Acessibilidade / Reportar erro

Flora do Ceará, Brasil: Aristolochiaceae s.s.

Flora of Ceará state, Brazil: Aristolochiaceae s.s

Resumo

Apresentamos o levantamento florístico dos representantes de Aristolochiacaeae Juss. s.s. no estado do Ceará, como parte do projeto “Flora do Ceará: conhecer para conservar”. Esse estudo foi baseado na análise comparativa dos caracteres morfológicos de espécimes depositados nos herbários ALCB, EAC, ESA, HUEFS, P, RB e SP, bibliografias especializadas e imagens de materiais-tipo. Para o Ceará foram registradas seis espécies de Aristolochia: A. birostris, A. disticha, A. elegans, A. holostylis, A. labiata e A. papillaris. As espécies no estado ocorrem preferencialmente em vegetação de savana (cerrado) e savana estépica (caatinga), com alguns registros em floresta ombrófila densa, estacional decidual e estacional semidecidual das terras baixas. Aristolochia disticha é nova ocorrência para o Ceará. Duas espécies foram registradas em Unidades de Conservação no estado.

Palavras-chave:
Aristolochia; conservação; diversidade; Nordeste do Brasil

Abstract

We present here a floristic survey of representatives of Aristolochiaceae Juss. s.s. occurring in Ceará State, Brazil, as part of the Project “Flora of Ceará: knowing for conserving”. The study was based on the comparative analyses of the morphological characters of specimens deposited in the ALCB, EAC, ESA, HUEFS, P, RB and SP herbaria, the specialized bibliography, and photo-type material. Six species of Aristolochia were recorded for Ceará: A. birostris, A. disticha, A. elegans, A. holostylis, A. labiata and A. papillaris. The species occur preferentially in savanna (cerrado) and savanna steppe (caatinga) vegetation, but some were reported in ombrophilous dense, seasonal deciduous and semi-deciduous lowland forests. Aristolochia disticha is a new occurrence for Ceará State. Two species were recorded in Conservation Areas in the state.

Key words:
Aristolochia; conservation; diversity; Northeastern Brazil

Introdução

Aristolochiaceae Juss. está posicionada em Piperales e compreende quatro gêneros e 550 espécies com distribuição cosmopolita, ocorrendo em climas temperados dos hemisférios norte e sul e na região tropical, onde se concentra sua maior diversidade (Stevens et al. 2009Stevens PF, Bremer B, Bremer K, Chase MW, Fay MF, Reveal JL, Soltis DE & Soltis PS (2009) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society 161: 105-121.; González 2012González F (2012) Florística y sistemática filogenética innecesariamente disyuntas: el caso de Aristolochia, Euglypha y Holostylis. Revista de la Academia Colombiana de Ciencias Exactas, Físicas y Naturales 36: 193-202.; APG IV 2016APG - Angiosperm Phylogeny Group (2016) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1-20.). A família, sensu lato, subdivide-se em Asaroideae (incluindo Asarum e Saruma), Lactoris, Hydnoroideae e Aristolochioideae composta por Aristolochia e Thottea (Hoehne 1927Hoehne FC (1927) Monografia ilustrada das Aristolochiaceas brasileiras. Memórias do Instituto Osvaldo Cruz 20: 67-175., 1942Hoehne FC (1942) Aristolochiaceas. In: Hoehne FC (ed.) Flora Brasilica. Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio de São Paulo, São Paulo. Pp. 1-141.; González 1990González F (1990) Flora de Colombia. Aristolochiaceae. Monografia nº 12. Universidad Nacional de Colombia, Bogotá. 184p., 1999González F (1999) Inflorescence Morphology and the Systematics of Aristolochiaceae. Systematics and Geography of Plants 68: 159-172.; Huber 1993Huber H (1993) Aristolochiaceae. In: Kubitzki K, Rohwer JG and Bittrich V (ed.) The families and genera of vascular plants. Springer-Verlag, Berlin, Heidelberg. Pp. 129-137.; APG IV 2016APG - Angiosperm Phylogeny Group (2016) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1-20.).

No território brasileiro, Aristolochiaceae sensu stricto é representada apenas pelo gênero Aristolochia L. com 93 espécies (38 endêmicas), na região Nordeste ocorrem 30 espécies, nos tipos vegetacionais Caatinga, Cerrado, Floresta Ombrófila Densa e Floresta Estacional Semidecidual (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.). A Floresta Atlântica é o centro de riqueza do gênero no país, onde foram registradas 49 espécies (Werneck 2009Werneck MS (2009) Aristolochiaceae. In: Stehmann JR, Forzza RC, Sobral M, Costa DP & Kamino LHY. (ed.) Plantas da Floresta Atlântica. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Pp. 149-150.; BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.).

Aristolochia s.l. é considerado um táxon monofilético com base em dados morfológicos e moleculares (González 1997González F (1997) Hacia una filogenia deAristolochiay sus congéneres neotropicales. Caldasia 19: 93-108. , 1999González F (1999) Inflorescence Morphology and the Systematics of Aristolochiaceae. Systematics and Geography of Plants 68: 159-172.; Murataet al. 2001Murata J, Ohi-Toma T, Wu S, Darnaedi D, Sugawara T. Nakanishi T & Murata H. 2001. Molecular phylogeny ofAristolochia(Aristolochiaceae) inferred frommatKsequences. Acta Phytotaxanomica et. Geobotanica 52: 75-83.; González & Stevenson 2002González F & Stevenson DW (2002) A phylogenetic analysis of the subfamily Aristolochioideae (Aristolochiaceae). Revista de la Academia Colombiana Ciências Exactas 26: 25-60.; Kelly & González 2003Kelly LM & González F (2003) Phylogenetic relationships in Aristolochiaceae. Systematic Botany 28: 236-249.;Ohi-Tomaet al. 2006Ohi-Toma T, Sugawara T, Murata H, Wanke S, Neinhuis C & Murata J (2006) Molecular phylogeny ofAristolochiasensu lato (Aristolochiaceae) based on sequences ofrbcL, matK, andphyAgenes, with special reference to differentiation of chromosome numbers. Systematic Botany 31: 481-492.;Wanke et al. 2006Wanke S, González F & Neinhuis C (2006) Systematics of pipevines: combining morphological and fast-evolving molecular characters to investigate the relationships within subfamily Aristolochioideae (Aristolochiaceae). International Journal Plant and Soil Science 167: 1215-1227.).

Os indivíduos da família são geralmente representados por trepadeiras, lenhosas ou não, de folhas alternas cordiformes e pseudoestípuladas (Huber 1993Huber H (1993) Aristolochiaceae. In: Kubitzki K, Rohwer JG and Bittrich V (ed.) The families and genera of vascular plants. Springer-Verlag, Berlin, Heidelberg. Pp. 129-137.; González 2004González F (2004) Aristolochiaceae. In: Smith N, Mori SA, Henderson A, Stevenson DW & Heald SV (eds.). Flowering plants of the Neotropics. Princeton University Press. Pp. 31-33. ; Araújo 2013Araújo AAM (2013) Aristolochiaceae Juss. Na Floresta Atlântica do Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco. 102p.). As flores apresentam perianto subdividido em utrículo, tubo e limbo, contribuindo com a síndrome de polinização sapromiofílica apresentada pelo grupo. Esse verticilo diferencia-se em gamossépalo em Aristolochia, por apresentar forma tubular, dialissépalo em Asarum L. e Saruma Oliv., e, parcialmente concrescido em Thottea Rottb. Os frutos são capsulares com deiscência septícida que expõem suas sementes geralmente laminares e aladas, facilitando a dispersão anemocórica (Araújo 2013Araújo A & Alves M (2013) Aristolochia setulosa (Aristolochiaceae), a new species from northeastern Brazil. Vol. 65. Brittonia Pp. 301-304.).

Dentre as espécies com potencial econômico destaca-se Aristolochia birostris Duch. por apresentar atividades fitoquímicas (França et al. 2005França VC, Vieira KVM, Lima EO, Barbosa-Filho JM & Cunha VL & Silva MS (2005) Estudo fitoquímico das partes aéreas de Aristolochia birostris Ducht. (Aristolochiaceae). Revista Brasileira de Farmacognosia 15: 326-330.). As demais espécies do gênero são comumente utilizadas em virtude de suas propriedades antimicrobianas e medicinais (Duarte 2006Duarte MCT (2006) Atividade Antimicrobiana de Plantas Medicinais e Aromáticas Utilizadas no Brasil. Construindo a História dos Produtos Naturais: MultiCiência. MultiCiência, Campinas. 12p.; Souza & Felfili 2006Souza CD & Felfili JM (2006) Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, Brasil. Acta Botanica Brasilica 20: 135-142.; Souza & Lorenzi 2012Souza VC & Lorenzi H (2012) Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das plantas nativas e exóticas do Brasil, baseado em APG III. 3ª ed. Instituto Plantarum, Nova Odessa. 768p.). Aristolochia gigantea Mart & Zucc, conhecida como papo-de-peru-gigante, além de A. elegans Mast., A. paulistana Hoehne, A. arcuata Mast., A. gerhtii Hoehne e A. melastoma Manso são utilizadas como ornamentais, principalmente pelo aspecto curioso de suas flores (Capellari Jr. 2005Capellari Jr. L (2005) Potencial Ornamental das Aristoloquiáceas. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental 11: 82-88.; Souza & Lorenzi 2012Souza VC & Lorenzi H (2012) Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das plantas nativas e exóticas do Brasil, baseado em APG III. 3ª ed. Instituto Plantarum, Nova Odessa. 768p.).

No Brasil, a diversidade taxonômica de Aristolochiaceae foi tratada na Flora brasiliensis (Masters 1875Masters MT (1875) Aristolochiaceae. In: Martius CFP, Eichler AG & Urban I (ed.) Flora Brasiliensis. Lipsiae, Frid. Fleischer. Vol. 4, pars. 2, pp. 77-114.) e na Flora Brasílica (Hoehne 1927Hoehne FC (1927) Monografia ilustrada das Aristolochiaceas brasileiras. Memórias do Instituto Osvaldo Cruz 20: 67-175., 1942Hoehne FC (1942) Aristolochiaceas. In: Hoehne FC (ed.) Flora Brasilica. Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio de São Paulo, São Paulo. Pp. 1-141.). Os representantes da família foram listados e/ou descritos nas floras dos estados do Paraná (Nascimento et al. 2010Nascimento DS, Cervi AC & Guimarães OA (2010) A família Aristolochiaceae Juss. no estado do Paraná, Brasil. Acta Botanica Brasilica 24: 414-422.), São Paulo (Barros & Capellari Jr. 2002Barros F & Capellari Jr. L (2002) Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Aristolochiaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 22: 15-18. ), Santa Catarina (Ahumada 1975Ahumada LZ (1975) Aristolochiaceae. In: Reitz R (ed.). Flora Ilustrada Catarinense. Herbário Barbosa Rodrigues. Pp. 1-55.), Goiás, Tocantins (Capellari Jr. 2001Capellari Jr. L. 2001. Aristolochiaceae. In: Rizzo JA (ed.) Flora dos Estados de Goiás e Tocantins. Vol. 27. Universidade Federal de Goiás, Goiânia. Pp. 1-34.), Bahia (Abreu & Giulietti 2016Abreu IS & Giullietti AM (2016) Flora da Bahia: Aristolochiaceae. Sitientibus série. Ciências Biológicas 16.) e Pernambuco, Flora da Usina São José (Melo et al. 2013Melo A, Araújo AAM & Alves Marccus (2013)Flora da Usina São José, Igarassu, Pernambuco: Aristolochiaceae e Piperaceae. Rodriguesia 64: 543-553. ). Também tratado para a flora do Distrito Federal (Cavalcanti & Ramos 2001Cavalcanti TB & Ramos AE (2001) Flora Do Distrito Federal. Vol. 1. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília. 359p. ). Além disso, alguns estudos resultaram na publicação de novas espécies (Araújo & Alves 2013Araújo AAM (2013) Aristolochiaceae Juss. Na Floresta Atlântica do Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco. 102p.; Freitas et al. 2013Freitas J, Lírio EJ & Gonzáles F (2013) A new califlorous spicies of Aristolochia. From Espirito Santo. Phytotaxa 124: 55-59.; González 2014González F (2014) A new species of Aristolochia (Aristolochiaceae) from Bahia, Brazil. Vol. 10. Missouri Botanical Garden Press, Saint Louis. Pp. 371-374.; Abreu & Giulietti 2016Abreu IS & Giullietti AM (2016) Flora da Bahia: Aristolochiaceae. Sitientibus série. Ciências Biológicas 16.; Freitas et al. 2016Freitas J, Lírio EJ, González F & Alves-Araújo (2016)Aristolochia zebrina sp. nov. (Aristolochiaceae) from southeastern Brazil. Nordic Journal of Botany 34: 54-59.). Destaca-se que no Nordeste brasileiro, os representantes de Aristolochiaceae foram estudados apenas no estado da Bahia e Pernambuco.

O presente estudo, inserido no projeto “Flora do Ceará: conhecer para conservar” tem como objetivo o levantamento florístico das espécies de Aristolochiaceae s.s., com o intuito de contribuir para um maior conhecimento e atualização da distribuição geográfica dos representantes dessa família.

Material e Métodos

O estudo foi realizado com base na análise comparativa de espécimes depositados nos herbários ALCB, EAC, ESA, HUEFS, P, RB e SP, cujas siglas estão de acordo com Thiers (2018)Thiers B [continuously updated] Index Herbariorum: a global directory of public herbaria and associated staff. New York Botanical Garden’s Virtual Herbarium. Disponível em <http://sweetgum.nybg.org/science/ih/>. Acesso em 26 agosto 2017.
http://sweetgum.nybg.org/science/ih/...
. As identificações foram realizadas com o auxílio de bibliografias especializadas (Araújo 2013Araújo AAM (2013) Aristolochiaceae Juss. Na Floresta Atlântica do Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco. 102p.; Abreu & Giulietti 2016Abreu IS & Giullietti AM (2016) Flora da Bahia: Aristolochiaceae. Sitientibus série. Ciências Biológicas 16.) e confirmadas através da análise de imagens de coleções-tipo disponíveis nos sítios dos herbários K e P. Os nomes dos autores seguiram IPNI (2017)IPNI (2017) The International Plant Names Index. Disponível em <http://www.ipni.org>. Acesso em 27 agosto 2017.
http://www.ipni.org...
.

A descrição das estruturas vegetativas e reprodutivas seguiu a terminologia proposta por Radford et al. (1974)Radford AE, Dickson WC, Massey JR & Bell CR (1974)Vascular plant systematics. Harper & Row, New York. 891p.. As informações sobre o hábito, hábitat, período de floração e frutificação foram obtidos das etiquetas das exsicatas. Os nomes populares foram retirados do sítio do projeto Flora do Brasil 2020 (<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/>). Material adicionado de outros estados foi utilizado, apenas quando as amostras coletadas no Ceará mostraram-se insuficientes para a descrição de flores e/ou frutos.

As ilustrações foram realizadas manualmente a olho nu ou com o auxílio de um estereomicroscópio ZEISS, em diversas escalas de aumento (partes reprodutivas), utilizando-se a técnica de nanquim sobre papel vegetal.

Para a distribuição das espécies adotou-se o sistema de quadrículas, com grade de meio grau (Fig. 1, Menezes et al. 2013Menezes MOT, Taylor NP & Loiola MIB (2013). Flora do Ceara, Brasil: Cactaceae. Rodriguesia 64: 757-774.). A classificação da vegetação foi realizada através de comparação dos nomes locais e seus correspondentes no Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE 2012IBGE (2012) Manual técnico da vegetação brasileira. 2ªed. Disponível em <ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturais/manuais_tecnicos/manual_tecnico_vegetacao_brasileira.pdf >. Acesso em 15 setembro 2017.
ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recu...
).

Figura 1
Divisão política do estado do Ceará com grade de coordenadas de meio grau (A1-K6). Fonte: Menezes et al. (2013).
Figure 1
Political division of the state of Ceará with a half degree grid (A1 - K6). Credits: Menezes et al. (2013).

Resultados e Discussão

No estado do Ceará foram registradas seis espécies de Aristolochia: A. birostris Duch., A. disticha Mast., A. elegans Mast., A. holostylis F. González, A. labiata Willid. e A. papillaris Mast. Dentre as espécies registradas, A. birostris e A. papillaris são endêmicas do Brasil (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.), enquanto, A. disticha constitui nova ocorrência para o Ceará. Cabe destacar que Aristolochia cordigera Willd. ex Klotzsch, conforme Aristolochiaceae in BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527., possui registro confirmado no estado. No entanto, após consulta aos sítios do Herbário Virtual REFLORA (2020, continuamente atualizado) e speciesLink (CRIA 2018), além de análise dos espécimes nos acervos de referência no estado não foi encontrada nenhuma coleta desta espécie. Assim, optou-se por não considerá-la na chave de identificação e não apresentar descrição.

No estado do Ceará, os representantes de Aristolochia ocorrem preferencialmente em ambientes mais secos e solos rasos, como em savana estépica (caatinga arbustiva aberta, caatinga arbórea e carrasco), savana (cerrado). Embora, também tenham sido registrados em ambientes úmidos, como em floresta ombrófila densa (mata úmida), floresta estacional decidual (mata seca) e floresta estacional semidecidual das terras baixas (mata de tabuleiro).

Cabe destacar que apenas Aristolochia birostris e A. labiata foram verificadas em apenas três Unidades de Conservação do estado (Área de Preservação Ambiental da Serra de Baturité, Estação Ecológica de Aiuaba, Estação Ecológica da UECE).

Tratamento taxonômico

Aristolochiaceae Juss., Gen. Pl. 72. 1789.

Lianas ou ervas, volúveis, prostradas; ramos glabros a pubescentes. Pseudoestípulas foliáceas, ausentes ou presentes. Folhas simples, alternas, pecioladas. Lâmina foliar oblonga‒oval, oval a largo‒oval, oblonga, sagitada, deltóide ou reniforme, ápice agudo, acuminado, obtuso, raro arredondado ou cuspidado, base cordada, lobada ou reniforme, margem revoluta ou plana, cartáceas ou membranáceas, 5 ou 7 nervuras primárias; venação actinódroma. Flores solitárias ou cimeiras do tipo ripídio, axilares. Pedicelo unido ao ovário ínfero. Flores bissexuais, epíginas, zigomorfas, unilabiadas ou bilabiadas, divididas em lábios inferiores e superiores, ou ainda campanuladas; perianto unisseriado, gamossépalo, subdividido em utrículo, tubo e limbo; utrículo elíptico ou obovado; limbo obovado, oblongo, oval a amplo-oval, ápice agudo, retuso, obtuso, emarginado, truncado ou mucronulado, papiloso, papilhoso-híspido ou papilas ausentes, fímbrias ausentes; gineceu e androceu fundidos em ginostêmio, pedunculado. Fruto seco, deiscente do tipo cápsula septícida, cilíndrica a raro elíptica, rostrum inconspícuo. Semente deltóide, oval ou cordiforme, côncava-convexa ou plana, verrucosa na face adaxial em toda a superfície, ou apenas na região central, ou ainda glabra.

    Chave de identificação das espécies de Aristolochia ocorrentes no Ceará
  • 1. Pseudoestípula ausente.

    • 2. Ervas; flores com tubo ausente, limbo campanulado com ápice agudo 4. Aristolochia holostylis

    • 2’. Lianas; flores com tubo presente, limbo unilabiado com ápice truncado ou mucronulado, emarginado ou obtuso.

      • 3. Lâmina foliar com face abaxial estrigosa; flores com projeções horizontais e laterais presentes 1. Aristolochia birostris

      • 3’. Lâmina foliar com face abaxial puberulenta ou pubescente; flores com projeções horizontais e laterais ausentes.

        • 4. Lâmina foliar oval a largo-oval, face abaxial puberulenta; limbo do lábio com ápice emarginado, papiloso-híspido, não verrucoso 2. Aristolochia disticha

        • 4’. Lâmina foliar deltóide, face abaxial pubescente; limbo do lábio com ápice obtuso, papiloso e verrucoso 6. Aristolochia papillaris

  • 1’. Pseudoestípula presente.

    • 5. Flores unilabiadas; limbo do lábio oval-cordado 3. Aristolochia elegans

    • 5’. Flores bilabiadas; limbo do lábio inferior lanceolado e superior oblongo 5. Aristolochia labiata

1. Aristolochia birostris Duch., Ann. Sci. Nat., Bot. sér. 4, 2: 60. 1854. Figs. 1; 2a-c

Figura 2
Aristolochiaceae do Ceará. a-c. A. birostris - a. folha; b. flor; c. fruto. d-f. A. disticha - d. folha; e. flor; f. fruto. g-j. A. elegans - g. folha; h. pseudoestípula; i. flor; j. fruto. k-m. A. holostylis - k. folha; l. flor; m. fruto. n-p. A. labiata - n. folha e pseudoestípula; o. flor; p. fruto. q-s. A. papillaris - q. folha; r. flor; s. fruto. (a-c. Castro, A.S.F. 2584; Fernandes, A. EAC 20432; d-f. Loiola, M.I.B. et al. 2589; Kuhlmann, J.G. 1934; g-j. Dias da Rocha 115; Salino, A. & Stehmann, J.R. 3322; k-m. Sales EAC 51675; Martins, P. & Nunes, E. EAC 5822; n-p. Fernandes, A. EAC 23422; Guedes, M.L. & Gomes, F.S. 14723; q-s. Martins, P. EAC 9555; Deslandes, J. 113; Leal, C.G. & Silva, O. A. 153).
Figure 2
Aristolochiaceae of Ceará. a-c. A. birostris - a. leaf; b. flower; c. fruit. d-f. A. disticha - d. leaf; e. flower; f. fruit. g-j. A. elegans - g. leaf; h. pseudostipule; i. flower; j. fruit. k-m. A. holostylis - k. leaf; l. flower; m. fruit. n-p. A. labiata - n. leaf and pseudostipule; o. flower; p. fruit. q-s. A. papillaris - q. leaf; r. flower; s. fruit. (a-c. Castro, A.S.F. 2584; Fernandes, A. EAC 20432; d-f. Loiola, M.I.B. et al. 2589; Kuhlmann, J.G. 1934; g-j. Dias da Rocha 115; Salino, A. & Stehmann, J.R. 3322; k-m. Sales EAC 51675; Martins, P. & Nunes, E. EAC 5822; n-p. Fernandes, A. EAC 23422; Guedes, M.L. & Gomes, F.S. 14723; q-s. Martins, P. EAC 9555; Deslandes, J. 113; Leal, C.G. & Silva, O. A. 153).

Liana, volúvel; ramos glabros. Pseudoestípula ausente. Pecíolo 1‒4 cm compr., glabro a esparso-pubescente. Lâmina foliar 3,2­‒13,2 × 1,8‒7,3 cm, oblonga-oval, oval ou oblonga, ápice agudo, acuminado a raro arredondado, base profundamente cordada a cordada, sinuosidade 0,3‒1,7 cm compr., lóbulos 0,4‒2,6 cm larg., superfície adaxial glabra a esparso-pubescente, abaxial estrigosa, margem levemente revoluta, cartácea ou membranácea, 5 nervuras primárias. Flor axilar; pedicelo + ovário 2,4‒2,6 cm compr., pubescente a esparso-pubescente; perianto com superfície externa glabra a esparso-pubescente; utrículo 1,1‒1,6 × 0,7‒1,2 cm, elíptico ou obovado; tubo 1,3‒1,8 cm compr.; unilabiado, limbo do lábio 0,8‒1 × 2,3‒3,7 cm, obovado, ápice truncado ou mucronulado, com projeções horizontais e laterais, não verrucoso, papilas ausentes, fímbrias ausentes; ginostêmio 0,4‒0,6 × 0,15‒0,25 cm, pedunculado. Cápsula septícida, 2,2‒4,5 × 1,2‒2 cm, cilíndrica, glabra a esparso-pubescente; rostrum 0,2‒0,4 cm compr., inconspícuo. Semente 0,4‒0,5 × 0,2‒0,4 cm, deltóide, côncava-convexa, glabra, verrucosa na face adaxial em toda a superfície.

Material examinado: Aiuaba, Estação Ecológica de Aiuaba, 4.VI.1997, fr., E.O. Barros et al. 87 (EAC, HUEFS); Baturité, Sítio São Miguel, 10.VII.2008, fl., J.R. Lima et al. 660 (EAC); Caucaia, Sítio Jurema, próximo a Av. Dom Lutosa, 2.V.1983, fl., F. Bruno (EAC 11983); Eusébio, 16.VIII.2002, fr., A.S.F. Castro 1362 (EAC); Itapipoca, 26.IV.2013, fl., R. Melo (EAC 54704); Santa Quitéria, 1,5 km da sede da Fazenda Italaia, leito do rio, 23.IV.2012, fl., J. Paula-Souza et al. 10817 (EAC, ESA); São Gonçalo do Amarante, Varjota, Pecém, 10.XII.2011, fr., A.S.F. Castro 2584 (EAC).

Aristolochia birostris distingue-se das demais espécies por apresentar lâmina foliar com face abaxial estrigosa, flor com projeções horizontais e laterais e limbo do lábio obovado, ápice truncado ou mucronulado. Assemelha-se a A. disticha por serem lianas e possuírem folhas com lâmina oval; no entanto A. birostris tem folhas com base profundamente cordada a cordada (vs. lobada), flores com papilas ausentes (vs. papiloso-híspido) e sementes deltóides, verrucosa na face adaxial em toda a superfície (vs. oval, glabra em toda a superfície). É endêmica do Brasil, com registro em praticamente todo o Nordeste brasileiro, exceto Maranhão (Araújo 2013Araújo AAM (2013) Aristolochiaceae Juss. Na Floresta Atlântica do Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco. 102p.; BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.). No Ceará, A. birostris foi encontrada em ambientes secos, com solos rasos e arenosos, na savana estépica (caatinga e carrasco), savana (cerrado) e floresta estacional semidecidual de terras baixas (mata de tabuleiro) e também em ambientes úmidos, como floresta ombrófila densa (Fig. 1; B4, B5, C4, C5, C6, C7, D3, D4, D5, D6, E3, E4, H2, I2 e I3). A espécie foi registrada na Estação Ecológica de Aiuaba e na Área de Preservação Ambiental (APA) da Serra de Baturité. Coletada com flores e frutos de abril a dezembro. Conhecida popularmente no Brasil por angelicó ou jarrinha.

2. Aristolochia disticha Mast., Fl. bras. 4: 110. 1875. Figs. 1; 2d-f

Liana, volúvel; ramos glabros. Pseudoestípula ausente. Pecíolo 1,8‒1,9 cm compr., glabro a esparso-pubescente. Lâmina foliar 5‒10,5 × 4,2‒5,3 cm, oval a largo-oval, ápice agudo, base lobada, sinuosidade 1,5‒1,8 cm compr., lóbulos 1,9‒2,5 cm larg., superfície adaxial glabra, abaxial puberulenta, margem levemente revoluta, cartácea, 5 nervuras primárias. Ripídio axilar; pedicelo + ovário ca. 1,9 cm compr., pubescente; perianto com superfície externa glabra; utrículo ca. 1,5 × 0,5 cm, obovado; tubo ca. 1,2 cm compr.; unilabiado, limbo do lábio ca. 0,8 × 1,2 cm, oval, ápice emarginado, projeções horizontais e laterais ausentes, não verrucoso, papiloso-híspido, fímbrias ausentes; ginostêmio ca. 0,3 × 0,25 cm, pedunculado. Cápsula septícida, ca. 2,7 × 1,4 cm, elíptica, glabra; rostrum ca. 0,2 cm compr., inconspícuo. Semente ca. 0,4 × 0,3 cm, oval, côncava-convexa, glabra, não verrucosa.

Material examinado: Aracati, Aroeiras, 1.V.2015, fl., M.I.B. Loiola et al. 2589 (EAC).

Material adicional: BRASIL. PARÁ: Santarém, Tapajoz, 7.04.1924, fr., J.G. Kuhlmann 1934 (RB, SP).

Aristolochia disticha é reconhecida pela lâmina foliar oval a largo-oval, com face abaxial puberulenta, ripídio axilar, limbo do lábio com ápice emarginado, papiloso-híspido, não verrucoso, cápsula elíptica e sementes ovais. Por apresentar semelhanças vegetativas com A. birostris, muitas vezes essas espécies são confundidas e as características que as separam estão apresentadas nos comentários dessa última. No Brasil, A. disticha apresenta distribuição disjunta, ocorrendo na Amazônia, nos estados do Amazonas e Pará (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.), e no Semiárido, nos estados da Bahia e Rio Grande do Norte (González et al. 2014González F, Freitas J & Lírio EJ (2014) On the typification, identity, and synonomy of Aristolochia disticha Mast. (Aristolochiaceae). Brittonia 66: 337-339.) e Paraíba (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.). No Ceará, a espécie tem registro em apenas um município na floresta estacional semidecidual de terras baixas (Fig. 1; E8 e E9). É aqui reportada pela primeira vez para o território cearense. Coletada com flores em maio. No Brasil é conhecida popularmente como cipó-de-cobra ou jarrinha.

3. Aristolochia elegans Mast., Gard. Chron. II. 301. 1885. Figs. 1; 2g-j

Liana, volúvel; ramos glabros. Pseudoestípula ca. 2,7 × 2,3 cm, orbicular, ápice obtuso, base auriculada. Pecíolo 3‒3,5 cm compr., glabro. Lâmina foliar 4­‒5 × 5,5‒6,5 cm, sagitada, ápice agudo, base cordada, sinuosidade 1,2‒1,4 cm compr., lóbulos 2,2‒2,4 cm larg., superfície adaxial e abaxial glabras, margem levemente revoluta, membranácea, 5 nervuras primárias. Flor axilar; pedicelo + ovário 3,6‒10,4 cm compr., glabro; perianto com superfície externa glabra; utrículo ca. 3,2 × 1,5 cm, oblongo; tubo ca. 1,8 cm compr.; unilabiado, limbo do lábio ca. 6,4 × 5 cm, oval-cordado, ápice obtuso a retuso, projeções horizontais e laterais ausentes, não verrucoso, papilas ausentes, fímbrias ausentes; ginostêmio 0,5‒1 × 0,3‒0,7 cm, pedunculado. Cápsula septícida, 4,1‒4,4 × 1,9‒2,2 cm, cilíndrica, glabra; rostrum 0,5‒0,8 cm compr., inconspícuo. Semente ca. 0,4 × 0,3 cm, obovada, plana, glabra, verrucosa na face adaxial na região central.

Material examinado: BRASIL. CEARÁ: S. loc., 2.X.1924, fl., Dias da Rocha 115 (SP).

Material adicional examinado: BRASIL. MINAS GERAIS: Januária, Vale do Rio Peruaçu, 21.VII.1997, fl., A. Salino & J.R. Stehmann 3322 (ESA); RIO DE JANEIRO: Rio de Janeiro, 11.II.1882, fr., A. Glaziou 14230 (P).

Aristolochia elegans caracteriza-se pela lâmina foliar sagitada, utrículo oblongo, flor unilabiada, limbo do lábio oval-cordado e sementes obovadas. Compartilha com A. labiata a presença de pseudoestípula orbicular com ápice obtuso e base auriculada, diferindo dessa espécie principalmente por possuir lâmina da folha sagitada (vs. reniforme ou largo-oval) e flor unilabiada (vs. bilabiada). Distribui-se em toda a região neotropical (Pfeifer 1966Pfeifer HW (1966) Revision of the North and Central American Hexandrous Species of Aristolochia (Aristolochiaceae). Annals of The Missouri Botanical Garden 53: 115-196.), sendo referida, no Brasil, em todas as regiões do país (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.). No Ceará, tem apenas um registro antigo datado de 1924, o que reforça a necessidade de um maior esforço de coleta das espécies dessa família. Coletada com flores em outubro. Conhecida popularmente no Brasil como cipó-de-cobra, jarrinha, milhomes e papo-de-peru.

4. Aristolochia holostylis F. González, Rev. Acad. Colomb. Ci. Exato. 23 (88): 338. 1999González F (1999) Inflorescence Morphology and the Systematics of Aristolochiaceae. Systematics and Geography of Plants 68: 159-172..

Figs. 1; 2k-m

Erva, prostrada; ramos glabros. Pseudoestípula ausente. Pecíolo 2,2‒2,7 cm compr., glabro. Lâmina foliar 3,8‒10,3 × 6,8‒14,7 cm, reniforme, ápice arredondado a raro cuspidado, base reniforme, sinuosidade 1,2‒1,3 cm compr., lóbulos 2,4‒6,7 cm larg., superfície adaxial glabra, abaxial glabra, margem plana, cartácea, 7 nervuras primárias. Flor axilar; pedicelo + ovário 1,7‒2,4 cm compr., glabro a esparso-pubescente; perianto com superfície externa glabra; utrículo ca. 0,7 × 1 cm, obovado; tubo ausente; campanulado, limbo ca. 2,8 × 3,2 cm, amplo‒oval, ápice agudo, projeções horizontais e laterais ausentes, não verrucoso, papilas ausentes, fímbrias ausentes; ginostêmio ca. 1,1 × 0,3 cm, pedunculado. Cápsula septícida 2‒3,6 × 1,3‒1,6 cm, cilíndrica, glabra; rostrum ca. 0,1 cm compr., inconspícuo. Semente 0,5‒0,6 × 0,4 cm, cordiforme, côncava-convexa, glabra, não verrucosa.

Material examinado: Fortaleza, Horto de Plantas Medicinais-UFC, Campus do Pici, 23.II.2012, fl., Sales (EAC 51675).

Material adicional examinado: BRASIL. MARANHÃO: Vargem Grande, Passagem Franca, 19.IV.1979, fr., P. Martins & E. Nunes (EAC 5822).

Aristolochia holostylis é uma espécie bem delimitada e diferencia-se das demais espécies registradas no Ceará por ser uma erva prostrada com base da lâmina foliar reniforme, margem plana, flor com tubo ausente, limbo campanulado e com ápice agudo. No Brasil, foi registrada nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.). No território cearense, A. holostylis foi referida em apenas um município, crescendo em ambientes mais secos, como floresta estacional semidecidual de terras baixas (Fig. 1; C6 e C7). Coletada com flores entre fevereiro a junho. No Brasil, é conhecida popularmente como flor-de-sapo.

5. Aristolochia labiata Willd., Mem. Soc. Nat. Mosc. ii. 101. t. 6. 1809.

Figs. 1; 2n-p

Liana, volúvel; ramos glabros. Pseudoestípula 2,1­‒3,6 × 2‒3,6 cm, orbicular, ápice obtuso a arredondado, base auriculada. Pecíolo 3,2‒14 cm compr., glabro. Lâmina foliar 3,6‒9,5 × 3,3‒15,1 cm, reniforme ou largo-oval, ápice agudo, obtuso a raro arredondado, base lobada, sinuosidade 0,8‒2,7 cm compr., lóbulos 1,9‒7,9 cm larg., superfície adaxial glabra, abaxial glabra, margem levemente revoluta, cartácea ou membranácea, 7 nervuras primárias. Flor axilar; pedicelo + ovário 14‒17,3 cm compr., glabro; perianto com superfície externa glabra; utrículo 2,2‒6,1 × 1,3‒4,2 cm, obovado; tubo 0,8‒2 cm compr.; bilabiado, limbo do lábio inferior 4,2‒12,4 × 1,8‒3,4 cm, lanceolado, ápice agudo, projeções horizontais e laterais ausentes, não verrucoso, papilas ausentes, fímbrias ausentes, limbo do lábio superior 2,7‒14,9 × 4,6‒10,2 cm, oblongo, ápice retuso, projeções ausentes, não verrucoso, papilas ausentes, fímbrias ausentes; ginostêmio ca. 1,1 × 0,6 cm, pedunculado. Cápsula septícida ca. 9,8 × 3,3 cm, cilíndrica, glabra; rostrum ca. 0,5 cm compr., inconspícuo. Semente ca. 1,2 × 0,8 cm, deltóide, plana, glabra, verrucosa na face adaxial na região central.

Material examinado: Guaramiranga, Serra de Baturité, 15.VII.1989, fl., A. Fernandes (EAC 23422); Pacoti, Estação Ecológica da UECE, 17.VI.2004, fl., A. Fernandes (EAC 34190); Maranguape, Serra de Maranguape, 16.V.2005, fl., F.J.S. Monteiro 28 (EAC); Uruburetama, 2.VIII.1995, L.W. Lima-Verde (EAC 22989).

Material adicional examinado: BRASIL. BAHIA: Piemonte da Diamantina, Jacobina, 20.IV.2009, fr., M.L. Guedes & F.S. Gomes 14723 (ALCB, EAC).

Aristolochia labiata é caracterizada por ser a única espécie que possui flores bilabiadas, com limbo do lábio inferior lanceolado e superior oblongo, além de apresentar sementes deltoides e planas. A espécie ocorre na América do Sul (Pfeifer 1966Pfeifer HW (1966) Revision of the North and Central American Hexandrous Species of Aristolochia (Aristolochiaceae). Annals of The Missouri Botanical Garden 53: 115-196.). No território brasileiro, A. labiata foi registrada em todas as regiões do país (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.). No Ceará, a espécie ocorre preferencialmente em ambientes úmidos como na floresta ombrófila densa, mas também foi registrada em ambientes mais secos como na floresta estacional decidual (Fig. 1; C4, C5, C6, D5 e D6). A espécie foi registrada na Área de Preservação Ambiental (APA) da Serra de Baturité e Estação Ecológica da UECE. Coletada com flores de maio a agosto. Conhecida popularmente no Brasil como angelicó, buta, crista-de-galo, milhomens, papo-de-peru e peru-bosta.

6. Aristolochia papillaris Mast., Fl. bras. 4(2): 100. 1875. Figs. 1; 2q-s

Liana, volúvel; ramos glabros a pubescentes. Pseudoestípula ausente. Pecíolo 1,8‒2,3 cm compr., glabro a pubescete. Lâmina foliar 4,2­‒6,1 × 4,2‒4,8 cm, deltóide, ápice agudo, base profundamente cordada, sinuosidade 1‒1,9 cm compr., lóbulos 1,9‒2,8 cm larg., superfície adaxial glabra, superfície abaxial pubescente, margem revoluta, membranácea, 5 nervuras primárias. Flor axilar; pedicelo + ovário ca. 4,6 cm compr., pubescente; perianto com superfície externa glabra; utrículo ca. 2,3 × 1,9 cm, obovado; tubo ca. 3,4 cm compr.; unilabiado, limbo do lábio 3,1 × 1,5 cm, oval, ápice obtuso, projeções horizontais e laterais ausentes, verrucoso, papiloso, fímbrias ausentes; ginostêmio ca. 0,4 × 0,3 cm, pedunculado. Cápsula septícida, ca. 2,7 × 1,3 cm, cilíndrica, glabra; rostrum ca. 0,4 cm compr., inconspícuo. Semente 0,3‒0,5 × 0,3‒0,4 cm, deltóide, côncava‒convexa, glabra, verrucosa na face adaxial em toda a superfície.

Material examinado: Andrade, Guaraciaba do Norte, 24.XII.1980, veg., P. Martins (EAC 9555).

Material adicional examinado: BRASIL. PARAÍBA: Areia, XI.1939, fl., J. Deslandes 113 (SP) e PERNAMBUCO: Estrada Recife-Paraíba, 27.VI.1950, fr., C.G. Leal & O.A. Silva 153 (RB).

Aristolochia papillaris distingue-se das demais espécies por possuir lâmina foliar deltóide e limbo do lábio papiloso e verrucoso. É endêmica do Brasil (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.), ocorrendo apenas nas regiões norte no estado do Pará, e no nordeste, exceto nos estados do Rio Grande Norte e Sergipe (BFG 2018BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.). No Ceará, foi registrada em apenas um município, em vegetação de savana estépica (carrasco) (Fig. 1; D1 e D2). Coletada com flores e frutos de junho a novembro. No Brasil, é conhecida popularmente como angelicó, jarrinha-do-nordeste, jericó e papo-de-peru.

  • Lista de exsicatas examinadas
    Barros EOet al. 87(1). Bruno F EAC 11983(1). Castro ASF 122(1), 1362(1), 2584(1). Dias da Rocha 115(3). Fernandes A EAC 18704(1), EAC 20432(1). Lima-Verde LW EAC 22989(5). Monteiro FJS 28(5). Paula-Souza J et al. 10817(1). Lima JR et al. 660(1). Lopes MS EAC 26484(1). Martins P EAC 9555(6). Melo R EAC 54704(1). Loiola MIB 2589(2). Oliveira MRL EAC 20895(5). Ponte JJ EAC 34190(5). Sales 51675(4), EAC 14979(4).
  • Lista de exsicatas adicionais
    BRASIL. BAHIA: Guedes ML & Gomes FS 14723(5). MARANHÃO: Martins P & Nunes E EAC 5822(4). MINAS GERAIS: Salino A & Stehmann JR 3322(3). PARÁ: Kuhlmann JG 1934(2). PARAÍBA: Deslandes J 113(6). PERNAMBUCO: Leal CG & Silva OA 153(6). RIO DE JANEIRO: Glaziou A 12230(3).

Agradecimentos

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) as bolsas concedidas aos dois primeiros autores; à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) a bolsa de Doutorado concedida a R.T.M. Ribeiro; a Felipe Martins Guedes a elaboração das ilustrações; Maria Iracema Bezerra Loiola agradece ao CNPq a bolsa de produtividade concedida (Processo nº 30499/2017-1). À toda equipe do Herbário Prisco Bezerra (EAC-UFC) e Laboratório de Sistemática e Ecologia Vegetal (LASEV-UFC, https://lasevufc.wixsite.com/lasevufc).

Referências

  • Abreu IS & Giullietti AM (2016) Flora da Bahia: Aristolochiaceae. Sitientibus série. Ciências Biológicas 16.
  • Ahumada LZ (1975) Aristolochiaceae. In: Reitz R (ed.). Flora Ilustrada Catarinense. Herbário Barbosa Rodrigues. Pp. 1-55.
  • APG - Angiosperm Phylogeny Group (2016) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1-20.
  • Araújo AAM (2013) Aristolochiaceae Juss. Na Floresta Atlântica do Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco. 102p.
  • Araújo A & Alves M (2013) Aristolochia setulosa (Aristolochiaceae), a new species from northeastern Brazil. Vol. 65. Brittonia Pp. 301-304.
  • Barros F & Capellari Jr. L (2002) Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Aristolochiaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 22: 15-18.
  • BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.
  • Capellari Jr. L. 2001. Aristolochiaceae. In: Rizzo JA (ed.) Flora dos Estados de Goiás e Tocantins. Vol. 27. Universidade Federal de Goiás, Goiânia. Pp. 1-34.
  • Capellari Jr. L (2005) Potencial Ornamental das Aristoloquiáceas. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental 11: 82-88.
  • Cavalcanti TB & Ramos AE (2001) Flora Do Distrito Federal. Vol. 1. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília. 359p.
  • Duarte MCT (2006) Atividade Antimicrobiana de Plantas Medicinais e Aromáticas Utilizadas no Brasil. Construindo a História dos Produtos Naturais: MultiCiência. MultiCiência, Campinas. 12p.
  • Flora do Brasil 2020 [em construção] Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/>. Acesso em 3 julho 2018.
    » http://floradobrasil.jbrj.gov.br/
  • França VC, Vieira KVM, Lima EO, Barbosa-Filho JM & Cunha VL & Silva MS (2005) Estudo fitoquímico das partes aéreas de Aristolochia birostris Ducht. (Aristolochiaceae). Revista Brasileira de Farmacognosia 15: 326-330.
  • Freitas J, Lírio EJ & Gonzáles F (2013) A new califlorous spicies of Aristolochia. From Espirito Santo. Phytotaxa 124: 55-59.
  • Freitas J, Lírio EJ, González F & Alves-Araújo (2016)Aristolochia zebrina sp. nov. (Aristolochiaceae) from southeastern Brazil. Nordic Journal of Botany 34: 54-59.
  • González F (1990) Flora de Colombia. Aristolochiaceae. Monografia nº 12. Universidad Nacional de Colombia, Bogotá. 184p.
  • González F (1997) Hacia una filogenia deAristolochiay sus congéneres neotropicales. Caldasia 19: 93-108.
  • González F (1999) Inflorescence Morphology and the Systematics of Aristolochiaceae. Systematics and Geography of Plants 68: 159-172.
  • González F (2004) Aristolochiaceae. In: Smith N, Mori SA, Henderson A, Stevenson DW & Heald SV (eds.). Flowering plants of the Neotropics. Princeton University Press. Pp. 31-33.
  • González F (2012) Florística y sistemática filogenética innecesariamente disyuntas: el caso de Aristolochia, Euglypha y Holostylis Revista de la Academia Colombiana de Ciencias Exactas, Físicas y Naturales 36: 193-202.
  • González F (2014) A new species of Aristolochia (Aristolochiaceae) from Bahia, Brazil. Vol. 10. Missouri Botanical Garden Press, Saint Louis. Pp. 371-374.
  • González F & Stevenson DW (2002) A phylogenetic analysis of the subfamily Aristolochioideae (Aristolochiaceae). Revista de la Academia Colombiana Ciências Exactas 26: 25-60.
  • González F, Freitas J & Lírio EJ (2014) On the typification, identity, and synonomy of Aristolochia disticha Mast. (Aristolochiaceae). Brittonia 66: 337-339.
  • Hoehne FC (1927) Monografia ilustrada das Aristolochiaceas brasileiras. Memórias do Instituto Osvaldo Cruz 20: 67-175.
  • Hoehne FC (1942) Aristolochiaceas. In: Hoehne FC (ed.) Flora Brasilica. Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio de São Paulo, São Paulo. Pp. 1-141.
  • Huber H (1993) Aristolochiaceae. In: Kubitzki K, Rohwer JG and Bittrich V (ed.) The families and genera of vascular plants. Springer-Verlag, Berlin, Heidelberg. Pp. 129-137.
  • IBGE (2012) Manual técnico da vegetação brasileira. 2ªed. Disponível em <ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturais/manuais_tecnicos/manual_tecnico_vegetacao_brasileira.pdf >. Acesso em 15 setembro 2017.
    » ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturais/manuais_tecnicos/manual_tecnico_vegetacao_brasileira.pdf
  • IPNI (2017) The International Plant Names Index. Disponível em <http://www.ipni.org>. Acesso em 27 agosto 2017.
    » http://www.ipni.org
  • Kelly LM & González F (2003) Phylogenetic relationships in Aristolochiaceae. Systematic Botany 28: 236-249.
  • Masters MT (1875) Aristolochiaceae. In: Martius CFP, Eichler AG & Urban I (ed.) Flora Brasiliensis Lipsiae, Frid. Fleischer. Vol. 4, pars. 2, pp. 77-114.
  • Melo A, Araújo AAM & Alves Marccus (2013)Flora da Usina São José, Igarassu, Pernambuco: Aristolochiaceae e Piperaceae. Rodriguesia 64: 543-553.
  • Menezes MOT, Taylor NP & Loiola MIB (2013). Flora do Ceara, Brasil: Cactaceae. Rodriguesia 64: 757-774.
  • Murata J, Ohi-Toma T, Wu S, Darnaedi D, Sugawara T. Nakanishi T & Murata H. 2001. Molecular phylogeny ofAristolochia(Aristolochiaceae) inferred frommatKsequences. Acta Phytotaxanomica et. Geobotanica 52: 75-83.
  • Nascimento DS, Cervi AC & Guimarães OA (2010) A família Aristolochiaceae Juss. no estado do Paraná, Brasil. Acta Botanica Brasilica 24: 414-422.
  • Ohi-Toma T, Sugawara T, Murata H, Wanke S, Neinhuis C & Murata J (2006) Molecular phylogeny ofAristolochiasensu lato (Aristolochiaceae) based on sequences ofrbcL, matK, andphyAgenes, with special reference to differentiation of chromosome numbers. Systematic Botany 31: 481-492.
  • Pfeifer HW (1966) Revision of the North and Central American Hexandrous Species of Aristolochia (Aristolochiaceae). Annals of The Missouri Botanical Garden 53: 115-196.
  • Radford AE, Dickson WC, Massey JR & Bell CR (1974)Vascular plant systematics. Harper & Row, New York. 891p.
  • Souza VC & Lorenzi H (2012) Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das plantas nativas e exóticas do Brasil, baseado em APG III. 3ª ed. Instituto Plantarum, Nova Odessa. 768p.
  • Souza CD & Felfili JM (2006) Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, Brasil. Acta Botanica Brasilica 20: 135-142.
  • Stevens PF, Bremer B, Bremer K, Chase MW, Fay MF, Reveal JL, Soltis DE & Soltis PS (2009) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society 161: 105-121.
  • Thiers B [continuously updated] Index Herbariorum: a global directory of public herbaria and associated staff. New York Botanical Garden’s Virtual Herbarium. Disponível em <http://sweetgum.nybg.org/science/ih/>. Acesso em 26 agosto 2017.
    » http://sweetgum.nybg.org/science/ih/
  • Wanke S, González F & Neinhuis C (2006) Systematics of pipevines: combining morphological and fast-evolving molecular characters to investigate the relationships within subfamily Aristolochioideae (Aristolochiaceae). International Journal Plant and Soil Science 167: 1215-1227.
  • Werneck MS (2009) Aristolochiaceae. In: Stehmann JR, Forzza RC, Sobral M, Costa DP & Kamino LHY. (ed.) Plantas da Floresta Atlântica. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Pp. 149-150.

Editado por

Editor de área: Dr. Vidal Mansano

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    02 Nov 2017
  • Aceito
    09 Nov 2018
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br