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LUIGI BUSCALIONI E A DESCRIÇÃO DOS INDÍGENAS DA AMAZÔNIA: TRADUÇÃO DE RETRATOS E (PRE) CONCEITOS

LUIGI BUSCALIONI AND THE DESCRIPTION OF THE INDIGENOUS PEOPLES OF THE AMAZON: TRANSLATION OF PORTRAITS AND (PRE)CONCEPTS

Resumo

Este artigo apresenta o percurso realizado durante o processo de tradução do capítulo V: “Gli Indios Apinages, Gaviões, Carayas, Anambés, Indios di tribù sconosciute” [Os Índios Apinajés, Gaviões, Carajás, Anambés, Índios de tribos desconhecidas], extraído de Una escursione botanica nell’Amazzonia [Uma excursão botânica na Amazônia] (1901), do piemontês Luigi Buscalioni (Turim 1863 – Bolonha 1954), médico, botânico e professor universitário, que em 1898 iniciou uma viagem de cerca de dois anos na região amazônica do Pará. A viagem e seu respectivo relato tiveram o propósito de buscar e fornecer informações científicas a respeito da fauna, da flora e dos povos da Amazônia brasileira, e, como tal, a narrativa está imbuída do pensamento colonialista da época, que o trabalho de tradução busca problematizar.

Palavras-chave
Luigi Buscalioni; Uma excursão botânica na Amazônia ; Povos indígenas; Tradução comentada e anotada

Abstract

This article presents the process of translating Chapter V: “Gli Indios Apinages, Gaviões, Carayas, Anambés, Indios di tribù sconosciute” [The Apinajés, Gaviões, Carajás, Anambés Indians, Indians of unknown tribes], taken from Una escursione botanica nell’Amazzonia [A botanical excursion in Amazonia] (1901), by the Piedmontese Luigi Buscalioni (Turin 1863 - Bologna 1954), a doctor, botanist and university professor, who in 1898 embarked on a two-year journey to the Amazon region of Pará. The purpose of the trip and its respective account was to seek out and provide scientific information about the fauna, flora and peoples of the Brazilian Amazon. As such, the narrative is imbued with the colonialist thinking of the time, which the translation seeks to problematise.

Keywords
Luigi Buscalioni; Uma excursão botânica na Amazônia ; Indian people; Commented and annotated translation

Os dois primeiros volumes de Traduzindo a Amazônia (Guerini, Torres & Fernandes, 2021Guerini, Andréia; Torres, Marie-Hélene Catherine & Fernandes, José Guilherme. Traduzindo a Amazônia I. Cadernos de Tradução, 41(esp.1), 2021. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e84962
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; Guerini, Torres & Fernandes, 2022Guerini, Andréia; Torres, Marie-Hélene Catherine & Fernandes, José Guilherme. Traduzindo a Amazônia II. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), 2022. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91851
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) apresentam cerca de 20 experiências de viagens pela região da Amazônia, realizadas por homens e mulheres europeus dos séculos XVI ao XX, motivados(as) pelos mais diversos interesses, o que nos permitiu conhecer, discutir e ampliar problemáticas e significados de cultura(s), (de)colonização, genocídio, etnotradução, gênero, tradução comentada, dentre outros. O trabalho das organizadoras, do organizador e dos tradutores e tradutoras que se dedicaram tanto à tradução dos textos quanto à sua apresentação destaca perspectivas, personagens e temas variados que nos mostraram muitas vezes um Brasil pouco conhecido em suas relações com as metrópoles europeias.

O texto que aqui apresentamos pretende ser uma contribuição a essa amostra de autores(as) e obras que vêm trazendo novos olhares sobre o imaginário europeu em relação à Amazônia, sobre o cotidiano das navegações e das regiões percorridas, sobre as características da fauna e flora, do clima, dos tipos humanos e das manifestações culturais, bem como sobre o impacto euro-colonial na sociedade brasileira, em especial sobre a região amazônica.

Escolhemos para esta edição uma parte do livro Una escursione botanica nell’Amazzonia [Uma excursão botânica na Amazônia], do piemontês Luigi Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901. (Turim 1863 – Bolonha 1954), que foi médico, botânico e professor universitário, mais especificamente o Capítulo V, intitulado “Gli Indios Apinages, Gaviões, Carayas, Anambés, Indios di tribù sconosciute” [Os Índios Apinajés, Gaviões, Carajás, Anambés, Índios de tribos desconhecidas]. Em um primeiro momento, destacaremos aspectos da vida e da obra do autor para então tratar do conteúdo do livro e depois abordar alguns de nossos procedimentos tardutórios.

No Dizionario Biografico degli Italiani1 1 Dicionário disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-buscalioni_%28Dizionario-Biografico%29/. , Valerio Giacomini (1972)Giacomini, Valerio. “Luigi Buscalioni”. 1972. Dizionario Biografico degli Italiani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-buscalioni_%28Dizionario-Biografico%29/. Acesso em 27 de maio de 2023.
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destaca alguns momentos mais significativos da vida de Buscalioni como, por exemplo, o fato dele ter se formado em medicina e cirurgia, e posteriormente em ciências naturais. Giacomini (1972)Giacomini, Valerio. “Luigi Buscalioni”. 1972. Dizionario Biografico degli Italiani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-buscalioni_%28Dizionario-Biografico%29/. Acesso em 27 de maio de 2023.
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informa ainda que ele trabalhou como professor de botânica nas Universidades de Turim e de Parma, e, como médico, realizou viagens ao Oriente, Índia e Sul da América. Por conta dessas viagens e da produção científica delas originadas, tornou-se conhecido também fora da Itália, especialmente na Alemanha, onde trabalhou em Gotinga em técnicas microscópicas e de citologia. Valerio Giacomini (1972)Giacomini, Valerio. “Luigi Buscalioni”. 1972. Dizionario Biografico degli Italiani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-buscalioni_%28Dizionario-Biografico%29/. Acesso em 27 de maio de 2023.
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chama ainda atenção para o fato de que Buscalioni, de volta à Itália após a viagem à região amazônica, iniciada em 1898, continuou suas pesquisas, sobretudo em fisiologia, passando pelas universidades de Pavia, Sassari e Catania, onde em 1906 assumiu também a direção da instituição e do horto botânico. Nesse período desenvolveu numerosos estudos, em especial sobre espécies exóticas que incluíam o acervo do local. Em 1923, assumiu a direção do horto botânico da Universidade de Palermo, e em 1928 se transferiu para Bolonha, onde continuou ampliando suas investigações, dedicando-se também a pesquisar cogumelos, neoplasmas, lipóides, fitogeografia, fisiologia e morfologia vegetal, além de debruçar-se sobre etnologia, anatomia humana e patologias. Suas experiências e conhecimentos lhe renderam homenagens e reconhecimento de várias sociedades científicas tanto na Itália como no exterior, embora sua vida tenha sido marcada também por desavenças com o universo acadêmico.

O Dizionario Biografico degli Italiani apresenta ainda um elenco de 23 obras publicadas por Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., cujos temas, como foi dito, inserem-se principalmente no campo da citologia vegetal. Há, também, algumas indicações de obras que mostram outros interesses do autor, como Contribuzione allo studio della flora del Tocantis-Araguya e del Rio delle Amazzoni [Contribuição ao estudo da flora do Tocantins-Araguaia e do Rio Amazonas] (1911, em colaboração com G. Muscatello); Due apparecchi per attenuare l’inquinamento dei pozzi e delle cisterne [Dois aparelhos para atenuar a poluição dos poços e das cisternas] (1916), Frammenti di storia della botanica contemporanea italiana [Fragmentos de história da botânica contemporânea italiana] (1921); Le principali formazioni vegetali dei tropici e le vicende delle mie esplorazioni scientifiche intorno al mondo [As principais formações vegetais dos trópicos e os acontecimentos das minhas explorações científicas ao redor do mundo] (1944-45).

Acreditamos, como tradutoras, ser importante citar e considerar a amplitude de atuação do autor traduzido, pois o conjunto de obras publicadas nos indica um perfil de cientista que buscava, no limiar entre o século XIX e o século XX, pautar-se na observação e no estudo da natureza, como apregoavam os positivistas. Não por acaso o século XIX viu aumentar a quantidade de viajantes estrangeiros em terras brasileiras – exploradores, botânicos, naturalistas, jornalistas que, quase sempre a serviço de algum governo, adentravam rios e matas com a finalidade de descobrir novas espécies animais e vegetais, (re)conhecer novas formas de organização humana, ainda que sob o olhar marcado pela visão de mundo eurocêntrica para, não menos importante, beneficiar-se do que foi explorado, e beneficiar o país que representavam.

O relato de viagem Uma excursão botânica no Amazonas, foco deste estudo e tradução foi, portanto, vertido para o português sob a premissa de que é um texto carregado de significados que extrapolam a superfície que nos é dada a conhecer através dos componentes linguístico-gramaticais do texto. Sobre esses significados podemos levantar hipóteses, e, sobretudo, não podemos desconsiderar a carga cultural que mostra a visão de mundo do colonizador, para, por fim, propor alguma reflexão sobre como passado e presente se comunicam. Inicialmente, gostaríamos de ressaltar que o texto de Buscalioni resultou da viagem por ele iniciada em 15 de março de 1898, e teve o propósito de ser uma excursão científica destinada à pesquisa em botânica nas florestas da Amazônia brasileira. O relato tem a assinatura do autor, com a data de 30 de abril de 1900, tendo sido publicado em Roma em 1901, pela Società Geografica Italiana2 2 A edição está disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5261. .

Giacomini (1972, s. p., grifos nossos)Giacomini, Valerio. “Luigi Buscalioni”. 1972. Dizionario Biografico degli Italiani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-buscalioni_%28Dizionario-Biografico%29/. Acesso em 27 de maio de 2023.
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indica parte do resultado da viagem de Buscalioni que:

[...] subiu os rios Tocantins e Araguaia na região do rio Amazonas no trecho de Belém a San Vincenzo, trazendo de volta trinta mil espécimes de plantas, materiais morfológicos e biológicos, principalmente Podosternáceas, formigas, parasitas, epífitas, saprófitas e madeireiras. Trouxe também dessas viagens ao Brasil um rico acervo etriográfico que foi consignado ao Museu Hemográfico e um acervo geológico destinado ao Museu Geológico da Universidade de Roma

(Giacomini, 1972Giacomini, Valerio. “Luigi Buscalioni”. 1972. Dizionario Biografico degli Italiani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-buscalioni_%28Dizionario-Biografico%29/. Acesso em 27 de maio de 2023.
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, s. p., grifos nossos)3 3 [...] risaliva i fiumi Tocantins e Araguaia nella regione del Rio delle Amazzoni nel tratto da Belém a San Vincenzo, riportando trentamila esemplari di piante, materiali di morfologia e biologia, in special modo Podosternacee, piante formicarie, parassite, epifite, saprofite e legni. Riportò inoltre da questi viaggi in Brasile anche una ricca collezione etriografica che fu consegnata al Museo emografico e una collezione geologica destinata al Museo geologico dell’università di Roma (Giacomini, 1972, s. p.). As traduções, quando não indicadas, são de nossa autoria. .

Una escursione botanica nell’Amazzonia, de Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., está dividido em doze capítulos, assim intitulados em nossa tradução:

  1. De Roma ao Pará;

  2. Em viagem pelo Tocantins e Araguaia;

  3. Através dos Campos. Dois dias entre os índios Apinayé. O retorno;

  4. O brasileiro sob o ponto de vista étnico e social;

  5. Os índios Apinayé, Gaviões, Carajá e Anembé. Índios desconhecidos;

  6. Doenças dominantes nas regiões exploradas;

  7. Fauna do Tocantins. Principais animais úteis e nocivos;

  8. Vegetação do Tocantins e da foz do Rio Amazonas;

  9. Principais plantas cultivadas ou úteis do Pará;

  10. A região do Rio Tocantins do ponto de vista climático e geológico;

  11. Os Campos. Teoria sobre a sua origem;

  12. As plantas formicárias americanas. Uma nova teoria sobre a Mirmecofilia.

Como é possível visualizar pelos títulos, Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901. dedica-se a descrever aspectos da vegetação, da condição climática e geológica, das etnias indígenas, doenças e insetos típicos das regiões visitadas, com destaque para o Rio Amazonas e o Rio Tocantins, confirmando o seu compromisso em apresentar-se ao público italiano como cientista imbuído da missão de pesquisar e também de comunicar o que vira.

Ademais, dedica parte do seu relato à descrição de alguns aspectos da sociedade brasileira, com destaque para a composição das cidades, o modo de vida urbano e rural, a arquitetura das casas e dos centros urbanos, a alimentação e o cultivo agrícola, as festividades regionais, dentre outros temas, de modo que nos fornece um retrato da organização social da época.

Por fim, como apêndice ao livro, encontra-se o texto Il progetto d’impianto di un Istituto botanico internazionale nell’Amazonia [Projeto de implantação de um Instituto botânico internacional na Amazônia], missão que lhe teria sido dada pelos governos do Pará e da Amazônia, e que acabou não se realizando.

O texto de Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901. é rico em referências que narram experiências de confronto com a natureza e o ser humano, e como os(as) demais viajantes que também passaram pela região, realiza uma leitura do “novo” mundo irredutivelmente marcada pela perspectiva eurocentrista da qual fazia parte e que via o indígena como um indivíduo de cultura e capacidade inferior ao colonizador branco europeu, e a natureza como um elemento a ser dominado e explorado. Não é difícil compreendermos esse pensamento se considerarmos a hipótese de Tzvetan Todorov (1999, p. 6)Todorov, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. Tradução de Beatriz Perrone Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 1999. de que “[...] é a conquista da América que anuncia e funda nossa identidade presente”, e sobre a qual muito poderia se falar, mas aqui pensamos especificamente no (des)encontro entre os europeus e as até então desconhecidas populações indígenas da América. No século XVI, com a chegada do europeu à América, o mundo finalmente complementava-se para o europeu, mas a estranheza, o não reconhecimento da humanidade dos povos das terras recém encontradas ocasionou “[...] o maior genocídio da história da humanidade” (Todorov, 1999Todorov, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. Tradução de Beatriz Perrone Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 1999., p. 6).

Séculos depois, as referências europeias ainda se perpetuavam como modelo de vida e de pensamento, e, podemos adiantar, Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., não fugindo à norma do seu tempo, enxergou, tratou e descreveu os indígenas com o mesmo arsenal de valores eurocentristas, de modo que o encontro com as populações autóctones não provocou surpresa ao viajante já acostumado a ver e considerar esses povos como inferiores, ou “sem fé, lei ou rei”, como o português Pero de Magalhães Gandavo havia escrito no seu Tratado da Terra do Brasil, em 1573: “[...] a língua deste gentio toda pela costa é uma: carece de três letras – scilicet, não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente” (Gandavo, 2008Gandavo, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil. História da Província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal, 2008., p. 66).

No relato de Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., em especial no capítulo aqui traduzido, “Os Índios Apinajés, Gaviões, Carajás, Anambés, Índios de tribos desconhecidas”, podemos ver em diferentes momentos a continuidade do mesmo pensamento colonizador dos portugueses na América. O viajante apresenta ao leitor italiano a sua visão sobre os grupos indígenas dos quais teve conhecimento e ou algum contato, que, como vimos, é herdada da visão que os quinhentistas tiveram sobre as terras do Novo Mundo. Poderíamos dizer, portanto, que a maneira de ver o outro está já contaminada e pré-formada pelo imaginário existente a respeito desse outro. Veremos alguns exemplos; ao falar sobre a habitação dos Apinajés4 4 Sobre a história do povo Apinajés, ainda que contada do ponto de vista não indígena, recomendamos a consulta aos portais Povos Indígenas no Brasil e Terras indígenas no Brasil. Segundo consta nessas fontes, os Apinajés historicamente estão localizados na confluência dos rios Araguaia e Tocantins e os primeiros contatos com os europeus deu-se no século XVII, quando os jesuítas estiveram na região. Posteriormente, devido à abertura de caminhos pelos citados rios, os contatos se intensificaram e com ele a queda demográfica. Em 1897, Condreau estimou a existência de 400 indivíduos na região, enquanto Buscalioni, alguns anos depois, indicou apenas 150 pessoas. Felizmente, os dados atuais mostram um aumento significativo da população no século XX. , por exemplo, escreve ele:

Dentro das cabanas há uma grande pobreza. No empoeirado chão estão amontoados, em total desordem, abóboras e cascos de tartaruga; nas paredes e no teto estão pendurados arcos, flechas, colares de vários tipos, esteiras, abacaxis, bananas e outros objetos, e o resto da cabana está por fim quase todo ocupado pelas camas. E que tipo de camas!

(Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 58)5 5 Nell’interno delle capanne regna una grande povertà. Sul polveroso terreno giacciono affastellati alla rinfusa delle zucche, dei gusci di tartaruga; alle pareti ed al soffitto stanno appesi degli archi, delle freccie, delle collane di varia natura, delle stuoja, degli ananas, delle banane ed altri oggetti; il resto della capanna è infine quasi tutto occupàto dai letti. Ma che razza di letti! (Buscalioni, 1901, p. 58). .

Em todo o relato não é difícil encontrar passagens como a que acabamos de mostrar, que, apesar de serem aparentemente apenas descritivas, parecem indicar um certo preconceito, por parte de Buscalioni, do modo de viver encontrado nos locais visitados. Expressões como “grande pobreza”, “empoeirado chão”, “amontoados em total desordem”, “e que tipo de camas!” indicam que o viajante é tocado por características que a seu ver constituem a falta de civilidade dos povos indígenas, tendo como contrapartida os próprios costumes europeus. Seu olhar, acostumado às construções das cidades italianas, com seus palácios, casas, pontes, parques e decoração de inspiração barroca e neoclássica, certamente não estava preparado para compreender os conceitos de “riqueza”, “pobreza”, “ordem”, dentre outros, que na vivência dos indígenas certamente tinham outro significado.

O mesmo acontece quando ele descreve as características físicas dos indígenas e a organização social dos mesmos:

[Apinajés] Os lábios são grandes e úmidos. O lábio inferior é também artificialmente deformado com um buraco de cerca de um centímetro de largura, que os Indianos costumam tapar com um pequeno disco de madeira ou com uma rolha de cerca de três centímetros de comprimento adornada com penas. Quando falta a rolha, a saliva flui como um sutil fio de água do buraco, o que certamente contribui muito para tornar a figura repulsiva

(Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 59)6 6 Le labbra sono grosse e umide. Il labbro inferiore viene pure artificialmente deturpato con un foro largo circa un centimetro che gli Indiani sogliono poi tappare con un dischetto di legno o con un tappo lungo tre centimetri circa ed adorno di penne. Quando manca il tappo la saliva sgorga come un sottile rigagnolo dal foro, il che certamente contribuisce non poco a rendere la figura ributtante (Buscalioni, 1901, p. 59). .

Os vários membros da tribo vivem em muito bom acordo entre eles sob a direção de um líder. A organização social é, no entanto, como se compreende, bem rudimentar. Existe, é verdade, por exemplo, um simulacro de casamento, mas do ponto de vista dos efeitos, por assim dizer, jurídicos, que dele emanam, estamos somente diante de uma ridícula cerimônia destituída de qualquer importância

(Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 60)7 7 I vari membri della tribù vivono in buonissimo accordo fra loro sotto la direzione di un capo. L’organizzazione sociale è però, bene si comprende, quanto mai rudimentale. Esiste, è vero, ad esempio, un simulacro di matrimonio, ma dal punto di vista degli effetti, diremo così, giuridici che dallo stesso emanano, noi ci troviamo unicamente di fronte ad una ridicola cerimonia destituita di ogni importanza (Buscalioni, 1901, p. 60). .

Desta tribo [Anambés8 8 Sobre a história do povo Anambés, ainda que contada do ponto de vista não indígena, recomendamos a consulta aos portais Povos Indígenas no Brasil e Terras Indígenas no Brasil. De acordo com os dados disponibilizados nesses sites, os Anambés, pertencentes ao tronco Tupi-guarani, viviam à oeste do Rio Tocantins, na cabeceira do Rio Pacajá. O contato com os grupos étnicos europeus, como exploradores e jesuítas, foi aos poucos causando a perda da maioria dos elementos culturais do grupo, e hoje o modo de vida dos pouco mais de 100 indivíduos que residem na terra indígena a eles demarcada é muito próximo ao modo de vida dos sertanejos da região. ] me foram apresentados dois indivíduos, um dos quais vivia numa casa colonial perto de Alcobaça, o outro em Arumateua. O primeiro era um menino chorão, a quem a nossa presença incutia um medo extraordinário. De fato, assim que eu tentava me aproximar, ele fugia chorando e fazendo caretas, o que lhe dava uma aparência quase bestial. Era filho de um Índio, mas sua mãe era brasileira, o que não havia atenuado os estigmas do tipo selvagem. O outro era um homem já maduro, que o Sr. Mondico mantinha ao seu serviço. De característico apresentava apenas algumas faixas de tatuagem em suas bochechas, um bom grau de prognatismo e uma pronunciada saliência das bochechas. O tipo, em suma, era o de um criminoso

(Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 67)9 9 Di questa tribù mi furono presentati due individui, l’uno dei quali dimorava in una casa colonica presso Alcobaca, l’altro ad Arumateua. Il primo era un ragazzetto piagnucoloso, cui la nostra presenza infondeva una straordinaria paura. Infatti, appena io cercava di avvicinarlo, fuggiva piangendo e facendo delle smorfie, che gli davano un aspetto quasi bestiale. Egli era figlio di un Indios, ma la madre era brasiliana, il che, per altro, non aveva attenuate le stimmate del tipo selvaggio. L’altro era un uomo già discretamente attempato, che il signor Mondico teneva al suo servizio. Di caratteristico non presentava altro che alcune striscie di tatuaggio alle guancie, un discreto grado di prognatismo ed una pronunciata sporgenza degli zigomi. Il tipo, insomma, era quello di un criminale (Buscalioni, 1901, p. 67). .

Era meu desejo exportar do cemitério alguns crânios, mas para conseguir tive que lutar com muitas dificuldades, que superei dando alguns objetos ao chefe da tribo e fazendo-o acreditar que eu, estando em íntima relação com Deus, poderia levantar ao céu algumas orações pelos mortos, se eu tivesse à disposição os crânios, porque sem eles Deus não iria entender por qual morto eu estava orando. Com tal sistema, que tentei tornar mais persuasivo acompanhando as palavras com gestos espirituosos, como se estivesse tomado por um acesso de êxtase religiosa, obtive dois crânios de homens, um de criança e outro de mulher. Um destes crânios apresentava apófises estilóides muito longas, enquanto outro tinha ossos Wormianos muito desenvolvidos. Os quatro crânios foram enviados ao inteligentíssimo Prof. Cesare Lombroso, que, animado pela cortesia que o distingue, me prometeu ilustrá-los com algumas dicas para a minha obra: De Roma à Maloca etc.

(Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 62)10 10 Era mio desiderio esportare dal cimitero alcuni crani, ma per riuscirvi ho dovuto lottare con non poche difficoltà, che però superai regalando qualche oggetto al capo della tribù e facendogli credere che io, essendo in stretta relazione con Dio, potevo inalzare al cielo alcune preghiere a favore dei defunti, qualora avessi però avuto a disposizione i teschi, perchè senza di essi Iddio non sarebbe riuscito a capire per quale morto io pregava. Con un tale sistema, che io cercai di rendere più persuasivo accompagnando le parole con gesti da spiritato, quasi io fossi in preda ad un accesso di estasi religiosa, ottenni due crani di maschi, uno di bambino ed un altro di donna. Uno di tali crani presentava delle apofisi stiloidi assai lunghe, mentre un altro aveva delle ossa Wormiane sviluppatissime. I quattro crani sono stati inviati al chiarissimo prof. C. Lombroso, il quale, animato da quella cortesia che lo distingue, mi promise di illustrarli con alcuni cenni per la mia opera: Da Roma alla Maloca, ecc. (Buscalioni, 1901, p. 62). .

Não podemos deixar de ressaltar a referência afetuosa que Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901. faz ao então renomado médico psiquiatra, cientista e criminalista Cesare Lombroso, nascido em Verona em 1935 e falecido em 1909. Lombroso, como se sabe, é considerado o pai da antropologia criminal, corrente científica que ganhou força no final do século XIX e que defendia, grosso modo, que determinadas características faciais determinariam a predisposição (ou não) de um indivíduo à chamada degeneração moral, à conduta antissocial e, em casos mais graves, ao crime. A título de exemplo, reportamos algumas das hipóteses por ele exploradas no seu tratado de mais de 500 páginas sobre o assunto:

[...] muitas características apresentadas pelos selvagens [...] são visíveis com muita frequência nos delinquentes natos. Tais seriam, por exemplo, a escassez de pelos, a pouca capacidade craniana, a testa recuada, os seios frontais altamente desenvolvidos, [...] o enorme desenvolvimento das mandíbulas e das maçãs do rosto, o prognatismo, a obliquidade das órbitas, a pele mais escura, o sistema capilar mais grosso e enrolado [...] a precocidade aos prazeres venéreos e ao vinho e a paixão exagerada por eles [...] a pouca sensibilidade à dor, a completa insensibilidade moral, a preguiça, a falta de remorso, a impulsividade, a excitabilidade físico-psíquica e sobretudo a imprevidência, que às vezes parece coragem, e a coragem que se alterna com a covardia, [...] a superstição fácil, a suscetibilidade exagerada do próprio ego e até mesmo o conceito relativo de divindade e moralidade

(Lombroso, 1897Lombroso, Cesare. L’uomo delinquente. In rapporto all’antropologia, alla giurisprudenza ed alla psichiatria (cause e rimedi). Torino: Fratelli Bocca Editori, 1897., p. 503-507)11 11 [...] molti dei caratteri che presentano gli uomini selvaggi [...] rincorrono spessissimo nei delinquenti nati. Tali sarebbero, p. es., la scarsezza dei peli, la poca capacità cranica, la fronte sfuggente, i seni frontali molto sviluppati, [...] lo sviluppo enorme delle mandibole e degli zigomi, il prognatismo, l’obliquità delle orbite, la pelle più scura, il più folto ed arricciato capillizio [...] la precocità ai piaceri venerei e al vino e la passione esagerata per essi, [...] la poca sensibilità dolorifica, la completa insensibilità morale, l’accidia, la mancanza di ogni rimorso, l’impulsività, l’eccitabilità fisico-psichica e soprattutto l’imprevidenza, che sembra alle volte coraggio, e il coraggio che si alterna alla viltà, la grande vanità, [...] la facile superstizione, la suscettibilità esagerata del proprio io e perfino il concetto relativo della divinità e della morale (Lombroso, 1897, p. 503-507). .

Quando Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901. descreve as populações indígenas, conforme os exemplos que mostramos, é difícil não pensar que a sua visão e maneira de compreender o modo de viver das pessoas encontradas já estava pré-formada e as teses de Lombroso (1897)Lombroso, Cesare. L’uomo delinquente. In rapporto all’antropologia, alla giurisprudenza ed alla psichiatria (cause e rimedi). Torino: Fratelli Bocca Editori, 1897., ao que parece, tiveram parte importante nesse processo, como se nota, por exemplo, no momento em que Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901. associa diretamente características físicas humanas descrita por Lombroso (1897)Lombroso, Cesare. L’uomo delinquente. In rapporto all’antropologia, alla giurisprudenza ed alla psichiatria (cause e rimedi). Torino: Fratelli Bocca Editori, 1897. – prognatismo e bochechas salientes – à respectiva conduta social, na já citada passagem: “[...] o tipo, em suma, era o de um criminoso” (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 67)12 12 Il tipo, insomma, era quello di un criminale (Buscalioni, 1901, p. 67). . Ao mesmo tempo em que é imperativo na sua análise, apresenta também, no seu relato, uma possível “solução” para resolver ou ao menos amenizar o “problema” do Brasil: a interferência do Estado e das instituições religiosas. Ele termina o capítulo dizendo: “seja-me permitido expressar meu desejo de que os diferentes Governos do Brasil [...] venham a estabelecer ao longo dos rios infestados pelos selvagens centros coloniais encarregados de catequizar as várias tribos” (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 68)13 13 [...] mi sia permesso esprimere il voto che i differenti Governi del Brasile [...] abbiano a stabilire lungo i fiumi infestati dai selvaggi dei centri colonici incaricati di catechizzare le varie tribù. Molto si è fatto in proposito, ma molto resta ancora da fare (Buscalioni, 1901, p. 68). .

Faz-se importante notar aqui que, enquanto tradutoras, de forma alguma concordamos com tais ideias, hoje tidas como preconceituosas e racistas. Por que então traduzir um texto que está na contramão da valorização e da defesa da diversidade e da cultura dos povos indígenas do Brasil e da América? Por que dar espaço ao homem europeu branco que, sob a justificativa de promover e aprofundar a ciência e a religião, torna-se porta-voz de mais um projeto colonizador exploratório cujo objetivo maior é eliminar as diferenças, anular as referências culturais autóctones e obrigar os povos indígenas a viverem dentro dos valores da cultura europeia?

Para responder a essas questões precisamos antes de tudo compreender que entre a nossa época e o período em que o relato de Buscalioni foi escrito há uma notável distância temporal, e, como faz o olhar do historiador, sabemos da necessidade de considerar a experiência do autor a partir da visão de mundo de então; do contrário, cairíamos num julgamento inadequado, baseado no nosso lugar de fala e nos nossos valores atuais, e esse anacronismo histórico invalidaria a nossa análise. Por outro lado, contudo, não podemos deixar de pensar também que muitas das ideias, conceitos e preconceitos do autor se perpetuam até hoje, e nesse sentido acreditamos que tais questionamentos são fundamentais dentro do nosso projeto tradutório. Tomamos em consideração o conceito de solidariedade entre as épocas, assim descrito pelo historiador francês Marc Bloch, torturado e fuzilado pela Gestapo em 1944: “[...] a solidariedade das épocas tem tanta força que entre elas os vínculos de inteligibilidade são verdadeiramente de sentido duplo. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja menos vão esgotar-se em compreender o passado se nada se sabe do presente” (Bloch, 2002Bloch, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2002., p. 65).

Nessa perspectiva, uma vez que o conhecimento do passado se transforma e se aperfeiçoa sem cessar, passado e presente se interpenetram, e sem a faculdade de compreender o que é vivo, o que é presente, não há história como ato de conhecimento. Consideramos, portanto, que a tradução, aqui unida ao estudo da história, torna-se um instrumento que contribui para dar visibilidade ao passado e, por conseguinte, às questões do tempo presente. Que os leitores e leitoras destas páginas, ao entrarem em contato com as ideias do autor, venham a refletir sobre como os indígenas do Brasil têm, desde 1500, diariamente lutado pela manutenção dos seus direitos e da sua dignidade, ameaçada por projetos genocidas como o caso dos garimpos ilegais nas terras Yanomami, que não apenas destroem a natureza como também sujeitam seus quase 30 mil habitantes a todo tipo de violência física e emocional, a contaminações, fome e doenças14 14 Em uma audiência na Câmara dos Deputados na data de 14 de julho de 2022, entidades indigenistas e socioambientais apresentaram a denúncia de uma tragédia humanitária na Terra Indígena Yanomami, nos estados de Roraima e Amazonas. Na ocasião, foi delatado o garimpo ilegal de ouro, a violência sexual contra mulheres e crianças, assassinatos, desnutrição e precarização do atendimento público de saúde na região. Em janeiro de 2023, novas denúncias constataram que nos últimos quatro anos quase 600 crianças morreram em decorrência da fome, da desnutrição e de doenças como a malária, num projeto de genocídio premeditado pelo Governo Bolsonaro (cf. Filho, 2023; Menke, 2022). . E que a mensagem de respeito à natureza – a urihi a –, assim transmitida pelo xamã Yanomami Davi Kopenawa, que deixamos aqui como um contraponto às ideias de Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901. ainda presentes nos nossos dias, possa servir como um antídoto e remédio à continuidade do pensamento colonizatório:

A terra da floresta possui um sopro vital, wixia, que é muito longo. O dos seres humanos é curto: vivemos e morremos depressa. Se não a desmatamos, a floresta não morre. Ela não se decompõe. É graças a seu sopro úmido que as plantas crescem. Quando estamos muito doentes, em estado de fantasma, esse sopro também nos ajuda a nos curarmos. Então, o tomamos emprestado e ficamos bem. Você não vê o sopro dela, mas a floresta respira. Ela não está morta. Olhe para ela, suas árvores estão bem vivas, com folhas vibrantes. Se não tivesse sopro de vida, elas estariam secas. Esse sopro vem do fundo do chão da floresta, dali onde mora seu frescor. Ele também vive em suas águas. Não, a floresta não está morta, como pensam os brancos. Mas, se a destruírem, aí, sim, ela vai morrer

(Albert & Kopenawa, 2023Albert, Bruce & Kopenawa, Davi. O espírito da floresta. Tradução de Rosa Freire de Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2023., p. 30).

***

No que concerne a tradução do capítulo “Gli Indios Apinages, Gaviões, Carayas, Anambés, Indios di tribù sconosciute” [Os Índios Apinajés, Gaviões, Carajás, Anambés, Índios de tribos desconhecidas], optamos por nos deter tanto quanto possível à letra do texto, de modo que buscamos refletir sobre cada escolha almejando minimizar os efeitos da domesticação do texto, evitando ao máximo aquilo que Berman (2013)Berman, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue longínquo. Tradução de Marie-Hélène Torres, Mauri Furlan & Andréia Guerini. Florianópolis: PGET, 2013. chamou de tendências deformadoras, pois nossa intenção foi a de manter a “letra” do viajante europeu para justamente compreender as relações de dominação, cultura, preconceito, entre outras, estabelecidas no diálogo entre o passado e o presente.

De modo geral, Buscalioni faz uso de um estilo simples, com sintaxe bastante próxima da que é comumente usada na língua portuguesa do Brasil. O italiano utilizado pelo autor não apresenta muitas diferenças em relação ao italiano contemporâneo. Naturalmente, não podemos esquecer que palavras e conceitos por si só possuem uma carga semântica com usos específicos em cada época, que podem, com o passar do tempo, sofrer modificações, adquirir novas nuances e significados. Entendemos igualmente que o olhar do tradutor/da tradutora não são neutros, porque são também marcados por valores e perspectivas de sua própria experiência, e nossa escolha foi a de procurar construir um texto em que a materialidade da língua e da cultura do autor ganhem mais espaço. Nosso objetivo primeiro, portanto, não é comunicar ideias, ou meramente transmitir uma mensagem, mas sim, procurar recolocar na língua portuguesa a forma e o conteúdo da escrita de Buscalioni. Felizmente, com o desenvolvimento do campo da tradução comentada, quem traduz pode manifestar-se de modo complementar à tradução propriamente dita, apresentar seu ponto de vista sobre o texto traduzido, sobre as diretrizes pelas quais realizou o projeto tradutório. Em suma, o valor da pesquisa nessa área “[...] situa-se em sua contribuição para o aumento da autoconsciência para a qualidade da tradução” (Williams & Chesterman, 2002Chesterman, Andrew & Williams, Jenny. The Map: A Beginner’s Guide to Doing Research in Translation Studies. Manchester: St. Jerome Publishing Company, 2002., p. 7)15 15 One value of such research lies in the contribution that increased self-awareness can make to translation quality (Williams & Chesterman, 2002, p. 7). .

Em relação aos procedimentos tradutórios, como o da manutenção da “letra”, alguns exemplos de nossa tradução ilustram nosso modo de verter o texto de Buscalioni (1901)Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901.. O primeiro é concernente à palavra “índio” ou “indiano”, utilizada para se referir aos habitantes autóctones. Hoje, a palavra “índio” está caindo em desuso, sendo indicado o termo “indígena” ou “autóctone” no seu lugar, mas optamos por mantê-la nas vinte e duas vezes em que o autor a utiliza neste capítulo para marcar o seu posicionamento e a temporalidade da palavra. O mesmo acontece com a palavra “selvagem”. O uso de “selvagem” para descrever os indígenas demonstra o caráter estereotipado com que as nossas populações autóctones eram vistas. Mesmo sabendo e reconhecendo que é uma palavra com forte carga semântica, mantivemos o uso de “selvagem” na tradução justamente para mostrar ao leitor do século XXI a forma como eram descritas as populações indígenas do Brasil e da América.

Quando não encontramos um termo que consideramos adequado na tradução, optamos por estratégias que pudessem de alguma maneira manter a sua iconicidade (Berman, 2013Berman, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue longínquo. Tradução de Marie-Hélène Torres, Mauri Furlan & Andréia Guerini. Florianópolis: PGET, 2013.). É o caso da utilização da nota de rodapé número 6, em que explicamos o significado do termo “terriccio”, que foi traduzido por “terra”: “[...] o termo ‘terriccio’ em italiano indica que se trata da terra que está disposta superficialmente no solo, não compactada e misturada com substâncias orgânicas decompostas, especialmente vegetais” (Berman, 2013Berman, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue longínquo. Tradução de Marie-Hélène Torres, Mauri Furlan & Andréia Guerini. Florianópolis: PGET, 2013., p. 75). Ao usar o termo “terriccio” no contexto de um cemitério, o autor especifica um tipo específico de terra, que poderíamos ter traduzido por “terra adubada”, “terra solta” ou ainda “terra orgânica”, contudo, no nosso entender, essas expressões, associadas ao lugar cemitério, poderiam fornecer uma ideia deturpada e mesmo desrespeitosa, empobrecendo a imagem icônica, e por isso optamos pela manutenção do termo neutro “terra” associado à explicação em nota de rodapé. O termo “giaciglio”, utilizado para se referir à cama dos indígenas, também nos obrigou a refletir mais longamente sobre o tema. Em italiano, o termo significa uma cama miserável, ou improvisada, ou ainda um leito para animais. Para não alongar/clarificar o texto, optamos por usar a palavra cama entre aspas, traduzindo-a na expressão: “a parte essencial da ‘cama’”, o que, a nosso ver, e a partir do texto-contexto, manteve a indicação de que se tratava de uma cama humilde. Ainda no sentido de buscar preservar a letra do autor, mantivemos na tradução as palavras estrangeiras usadas pelo autor, bem como procuramos manter tanto a sintaxe quanto a pontuação do texto, e a colocação das palavras no texto.

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    A edição está disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5261.
  • 3
    [...] risaliva i fiumi Tocantins e Araguaia nella regione del Rio delle Amazzoni nel tratto da Belém a San Vincenzo, riportando trentamila esemplari di piante, materiali di morfologia e biologia, in special modo Podosternacee, piante formicarie, parassite, epifite, saprofite e legni. Riportò inoltre da questi viaggi in Brasile anche una ricca collezione etriografica che fu consegnata al Museo emografico e una collezione geologica destinata al Museo geologico dell’università di Roma (Giacomini, 1972Giacomini, Valerio. “Luigi Buscalioni”. 1972. Dizionario Biografico degli Italiani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-buscalioni_%28Dizionario-Biografico%29/. Acesso em 27 de maio de 2023.
    https://www.treccani.it/enciclopedia/lui...
    , s. p.). As traduções, quando não indicadas, são de nossa autoria.
  • 4
    Sobre a história do povo Apinajés, ainda que contada do ponto de vista não indígena, recomendamos a consulta aos portais Povos Indígenas no BrasilPovos Indígenas no Brasil. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Anamb%C3%A9. Acesso em 27 de maio de 2023.
    https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:A...
    e Terras indígenas no BrasilTerras Indígenas no Brasil. Disponível em: https://terrasindigenas.org.br/pt-br/. Acesso em 23 de março de 2023.
    https://terrasindigenas.org.br/pt-br/...
    . Segundo consta nessas fontes, os Apinajés historicamente estão localizados na confluência dos rios Araguaia e Tocantins e os primeiros contatos com os europeus deu-se no século XVII, quando os jesuítas estiveram na região. Posteriormente, devido à abertura de caminhos pelos citados rios, os contatos se intensificaram e com ele a queda demográfica. Em 1897, Condreau estimou a existência de 400 indivíduos na região, enquanto Buscalioni, alguns anos depois, indicou apenas 150 pessoas. Felizmente, os dados atuais mostram um aumento significativo da população no século XX.
  • 5
    Nell’interno delle capanne regna una grande povertà. Sul polveroso terreno giacciono affastellati alla rinfusa delle zucche, dei gusci di tartaruga; alle pareti ed al soffitto stanno appesi degli archi, delle freccie, delle collane di varia natura, delle stuoja, degli ananas, delle banane ed altri oggetti; il resto della capanna è infine quasi tutto occupàto dai letti. Ma che razza di letti! (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 58).
  • 6
    Le labbra sono grosse e umide. Il labbro inferiore viene pure artificialmente deturpato con un foro largo circa un centimetro che gli Indiani sogliono poi tappare con un dischetto di legno o con un tappo lungo tre centimetri circa ed adorno di penne. Quando manca il tappo la saliva sgorga come un sottile rigagnolo dal foro, il che certamente contribuisce non poco a rendere la figura ributtante (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 59).
  • 7
    I vari membri della tribù vivono in buonissimo accordo fra loro sotto la direzione di un capo. L’organizzazione sociale è però, bene si comprende, quanto mai rudimentale. Esiste, è vero, ad esempio, un simulacro di matrimonio, ma dal punto di vista degli effetti, diremo così, giuridici che dallo stesso emanano, noi ci troviamo unicamente di fronte ad una ridicola cerimonia destituita di ogni importanza (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 60).
  • 8
    Sobre a história do povo Anambés, ainda que contada do ponto de vista não indígena, recomendamos a consulta aos portais Povos Indígenas no BrasilPovos Indígenas no Brasil. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Anamb%C3%A9. Acesso em 27 de maio de 2023.
    https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:A...
    e Terras Indígenas no BrasilTerras Indígenas no Brasil. Disponível em: https://terrasindigenas.org.br/pt-br/. Acesso em 23 de março de 2023.
    https://terrasindigenas.org.br/pt-br/...
    . De acordo com os dados disponibilizados nesses sites, os Anambés, pertencentes ao tronco Tupi-guarani, viviam à oeste do Rio Tocantins, na cabeceira do Rio Pacajá. O contato com os grupos étnicos europeus, como exploradores e jesuítas, foi aos poucos causando a perda da maioria dos elementos culturais do grupo, e hoje o modo de vida dos pouco mais de 100 indivíduos que residem na terra indígena a eles demarcada é muito próximo ao modo de vida dos sertanejos da região.
  • 9
    Di questa tribù mi furono presentati due individui, l’uno dei quali dimorava in una casa colonica presso Alcobaca, l’altro ad Arumateua. Il primo era un ragazzetto piagnucoloso, cui la nostra presenza infondeva una straordinaria paura. Infatti, appena io cercava di avvicinarlo, fuggiva piangendo e facendo delle smorfie, che gli davano un aspetto quasi bestiale. Egli era figlio di un Indios, ma la madre era brasiliana, il che, per altro, non aveva attenuate le stimmate del tipo selvaggio. L’altro era un uomo già discretamente attempato, che il signor Mondico teneva al suo servizio. Di caratteristico non presentava altro che alcune striscie di tatuaggio alle guancie, un discreto grado di prognatismo ed una pronunciata sporgenza degli zigomi. Il tipo, insomma, era quello di un criminale (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 67).
  • 10
    Era mio desiderio esportare dal cimitero alcuni crani, ma per riuscirvi ho dovuto lottare con non poche difficoltà, che però superai regalando qualche oggetto al capo della tribù e facendogli credere che io, essendo in stretta relazione con Dio, potevo inalzare al cielo alcune preghiere a favore dei defunti, qualora avessi però avuto a disposizione i teschi, perchè senza di essi Iddio non sarebbe riuscito a capire per quale morto io pregava. Con un tale sistema, che io cercai di rendere più persuasivo accompagnando le parole con gesti da spiritato, quasi io fossi in preda ad un accesso di estasi religiosa, ottenni due crani di maschi, uno di bambino ed un altro di donna. Uno di tali crani presentava delle apofisi stiloidi assai lunghe, mentre un altro aveva delle ossa Wormiane sviluppatissime. I quattro crani sono stati inviati al chiarissimo prof. C. Lombroso, il quale, animato da quella cortesia che lo distingue, mi promise di illustrarli con alcuni cenni per la mia opera: Da Roma alla Maloca, ecc. (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 62).
  • 11
    [...] molti dei caratteri che presentano gli uomini selvaggi [...] rincorrono spessissimo nei delinquenti nati. Tali sarebbero, p. es., la scarsezza dei peli, la poca capacità cranica, la fronte sfuggente, i seni frontali molto sviluppati, [...] lo sviluppo enorme delle mandibole e degli zigomi, il prognatismo, l’obliquità delle orbite, la pelle più scura, il più folto ed arricciato capillizio [...] la precocità ai piaceri venerei e al vino e la passione esagerata per essi, [...] la poca sensibilità dolorifica, la completa insensibilità morale, l’accidia, la mancanza di ogni rimorso, l’impulsività, l’eccitabilità fisico-psichica e soprattutto l’imprevidenza, che sembra alle volte coraggio, e il coraggio che si alterna alla viltà, la grande vanità, [...] la facile superstizione, la suscettibilità esagerata del proprio io e perfino il concetto relativo della divinità e della morale (Lombroso, 1897Lombroso, Cesare. L’uomo delinquente. In rapporto all’antropologia, alla giurisprudenza ed alla psichiatria (cause e rimedi). Torino: Fratelli Bocca Editori, 1897., p. 503-507).
  • 12
    Il tipo, insomma, era quello di un criminale (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 67).
  • 13
    [...] mi sia permesso esprimere il voto che i differenti Governi del Brasile [...] abbiano a stabilire lungo i fiumi infestati dai selvaggi dei centri colonici incaricati di catechizzare le varie tribù. Molto si è fatto in proposito, ma molto resta ancora da fare (Buscalioni, 1901Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia. Roma: Società Geografica Italiana, 1901., p. 68).
  • 14
    Em uma audiência na Câmara dos Deputados na data de 14 de julho de 2022, entidades indigenistas e socioambientais apresentaram a denúncia de uma tragédia humanitária na Terra Indígena Yanomami, nos estados de Roraima e Amazonas. Na ocasião, foi delatado o garimpo ilegal de ouro, a violência sexual contra mulheres e crianças, assassinatos, desnutrição e precarização do atendimento público de saúde na região. Em janeiro de 2023, novas denúncias constataram que nos últimos quatro anos quase 600 crianças morreram em decorrência da fome, da desnutrição e de doenças como a malária, num projeto de genocídio premeditado pelo Governo Bolsonaro (cf. Filho, 2023Filho, João. Bolsonaro recuperou projeto da ditadura militar contra os Yanomami: mão de obra ou extinção. 28/01/2023. Intercept_ Brasil. Disponível em: https://www.intercept.com.br/2023/01/28/bolsonaro-recuperou-projeto-da-ditadura-militar-contra-os-yanomami-mao-de-obra-ou-extincao/. Acesso em 27 de maio de 2023.
    https://www.intercept.com.br/2023/01/28/...
    ; Menke, 2022Menke, Elaine. Terra Yanomami é palco de “tragédia humanitária”, dizem especialistas. 14/07/2022. Câmara dos Deputados. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/898328-terra-yanomami-e-palco-de-tragedia-humanitaria-dizem-especialistas/. Acesso em 27 de maio de 2023.
    https://www.camara.leg.br/noticias/89832...
    ).
  • 15
    One value of such research lies in the contribution that increased self-awareness can make to translation quality (Williams & Chesterman, 2002Chesterman, Andrew & Williams, Jenny. The Map: A Beginner’s Guide to Doing Research in Translation Studies. Manchester: St. Jerome Publishing Company, 2002., p. 7).

Referências

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  • Berman, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue longínquo Tradução de Marie-Hélène Torres, Mauri Furlan & Andréia Guerini. Florianópolis: PGET, 2013.
  • Bloch, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
  • Buscalioni, Luigi. Una escursione botanica nell’Amazzonia Roma: Società Geografica Italiana, 1901.
  • Chesterman, Andrew & Williams, Jenny. The Map: A Beginner’s Guide to Doing Research in Translation Studies Manchester: St. Jerome Publishing Company, 2002.
  • Filho, João. Bolsonaro recuperou projeto da ditadura militar contra os Yanomami: mão de obra ou extinção. 28/01/2023. Intercept_ Brasil Disponível em: https://www.intercept.com.br/2023/01/28/bolsonaro-recuperou-projeto-da-ditadura-militar-contra-os-yanomami-mao-de-obra-ou-extincao/ Acesso em 27 de maio de 2023.
    » https://www.intercept.com.br/2023/01/28/bolsonaro-recuperou-projeto-da-ditadura-militar-contra-os-yanomami-mao-de-obra-ou-extincao/
  • Gandavo, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil. História da Província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil Brasília: Edições do Senado Federal, 2008.
  • Giacomini, Valerio. “Luigi Buscalioni”. 1972. Dizionario Biografico degli Italiani Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-buscalioni_%28Dizionario-Biografico%29/ Acesso em 27 de maio de 2023.
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  • Guerini, Andréia; Torres, Marie-Hélene Catherine & Fernandes, José Guilherme. Traduzindo a Amazônia I. Cadernos de Tradução, 41(esp.1), 2021. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e84962
    » https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e84962
  • Guerini, Andréia; Torres, Marie-Hélene Catherine & Fernandes, José Guilherme. Traduzindo a Amazônia II. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), 2022. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91851
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  • Lombroso, Cesare. L’uomo delinquente. In rapporto all’antropologia, alla giurisprudenza ed alla psichiatria (cause e rimedi) Torino: Fratelli Bocca Editori, 1897.
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  • Todorov, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro Tradução de Beatriz Perrone Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    27 Jul 2023
  • Aceito
    06 Set 2023
  • Publicado
    Out 2023
Universidade Federal de Santa Catarina Campus da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Comunicação e Expressão/Prédio B/Sala 301 - Florianópolis - SC - Brazil
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