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DESAFIOS TRADUTÓRIOS EM UM RELATO DE VIAGEM DO SÉCULO XVI, DE TORIBIO DE ORTIGUERA

TRANSLATION CHALLENGES IN TORIBIO DE ORTIGUERA’S SIXTEENTH CENTURY TRAVEL ACCOUNT

Resumo

O espanhol Toribio de Ortiguera, que viveu no Peru por mais de 20 anos, teve a incumbência de narrar acontecimentos relevantes ocorridos na região amazônica, principalmente no que diz respeito ao percurso do rio Amazonas, em expedições de Orellana e Orsúa. Mas, ele o faz a partir da memória dos que estiveram nessas expedições. Sendo assim, neste artigo, comentamos a tradução realizada por nós, no par linguístico ES-PO/BR, do capítulo 43 da crônica de viagem Jornada del río Marañón (1581 a 1586), de Toribio de Ortiguera, que trata de descrever a importância do rio Marañón, atual rio Amazonas. Buscamos nos ater em questões tradutórias de topônimos, fauna, flora, envolvendo termos das línguas e culturas indígenas e das línguas e culturas ibéricas – português e espanhol, apoiando-nos em documentos de História, na cartografia da época, em dicionários antigos, entre outros, já que se trata de um texto do século XVI.

Palavras-chave
Toribio de Ortiguera; Tradução Comentada; Crônica; Culturas Indígenas

Abstract

Spanish chronicler Toribio de Ortiguera, who lived in Peru for more than 20 years, was in charge of narrating relevant events that took place in the Amazon region, especially with regard to the course of the Amazon River, in the Expeditions of Orellana and Orsúa. But he does so from the memory of those who took part in these expeditions. In this paper, we comment on our translation of chapter 43 of Ortiguera’s Jornada del río Marañón (1581-1586), which describes the importance of the Marañón River, currently the Amazon River. We seek to focus on translation issues such as toponyms, fauna, flora, and terms from indigenous and Iberian (Portuguese and Spanish) languages and cultures, relying on historical documents, cartography of the time, ancient dictionaries, among others, as it is a text from the sixteenth century.

Keywords
Toribio de Ortiguera; Commented Translation; Chronic; Indigenous Cultures

Introdução

A maioria das crônicas de viagem geralmente sugere ao leitor que o narrador foi protagonista dos eventos narrados, enredando com a arte das letras fatos vivenciados, mas não é exatamente o que ocorreu com Toribio de Ortiguera, em sua crônica de viagem Jornada del río Marañón.

O escritor montanhês, quando veio para a América, assumiu o comando da cidade de Quito, com o privilegiado cargo de alcaide. Por ser um letrado, posição bastante difícil entre os conquistadores naquele período histórico, Ortiguera assumiu, juntamente com outros poucos espanhóis de sua época, a tarefa de narrar acontecimentos relevantes que haviam acontecidos na região amazônica, principalmente no percurso do rio Amazonas, nas famigeradas expedições de Orellana e Orsúa. Mas Ortiguera narra a partir da memória de outros, os que estiveram nessas expedições.

Além de contextualizarmos historicamente a obra de Ortiguera, trouxemos uma pequena análise cartográfica, destacando mapas desenhados antes das expedições de Orellana e Orsúa e outros mapas depois dessas expedições.

Para traduzir e comentar nossa tradução escolhemos o capítulo 43 da supracitada crônica. A temática toda desse capítulo está voltada para a descrição e importância do rio Marañón, o atual rio Amazonas. Os comentários da tradução trazem questões tradutórias de topônimos, fauna, flora, envolvendo termos das línguas e culturas indígenas (quechua, taino, tupi…) e das línguas e culturas ibéricas (português e espanhol).

A especial atenção dada a esta pesquisa é a tarefa tradutória na qual nos debruçamos e os comentários da tradução que realizamos. A leitura de um texto do século XVI sobre a Amazônia, num discurso hispano-peninsular, nos colocou em constante reflexão e debate ao depararmos com a Amazônia que hoje conhecemos e concebemos. Foi de suma importância recorrermos à História, à Cartografia, aos dicionários, obras literárias, entre outros saberes que nos ajudaram a compreender a Amazônia no discurso de Toribio de Ortiguera. É o nosso papel de tradutoras visibilizando um texto do século XVI para circular nas pesquisas acadêmicas brasileiras do século XXI.

Toribio de Ortiguera e sua obra Jornada del Río Marañon (1581 a 1586)

Toribio de Ortiguera, natural de Cantábria, Espanha, foi alcaide da cidade de Quito, e viveu 24 anos na região peruana, de 1561 a 1585. Escreveu Jornada del Río Marañón, con todo lo acaecido en ella y otras cosas notables dignas de ser sabidas, acaecidas en las indias occidentales. Para David Ortiz (2015, p. 352)Ortiz, David Leonardo Espitia. Las cartas de relación como antecedente genérico de la narrativa histórica en las crónicas de Indias. 2015. 440 f. Tese (Doutorado em Teoría de la Literatura y Literatura Comparada), Universidad Autónoma de Barcelona, Barcelona, 2015. Jornada del río Marañón foi escrita em dois períodos: primeiro em 1581 e depois em 1586.

Essa obra é encontrada em três publicações, a primeira de 1909 (aqui utilizada), que está no segundo volume da obra Historiadores de Indias, organizada por Manuel Serrano y Sanz; a segunda de 1968, no volume 216 da coleção Biblioteca de Autores Españoles, com prefácio de Hernández Sánchez-Barba; e a terceira de Elena Mampel Gonzáles y Neus Escandell Tur, em 1981. As duas últimas edições foram publicadas a partir da edição de 1909.

Jornada del Río Marañón é uma crônica de viagem sobre os mais recentes e importantes acontecimentos no percurso do rio Amazonas em meados do século XVI, como o próprio autor afirma no texto: “determiné escrebir algunas de las cosas más notables que en mi tiempo sucedieron en aquellas partes” (Ortiguera, 1909, p. 305). Entre esses acontecimentos está a expedição de Francisco de Orellana (1541-1542), a trágica expedição de Pedro de Orsúa e o assassinato deste por Lope de Aguirre na Jornada de Omagua y El Dorado (1560-1561), as rebeliões de Lope de Aguirre no reino de Tierra Firme de las Indias (1561), de Rodrigo Mendez e Francisco de Santistéban, no Panamá (1562), além de um capítulo sobre a erupção de um vulcão em Quito.

Não pudemos deixar de notar que a crônica é dedicada, na época, a Felipe III, ainda príncipe e herdeiro do trono espanhol. Mas o que mais chama a atenção é a declaração do próprio Ortiguera ao seu leitor explicando que não presenciou a expedição de Orellana e nem a de Orsúa. Essa declaração se encontra no início da obra, intitulada “Al discreto lector”:

[…] y ansí tomé la mano procurándome informar de munchas personas que se hallaron presentes en la lamentable jornada del rio Marañón, […] que cierto que se puede creer que he puesto en ello muy particular diligencia y procurando memoriales de otros que entendí se habian hallado en ello, por no los haber podido ver por vista de ojos; […]

(Ortiguera, 1909, p. 306).

Ortiguera precisou reunir as memórias e escritos de suas testemunhas oculares, como Juan Pérez de Zurita, que foi soldado de Pedro de Munguía, e principalmente de Pedraria de Almesto, que participou da expedição de Orsúa. Mas tanto as rebeliões de Lope de Aguirre, em 1561, e de Rodrigo Mendez e Francisco de Santistéban, em 1562, no Panamá, quanto a erupção do vulcão perto de Quito foram presenciadas pelo autor, e este teve sólida participação no sufocamento das rebeliões, já que era alcaide de Quito naquele momento, como relata em seu texto: “[...] y por haber yo sido vecino della más de 23 años, en los cuales he visto ser verdad todo lo dicho” (1909, p. 327).

Quando Ortiguera narra as duas expedições que não foi testemunha ocular, temos uma crônica de acontecimentos; mas quando percebemos sua voz na narrativa, ao tratar das rebeliões e do vulcão em erupção, estamos diante de um relatório de trabalho, já que escreve para a coroa espanhola e para o futuro rei de Espanha, Felipe III, para quem presta serviço (Ortiz, 2015Ortiz, David Leonardo Espitia. Las cartas de relación como antecedente genérico de la narrativa histórica en las crónicas de Indias. 2015. 440 f. Tese (Doutorado em Teoría de la Literatura y Literatura Comparada), Universidad Autónoma de Barcelona, Barcelona, 2015., p. 353).

Para compreender melhor o topônimo Marañón ou Maranhão, o atual rio Amazonas, o padre português João Daniel (1722-1776), jesuíta e missionário que atuou na região do Tapajós no século XVIII, em sua obra Tesouro descoberto no máximo do rio Amazonas, refletiu sobre os três topônimos para o mesmo rio: Orellana, Amazonas e Maranhão. Rio Orelhana se deve à homenagem ao próprio comandante da expedição, Francisco de Orellana; rio Amazonas por causa do encontro de Orellana com as supostas indígenas guerreiras, denominadas de Amazonas; e o terceiro topônimo, nas próprias palavras do padre:

Foi Pizarro com aqueles poucos companheiros que escaparam, recebidos com muitos vivas, e festas, como homens ressuscitados, porque já os supunham todos mortos; e perguntados pelo que tinham visto, e observado, e que notícias traziam do lago Dourado, e da rica cidade Mano? Respondiam que tudo eram maranhas, e mais maranhas, queriam dizer que tudo eram matos, lagos, pântanos, voltas, rodeios, e labirintos, por onde tinham andado embaralhados. Foi-se divulgando pouco a pouco o nome maranhas, que até ficou com alguma mudança perpetuado no rio o nome Maranhão: e assim o chamam os castelhanos propriamente desde o Pongo até às suas cabeceiras, e com o mesmo nome o descrevem os historiadores

(Daniel, 2004Daniel, João. Tesouro Descoberto no Máximo Rio das Amazonas. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004., p. 50).

Rabelo (2020)Rabelo, Lucas Montalvão. “A invenção do rio Amazonas na cartografia (1540-1560)”. Revista Terra Brasilis (nova série), 14, p. 1-24 2020. DOI: https://doi.org/10.4000/terrabrasilis.7443
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ressalta que a representação do rio Amazonas nas cartografias a partir do século XVI, além de ampliar uma experiência artística nas cartas geográficas, também contextualizou historicamente “uma interpretação baseada no processo de invenção da América” (2020, p. 01). E acrescenta que os mapas históricos do rio Amazonas ou da América do Sul, dando destaque ao rio Amazonas, foi uma forma dos europeus assimilarem parte do continente americano aos seus pensamentos, no início da Modernidade (2020, p. 01-02).

Como exemplo, primeiramente apresentamos o mapa (parte) do Islario general de todas las islas del mundo, de Alonso de Santa Cruz (1539), antes da expedição de Orellana, em que o rio Marañón está na parte superior/direita da figura 1.

Figura 1
Islario general de todas las islas del mundo, de Alonso de Santa Cruz (1539)

Já na figura 2, temos o mapa da América do Sul (parte), de Diogo Homem (1558), feito depois das informações obtidas da expedição de Orellana, com o Rio Amazonas intensamente serpenteado, com a foz representada pela cabeça de uma cobra.

Figura 2
Mapa da América do Sul, de Diogo Homem f.24 (1558)

E na figura 3, apresentamos o clássico mapa do rio Amazonas com seus afluentes, de Quito até a sua foz, feito por Benito de Acosta, em 1638. É notório que o europeu já tinha um conhecimento mais aprimorado do rio Amazonas.

Figura 3
Mapa do rio Amazonas, por Benito de Acosta (1638)

Dado o contexto histórico e cartográfico do rio Amazonas, esta pesquisa volta-se para a tradução e comentários da tradução do capítulo 43 (XLIII) da obra Jornada del río Marañón, de Toribio de Ortiguera, para o português brasileiro, capítulo este dedicado no seu todo em localizar, descrever e comentar particularidades desse grande rio, desde a sua nascente até a sua foz. É importante ressaltar, novamente, que utilizamos a primeira publicação da obra para realizar a tradução, de 1909.

Comentários da tradução de Jornada do Rio Marañón: capítulo 43

Em se tratando de um texto escrito no século XVI, e que relata uma viagem de exploração pelo rio Marañón, na Amazônia, é comum e já esperado que nós, tradutoras, sejamos defrontadas por uma série de desafios tradutórios, não só associados à antiguidade do léxico – na narrativa de Ortiguera – por vezes em desuso, desconhecido ou de complexa pesquisa, como também relacionados ao próprio ambiente da Amazônia, com suas particularidades no que se refere à riqueza da fauna e da flora e aos topônimos. Mas, estando de acordo com o apontado por Torres (2021)Torres, Marie Hélène Catherine. “Tradução e ética: a problemática da retroconversão”. Cadernos de Tradução. 41, Número especial: Traduzindo a Amazônia, p. 174-184, 2021. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e84952
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, com relação a questão ética, também acreditamos que “o papel de um(a) tradutor(a) é, primeiramente, o de ter uma certa ética com a tradução, o texto traduzido devendo ‘reproduzir’ ambiente, estilo, sentidos, poeticidade, dramaticidade etc. em relação ao texto de partida” (Torres, 2021Torres, Marie Hélène Catherine. “Tradução e ética: a problemática da retroconversão”. Cadernos de Tradução. 41, Número especial: Traduzindo a Amazônia, p. 174-184, 2021. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e84952
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, p. 178).

Sendo assim, exemplifica-se, a seguir, por meio de quadros – dispostos em duas partes: lado esquerdo contendo o texto de partida e lado direito o de chegada – uma seleção de desafios “significativos”, com algumas palavras destacadas, que envolvem a tradução, seguidos dos nossos comentários que, em alguns momentos, demandaram reiteradas e produtivas discussões e reflexões, principalmente por tratar-se de uma tradução em parceria, realizada por uma paraense e uma catarinense.

No quadro 1, Ortiguera, referindo-se a uma segunda viagem – anterior a sua – do explorador e conquistador espanhol, Francisco de Orellana, na época da colonização hispânica da América, menciona que este havia regressado naquele momento como Adelantado para conquistar e povoar o grande rio. Em uma primeira leitura, pensamos tratar-se do verbo adelantar, para logo em seguida perceber que poderia se tratar de um título, em função da letra inicial estar em maiúscula e por se referir a Orellana.

Quadro 1
O termo Adelantado

Dessa forma, após pesquisa, percebemos tratar-se de um título concedido a Francisco de Orellana pelo imperador Carlos V, em fevereiro de 1544, como prêmio pela conquista. Com esse título, segundo o historiador Aleks Palitot,1 1 Os exploradores da Amazônia. in News Rondonia, 08/03/2015. Acesso em 18/02/2022. Disponível em: https://www.newsrondonia.com.br/noticia/54337-os-exploradores-da-amazonia. Orellana transformou-se em governador e capitão da Nova Andaluzia, com o direito de colonizar, com recursos próprios, a Amazônia. O dicionário de Covarrubias (1611, p. 27,2)Covarrubias, Sebastián de. Tesoro de la lengua castellana o española. Madrid, Luis Sánchez, 1611. Real Academia Española - Nuevo Tesoro Lexicográfico de la Lengua Española. Disponível em: https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUIMenuNtlle?cmd=Lema&sec=1.0.0.0.0. Acesso em: 23 mar. 2022.
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, no NTLLE,2 2 O Nuevo tesoro lexicográfico de la lengua española (NTLLE) reúne uma ampla seleção de obras que ao longo dos últimos quinhentos anos coletaram, definiram e consolidaram a herança lexical da língua espanhola. O NTLLE é um dicionário de dicionários, que contém boa parte do léxico da língua espanhola desde o século XV até o XX, como é coletado, sistematizado, definido e inventariado pelos mais importantes repertórios lexicográficos, monolíngues ou bilíngues, dedicados à língua espanhola. Disponível em https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUILoginNtlle. assim define Adelantado: “Fue antiguamente en Castilla el gobernador de una provincia con su audiencia para sentenciar y definir pleitos. [...] hombre metido adelante en algún hecho señalado por mandado del Rey [...]”. O termo recebeu na tradução uma nota de rodapé explicativa.

No quadro 2, o cronista – Ortiguera – está relatando as vantagens de se descobrir e povoar essa terra e o quanto ela pode ser produtiva e abundante, em vários setores (inclusive no religioso: para que a santa fé católica seja pregada e plantada).

Quadro 2
ferias/dádivas

O vocábulo ferias parece coincidir com as “feiras”, do português, quando visualizamos apenas o que está antes da palavra: “para criar muito gado e para outras grandes feiras”. No entanto, o que segue depois do termo nos leva a refletir que não deve ser isso: “para outras grandes feiras que o tempo e a terra revelariam”. O dicionário Academia Autoridades (1732, p. 736,1) nos traz três acepções para feria – qualquer dia da semana, exceto sábado e domingo; a concorrência de mercadores e negociantes em um dia e local designados para comprar e trocar roupas, gado, frutas ou outros bens necessários ao uso comum; descanso e suspensão do trabalho – e uma para ferias, que acreditamos se aplica melhor ao contexto, porque são chamados de presentes ou dádivas, que são feitos para o momento em que há uma feira em algum lugar.

No que se refere a alguns animais (no quadro 3), tivemos alguma dificuldade para traduzir paujies, que são aves grandes, do porte dos perus, com plumagens pretas e bicos vermelhos ou amarelos, conhecidos no Brasil como mutuns – sua carne é bastante apreciada. Paujil é um nome onomatopaico, já que o som que a ave emite é agudo e lembra a sua pronúncia na língua espanhola.

Quadro 3
animais

A outra palavra que tivemos dificuldade para traduzir foi guaratinajes. Mas, após um percurso entre os vários dicionários que utilizamos na tradução do capítulo, descobrimos que guaratinajes são as nossas conhecidas pacas. O nome científico Agouti paca é o animal paca no Brasil e majás/samaño/picuro/guatín no Peru, dependendo da região (CHIRIF, 2016Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. 1ª edição. Lima (Perú): Lluvia Editores Región Loreto; Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., p. 175); e Dasyprocta fulliginosa, que é a nossa conhecida cutia no Brasil, e añuje/agutí/cutpe/misho são os possíveis nomes dados em cada região peruana (CHIRIF, 2016Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. 1ª edição. Lima (Perú): Lluvia Editores Región Loreto; Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., p. 56). Porém no Diccionario de la Real Academia online há uma confusão com essas duas espécies de roedores: lá encontramos as entradas picure e agutí com o mesmo nome científico da cutia (Dasyprocta). Assim, entendemos que o correto seja o fornecido pelo Diccionario Amazónico (2016), pois Alberto Chirif é um antropólogo peruano radicado em Iquitos e pesquisador renomado das várias culturas indígenas da região amazônica.

No quadro 4, em que há uma relação de frutas tradicionais da região amazônica, tecemos comentários sobre três delas – mamey, hobo e paro – que demandaram mais pesquisa e que causaram dúvidas.

Quadro 4
frutas

Como primeira busca para mamey, no Nuevo Tesoro Lexicográfico de la Lengua Española, o Dicionário de 1803, Academia usual (p. 531,3), diz tratar-se de um fruto das Índias semelhante ao marmelo em sabor e polpa, e ao pêssego em tamanho e forma. Já o dicionário de Vicente Salvá (1846, p. 684,1) ressalta que é uma árvore da América, bem corpulenta, com folhas ovais e lisas, e resplandecentes ramos ásperos e frutos quase redondos, carnudos, com sabor a pêssego. Diz ele tratar-se da Mammea americana, ou seja, do abricó-do-pará. As descrições anteriores da fruta se parecem com a de John Steves, em A new Spanish and English Dictionary (1706, p. 249,3), que acrescenta a ela mais algumas características: é uma fruta do oeste da Índia de tamanho maior que um pêssego grande, com uma ou duas sementes, casca dura, com a polpa mais dura que a do pêssego, algumas são doces e outras um pouco azedas; são agradáveis para comer e fazer conserva.

No entanto, mamey, segundo o Diccionario Amazónico de Alberto Chirif (2016, p. 177)Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. 1ª edição. Lima (Perú): Lluvia Editores Región Loreto; Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., é “del taíno” – ou seja, dos povos ameríndios de língua Arawak que habitavam as Antilhas, ou em relação a elas – e que alude a uma espécie originária da Malásia e não àquela conhecida como tal nos Andes e na costa; e, ao final, sem fornecer características da fruta, sugere ver o verbete pomarrosa, provavelmente por esta ser originária também da Malásia: esta fruta, cujo nome em latim é syzygium malaccense, tudo indica tratar-se do jambo. Assim, esse verbete acabou levantando dúvidas e nos confundindo um pouco se mamey se referia a “jambo” ou “abricó-do-pará”. Mas, através das características fornecidas das duas frutas – a primeira é menor que a segunda e não possui a casca dura, apenas o formato da segunda é redondo –, chegamos a conclusão de que se tratava do “abricó-do-pará”.

Quanto à segunda fruta, hobo, o dicionário de Esteban de Terreros y Pando (G-O) (1787, p. 298,1), em NTLLE, menciona que é do francês “hobo, bovo. Lat. Hobus indica”, árvore da América, espécie de ameixeira. O Academia Usual, também do NTLLE, aponta que é o mesmo que jobo, “árbol americano de la familia de las terebintáceas, con hojas alternas, compuestas de un número impar de hojuelas aovadas, puntiagudas y lustrosas, flores polígamas en panojas, y fruto amarillo parecido a la ciruela” (1899, p. 531,3). O dicionário atual da Real Academia, oferece o mesmo verbete (jobo, de hobo), porém diz que é da família das anacardiaceas.3 3 Diccionario de la Lengua Española. Real Academia Española. Disponível em: https://dle.rae.es/jobo. Acesso em 26/03/2022. “Según Sarmiento (1986), y Hernandez (1997), en los departamentos de Amazonas, Caqueta, Cundinamarca, Choco, Huila, Meta, Santander, Tolima, Valle y Antioquía su denominación es jobo” (Navarra-Monterroza, 2003Navarra-Monterroza F. Revisión general de los aspectos botánicos y productivos de Spondias mombin (Jobo). Tesis de grado. Facultad de Ciencias Agropecuarias. Universidad de Sucre. Sincelejo, Colombia. 2003., p. 13).

No entanto, para nós, ainda pairava uma certa dúvida se se tratava do “caju” (nome científico: Anacardium occidentale; família: Anacardiaceae) (Chirif, 2016Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. 1ª edição. Lima (Perú): Lluvia Editores Región Loreto; Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., p. 80) ou do “taperebá/cajá” (nome científico: Spondias dulcis, Spondias mombin; família: Anacardiaceae) (CHIRIF, 2016Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. 1ª edição. Lima (Perú): Lluvia Editores Región Loreto; Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., p. 276), apesar do verbete do Academia Usual, apontar para o tamanho da fruta “parecido com a ameixa-preta”, o que nos fazia pender para o “cajá”. Mas, o que acabou por encerrar definitivamente a escolha foi encontrar a informação de que cajá tem os seguintes nomes populares em outros países: ubos (em Bolívia e Peru), hobo (no Equador), jobo (no México), ciruelo hobo (na Colômbia), e ciruelo de huesso (na Venezuela).4 4 Compêndio Online Gerson Luiz Lopes. Laboratório de Manejo Florestal. Disponível em: https://sites.unicentro.br/wp/manejoflorestal/11792-2/. Acesso em 29/03/2022.

No que se refere à tradução de paro (quadro 4), a fruta, com esta mesma escrita, não foi encontrada. Entretanto, algumas possibilidades, decorrentes das pesquisas realizadas, foram levantadas. O dicionário Academia Autoridades (O-R), em NTLLE, refere-se a uma ave pequena (1737, p. 133,1). E o Diccionario Amazónico (CHIRIF, 2016Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. 1ª edição. Lima (Perú): Lluvia Editores Región Loreto; Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., p. 210) diz que paro é “nombre del Ucayali en lengua shipiba”. Mas, no dicionário Shipibo-Español,5 5 Pueblos originarios. Lengua. Diccionario Shipibo-Español. Fr. Agustín Alemany. Disponível em: https://pueblosoriginarios.com/lenguas/shipibo.php. Acesso em 26/03/2022. a palavra não apresenta nenhuma entrada.

Assim, tentamos buscar nos dicionários, por aproximação gráfica, algumas palavras. Uma possibilidade encontrada, mas logo descartada, foi poro (Mapuche), que en espanhol é puerro (Wipümzugulwe, 2019Wipümzugulwe, Mapuche. Diccionario de la lengua Mapuche. Chile: Valus Impresora Ltda, 2019. Disponível em: https://asuntosindigenas.ministeriodesarrollosocial.gob.cl/storage/docs/diccionarios/Diccionario_mapudungun.pdf. Acesso em 27 mar. 2022.
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, p. 58) e, em português, alho-poró. Encontramos paru paru: “(Del quechua paru, algo seco y dorado, sea por efecto del fuego u otra causa). Cul. m. Plátano o yuca bien asados o maíz que ha adquirido color dorado al secarse” (Chirif, 2016Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. 1ª edição. Lima (Perú): Lluvia Editores Región Loreto; Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., p. 211). A partir desse verbete, pensamos que poderia tratar-se da “banana”. Seguimos pesquisando e encontramos, por fim, no Diccionario de la lengua Quechua (Taqe, 2019Taqe, Qheswa Simi. Diccionario de la lengua Quechua. Chile: Impresora Valus Ltda, 2019. Disponível em: https://asuntosindigenas.ministeriodesarrollosocial.gob.cl/storage/docs/diccionarios/Diccionario_quechua.pdf. Acesso em 29 mar. 2022.
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, p. 72), uma possibilidade que nos pareceu mais plausível: puru puru e tintin que significa granadilla (em espanhol): maracujá, maracujá-granadilha e maracujá doce, em português (nome científico Passiflora ligularis). No Diccionario práctico de gastronomía y salud (Jordá, 2011Jordá, Miguel J. Diccionario práctico de gastronomía y salud. Madrid: Diaz de Santos, 2011., p. 534), granadilla é uma fruta tropical de origem andina-amazônica, ainda que haja autores que situam sua origem nas ladeiras do Kilimanjaro, na África tropical, e até na península de Yucatán. Segundo, Martins (2018, p. 247)Martins, Sabrina de Cássia. “A variação denominativa na terminologia da fauna e da flora: (as)simetrias linguístico-culturais”. Caderno de Tradução, 38(2), p. 241-262, 2018. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2018v38n2p241
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, “aceitar a existência de variantes em terminologia implica reconhecer que o discurso especializado é dinâmico e que está sujeito a todas as influências sócio-históricas e culturais dispostas pela sociedade que o emprega”.

A seguir, nos quadros de 5 a 8, tratamos da minuciosa pesquisa – histórica e geográfica – e da tradução dos seguintes topônimos: cabo del Pasao, Apurima, Machifaro e los Caperuzos, compartilhando com o que aponta Torres (2021, p. 178): “A questão da tradução de topônimos pode ser mais complexa do que parece”.

Quadro 5
cabo del Pasao

Com relação ao quadro 5, Ortiguera, referindo-se à extensão do rio Marañón, fornece-nos algumas informações sobre este – “desde o Cabo del Pasao, no Mar do Sul” (hoje Oceano Pacífico), “até a sua entrada, no Mar do Norte” (hoje Oceano Atlântico) –, que nos permite localizar o Cabo del Pasao (atual Cabo Pasado) na costa equatoriana, província de Manabi. Entretanto, na tradução, decidimos manter a mesma escrita, no sentido de deixar visíveis algumas marcas do texto, próprias de uma época e de uma região. Valverde-Lasso comenta em sua pesquisa que:

Um dos mapas mais antigos que contém detalhes da costa equatoriana e que reúne o conhecimento dos descobridores e navegadores do século XVI é uma gravura em chapa de cobre atribuída a Willen Jansz Blaeuw (1571-1638), que poucos anos antes de sua morte, em 1635, publicou um atlas em dois volumes que serviram de base para publicações posteriores por cartógrafos. O mapa reflete uma grande abundância de nomes Manabi: caraques, quixmies e topônimos de lugares e cidades: Sierra de Quaque, Cabo del Pasao; e Bahía de los Caraques; todas elas nas quais o Grupo Missioneiro realizou sua pastoral6 6 Texto fonte: Uno de los mapas más antiguos en el que figuran detalles de la costa ecuatoriana y que recopila los conocimientos de los descubridores y navegantes del siglo XVI, es una impresión en plancha de cobre atribuida a Willen Jansz Blaeuw (1571-1638), quién sólo unos años antes de su muerte, en 1635 publicó un atlas en dos volúmenes que sirvieron de base para publicaciones posteriores de cartógrafos. El mapa refleja una gran abundancia de nombres manabitas: caraques, quixmies y toponímicos de lugares y ciudades: Sierra de Quaque, Cabo del Pasao; y Bahía de los Caraques; todas ellas en las que el Grupo Misionero realizó su pastoral misionera.

(Valverde-Lasso, 2016Valverde-Lasso, Juan Carlos. “Dispositivos de poder: educación entre garcianismo y liberalismo: 1860-1910”. In: Memorias, Congreso Internacional de Historia - “La Modernidad en cuestión: confluencias y divergencias entre América Latina y Europa, siglos XIX y XX”. Quito (Ecuador), p. 651-666, 2016. Disponível em: https://www.uv.mx/tipmal/files/2016/09/4.Memorias_651-1000.pdf. Acesso em 22 mar. 2022.
https://www.uv.mx/tipmal/files/2016/09/4...
, p. 943).

Ainda com relação ao quadro 5, nas léguas mencionadas por Ortiguera, RicaurteRicaurte, Daniel Ortega. “La hoya amazónica”. Boletín de la Sociedad Geográfica de Colombia, n. 1, Volumen III, 1936. comenta que “la verdadera anchura de la América en la línea del Ecuador a que se refiere Ortiguera es de 711 leguas métricas y en leguas españolas antiguas serían 638. Al Amazonas le resultan 6.686 kilómetros, dato admirable, debido a la casualidad y no a la medida” (1936, p. 14).

No quadro 6, Ortiguera menciona as distâncias percorridas e não só a ponte como também o rio, Apurima/Apurímac, nome que recebe o rio Amazonas no trecho entre a cordilheira dos Andes e a floresta Amazônica no Peru. “O rio Amazonas tem sua origem na nascente do rio Apurímac, na encosta do Nevado Mismi, na Cordilheira dos Andes, no Peru, a 5.600 metros acima do nível do mar”.7 7 Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/rio-amazonas/. Acesso em 25/03/2022. O escritor peruano José María ArguedasArguedas, José María. Los ríos profundos. 1ª edición. Caracas (Venezuela): Fundación Editorial el perro y la rana, 1978., em sua obra, Los ríos profundos – que remete à profundidade dos rios andinos, que nascem no alto da Cordilheira dos Andes –, menciona o rio (mayu)8 8 Diccionario Quechua - Aymara al español. Disponível em: https://www.katari.org/diccionario/diccionario.php?listletter=quechua&display=22. Acesso em 28/03/2022. : “¡Apurímac mayu! ¡Apurímac mayu! repiten los niños de habla quechua, con ternura y algo de espanto” ([1958] 1978, p. 67).

Quadro 6
Apurima

Quanto à ponte, cujo nome atual em Quechua é Qeswachaka (Q’eswa’: trança/trançado e Chaka: ponte), de acordo com um informe, do governo peruano,9 9 Informe n. 077-2009-DRECPC/INC de 31 de julho de 2009, emitido pela Dirección de Registro y Estudio de la Cultura en el Perú Contemporáneo. Disponível em: https://web.archive.org/web/20121203233728/http://intranet.mcultura.gob.pe/intranet/dpcn/anexos/67_1.pdf. Acesso em 29/03/2022. é uma ponte suspensa de corda feita com ichu, localizada sobre o rio Apurímac, no distrito de Quehue. Ela mede 28 metros de comprimento por 1,20 de largura e é reconstruída anualmente. De acordo com as pesquisas realizadas em 2008 por Carmen Arróspide e Roxana Abril para o Governo Regional de Cusco, esta ponte foi originalmente uma construção do período Inca e, portanto, tem mais de 500 anos.

Fue poco después, con la rebelión de Challeu Chimú cuando el Gobernador iba resueltamente al Cuzco para apoderarse de la ciudad, que las avanzadas del ejército español encontraron este, como otros puentes, rotos y quemados por los indios. El secretario Pero Sancho que escribió su Relación, en Jauja, en julio de 1534 nos deja escrito: “Al día siguiente partió el Gobernador para pasar el último puente que era casi a tres leguas de allí. Antes que llegara a aquel río (el Apurima) vino un mensajero con una carta del capitán en la que avisaba como era llegado a aquel último río con mucha diligencia para que los enemigos no tuvieran lugar de quemar el puente pero al tiempo que llegó lo habían acabado de quemar la [sic] puente [...]”

(Harth-Terré; Abanto, 1961Harth-Terré, Emilio; Abanto, Alberto Márquez. “El histórico puente sobre el río Apurímac”. Revista del Archivo Nacional del Perú. Tomo XXV - Entrega I. Lima, Librería e Imprenta GIL S.A., 1961., p. 06).

O fragmento acima, do documento “El histórico puente sobre el río Apurímac”, de 1961, mostra que durante as primeiras invasões já existiam as pontes de trançado (de material vegetal), e que estas, quando necessário, eram queimadas pelos indígenas e, posteriormente, reconstruídas.

Quadro 7
Machifaro

O Dicionário etno-histórico da Amazônia Colonial (2007), de Antonio Porro, aponta para mais duas formas, além da mencionada no texto – Machifaro – (quadro 7), para designar a província: Machiparo e Machifalo. Ela ocupava, segundo ele (de 1338 a 1360), a margem direita do rio Solimões, desde acima do Tefé até o Coari. Era densamente povoada e tinha de 23 a 30 aldeias. No fragmento a seguir, o pesquisador comenta sobre os relatos dos viajantes, que contavam como eram as cabanas, os caminhos que davam acesso às aldeias e o quanto a província era próspera economicamente e possuía fartura em alimentos.

Carvajal diz que tinha 30.000 guerreiros entre os 30 e os 70 anos (porque os moços não vão à guerra). O número é provavelmente superestimado, mas outras passagens deste cronista e de Diogo Nunes indicam que os povoados poderiam ter alguns milhares de habitantes. As cabanas eram grandes e arredondadas, com cobertura de folhas de palmeira que se prolongava até o solo e providas de duas portas. Junto às aldeias havia milhares de tartarugas confinadas em caiçaras (viveiros) de varas grossas. Caminhos bons e largos saiam das aldeias para o interior e ao longo deles, a cada três léguas, havia abrigos rodeados de roças destinadas ao suprimento das expedições comerciais. Machiparo exportava cerâmica e peixe seco (do qual em cada aldeia havia grandes quantidades armazenadas para esse fim) e recebia em troca, de algum lugar do interior, lâminas e pingentes de ouro. Os índios de Machiparo não usavam roupas; sua principal arma era o propulsor e praticavam a antropofagia (Nunes; Carvajal; Vasquez; Altamirano; Monguia; Zúniga)

(Porro, 2007Porro, Antonio. Dicionario Etno-Histórico da Amazônia Colonial. Cadernos do IEB. São Paulo: USP; Instituto de Estudos Brasileiros, 2007., p. 60).

Mas, além do nome da província, Porro (2007, p. 149)Porro, Antonio. Dicionario Etno-Histórico da Amazônia Colonial. Cadernos do IEB. São Paulo: USP; Instituto de Estudos Brasileiros, 2007. comenta que Carvajal, em 1542, parece estender o nome à pessoa do chefe político: “Chegamos à província de Machiparo, que é mui grande senhor e de muita gente”. Já no século XVII, o nome da província muda para Aisuari ou Carapuna. “Em 1689 os Aisuari haviam-se deslocado rio acima, ocupando as duas margens do Solimões, entre a foz do Juruá e a do Japurá [...] (Porro, 2007Porro, Antonio. Dicionario Etno-Histórico da Amazônia Colonial. Cadernos do IEB. São Paulo: USP; Instituto de Estudos Brasileiros, 2007., p. 15).

Quadro 8
los Caperuzos

Quanto ao último topônimo aqui abordado (quadro 8), Caperuzos, ao que parece, com base no escasso material encontrado, trata-se de uma província e do nome de uma etnia. A continuação, seguem as informações que conseguimos colher. No fragmento a seguir, em La expedición de Ursúa y los crímenes de Aguirre (2010), o escritor e historiador britânico Robert Southey (1774-1843) menciona um sinônimo para a província de los caperuzos: índios encapuchados (única fonte que menciona esse termo).

En otros aspectos, Ursúa procedió con gran prudencia. Mientras los bergantines y demás barcos estaban en el astillero, hizo adelantarse con treinta hombres a su amigo y confidente García de Arce, al que mandó continuar unas veinte leguas río abajo hasta la provincia de los caperuzos, o indios encapuchados, para hacer allí acopio de cuantas provisiones pudiera y esperar a Juan de Vargas, para luego continuar juntos hasta el río Cocama, y aguardar ahí, pertrechándose de todo cuanto aquella región pudiera proporcionar, hasta que se les uniese el resto de la expedición

(Southey, 2010Southey, Robert. La expedición de Ursúa y los crímenes de Aguirre. Prólogo de Pere Gimferrer. Traducción de Soledad Martínez de Pinillos. Barcelona (Espanha): Reino de Redonda, 2010., p. s/n).

Em Etnohistoria de la Alta Amazonia (1996), no tópico “Pedro de Ursúa y la Jornada de Omagua y El Dorado”, conseguimos descobrir que o rio Huallaga (na província de los Caperuzos) está localizado no Peru, e é afluente do rio Marañón que, por sua vez, é parte da bacia do alto rio Amazonas.

Desde Saposoa el comandante de la expedición envió un destacamento de avanzada bajo el mando de García de Arce, quien debía recoger y almacenar víveres en el bajo Huallaga, en la provincia de los Caperuzos, para abastecer a los expedicionarios cuando por allí pasen. Un segundo destacamento fue enviado en julio de 1560 a explorar el Marañón

(Santos, 1996Santos, Fernando. Etnohistoria de la alta Amazonia. Siglos XV-XVIII. Colección 500 Años. n. 46. Quito (Ecuador): Ediciones Abya-Yala, 1996., p. 70).

Também em Etnias del imperio de los incas (Soriano, 2019Soriano, Waldemar Espinoza. Etnias del Imperio de los Incas: reinos, señoríos, curacazgos y cacicatos. Volumen 1. Lima (Perú): Editorial Universitaria, Universidad Ricardo Palma, 2019., p. s/n) a localização aproximada da etnia caperuzo é mencionada, segundo informação do explorador espanhol Francisco Vázquez em 1562: “Enquanto atravessava a província de Motilones, os espanhóis o chamavam de rio Motilones, que deságua no Cocama, chamado Marañón pelos espanhóis. Na junção dessas duas correntes vivia a etnia caperuzo”.

Pedro de Orsúa (1526-1561), Adelantado (termo já explicado no quadro 1) e conquistador espanhol, em sua Relación de todo lo que sucedió en la jornada de Omagua y Dorado (1881), menciona sete vezes a província dos Caperuzos. Seguem à continuação os dois fragmentos mais emblemáticos.

[...] envió delante del dicho D. Juan los treinta dellos en balsas, y una canoa grande con un caudillo amigo y paniaguado suyo, llamado García de Arce, á una provincia llamada los Caperuzos, porque los indios de aquella tierra traen en la cabezas una manera de bonetes, que estará veinte leguas del dicho astillero, á que es esta provincia, buscase la comida, y con la que hallase acudiese al dicho D. Juan; [...]

(Orsúa, 1881Orsúa, Pedro de. Relación de todo lo que sucedió en la jornada de Omagua y Dorado. Madrid: Imprenta de Miguel Ginesta, 1881., p. 12).

Partió el dicho D. Juan de Vargas con el restante de la gente, que fueron setenta hombres, principio de Julio de mil y quinientos sesenta años; y no hallando á García de Arce en los Caperuzos, pasó hasta llegar al dicho rio de Cocama; [...]

(Orsúa, 1881Orsúa, Pedro de. Relación de todo lo que sucedió en la jornada de Omagua y Dorado. Madrid: Imprenta de Miguel Ginesta, 1881., p. 13).

O primeiro nos traz a informação de que os indígenas que ali vivem assim são chamados pelo bonete (espécie de gorro ou touca) que usam. No segundo, confirmamos a informação de que a província se encontra localizada antes do rio Cocama (Marañón para os espanhóis, conforme já mencionado) e temos também parte da data em que passam por ali: no início de julho de 1560.

Considerações finais

Traduzir textos tão antigos como o de Toríbio de Ortiguera, especificamente os relatos de viagem, envolve um vocabulário bastante específico, que muitas vezes é custoso e moroso de resgatar, dadas as mudanças ocorridas – do século XVI ao XXI – não só com relação à língua espanhola e às diversas línguas indígenas (nomes de rios, territórios, etnias, entre outras), como também relacionadas às constantes migrações de território, que envolvem mudanças parciais ou mesmo totais no léxico, e inúmeras conexões mentais que o estudo em si exige, como foi exemplificado no decorrer dos comentários de tradução realizados do capítulo 43 de Jornada do Rio Marañón.

Instigantes e provocantes desafios tradutórios estiveram presentes na nossa prática, e nos fizeram estudar, refletir e debater, em função de profusas e necessárias dúvidas levantadas – que envolviam os indígenas de um lado e os exploradores-colonizadores de outro –, pesquisando e consultando com afinco relatos e cartas, documentos históricos e antropológicos, documentos governamentais, cartografias de rios e bacias hidrográficas, além de dicionários espanhóis dos séculos XVI, dicionários antigos e atuais em português, quechua, aymara, mapuche, entre outros, e dicionários especializados que tratavam da amazônia. Ou seja, o texto traduzido “merece uma atenção especial e ética por parte do tradutor” (Torres, 2021Torres, Marie Hélène Catherine. “Tradução e ética: a problemática da retroconversão”. Cadernos de Tradução. 41, Número especial: Traduzindo a Amazônia, p. 174-184, 2021. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e84952
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e...
, p. 178).

O que pretendemos com esta tradução e os comentários da tradução do texto de Ortiguera foi realizar dois movimentos: de tempo e de espaço. Esses deslocamentos de tempo e espaço do supracitado texto são resultados de nossas entregas como tradutoras e pesquisadoras dos Estudos da Tradução no Brasil. De princípio foi necessário um tempo para nos apropriar do texto, este que foi escrito séculos passados; avançar para compreender a cultura do outro, sua língua e seus discursos, que no caso do texto de Ortiguera é o do colonizador. A partir daí, demos o próximo passo, quando Torres (2013, p. 132)Torres, Marie Hélène Catherine. “O tradutor: perfil e análise”. In: Costa, Walter; Guimarães, Mayara; Leal, Isabel (Org.). No horizonte do provisório: ensaios sobre tradução. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013. p. 132-139. parte da ideia de que “qualquer tradução é antropófaga”, porque o tradutor, depois de familiarizar-se com o texto a ser traduzido, o devora, apropriando-se do que é necessário, para não perecer com o excesso, atrapalhando sua digestão/tradução.

Esperamos que nossos leitores consigam perceber esses dois movimentos, e que esses deslocamentos deem margens para reconhecerem as marcas de identidade do texto de Ortiguera, do século XVI, e a nossa tradução como “energia criativa”, do século XXI, que nos propomos realizar (Torres, 2013Torres, Marie Hélène Catherine. “O tradutor: perfil e análise”. In: Costa, Walter; Guimarães, Mayara; Leal, Isabel (Org.). No horizonte do provisório: ensaios sobre tradução. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013. p. 132-139., p. 133).

  • 1
    Os exploradores da Amazônia. in News Rondonia, 08/03/2015. Acesso em 18/02/2022. Disponível em: https://www.newsrondonia.com.br/noticia/54337-os-exploradores-da-amazonia.
  • 2
    O Nuevo tesoro lexicográfico de la lengua española (NTLLE) reúne uma ampla seleção de obras que ao longo dos últimos quinhentos anos coletaram, definiram e consolidaram a herança lexical da língua espanhola. O NTLLE é um dicionário de dicionários, que contém boa parte do léxico da língua espanhola desde o século XV até o XX, como é coletado, sistematizado, definido e inventariado pelos mais importantes repertórios lexicográficos, monolíngues ou bilíngues, dedicados à língua espanhola. Disponível em https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUILoginNtlle.
  • 3
    Diccionario de la Lengua Española. Real Academia EspañolaREAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Nuevo Tesoro Lexicográfico de la Lengua Española: Academia Autoridades. Diccionario de la lengua castellana, en que se explica el verdadero sentido de las voces, su naturaleza y calidad, con las phrases o modos de hablar, los proverbios o refranes, y otras cosas convenientes al uso de la lengua [...]. Real Academia Española. Tomo tercero. Que contiene las letras D.E.F. Madrid: Imprenta de la Real Academia Española por la viuda de Francisco del Hierro. 1732. Disponível em: https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUIMenuNtlle?cmd=Lema&sec=1.1.0.0.0. Acesso em 20 mar. 2022.
    https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUIMenuNt...
    . Disponível em: https://dle.rae.es/jobo. Acesso em 26/03/2022.
  • 4
    Compêndio Online Gerson Luiz Lopes. Laboratório de Manejo Florestal. Disponível em: https://sites.unicentro.br/wp/manejoflorestal/11792-2/. Acesso em 29/03/2022.
  • 5
    Pueblos originarios. Lengua. Diccionario Shipibo-Español. Fr. Agustín Alemany. Disponível em: https://pueblosoriginarios.com/lenguas/shipibo.php. Acesso em 26/03/2022.
  • 6
    Texto fonte: Uno de los mapas más antiguos en el que figuran detalles de la costa ecuatoriana y que recopila los conocimientos de los descubridores y navegantes del siglo XVI, es una impresión en plancha de cobre atribuida a Willen Jansz Blaeuw (1571-1638), quién sólo unos años antes de su muerte, en 1635 publicó un atlas en dos volúmenes que sirvieron de base para publicaciones posteriores de cartógrafos. El mapa refleja una gran abundancia de nombres manabitas: caraques, quixmies y toponímicos de lugares y ciudades: Sierra de Quaque, Cabo del Pasao; y Bahía de los Caraques; todas ellas en las que el Grupo Misionero realizó su pastoral misionera.
  • 7
    Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/rio-amazonas/. Acesso em 25/03/2022.
  • 8
    Diccionario Quechua - Aymara al español. Disponível em: https://www.katari.org/diccionario/diccionario.php?listletter=quechua&display=22. Acesso em 28/03/2022.
  • 9
    Informe n. 077-2009-DRECPC/INC de 31 de julho de 2009, emitido pela Dirección de Registro y Estudio de la Cultura en el Perú Contemporáneo. Disponível em: https://web.archive.org/web/20121203233728/http://intranet.mcultura.gob.pe/intranet/dpcn/anexos/67_1.pdf. Acesso em 29/03/2022.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    14 Ago 2022
  • Aceito
    24 Set 2022
  • Publicado
    Nov 2022
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