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Torres, Marie-Hélène C. (Org.). Estudos da tradução intercontinentais: Brasil – Canadá – Romênia. Florianópolis: Rafael Copetti, 2019, 306 p.

Torres, Marie-Hélène C.. Estudos da tradução intercontinentais: Brasil – Canadá – Romênia. Florianópolis: Rafael Copetti, 2019. 306 p.

Idealizado e organizado pela pesquisadora Marie-Hélène Catherine TorresTorres, Marie-Hélène C. (Org.). Estudos da tradução intercontinentais: Brasil – Canadá – Romênia. Florianópolis: Rafael Copetti, 2019, 306 p. e lançado em outubro de 2019, o livro Estudos da tradução intercontinentais: Brasil – Canadá – Romênia consiste em um conjunto de entrevistas realizadas com e por pesquisadores da área, disponibilizadas em português, espanhol, francês, italiano e inglês.

Os entrevistados – quatro no total – se dividem, quanto à atuação acadêmica, entre os países enumerados no subtítulo da obra; são eles Walter Carlos Costa e a própria Marie-Hélène TorresTorres, Marie-Hélène C. (Org.). Estudos da tradução intercontinentais: Brasil – Canadá – Romênia. Florianópolis: Rafael Copetti, 2019, 306 p., representando duplamente o Brasil, Albumita-Mugura Constantinescu, da Romênia, e Georges Bastin, um dos principais nomes dos estudos da tradução no Canadá. A obra é introduzida por um texto de Andréia Guerini, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que atua também como entrevistadora e tem uma trajetória de bastante destaque na área. Em sua introdução – disponível apenas em português –, Guerini faz uma breve apresentação da proposta do volume, bem como de cada personalidade entrevistada, seguida de uma síntese de suas falas, elencando os principais temas abordados.

A entrevista de abertura traz o professor, pesquisador e tradutor Walter Carlos Costa, um dos pioneiros nos estudos da tradução no Brasil. Entrevistado por Andréia Guerini e Robert de Brose, Costa dá um panorama intimista, pessoal, de seus primeiros contatos com a tradução, ainda na infância, em sua cidade natal no interior do estado de São Paulo, seguido de um relato de sua incursão acadêmica nos estudos da tradução e de sua atuação profissional como tradutor literário, transitando por diversas línguas e nações. A singularidade da leitura reside especialmente no alto grau em que a trajetória pessoal do entrevistado se mescla com a história dos próprios estudos da tradução enquanto disciplina. Costa discute ainda questões relacionadas à autoria em tradução – índice que, para ele, varia de texto para texto, de acordo com seu gênero e grau de complexidade, e de tradutor para tradutor, de acordo com suas competências – e comenta sobre a criação e o percurso da revista Cadernos de Tradução, da qual foi idealizador, e que é hoje o principal periódico de estudos da tradução no Brasil.

A segunda entrevista, conduzida por Rodrigo D’Avila e Yeo N’Gana, traz Albumita-Mugura Constantinescu, professora e pesquisadora na universidade romena tefan cel Mare e editora-chefe da revista francófona Atelier de traduction. A partir de suas duas obras publicadas, Pour une lecture critique des textes traduits (2013) e La traduction sous la loupe (2017), Constantinescu desenvolve sua perspectiva acerca da crítica de traduções, militando, como ela coloca, por uma pluralidade de formas de crítica que reconheçam o texto traduzido enquanto tradução, evitando portanto a confusão com o original, que impede, com frequência, o reconhecimento do que se transformou no texto – do que se perdeu e do que se destacou. Ela relata ainda seu percurso pessoal como tradutora e discute a relação da cultura romena com a tradução: Constantinescu caracteriza a Romênia como um país tradutor, uma “cultura que traduz”, no que constitui um forte ponto de contato com a realidade brasileira.

A terceira parte do volume figura o professor e pesquisador da Universidade de Montreal Georges Bastin, entrevistado por Marie-Hélène Torres. O relato de Bastin percorre sua trajetória acadêmica plurinacional – entre França, Canadá e Venezuela –, além de detalhar seus projetos em andamento do grupo de pesquisa Histal (Histoire de la traduction en Amérique latine [História da Tradução na América Latina]), dedicado ao estudo da tradução em diversos países latinos, dentre os quais o Brasil. O pesquisador conta ainda sobre o programa École des hautes études [Escola de Altos Estudos], financiado pelo Governo brasileiro com o objetivo de, por meio de um ciclo de conferências em universidades do país, fomentar o intercâmbio acadêmico internacional, contribuindo para a formação de professores e pesquisadores em estudos da tradução no Brasil – área considerada estratégica para o desenvolvimento do país.

A última entrevista, que fecha a obra, traz a própria organizadora, Marie-Hélène Catherine Torres (que, ao longo do volume, parece optar consistentemente por uma grafia alternativa e mais internacionalizada de seu nome, “Marie Helene”), em diálogo com Albumita-Mugura Constantinescu – esta na posição de entrevistadora. A conversa recobre o percurso acadêmico de Torres, que vai da literatura aos estudos da tradução, com foco na vertente chamada estudos descritivos da tradução (DTS, na sigla em inglês), que ela articula com a teoria pós-colonial da antropofagia. Sua pesquisa na área tem como um dos focos a literatura brasileira traduzida na França e o grau de abertura cultural do país ao estrangeiro, bem como a compreensão do aparato paratextual (prefácio, introdução, notas etc.) como discurso de acompanhamento, essencial para a análise das traduções por ser o lugar onde a ideologia aparece de forma mais clara. A entrevista contempla ainda a institucionalização – ou o reconhecimento institucional – dos estudos da tradução no Brasil, abordando a articulação entre programas de pós-graduação brasileiros e entre pesquisadores de diferentes universidades que desenvolvem projetos em parceria.

A obra, como conjunto, oferece um panorama significativo, ainda que restrito por sua amostragem, do desenvolvimento dos estudos da tradução no Ocidente. Em se tratando de um campo essencialmente intercultural, é muito importante, como afirma Walter Costa (p. 18), que “a pesquisa em estudos da tradução seja mundial, quer dizer, que abarque todos os continentes, línguas e culturas, e que seja multilíngue” – requisitos que são, em grande medida, atingidos por Estudos da tradução intercontinentais: Brasil – Canadá – Romênia.

Algumas questões de editoração, no entanto, se beneficiariam de uma revisão mais atenta. Além do âmbito gramatical, em que alguns lapsos de pontuação e concordância verbal se fazem notar, observam-se também menções a conceitos, pesquisadores ou artigos que pressupõem certo conhecimento prévio por parte do público leitor, talvez superestimando sua familiaridade com a área – é o que ocorre em relação ao dispositivo da Capes chamado Dinter (Doutorado Interinstitucional), referido algumas vezes apenas pela sigla antes que sua origem seja explicitada, à pesquisadora e tradutora Luana de Freitas, mencionada apenas por seu prenome, e também a um artigo de Torres publicado na revista Atelier de traduction, cuja citação carece de referências que permitam sua localização e acesso. Fazem falta, ainda, informações sobre as circunstâncias em que se deu cada uma das entrevistas (p.ex. meio, local, língua, data) – dados que, apesar de não essenciais, contribuiriam para acrescentar textura aos relatos que compõem o volume. A introdução de Andréia Guerini, apesar de bem-sucedida em proporcionar uma visão de conjunto da publicação, torna-se em certa medida redundante em razão da abundância de citações diretas das entrevistas, e estranha-se o fato de o texto não ter sido traduzido para os outros idiomas do volume.

O mérito da obra, contudo, não se deixa diminuir por tais questões. A trajetória acadêmica dos entrevistados, pela relevância e pioneirismo de sua atuação (em formação, pesquisa e publicações), se confunde e se mescla com o percurso de institucionalização da própria área, fornecendo uma perspectiva singular do desenvolvimento dos estudos da tradução enquanto disciplina. Ao propiciar um perfil detalhado de alguns dos principais nomes brasileiros e estrangeiros dos estudos da tradução, além de um panorama da articulação entre acadêmicos, instituições e periódicos no Brasil e no mundo – o que justifica o título de Estudos da tradução intercontinentais –, a publicação se faz indispensável a estudantes e pesquisadores da área.

Referência

  • Torres, Marie-Hélène C. (Org.). Estudos da tradução intercontinentais: Brasil – Canadá – Romênia Florianópolis: Rafael Copetti, 2019, 306 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    30 Dez 2019
  • Aceito
    05 Mar 2020
  • Publicado
    Maio 2020
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