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UMA REFLEXÃO INICIAL SOBRE O PROCESSO DE TRADUÇÃO/REVISÃO DE UM TEXTO PRODUZIDO POR UMA PESSOA SURDA EM PORTUGUÊS ESCRITO

AN INITIAL REFLECTION ON THE TRANSLATION/ REVISION PROCESS OF A PORTUGUESE L2 TEXT WRITTEN BY A DEAF PERSON

Resumo

Neste artigo, discute-se o processo de tradução/revisão de textos de pessoas surdas, produzidos em português escrito como segunda língua, por profissionais tradutores e intérpretes de Libras-português (TILSP), por um lado, e, por outro, por revisores que não dominam a Libras. A questão foi proposta a partir da constatação empírica de que a tradução/revisão de textos escritos por pessoas surdas, muitas vezes, é solicitada aos TILSP, os quais costumam não se considerar devidamente habilitados para essa tarefa. Diante disso, considerou-se relevante contrastar a atuação de TILSP e a de revisores durante o processo de tradução/revisão do texto de uma pessoa surda. Para tanto, utilizam-se os dados de rastreamento ocular coletados em um estudo experimental-exploratório conduzido com esses dois grupos. O objetivo foi verificar qual grupo de profissionais despenderia maior esforço cognitivo, refletindo-se sobre as características da atividade e suas possíveis implicações para o profissional que a executa. Por fim, concluiu-se que a atividade, ao ser desempenhada pelos tradutores e intérpretes ou pelos revisores, assume uma natureza distinta e, por sua vez, implica demandas cognitivas e comportamentais diferentes.

Palavras-chave
Escrita de surdos em L2; Tradução; Revisão; Libras; Rastreamento ocular; Esforço cognitivo

Abstract

This paper discusses processes involved in the translation/revision of texts written by Deaf people in Portuguese as a second language implemented by professional translators and interpreters of Libras-Portuguese (TILSP), and also by Portuguese language revisors who do not master Libras. The research problem builds on the empirical observation that this kind of translation/revision task is often assigned to TILSP, who do not usually consider themselves qualified enough for that work. Therefore, we aimed to compare TILSP and revisors processing patterns while translating/revising a text written by a Deaf person. Eye tracking data was collected and analyzed from an exploratory experiment with participants from these two groups. The main objective was to verify which group would spend more cognitive effort in the task, and then reflect upon the characteristics of the activity and its implications for the professionals who perform it. The results demonstrated that the activity demands distinct patterns of cognitive effort and, therefore, is performed differently by each group, indicating specific cognitive and behavioral demands.

Keywords
L2 writing by deaf people; Translation; Revision; Brazilian sign language; Eye tracking; Cognitive effort

1. Introdução

Nas duas últimas décadas, no Brasil, é possível perceber uma série de transformações sociais que têm como causa e consequência o aumento da inclusão social das pessoas surdas. A inclusão, bem como sua ampliação, é um processo complexo, visto que está sustentado em aspectos legais, sociais, históricos, políticos e culturais que favorecem uma maior conscientização, por parte da população em geral e, também, das instituições, sobre questões específicas relacionadas às pessoas surdas e à difusão de sua língua de sinais. Isso é facilmente observado em leis e decretos, promulgados a partir dos anos 2000, que remetem especificamente a essas questões: Lei 10.436/2002Brasil. Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm. Acesso em: 16 out 2021.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei...
, Decreto 5.626/2005Brasil. Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 16 out 2021.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at...
e Lei 12.319/2010Brasil. Lei n. 12.319, de 1o de setembro de 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm. Acesso em: 16 out 2021.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At...
.

Como consequência desse movimento em prol do reconhecimento dos direitos das pessoas surdas, a cada dia, amplia-se a quantidade de surdos que ingressam nas instituições de ensino superior brasileiras, o que demanda, entre outros, o aumento do número de tradutores e intérpretes de Libras-português (TILSP) atuando nessas instituições. Nesse cenário, é comum que alunos surdos, sinalizantes da Libras (Língua Brasileira de Sinais), redijam textos em português como segunda língua (L2), os quais são produzidos em uma interlíngua, ou seja, em um sistema representacional próprio — e completo — por meio do qual o aprendiz produz um texto em sua L2, marcado não somente pela manutenção de traços de sua primeira língua (L1), mas, também, pela generalização de regras da língua-alvo (Selinker 209-31Selinker, L. Interlanguage. International Review of Applied Linguistics, 10, 1972, 209-231.), como se pode observar nos estudos de FernandesFernandes, S. É possível ser surdo em português? Língua de sinais e escrita: em busca de uma aproximação. In: SKLIAR, C. (org.). Atualidade da Educação Bilíngue para Surdos. 2ª ed. Porto Alegre: Mediação, 1999. 2v., CostaCosta, D. A. F. Linguística e Surdez: Compreendendo a singularidade da produção escrita de sujeitos surdos. Rev. Psicopedagogia 2003; 20(62): 94-106., SantosSantos, F. M. A. dos. Marcas da LIBRAS e indícios de uma interlíngua na escrita de surdos em Língua Portuguesa. 254 f. il. 2009, Dissertação (Mestrado) – Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009. e Miranda. Algumas vezes, cabe ao TILSP o trabalho de traduzir/revisar1 esse tipo de texto para o português padrão e, outras vezes, ao revisor de textos, que, na maioria dos casos, desconhece a Libras e a realidade da produção dos surdos em sua L2.

Cabe mencionar que a Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais (FebrapilsFebrapils. Valores de referência, 2021. Disponível em: https://febrapils.org.br/valoresdereferencia/#S05. Acesso em: 16 out 2021.
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) mantém, em seu site, uma lista de referência de honorários2, que é atualizada sempre que necessário e que sugere preços para as diferentes atividades realizadas pelos TILSP e pelos guias-intérpretes3. A lista de referência considera, na seção destinada à tradução, a atividade denominada “português como segunda língua para português formal” —, a qual, nesta pesquisa, é identificada como tradução/revisão —, e sugere que se cobre um determinado valor por “lauda traduzida”.

Apesar de haver, na prática, a demanda para que o TILSP realize esse tipo de atividade4, assim como o fato de a atividade estar contemplada na referência de honorários da instituição representativa da profissão, os cursos de formação de TILSP ainda não dão a devida atenção ao tópico, o que faz com que essa atividade seja realizada de forma assistemática, com base na experiência de cada profissional. Rodrigues (151)Rodrigues, C. H. Tradução e Língua de Sinais: a modalidade gestual-visual em destaque. Cadernos de Tradução, v. 38, p. 294-319, 2018., ao analisar os desenhos curriculares dos cursos de formação de TILSP, destaca que, embora os cursos citem diversas possibilidades de atuação dos profissionais da tradução e da interpretação de línguas de sinais, eles focam no desenvolvimento da Libras em detrimento do português e “investem, a priori, mais na formação de intérpretes de sinais, estrito senso, que na formação de tradutores”.

É neste contexto que esta pesquisa se insere, fazendo reflexões teóricas e de investigação empírica sobre essa atividade que é realizada pelos TILSP, mas que carece de estudos. Pesquisas sobre a atividade de traduzir/revisar textos escritos por surdos precisam ser realizadas para que seja mais bem encaminhado o debate sobre qual profissional — o TILSP, o revisor ou ainda outro — estaria mais qualificado para realizar a tradução/revisão de textos produzidos por surdos em português escrito como L2 e sobre como esse profissional deveria ser formado para a realização dessa atividade

Considerando isso, conduziu-se um estudo experimental-exploratório que teve como objetivo observar e descrever possíveis congruências e diferenças no processo de se traduzir/revisar um texto escrito em português, por uma pessoa surda, quando realizado pelo TILSP ou pelo revisor de português que não domina a Libras. Para tanto, utilizou-se um texto em português, criado espontaneamente por um surdo sinalizante de Libras como L1, o qual está em uma interlíngua.

Vale dizer que, embora tenham sido usados outros métodos para a coleta de dados — como, por exemplo, Protocolos Verbais e registro de acionamento de teclado —, para este artigo, consideraram-se apenas os dados decorrentes do rastreamento ocular. Como explica Sjørup (53-77)Sjørup, A. C. Metaphor comprehension in translation: methodological issues in a pilot study. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S., MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p.53-77, o rastreamento ocular tem como premissa a concepção de que os processos cognitivos podem ser evidenciados a partir da análise dos dados de movimentação ocular coletados durante a realização de tarefas experimentais.

Portanto, a pesquisa parte da premissa de que os dados decorrentes do rastreamento ocular fornecem evidências para instrumentalizar a discussão sobre as possíveis diferenças na atividade de traduzir/revisar quando realizada por profissionais com diferentes perfis. Acredita-se que a apresentação desses dados e sua análise possam subsidiar uma futura discussão sobre qual seria a formação indicada e as habilidades mais importantes para o profissional que realiza tal atividade. Além disso, reflete-se, a partir dos resultados, se a formação demandada e, por sua vez, o caráter da atividade se aproximaria mais da formação e das atribuições do TILSP ou daquelas do revisor de português.

A discussão proposta, portanto, assemelha-se às discussões empreendidas pelos estudos de pós-edição no âmbito dos Estudos da Tradução (ET), especialmente na sua modalidade monolíngue, conforme investigado por FonsecaFonseca, N. Pós-edição monolíngue: uma análise de indicadores de dispêndio de esforço temporal, técnico e cognitivo. Tese de Doutorado. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2016.. A pós-edição diz respeito ao trabalho de editar um texto que foi previamente traduzido de forma automática (Carl et al. 131-142Carl, M.; Dragsted, B.; Elming, J.; Hardt, D.; Jakobsen, A. L. The Process of Post-Editing: a Pilot Study. In: Sharp et al (eds). Proceedings of the 8th International NLPCS Workshop. Copenhagen: Copenhagen Business School, 2011. p.131-142. Acesso em 25 de julho de 2016. Disponível em: http://mt-archive.info/NLPSC-2011-Carl-1.pdf.
http://mt-archive.info/NLPSC-2011-Carl-1...
, KoglinKoglin, A. Os Efeitos cognitivos e esforço de processamento de metáforas em tarefas de pós-edição e de tradução humana: uma investigação processual à luz da Teoria da Relevância. Tese de Doutorado. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2015.). Nessa perspectiva, tanto nesta pesquisa quanto naquelas sobre pós-edição, a díade tradução/revisão está posta.

Fonseca investigou a pós-edição monolíngue através do rastreamento ocular e considera que vêm sendo realizados estudos que analisam a viabilidade da pós-edição monolíngue, ou seja, que a pós-edição de um texto traduzido por um software seja realizada por uma pessoa que conhece apenas a língua-alvo, em contraposição à pós-edição bilíngue, aquela realizada por um profissional fluente nas duas línguas de trabalho. O paralelismo entre as pesquisas em pós-edição e a proposta desta pesquisa se encontra no fato de serem considerados dois grupos de profissionais, um bilíngue e outro monolíngue, e de se investigarem as relações dos respectivos perfis com o desempenho na realização das tarefas.

Com a finalidade de identificar, a partir de evidências do esforço cognitivo, como a atividade é realizada por participantes representantes das duas profissões, apresentam-se os dados decorrentes do estudo experimental-exploratório, mais especificamente os de rastreamento ocular (Dragsted e Hansen 9-29Dragsted, B.; Hansen, I. G. Comprehension and production in translation: a pilot study on segmentation and the coordination of reading and writing processes. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S.; MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p. 9-29., Sjørup 53-77Sjørup, A. C. Metaphor comprehension in translation: methodological issues in a pilot study. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S., MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p.53-77). A coleta de dados foi realizada com duas duplas de participantes, sendo dois TILSP e dois revisores que não tinham domínio da Libras. No experimento, o rastreamento ocular buscou identificar os momentos de maior dificuldade durante a realização da tarefa, com base na contagem de fixações, no tempo total das fixações e na duração média das fixações.

Conforme a proposta de Holmes (172-185)Holmes, J. S. The Name and Nature of Translation Studies. In: VENUTI, L. The Translation studies reader. Routledge, 2000. p. 172-185., esta pesquisa se insere nos Estudos Descritivos da Tradução orientados ao processo, já que busca, a partir da utilização de metodologia empírico-experimental, descrever os processos envolvidos na realização da tarefa investigada. É importante ressaltar que a atividade que está sendo nomeada como tradução/revisão pode ser considerada inserida dentro dos ET, principalmente, pelas características desse tipo de texto como interlíngua. A tarefa investigada se aproxima bastante da de tradução, oscilando entre a tradução e a revisão, dependendo dos níveis de interlíngua envolvidos no texto da tarefa.

2. Tradução e interpretação de Libras-português e revisão de textos

A tradução e a interpretação são atividades complexas que se distinguem cognitiva e operacionalmente. Tais atividades de reformulação interlinguística envolvem processos cognitivo-linguísticos necessários às escolhas e tomadas de decisão em relação ao como traduzir ou interpretar. Ao traduzir um texto, o profissional — que precisa conhecer no mínimo duas línguas — faz escolhas linguísticas e extralinguísticas: lexicais, estruturais, semânticas, pragmáticas, culturais etc. com o objetivo de reformular na língua-alvo as informações a que ele está tendo acesso na língua-fonte. Esse profissional não só se preocupa em produzir um texto na língua-alvo que se assemelhe interpretativamente5 ao texto na língua-fonte, seguindo as regras gramaticais da língua-alvo e considerando o contexto comunicativo, mas orienta-se por uma série de fatores sociais, políticos e culturais implicados no texto e no público-alvo. Para desenvolver essa atividade, é importante que o profissional tradutor tenha

uma formação aprofundada nas áreas de Letras, especialmente no que concerne ao estudo das línguas e das culturas envolvidas no par linguístico com o qual trabalha, ao conhecimento de temas específicos (técnicos ou artísticos), ao conhecimento metalinguístico e pragmático envolvido na produção de textos e na sua retextualização em outras línguas e contextos culturais, além de conhecimentos teóricos e históricos sobre a tradução.

(Sant’ana e Gonçalves 233Sant’ana, R. M. T.; Gonçalves, J. L. V. R. Reflexões acerca das práticas de tradução e revisão de textos e de parâmetros para a formação de tradutores e revisores. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 26, p. 225-234, 1o sem. 2010.).

Considerando a atuação do TILSP no ensino superior, Romeiro et al. apresentam um levantamento sobre esses profissionais nas universidades federais, até o ano de 2014, e identificam 122 TILSP em exercício. Além disso, sobre as atividades desenvolvidas por eles, as autoras demonstram que as mais realizadas, no momento da pesquisa, eram as de interpretação de eventos, como simpósios e conferências, e a interpretação em sala de aula, em qualquer nível de formação oferecido pelas universidades. Dentre as demais atividades relatadas, estão aquelas relacionadas com a acessibilidade e a inclusão e, por sua vez, uma atividade denominada como “transcrição de textos de surdos para o português6”, assim como outras atividades de tradução e interpretação e de cunho administrativo (Romeiro et al.Romeiro, S. A. L. V.; Oliveira, I. N. De; Silvério, C. C. P. O trabalho do tradutor e intérprete de libras-português nas universidades federais brasileiras. Anais do IV Congresso Nacional de Pesquisas em Tradução e Interpretação de Libras e Língua Portuguesa. Florianópolis, 2014.). Essas informações demonstram como o trabalho do TILSP nas universidades ainda demanda delimitação da extensão e do caráter de suas atribuições e da forma como as atividades devem ser realizadas.

A revisão de textos é uma atividade que consiste em fazer as adequações necessárias em um texto para que esse esteja em conformidade com as regras da língua escrita, tanto no sentido gramatical quanto no de adequação ao meio no qual o texto circulará. Sobre os requisitos necessários para a realização dessa atividade figuram, principalmente, o

conhecimento profundo da língua, em seus aspectos sintáticos, lexicais, morfossintáticos e semânticos. [O profissional] [...] precisa também ter conhecimento dos diversos registros, usos e modalidades da língua. Deve ter conhecimento dos gêneros, de seus domínios discursivos e territórios de circulação, dos diversos suportes por meio dos quais os textos são veiculados.

(Sant’ana e Gonçalves 288Sant’ana, R. M. T.; Gonçalves, J. L. V. R. Reflexões acerca das práticas de tradução e revisão de textos e de parâmetros para a formação de tradutores e revisores. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 26, p. 225-234, 1o sem. 2010.).

3. O Rastreamento Ocular (Eye Tracking)

Com o intenso desenvolvimento da tecnologia, diversos instrumentos vêm sendo inseridos em pesquisas científicas. Um deles é o rastreamento ocular que é utilizado em pesquisas nas mais diversas áreas. Nos ET, com foco nos processos cognitivos, ele vem sendo, cada vez mais, utilizado, já que permite o registro, a partir de raios infravermelhos, dos movimentos oculares dos participantes enquanto realizam alguma atividade em frente ao computador, de forma que o instrumento se mostra adequado às pesquisas em tradução que queiram fazer uso de informações sobre leitura e atenção visual.

O rastreamento ocular tem sido utilizado para analisar, entre outras variáveis, a relação entre o esforço cognitivo despendido por cada um dos participantes na realização da tarefa experimental e seu perfil profissional. Sjørup (53-77)Sjørup, A. C. Metaphor comprehension in translation: methodological issues in a pilot study. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S., MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p.53-77 chama atenção para algumas premissas básicas relacionadas ao rastreamento ocular que devem ser consideradas quando se tem a intenção de dar sentido ao movimento ocular gravado em atividades de tradução. As mais significativas para a discussão proposta, neste artigo, são: (a) o leitor está olhando para a palavra em que ele está pensando; (b) o tempo que o olho fixa na palavra é o tempo de processamento cognitivo daquela palavra, segundo o Princípio de ligação olho-mente e o Princípio da Imediaticidade (Just e Carpenter 329-354Just, M. A.; Carpenter, P. A. A theory of reading: from eye fixations to comprehension. Psychological Review, 87, 329-354, 1980.). Tais princípios levam à constatação de que algumas causas para o aumento do tempo de fixação podem ser, por exemplo, palavras que têm baixa frequência de uso, palavras com erros de ortografia, palavras com mais de um sentido e imprevisibilidade do contexto.

Pesquisas sobre tradução que utilizam o rastreamento ocular consideram que, ao identificar padrões de movimentação ocular, é possível relacioná-los com dificuldades na realização da tarefa que se mantêm ocultas, às vezes, até mesmo para o próprio tradutor (Dragsted e Hansen 9-29Dragsted, B.; Hansen, I. G. Comprehension and production in translation: a pilot study on segmentation and the coordination of reading and writing processes. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S.; MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p. 9-29.; Sjørup 53-77Sjørup, A. C. Metaphor comprehension in translation: methodological issues in a pilot study. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S., MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p.53-77). O rastreamento ocular pode mostrar características temporais (i.e., tempo da tradução) e espaciais (i.e., onde há hesitação) na tradução (Sjørup 53-77Sjørup, A. C. Metaphor comprehension in translation: methodological issues in a pilot study. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S., MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p.53-77). Nesses estudos, considera-se que o movimento ocular permite que se observem indícios de esforço cognitivo despendido em determinada tarefa, de forma que fixações mais longas e reiteradas em algumas regiões do texto lido ou produzido são consideradas indícios de maior esforço cognitivo.

Para Dragsted e Hansen (9-29)Dragsted, B.; Hansen, I. G. Comprehension and production in translation: a pilot study on segmentation and the coordination of reading and writing processes. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S.; MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p. 9-29., palavras de difícil tradução necessitam de mais tempo para serem processadas, pois o seu processamento cognitivo é mais complexo. Palavras consideradas como não problemáticas (como cognatos verdadeiros, por exemplo) são traduzidas quase paralelamente à leitura. Estudos que utilizam as técnicas de rastreamento ocular e de registro de ações no teclado partem do pressuposto de que quanto maior o tempo de fixação do olhar, mais aquela parte do texto demanda cognitivamente do profissional (Dragsted e Hansen 9-29Dragsted, B.; Hansen, I. G. Comprehension and production in translation: a pilot study on segmentation and the coordination of reading and writing processes. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S.; MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p. 9-29.; Sjørup 53-77Sjørup, A. C. Metaphor comprehension in translation: methodological issues in a pilot study. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S., MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p.53-77). Esta pesquisa adotará esse mesmo pressuposto na análise dos dados coletados no estudo experimental-exploratório.

Para que seja possível considerar as fixações oculares como evidência de esforço cognitivo, é importante refletir sobre o que são consideradas fixações, os tipos de fixação e o que elas podem significar. Sjørup (53-77)Sjørup, A. C. Metaphor comprehension in translation: methodological issues in a pilot study. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S., MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p.53-77 considera que fixação é o foco em uma palavra por 200 ou 300 milissegundos. Sobre os tipos de fixação, Dragsted e Hansen (9-29)Dragsted, B.; Hansen, I. G. Comprehension and production in translation: a pilot study on segmentation and the coordination of reading and writing processes. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S.; MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p. 9-29. consideram que, ao produzir ou traduzir um texto, esse é dividido em partes, o que pode ser chamado de “decomposição por objetivo”. A distribuição e a duração das fixações no movimento dos olhos, durante uma tarefa de tradução, estão ligadas ao planejamento do texto a ser traduzido. Para as autoras, há dois tipos de planejamento: (a) o planejamento macro, quando o tradutor planeja semanticamente a partir dos conceitos — nesse caso, as fixações ocorrem vinculadas às movimentações entre parágrafos ou sentenças —; e (b) o planejamento micro, quando o tradutor resolve questões gramaticais, ou faz a escolha de palavras — assim, as fixações ocorrem dentro das sentenças (Dragsted e Hansen 9-29Dragsted, B.; Hansen, I. G. Comprehension and production in translation: a pilot study on segmentation and the coordination of reading and writing processes. In: JAKOBSEN, A.; GOPFERICH, S.; MEES, I. M. Looking at eyes: eye tracking studies of reading and translation processing. Samfundslitteratur, 2008. p. 9-29.).

A utilização do rastreamento ocular, nesta pesquisa, tornou possível a observação dos detalhes do movimento ocular realizado pelos participantes durante a realização da tarefa, o que permitiu fazer comparações entre os dois grupos de participantes. Enquanto os participantes realizavam a tarefa proposta, foram também registradas as ações realizadas no teclado pelo software Translog II, tendo em vista que esses dados na produção ou revisão de um texto também servem como indício de esforço cognitivo e contribuem para a identificação dos problemas enfrentados durante a tarefa. Contudo, como já mencionado, esses dados não foram considerados na análise aqui apresentada.

4. Procedimentos metodológicos

A metodologia da pesquisa, como mencionado, baseou-se na realização de um estudo experimental-exploratório com as seguintes etapas: (1) tarefa de tradução/revisão pelos dois grupos de participantes; (2) resposta aos protocolos verbais retrospectivos livre e guiado; (3) resposta ao questionário prospectivo, para controle dos perfis. Para a coleta de dados de rastreamento ocular, utilizou-se o rastreador Tobii TX300 e o software Tobii Studio. O experimento foi realizado com duas duplas de profissionais: (a) dois TILSP e (b) dois revisores que não dominam a Libras.

A tarefa dada aos participantes foi a mesma: traduzir/revisar o mesmo texto, escrito por uma pessoa surda, assim como já explanado. A tarefa foi realizada no Translog II, que possibilita configurar a tela de diversas formas, de acordo com as necessidades da tarefa. Para a coleta, a tela foi dividida horizontalmente em duas, para que o texto-fonte a ser traduzido/revisado estivesse disponível tanto na parte superior da tela quanto na parte inferior. O espaço disponibilizado para a realização da tarefa foi apenas a parte inferior da tela, na qual era possível realizar as intervenções no texto. Optou-se por essa disposição por ela se aproximar da experiência cotidiana das pessoas que fazem adequações em textos escritos por surdos, já que, usualmente, esses textos estão no computador e as adequações são realizadas diretamente neles, sem a necessidade de se reescrever todo o texto.

Para a realização da tarefa, não foi permitido nenhum tipo de apoio ou consulta externa, ou seja, a orientação era para que se realizasse a atividade recorrendo apenas ao texto que seria traduzido/revisado. Considerando que o objetivo da atividade era apontar inicialmente uma possibilidade de se verificar o nível de dificuldade na compreensão do texto-fonte e, por sua vez, na realização da tarefa de tradução/revisão, a consulta a materiais externos poderia interferir nessa verificação.

As orientações para a realização da tarefa que apareceram na tela do Tobii Studio, antes do início de sua execução, foram: “Você deverá adequar este texto para a língua portuguesa padrão, escrevendo na caixa de texto que está na parte inferior da tela. Aperte a tecla de espaço para iniciar”. Na sequência, para o protocolo verbal livre, foram dadas as seguintes orientações: “Na tela será reproduzido um vídeo em velocidade acelerada da sua produção. Se tiver algum comentário para fazer durante a reprodução, sinta-se à vontade. Se quiser pausar o vídeo para comentar, basta clicar no botão de ‘pausar’”.

4.1 Método de coleta de dados

Para a execução do experimento, foi solicitado aos dois grupos de profissionais voluntários que fizessem uma adequação do texto de forma que este ficasse o mais próximo do português padrão. Coletaram-se dados do movimento ocular dos profissionais enquanto realizavam a tarefa, além de serem registradas, em tempo real, as ações no teclado, a partir do software Translog II, que monitora com precisão toda a atividade realizada pelo participante. Em seguida, os participantes foram convidados a relatar oralmente sobre seu desempenho na tarefa, em um protocolo livre e a digitar respostas a perguntas de um protocolo guiado escrito, que foi disponibilizado em um formulário do Google.

O objetivo do uso dos protocolos foi possibilitar a reflexão pelo participante sobre a atividade que acabara de realizar, obtendo-se indícios de dificuldades e sua autoavaliação em relação ao seu desempenho na tarefa. Em um primeiro momento, foi reproduzido na tela, para o profissional, o vídeo de registro da tarefa feita com o Translog II, tendo sido solicitado a ele que descrevesse o desempenho na atividade (protocolo verbal retrospectivo livre). Isso ocorreu através da reprodução do vídeo de registro da tarefa no Translog II, em velocidade acelerada (em 500%), para apoiar as suas análises. Gravou-se, no próprio computador, o protocolo verbal livre. Em seguida, cada participante foi solicitado a responder um questionário com algumas perguntas sobre a atividade recém-realizada (protocolo escrito guiado). Entretanto, neste artigo, são analisados apenas os dados de rastreamento.

4.2 O texto traduzido/revisado

Para a realização do experimento, utilizou-se um parágrafo escrito por uma pessoa surda, adulta, que tem o português como L2. A sugestão proposta, no momento da solicitação, foi que ela poderia escrever um texto sobre qualquer assunto, de forma que esse texto pudesse ser publicado em um jornal de pequena circulação. O autor do texto o encaminhou por e-mail e autorizou expressamente o uso de sua redação para os fins da pesquisa.

No intuito de contribuir com a análise, esse texto foi alterado de forma a apresentar duas partes principais: (1) aquelas com as marcas de interlíngua — que é o texto originalmente escrito pelo surdo sem interferências —, na qual foram definidas duas áreas de interesse que são foco de análise; e (2) outra sem as marcas da interlíngua — que foi o trecho alterado para atender aos fins metodológicos da pesquisa — a terceira área de interesse. A alteração realizada em um trecho do texto teve como objetivo criar um registro próximo ao português padrão. A frase original, produzida pela pessoa surda, era: “mãe de Debora falou comigo mãe tem preocupado porque eu sou surdo ela sempre tomar cuidar eu”, a qual foi alterada para: “A mãe dela se preocupava comigo por eu ser surdo; ela sempre tomava conta de mim”. Isso foi necessário para que se pudesse analisar, a partir dos dados coletados, se haveria diferença de comportamento entre os dois grupos de profissionais ao trabalharem com o trecho alterado e para melhor avaliar as áreas de interesse destacadas em negrito (áreas de interesse 1 e 2), ou com sublinhado (área de interesse 3), no trecho, a seguir, selecionado para a realização do experimento.

“Sou doido pra comprar um carro antigo e Ford Galaxie LTD Landau 1978 cor Branco Navesca. Eu sonhei muito tempo foi 1984, eu tava escola instituto da criança, meu colega nome dela e Debora convidar aniversário dela mesmo na 5º feira de manhã 07:00hs todos meu colegas vamos na casa da Debora. A mãe dela se preocupava comigo por eu ser surdo; ela sempre tomava conta de mim. Tem 5 carros de professores mais um carro mãe de Debora eu sentar carro da mãe de Debora Ford Galaixe Landau cor Azul 1983 muito novo eu ver visual dentro carro muito maravilhosa estou vontade comprar meu pai”.

Esse texto foi considerado adequado por apresentar características prototípicas de um texto escrito por uma pessoa surda em uma interlíngua, ou seja, em um sistema linguístico complexo em que o aprendiz de uma L2 busca se comunicar por meio do uso da língua que está aprendendo (Tarone 1-7Tarone, E. Interlanguage. The Encyclopedia of Applied Linguistics, 1-7, 2018. Doi:10.1002/9781405198431.wbeal05
https://doi.org/10.1002/9781405198431.wb...
). É possível perceber que o texto ainda precisa ser traduzido/revisado para que possa ser considerado um texto suficientemente adequado aos padrões do português. A escolha desse trecho também se baseou no fato de ele ter 106 palavras, o que permite que, durante a execução do experimento nas condições idealizadas, todo o texto apareça na tela do computador, sem a necessidade de rolagem de tela, o que dificultaria a identificação e a análise dos pontos fixados pelos participantes.

O texto-fonte selecionado possui destaques nas áreas de interesse, as quais estão em negrito e correspondem a partes consideradas de mais difícil compreensão pelos participantes. O processo de tradução/revisão dessas partes foi comparado entre os grupos. A parte controle, em que foi feita uma alteração do texto para deixá-lo mais próximo ao português padrão, está sublinhada. Os destaques nas áreas de interesse não foram apresentados aos participantes durante a realização do experimento. Salienta-se que essas partes foram definidas, a priori, para que, na análise, esses pontos pudessem ser estudados de forma mais pormenorizada. Além da análise dos dados relativos à tarefa como um todo, serão analisadas a fixação ocular e o padrão de correção.

É importante explicar os motivos que levaram à seleção dessas áreas de interesse. É possível verificar certa recorrência nas características de textos escritos por surdos que têm o português como L2, sendo que algumas dessas questões podem ser consideradas no nível morfossintático. Alguns exemplos possíveis são incongruências no nível da ortografia, pontuação e acentuação, no uso de artigos, de preposições, nas concordâncias verbal e nominal e na organização sintática, como discutido por Miranda (95-105)Miranda, C. Reflexões sobre a escrita de pessoas surdas em língua portuguesa como uma interlíngua. In: DESLANDES, K. Reverberações: sobre formação docente e alteridades. Belo Horizonte: Editora Fino Trato, p. 95-105, 2017..

É comum que pessoas bilíngues (Libras e português), quando não conseguem compreender algum trecho de um texto escrito por uma pessoa surda, tentem realizar certo processo de tradução para a Libras, buscando sinalizar o trecho de mais difícil compreensão, o que nem sempre contribui para a compreensão do que foi produzido nessa interlíngua. Além dessas questões, nos textos escritos por surdos em português, também é possível encontrar questões que estão mais relacionadas com o nível pragmático-contextual. Nesses casos, é possível que alguns trechos do texto sejam considerados de mais difícil compreensão, por não contar com a construção clara do contexto em que uma ideia está sendo veiculada.

As duas áreas de interesse definidas, antes da realização do experimento — “[…] Eu sonhei muito tempo foi 1984 […]” e “[…] estou vontade comprar meu pai” — tem fortes marcas de uma interlíngua e, portanto, os sentidos esperados pelo autor podem não ser compreendidos pelo leitor. Nesses trechos, as palavras do português estão dispostas de forma a acompanhar uma estrutura específica, que consideramos característica do complexo sistema de uma interlíngua, que nesse caso envolve uma língua de sinais como L1 e uma língua oral escrita como L2. Por esse motivo, essas sentenças foram escolhidas como áreas de interesse.

4.3 O perfil dos participantes

O experimento foi realizado com dois revisores e dois TILSP. Todas as coletas foram feitas com o rastreador ocular Tobii TX300, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Mariana, Minas Gerais. Os participantes tinham, no momento da realização do experimento, o seguinte perfil:

  1. os dois TILSP tinham ensino superior completo, a Libras como L2, idade média de 29 anos, não tinham formação superior em Letras, a profissão de TILSP era a principal atividade profissional. Ambos já haviam realizado a atividade de tradução/revisão de textos escritos por pessoas surdas mais de dez vezes e produziam textos em português de uma a duas vezes por semana.

  2. os dois revisores tinham a idade média de 31,5 anos, um tinha o mestrado completo e o outro mestrado em curso, os dois já haviam ouvido falar sobre a Libras, mas a desconheciam em termos lexicais e gramaticais. Um deles atuava como revisor há, aproximadamente, dois anos, mas realizava a atividade raramente. Já o outro profissional atuava como revisor autônomo há, aproximadamente, sete anos e há um ano atuava como revisor em uma instituição. Por estar em uma instituição, esse segundo profissional relatou revisar, à época, entre 10 e 20 laudas por dia, cinco dias por semana.

4.4 Análise dos dados

Para este artigo, as análises concentraram-se nos dados de rastreamento ocular: (a) contagem de fixações; (b) tempo total das fixações; e (c) duração média das fixações. Essas medidas são apresentadas considerando a tarefa toda e, também, separadamente, considerando as áreas de interesse destacadas, correspondendo aos trechos selecionados como potencialmente elucidativos em relação aos graus de dificuldade/facilidade para cada um dos perfis de participantes do experimento.

Após a coleta de dados com os quatro participantes no experimento exploratório, procedeu-se à análise das métricas oferecidas pelo software Tobii Studio e dos mapas de calor gerados pelo mesmo software, sendo possível tecer algumas considerações preliminares sobre os resultados encontrados.

5. Análise das métricas oferecidas pelo rastreador ocular

Foram pré-estabelecidas, conforme os trechos a seguir, três áreas de interesse, sendo duas consideradas “problemas”, nas quais esperava-se que os participantes encontrariam mais dificuldade para fazer a tradução/revisão e uma área “controle”, onde foi feita uma alteração no texto, para que ficasse mais próximo da língua portuguesa padrão e, portanto, de fácil compreensão:

Problema 1: […] Eu sonhei muito tempo foi 1984. […]

Problema 2: […] Estou vontade comprar meu pai.

Controle: […] A mãe dela se preocupava comigo por eu ser surdo. […]

Inicialmente, analisando as médias da duração, a contagem e o tempo total das fixações, é possível inferir que, provavelmente, os TILSP despenderam mais esforço para traduzir/revisar o texto. Pelo fato de haver o registro de um número muito alto de fixações, a avaliação das variações entre os participantes seria uma medida confiável e potencialmente significativa (Tabela 01).

Tabela 01
Medidas de fixação ocular por participante em toda a tarefa experimental

Foram realizados Testes T não pareados entre os participantes e entre os grupos, com o objetivo de verificar se as diferenças entre os valores da duração média das fixações encontrados eram significativas. Considera-se que o valor encontrado no Teste T é significativo quando igual ou menor a 0,05, já que, dessa forma, há uma probabilidade de erro menor ou igual a 5% e de haver uma diferença significativa entre as métricas da variável em questão.

Tabela 02
Resultados do Teste T entre todos os participantes em relação à duração média das fixações na tarefa experimental

Com as informações obtidas, com a realização do Teste T, é possível afirmar que a variação da fixação ocular, durante a realização da tarefa, entre os participantes de um mesmo grupo não é significativa, ou seja, os participantes de uma mesma profissão não apresentam comportamentos significativamente distintos com base nos dados referentes à duração média das fixações.

Considerando os dados de rastreamento, em toda a tarefa, a partir dos Testes T, ou seja, quando é realizado o Teste considerando-se conjuntamente os valores dos indivíduos de cada grupo, pode-se verificar que também há uma diferença significativa entre o grupo de TILSP e os revisores, ou seja, segundo os dados, profissionais distintos têm comportamentos significativamente diferentes quando realizam a mesma tarefa, em relação aos valores da duração média das fixações.

Quando se realiza a comparação entre participantes de grupos diferentes, a variação é considerada significativa, o que quer dizer que — além de os grupos apresentarem comportamentos distintos, individualmente — essas diferenças são também verificadas quando consideramos as médias dos grupos. Isso aponta para a tendência de que participantes com formações e atuações profissionais diferentes realizam a tarefa em questão de forma significativamente distinta com relação à duração média da fixação ocular que, nesse caso, pode ser considerado um indício confiável de esforço cognitivo.

Tabela 03
Medidas de fixação ocular em todo o texto
Tabela 04
Resultados de Teste T entre os grupos em relação às médias de duração média de fixações na tarefa experimental

Analisando os dados, foi possível perceber que todos os participantes fixaram o olhar mais na parte inferior da tela, onde estavam sendo feitas as adequações no texto, como se pode observar na análise dos mapas de calor, a seguir. Para as análises das medidas de fixação ocular nas áreas de interesse, os dados considerados são a soma das fixações que ocorreram na parte superior e inferior da tela (indicadas, respectivamente, por “S+I”) nas três áreas de interesse problema 1, problema 2 e controle, referidas nas tabelas a seguir, respectivamente, por PROB 1, PROB 2 e CONT:

Tabela 05
Medidas de fixação no problema 1 – PROB 1 (S+I)
Tabela 06
Medidas de fixação no problema 2 – PROB 2 (S+I)
Tabela 07
Medidas de fixação no CONT (S+I)

Após a realização dos Testes T, os resultados do tempo total das fixações dos indivíduos foram comparados dois a dois. Ou seja, o tempo total de fixações de P01 foi comparado com o tempo total de fixação de todos os participantes, e assim por diante. Com relação à área de interesse problema 1 (PROB 1, parte superior e inferior, S + I), apenas o participante P01 apresentou um resultado significativamente diferente em relação aos de P02; os outros não apresentaram diferença significativa entre si, nem individualmente ou considerando os grupos (quando se considera os dados de P01 com P02 e R03 com R04).

Com relação à área de interesse problema 2 (PROB 2, parte superior e inferior, S + I), não há diferenças significativas nem entre os participantes, nem entre os grupos, mas somente em relação aos dados de P02. Na área de interesse controle (CONT, parte superior e inferior, S + I), foi encontrada uma diferença significativa para R04 — somente ele teve significativamente menos fixações em relação a todos os outros participantes — entre os demais, não houve qualquer diferença significativa.

Ao analisar os dados gerais de rastreamento ocular, ou seja, considerando tanto as áreas de interesse quanto as demais áreas do texto, é possível perceber que o Teste T, entre os dois grupos, demonstrou que há uma diferença significativa de tempo total de fixações, ao longo de toda a tarefa. Além disso, o teste mostrou que a diferença dentro dos grupos não é significativa, ou seja, aparentemente há uma tendência de convergência em relação à duração média de fixação dentro dos grupos.

Esses resultados demonstram que é possível considerar a representatividade dos dados obtidos, apesar de a amostra ser extremamente reduzida. Considerando isso, as análises, a seguir, foram realizadas a partir dos dados dos participantes organizados em grupos. Isso é decorrente do fato de que interessa o comportamento padrão médio dos grupos analisados, e não dos indivíduos separadamente.

6. Análise dos mapas de calor

Os mapas de calor são a representação dos pontos na tela em que o participante ou o grupo fixou o olhar por mais tempo. Nos pontos em que houve mais fixações, a representação é feita por uma cor mais forte (entre o laranja e o vermelho), enquanto onde a representação é feita com uma cor mais fraca (como o verde e o amarelo) houve um número menor de fixações. O tom da representação vai ficando cada vez mais intenso quanto maior o número de fixações realizadas em cada ponto da tela, indo do verde ao vermelho intenso, passando pelo amarelo e pelo laranja.

A escolha metodológica de deixar o texto disponível tanto na parte superior quanto na parte inferior da tela também interferiu nas análises dos mapas de calor, já que todos os participantes fixaram o olhar mais na parte de baixo da tela, onde as alterações estavam sendo feitas, o que fez com que o texto pudesse se movimentar. Por causa da movimentação do texto, não é possível afirmar com exatidão em qual palavra do texto o olhar ficou fixado por mais tempo, por haver a possibilidade de, em determinado momento, naquela parte da tela, estar posicionada uma certa palavra e, no decorrer do experimento, esta posição ser ocupada por outra palavra.

Apesar disso, teceu-se uma análise sobre os mapas de calor, já que estes indicam, possivelmente, os pontos de maior dificuldade no texto. Diante de questões como esta, é fundamental considerar a triangulação dos dados, que minimiza possíveis distorções nas análises, visto que se considera mais de uma fonte de dados e de diferentes medidas para uma mesma análise, como, por exemplo, quando se integra às análises dos mapas de calor as medidas de fixação ocular e os pontos de dificuldade relatados pelos participantes nos protocolos.

Figura 01
Mapa de calor do grupo de TILSP
Figura 02
Mapa de calor do grupo de revisores

Analisando-se os mapas de calor das duplas de profissionais sobrepostos, percebe-se que os TILSP tanto fixaram o olhar por mais tempo em toda a tela, quanto passaram mais tempo com o olhar fixado em determinados trechos do texto, quando comparados com os revisores. Esses trechos em que as duplas de profissionais fixaram o olhar por mais tempo são apresentados a seguir, sendo os excertos em negrito aqueles com maior contagem de fixações; os demais foram incluídos para que fosse possível compreender o contexto em que estão os trechos com maior fixação.

Fazendo-se uma análise dos pontos com cores mais fortes — o laranja e o vermelho —, foi possível identificar que os TILSP fixaram o olhar por mais tempo nos trechos seguintes (ordenados na seguinte sequência: do trecho com mais fixações para o trecho com menos fixações, de 1 para 3):

(1) […] eu sonhei muito tempo foi 1984; […] (2) […] A mãe dela se preocupava comigo por eu ser surdo; (3) […] estou vontade comprar meu pai.

Os trechos em que os revisores mais fixaram o olhar foram (ordenados na seguinte sequência: do trecho com mais fixações para o trecho com menos fixações, de 1 para 3):

(1) […] Ford Galaxie LTD Landau 1978 cor Branco Navesca; (2) […] eu sonhei muito tempo foi 1984; […] (3) […] todos meu colegas vamos na casa da Debora. […]

Sobre as áreas de interesse, previamente definidas, é importante observar que a frase “eu sonhei muito tempo foi 1984” foi a que apresentou mais fixações, conforme os mapas de calor, considerando-se conjuntamente os dois grupos de profissionais.

7. Discussão dos resultados

A análise dos dados de rastreamento ocular demonstra, em linhas gerais, que os TILSP tiveram maior dispêndio de esforço cognitivo ao realizar a tarefa, já que tanto a contagem de fixações (analisada a partir de uma das métricas oferecidas pelo rastreamento ocular) quanto a concentração de fixações em uma mesma área do texto (analisadas a partir dos mapas de calor) foram maiores para eles. Esse aspecto pode se relacionar não apenas ao fato de os TILSP estarem lidando mentalmente com duas línguas, ao se depararem com o texto em português com fortes marcas da Libras, mas, também, pela necessidade de estabelecerem correlações entre línguas de distintas modalidades na atribuição de significados em sua leitura do texto a ser traduzido/revisado.

Conforme já relatado, na área de interesse denominada PROB 1, P01 demonstrou comportamento significativamente diferente do comportamento de R03, enquanto, na área de interesse PROB 2, P02 teve um resultado significativamente diferente de todos os outros participantes, e, na área de interesse CONT, R04 teve um resultado significativamente diferente de todos os outros participantes. A partir do contraste desses resultados, foram levantados possíveis motivos para a ocorrência dessas diferenças de comportamento entre os participantes.

É interessante ressaltar que o mapa de calor demonstrou que as três regiões em que os TILSP tiveram mais fixação ocular foram exatamente onde estavam os trechos definidos previamente como aqueles em que os participantes poderiam apresentar maior dificuldade/facilidade de compreensão na tarefa de tradução/revisão, ou seja, as duas áreas consideradas problemas e a área controle, apresentadas na seção 5. Acredita-se que os TILSP tenham apresentado mais fixações oculares nessas áreas por estas demandarem maior reflexão sobre como traduzi-las/revisá-las dada as marcas de interlíngua (PROB 1 e PROB 2) que estavam nessas áreas. Os dados de rastreamento ocular demonstram maior dispêndio de esforço por parte dos TILSP tanto na tarefa como um todo quanto nas áreas de interesse, incluindo a área controle, mas tais dados são insuficientes para fazer generalizações, sendo necessários, para isso, não apenas um número maior de participantes, mas também a triangulação dos dados.

Os dados apresentados evidenciam que o dispêndio cognitivo na tarefa executada foi menor para os revisores que para os TILSP, o que, possivelmente, deve-se ao fato de que esses profissionais realizaram uma revisão com base em uma única língua, no caso o português escrito, cujo processamento se assemelha às características da pós-edição monolíngue. Por outro lado, os TILSP realizaram uma atividade que não se limita à língua na qual o texto em questão está escrito, visto que empregam seus conhecimentos da língua de sinais sobre a interlíngua com a qual estão lidando e, de certo modo, realizam uma atividade mais próxima de uma pós-edição bilíngue. Apesar de não se discutir a respeito da qualidade das traduções/revisões realizadas pelos participantes, pode-se afirmar que a tarefa desempenhada pelos revisores é cognitivamente distinta daquela realizada pelos TILSP, no que tange ao esforço despendido.

Outro aspecto interessante que pode ser observado nos dados de rastreamento ocular refere-se ao comportamento de cada grupo de profissionais. Diante da tela, horizontalmente dividida, percebe-se que os revisores concentraram sua atenção na parte inferior da tela onde estavam revisando o texto, não se atendo muito ao texto apresentado na parte superior. Por outro lado, os TILSP comportam-se de modo próximo ao que se faz num processo tradutório, em que há um texto-fonte numa língua que precisa ser reformulado em outra. Portanto, os TILSP dividiram um pouco mais sua atenção entre as partes superior e inferior da tela, como se estivessem lidando com um texto-fonte na construção de seu texto-alvo. Novamente, pode-se inferir que a atividade realizada pelos revisores e pelos TILSP também se diferenciaria em termos de comportamento, durante sua execução, e de dispêndio de esforço cognitivo.

8. Considerações finais

Após essa análise preliminar dos dados de rastreamento ocular, podemos iniciar uma reflexão crítica no meio acadêmico sobre como a atividade de tradução/revisão ocorre e quais seriam os fatores que podem contribuir para a maior ou menor adequação dos textos produzidos nessas circunstâncias. Essa reflexão é importante, pois estudos como este podem apontar a formação indicada para o profissional que realiza essa atividade, as possíveis metodologias de formação especializada e, inclusive, se a atividade seria ou não uma atribuição do TILSP.

No que se refere à denominação da atividade, pode-se inferir que, dependendo de quem a realiza, ela poderia ser chamada de revisão, subdividindo-se em monolíngue e bilíngue, ou mesmo de tradução, subdividindo-se em intralingual e interlingual. Entretanto, temos que esse é um aspecto demasiadamente complexo, visto estarmos lidando com a revisão de um texto em uma interlíngua. Nesse sentido, insiste-se em ainda não realizar uma proposição para a denominação da atividade, optando por considerá-la a partir da possível dualidade tradução/revisão como foi feito desde o início deste artigo.

Portanto, os dados de rastreamento ocular permitem afirmar que, embora esteja se fazendo referência a uma mesma tarefa (i.e., “traduzir/revisar” o texto produzido por um surdo sinalizante de Libras em sua L2, nesse caso o português escrito), o perfil do profissional que a realizará determinará o caráter dessa atividade, aproximando-a ou a distanciando da revisão monolíngue ou da revisão bilíngue ou mesmo da tradução intralingual ou da tradução interlingual. Nesse sentido, é possível inferir que: (1) a atividade, ao ser desempenhada pelos TILSP e pelos revisores, assume uma natureza distinta e, por sua vez, implica demandas cognitivas e comportamentais diferentes; e (2) o processo de revisão monolíngue, possivelmente, tem uma demanda mental menor que o processo de revisão bilíngue, já que este último implica processamentos cognitivos necessários para se operar com duas línguas diferentes.

Diante dessas conclusões, é relevante destacar que esse estudo ainda é inicial e, portanto, tem suas limitações. Para conclusões mais generalizáveis, faz-se indispensável a ampliação do número de participantes, assim como da inclusão de outros grupos experimentais, que funcionassem, por exemplo, como grupos controle (i.e., não intérpretes, não revisores e bilíngues; não intérpretes, não revisores e não bilíngues). Assim, seria possível verificar se o efeito observado, neste estudo, se daria em decorrência das diferenças entre uma revisão bilíngue e uma revisão monolíngue, ou ainda se ocorreria devido à questão da diferença de comportamento entre revisores profissionais e “não revisores profissionais”, nesse caso os TILSP.

Por fim, é necessário que outras pesquisas sejam desenvolvidas sobre o tema, já que o aumento e o aprofundamento de estudos sobre o assunto podem significar uma melhoria na qualificação dos profissionais envolvidos e, possivelmente, um aumento de qualidade e confiabilidade nos textos escritos por surdos que passam pelo processo de tradução/revisão. Além disso, identificar as características de como a atividade vem sendo feita pode servir para que, posteriormente, sejam propostos métodos de como fazer essa tradução/revisão, com o intuito de se criarem metodologias ou técnicas para a formação dos profissionais que se envolverão nesse tipo de trabalho, sejam TILSP, revisores de português ou mesmo outros profissionais que ainda não estão sendo considerados. Estudar essa atividade singular e aprofundar as reflexões sobre o tema é importante por ela poder figurar como uma fonte de contribuições para áreas adjacentes, como os estudos processuais da tradução e os estudos de interlíngua.

  • 1
    Foi feita a opção por usar a expressão tradução/revisão para que possam ser lidas as opções de a atividade ser: (i) apenas uma tradução; (ii) apenas uma revisão; ou (iii) uma atividade que congregue a tradução e a revisão.
  • 2
    https://febrapils.org.br/valoresdereferencia/. Acesso em: 15 de setembro de 2021.
  • 3
    Os guias-intérpretes realizam o trabalho de guia-interpretação para pessoas surdocegas. Pela proximidade do seu trabalho com o dos TILSP, a Federação também os representa. Entretanto, nesta pesquisa, a discussão é baseada na atuação de TILSP, e não na dos guias-intérpretes.
  • 4
    Essa não é uma atividade feita por todos os TILSP, mas é comum que demandas desse tipo cheguem, principalmente, àqueles que atuam na educação, inclusive no ensino superior.
  • 5
    Neste artigo, se emprega o conceito de semelhança interpretativa proposto por Ernest Gutt (36-46)Gutt, E. A. Translation and relevance: cognition and context. Manchester: St. Jerome, 2000., com base na Teoria da Relevância de Sperber e WilsonSperber, D.; Wilson, D. Relevância: Comunicação e Cognição. Trad.: ALVES, Helen Santos. Editora: Fundação CalousteGulbenkian. Lisboa. 2001..
  • 6
    Apesar de ter sido encontrada essa forma de nomear a atividade, considerou-se que “transcrição” envolve habilidades e processos distintos da tradução e da revisão.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    Aug-Dec 2021
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