Acessibilidade / Reportar erro

Flora do Rio de Janeiro: Mayacaceae

Flora of Rio de Janeiro: Mayacaceae

Resumo

O presente estudo tem como objetivo contribuir para o conhecimento das espécies da família Mayacaceae ocorrentes no estado do Rio de Janeiro. O trabalho tem por base a análise morfológica de materiais depositados em herbários e coletas de campo, além da compilação de dados de literatura. Foram registradas duas espécies: Mayaca fluviatilis e M. sellowiana. Chave de identificação, descrições, ilustrações, dados sobre hábitat e distribuição geográfica das espécies são apresentados.

Palavras-chave:
musgo-de-flor; planta aquática; Sudeste do Brasil; taxonomia

Abstract

This study aims to contribute to the knowledge of Mayacaceae family species occurring in the state of Rio de Janeiro. The work is based on the morphological analysis of materials deposited in herbarium collections and field, as well as on a review of the relevant literature. Two species were recorded: Mayaca fluviatilis and M. sellowiana. Identification key, description, habitat data, and geographic distribution are also provided.

Key words:
moss-of-flower; aquatic plant; Brazil's Southeast; taxonomy

Mayacaceae Kunth

Erva aquática emersa ou submersa, perene ou anual. Caule fino, alongado com raízes adventícias. Folhas espiraladas, simples, uninervadas, sésseis. Inflorescências axilares ou terminais, unifloras ou em umbelas. Flores bissexuadas, longo-pedunculadas, bracteoladas, actinomorfas, heteroclamídeas, trímeras, brancas ou róseo-arroxeadas com região proximal branca; androceu isostêmone, estames alternos às pétalas, filetes livres, anteras basifixas, alongadas, deiscência apical por fenda, poro ou tubo; ovário súpero, 3-carpelar, 1-locular, estilete terminal, alongado. Fruto cápsula membranácea.

Família monotípica com quatro espécies de distribuição neotropical e uma espécie na África (Carvalho 2007Carvalho, M.L.S. 2007. Estudos taxonômicos em Mayacaceae Kunth. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. UNESP, Rio Claro. 64p.). No Brasil está representada por todas as espécies neotropicais (Monteiro & Carvalho 2012). No Rio de Janeiro são encontradas Mayaca fluviatilis Aubl. e Mayaca sellowiana Kunth. Formam densos agrupamentos em lagoas e em alagados (Klein 1976Klein, R.M. 1976. Maiacáceas. In: Bresolin, A. (org.). Flórula da Ilha de Santa Catarina, fasc. Maia. Herbário Barbosa Rodrigues, Cidade? Pp. 1-14.; Jaszczerski 1987Jaszczerski, J.C. 1987. Mayacaceae Kunth do estado do Paraná, Brasil. Estudos de Biologia. Publicação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná XVII: 3-14.) temporários e permanentes.

1. Mayaca Aubl.

    Chave de identificação das espécies
  • 1. Deiscência da antera apical por fenda..................................................................1.1. Mayaca fluviatilis

  • 1'. Deiscência da antera apical por tubo.................................................................1.2. Mayaca sellowiana

1.1. Mayaca fluviatilis Aubl., Hist. pl. Guiane 1: 42, t 15. 1775. Fig. 1a-d

Figura 1
a-d. Mayaca fluviatilis - a. hábito emerso; b. hábito submerso; c. flor; d. estame (Y.M. Canalli 22). e-f. Mayaca sellowiana - e. flor; f. estame (Bove et al. 647).
Figure 1
a-d. Mayaca fluviatilis - a. habit emerged; b. habit submerged; c. flower; d. stamen (Y.M. Canalli 22). e-f. Mayaca sellowiana - e. flower; f. stamen (Bove et al . 647).

Coletia madida Vell., Fl. Flumin.: 32. 1829.

Mayaca madida (Vell.) Stellfeld in Tribuna Farm. (Curitiba) 35: 2. 1967Stellfeld, C. 1967. Mayaca madida (Vell.) Stellfeld. New combination. Tribuna Farmaceutica 35: 1-2..

Ervas 4-45 cm alt. Caule 3-40 cm compr. Folhas 5-9 mm compr., lanceoladas, triangular-alongadas a lineares, ápice integro a bífido, margem inteira. Inflorescência uniflora. Flores longo pediceladas 3-17 mm compr., brácteas ovais, côncavas, 0,75-3 × 0,5-2,5 mm; sépalas triangulares ou ovais, 4-6 × 2-4 mm, glabas, ápice agudo, margem inteira; pétalas ovais, 2-4 × 3-5 mm, rosadas ou lilases e brancas na região proximal; estames 1,5 × 3 mm, filetes filiformes, anteras amarelas, oblongas a ovais, ca. 1 mm compr., deiscência apical por fenda; ovário esferoidal a elipsoide, ca. 1 mm compr., estilete ereto ca. 1 mm compr., cilíndrico, estigma 3-lobado. Fruto 3-5 × 3-5 mm.

Material selecionado: Angra dos Reis, 24.XI.1950, fl., A.C. Brade 20538. (R); Barra do Piraí, Ipiabas, 9.IX.1977, fl., P. Laclette 356 (R); Carapebus, Lagoa Paulista, 11.V.1999, fl., C.P. Bove 438 (R); Itatiaia, Fazenda da Serra, VII.1959, fl., H.E. Strang 111 (R); Macaé, Lagoa de Jurubatiba, 5.X.2007, fl., A. Moreira 65 (R); Magé, em pântano, 18.IX.1896, fl., E. Ule 4077 (R); Nilópolis, APA do Gericinó, 2.XI.2012, fl., Y.M. Canalli et al. 22 (R); Petrópolis, lago da Cremeria, 29.II.1934, A.J. de Sampaio 7537 (R); Rio de Janeiro, Fazenda Cachoeira, Moneral, 21.II.1925, fl., M.C. Vaughan (RB 18993); Teresópolis, várzea, 27.X.1929, fl., A.C. Brade 9784 (R).

Distribui-se do sudeste dos Estados Unidos até a Bolívia, Uruguai e Argentina (Wanderley 2002Wanderley, M.G.L. & Giulietti, A.M. 2002. Mayacaceae. In: Harley, R.M. & Giulietti, A.M. Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo. Instituto de Botânica, São Paulo. Vol. 2, pp. 185-186.). No Brasil ocorre em todos os estados e no Rio de Janeiro em N31, O17, O19, O29, P04, P10, R17, S14, T06. Floresce de setembro a dezembro. Conhecida como musgo-de-flor, lodo (Klein 1976Klein, R.M. 1976. Maiacáceas. In: Bresolin, A. (org.). Flórula da Ilha de Santa Catarina, fasc. Maia. Herbário Barbosa Rodrigues, Cidade? Pp. 1-14.; Jaszczerski 1987Jaszczerski, J.C. 1987. Mayacaceae Kunth do estado do Paraná, Brasil. Estudos de Biologia. Publicação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná XVII: 3-14.; Pott & Pott 2000Pott, V.J. & Pott, A. 2000. Plantas aquáticas do Pantanal. Embrapa, Brasília. 404p.).

1.2. Mayaca sellowiana Kunth, Enum. pl. 4: 32. 1843. Fig. 1e-f

Ervas 3-50 cm alt. Caule 2-45 cm compr. Folhas 5-10 mm compr., lanceoladas, triangular-alongadas a lineares, nervura central evidente, ápice íntegro a bífido, margem inteira. Inflorescência uniflora. Flores com pedúnculo longo 2-13 mm compr.; brácteas ovais, côncavas, 0,7-3 × 0,5-2 mm; sépalas triangulares ou ovais, 3-5 × 2-4 mm, glabras, ápice agudo, margem inteira; pétalas ovais, 2-3 × 3-4 mm, rosadas ou lilases e brancas na região proximal; estames 1-3 mm compr.; filetes filiformes, anteras oblongas a ovais, ca. 1 mm compr., deiscência apical por tubo; ovário esferoidal a elipsoide, ca. 1 mm compr., estilete ereto, ca. 1 mm compr., cilíndrico, estigma 3-lobado. Fruto 3-5 × 3-5 mm.

Material examinado: Campos dos Goytacazes, Lagoa Feia, beirada da lagoa, X.1964, fl., G.M. Barroso 641 (RB).

Material adicional: BRASIL. MINAS GERAIS: Parque Nacional da Serra da Canastra, nascente do Rio São Francisco, 8.VI.2012, fl., A. Donza 165 (R); Mato Grosso, Água Boa, 16.XI.1999, fl., C.P. Bove 647 (R).

Distribui-se do sudeste dos Estados Unidos até a Bolívia, Uruguai e Argentina (Wanderley & Giulietti 2002Wanderley, M.G.L. & Giulietti, A.M. 2002. Mayacaceae. In: Harley, R.M. & Giulietti, A.M. Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo. Instituto de Botânica, São Paulo. Vol. 2, pp. 185-186.). No Brasil ocorre em quase todos os estados, sendo raríssima no estado do Rio de Janeiro com o registro de apenas uma coleta (L35).

O binômio Mayaca sellowiana tem sido extensamente utilizado em referência a este táxon, entretanto o mesmo foi sinonimizado por Stellfeld (1967)Stellfeld, C. 1967. Mayaca madida (Vell.) Stellfeld. New combination. Tribuna Farmaceutica 35: 1-2..

Lista de exsicatas

  • Barroso, G.M. 641(1.2); Bove, C.P. 348(1.1), 440(1.1), 467(1.1), 1744(1.1), 647(1.2); Brade, A.C. 9784(1.1), 20538(1.1); Canalli, Y.M. 22(1.1); Donza, A. 65(1.1),165(1.2); Laclette, P. 356(1.1); Sampaio, A.J. 7537(1.1); Strang, H.E. 111(1.1); Ule, E. 4077(1.1); Vaughan, M.C. s.n. (RB 18993) (1.1).

Agradecimentos

Aos curadores e equipe dos herbários GUA, HB, R, RB, RFFP. Ao CNPq (Edital PROTAX Processo 562251/2010-3), a bolsa de Produtividade de C.P.B., e a bolsa de Iniciação Científica (CNPq/PIBIC) de Y.M.C. À equipe do LAPLAQ, o apoio durante o desenvolvimento do trabalho.

Referências

  • BFG 2015. Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.
  • Canalli, Y.M.; Moreira, A.D.R. & Bove, C.P. 2013. Flórula do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Rio de Janeiro, Brasil: Mayacaceae. Arquivos do Museu Nacional 69: 119-120.
  • Carvalho, M.L.S. & Machado. A.F.P. 2015. Revisiting Mayacaceae Kunth towards to future perspectives in the Family. Rodriguésia 66: 421-427.
  • Carvalho, M.L.S. 2007. Estudos taxonômicos em Mayacaceae Kunth. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. UNESP, Rio Claro. 64p.
  • Jaszczerski, J.C. 1987. Mayacaceae Kunth do estado do Paraná, Brasil. Estudos de Biologia. Publicação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná XVII: 3-14.
  • Klein, R.M. 1976. Maiacáceas. In: Bresolin, A. (org.). Flórula da Ilha de Santa Catarina, fasc. Maia. Herbário Barbosa Rodrigues, Cidade? Pp. 1-14.
  • Lourteig, A. 1965. Maiacáceas. In: Reitz, P.R. (ed.). Flora Ilustrada Catarinense, part 1, fasc. Maia, Cidade? Pp. 1-9.
  • Pedralli, G. 1981. A família Mayacaceae Kunth no Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia 28: 43-46.
  • Pellegrini, M.O.O. & Carvalho, M.L. 2016. The identity and application of Coletia madida and notes on the typification of Mayacaceae. Taxon 65: 605-609.
  • Pott, V.J. & Pott, A. 2000. Plantas aquáticas do Pantanal. Embrapa, Brasília. 404p.
  • Stellfeld, C. 1967. Mayaca madida (Vell.) Stellfeld. New combination. Tribuna Farmaceutica 35: 1-2.
  • Thieret, J.W. 1975. The Mayacaceae in the Southeastern United States. Journal of the Arnold Arboretum 56: 249-255.
  • Wanderley, M.G.L. 1981. Flora fanerogâmica da Reserva do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (São Paulo, Brasil). 170 Mayacaceae. Hoehnea 9: 124.
  • Wanderley, M.G.L. & Giulietti, A.M. 2002. Mayacaceae. In: Harley, R.M. & Giulietti, A.M. Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo. Instituto de Botânica, São Paulo. Vol. 2, pp. 185-186.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2017

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2015
  • Aceito
    19 Set 2015
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br