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Ampliação da distribuição geográfica de três espécies de Utricularia (Lentibulariaceae) para o bioma Mata Atlântica

Expansion of the geographical distribution of three species of Utricularia (Lentibulariaceae) to the Mata Atlantica biome

Resumos

O presente estudo ressalta a ocorrência de Utricularia costata P.Taylor, U. lloydii Merl. ex F. Lloyd e U. resupinata B.D.Greene ex Bigelow na Região Nordeste do Brasil, ampliando a sua distribuição para o bioma da Mata Atlântica.

Sergipe; plantas carnívoras; macrófitas aquáticas


The present study emphazises the occurrence of Utricularia costata P.Taylor, U. lloydii Merl. ex F.Lloyd and U. resupinata B.D.Greene ex Bigelow in Northeast region of Brazil, expanding their distribution to the Mata Atlântica biome.

Sergipe; carnivorous plants; aquatic macrophytes


NOTA CIENTÍFICA SHORT COMMUNICATION

Ampliação da distribuição geográfica de três espécies de Utricularia (Lentibulariaceae) para o bioma Mata Atlântica

Expansion of the geographical distribution of three species of Utricularia (Lentibulariaceae) to the Mata Atlantica biome

Tamires CarregosaI,* * Autor para correspondência: tamirescarregosa@gmail.com ; Suzana Maria CostaII

IUniversidade Federal de Sergipe – UFS, Depto. Ciências Biológicas, Av. Marechal Rondon s/n, 49100-000, São Cristóvão, SE, Brasil

IIUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Instituto de Biologia, Depto. Biologia Vegetal, C.P. 6109, 13083-970, Campinas, SP, Brasil

RESUMO

O presente estudo ressalta a ocorrência de Utricularia costata P.Taylor, U. lloydii Merl. ex F. Lloyd e U. resupinata B.D.Greene ex Bigelow na Região Nordeste do Brasil, ampliando a sua distribuição para o bioma da Mata Atlântica.

Palavras-chave: Sergipe, plantas carnívoras, macrófitas aquáticas.

ABSTRACT

The present study emphazises the occurrence of Utricularia costata P.Taylor, U. lloydii Merl. ex F.Lloyd and U. resupinata B.D.Greene ex Bigelow in Northeast region of Brazil, expanding their distribution to the Mata Atlântica biome.

Key words: Sergipe, carnivorous plants, aquatic macrophytes.

Utricularia A.St.-Hil. compreende mais de 220 espécies herbáceas palustres e aquáticas (Müller et al. 2006; Taylor 1989) e apresenta distribuição cosmopolita, com maior riqueza nas regiões tropicais e subtropicais (Taylor 1989). Suas espécies caracterizam-se pela presença de armadilhas utriculiformes adaptadas para a captura e digestão de pequenos organismos (Rutishauser et al. 1992)

Assim como para outros táxons herbáceos, sobremaneira os de hábito palustre ou aquático, há poucos estudos sobre a distribuição de Utricularia na Região Nordeste. Segundo Miranda & Rivadavia (2012), nessa região há registro de 36 das 69 espécies do gênero registradas para o Brasil.

Sergipe, menor estado do Nordeste e do Brasil, possui em seus 21.918,354 km2 áreas pertencentes aos domínios da Mata Atlântica e Caatinga, além de uma área de ecótono entre eles (popularmente conhecida como "Agreste"). Até o trabalho de Mendes et al. 2010 que realizou o inventário florístico do Parque Nacional Serra de Itabaiana (Areia Branca), Sergipe era o único estado onde não havia informações referentes à ocorrência de Utricularia. Neste trabalho foram registradas as seguintes espécies: Utricularia gibba L., U. pusilla Vahl e U. tridentata Sylvén.

Após a revisão do acervo de Lentibulariaceae depositado no Herbário ASE (Universidade Federal de Sergipe) e de coletas botânicas realizadas em 2010 e 2011, foi possível ratificar a ocorrência de várias espécies da família no estado de Sergipe (Carregosa & Monteiro 2013). Entre as espécies listadas para Utricularia, três são novas ocorrências para a Região Nordeste do Brasil: Utricularia costata P.Taylor, U. lloydii Merl ex F.Lloyd e U. resupinata B.D.Greene ex Bigelow.

Utricularia costata P.Taylor (Figs. 1a, 2a) ocorre apenas nos territórios da Venezuela e do Brasil. Neste último, havia registros apenas para os estados de Roraima e Pará (Região Norte), e Mato Grosso e Goiás (Região Centro-Oeste). Em Sergipe, U. costata foi encontrada no PARNA da Serra de Itabaiana, área de ecótono entre Mata Atlântica e Caatinga, em solo úmido entre rochas e em áreas de solo de areia-branca localizadas na base das serras. A espécie pode ser reconhecida por apresentar indivíduos com até 5 cm compr., folhas filiformes com até 0,2 mm larg., utrículos laterais com apêndice dorsal curto e apêndice ventral bífido, inflorescência geralmente com até três flores de corola lilás ou branca e pela presença de nervuras proeminentes nos lobos do cálice.



Utricularia lloydii Merl. ex F. Lloyd (Figs. 1b, 2b) distribui-se nas América Central e do Sul. No Brasil, sua ocorrência é confirmada para os estados do Acre, Amazonas, Pará e Tocantins (Região Norte), e Mato Grosso e Goiás (Região Centro-Oeste). Em Sergipe, foi encontrada na APA do Litoral Sul, no bioma da Mata Atlântica, num ambiente de solo arenoso úmido de restinga. Esta espécie apresenta indivíduos com até 12 cm compr., folhas filiformes com até 0,3 mm larg., utrículos laterais com dois apêndices dorsais curtos e um apêndice ventral proeminente, inflorescência laxa com até quatro flores de corola amarela e ausência de nervuras proeminentes nos lobos do cálice.

Utricularia resupinata B.D.Greene ex Bigelow (Figs. 1c, 2c) ocorre nas Américas e tem como limite norte o Canadá e limite sul a Região Norte do Brasil. No Brasil sua ocorrência era confirmada apenas para o estado do Amazonas (Região Norte). Essa espécie foi encontrada na APA do Litoral Sul de Sergipe, em solo encharcado lamoso, ampliando sua distribuição para áreas mais ao sul da América do Sul. Seus indivíduos podem apresentar até 8 cm compr., folhas filiformes, utrículos laterais com apêndice dorsal provido cerdas curtas e apêndice ventral com cerdas laterais, bráctea do pedúnculo tubular e inflorescência com apenas uma flor de corola rosa com mácula branca e amarela no lábio inferior.

Esses registros ampliam a ocorrência dessas três espécies entre os biomas brasileiros, com sua adição para o bioma da Mata Atlântica. Até então Utricularia costata era registrada para os biomas Amazônico e do Cerrado; U. lloydii para os biomas Amazônico, do Cerrado e do Pantanal, e U. resupinata para o bioma Amazônico.

Artigo recebido em 26/12/2012.

Aceito para publicação em 11/12/2013.

  • Carregosa, T. & Monteiro, S.H.N. 2013. Lentibulariaceae. In: Prata, A.P.; Amaral, M.C.E.; Farias, M.C.V. & Alves, M.V. (orgs.). Flora de Sergipe. Vol. 1. Triunfo, Aracaju. Pp. 306-321.
  • Mendes, K; Gomes, P & Alves, M. 2010. Floristic inventory of a zone of ecological tension in the Atlantic Forest of Northeastern Brazil. Rodriguésia 61: 669-676.
  • Miranda, V.F.O. & Rivadavia, F. 2012. Lentibulariaceae. In: Lista de espécies da flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2010/FB008587>. Acesso em 20 Dez 2012.
  • Müller, K.F.; Borsch, T.; Legendre, L; Porembski, S. & Barthlott, W. 2006. Recent progress in understanding the evolution of carnivorous Lentibulariaceae (Lamiales). Plant Biology 8: 748-757.
  • Rutishauser, R.; Brugger, J. & Butschi, L. 1992. Structural and developmental diversity of Utricularia traps. Carnivorous Plants Newsletter 21: 68-74.
  • Taylor, P. 1989. The genus Utricularia - a taxonomic monograph. Kew Bulletin Additional Series XIV. Royal Botanic Gardens, Kew.
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    Autor para correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Jul 2014
    • Data do Fascículo
      Jun 2014

    Histórico

    • Recebido
      26 Dez 2012
    • Aceito
      11 Dez 2013
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