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Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Frullaniaceae

Flora of the canga of the Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Frullaniaceae

Resumo

Apresenta-se um tratamento taxonômico para Frullaniaceae registrada nas áreas de cangas da Serra dos Carajás, no estado do Pará, com descrições, ilustrações e comentários morfológicos das espécies Frullania ericoides, F. exilis, F. gibbosa e F. intumescens.

Palavras-chave:
Brioflora; FLONA Carajás; hepáticas; taxonomia

Abstract

A taxonomic treatment for Frullaniaceae recorded in the areas of canga in Serra dos Carajás, Pará state, is presented, including descriptions, illustrations and morphologic comments on the species Frullania ericoides, F. exilis, F. gibbosa and F. intumescens

Key words:
Bryoflora; FLONA Carajás; liverworts; taxonomy

Frullaniaceae

Frullaniaceae Verdoorn é representada por três gêneros: KaolakiaHeinrichs et al. e Protofrullania Heinrichs, que são fósseis (Heinrichs et al. 2011Heinrichs J, Reiner-Drehwald ME, Feldberg K, Grimaldi DA, Nascimbene PC, von Konrat M & Schmidt AR (2011) Kaolakia borealis nov . genetsp (Porellales, Jungermanniopsida): a leafy liverwort from the Cretaceous of Alaska. Review of Palaeobotany and Palynology 165: 235-240., Heinrichs et al. 2017Heinrichs J, Feldberg K, Bechteler J, Müller P, Renner MAM, Váňa J, Schäfer-Verwimp A & Schmidt AR (2017) A fossil genus of the Frullaniaceae (Porellales,Jungermanniopsida) from the mid-Cretaceous of Myanmar. Cretaceous Research 74: 223-226.), e Frullania Raddi, com 573 espécies descritas distribuídas no globo (Söderström et al. 2016Söderström L, Hagborg A, von Konrat M, Bartholomew-Began S, Bell D, Briscoe L, Brown E, Cargill DC, Costa DP, Crandall-Stotler BJ, Cooper ED, Dauphin G, Engel JJ, Feldberg K, Glenny D, Gradstein SR, He X-L, Heinrichs J, Hentschel J, Ilkiu-Borges AL, Katagiri T, Konstantinova NA, Larraín J, Long DG, Nebel M, Pócs M, Puche F, Reiner-Drehwald E, Renner MAM, Sass-Gyarmati A, Schäfer-Verwimp A, Moragues JGS, Stotler RE, Sukkharak P, Thiers BM, Uribe J, Váňa J, Villarreal JC, Wigginton M, Zhang L & Zhu R-L (2016) World Checklist of hornworts and liverworts. Phytokeys 59: 1-828.). No Brasil, está representada por 39 espécies (Costa & Peralta 2015Costa DP & Peralta DF (2015) Bryophytes diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1063-1071.). A família é identificada pelas plantas de coloração enegrecida, avermelhada ou verde, com ramos prostrados, pinados, bipinados ou tripinados, filídios íncubos, conduplicados (divididos em um lobo dorsal e lóbulo ventral menor), lóbulos geralmente sacados (raro laminados), estilete presente entre o lóbulo e o caulídio, e perianto com 0-14 quilhas (Gradstein et al. 2001Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.; Gradstein & Costa 2003Gradstein SR & Costa DP (2003) The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden 87: 1-318.; Gradstein & Ilkiu-Borges 2009Gradstein SR & Ilkiu-Borges AL (2009) Guide to the Plants of Central French Guiana. Part 4. Liverworts and Hornworts. Memoirs of The New York Botanical Garden 76: 1-140.; Gradstein & Uribe-M 2011Gradstein SR & Uribe-M J (2011) A synopsis of the Frullaniaceae (Marchantiophyta) from Colombia. Caldasia 33: 367-396.; Silva et al. 2016Silva SE, Silva DN, Almeida T, Garcia CA, Paulo OS, Sim-Sim M (2016) Age estimates of Frullania (Frullaniaceae, Porellales) main lineages: another example of rapid and recent diversification in liverwort evolution, Systematics and Biodiversity. 15: 156-165.). Nas cangas da Serra dos Carajás foram identificadas quatro espécies de Frullania.

1. Frullania Raddi

Os membros deste gênero ocorrem geralmente sobre casca de árvores e rochas, ocasionalmente em ramos finos de árvores vivas e sobre folhas, em ambientes abertos, florestas não decíduas ou decíduas, cerrado, plantações, pastagens, savanas e barrancos à margem de estradas (Gradstein et al. 2001Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.).

    Chave de identificação das espécies de Frullania das áreas de canga da Serra dos Carajás
  • 1. Filídios esquarrosos quando úmidos. Lóbulos orbicular-galeados ..................................................... 2

  • 1’. Filídios nunca esquarrosos quando úmidos. Lóbulos cilíndricos, curto-cilíndricos a obovalado-cilíndricos ........................................................................................................................................... 3

    • 2. Filídios frágeis. Anfigastro 1/3 bífido, 260‒420 × 250‒400 µm, contíguos a sub-imbricados, base arredondada a arredondado-truncada. Estilete filiforme. Perianto com três quilhas, margens ciliadas a curto-laciniadas, superfície com protuberâncias, cílio ou lacínias espalhadas (raras nos espécimes de Carajás) ............................................................................................... 1.1. Frullania ericoides

    • 2’. Filídios firmes. Anfigastro 1/9‒1/5 bífido, 425‒525 × 400‒750 µm, densamente imbricados, base auriculada, gibosa. Estilete foliado-arredondado. Perianto com quatro quilhas, margens inteiras, superfície lisa ............................................................................................ 1.3. Frullania gibbosa

      • 3. Lóbulos contíguos ao caulídio ................................................... 1.4. Frullania intumescens

      • 3’. Lóbulos distantes do caulídio (distância ≥ largura do lóbulo) .............. 1.2. Frullania exilis

1.1. Frullania ericoides (Nees) Mont., Ann. Sci. Nat., Bot., sér. 2, 12(1): 51, 1839.

Jungermannia ericoides Nees, Fl. bras. 1(1): 346, 1833.Fig. 1a-i

Figura 1
Frullania ericoides - a. rostro do perianto; b. esquema de hábitos (esfera cheia= androécio, esfera vazada=ginoécio com perianto, U= ginoécio); c. hábito com perianto; d. células medianas; e-f. lóbulos com estilete; g. filídio em vista dorsal; h. filídio; i. hábito. Barras: a, f = 100 µm; c = 500 µm; d= 25 µm; e= 50 µm; g, h= 200 µm; i = 250 µm.
Figure 1
Frullania ericoides - a. perianth beak; b. habit scheme (dot= androecia, open dot= gynoecia with perianth, U= gynoecia); c. habit with perianth; d. median cells; e-f. lobules with stile; g. leaf in dorsal view; h. leaf; i. habit. Bars: a, f = 100 µm; c = 500 µm; d= 25 µm; e= 50 µm; g, h= 200 µm; i = 250 µm.

Plantas dióicas, verdes a marrom-avermelhadas, 1‒1,25 mm de largura, prostradas, fracamente aderida ao substrato, 1‒3 pinados. Filídios frágeis, suborbiculares, 670‒750 × 470‒570 µm, plano, convolutos quando secos e esquarrosos quando úmidos, base dorsal auriculada (ultrapassando o caulídio), ápice arredondado, margem inteira. Células medianas isodiamétricas, 20‒28 µm, trigônios inflados, 2‒4 espessamentos intercelulares. Lóbulos contíguos ao caulídio, orbicular-galeados, 270‒400 × 250‒350 µm, estreitamente aderidos ao lobo (porção laminada ausente), tão longos quanto largos, lóbulos laminares pouco frequentes. Estilete filiforme, 3‒6 células comprimento, 1 de largura. Anfigastros 1/3 bífidos, 2‒4 × largura do caulídio, obovalados a suborbicular, 260‒420 × 250‒400 µm, contíguos a sub-imbricados, base arredondada a arredondado-truncada (nunca auriculada), margens inteiras ou com 1 dente nas laterais, planas. Brácteas e bractéolas do ginoécio com margens inteiras. Periantos obovalados, 1200‒1600 × 800‒900 µm, 3 quilhas, margens ciliadas a curto-laciniadas, superfície com poucas protuberâncias, cílios ou lacínias espalhadas, rostro curto, 40‒100 µm comprimento.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, Serra Sul, Serra do Tarzan, 6º19’49”S, 50º07’53,8”W, 747 m, 1.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3678 (MG).

Frullania ericoides é diagnosticada pelos filídios esquarrosos quando úmidos, lóbulos orbicular-galeados e perianto com 3 quilhas com margens ciliadas a curto-laciniadas com poucas protuberâncias, cílios ou lacínias espalhadas entre as quilhas. A superfície do perianto de F. ericoides é geralmente coberta por tubérculos ou apêndices folhosos, como escamas (Gradstein & Ilkiu-Borges 2009Gradstein SR & Ilkiu-Borges AL (2009) Guide to the Plants of Central French Guiana. Part 4. Liverworts and Hornworts. Memoirs of The New York Botanical Garden 76: 1-140.; Schuster 1992Schuster RM (1992) Hepaticae and Anthocerotae of North America east of the hundredth meridian. Vol. 5. Field Museum of Natural History, Chicago. Pp. 1-854.; Vanden Berghen 1976Vanden Berghen C (1976) Frullaniaceae (Hépaticae) Africanae. Bulletin du Jardin Botanique National de Belgique 46: 1-220.; Wigginton 2004Wigginton MJ (ed.) (2004) E.W. Jones’s Liverwort and hornwort flora of West Africa. Meise, National Botanic Gerden of Belgium. 443p.). Todavia, nos espécimes da Canga de Carajás, a superfície do perianto raramente apresenta essas estruturas espalhadas, sendo geralmente lisa entre as quilhas.

É uma espécie xerófita, corticícola ou rupícola que ocorre em florestas abertas, restingas, manguezais, plantações e parques, de 200 a 1300 m de altitude (Gradstein & Costa 2003Gradstein SR & Costa DP (2003) The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden 87: 1-318.; Gradstein & Ilkiu-Borges 2009Heinrichs J, Feldberg K, Bechteler J, Müller P, Renner MAM, Váňa J, Schäfer-Verwimp A & Schmidt AR (2017) A fossil genus of the Frullaniaceae (Porellales,Jungermanniopsida) from the mid-Cretaceous of Myanmar. Cretaceous Research 74: 223-226.). Nas Serra dos Carajás, essa espécie foi coletada sobre galho de árvore viva em mata baixa sobre canga.

Pantropical. No Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, PA, PA, PE, RJ, RS, SC. SE e SP. Serra dos Carajás: Serra Sul: Serra do Tarzan.

1.2. Frullania exilis Taylor, London Jour. of Bot. 405. 1846.Figs. 2a-i; 3a-g

Figura 2
Frullania exilis - a. hábito com perianto; b. rostro do perianto; c-d. células medianas; e. ápice de filídio; f. hábito com perianto; g. hábito; h. esquema de hábitos (esfera cheia= androécio, esfera vazada= ginoécio com perianto, U= ginoécio). Barras: a= 500 µm; b = 100 µm; c, d= 25 µm; e= 50 µm; e= 25 µm; f= 200 µm; g= 250 µm.
Figure 2
Frullania exilis - a. habit with perianth; b. perianth beak; c-d. median cells; e. leaf apex; f. habit with perianth; g. habit; h. habit scheme (dot= androecia, open dot= gynoecia with perianth, U= gynoecia). Bars: a= 500 µm; b = 100 µm; c, d= 25 µm; e= 50 µm; e= 25 µm; f= 200 µm; g= 250 µm.
Figura 3
Frullania exilis - a-b. filídio em vista ventral; c-d. filídio em vista dorsal; e. ápice de filídio; f-g. lóbulo com estilete. Barras: a, c= 250 µm; b, d = 100 µm; e, f, g= 50 µm.
Figure 3
Frullania exilis - a-b. leaf in ventral view; c-d. leaf in dorsal view; e. leaf apex; f-g. lobule with style. Bars: a, c= 250 µm; b, d = 100 µm; e, f, g= 50 µm.

Plantas autóicas, marrom-avermelhadas, 0,6‒1,2 mm de largura, prostradas, com ramos ascendentes, 1‒2(‒3) pinados. Hemi-filídio bífido (primeiro apêndice do ramo). Filídios firmes, ovalados, 500‒650 × 400‒580 µm, côncavo, base dorsal reta a arredondada (nunca auriculada), ápice arredondado a apiculado, margem inteira. Células medianas isodiamétricas, 15‒45 µm, trigônios radiados a inflados, às vezes confluentes, 0‒1 espessamento intercelular, grupo de células basais similares a ocelos presente. Lóbulos distantes do caulídio (distância ≥ largura do lóbulo), paralelos a subparalelos ao caulídio, cilíndricos, 165‒250 × 75‒100 µm, 2‒2,5× mais longos que largos, com uma incisão no lado adaxial alcançando 1/3‒1/2 do lóbulo, geralmente com uma célula de cor mais avermelhada e intensa (similar a um ocelo) no final da incisão, sempre com uma célula grande e de cor avermelhada mais intensa (similar a um ocelo) na junção do lóbulo com estilete, lóbulos laminares frequentes. Estilete lanceolado a filiforme (2-4 células enfileiradas) com base de 2-5 células. Anfigastros 1/3‒1/2 bífidos, 1,5‒3× largura do caulídio, ovalados a suborbiculares, 230‒310 × 140‒250 µm, distantes a sub-imbricados, base cuneada a arredondada, margens inteiras, planas. Brácteas e bractéolas do ginoécio com margens inteiras a fortemente serreadas. Perianto obovado, 1000‒1900 × 600‒850 µm, 3 quilhas, margens inteiras, superfície lisa, rostro curto, 90‒100 µm comprimento.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, Serra Sul, S11C, 6º22’57,9”S, 50º50º23’07”W, 29.IV.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3472 (MG); Serra do Tarzan, 6º19’45”S, 50º00’27,4”W, 758 m, 1.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3652 (MG). Parauapebas, Serra Norte, N2, 6º03’19,4”S, 50º15’17,7”W, 685 m, 31.VIII.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3609 (MG); N5, 6º02’36,4”S, 50º05’25,1”W, 604 m, 2.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3696 (MG); N6, 6º6’42,0”S, 50º11’01,9”W, 711 m, 24.II.2016, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3756 (MG).

A espécie se caracteriza pelos lóbulos distantes do caulídio, com uma incisão no lado adaxial alcançando até a metade inferior do lóbulo, e filídios com ápice variando de arredondado a apiculado. Além disso, as células basais dos filídios de F. exilis podem se assemelhar a ocelos por serem pouco maiores e de cor mais intensa que as medianas, porém ocelos estão ausentes. Uma célula de cor mais intensa, como um ocelo, também está presente tanto no ápice da abertura (incisão) do lóbulo, como na junção do lóbulo com o estilete. Essas células são bem visíveis em microscópio ótico, principalmente em amostras recentes. Em F. exilis, as margens das brácteas e bractéolas femininas que podem variar de inteiras a serreadas, assim como o estilete varia (em uma planta) de lanceolado a filiforme partindo de uma base mais larga.

Essa espécie tem sido reportada no Brasil como Frullania apiculata (Reinw., Blume & Nees) Nees, mas de acordo com Gradstein (2013)Gradstein SR (2013) Afro-American hepatics revisited. Polish Botanical Journal 58: 149-177., F. apiculata é uma espécie paleotrópica e todos os registros neotropicais dessa espécie (e.g., Gradstein & Costa 2003Gradstein SR & Costa DP (2003) The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden 87: 1-318.; Gradstein & Ilkiu-Borges 2009Heinrichs J, Feldberg K, Bechteler J, Müller P, Renner MAM, Váňa J, Schäfer-Verwimp A & Schmidt AR (2017) A fossil genus of the Frullaniaceae (Porellales,Jungermanniopsida) from the mid-Cretaceous of Myanmar. Cretaceous Research 74: 223-226.; Gradstein & Uribe 2011Gradstein SR & Uribe-M J (2011) A synopsis of the Frullaniaceae (Marchantiophyta) from Colombia. Caldasia 33: 367-396.) pertencem a F. exilis.

Frullania exilis é encontrada geralmente como corticícola em florestas tropicais, cerrado, restinga e outros ambientes abertos, de 200 a 3000 m de altitude (Gradstein & Costa 2003Gradstein SR & Costa DP (2003) The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden 87: 1-318.; Gradstein & Ilkiu-Borges 2009Gradstein SR & Ilkiu-Borges AL (2009) Guide to the Plants of Central French Guiana. Part 4. Liverworts and Hornworts. Memoirs of The New York Botanical Garden 76: 1-140.). Na Serra dos Carajás, a espécie foi coletada sobre troncos e galhos de árvores em canga aberta, mata baixa sobre canga e na margem de córrego temporário.

Neotropical. No Brasil: AM, PA, BA, PE, DF, GO, MS, RJ, SP e SC. Serra dos Carajás: Serra Norte: N2, N5 e N6; Serra Sul: S11C e Serra do Tarzan.

1.3. Frullania gibbosa Nees, Syn. Hepat. 3: 411, 1845.Fig. 4a-i

Figura 4
Frullania gibbosa - a. filídio em vista dorsal; b. ginoécio com perianto; c. rostro do perianto; d. anfigastro; e. filídio; f. hábito; g. lóbulo com estilete; h. esquema de hábitos (esfera cheia= androécio, esfera vazada= ginoécio com perianto, U= ginoécio); i. células medianas. Barras: a, b, d, e, g = 250 µm; c = 100 µm; f= 500 m; i= 50 µm.
Figure 4
Frullania gibbosa - a. leaf in dorsal view; b. gynoecia with perianth; c. perianth beak; d. underleaf; e. leaf; f. habit; g. lobule with style; h. habit scheme (dot= androecia, open dot= gynoecia with perianth, U= gynoecia); i. median cells. Bars: a, b, d, e, g = 250 µm; c = 100 µm; f= 500 m; i= 50 µm.

Plantas autóicas, marrom-amareladas a verde-avermelhadas, 1‒1,2 mm de largura, prostradas, fracamente aderida ao substrato, com ramos ascendentes, 1‒2 pinados. Filídios firmes, ovalado-orbiculares, 950‒1075 × 775‒1000 µm, ±côncavo, plano, convolutos quando secos e esquarrosos quando úmidos, base dorsal auriculada (ultrapassando o caulídio), ápice arredondado, margem inteira. Células medianas isodiamétricas, 15‒25 µm, paredes regularmente espessadas, trigônios pequenos a inconspícuos, paredes regularmente espessadas (sem espessamentos intercelulares). Lóbulos contíguos ao caulídio, orbicular-galeados, 400‒550 × 300‒400 µm, amplamente aderidos ao lobo (formando uma porção laminada), tão longos quanto largos, lóbulos laminares raros. Estilete foliado-arredondado. Anfigastros 1/9‒1/5 bífidos, 3‒4× largura do caulídio, suborbicular, 425‒525 × 400‒750 µm, densamente imbricados, base auriculada, gibosa, margens inteiras, revoluta na parte superior. Brácteas e bractéolas do ginoécio com margens inteiras. Periantos oblongo, 1400‒1500 × 800‒1000 µm, 4 quilhas, margens inteiras, superfície lisa, rostro curto, até 100 µm comprimento.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, Serra Sul, S11C, 6º22’57,9”S, 50º23’07”W, 29.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3477 (MG); Serra do Tarzan, 6º19’43,7”S, 50º08’20,3”W, 31.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3585 (MG). Parauapebas, Serra Norte, N1, 6º00’30,8”S, 50º17’55,1”W, 679 m, 31.VIII.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3628 (MG); N7, 6º9’27,2”S, 50º10’15,2”W, 695 m, 24.II.2016, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3784 (MG).

Frullania gibbosa assemelha-se a F. ericoides por serem espécies xerófitas, convolutas quando secas, esquarrosas quando úmidas e com lóbulos orbicular-galeados. Entretanto, F. gibbosa possui estilete folhoso-arredondado, filídios firmes, com lóbulos com porção laminar, anfigastros curto-bífidos (1/9‒1/5 bífidos) e perianto com quatro quilhas inteiras, enquanto que F. ericoides possui estilete filiforme, filídios frágeis, com lóbulo sem porção laminar, anfigastros 1/3 bífido e perianto com três quilhas ciliadas a curto-laciniadas.

Essa espécie é uma especialista de sol, geralmente corticícola ou rupícola, que ocorre na copa de florestas ou outros ambientes abertos, como restinga, parques e jardins (Gradstein & Costa 2003Gradstein SR & Costa DP (2003) The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden 87: 1-318.; Gradstein & Ilkiu-Borges 2009Gradstein SR & Ilkiu-Borges AL (2009) Guide to the Plants of Central French Guiana. Part 4. Liverworts and Hornworts. Memoirs of The New York Botanical Garden 76: 1-140.). Nas cangas da Serra dos Carajás, F. gibbosa foi coletada sobre árvores vivas em mata baixa sobre canga, canga aberta ou às margens de córrego temporário e da lagoa de macrófitas.

América Tropical. No Brasil: AC, AM, BA, DF, GO, MG, MS, MT, PA, PE, RJ, RR, SC e SP. Serra dos Carajás: Serra Norte: N1 e N7; Serra Sul: S11C e Serra do Tarzan.

1.4. Frullania intumescens (Lehm. & Lindenb.) Lehm. & Lindenb., Syn. Hepat. 3: 449, 1845.

Jungermannia intumescens Lehm. & Lindenb., Nov. Stirp. Pug. 6: 52. 1834.Fig. 5a-i

Figura 5
Frullania intumescens - a. hábito; b. esquema de hábitos (esfera vazada= ginoécio com perianto); c. lóbulo com estilete; d. filídio em vista dorsal; e. rostro do perianto; f. ápice de filídios; g. filídios; h. ginoécio com perianto; i. células medianas. Barras: a, g = 250 µm; c, h = 50 µm; d, e, f= 100 m; h= 500 µm; i= 25 µm.
Figure 5
Frullania intumescens - a. habit; b. habit scheme (open dot= gynoecia with perianth); c. lobule with style; d. leaf in dorsal view; e. perianth beak; f. leaf apex; g. leaves; h. gynoecia with perianth; i. median cells. Bars: a, g = 250 µm; c, h = 50 µm; d, e, f= 100 m; h= 500 µm; i= 25 µm.

Plantas dióicas, marrons a marrom-esverdeadas, 1‒1,2 mm de largura, prostradas, 1‒3 pinadas. Hemi-filídio inteiro (primeiro apêndice do ramo). Filídios firmes, ovalados, 580‒700 × 490‒570 µm, fortemente côncavos, base dorsal auriculada (ultrapassando o caulídio), ápice obtuso a apiculado-mucronado, margem inteira. Células medianas isodiamétricas, 20‒25 µm, trigônios radiados a inflados, geralmente confluentes, com paredes irregularmente espessadas, grupo de células basais similares a ocelos ausente. Lóbulos contíguos ao caulídio, subparalelos ao caulídio, curto-cilíndricos, 130‒200 × 80‒120 µm, ±2× mais longos que largos, sem incisão no lado adaxial (margens da abertura do lóbulo geralmente se estendendo abaixo da linha de inserção), lóbulos laminares frequentes. Estilete filiforme, 3‒4 células comprimento, 1 de largura. Anfigastros 1/4 bífidos, 2‒4× largura do caulídio, longo-ovalados, 300‒400 × 190‒360 µm, sub-imbricados a imbricados, base arredondada a auriculada, margens fortemente revolutas. Brácteas e bractéolas do ginoécio com margens inteiras. Perianto obovado, 1300‒1700 × 650‒1050 µm, 3 quilhas, margens inteiras, superfície lisa, rostro longo, 100‒250 µm comprimento.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, Serra Sul, S11B, 6º21’19,1”S, 50º23’27,4”W, 29.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3519 (MG); S11C, 6º22’57,9”S, 50º23’07”W, 29.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3476 (MG); Serra do Tarzan, 6º19’43,7”S, 50º08’20,3”W, 31.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3586 (MG). Parauapebas, Serra Norte, N1, 6º01’32,3”S, 50º17’32,5”W, 719 m, 28.IV.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3437 (MG); N2, 6º03’20,1”S, 50º15’14,9”W, 685 m, 28.IV.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3429 (MG); N4, 6º04’18”S, 50º11’39,2”W, 617 m, 03.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3710 (MG); N5, 6º02’36,4”S, 50º05’25,1”W, 604 m, 2.IX.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3696 (MG); N6, 6º6’42,0”S, 50º11’01,9”W, 711 m, 24.II.2016, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3750 (MG); N7, 6º9’27,2”S, 50º10’15,2”W, 695 m, 24.II.2016, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3769 (MG) ; N8, 6º10’00,6”S, 50º09’34,1”W, 716 m, 24.II.2016, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3802 (MG).

As características marcantes desta espécie são os lóbulos curto-cilíndricos, contíguos e paralelos ao caulídio, sem abertura incisa, anfigastros bífidos com margem revoluta e base arredondada a auriculada, hemi-filídio inteiro, filídios côncavos com ápice geralmente apiculado e incurvado e base dorsal auriculada, ultrapassando o caulídio, e o longo rostro do perianto. Nas cangas de Carajás, as brácteas e bractéolas femininas dessa espécie apresentaram margens inteiras, mas essas podem variar de inteiras, sinuosas a denteadas em F. intumescens (Clark & Svihla 1952Clark L & Svihla RD (1952) Frullania intumescens. The Bryologist 55: 186-189.).

Frullania intumescens às vezes produz um apêndice foliar no estilete (Gradstein & Uribe 2011Gradstein SR & Uribe-M J (2011) A synopsis of the Frullaniaceae (Marchantiophyta) from Colombia. Caldasia 33: 367-396.), porém esse apêndice não foi encontrado nos espécimes das cangas de Carajás. O mesmo fenótipo já foi reportado por Gradstein & Uribe (2011)Gradstein SR & Uribe-M J (2011) A synopsis of the Frullaniaceae (Marchantiophyta) from Colombia. Caldasia 33: 367-396. para a Colombia e por Schäfer-Verwimp et al. (2013)Schäfer-Verwimp A, Lehnert M & Nebel M (2013) Contributions to the knowledge of the bryophyte flora of Ecuador. Phytotaxa 128: 1-63. para o Equador.

É uma espécie corticícola ou rupícola que ocorre entre 500 e 1000 m de altitude (Gradstein & Costa 2003Gradstein SR & Costa DP (2003) The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden 87: 1-318.). Nas Serra dos Carajás, F. intumescens ocorreu sobre tronco de árvores vivas e troncos em decomposição em mata baixa sobre canga, canga aberta, campos brejosos, a margens de lagos e de córrego temporário. Este é o primeiro registro para o estado do Pará e região Norte.

América Tropical. No Brasil: MG e RJ. Serra dos Carajás: Serra Norte: N1, N2, N4, N5, N6, N7 e N8; Serra Sul: S11B, S11C e Serra do Tarzan.

  • Lista de exsicatas

    Ilkiu-Borges AL et al. 3678 (1.1), 3472 (1.2, 1.4), 3473 (1.2), 3609 (1.2), 3610 (1.2), 3652 (1.2), 3696 (1.2), 3697 (1.2), 3736 (1.2), 3737 (1.2), 3742 (1.2), 3745 (1.2), 3746 (1.2), 3756 (1.2), 3477 (1.3), 3480 (1.3), 3585 (1.3), 3628 (1.3), 3635 (1.3), 3637 (1.3), 3784 (1.3), 3790 (1.3), 3796 (1.3), 3586 (1.4), 3430 (1.4), 3434 (1.4), 3437 (1.4), 3451 (1.4), 3477 (1.4), 3480 (1.4), 3483 (1.4), 3488 (1.4), 3494 (1.4), 3498 (1.4), 3626 (1.4), 3633 (1.4), 3711 (1.4), 3775 (1.4), 3783 (1.4), 3790 (1.4), 3433 (1.4), 3436 (1.4), 3441 (1.4), 3449 (1.4), 3450 (1.4), 3484 (1.4), 3504 (1.4), 3511 (1.4), 3519 (1.4), 3600 (1.4), 3604 (1.4), 3611 (1.4), 3623 (1.4), 3624 (1.4), 3634 (1.4), 3652 (1.4), 3664 (1.4), 3696 (1.4), 3702 (1.4), 3706 (1.4), 3718 (1.4), 3794 (1.4), 3795 (1.4), 3796 (1.4), 3797 (1.4), 3798 (1.4), 3800 (1.4), 3802 (1.4).
  • Editor de área: Dr. Alexandre Salino

Agradecimentos

Agradecemos ao Museu Paraense Emílio Goeldi e Instituto Tecnológico Vale, a infraestrutura e demais apoios fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho, assim como à Dra. Ana Maria Giulietti Harley e ao Dr. Pedro Viana, coordenadores do projeto conveniado MPEG/ITV/FADESP (01205.000250/2014-10) e ao projeto aprovado pelo CNPq (processo 455505/2014-4), o financiamento; ao ICMBio, em especial ao biólogo Frederico Drumond Martins, a licença de coleta concedida e suporte nos trabalhos de campo; ao Prof. Dr. S. Robbert Gradstein (Herbier de Paris, MNHN), os comentários no manuscrito e auxílio no reconhecimento das espécies; ao CNPq e Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas - Botânica Tropical (UFRA/MPEG), a bolsa de Mestrado concedida a primeira autora e ao segundo autor e a bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida à terceira autora.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2018

Histórico

  • Recebido
    01 Nov 2017
  • Aceito
    09 Fev 2018
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