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Editorial

Editorial

Argumentação é tema que, há muito tempo e sob diferentes perspectivas, ocupa largo espaço nas prateleiras de várias vertentes do conhecimento. Se, para o grande poeta português, Fernando Pessoa, os argumentos são quase sempre mais verdadeiros do que os factos, os estudos contemporâneos do discurso apresentados neste número de Bakhtiniana ajudam a entender essa e outras afirmações, fundamentando-as teoricamente, redescobrindo, mobilizando e contrastando importantes reflexões sobre essa produtiva e complexa dimensão da linguagem humana.

Os nove artigos aqui publicados, que representam trinta por cento dos submetidos e avaliados pelos pares, procuram demonstrar como as teorias do discurso, aí incluídas as diferentes ADs, trabalham com a questão da argumentação e, para isso, alinham-se a tendências enunciativas e suas categorias de base, revisitam e evocam abordagens clássicas, como as de Perelman, da antiga e da nova Retórica, as perspectivas teóricas sócio-histórico-cultural ou as de Ducrot e Anscombre, para citar apenas algumas. Evidentemente que, dentre elas, a teoria geral da linguagem, oferecida pelo conjunto dos trabalhos do Círculo, atravessa vários dos estudos aqui apresentados, constituindo a fundamentação exclusiva ou estabelecendo um diálogo com as demais.

Toda essa mobilização teórica visa, ao mesmo tempo, comprovar a maneira como os estudos do discurso revitalizam as perspectivas de análise da argumentação e, especialmente, a possibilidade de compreender, a partir desses novos enfoques, aspectos contemporâneos das linguagens. Dentre os objetos escolhidos para análise encontram-se tanto aqueles mais tradicionalmente tratados pela retórica (e a argumentação), como o discurso jurídico - confronto entre o conceito de justiça e o de argumentação e argumentos de ministros e ministras do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em um acórdão que afetou o entendimento jurisprudencial brasileiro sobre a Lei Maria da Penha; a comunicação política; a publicidade e a literatura, como também o rock pesado, gênero heavy metal e sua iconografia apresentada no visual de seus produtos, e contextos de formação crítico-colaborativa de professores.

As categorias e conceitos mobilizados pelos autores para analisar e compreender o modo como a argumentação ocorre discursivamente nos objetos selecionados são também variadas. Entre elas, destacam-se noções como auditório, figuras de retórica, relações dialógicas, grotesco, carnavalização, ironia e estratégias argumentativas, discursos de autoridade e internamente persuasivo, cenografia, enunciado, texto, discurso, encadeamento argumentativo, entimema, persuasão, narrativa de vida, efeitos de sentido persuasivos, entre outras.

Das quatro resenhas apresentadas neste número, duas estão diretamente ligadas à questão da argumentação: Vocabulário crítico de argumentação, de Rui Alexandre Grácio, e Figuras de retórica, de José Luiz Fiorin. As outras duas comentam obras que discutem importantes conceitos que também circulam neste periódico: Língua, texto, sujeito e (inter) discurso, organizado por Anna Flora Brunelli, Fernanda Mussalim e Maria da Conceição Fonseca-Silva, e Saussure: a invenção da Linguística, organizado por José Luiz Fiorin, Valdir do Nascimento Flores e Leci Borges Barbisan.

Cumprindo os objetivos do tema, esse conjunto de trabalhos envolveu doze instituições brasileiras de ensino, de sete estados: UEL, UFBA, UFMT, UFMG, UEG, UPF, UFSCar, USP, PUC-SP, UNICSUL, FATEC, UNIP-SP. E contou, ainda, com a colaboração do MCTI/CNPq/MEC/CAPES, a quem agradecemos o auxílio na edição do periódico.

Beth Brait/PUC-SP/CNPq

Maria Helena Cruz Pistori/PUC-SP/CNPq

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2014
  • Data do Fascículo
    Jul 2014
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