Acessibilidade / Reportar erro

COMO LER E POR QUE RETRADUZIR NARRATIVAS DO PASSADO? O RELATO DE VIAGEM DE LA CONDAMINE NO RIO AMAZONAS

HOW TO READ AND WHY RETRANSLATE NARRATIVES FROM THE PAST? LA CONDAMINE’S TRAVEL REPORT ON THE AMAZONAS RIVER

Resumo

O presente trabalho consiste na retradução comentada de alguns trechos da obra de Charles-Marie de La Condamine (1745), Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, relato lido em assembleia pública da Academia de Ciências no dia 28 de abril de 1745 e publicado no mesmo ano pela editora Libraire la Veuve Pissot em Paris. Paralelamente, coloca a questão de como ler um relato do passado e os motivos que levam a retraduzir uma narrativa atravessada por preconceitos sobre os povos originários. Assim, pretendo inicialmente fazer uma reflexão sobre a noção de anacronismo (Loraux, 1992), para, em seguida, refletir sobre o conceito de retradução (Faleiros & Mattos, 2017). Finalmente, discutirei algumas soluções de minha tradução confrontando-a à realizada pela editora do Senado Federal, intitulada Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas (La Condamine, 2000), publicada em 2000 na coleção “O Brasil visto por estrangeiros”, sem indicação de tradutor.

Palavras-chave
La Condamine; Relatos de viagem; Retradução; Anacronismo

Abstract

The present work consists of the commented retranslation of some excerpts from the work of Charles-Marie de La Condamine (1745), Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, report read at a public assembly of the Academy of Sciences on April 28, 1745 and published in the same year by the publishing house Libraire la Veuve Pissot in Paris. At the same time, he poses the question of how to read a report from the past and the reasons that lead to retranslating a narrative crossed by prejudices about the original peoples. Thus, I initially intend to reflect on the notion of anachronism (Loraux, 1992), and then reflect on the concept of retranslation (Faleiros & Mattos, 2017). Finally, I will discuss some solutions of my translation by confronting it carried out by the publisher of the Federal Senate, entitled Viagem na América Meridional descending the Amazon river (La Condamine, 2000), published in 2000 in the collection “O Brasil seen by foreigners”, without indication of a translator.

Keywords
La Condamine; Travel reports; Retranslation; Anachronism

O que fazemos não é jamais compreendido, mas somente elogiado e criticado.

Nietzsche.

Ser condenado. Ser louvado. Jamais compreendido. Quando muito, dificilmente compreendido, o que requer certa generosidade nas tentativas de dar forma ao pensamento e certa generosidade para buscar compreender. Aproprio-me do aforismo 264, “O que fazemos”, que NietzscheNietzsche, Friedrich. A gaia ciência. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. elaborou em A Gaia ciência (2012), para iniciar uma reflexão sobre a situação dos relatos do passado.

Ao tratar da viagem de La Condamine pelo rio Amazonas e seus afluentes, o lampejo do filósofo me auxilia a colocar a questão da leitura de coisas passadas. Como ler a narrativa de uma viagem que ocorreu no século XVIII, um tempo que não é o nosso? Como compreender, em outras palavras, dar sentidos a um relato que sabemos hoje atravessado por preconceitos? Por que ler, afinal, um texto que faz ecoar em nossas mentes a história violenta da colonização e do genocídio de povos indígenas e africanos? Finalmente, qual seria então a justificativa para retraduzir trechos de tal narrativa?

Se Nietzsche chama a atenção sobre a impossibilidade de ser plenamente compreendido naquilo que fazemos, não significa que não devemos ao menos buscar uma melhor compreensão do que é feito por outros, o que exige esforço, especialmente quando tratamos de outros tempos.

Assim, o propósito do presente artigo é apresentar uma tradução comentada de alguns trechos do relato de La Condamine, no intuito de refletir sobre o conceito de retradução. Além disso, busca-se densificar o debate sobre os relatos de viagem, colocando o problema de sua leitura (crítica) e de sua relevância para a atualidade.

Nessa empreitada, o trabalho foi dividido em quatro partes: a primeira aborda o cientista La Condamine e a problemática da leitura de sua narrativa; em seguida, procura-se refletir sobre o que vem a ser uma retradução e os motivos de se retraduzir um texto; em um terceiro momento, busca-se comentar a tradução da viagem relatada pelo cientista francês; Por fim, apresento a tradução bicolunada desses excertos, do francês para o português do Brasil. Para realizar essa pesquisa, busquei refletir sobre o conceito de “anacronismo controlado”, com base na historiadora Nicole Loraux (1992)Loraux, Nicole. “Elogio do anacronismo”. Tradução de Maria Lúcia Machado. In: Novaes, Adauto (Org.), Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 57-70.. A respeito da retradução, a principal fonte foi a obra de Álvaro Faleiros & Thiago Mattos (2017)Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017. que aborda esse conceito no primeiro capítulo do livro.

A leitura de narrativas do passado

Charles-Marie de La Condamine foi um cientista francês que realizou diversas viagens de exploração no Norte de África, no Oriente Médio e na América do Sul. Sua expedição no Peru intencionava verificar a figura da Terra e a hipótese de Isaac Newton, segundo a qual o globo terrestre não seria uma esfera perfeita, mas seria inchado perto do equador e achatado nos polos. Após concluir a expedição geodésica, La Condamine decide então descer o rio Amazonas até Belém. O relato de sua viagem, intitulado Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones (La Condamine, 1745La Condamine, Charles-Marie de la. Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, lûe à l’assemblée publique de l’Académie des sciences, le 28. avril 1745. Paris: Libraire la Veuve Pissot, 1745. Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image. Acesso em 24 ago. 2023.
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1...
), foi lido na assembleia pública da Academia de Ciências no dia 28 de abril de 1745 e publicado no mesmo ano pela editora Libraire la Veuve Pissot em Paris1 1 Existem vários trabalhos sobre essa expedição e, assim sendo, não me alongarei sobre detalhes da viagem. .

Por que ler e retraduzir o relato de La Condamine? Com efeito, o cientista francês manifestou, nessa narrativa, uma opinião bastante depreciativa dos povos indígenas, falando até mesmo numa suposta “estupidez” e “mentalidade infantil”. Inicialmente, para tratar da questão da leitura de relatos do passado, meu horizonte é o problema do anacronismo e dos resultados negativos que decorrem dessa abordagem.

Cabe então apontar um trabalho sólido que, ainda assim, parece julgar moral e eticamente La Condamine, de certa forma, imprimindo nossos valores, como uma moldura, ao relato do cientista. O artigo de Neil Safier (2009)Safier, Neil. “Como era ardiloso o meu francês: Charles-Marie de La Condamine e a Amazônia das Luzes”. Tradução de Manuel Amaral Bueno. Revista Brasileira de História, 29(57), p. 91-114, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-01882009000100004
https://doi.org/10.1590/S0102-0188200900...
, “How cunning was my little Frenchman: Charles-Marie de La Condamine and the eighteenth-century Amazon”, traduzido para o português por Manuel Amaral Bueno, “Como era ardiloso o meu francês: Charles-Marie de La Condamine e a Amazônia das Luzes”, apresenta uma discussão já no seu título. Deve certamente fazer referência ao filme brasileiro “Como era gostoso o meu francês”, de 1971, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, apesar de não ser mencionado no artigo. O adjetivo “gostoso” joga com o duplo sentido da palavra e soa um tanto jocoso, já que, no enredo, trata-se de um aventureiro francês feito prisioneiro por tupinambás adeptos da antropofagia. A película circulou internacionalmente, sendo indicada ao Urso de Ouro em Berlim. Em inglês, o título foi traduzido por “How tasty was my little Frenchman”. A termo “tasty” consegue manter o trocadilho humorístico.

Não negando de forma alguma a qualidade e contribuição da pesquisa do historiador sobre o tema, o trabalho parece atravessado por um desejo subjacente – que acaba por se tornar basilar para sua argumentação – de atacar a credibilidade de La Condamine. Diferentemente do filme, o emprego do adjetivo “little”, para além da referência à clássica película brasileira, ganha uma conotação marcadamente pejorativa no artigo de Safier. Se associarmos ao título apenas a parte final da conclusão do artigo, a intenção do historiador se revela bastante explícita.

A Relation abrégée de La Condamine, mais que qualquer outro relato contemporâneo, conduziu leitores europeus pelo Amazonas do século XVIII, introduzindo a comunidade científica e o público amplo de leitores a um novo mundo, que, nos dois séculos e meio que se seguiram, tornou-se um importante laboratório e uma poderosa metáfora para a riqueza e a diversidade da vida animal e vegetal da Terra. Porém, como este artigo demonstra, o explorador francês, que foi tão intimamente relacionado à história do rio durante esse período, adquiriu sua reputação à custa de muitos outros, desde jesuítas até escravos fugidos: indivíduos que forneceram muito do testemunho ocular com o qual La Condamine pôde construir suas imagens coerentes da Amazônia do século XVIII. Foi esse legado mistificador de observações in loco próprias — e não alheias — que criou, na época do Iluminismo, um retrato tão duradouro da Amazônia, um quadro que conseguiu sobreviver — e, infelizmente, mesmo prosperar — até nossos dias

(Safier, 2009Safier, Neil. “Como era ardiloso o meu francês: Charles-Marie de La Condamine e a Amazônia das Luzes”. Tradução de Manuel Amaral Bueno. Revista Brasileira de História, 29(57), p. 91-114, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-01882009000100004
https://doi.org/10.1590/S0102-0188200900...
, p. 111, grifos meus)2 2 Todos os grifos no texto, em negrito, são meus. .

Se o questionamento sobre as fontes do “explorador” francês é muito pertinente, reduzir o relato de La Condamine a um “legado mistificador”, adquirido “à custa de muitos outros” parece um pouco radical e várias interrogações emergem após a leitura do artigo. Primeiro, quais eram as práticas desses cientistas no que tange a explicitar suas fontes ou mesmo agradecer todos aqueles que contribuíram para essas expedições? Quais eram as práticas, no campo ainda em formação das “ciências”, em relação aos direitos autorais e autoria? Para além disso, seria relevante igualmente definir os diferentes objetivos dessas viagens: a exploração? Solucionar problemas científicos? Qual era a visão de mundo de um cientista do século XVIII? O que significa Século das Luzes ou Iluminismo, termos empregados para falar de um período bastante heterogêneo no que tange a debates filosóficos?3 3 Para apenas mencionar o caso da França, vale lembrar a convivência bastante tensa de debates filosóficos no século XVIII. Basta pensar na disputa entre Voltaire e Rousseau, ou ainda na filosofia de Sade. O que chamamos, de forma um tanto redutora, de “Iluminismo” ou “Século das Luzes”, não pode ser entendido como um período homogêneo. Até que ponto as crenças desses cientistas influenciavam sua percepção num período em que ainda se acreditava numa natureza humana? Qual peso tinham os relatos fantasiosos que tanto circularam sobre o “Novo Mundo” nos relatos de viagem dos séculos anteriores?

Adentremos apenas a questão do papel da viagem na formação do conhecimento no século XVIII. Em seu artigo “A viagem como descoberta científica: história natural e cultura de precisão”, publicado em 2019, Marcelo Fetz aponta exatamente para a complexidade dessas viagens que contribuíram para “a formação do pensamento científico” ainda que com o “[...] fortalecimento de um tipo precário de alteridade baseado em um cosmopolitismo eurocêntrico de baixa intensidade reflexiva” (p. 51). Mais especificamente, a respeito da importância desse aporte científico, o autor aponta:

A viagem enquanto método foi decisiva para a neutralização de estilos especulativos de pensamento, especialmente na história natural fantástica que não diferenciava o real do imaginário. A construção de estratégias de representação e de comunicação foi beneficiada pela abertura epistemológica da atividade de viagem, heterogênea e diversificada desde a sua origem. O apogeu da relação entre viagem e ciência foi observado durante a realização das grandes expedições científicas em meados do século XVIII. As viagens de La Condamine, Bougainville, James Cook e La Pérouse apenas ilustram as condições de época e evidenciam a relevância da viagem como elemento decisivo para a descoberta científica

(Fetz, 2019Fetz, Marcelo. “A viagem como descoberta científica: história natural e cultura de precisão”. Revista Brasileira de História da Ciência, 12(1), p. 39-53, 2019. DOI: https://doi.org/10.53727/rbhc.v12i1.48
https://doi.org/10.53727/rbhc.v12i1.48...
, p. 51).

Portanto, é preciso apreender a complexidade desses relatos, sem apartar os preconceitos de La Condamine a respeito dos povos indígenas que, por sinal, não deveriam nos surpreender, assim como não surpreende um autor do século XIX ser misógino. Todo um estudo do contexto e um conhecimento mais aprofundado dessas viagens permitiria adensar a análise realizada por Safier (2009)Safier, Neil. “Como era ardiloso o meu francês: Charles-Marie de La Condamine e a Amazônia das Luzes”. Tradução de Manuel Amaral Bueno. Revista Brasileira de História, 29(57), p. 91-114, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-01882009000100004
https://doi.org/10.1590/S0102-0188200900...
. Para além disso, não existe uma visão homogênea europeia sobre os indígenas. Relembremos do famoso relato de Jean de Léry e do ensaio “Dos canibais”, de Montaigne.

Assim, ao abordar o passado, uma preocupação metodológica que parece central é a do anacronismo. Se, em alguns casos, a exemplo de textos literários, uma leitura anacrônica, voltada exclusivamente ao texto, “liberta” do contexto histórico e do biografismo, pode produzir leituras frutíferas, potencializando e atualizando os sentidos das obras, no caso de relatos do passado cuja função principal não é construir uma narrativa ficcional ou não visa propriamente a função poética da linguagem, a situação é diversa. Há, inicialmente, um problema linguístico, pois as línguas são vivas, as acepções das palavras mudam, assim como aquilo que podem conotar, para além de questões gramaticais. Não obstante, não se trata apenas de uma problemática que toca as metamorfoses da linguagem no tempo (diacronicamente), mas sobretudo suas diferenças, em determinada comunidade, em um tempo específico (sincronicamente), ou seja, as diferenças semânticas, mas também seus aspectos culturais diversos dos nossos que afetam profundamente a linguagem e a maneira de expressar o mundo. E não se pretende aqui colocar em oposição um relato de viagem de um cientista e uma narrativa ficcional de viagem. Nos dois casos, a questão do anacronismo pode surgir como determinante.

No campo da História, o conceito de anacronismo é basilar e revela um duplo movimento que lembra a situação da leitura do texto literário. Segundo Nicole Loraux:

O anacronismo é o pesadelo do historiador, o pecado capital contra o método, do qual basta apenas o nome para constituir uma acusação infamante, a acusação – em suma – de não ser um historiador, já que se maneja o tempo e os tempos de maneira errônea. Assim, o historiador em geral evita cuidadosamente importar noções que sua época de referência supostamente não conheceu, e evita mais ainda proceder a comparações – por princípio indevidas – entre duas conjunturas separadas por séculos

(Loraux, 1992Loraux, Nicole. “Elogio do anacronismo”. Tradução de Maria Lúcia Machado. In: Novaes, Adauto (Org.), Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 57-70., p. 57).

A historiadora aponta o conceito como incontornável e, ao mesmo tempo, o risco que esse cuidado metodológico coloca: o de entravar a audácia do pesquisador. Loraux não advoga por uma metodologia que condena o anacronismo, gesto, aliás, em absoluto, que sequer é possível porque, por mais cuidado que se tenha, somos sempre anacrônicos ao abordar o passado.

No entanto, via de regra, o anacronismo, assumido ou não, pode facilmente resultar em compreensões simplórias (ou mesmo equivocadas) daquilo que se fazia e dizia em outros tempos e outras comunidades, quando aplacadas e uniformizadas pelas nossas concepções.

Loraux faz assim a defesa de uma prática controlada de anacronismo, com base na famosa fórmula de Marc Bloch de que é necessário compreender o presente pelo passado e o passado pelo presente.

É preciso usar de anacronismo para ir na direção da Grécia antiga com a condição de que o historiador assuma o risco de colocar precisamente a seu objeto grego questões que já não sejam gregas; de que aceite submeter seu material antigo a interrogações que os antigos não se fizeram ou pelo menos não formularam ou, melhor, não recortaram como tais

(Loraux, 1992Loraux, Nicole. “Elogio do anacronismo”. Tradução de Maria Lúcia Machado. In: Novaes, Adauto (Org.), Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 57-70., p. 61).

O termo central nesse trecho é a palavra “interrogações”. Não se trata de simplesmente julgar (condenar) o que foi feito por outros com base em nossos valores e princípios, mas de interrogar o passado, de estabelecer um diálogo a partir de uma tensão entre tempos, entre a questão que surge no presente voltada para um passado que não está previamente definido, que exige uma reconstrução de seus sentidos.

A guisa de exemplo, Loraux (1992, p. 62)Loraux, Nicole. “Elogio do anacronismo”. Tradução de Maria Lúcia Machado. In: Novaes, Adauto (Org.), Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 57-70. não hesita em aplicar o conceito (moderno) de “opinião pública” à cidade ateniense, “[...] ainda que fosse apenas para fazer surgir as diferenças entre o que nós chamamos assim e o que, no funcionamento da democracia ateniense, podemos localizar em lugar da opinião pública”. Em outras palavras, ao lidar com o passado, o movimento não é o de aplicar nossos conceitos e valores a outras culturas, mas de contrastar esses mundos para desse diálogo, extrair uma interpretação mais nuançada, complexa e aprofundada.

Mesmo no campo literário, em alguns casos, o anacronismo inconsciente pode produzir leituras menos frutíferas. Na Odisseia, de Homero, uma noção mais contextualizada da significação da tecelã4 4 Ver a respeito o artigo de Raquel Efraim (2012), “Penélope, tecelã de enganos”, ou ainda a obra de Richard Sennett (2013), O artífice. (e do papel do artesão) na Grécia antiga fornece outros sentidos ao famoso gesto de Penélope: de mulher submissa e fiel ao marido, torna-se uma personagem astuta e forte, evidentemente, nos limites possíveis para uma mulher da aristocracia, usando de táticas5 5 Sobre o conceito de tática, ver Certeau (2001). para enredar e resistir aos pretendes que invadiram seu palácio.

Trata-se da relação com uma alteridade. Um passado que, nessa tensão entre tempos, também possibilita estranhar nosso próprio tempo para melhor apreendê-lo. Para responder a uma interrogação que nos ocupa presentemente, o anacronismo controlado exige uma reflexão sobre os sedimentos constitutivos de um tempo que não é o nosso.

Sobre o conceito de retradução

A retradução, como prática, é sem dúvida tão comum quanto a tradução, malgrado o fato de que o interesse pelo conceito seja mais tardio no meio acadêmico. Como fenômeno, é polimórfico por estar em permanente redefinição e por serem variadas as formas de praticá-la, segundo Álvaro Faleiros & Thiago Mattos (2017)Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017..

Estes apontam cinco definições da retradução, com base em vários autores (Ladmiral, Chevrel, Gambier):

  1. Retradução enquanto “iteração”6 6 Conceito de Ladmiral. , ou seja, uma nova tradução de um mesmo texto de partida;

  2. Revisão de uma tradução já realizada;

  3. Retraduzir, na língua de um original perdido, uma tradução desse original. Seria um tipo de “retrotradução”. Exemplo: A arte poética, de Aristóteles;

  4. Tradução de uma tradução, podendo ser chamada de metatradução ou “tradução-pivô”, ou ainda “tradução intermediária”. Exemplo: As obras completas de Freud no Brasil;

  5. Toda e qualquer tradução, se entendermos o original ele mesmo como tentativa de tradução de um mundo e busca de sua própria linguagem pelo autor (Faleiros & Mattos, 2017Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017., p. 08-09).

Nesse espaço da retradução, não esquecemos de citar o caso particular da autotradução, prática de alguns autores famosos como Beckett, Nabokov, Nancy Huston, para citar apenas alguns no campo literário, ou ainda, um pensador como Flusser, para o qual a retradução de seus próprios escritos funciona como mecanismo de um fazer intelectivo peculiar que é conduzido ou deambula pelas diferenças entre as línguas.

Não me estenderei sobre o que vem a ser uma retradução. Pretendo tão somente apontar o sentido que me parece adequado para a minha proposta e seguir para os motivos de se retraduzir um relato de viagem, linha condutora entre o debate sobre a leitura do passado e a proposta de tradução comentada. Entendo aqui a retradução como uma nova tradução de um mesmo texto de partida, na definição de Faleiros & Mattos, com base em Ladmiral.

Os mesmos autores apontam oito motivos de se retraduzir um texto. Retraduzimos porque:

  1. Uma tradução não é satisfatória;

  2. Queremos traduzir diretamente do original;

  3. As traduções envelhecem;

  4. Os meios tecnológicos mudaram;

  5. Queremos ressignificar determinado autor ou texto no sistema de chegada;

  6. Queremos simplesmente traduzir e sequer sabíamos que já havia uma tradução anterior;

  7. Por questões editoriais, comerciais ou mercadológicas;

  8. Por termos uma outra leitura de determinado texto7 7 Na obra de Faleiros & Mattos (2017), os motivos são mais amplamente discutidos. Por uma questão de espaço, limito-me aqui a listá-los. (Faleiros & Mattos, 2017Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017., p. 29-34).

Dentro os motivos elencados, posso acrescentar um nono: um convite para participar de projetos de traduções realizadas em equipe, atividade comum no meio acadêmico. Neste caso específico, trata-se de (re)traduzir relatos de viajantes em um projeto interinstitucional que aborda a Amazônia vista por estrangeiros.

Após aceitar o convite, outro motivo foi se estabelecendo à medida que lia o texto e pesquisava sobre seu autor: a vontade de ressignificar o relato no sistema de chegada. Daí a primeira parte deste trabalho e minha preocupação com a questão da leitura de relatos de viagem. Como apontam Faleiros & Mattos (2017, p. 34-35)Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017.: “[...] a retradução explicita o fato de que não é (ou não apenas) a tradução que é atravessada pela incompletude, mas a própria obra, que pode ser lida, recompreendida, ressituada, retextualizada, retraduzida”. Em outras palavras, a retradução não pretende corrigir “erros” da tradução anterior, mas antes ressituar e ressignificar textos de todos os tipos, literários, psicanalíticos, filosóficos ou relatos como o de La Condamine. Ainda segundo os autores, numa visão bem humboldtiana ou borgiana, “[...] uma obra é cada vez mais bem compreendida (ou mais amplamente compreendida) quanto mais traduções há dela, visão que traz a ideia de que tradução é crítica e, como tal, engendra um modo de ver e dizer o texto” (Faleiros & Mattos, 2017Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017., p. 35).

A respeito da discussão sobre a visibilidade do retradutor, de fato, não há como negar a afirmação dos autores quando dizem:

Enquanto o primeiro tradutor pode se fazer invisível para o mercado editorial, para a imprensa e para o público receptor, o retradutor (a “nova tradução) raramente estará submetido a essa invisibilidade absoluta: o retradutor habita um espaço de visibilidade – ou, em alguns casos, de menor invisibilidade

(Faleiros & Mattos, 2017Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017., p. 40).

Com efeito, a tradução publicada pela editora do Senado Federal, apesar de relativamente recente, sequer menciona o tradutor, enquanto os trechos da retradução constarão na sequência do presente trabalho, no qual o tradutor ficará duplamente visibilizado pela explicitação de seu nome e pelo artigo que precede a retradução, como paratexto ao relato de La Condamine. Assim, esse trabalho de retradução se inscreve numa circulação rizomática do texto do cientista francês, simultaneamente interpelando o leitor para sua tradução, participando assim a insuflar uma sobrevida ao texto de partida e às traduções anteriores.

Comentários de retradução

Questões de edição

A minha tradução é uma retradução, pois existem duas (ou três?) traduções anteriores da narrativa de La Condamine. A versão que mais circula é Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas, publicada em 2000 pela editora do Senado Federal, na coleção “O Brasil visto por estrangeiros”8 8 Acessada em formato .pdf. . Além do relato principal, a publicação contém vários paratextos: uma apresentação do historiador Basílio de Magalhães, um prefácio do autor, um mapa, três cartas, dentre elas a famosa de Godin des Odonais sobre a epopeia de sua esposa na Amazônia9 9 A respeito, ver Torres & Thomé (2022a, 2022b). , várias notas e um índice onomástico. Chama a atenção o fato de não haver nenhuma menção a quem traduziu a obra e a ausência de indicação da edição. Por incluir a apresentação de Magalhães, falecido em 1957, que comenta inclusive os paratextos presentes na publicação, parece não se tratar de uma primeira edição. Ao pesquisar um pouco mais o título, deparei-me com uma edição de 1945, publicada sob a direção de Basílio de Magalhães e do gramático Cândido Juca (filho), com prefácio e notas do primeiro e tradução do segundo. Pouco antes, havia sido publicada uma versão portuguesa, autoria de Aristides D’Ávila. Sendo assim, surge a pergunta se a tradução do Senado Federal em 2000 é a mesma daquela de 1945, já que não se teve acesso à edição anterior: a que circula na internet é a do Senado. Esta edição também não faz referência ao texto de partida. E como não há indicação do tradutor, de fato, a publicação não difere em nada de uma obra originalmente escrita em português. É como se não fosse uma tradução. Nesse contexto, optei por identificar essa tradução como a do Senado, mas há motivos para crer que seu autor seja Cândido Juca (filho).

Existe ainda uma segunda (ou terceira), Viagem pelo Amazonas: 1735-1745/ Charles-Marie de La Condamine, publicada em 1992 (Nova Fronteira), com tradução de Maria Helena Franco Martins, à qual não tive acesso por encontrá-la posteriormente ao trabalho de retradução.

O texto de partida ao qual tive acesso é a primeira edição, disponível no site Gallica, da Bibliotèque Nationale de France, da Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, relato lido por La Condamine em assembleia pública da Academia de Ciências no dia 28 de abril de 1745 e publicado no mesmo ano pela editora Libraire la Veuve Pissot em Paris. Para facilitar a leitura, a ortografia do francês foi modernizada.

Os trechos, para a retradução, foram escolhidos em função dos seus temas que são, aliás, apontados no texto de partida em margem do corpo do texto. São estes: a chegada no rio Amazonas, a descrição das esmeraldas, a chegada na cidade do Pará (Belém) e na ilha do Marajó e o fenômeno da pororoca. O intuito foi sobretudo de chamar a atenção do leitor para o interesse que pode suscitar tal relato, para além dos preconceitos e equívocos que permeiam o texto em relação aos povos indígenas.

Questões de linguagem

Por tratar-se de um texto escrito em francês no século XVIII, algumas particularidades se destacam para o leitor contemporâneo. Primeiro, o emprego do “s longo” (ſ) é constante, no meio das palavras (e algumas vezes no início), o “s curto” sendo usado no final por não ser pronunciado. A presença dessa letra dificulta um pouco a compreensão por se assemelhar a uma letra “f”. É o caso de termos como “peſanteur” ou “aſtronomes”, para citar apenas dois exemplos. Outra diferença notável é a frequente presença do ditongo oi [wa], muito comum na língua francesa da época, e que perdurou até o início do século XX, apesar de sua progressiva substituição pelo ditongo ai [ε ou e], a exemplo de verbos como “faire”. Frases como “d’autres académiciens faiſoient”, ao invés de “d’autres académiciens faisaient”, são frequentes. No entanto, com pouco tempo de leitura, essas diferenças com o francês moderno tornam-se detalhes gráficos que, evidentemente, não são reproduzíveis em português.

No mais, as características do relato de La Condamine são típicas desse tipo de narrativa de viagem. Lidamos com um extenso vocabulário ligado à fauna e à flora, termos científicos e topônimos.

A principal questão, em relação à linguagem, foi como traduzir o termo “indien”, já que, em português, o vocábulo “índio” possui uma carga pejorativa, com sua herança na colonização e seu aspecto redutor, nomeando numerosas etnias, com suas línguas e culturas específicas, com uma única palavra: “índios”. Na atualidade, sabe-se que o uso adequado para se referir a esses povos é “indígenas”, “povos originários” ou “etnias”. No entanto, trata-se de um texto do século XVIII e por mais que a opção não seja por um português setecentista ou que soe mais “arcaico”, não faz sentido atribuir artificialmente uma consciência descolonial a La Condamine: seria justamente um anacronismo. Este é o caso para o qual uma nota explicativa é justificável ou outro tipo de paratexto. Na tradução do Senado, a opção foi a mesma, mas é difícil afirmar que seja pelo mesmo motivo.

Quant aux pierres vertes, elles deviennent tous les jours plus rares, tant parce que les Indiens, qui en font grand cas, ne s’en défont pas volontiers, qu’à cause du grand nombre qui a passé en Europe10 10 Os excertos comentados serão apresentados na seguinte ordem no corpo do texto: original, tradução do Senado e tradução de minha autoria.

(La Condamine, 1745La Condamine, Charles-Marie de la. Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, lûe à l’assemblée publique de l’Académie des sciences, le 28. avril 1745. Paris: Libraire la Veuve Pissot, 1745. Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image. Acesso em 24 ago. 2023.
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1...
, p. 142-143).

Quanto às pedras verdes, elas se tornam cada vez mais raras, já porque os índios, que lhes dão grande importância, delas se não desfazem de boa vontade, já porque grande número delas foi enviado à Europa

(La Condamine, 2000La Condamine, Charles-Marie de la. Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas. Brasília: Senado Federal, 2000. Senado Federal. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1045. Acesso em 24 ago. 2023.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/...
, p. 98).

Quanto às pedras verdes, estão se tornando cada dia mais raras, tanto porque os índios, que muito as estimam, não se desfazem delas de bom grado, quanto pelo grande número que passaram para a Europa

(Abes, 2023Abes, Gilles Jean. “Relatório abreviado de uma viagem no interior da América meridional desde o litoral do mar do sul até o litoral do Brasil e da Guiana descendo o rio das Amazonas, de Charles-Marie de La Condamine”. Cadernos de Tradução, 43(esp.2), 2023. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e96032
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e...
).

Topônimos

Evidentemente, vários nomes de rios, afluentes, cidades e fortes são frequentes no relato do cientista. Em todos os casos, pesquisei seus nomes em português e adequei a ortografia. Os itálicos, na maioria dos casos, foram retirados, quando não incutiam nenhum significado especial e eram usados para termos comuns. Foram mantidos em casos como rio das Amazonas, por se tratar de uma referência específica à lenda das mulheres guerreiras. Na tradução do Senado, a opção foi a mesma, mas aplicada a todos os casos, com algumas diferenças de vocabulário que serão comentadas mais adiante.

L’Amazone au-dessous de la rivière Noire et de la Madera, a communément une lieue de large ; quand elle forme des îles, elle en a quelques fois deux et trois, et dans le temps des inondations, elle n’a plus de limites. C’est ici que les Portugais du Para commencent à lui donner le nom de rivière des Amazones ; plus haut ils ne la connaissent que sous celui de Rio de Solimões, rivière des poisons, nom qui lui a probablement été donné à cause des flèches empoisonnées dont nous avons parlé qui sont l’arme la plus ordinaire des habitants de ces bords

(La Condamine, 1745La Condamine, Charles-Marie de la. Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, lûe à l’assemblée publique de l’Académie des sciences, le 28. avril 1745. Paris: Libraire la Veuve Pissot, 1745. Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image. Acesso em 24 ago. 2023.
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1...
, p. 133-134).

O Amazonas, abaixo do rio Negro e do Madeira, tem geralmente uma légua de largura; quando forma ilhas, tem, não raro, duas e três, e em tempos de inundação é sem limites. É daí em diante que os portugueses do Pará começam a chamar-lhe rio das Amazonas; acima eles não o conhecem senão pelo nome de Solimões, rio dos venenos, que lhe foi dado provavelmente por causa das flechas envenenadas, a que antes nos referimos, que são a arma ordinária dos seus habitantes marginais

(La Condamine, 2000La Condamine, Charles-Marie de la. Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas. Brasília: Senado Federal, 2000. Senado Federal. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1045. Acesso em 24 ago. 2023.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/...
, p. 95-96).

O Amazonas, abaixo do rio Negro e do Madeira, tem geralmente uma légua de largura; quando forma ilhas, às vezes tem duas e três, e em épocas de cheias, não tem mais limites. É aqui que os portugueses do Pará começam a dar-lhe o nome de rio das Amazonas; mais acima só o conhecem pelo de Rio Solimões, rio dos venenos, nome que provavelmente lhe foi dado por causa das flechas envenenadas de que falamos, que são a arma mais comum dos habitantes destas margens

(Abes, 2023Abes, Gilles Jean. “Relatório abreviado de uma viagem no interior da América meridional desde o litoral do mar do sul até o litoral do Brasil e da Guiana descendo o rio das Amazonas, de Charles-Marie de La Condamine”. Cadernos de Tradução, 43(esp.2), 2023. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e96032
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e...
).

Numa única ocasião, mantive a termo em francês, quando se tratava do título de uma obra ou para vocábulos específicos do idioma, a exemplo de “barre”, pois o próprio autor explica o sentido do vocábulo no corpo do texto. Na tradução do Senado, a palavra foi traduzida para “barra” e foi suprimida a menção que se tratava do nome francês, em Caiena, para a pororoca. Essa escolha não parece ser a mais adequada, por dois motivos, primeiro porque um dos idiomas falados na Guiana é o francês e, segundo, porque há uma explicação do próprio autor no corpo do texto que dispensa inclusive nota.

Les canots, les pirogues, les barques même n’ont d’autre moyen de se garantir de la fureur de cette Barre, (c’est le nom de Français qu’on lui donne à Cayenne,) qu’en mouillant dans un endroit où il y ait beaucoup de fond

(La Condamine, 1745La Condamine, Charles-Marie de la. Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, lûe à l’assemblée publique de l’Académie des sciences, le 28. avril 1745. Paris: Libraire la Veuve Pissot, 1745. Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image. Acesso em 24 ago. 2023.
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1...
, p. 194).

As canoas, as pirogas, os barcos não têm outro meio de furtar-se ao furor dessa “barra” (é o nome que se lhe dá em Caiena), senão ancorando num lugar de muito fundo

(La Condamine, 2000La Condamine, Charles-Marie de la. Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas. Brasília: Senado Federal, 2000. Senado Federal. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1045. Acesso em 24 ago. 2023.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/...
, p. 117).

Canoas, pirogas e até barcos não têm outro meio de se proteger da fúria desta barre (é o nome francês que lhe é dado em Caiena) do que ancorar num local onde há muito fundo

(Abes, 2023Abes, Gilles Jean. “Relatório abreviado de uma viagem no interior da América meridional desde o litoral do mar do sul até o litoral do Brasil e da Guiana descendo o rio das Amazonas, de Charles-Marie de La Condamine”. Cadernos de Tradução, 43(esp.2), 2023. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e96032
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e...
).

Termos à letra

On entend d’une ou de deux lieues de distance, un bruit effrayant qui annonce la Pororoca. C’est le nom que les Indiens de ces cantons donnent à ce terrible flot. À mesure qu’il approche, le bruit augmente, et bientôt l’on voit un promontoire d’eau de 12 à 15 pieds de haut, puis un autre, puis un troisième, et quelquefois un quatrième, qui se suivent de près, et qui occupent toute la largeur du canal ; cette lame avance avec une rapidité prodigieuse, brise et rase en courant tout ce qui lui résiste. J’ai vu en quelques endroits, un grand terrain emporté par la Pororoca, de très gros arbres déracinés, des ravages de toutes sortes. Partout où elle passe, le rivage est net, comme s’il eût été balayé avec soin

(La Condamine, 1745La Condamine, Charles-Marie de la. Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, lûe à l’assemblée publique de l’Académie des sciences, le 28. avril 1745. Paris: Libraire la Veuve Pissot, 1745. Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image. Acesso em 24 ago. 2023.
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1...
, p. 193-194).

Ouve-se de uma ou duas léguas de distância um barulho aterrador que anuncia a pororoca: é o nome que os índios daí atribuem a tão terrível enchente. À medida que ela se aproxima, o rumor aumenta e bem cedo se vê um promontório de água de 12 a 15 pés (de 3,5m a 5m) de altura, e logo a seguir um outro, e outro ainda, e não raro um quarto, que se seguem de perto, e que preenchem toda a largura do canal; a vaga acomete com uma rapidez prodigiosa, rompe e arrasa tudo quanto lhe resiste. Eu vi, nalguns lugares, um grande bloco de terra arrebatado pela pororoca, grossas árvores erradicadas, devastações de toda espécie. Por onde quer que ela passe a assolação é completa, como se se tratasse de uma varredura cuidadosa

(La Condamine, 2000La Condamine, Charles-Marie de la. Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas. Brasília: Senado Federal, 2000. Senado Federal. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1045. Acesso em 24 ago. 2023.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/...
, p. 117).

Ouve-se a uma ou duas léguas um barulho apavorante que anuncia a Pororoca. Este é o nome que os índios destes cantões dão à terrível vaga. À medida que se aproxima, o ruído aumenta e logo se vê um promontório de água de 12 a 15 pés de altura, depois outro, depois um terceiro e às vezes um quarto, que se seguem de perto e ocupam toda a largura do canal; a lâmina avança com prodigiosa rapidez, despedaça e arrasa enquanto corre tudo o que lhe resiste. Eu vi, em alguns lugares, uma grande parcela de terra arrastada pela Pororoca, árvores muito grandes arrancadas, devastações de todo tipo. Por onde quer que passe, a margem está limpa, como se tivesse sido cuidadosamente varrida

(Abes, 2023Abes, Gilles Jean. “Relatório abreviado de uma viagem no interior da América meridional desde o litoral do mar do sul até o litoral do Brasil e da Guiana descendo o rio das Amazonas, de Charles-Marie de La Condamine”. Cadernos de Tradução, 43(esp.2), 2023. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e96032
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e...
).

O trecho acima é uma das passagens mais interessantes do relato de La Condamine pela descrição que faz do fenômeno da pororoca. Ainda que existam eventos naturais similares na Europa (em menor escala), não há dúvida de que as proporções de devastação do fenômeno no rio Amazonas são impressionantes. A minha tradução buscou ater-se à letra do texto de partida, notadamente na precisão dos termos relacionados à água ou na descrição dos estragos produzidos pela pororoca. Assim, verti o termo “flot” por um vocábulo semanticamente mais próximo, “vaga”, ao invés de “enchente” que não produz o mesmo efeito das águas chegando em grande quantidade. A palavra “lame” possui um duplo sentido que seria perdido com a escolha de “vaga”. O termo “lâmina”, além de mais preciso (e usual) mantém a duplicidade na imagem da pororoca que arranca, varre e deixa “a margem limpa”, escolha também mais precisa do que “a assolação é completa”. Finalmente, a respeito desse excerto, vale observar a conversão da medida registrada em pés em francês para metros na tradução do Senado, indicada no corpo do texto entre parênteses. A meu ver, esse tipo de “nota interna” é atualmente dispensável por conta do fácil acesso a conversores na internet.

Sintaxes singulares

Le Gouverneur et Capitaine général de la Province nous fit un accueil auquel avaient dû nous préparer les ordres qu’il avait donnés sur notre passage, aux commandants des Forteresses, et ses recommandations aux Provinciaux des différents Missionnaires que nous avions rencontrés.

(La Condamine, 1745La Condamine, Charles-Marie de la. Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, lûe à l’assemblée publique de l’Académie des sciences, le 28. avril 1745. Paris: Libraire la Veuve Pissot, 1745. Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image. Acesso em 24 ago. 2023.
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1...
, p. 177)

O governador e capitão-general da província nos fez uma acolhida como era de esperar das ordens que expedira sobre nossa passagem aos comandos das fortalezas, e das recomendações aos provinciais das diferentes missões que tínhamos encontrado

(La Condamine, 2000La Condamine, Charles-Marie de la. Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas. Brasília: Senado Federal, 2000. Senado Federal. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1045. Acesso em 24 ago. 2023.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/...
, p. 111).

O governador e capitão geral da província nos fez uma acolhida à qual havíamos sido preparados pelas ordens que expedira, em nosso trajeto, aos comandantes das fortalezas, e pelas suas recomendações aos provinciais das várias missões que havíamos encontrado

(Abes, 2023Abes, Gilles Jean. “Relatório abreviado de uma viagem no interior da América meridional desde o litoral do mar do sul até o litoral do Brasil e da Guiana descendo o rio das Amazonas, de Charles-Marie de La Condamine”. Cadernos de Tradução, 43(esp.2), 2023. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e96032
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e...
).

O excerto acima apresenta um desafio na formação da frase para o qual a solução que encontrei não me satisfaz. É a típica situação em que o tradutor deve reconhecer seus limites por não ter encontrado uma solução, ao menos até o envio do manuscrito. Com efeito, a formulação de La Condamine parece um pouco confusa, sobretudo no trecho: “nous fit un accueil auquel avaient dû nous préparer les ordres qu’il avait donnés sur notre passage [...]”. Não fica evidente o que o cientista quis dizer com “auquel avaient dû nous préparer” (La Condamine, 1745La Condamine, Charles-Marie de la. Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, lûe à l’assemblée publique de l’Académie des sciences, le 28. avril 1745. Paris: Libraire la Veuve Pissot, 1745. Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image. Acesso em 24 ago. 2023.
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1...
, p. 177).

Considerações finais

Como ler a narrativa de uma viagem que ocorreu no século XVIII, um tempo que não é o nosso?

O primeiro passo é evitar condenar ou louvar, caminho, aliás, que requer pouco esforço, numa sociedade cada dia mais eficiente em executar sumariamente ideias e questões que seriam complexas, não hesitando sequer em condenar pessoas e carreiras. Nesse contexto, como forma inclusive de resistência à facilidade e falsidade do julgamento moral, é preciso privilegiar o impulso para uma busca da compreensão, ou seja, para a construção de sentidos, o que exige certos cuidados metodológicos. Em outras palavras, deve-se ir além da condenação do olhar preconceituoso do viajante estrangeiro que provoca em nós revolta. Não se trata de justificá-lo ou de diminuir sua negatividade, mas, sem perder de vista os discursos que – na atualidade – nos parecem chocantes, buscar reconstruir aquilo que foi feito, dito e escrito no passado, tempo que não é o nosso, o que necessita a definição de um contexto muito diverso de nossa realidade.

Essa segunda abordagem, que busca adensar um discurso, não vem substituir a leitura que se rebela contra preconceitos e injustiças, não apaga os limites e problemas de relatos do passado, mas vem se acrescentar à leitura anacrônica desses textos, buscando certa profundidade na compreensão do objeto, revelando paradoxos, resultando num trabalho mais rico. Em suma, não há muito que se possa contribuir com análises precipitadas ou arraigadas num intuito de meramente condenar ou louvar. Se nosso cotidiano é atravessado por essas “execuções sem processo”, deve-se ao menos ter certo cuidado em pesquisas científicas cujo propósito seria a produção, ainda que modesta, daquilo que chamamos “conhecimento”.

Se Neil Safier (2009)Safier, Neil. “Como era ardiloso o meu francês: Charles-Marie de La Condamine e a Amazônia das Luzes”. Tradução de Manuel Amaral Bueno. Revista Brasileira de História, 29(57), p. 91-114, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-01882009000100004
https://doi.org/10.1590/S0102-0188200900...
realiza um estudo sério das possíveis fontes de La Condamine e dos limites da ciência da época, seu artigo poderia ganhar em riqueza ao evitar um julgamento baseado sobretudo em nossos valores e pautas. Um estudo do contexto e um conhecimento mais aprofundado dessas viagens permitiria acrescentar sentidos à sua análise, para melhor dialogar com uma alteridade: o passado. Afirmar que os viajantes tinham uma visão preconceituosa e eurocêntrica deve constituir um ponto de partida das pesquisas, não de chegada porque, dado o contexto, é pouco provável que fosse diferente e não resulta em um diálogo frutífero.

Tomemos um outro exemplo: o trabalho da Hannah Arendt sobre a banalização do mal. Sabia do horror que foi perpetrado pelos nazistas, mas precisava ir além da revolta e condenação. Seu interesse era compreender o que levou pessoas comuns a cometerem os atos mais inumanos e impensáveis: pretendia dar sentidos a esse mal e esboçar os elementos que o possibilitaram.

Assim, importa ler esses relatos do passado para compreender mundos que não eram os nossos, o choque entre civilizações e universos totalmente distintos, estabelecer a historicidade de visões e mentalidades heterogêneas, em suma, a historicidade da relação com a alteridade.

Nesse processo, interessa-me particularmente o espaço relacional da retradução como prática dialógica: “[...] o tradutor relaciona línguas, textos, culturas e, portanto, diferentes sujeitos, diferentes tempos, diferentes contextos políticos, sociais, ideológicos, diferentes tradições editoriais, literárias, tradutórias etc.” (Cardozo, 2014Cardozo, Mauricio Mendonça. “Tradução como prática e crítica de uma razão relacional”. Cadernos de Tradução, 1(esp.1), p. 235-250, 2014. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2014v3nespp235
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2014v3...
, p. 239).

E a retradução é especialmente relacional já que é outra tradução, ou seja, relaciona-se com as demais traduções e o texto de partida. Associo, nesse ponto, os gestos tradutório e do historiador a esse espaço relacional com o outro. Nos dois casos, trata-se de evidenciar diferenças e de dialogar com a alteridade. Tratamos de textos do passado, que soam, na verdade, como ruídos ou uma música longínqua. Assim, deve-se privilegiar diálogo e escuta nessa leitura de um tempo distante e distinto. Não para justificar. Uma escuta para um estudo embasado em interrogações que pretendam estabelecer uma complexidade. Para que esse espaço relacional seja adensado, é preciso “escutar os mortos com os olhos”, como nos lembra Roger Chartier (2010)Chartier, Roger. “Escutar os mortos com os olhos”. Tradução de Jean Briant. Estudos avançados, 24(69), p. 6-30, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40142010000200002
https://doi.org/10.1590/S0103-4014201000...
em sua aula inaugural no Collège de France, pronunciada no dia 11 de outubro de 2007, para a cátedra “Escrito e culturas na Europa moderna”. Nos apropriados versos de Quevedo (Neira, 1977Neira, Jesús. “El sentido de la lectura en Quevedo”. Archivum: Revista de la Facultad de Filosofía y Letras, 27(1), p. 37-50, 1977., p. 40), que inspiraram o historiador:

Retirado en la paz de estos desiertos, con pocos, pero doctos libros juntos, vivo en conversación con los difuntos, y escucho con mis ojos a los muertos. Si no siempre entendidos, siempre abiertos, o enmiendan, o fecundan mis asuntos; y en músicos callados contrapuntos al sueño de la vida hablan despiertos. Las grandes almas que la muerte ausenta, de injurias de los años vengadora, libra, oh gran don Joseph, docta la emprenta. En fuga irrevocable huye la hora; pero aquella el mejor cálculo cuenta, que en la lección y estudios nos mejora.
  • 1
    Existem vários trabalhos sobre essa expedição e, assim sendo, não me alongarei sobre detalhes da viagem.
  • 2
    Todos os grifos no texto, em negrito, são meus.
  • 3
    Para apenas mencionar o caso da França, vale lembrar a convivência bastante tensa de debates filosóficos no século XVIII. Basta pensar na disputa entre Voltaire e Rousseau, ou ainda na filosofia de Sade. O que chamamos, de forma um tanto redutora, de “Iluminismo” ou “Século das Luzes”, não pode ser entendido como um período homogêneo.
  • 4
    Ver a respeito o artigo de Raquel Efraim (2012)Efraim, Raquel. “Penélope, tecelã de enganos”. Kínesis, 4(8), p. 135-146, 2012., “Penélope, tecelã de enganos”, ou ainda a obra de Richard Sennett (2013)Sennett, Richard. O artífice. Tradução de Clóvis Marques. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2013., O artífice.
  • 5
    Sobre o conceito de tática, ver Certeau (2001)Certeau, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 6. ed. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 2001..
  • 6
    Conceito de Ladmiral.
  • 7
    Na obra de Faleiros & Mattos (2017)Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017., os motivos são mais amplamente discutidos. Por uma questão de espaço, limito-me aqui a listá-los.
  • 8
    Acessada em formato .pdf.
  • 9
    A respeito, ver Torres & Thomé (2022aTorres, Marie Helene Catherine & Thomé, Brenda Bressan. “As Grandes Desventuras de Isabel Godin des Odonais na Amazônia na 1ª metade do Século XVIII”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 82-93, 2022a. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e90694
    https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e...
    , 2022b)Torres, Marie Helene Catherine & Thomé, Brenda Bressan. “Carta do Sr. Godin des Odonais para o Sr. De La Condamine”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 94-129, 2022b. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91659
    https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e...
    .
  • 10
    Os excertos comentados serão apresentados na seguinte ordem no corpo do texto: original, tradução do Senado e tradução de minha autoria.

Referências

  • Abes, Gilles Jean. “Relatório abreviado de uma viagem no interior da América meridional desde o litoral do mar do sul até o litoral do Brasil e da Guiana descendo o rio das Amazonas, de Charles-Marie de La Condamine”. Cadernos de Tradução, 43(esp.2), 2023. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e96032
    » https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e96032
  • Cardozo, Mauricio Mendonça. “Tradução como prática e crítica de uma razão relacional”. Cadernos de Tradução, 1(esp.1), p. 235-250, 2014. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2014v3nespp235
    » https://doi.org/10.5007/2175-7968.2014v3nespp235
  • Certeau, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer 6. ed. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 2001.
  • Chartier, Roger. “Escutar os mortos com os olhos”. Tradução de Jean Briant. Estudos avançados, 24(69), p. 6-30, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40142010000200002
    » https://doi.org/10.1590/S0103-40142010000200002
  • Efraim, Raquel. “Penélope, tecelã de enganos”. Kínesis, 4(8), p. 135-146, 2012.
  • Faleiros, Álvaro & Mattos, Thiago. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prévert São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017.
  • Fetz, Marcelo. “A viagem como descoberta científica: história natural e cultura de precisão”. Revista Brasileira de História da Ciência, 12(1), p. 39-53, 2019. DOI: https://doi.org/10.53727/rbhc.v12i1.48
    » https://doi.org/10.53727/rbhc.v12i1.48
  • La Condamine, Charles-Marie de la. Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la riviere des Amazones, lûe à l’assemblée publique de l’Académie des sciences, le 28. avril 1745 Paris: Libraire la Veuve Pissot, 1745. Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image Acesso em 24 ago. 2023.
    » https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1051316r.image
  • La Condamine, Charles-Marie de la. Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas Brasília: Senado Federal, 2000. Senado Federal. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1045 Acesso em 24 ago. 2023.
    » https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1045
  • Loraux, Nicole. “Elogio do anacronismo”. Tradução de Maria Lúcia Machado. In: Novaes, Adauto (Org.), Tempo e História São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 57-70.
  • Neira, Jesús. “El sentido de la lectura en Quevedo”. Archivum: Revista de la Facultad de Filosofía y Letras, 27(1), p. 37-50, 1977.
  • Nietzsche, Friedrich. A gaia ciência Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
  • Safier, Neil. “Como era ardiloso o meu francês: Charles-Marie de La Condamine e a Amazônia das Luzes”. Tradução de Manuel Amaral Bueno. Revista Brasileira de História, 29(57), p. 91-114, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-01882009000100004
    » https://doi.org/10.1590/S0102-01882009000100004
  • Sennett, Richard. O artífice Tradução de Clóvis Marques. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2013.
  • Torres, Marie Helene Catherine & Thomé, Brenda Bressan. “As Grandes Desventuras de Isabel Godin des Odonais na Amazônia na 1ª metade do Século XVIII”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 82-93, 2022a. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e90694
    » https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e90694
  • Torres, Marie Helene Catherine & Thomé, Brenda Bressan. “Carta do Sr. Godin des Odonais para o Sr. De La Condamine”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 94-129, 2022b. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91659
    » https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91659

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    26 Ago 2023
  • Aceito
    04 Out 2023
  • Publicado
    Out 2023
Universidade Federal de Santa Catarina Campus da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Comunicação e Expressão/Prédio B/Sala 301 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: suporte.cadernostraducao@contato.ufsc.br