1984. The natural history of lianas on Barro Colorado Island, Panama. Ecology 65: 1713-1724.
  • Putz, F.E. & Chai, P. 1987. Ecological studies of lianas in Lambir National Park, Sarawak. Journal of Ecology 75: 523-531.
  • Putz, F.E. & Mooney, H.A. 1991. The biology of vines. Cambridge University Press, Cambridge. 526p.
  • Putz, F.E. & Windsor, D.M. 1987. Liana phenology on Barro Colorado Island, Panama. Biotropica 19: 334-341.
  • Rezende, A.A. & Ranga, N.T. 2005. Lianas da estação ecológica do Noroeste Paulista, São José do Rio Preto/Mirassol, SP, Brasil. Acta Botanica Brasilica 19: 273-279.
  • Rezende, A.A.; Ranga, N.T. & Pereira, R.A.S. 2007. Lianas de uma floresta estacional semidecidual, município de Paulo de Faria, norte do estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 30: 451-461.
  • Richards, P.W. 1952. The tropical rain forest. Cambridge University Press, Cambridge. 450p.
  • Richards, P.W. 1996. The tropical rain forest: an ecological study. Cambridge University Press, Cambridge. 600p.
  • Schnitzer, S.A. & Bongers, F. 2002. The ecology of lianas and their role in forests. Trends in Ecology and Evolution 17: 223-230.
  • Schnitzer, S.A. & Carson, W.P. 2001. Treefall gaps and the maintenance of species diversity in a tropical forest. Ecology 82: 913-919.
  • Silva, A.F. & Leitão Filho, H.F. 1982. Composição florística e estrutura de um trecho de mata atlântica de encosta no município de Ubatuba (São Paulo, Brasil). Revista Brasileira de Botânica 5: 43-52.
  • Steege, H.T.; Sabatier, D.; Castellanos, H.; Andel, T.; Duivenvoorden, J.; Oliveira, A.A.; Ek, R.; Lilwah, R.; Maas, P. & Mori, S. 2000. An analysis of the floristic composition and diversity of Amazonian Forests including those of the Guiana Shield. Journal of Tropical Ecology 16: 801-828.
  • Steentoft, M. 1988. Flowering plants in west Africa. Cambridge University Press, Cambridge. 364p.
  • Summerbell, G. 1991. Regeneration of complex notophyll vine forest (humid subtropical rainforest) in eastern Australia - a review. Cunninghamia: ecological contributions from the National Herbarium of New South Wales 2: 391-410.
  • Tabarelli, M. & Mantovani, W. 1999. A riqueza de espécies arbóreas na floresta atlântica de encosta no Estado de São Paulo (Brasil). Revista Brasileira de Botânica 22: 217-223.
  • Teramura, A.H.; Gold, W.G. & Forseth, I.N. 1991. Physiological ecology of mesic, temperate woody vines. In: Putz, F.E. & Mooney, H.A. The biology of vines. Cambridge University Press, Cambridge. Pp. 245-285.
  • Tibiriçá, Y.J.A.; Coelho, L.F.M. & Moura, L. C. 2006. Florística de lianas em um fragmento de floresta estacional semidecidual, Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro, SP, Brasil. Acta Botanica Brasilica 20: 339-346.
  • Udulutsch, R.G. 2004. Composição florística da comunidade de lianas lenhosas em duas formações florestais do estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Piracicaba. 114p.
  • Udulutsch, R.G.; Assis, M.A. & Picchi, D.G. 2004. Florística de trepadeiras numa floresta estacional semidecídua, Rio Claro - Araras, estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 27: 125-134.
  • Vaz, A.M.S. & Vieira, C.M. 1994. Identificação de famílias com espécies trepadeiras. In: Guedes- Brunini, R.R. & Lima, H.C. Serra de Macaé de Cima: diversidade florística e conservação em Mata Atlântica. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 75-82.
  • Veloso, H.P. 1991. Sistema fitogeográfico. In: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico da vegetação brasileira. IBGE, Rio de Janeiro. Pp. 9-38.
  • Veloso, H.P. & Góes-Filho, L. 1982. Fitogeografia brasileira: classificação fisionômico- ecológica da vegetação neotropical. In: Ministério das Minas e Energia. Boletim Técnico do Projeto RADAMBRASIL, Série Vegetação. IBGE, Salvador. Pp. 1-86.
  • Zhu, H. 2008. Species composition and diversity of lianas in tropical forests of southern Yunnan (Xishuangbanna), south-western China. Journal of Tropical Forest Science 20: 111-122.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2010

Histórico

  • Recebido
    14 Dez 2009
  • Aceito
    04 Jul 2010
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br