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O que poderia significar o "Grande Tempo"?

RESUMO

O Grande Tempo está presente na concepção de cultura e literatura de Bakhtin e na sua antropologia filosófica. Tomado como uma metáfora, o conceito poderia ser compreendido por meio de uma extensa gama de significados: tradição, futuro virtual, história literária e intelectual, memória em seu sentido mais amplo, um nível ontológico de existência, transcendência, etc. O Grande Tempo parece estar relacionado à ideia central de Bakhtin a respeito da responsabilidade pessoal, radicada na situação concreta do ato (postupok). Desse ponto de vista, o conceito implica a presença de um "terceiro" na comunicação ou no inconcluso diálogo da existência. A posição desse "terceiro" no diálogo (um conceito polissêmico em si mesmo: pessoas, o leitor, o futuro, Deus) ocorre sempre a partir de um distanciamento ou exotopia, que permite um julgamento de valor em relação ao ato, e que vai além de sua situação concreta e social. De certa forma, o "terceiro" é uma postura por meio da qual é possível ponderar o ato como transcendência. Minha experiência de vida, como intelectual e professor de Literatura Hispânica e Pensamento Latinoamericano, tem testemunhado a relevância da concepção antropológica bakhtiniana.

PALAVRAS-CHAVE:
Grande tempo; Dialogismo; "Terceiro" na comunicação

ABSTRACT

The Great Time is present in Bakhtin’s conception of culture and literature and in his philosophical anthropology. Taken as a metaphor, the concept could be understood in a wide range of meanings: tradition, virtual future, history, literary and intellectual history, memory in its broadest sense, an onthological level of existence, transcendence, etc. The Great Time seems to be related to Bakhtin’s central idea about personal responsibility, rooted in the concrete situation of the act (postupok). From this point of view, the concept implies the presence of a "third" in communication or in the unfinished existential dialogue. The position of this "third" (a polysemic concept itself: people, the reader, the future, God) in dialogue always occurs from a certain outsidedness or exotopy, which allows a value judgement of the act and which goes further than its concrete and social situation. Thus, in a certain way the "third" is a posture from which it is possible to understand the act as transcendence. Through my experience as a scholar and professor of Hispanic Literature and Latin American thinking, I have witnessed the relevance of Bakhtin’s anthropological conception.

KEYWORDS:
Great Time; Dialogism; "Third" in communication

Sim, sim: primeiro, explicaremos, depois, entenderemos: as palavras estão pensando para nós.

Canção do bode (Váguinov, tradução nossa)1 1 NT. Trecho no original em russo: "да, да, сначаЛа объясним, а потом поимем - сЛова за нас думают".

Caso o leitor espere uma definição ou algum tipo de proposta para definir o "grande tempo"2 2 NT. A tradução do conceito "great time" para português mais usual é "grande tempo", por isso ao longo do artigo é dessa forma que aparece. No entanto, na tradução da obra Criação de uma prosaística, feita por Antonio de Pádua Danesi e publicada pela Editora da Universidade de São Paulo em 2008, o conceito aparece como "longo tempo", por esse motivo, quando ocorrem citações diretas desse livro no artigo, é utilizado "longo tempo". , talvez se desaponte. Abordarei o tema a partir de minha experiência mexicana (e latino-americana) no ensino e na disseminação das ideias bakhtinianas durante quase 40 anos. É uma experiência com e para a alteridade e, certamente, dialógica.

Como muitos outros conceitos de Bakhtin, a ideia do "grande tempo" aparece como valor de uso nos seus textos. Logo, aqueles que a consideram proveitosa a exploram de acordo com seus próprios propósitos. É claro que para nos guiar para uma interpretação adequada, devemos recorrer às explicações daqueles que notadamente são autoridades, com publicações em russo, inglês e francês: "perspectiva de séculos"? (MORSON; EMERSON, 2008MORSON, G. S.; EMERSON, C.Mikhail Bakhtin: Creation of a Prosaics. Stanford, CA: Stanford University Press, 1990., p.54)3 3 MORSON, G. S.; EMERSON, C. Criação de uma prosaística. Trad. Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. , 4 4 Igualmente, "No seu quarto período, Bakhtin usou o termo tempo longopara referir-se à percepção de que os eventos passados, quando se tornam congelados em instituições, linguagens de heteroglossia e gêneros, suscitam problema específicos e oferecem recursos também específicos para cada momento presente que se segue" (MORSON; EMERSON, 2008, p.430 [Referência completa na nota de rodapé 2]). ; "diálogo de culturas"? (BIBLER, 1991, p.165; tradução nossa)5 5 NT. Trecho no original em russo: "диаЛог куЛЬтур" (БИБлЕР, 1991, стр.165). , 6 6 NT. Até o presente momento, a obra МихаиЛ МихаиЛович Бахтин иЛи поэтика куЛЬтурЫ [Mikhail Mikháilovitch Bakhtin ou a poética da cultura] não tem tradução publicada em português, por isso será mantida a referência ao livro em russo. . Por outro lado, na obra Бахтинскии тезаурус: материаЛЫ и иссЛедования: сборник статеи[Thesaurus de Bakhtin: materiais e investigação: coletânea de artigos]7 7 NT. Até o momento em que esta tradução foi realizada, a obra Бахтинскии тезаурус: материаЛЫ и иссЛедования: сборник статеи[Thesaurus de Bakhtin: materiais e investigação: coletânea de artigos] não tem tradução publicada em português; assim, manteremos a referência ao livro em russo. , Tamarchenko evita diplomaticamente se comprometer com qualquer tentativa de precisar o conceito. Possivelmente, Tamarchenko tenha considerado desnecessário fazê-lo - óbvio? Graham Pechey inclui o conceito entre as "antíteses da cron(otop)icidade autoconsciente do romance" (2007, p.129; tradução nossa)8 8 NT. Trecho no original em inglês: "antitheses of the novel's self-conscious chron(otop)icity" (PECHEY, 2007, p.129). . Alternativamente, segue uma interpretação mais recente para o "grande tempo": "É uma concepção de tempo que se aproxima da eternidade secular, um tipo de saecula saeculorum da comunicação humana" ou "longa continuidade histórica" (REED, 2014REED, W. L.Romantic Literature in Light of Bakhtin. New York: Bloomsbury, 2014., p.146)9 9 NT. Trechos no original em inglês: "It is a conception of time approaching secular eternity, a kind of saecula saeculorum of human communication"; "long historical continuity" (REED, 2014, p.146). , preservando acima de tudo a palavra "secular". Como outros conceitos, o sentido dessa expressão deve ser entendido em conformidade com o contexto em que é utilizado e talvez, seguindo Isupov, poderíamos dizer que: "quanto mais se lê, menos se entende" (2013, p.1)10 10 NT. Até o momento em que esta tradução foi realizada, o artigo Бахтин академическии [O acadêmico Bakhtin], não tem tradução publicada em português; assim, manteremos a referência ao texto em russo. ,11 11 Trecho no original em russo: "чем боЛЬше читаешЬ, тем менЬше понимаешЬ" (ИСУпОВ, 2013, стр.1). . Outros simplesmente citam Bakhtin, que é muito gráfico, mas também muito ambivalente e adepto de variantes em suas explicações. Em suma - e desconsiderando o fato de que a expressão "grande tempo" apareceu tardiamente em sua escrita -, pode-se assegurar que o conceito, de fato, existe implicitamente, sob um aspecto mais filosófico, desde seus primeiros textos. O "grande tempo" é, na realidade, uma premissa implícita em seu entimema sobre o Ser.

O conceito bakhtiniano mais popular ainda é o do dialogismo e sua meio-irmã intertextualidade, seguidos de polifonia e hibridismo. Este último traduz muito organicamente, em termos de cultura latinoamericana, as noções de "transculturação" (F. Ortiz, A. Rama) e "heterogeneidade cultural" (A. Cornejo Polar). Todos esses são conceitos que têm grande afinidade com os termos pertencentes à teoria do discurso, parecendo mais "científicos" do que "grande tempo". Por outro lado, quando alguém começa a falar com colegas e alunos sobre a ética e a estética de Bakhtin, o olhar dos ouvintes demonstra incompreensão. Não são poucos os que têm grande preconceito com a contaminação religiosa e idealista que, com frequência, é inerente à ética e à moralidade, para não falar da eternidade que de alguma maneira está implicada no sentido de "grande tempo". Levou muito tempo para que os latino-americanos predispostos a mudanças conseguissem se livrar do prepoderante e secular domínio ideológico da Igreja Católica, por isso as pessoas tendem a desconfiar de qualquer coisa que soe como transcedência e que seja identificada com "o além" - exceto quando este é aceito como parte do mito das cosmologias pré-hispânicas frequentemente consideradas como parte da identidade oficial. A estética, uma vez tirada do âmbito filosófico, serve como instrumento dos atos e funções cotidianas. Por outro lado, o que está em jogo em Bakhtin são ideias ligadas ao ato ético e à responsibilidade, ambos simultaneamente concretos e ontológicos. Isso não é uma metafisíca da presença, um outro pecado de acordo com a pós-modernidade?

Todos se lembrarão das palavras de Julia Kristeva (1970, p.21)KRISTEVA, J. Une poétique ruinée. In: BAKHTINE, M.La poétique de Dostoïevsky. Paris: Éditions du Seuil, 1970, p.5-29. no prefácio de La poétique de Dostoievski, que se referiam à linguagem da obra como antiquada e "humanista"12 12 NT. No original em francês: " humaniste" (KRISTEVA, 1970, p.21). , se não tacitamente cristã. A despeito da existência de diversos estudos que abordam Bakhtin sob um ponto de vista teológico, a maioria daqueles que se beneficiam do arsenal bakhtiniano preferem orgulhosamente se manter materialistas, o que, sem dúvida, é politicamente correto. No que concerne à consideração de Bakhtin como "antiquado" ou "fora de moda", seria muito bom nos lembrarmos das palavras de Averintsev (1976, p.58)13 13 NT. Até o momento em que esta tradução foi realizada, o texto личностЬ и таЛант ученого: М. М. Бахтин [Personalidade e talento científico: M. M. Bakhtin] não tem tradução publicada em português, assim, manteremos a referência do original em russo. : "Como Bakhtin poderia sair de moda se ele nunca foi passível de modismos?"14 14 NT. No original em russo: "Бахтин никогда не бЫЛ новомоднЫм, так с чего бЫ ему сдеЛатЬся старомоднЫм?" (АВЕРИНЦЕВ, 1976, стр.58). , 15 15 A referência aqui não é tanto para o Bakhtin ter se tornado moda ou não na academia, mas mais para o fato de que ele nunca demonstrou o menor interesse pelas tendências que estavam na moda em sua época. .

Tentaremos abordar o pensamento bakhtiniano em um contexto "teológico laico", ao estilo de Walter Benjamin. Holquist (2001)HOLQUIST, M. Why is God's Name a Pun? In: BRUHN, J.; LUNDQUIST, J. (Ed.).The Novelness of Bakhtin. Perspectives and Possibilities. Copenhagen: Museum Tusculanum Press, University of Copenhagen, 2001, pp.53-70. propôs uma filo-teologia para analisar a criação verbal com o intuito de adotar uma sugestão ambígua de alternância de filologia/filosofia.

O "grande tempo" é um dos conceitos mais enigmáticos e potencialmente um dos mais idealistas, exceto se for considerado somente um mecanismo retórico e decorativo. Isso pode nos levar a uma falsa problemática do cânone, com decisões institucionais a respeito de quem mereceria participar do diálogo da "eternidade" e quem não.

V. Bibler (1991, p.104; nossa tradução)16 16 NT. No original em russo: "катарсисЫ" (БИБлЕР, 1991, стр.104). afirma que as figuram que remetem ao "grande tempo", de um lado, são opções particulares e, de outro, são "catarses" ou iluminações acumuladas ao longo dos séculos, na base de nossas decisões éticas e criativas. Aí se incluem personagens, tais como Hamlet, Édipo ou Dom Quixote, e autores, como Cervantes, Aristóteles etc. Mas onde se encaixam as vozes anônimas como as vozes da "comunhão universal" (соборностЬ) que participam da universal Hosanna? Lembremos dessa imagem da polifonia em Os irmãos Karamázov.

Corpo, alma e espírito são interpretados por Bakhtin como categorias filosóficas e antropológicas integradas à sua reflexão sobre literatura. Imortalidade e transcedência são perigosamente aproximadas ao tipo de vocabulário que todo materialista de respeito mantém a distância. O "grande tempo" é um desses conceitos evanescentes como a própria realidade na mídia; apesar disso, ao fazer essa abordagem, devo deixar de lado os argumentos ateus de Mikhail Aleksandrovich Berlioz17 17 De O mestre e Margarida de Bulgákov. NT.: A referência completa dessa obra em português é: BULGAKOV, M. A. O mestre e Margarida. Trad. Zoia Prestes. Rio de Janiero: Alfaguara Brasil, 2010. ou Ostap Bénder18 18 Ver As doze cadeiras e O bezerro de ouro, ambos de I. Ilf e E. Petrov. NT.: Até o presente momento, não há tradução de O bezerro de ouro para português. A referência completa da outra obra em português é : ILF, I.; PETROV, E. As doze cadeiras. Trad.: Nina Guerra e Filipe Guerra. Porto: Campo das letras, 2000. . Na prática, posso assegurar ao leitor que um sociólogo que conheci, e que tinha sua esposa bióloga como testemunha, afirmava triunfantemente que ela nunca conseguiu identificar coisa alguma que pudesse ser chamada de alma durante sua lida com corpos. Essa afirmação foi feita em interligação com os filmes de Tarkovski.

A alma é a categoria de vida interior que é gerada e adquire valor na vida interna de outra pessoa. Trata-se de um outro conceito antropológico relacional como a maioria dos conceitos bakhtinianos. A alma é um conceito concreto, determinado por formas individuais e de existência, e remete ao corpo real ou ilusiório, à união de corpos. No que concerne à imortalidade da alma, a única coisa que pode ser dita é que, uma vez que um determinado corpo tenha sido abandonado, sua alma continua a existir dentro das pessoas como uma experiência do passado, como uma concretização daquilo que uma vez foi vivido por alguém, e fica circunscrita à mortalidade daqueles que se lembram dele. A alma, então, é como uma memória, na ampla acepção da palavra. É a natureza semiótica da memória que é capaz de registrar as marcas de alteridade, tanto virtual como material, das pessoas que existiram antes, que garante nossa precária imortalidade. A transmissão de conhecimento não codificado geneticamente é a única garantia de nossa existência, dizem os cientistas.

A imortalidade da alma é condicionada pelo fato de que nas almas dos outros uma nova pluriexistência é refletida, que teria pertencido à vida spiritual de outro homem. Bakhtin (2010, p.101)19 19 NT. Para a versão em português foi utilizada a seguinte referência: BAKHTIN, M. O autor e a personagem na atividade estética. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p.3-194. a descreve: "Vivencio a vida interior do outro como alma, em mim mesmo eu vivo no espírito". Daí segue-se que a alma é basicamente uma categoria estética, e que uma atitude estética - conclusiva, isto é, no que diz respeito à vida interior - é impossível. O corpo aprende no espaço, a alma no tempo, e o espírito no diálogo. No entanto, se assumirmos os atributos humanos da filosofia bakhtiniana de linguagem (aquela de Bakhtin e do Círculo), descobriremos que as ideias relacionadas ao aparentemente imaterial só podem concebidas com o auxílio dos signos.

E o espírito, enquanto uma manifestação do diálogo inacabado, é projetado em direção ao "grande tempo". "O espírito (o meu e o do outro) não pode ser dado como coisa (objeto imediato das ciências naturais) mas apenas na expressão semiótica, na realização em textos…" (BAKHTIN, 2010, p.310)20 20 NT. Para versão em português foi utilizada a seguinte referência: BAKHTIN, M. O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p.307-336. . No entanto, a possibilidade do grande tempo se dá na introspecção, isto é, no diálogo interior ou microdiálogo. Somente a presença do eu como uma terceira pessoa, o sujeito personalizado, situado e condicionado em seu cronotopo histórico e geográfico, torna possível o macrodiálogo entre culturas projetado para o "grande tempo". A mudança de contextos pressupõe uma expansão semântica. Nosso conhecimento, nossa interação com as obras (marcas) do passado somente é possível ao se levar em consideração seu enriquecimento histórico: "Colocamos para a cultura do outro novas questões que ela mesma não se colocava, e a cultura do outro nos responde, revelando-nos seus novos aspectos, novas profundidades do sentido" (BAKHTIN, 2010______. Author and hero in aesthetic activity. In: BAKHTIN, M.Art and Answerability: Early Philosophical Essays by M.M. Bakhtin. Translated by Vadim Liapunov; Kenneth Brostom and edited by Michael Holquist and Vadim Liapunov. Austin: University of Texas Press, 1990, pp.4-256., p.366)21 21 NT. Para versão em português foi utilizada a seguinte referência: BAKHTIN, M. Os estudos literários hoje (Resposta a uma pergunta da revista Novi Mir). In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p.359-366. . Isto é, traduzimos uma cultura remota nos termos de nosso próprio contexto cultural: a tranferência de sentidos implica a interpretação de signos. Walter Benjamin, ao abordar a tradução, mostra facetas do diálogo no tempo que pressupõem também aspectos semióticos, a simultaneidade do sagrado e do profano e a produtiva expansão do original em sua réplica-tradução. E o semiótico passa por uma transformação como se fosse uma questão de vida, não de código: "Pois na sua ‘pervivência' (que não mereceria tal nome, se não fosse transformação e renovação de tudo aquilo que vive), o original se modifica. Existe uma maturação póstuma mesmo das palavras que já se fixaram" (BENJAMIN, 2011BENJAMIN, W.Selected Writings (1913-1926). Marcus Bullock and Michael W. Jennings (Ed.). Cambridge, Massachusetts - London, England: The Belknap Press of Harvard University Press, 1996. [Vol. 1], p.107)22 22 NT. Para versão em português foi utilizada a seguinte referência: BENJAMIN, W. A tarefa do tradutor. IN: BENJAMIN, W. Escritos sobre mito e linguagem(1915-1921). Organização, apresentação e notas de Jeanne-Marie Gagnebin. Trad. Susana Kampff Lages e Ernani Chaves. São Paulo: Editora 34; Duas Cidades, 2011, p.101-119. .

O "grande tempo" é o espaço semiótico da cultura em que a simultaneidade histórica de sentidos e o diálogo entre eles é possibilitado. Relembrando o significado da palavra "sentido": sentidos são respostas a questões. Aquilo que não responde a uma pergunta não tem sentido. Bakhtin dixit. Os textos não permanecem os mesmos ao longo da história, mas eles expandem na interação com novos contextos e outros textos. Eles respondem a novas questões. Pensemos em termos de uma semiótica pluricientífica que personifica códigos e estabelece a simultaneidade do grande tempo.

Estamos acostumados a fazer separações rigorosas entre o diacrônico e o sincrônico. Com isso, em conformidade com o cronotopo inexorável de nossa existência e criação verbal (autoria), a concepção de grande tempo é tida como diacrônica e como uma posição histórica. No entanto, partindo da descrição de polifonia como interação de diversos pontos de vista, concomitância e simultaneidade apontam para a dimensão ontológica do "diálogo no limiar", ou melhor, "na eternidade".

Na filosofia do ato, a introdução da responsibilidade como corolário da própria existência (ser) torna evidente seu aspecto bifronte, no sentido de "Jano como metáfora para a terceridade do diálogo" (HOLQUIST, 2001HOLQUIST, M. Why is God's Name a Pun? In: BRUHN, J.; LUNDQUIST, J. (Ed.).The Novelness of Bakhtin. Perspectives and Possibilities. Copenhagen: Museum Tusculanum Press, University of Copenhagen, 2001, pp.53-70., p.55-56, tradução nossa)23 23 NT. No original em inglês: "Janus as metaphor for the thirdness of dialogue" (HOLQUIST, 2001, pp.55-56). , 24 24 A posição de Holquist em relação a essa questão: "Atrás do declínio de uma religião institucionalizada, a obra do sagrado prossegue: ele pode assumir diferentes máscaras, mas não desaparecer" (2001, p.61; tradução nossa). No original em inglês: "Behind the decline of institutionalized religion, the work of the sacred goes on: it may assume different masks, but it has not disappeared" (2001, p.61). . Com a terceiridade de um julgamento superior no diálogo e os valores definidos em movimento dentro dela, a ética - que não é a fonte de valores, mas a maneira de se relacionar com valores - , adquire um significado que remete à transcendência25 25 De acordo com os comentadores do Vol. I da antologia russa Собрание сочинении [Trabalhos reunidos], publicada em 2003, esta é relacionada à concepção do ato do sujeito, ou do "eu" na filosofia do ato. Como explicado em Para uma filosofia do ato responsável, os "valores eternos", ou sentidos eternos, do ser são constituídos como valores que funcionam como motores do pensamento concebido como ato ético. Sob uma perspectiva do eu que age eticamente, esses valores não podem ser considerados valores universais, mas somente valores desse eu, em confomidade com o que é postulado em relação à diferença valorativa do princípio entre o eu e o outro (ver p.370). De acordo com essa concepção de ética, a transcedência deve ser somente uma questão para o eu e nunca para o outro. .

Gostaria de afirmar claramente que preferiria que todos esses elementos não fossem diretamente relacionados com um discurso místico ou teológico, mas sim considerados categorias de antropologia filosófica, pois, de fato, esta é a forma como eles aparecem no contexto da reflexão bakhtiniana. O ponto de vista do qual ele fala ou, se preferir, seu posicionamento ideológico é secular em princípio, mas os elementos dos diversos discursos tendem a migrar de um gênero discursivo a outro. Estamos falando, portanto, de metáforas, mas no nosso caso, elas são metáforas epistêmicas.

O espaço semiótico personalizado, que possui a capacidade de refração de sentidos nas mais diversas alteridades, com a consequente transformação em "corpos de sentido", talvez pudesse ser comparado com a ideia de Lotman de semiosfera. A relação genética entre as ideias me parece óbvia, embora não em termos de influência, mas, sim, como uma resposta da contestação; exceto que a simultaneidade semiótica de Lotman não é projetada sobre a história (é suficiente ligar a sua origem com as ideias de Vernadsky), mas é concebida sincronicamente, com os sentidos históricos codificados estruturalmente por meio de sistemas de linguagens culturais. Por outro lado, em Bakhtin a personalização dos sentidos envolvidos no diálogo com todos os tipos de alteridades históricas e culturais é o que prevalece. Para Bakhtin, cultura é fronteira. A cultura não possui nem um território interno nem qualquer zona cultural. Ao invés disso, tudo isso se situa nas fronteiras que perpassam todas as partes, cruzando cada um dos seus aspectos, e cada ato cultural habita as fronteiras entre as diferentes zonas de ação humana. Lotman também retoma esta ideia de fronteira, mas a elabora de uma maneira diferente.

A partir desse ponto de vista, a intuição - como um instrumento de conhecimento - e a oportunidade podem levar a coincidências quase místicas e a relações entre ideias, sujeitos, épocas e trabalhos que aparentemente são irreconciliáveis. Na verdade, a intuição pode ser pensada como uma oportunidade preparada pela experiência e sua origem é também dialógica. "Sancho, há uma estranha coincidência nos pequenos acontecimentos deste mundo, bem como nos grandes..." (L. Sterne, Carta à Ignatius Sancho, 27 de julho de 1766; nossa tradução)26 26 NT.: Até o presente momento, não há tradução dessa carta para português. Em inglês, ela está disponível em: <http://www.brycchancarey.com/sancho/letter1.htm>. No original em inglês: "There is a strange coincidence, Sancho, in the little events (as well as in the great ones) of this world" (L. Sterne, Letter to Ignatius Sancho, July 27, 1766). . Byron e Pushkin tomaram nota dessa passagem, garantia de sua verdade inexplicável. E a sombra de Cervantes acompanha, talvez involuntariamente, as palavras de Sterne.

Agora, deixe-me traduzi-las em uma casuística de investigação filológica concreta. Tentarei demonstrar de que forma a intuição e a casualidade podem orientar o leitor a encontrar essas coincidências "místicas" entre tão diferentes cronotopos como pode ser a obra de um sacerdote espanhol na Itália renascentista e a posição particular de um poeta contemporâneo russo que se situou entre as culturas russa, italiana e anglo-americana.

Minha presença no XV Congresso Internacional sobre Bakhtin, nesse exato cronotopo (Estocolmo, julho de 2014), em que apresentei as reflexões que me levaram a produzir este artigo, foi consequência de "estranhas coincidências" desse tipo. Cheguei lá após um outro congresso internacional, o da Asociación Internacional Siglo de Oro (AISO), que reúne especialistas da literatura espanhola dos séculos XVI e XVII e que, naquele ano, ocorreu em Veneza. Durante toda a minha vida estudei um escritor em particular, Francisco Delicado. Ele viveu e escreveu em Roma, mas, provalvelmente, morreu em Veneza. Na república adriática, ele se dedicou a publicar livros em espanhol. Ora, no século XVI, Veneza era o lar de uma próspera indústria editorial, uma das populares na Europa.

Em janeiro daquele ano, descobri uma cópia anteriormente sem registro de um daqueles livros na França e relatei isso no congresso da AISO. Era a cópia do famoso romance de cavalaria, Amadís de Gaula (publicado por Delicado em Veneza em 1533), que examinei na biblioteca do museu francês. Posteriormente, beneficiei-me da viagem transatlântica para visitar Veneza no inverno, um desejo que me foi inspirado por um texto do poeta russo Joseph Brodsky (1940-1996) que, por coincidência, está enterrado nessa cidade. O texto em português é intitulado Marca d'água27 27 NT.: A referência completa é: BRODSKY, J. Marca d'água. Trad. Júlio Castanõn Guimarães. São Paulo: Cosac Naify, 2006. , assim como no inglês é Watermark (1990), mas em italiano o título é Fondamenta degli Incurabili, que significa "Dique dos incuráveis". Ao chegar a Veneza naquela traiçoeira noite de inverno, perdi-me entre ruas desconhecidas. Ao parar para saber o nome da rua na orla em que eu estava carregando minhas malas, decobri que se chamava Zattere agli Incurabili e também reparei na placa memorial em homenagem a Brodsky. Nessa viagem, aprendi que aquele calçadão marítimo foi assim nomeado por causa de um hospital para doenças incuráveis (próximo dali, algumas construções originais do século XVI ainda são preservadas). Francisco Delicado era um "incurável" e passou um bom período de sua vida em Roma no Archiospedale de San Giacomo para "incuráveis", termo aplicado para aqueles que sofriam de sífilis, que havia sido recentemente importada da América. O poeta russo Brodsky conhecia a conotação de "incuráveis", mas, ao mesmo tempo, o nome atraiu sua atenção como o nome do lugar que era próximo de onde viveram muitos artistas das mais diversas origens durante o século XX. Quanto a Delicado (sobre quem Brodsky nada sabia), parece bem provável que ele tenha morrido naquele hospital. Fiz algumas tentativas mal sucedidas de traduzir o poema de Brodsky para o espanhol. Por essa razão, e também porque nasci na mesma cidade que Brodsky, São Petersburgo-Lenigrado, e porque nós dois deixamos para sempre a nossa cidade no mesmo mês (em junho de 1972, ele se exilou; eu parti por escolha própria), passei a sentir que o trabalho desse compatriota estava de alguma maneira indissociavelmente ligado a minha própria vida profissional. Porém, a inesperada coincidência com esse padre andaluz - nascido na Espanha, exilado em Roma e, depois, em Roma pela segunda vez - famoso por seu extraordinário romance dialogado Retrato de la Loçana andaluza28 28 NT.: Até o presente momento, não há tradução dessa obra para português. (Veneza, ca. 1530), muito me impreesionou.

Após a viagem à Veneza, não tinha a intenção de ir para o XV Congresso sobre Bakhtin, apesar de ter participado de vários anteriores. No entanto, estava ali naquela cidade que tinha tanto em comum com Brodsky (além, é claro, dele ter recebido o Prêmio Nobel em 1987). Além dessas estranhas configurações espácio-temporais que acabaram por ocorrer à mim - que só possuo um ponto de vista modesto, embora unificado -, esses dois escritores não têm nada em comum, exceto, talvez, pelo seu lugar de morte que, de qualquer forma, não é completamente certo no caso do judeu espanhol, e, é claro, por sua condição de exilados.

Meu estudo sobre Delicado sempre foi orientado pela metodologia inspirada pelo trabalho de Bakhtin. Como uma figura histórica, M. M. Bakhtin é pouco homologável com a jovial figura do padre andaluz - punido pelo destino por seus excessos rabelaisianos, característica bastante comum na Renascença. Enquanto escritor, contudo, Delicado foi alguém que praticou, já no século XVI, características do dialogismo, heteroglossia e polifonia, metaficção e livre experimentação com gêneros literários e discursivos.

Um gênio com uma tendência sarcástica e alguém muito apaixonado pela vida, Brodsky teve como uma de suas características profissionais a combinação entre uma orientação metafísica e a linguagem que perpassa restrições puritanas da tradição russa da qual ele é um legítimo herdeiro. Suas tentativas desesperadas de recuperar o primor de sua poesia em russo em sua língua adotiva - o inglês, língua muito querida por ele, mas não sua língua materna, podem ser até certo ponto paralelas aos esforços de Delicado em disseminar seu "mais límpido espanhol" entre leitores italianos e não italianos. Além disso, no século XVI, os espanhóis eram considerados invasores e conquistadores pelos italianos. Neste ponto, a analogia cessa para sempre: "Não compare: viver é incomparável" (MANDELSTAM) 29 29 NT. No original em russo: "Не сравниваи: живущии несравним", disponível em: <http://poetryrain.com/authors/mandelshtam-osip/13828>. .

O "grande tempo" é também para mim a possibilidade de "estranhas coincidências" ocorrerem como se o destino as tivesse guiado uma a uma com um próposito inextricável.

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    NT. Trecho no original em russo: "да, да, сначаЛа объясним, а потом поимем - сЛова за нас думают".
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    NT. A tradução do conceito "great time" para português mais usual é "grande tempo", por isso ao longo do artigo é dessa forma que aparece. No entanto, na tradução da obra Criação de uma prosaística, feita por Antonio de Pádua Danesi e publicada pela Editora da Universidade de São Paulo em 2008, o conceito aparece como "longo tempo", por esse motivo, quando ocorrem citações diretas desse livro no artigo, é utilizado "longo tempo".
  • 3
    MORSON, G. S.; EMERSON, C. Criação de uma prosaística. Trad. Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
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    Igualmente, "No seu quarto período, Bakhtin usou o termo tempo longopara referir-se à percepção de que os eventos passados, quando se tornam congelados em instituições, linguagens de heteroglossia e gêneros, suscitam problema específicos e oferecem recursos também específicos para cada momento presente que se segue" (MORSON; EMERSON, 2008MORSON, G. S.; EMERSON, C.Mikhail Bakhtin: Creation of a Prosaics. Stanford, CA: Stanford University Press, 1990., p.430 [Referência completa na nota de rodapé 2]).
  • 5
    NT. Trecho no original em russo: "диаЛог куЛЬтур" (БИБлЕР, 1991БИБЛЕР, В. С.МихаиЛ МихаЙЛович Бахтин иЛи поэтика куЛЬтурЫ [Mikhail Mikhailovitch Bakhtin or Cultural Poetic]. Москва: прогресс, 1991., стр.165).
  • 6
    NT. Até o presente momento, a obra МихаиЛ МихаиЛович Бахтин иЛи поэтика куЛЬтурЫ [Mikhail Mikháilovitch Bakhtin ou a poética da cultura] não tem tradução publicada em português, por isso será mantida a referência ao livro em russo.
  • 7
    NT. Até o momento em que esta tradução foi realizada, a obra Бахтинскии тезаурус: материаЛЫ и иссЛедования: сборник статеи[Thesaurus de Bakhtin: materiais e investigação: coletânea de artigos] não tem tradução publicada em português; assim, manteremos a referência ao livro em russo.
  • 8
    NT. Trecho no original em inglês: "antitheses of the novel's self-conscious chron(otop)icity" (PECHEY, 2007PECHEY, G.Mikhail Bakhtin: The Word in the World. London and New York: Routledge, 2007., p.129).
  • 9
    NT. Trechos no original em inglês: "It is a conception of time approaching secular eternity, a kind of saecula saeculorum of human communication"; "long historical continuity" (REED, 2014REED, W. L.Romantic Literature in Light of Bakhtin. New York: Bloomsbury, 2014., p.146).
  • 10
    NT. Até o momento em que esta tradução foi realizada, o artigo Бахтин академическии [O acadêmico Bakhtin], não tem tradução publicada em português; assim, manteremos a referência ao texto em russo.
  • 11
    Trecho no original em russo: "чем боЛЬше читаешЬ, тем менЬше понимаешЬ" (ИСУпОВ, 2013ИСУпОВ, K. Бахтин академическиЙ [The Scholar Bakhtin].НовЫЙ Мир, 2013, Nº.4, стр.1-7., стр.1).
  • 12
    NT. No original em francês: " humaniste" (KRISTEVA, 1970KRISTEVA, J. Une poétique ruinée. In: BAKHTINE, M.La poétique de Dostoïevsky. Paris: Éditions du Seuil, 1970, p.5-29., p.21).
  • 13
    NT. Até o momento em que esta tradução foi realizada, o texto личностЬ и таЛант ученого: М. М. Бахтин [Personalidade e talento científico: M. M. Bakhtin] não tem tradução publicada em português, assim, manteremos a referência do original em russo.
  • 14
    NT. No original em russo: "Бахтин никогда не бЫЛ новомоднЫм, так с чего бЫ ему сдеЛатЬся старомоднЫм?" (АВЕРИНЦЕВ, 1976АВЕРИНЦЕВ, С. ЛичностЬ и таЛант ученого [Figure and Scientific Talent].Литературное обозрение, 1976, Nº 10, стр. 58-61., стр.58).
  • 15
    A referência aqui não é tanto para o Bakhtin ter se tornado moda ou não na academia, mas mais para o fato de que ele nunca demonstrou o menor interesse pelas tendências que estavam na moda em sua época.
  • 16
    NT. No original em russo: "катарсисЫ" (БИБлЕР, 1991БАХТИН, М. М.Собрание сочинениЙ [Selected Works] Русские сЛовари - ЯзЫки СЛавянскоЙ КуЛЬтурЫ, Москва, 2003. [том 1], стр.104).
  • 17
    De O mestre e Margarida de Bulgákov. NT.: A referência completa dessa obra em português é: BULGAKOV, M. A. O mestre e Margarida. Trad. Zoia Prestes. Rio de Janiero: Alfaguara Brasil, 2010.
  • 18
    Ver As doze cadeiras e O bezerro de ouro, ambos de I. Ilf e E. Petrov. NT.: Até o presente momento, não há tradução de O bezerro de ouro para português. A referência completa da outra obra em português é : ILF, I.; PETROV, E. As doze cadeiras. Trad.: Nina Guerra e Filipe Guerra. Porto: Campo das letras, 2000.
  • 19
    NT. Para a versão em português foi utilizada a seguinte referência: BAKHTIN, M. O autor e a personagem na atividade estética. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p.3-194.
  • 20
    NT. Para versão em português foi utilizada a seguinte referência: BAKHTIN, M. O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p.307-336.
  • 21
    NT. Para versão em português foi utilizada a seguinte referência: BAKHTIN, M. Os estudos literários hoje (Resposta a uma pergunta da revista Novi Mir). In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p.359-366.
  • 22
    NT. Para versão em português foi utilizada a seguinte referência: BENJAMIN, W. A tarefa do tradutor. IN: BENJAMIN, W. Escritos sobre mito e linguagem(1915-1921). Organização, apresentação e notas de Jeanne-Marie Gagnebin. Trad. Susana Kampff Lages e Ernani Chaves. São Paulo: Editora 34; Duas Cidades, 2011, p.101-119.
  • 23
    NT. No original em inglês: "Janus as metaphor for the thirdness of dialogue" (HOLQUIST, 2001HOLQUIST, M. Why is God's Name a Pun? In: BRUHN, J.; LUNDQUIST, J. (Ed.).The Novelness of Bakhtin. Perspectives and Possibilities. Copenhagen: Museum Tusculanum Press, University of Copenhagen, 2001, pp.53-70., pp.55-56).
  • 24
    A posição de Holquist em relação a essa questão: "Atrás do declínio de uma religião institucionalizada, a obra do sagrado prossegue: ele pode assumir diferentes máscaras, mas não desaparecer" (2001, p.61; tradução nossa). No original em inglês: "Behind the decline of institutionalized religion, the work of the sacred goes on: it may assume different masks, but it has not disappeared" (2001, p.61).
  • 25
    De acordo com os comentadores do Vol. I da antologia russa Собрание сочинении [Trabalhos reunidos], publicada em 2003, esta é relacionada à concepção do ato do sujeito, ou do "eu" na filosofia do ato. Como explicado em Para uma filosofia do ato responsável, os "valores eternos", ou sentidos eternos, do ser são constituídos como valores que funcionam como motores do pensamento concebido como ato ético. Sob uma perspectiva do eu que age eticamente, esses valores não podem ser considerados valores universais, mas somente valores desse eu, em confomidade com o que é postulado em relação à diferença valorativa do princípio entre o eu e o outro (ver p.370). De acordo com essa concepção de ética, a transcedência deve ser somente uma questão para o eu e nunca para o outro.
  • 26
    NT.: Até o presente momento, não há tradução dessa carta para português. Em inglês, ela está disponível em: <http://www.brycchancarey.com/sancho/letter1.htm>. No original em inglês: "There is a strange coincidence, Sancho, in the little events (as well as in the great ones) of this world" (L. Sterne, Letter to Ignatius Sancho, July 27, 1766).
  • 27
    NT.: A referência completa é: BRODSKY, J. Marca d'água. Trad. Júlio Castanõn Guimarães. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
  • 28
    NT.: Até o presente momento, não há tradução dessa obra para português.
  • 29
    NT. No original em russo: "Не сравниваи: живущии несравним", disponível em: <http://poetryrain.com/authors/mandelshtam-osip/13828>.

REFERÊNCIAS

  • АВЕРИНЦЕВ, С. ЛичностЬ и таЛант ученого [Figure and Scientific Talent].Литературное обозрение, 1976, Nº 10, стр. 58-61.
  • БАХТИН, М. М.Собрание сочинениЙ [Selected Works] Русские сЛовари - ЯзЫки СЛавянскоЙ КуЛЬтурЫ, Москва, 2003. [том 1]
  • BAKHTIN, M. The problem of the text in linguistics, philology, and the human sciences: an experiment in philosophical analysis. In: BAKHTIN, M.Speech Genres and Other Late Essays Translated by Vern W. McGee and edited by Caryl Emerson and Michael Holquist. Austin: University of Texas Press, 1986a, pp.103-131.
  • BAKHTIN. M. Response to a Question from the Novy Mir Editorial Staff. In: BAKHTIN, M.Speech Genres and Other Late Essays Translated by Vern W. McGee and edited by Caryl Emerson and Michael Holquist. Austin: University of Texas Press, 1986b, pp.1-9.
  • ______. Author and hero in aesthetic activity. In: BAKHTIN, M.Art and Answerability: Early Philosophical Essays by M.M. Bakhtin Translated by Vadim Liapunov; Kenneth Brostom and edited by Michael Holquist and Vadim Liapunov. Austin: University of Texas Press, 1990, pp.4-256.
  • BENJAMIN, W.Selected Writings (1913-1926). Marcus Bullock and Michael W. Jennings (Ed.). Cambridge, Massachusetts - London, England: The Belknap Press of Harvard University Press, 1996. [Vol. 1]
  • БИБЛЕР, В. С.МихаиЛ МихаЙЛович Бахтин иЛи поэтика куЛЬтурЫ [Mikhail Mikhailovitch Bakhtin or Cultural Poetic]. Москва: прогресс, 1991.
  • СЕЛИВАНОВ, В. В. Душа и духовностЬ. в сб.Эстетическое насЛедие и современностЬ Саранск: ИздатеЛЬство Мордовского Университета, 1992, I, стр. 145-151.
  • HOLQUIST, M. Why is God's Name a Pun? In: BRUHN, J.; LUNDQUIST, J. (Ed.).The Novelness of Bakhtin. Perspectives and Possibilities Copenhagen: Museum Tusculanum Press, University of Copenhagen, 2001, pp.53-70.
  • ИСУпОВ, K. Бахтин академическиЙ [The Scholar Bakhtin].НовЫЙ Мир, 2013, Nº.4, стр.1-7.
  • KRISTEVA, J. Une poétique ruinée. In: BAKHTINE, M.La poétique de Dostoïevsky Paris: Éditions du Seuil, 1970, p.5-29.
  • MORSON, G. S.; EMERSON, C.Mikhail Bakhtin: Creation of a Prosaics Stanford, CA: Stanford University Press, 1990.
  • PECHEY, G.Mikhail Bakhtin: The Word in the World London and New York: Routledge, 2007.
  • REED, W. L.Romantic Literature in Light of Bakhtin New York: Bloomsbury, 2014.
  • ТАМАРЧЕНКО, Н. Д.; БРОЙТМАН, С. Н.; САДЕЦКИЙ, А. (Ред.),БахтинскиЙ Тезаурус, Изд. [Bakhtin's Thesaurus: Data and Research: Collected Works]. Москва: РГГУ, 1998.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2015

Histórico

  • Recebido
    22 Maio 2015
  • Aceito
    05 Jul 2015
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