Acessibilidade / Reportar erro

Existe utilização efetiva dos recursos vegetais conhecidos em comunidades caiçaras da Ilha do Cardoso, estado de São Paulo, Brasil?

Is there effective resources utilization among Cardoso Island population ("caiçaras"), São Paulo State, Brazil?

Resumo

O presente trabalho buscou verificar se os recursos vegetais da Ilha do Cardoso são efetivamente usados pelos seus caiçaras, além de avaliar se a origem biogeográfica e a finalidade de uso das plantas, bem como se fatores sócioeconômicos influem no conhecimento local. O estudo consistiu na realização de 51 entrevistas semi-estruturadas, com residentes do local há pelo menos cinco anos e maiores de 18 anos. Os resultados permitiram-nos concluir que os entrevistados retêm amplo e diverso conhecimento sobre plantas e que grande parte do que conhecem é por eles utilizado (82%). As plantas mais conhecidas são em sua maioria nativas, apesar de verificarmos maior proporção de uso entre as exóticas (95%). O conhecimento e uso variaram conforme a categoria de uso dos recursos e se mostraram, de modo geral, equivalentes em relação à idade e gênero dos informantes. Em relação à atividade exercida, constatou-se que as donas de casa usam um maior número de plantas exóticas medicinais, que os pescadores conhecem e usam mais plantas nativas manufatureiras e que monitores ambientais e os que exercem atividades relacionadas ao turismo demonstraram conhecimento semelhante, predominando o de plantas medicinais, apesar de menos usadas, em comparação com os de outras atividades profissionais.

Palavras-chave:
etnobotânica; conhecimento local; Mata Atlântica; uso de recursos

Abstract

This study aims to investigate if plant resources are effective used by caiçaras' communities of the Cardoso Island. We also want to verify if the biogeografic origin of plants, their uses and socioeconomic factors influence the locals' knowledge. We carried out 51 semi-structured interviews with people who have been living there for at least 5 years, who were older than 18. We concluded that the interviewees' knowledge is still diverse and that most of the plants known are used by them (82%). Native plants are largely known, while the exotic ones are the most used (95%). Knowledge and use vary according to the use of plants, although they were very similar, considering the interviewees' age and gender. We also realized that housewives use a large quantity of medicinal plants, which are mainly the exotic ones. Fishermen know and use native plants, usually for handicraft purposes. The environmental guides and people, whose job is tourism related, have a similar knowledge, especially about medicinal plants, which are less used when compared with the other professional activities.

Key words:
ethnobotany; local knowledge; Atlantic Forest; resource use

Texto completo disponível em PDF.

Full text available only in PDF format.

Referências

  • Albuquerque, U.P. & Andrade, L.H.C. 2002. Uso de recursos vegetais da caatinga: o caso do agreste do estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil). Interciência 27: 336-346.
  • Albuquerque, U.P. & Lucena, R.F.P. 2005. Can apparency affect the use of plants by local people in tropical forests? Interciência 30: 506-511.
  • Albuquerque, U.P.; Andrade, L.H.C. & Silva, A.C.O. 2005. Use of plant resources in a seasonal dry forest (Northeastern Brazil). Acta Botanica Brasilica 19: 27-38.
  • Albuquerque, U.P. & Oliveira, R.F. 2007. Is the use-impact on native caatinga species in Brazil reduced by the high species richness of medicinal plants? Journal of Ethnopharmacology 113: 156-170.
  • Amorozo, M.C.M. 2002. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botânica Brasilica 16: 189-203.
  • Antweiler, C. 1998. Local knowledge and local knowing: an anthropological analysis of contested products in the context of development. Anthopos 93: 469-494.
  • Ayres, M.; Ayres Jr., M.; Ayres, D.L. & Santos, A.S. 2007. BioEstat. Versão 5.0. Sociedade Civil de Mamirauá, MCT-CNPq, Belém.
  • Barros, F.; Melo, M.M.R.F. & Chiea, S.A.C. 1991. Flora fanerogâmica da Ilha do Cardoso: caracterização geral da vegetação e listagem das espécies ocorrentes. Hucitec, São Paulo. 184p.
  • Begossi, A. 1998. Use of ecological methods in ethnobotany: diversity indices. Economic Botany 50: 280-289.
  • Begossi, A.; Hanazaki, N. & Tamashiro, J.Y. 2002. Medicinal plants in the atlantic forest (Brazil): knowledge, use and conservation. Human Ecology 30: 281-299.
  • Bennett, B. & Prance, G.T. 2000. Introduced plants in the indigenous pharmacopeia of northen South America. Economic Botany 54: 90-102.
  • Camou-Guerrero, A.; Reyes-Garcia, V.; Martínez-Ramos, M. & Casas, A. 2008. Knowledge and use value of plant species in a Rarámuri community: a gender perspective for conservation. Human Ecology 36: 259-272.
  • Casagrande, D.G. 2004. Conceptions of primary forest in a Tzeltal Maya community: implications for conservation. Human Organization 63: 189-202.
  • Figueiredo, G.M; Leitão-Filho, H.F. & Begossi, A. 1993. Ethnobotany of atlantic forest coastal communities: diversity of plant uses in Gamboa (Itacuruça Island, Brazil). Human Ecology 21: 419-430.
  • Fonseca-Kruel, V.S. & Peixoto, A.L. 2004. Etnobotânica na reserva extrativista marinha de Arraial do Cabo, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica 18: 77-190.
  • Galeano, G. 2000. Forest use at the pacific coast of Choco, Colombia: a quantitative approach. Economic Botany 54: 258-376.
  • Gavin, M.C. & Anderson, G.J. 2007. Socioeconomic predictors of forest use values in the Peruvian Amazon: a potential tool for biodiversity conservation. Ecological Economics 60: 752-762.
  • Gazzaneo, L.R.S.; Lucena, R.F.P. & Albuquerque, U.P. 2005. Knowledge and use of medicinal plants by local specialists is a region of atlantic forest in the state of Pernambuco (northeastern Brazil). Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 1: 1-11.
  • Hanazaki, N.; Leitão-Filho, H. F. & Begossi, A. 1996. Uso de recursos na Mata Atlântica: o caso da Ponta do Almada (Ubatuba, Brasil). Interciência 21: 268-276.
  • Hanazaki, N.; Tamashiro, J.Y.; Leitão-Filho, H.F. & Begossi, A. 2000. Diversity of plants uses in two caiçara communities from the atlantic forest coast, Brazil. Biodiversity and Conservation 9: 597-615.
  • Hanazaki, N. 2001. Ecologia de caiçaras: uso de recursos e dieta. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 193p.
  • Hanazaki, N. 2003. Comunidades, conservação e manejo: o papel do conhecimento ecológico local. Biotemas 16: 23-47.
  • Hanazaki, N.; Castro, F.; Oliveira, V.G. & Peroni, N. 2007. Between the sea and the land: the livelihood of estuarine people in southeastern Brazil. Ambiente & Sociedade 10: 1-16.
  • Hunn, E. 1980. The utilitarian factor in folk biological classification. American Anthropologist 84: 830-847.
  • Lorenzi, H. & Matos, A.F.J. 2002. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Instituto Plantarum, Nova Odessa. 512p.
  • Lucena, R.F.P.; Araújo, E.L. & Albuquerque, U.P. 2007. Does the local availability of woody caatinga plants (Northeastern Brazil) explain their use value? Economic Botany 61: 347-361.
  • Miranda, T.M. & Hanazaki, N. 2008. Conhecimento e uso de recursos vegetais de restinga por comunidades das ilhas do Cardoso (SP) e de Santa Catarina (SC), Brasil. Acta Botanica Brasilica 22: 203-215.
  • Nesheim, I; Dhillion, S.S. & Stølen, K.A. 2006. What happens to traditional knowledge and use of natural resources when people migrate? Human Ecology 34: 99-131.
  • Peroni, N. & Hanazaki, N. 2002. Current and lost diversity of cultivated varieties, especially cassava, under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest. Agriculture, Ecosystems and Environment 92: 171-183.
  • Philips, O. & Gentry, A.H. 1993a. The useful plants in Tambopata, Peru: I. Statistical hypotheses tests with a new quantitative techniques. Economic Botany 47: 15-32.
  • Philips, O. & Gentry, A.H. 1993b. The useful plants in Tambopata, Peru: II. Aditional hypothesis testing in quantitative ethnobotany. Economic Botany 47: 33-43.
  • Pilla, M.A.C.; Amorozo, M.C.M. & Furlan, A. 2006. Obtenção e uso das plantas medicinais no distrito de Martim Francisco, município de Mogi-Mirim, SP, Brasil. Acta Botânica Brasílica 20: 789-802.
  • Prance, G.T.; Baleé, W.; Boom, B.M. & Carneiro, R.L. 1987. Quantitative ethnobotany and the case for conservation in Amazonia. Conservation Biology 1: 296-310.
  • Reyes-Garcia, V.; Vadez, V.; Huanca, T.; Leonard, W.R. & McDade, T. 2007. Economic development and local ecological knowledge: a deadlock? Quantitative Research from a native Amazonian society. Human Ecology 35: 371-377.
  • Sampaio, D.; Souza, V.C.; Oliveira, A.A.; Souza-Paula, J. & Rodrigues, R.R. 2005. Árvores de restinga: guia ilustrado para identificação das espécies da Ilha do Cardoso. Ed. Neotrópica, São Paulo. 277p.
  • Shanley, P. & Rosa, N.A. 2004. Eroding knowledge: an ethnobotanical inventory in eastern Amazonia's logging frontier. Economic Botany 58: 135-160.
  • Silva, A.J.R. & Andrade, L.H.C. 2006. Cultural significance of plants in communities located in the coastal forest zone of the state of Pernambuco, Brazil. Human Ecology 34: 447-465.
  • Souza, V.C. & Lorenzi, H. 2005. Botânica sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias das angiospermas da flora brasileira. Instituto Plantarum, Nova Odessa. 638p.
  • Torre-Cuadros, M.A. & Islebe, G.A. 2003. Traditional ecological knowledge and use of vegetation in southeastern Mexico: a case study from Solferino, Quintana Roo. Biodiversity and Conservation 12: 2455-2476.
  • Turban, E; Aronson, J.E.; Liang, T.P. & Sharda, R. 2006. Decision support and business intelligence systems. Prentice Hall, New Jersey. 850p.
  • Vieira, S. 2003. Bioestatística: tópicos avançados. Campus, Rio de Janeiro. 212p.
  • Voeks, R.A. 2007. Are women reservoirs of traditional plant knowledge? Gender, ethnobotany and globalization in northeast Brazil. Singapore Journal of Tropical Geography 28: 7-20.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2011

Histórico

  • Recebido
    07 Mar 2010
  • Aceito
    19 Out 2010
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br