Siparunaceae
Siparunaceae (A. DC.) Schodde é uma família segregada de Monimiaceae com 53-75 espécies distribuídas em dois gêneros, Siparuna Aubl. (Neotropical) e Glossocalyx Benth (África ocidental) (Renner & Hausner 2005a; Stevens 2011). Suas espécies são arbustos ou árvores, com folhas simples, estipuladas, opostas ou verticiladas, ocasionalmente em pares anisófilos. As inflorescências são cimosas, agregando flores não vistosas, actinomorfas ou assimétricas, monoclamídeas, com receptáculo floral bem desenvolvido, cercando completamente os estames ou carpelos exceto por um poro central, anteras com deiscência valvar (abertura única), gineceu apocárpico, carpelos imersos no receptáculo, óvulos unitegumentados. Os frutos múltiplos são compostos por unidades drupáceas que se desenvolvem dentro do hipanto (adaptado de Renner & Hausner 2005a; Stevens 2011). No Brasil ocorre em todos os estados, exceto Rio Grande do Sul e Santa Catarina (BFG 2015).
1. Siparuna Aubl.
Siparuna Aubl. é constituído por arbustos sarmentosos, arvoretas ou árvores, monoicas ou dioicas, aromáticas devido às células oleíferas distribuídas por toda a planta, folhas decussadas ou verticiladas, isófilas. Cimeiras mono ou dicasiais; flores unissexuais, pediceladas, actinomorfas, receptáculo floral normalmente subgloboso ou urceolado; estames 1-(5-9)-72, normalmente livres, anteras bitecas; carpelos 3-35, uniovulados, estigmas papilosos. Receptáculo dos frutos carnoso, normalmente globoso, abrindo irregularmente a partir do ápice, com odor pungente (adaptado de Renner & Hausner 2005a). Siparuna compreende 53-74 espécies distribuídas do México ao Paraguai (Renner & Hausner 2005a), 20 das quais ocorrem no Brasil (BFG 2015). Na Serra dos Carajás são registradas cinco espécies do gênero, S. bifida (Poepp. & Endl.) A.DC., S. guianensis Aubl., S. krukovii A.C.Sm., S. poeppigii (Tul.) A.DC. e S. ficoides S.S. Renner & Hausner, sendo que apenas a última ocorre em formações de canga.
1.1. Siparuna ficoides S.S. Renner & Hausner, Novon 15(1): 202-206, f. 1, 2. 2005. Fig. 1a-b
Árvore, monoica, ca. 4 m alt. Ramos jovens cilíndricos, glabros. Folhas opostas, coloração verde após secagem, mais clara na superfície adaxial e escurecida na abaxial; pecíolos 0,5-0,7 cm compr.; lâmina 4-9,5 × 2,9-4,5 cm, oblonga a elíptica, base obtusa (às vezes curtamente decurrente), margem inteira, levemente revoluta, ápice acuminado, adaxialmente glabra, abaxialmente com escassos tricomas estrelados distribuídos esparsamente, nervação broquidódroma, nervuras secundárias 6-9, levemente proeminentes na superfície adaxial e proeminentes na superfície abaxial. Cimeiras 0,4-1,1 cm, ca. 6-flora, pedúnculo ca. 1 cm compr., coberto por tricomas estrelados; brácteas ca. 3 mm compr., oblongas; bractéolas ca. 1 mm compr., subuladas. Botões florais 1,2-1,5 mm compr., ca. 1 mm diâm., elipsoides, densamente cobertos por tricomas estrelados. Flores pistiladas imaturas ca. 2 mm compr., ca. 2,5 mm diâm., subglobosas, cobertas por tricomas estrelados, 4-tépalas; tépalas ca. 0,2 mm compr., largo-triangulares, teto floral cônico; carpelos ca. 5, estiletes formando uma coluna. Flores estaminadas não vistas. Frutos não vistos.
Material examinado: Canaã dos Carajás, Serra da Bocaina, 6°18'45"S, 49°53'23"W, 716 m, 24.VI.2015, fl., R.M. Harley et al. 57286 (MG).
Siparuna ficoides assemelha-se a S. guianenesis Aubl. e S. glycycarpa (Ducke) Renner & Hausner devido às folhas opostas com margem inteira e cimeiras curtas (<1,5 cm compr.). Entretanto, pode ser diferenciada principalmente pela cor da folhas quando secas, verde-claras, verde-amareladas ou verde-acinzentadas (vs. marrom-amareladas ou marrom-acinzentadas em S. guianensis; vs. marrom-escuras em S. glycycarpa); estames 27-30 (vs. 2-6; vs. 10-18); receptáculo dos frutos persistentemente pubescente-aveludado (vs. densamente coberto por tricomas estrelados ou lepidoto-estrelados; vs. glabro); ramos glabros (vs. cobertos por tricomas estrelados; vs. glabrescentes); e folhas com lâminas menores, 9-15 cm compr. (vs. 10-22 cm compr.; vs. 10-20 cm compr.) (adaptado de Renner & Hausner 2005). O espécime de Carajás apresenta folhas um pouco menores do que o padrão da espécie, estava em botão e não apresentava flores masculinas. Apesar disso, a identificação foi possível devido a vários dos caracteres supracitados, especialmente a cor das folhas pós secagem, os ramos glabros e o indumento de outras estruturas.
Espécie Sul-Americana, ocorrendo no Brasil e Venezuela (Renner & Hausner 2005a). No Brasil é registrada no Amazonas (Renner & Hausner 2005a; BFG 2015) e agora pela primeira vez para no estado do Pará. Este registro representa também o terceiro indivíduo conhecido da espécie, sendo o primeiro material examinado diferente dos descritos na obra original (Renner & Hausner 2005b). Na Serra dos Carajás, foi registrada na Serra da Bocaina, em mata baixa sobre canga, em botão no mês de junho.