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Verbo-visualidade e seus efeitos na interpretação em Libras no teatro

RESUMO

Neste artigo, observamos a atividade de interpretação simultânea do português para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) na esfera teatral, a partir do diálogo entre os estudos da interpretação, os estudos da teatralidade e formulações teóricas de Bakhtin e o Círculo. O objetivo foi investigar as relações verbo-visuais do discurso e seus efeitos de sentido para interpretação em Libras, a partir de um estudo qualitativo analítico-descritivo em dois espetáculos teatrais que contaram com a atuação de Tradutores Intérpretes de Língua de Sinais (TILS) para garantir a acessibilidade comunicacional para pessoas surdas. Investigamos os elementos que exerceram influência na enunciação dos TILS no momento da interpretação em língua de sinais. Os textos que circulam na esfera teatral foram considerados uma totalidade verbo-visual, criando um todo indissolúvel que interfere diretamente em suas formas de produção, circulação e recepção.

PALAVRAS-CHAVE:
Verbo-visualidade; Esfera teatral; Intérprete de Libras

ABSTRACT

In this article, we examine the activity of simultaneous interpreting from Portuguese to Brazilian Sign Language (Libras) in the theatrical sphere, based on a dialogue between interpreting and theater studies, and theoretical formulations by Bakhtin and the Circle. Our objective is to investigate verbal-visual discourse and its sense effects on Libras interpreting by means of a qualitative analytical-descriptive study of two theater performances in which Sign Language Translators and Interpreters (SLTI) interpreted them so as to guarantee communication accessibility to deaf people. We investigated elements that influenced SLTI enunciations while interpreting in sign language, taking into account the texts that circulate in the theatrical sphere. These texts constitute a verbal-visual totality which creates an indissoluble whole directly influencing their forms of production, circulation, and reception.

KEYWORDS:
Verb-visuality; Theatrical sphere; Libras interpreter

Introdução

Considerando o potencial educativo-cultural de espaços culturais, cada vez mais percebemos profissionais Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais (doravante TILS)1 1 Este estudo adota o termo TILS (Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais), conforme regulamentação da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS através da Lei 12.319/2010; entretanto, abordará o ato interpretativo, ou seja, o intérprete em atividade no momento da enunciação em Libras, e não a atividade específica de tradução de textos. atuando na esfera teatral - que envolve também espetáculos musicais - para atender a uma demanda de acessibilidade em Língua Brasileira de Sinais (Libras) para o público surdo e garantir a presença dessa audiência nesses espetáculos. Neste artigo, apresentamos um estudo sobre a atividade de interpretação simultânea do português para Libras nesse contexto, a partir do diálogo entre os estudos da interpretação, os estudos da teatralidade e formulações teóricas de Bakhtin e o Círculo.

São diversos os desafios e desdobramentos que constituem a atuação de profissionais TILS em sua tarefa de mobilizar discursos a partir de diferentes gêneros e esferas de atividade. Esses profissionais atuam em diversas esferas: educacional, jurídica, religiosa, midiática, de conferências, dentre outras. Nelas, enfrentam diariamente desafios de tradução e de interpretação interlingual intermodal, pois tanto na tradução como na interpretação lidam com um par linguístico em que uma das línguas é de modalidade oral-auditiva (língua oral) e a outra de modalidade gesto-visual (língua de sinais).

Se muitos são os desafios da interpretação interlingual em qualquer esfera em que se pressupõe uma teia complexa de relações, quando se trata de textos da esfera artística, e mais especificamente da esfera teatral, diversos fatores devem ser considerados para além das transferências culturais e linguísticas que se produzem. Dentre eles estão a história do texto, seu impacto na vida social e os efeitos de sentido que desencadeia.

Na esfera teatral se dá uma “enunciação própria do teatro: a de um texto proferido pelo ator, num tempo e lugar concretos, dirigido a um público que o recebe no fundo de um texto e de uma encenação” (PAVIS, 2015aPAVIS, P. O teatro no cruzamento de culturas. Trad. Nanci Fernandes. São Paulo: Perspectiva, 2015a. (Estudos; 247)., p.124). A interpretação em Libras deve considerar as peculiaridades dos textos produzidos nesse contexto em seu sentido amplo, o que implica enfrentá-los não apenas pela dimensão verbal do texto dramático2 2 O termo “texto dramático" será abordado aqui como o texto escrito ou roteiro de um espetáculo que geralmente é utilizado como texto base para ensaios e para referenciar os atores e intérpretes de Libras sobre como o espetáculo teatral pretende acontecer. , já que os sentidos produzidos em espetáculos teatrais são construídos, também e sobretudo, por elementos extraverbais que compõem a teatralidade, como músicas, efeitos sonoros, movimentação de cenário, movimentação de personagens, atuação e corpo dos atores, projeções, reações da plateia etc.

A dimensão verbo-visual, ou seja, a articulação entre elementos verbais (orais e escritos) e visuais (múltiplas semioses usadas na construção de sentidos) casados (BRAIT, 2010BRAIT, B. Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010., 2013BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.8, n.2, p.43-66, 2013. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568]. Acesso em: 25 mar. 2017.
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), tem papel central neste artigo, que adota a dimensão verbo-visual como constitutiva do texto do espetáculo, observando seus efeitos na enunciação do TILS durante o ato interpretativo. Assim, não observaremos isoladamente a tradução de uma produção textual dramática, ou a visualidade teatral como arte, mas a dimensão verbo-visual provocada pelo teatro e a hibridização das artes visuais com a linguagem verbal na produção de sentidos (GONÇALVES, 2013GONÇALVES, J. O Corpo no teatro: Reflexões bakhtinianas a partir de protocolos teatrais verbo-visuais. Polifonia, Cuiabá, MT, v. 20, n. 27, p.229-250, 2013. Disponível em: [http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/viewFile/1469/ 1128]. Acesso em: 27 mar. 2018.
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).

Nessa perspectiva, esta pesquisa teve como objetivo investigar de que forma a relação verbo-visual do discurso teatral e da cena como um todo é absorvida no dizer do intérprete durante a mobilização discursiva da língua portuguesa para a Libras.

Para alcançar nosso objetivo, apresentaremos, após esta introdução, alguns pressupostos teóricos e metodológicos que nortearam a análise, para, então, a partir de um estudo qualitativo analítico-descritivo de um corpus composto por dois espetáculos teatrais que contaram com interpretação em Libras, discutirmos a relação do texto verbo-visual presente na cena teatral com a enunciação do intérprete no momento em que ela aconteceu. Com relação aos pressupostos teórico-metodológicos, primeiramente faremos uma breve passagem nos estudos da tradução e da interpretação com base em autores como Pöchhacker (2005PÖCHHACKER, F. From operation to action: process-orientation. Meta: journal des traducteurs, vol. 50, n. 2, p.682-695, 2005. Disponível em: [http://id.erudit.org/ iderudit/011011ar]. Acesso em: 15 mar. 2018.
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, 2009)PÖCHHACKER, F. Issues in interpreting studies. In: MUNDAY, J. (Editor). The Routledge companion to translation studies. New York: Routledge, 2009, p.128-140. e Gile (2009)GILE, D. Interpreting Studies: a Critical View from within. MonTI. ESIT, Université Paris, Paris, n. 1, p.135-155, 2009. Disponível em: [http://www.redalyc.org/html/2651/265119728011/]. Acesso em 20 mar. 2018.
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, e centraremos o foco nos estudos da interpretação. Nesta análise, observaremos o ato interpretativo sob uma perspectiva dialógica e enquanto ato de linguagem, com base nas formulações teóricas de Bakhtin e o Círculo, considerando a atividade de interpretação interlingual como uma prática discursiva que acontece a partir de gêneros pré-existentes, conforme propõem Sobral (2008)SOBRAL, A. Dizer o “mesmo” a outros: ensaios sobre tradução. São Paulo: SBS, 2008. e Nascimento (2014)NASCIMENTO, M. Gêneros do discurso e verbo-visualidade: dimensões da linguagem para a formação de Tradutores/Intérpretes de Libras/Português. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. (Orgs.). Dialogismo: teoria e(m) prática. São Paulo: Terracota Editora, 2014, p.213-231. . Na sequência, a partir dos estudos que vêm sendo desenvolvidos por Brait (2009BRAIT, B. A palavra mandioca: do verbal ao verbo-visual. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v. 1, p.142-160, 2009. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/3004]. Acesso em: 01 mar. 2017.
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, 2010BRAIT, B. Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010., 2013)BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.8, n.2, p.43-66, 2013. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568]. Acesso em: 25 mar. 2017.
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, trabalharemos a dimensão verbo-visual dos textos, entendendo que linguagem verbal e visual casadas produzem sentidos. E, por último, na análise dos dados, discutiremos a irrepetibilidade da cena teatral (PAVIS, 2015aPAVIS, P. O teatro no cruzamento de culturas. Trad. Nanci Fernandes. São Paulo: Perspectiva, 2015a. (Estudos; 247).), o quanto a dimensão verbo-visual é constitutiva de espetáculos teatrais e sua influência na interpretação em Libras.

1 A tradução e interpretação na perspectiva dialógica

Segundo Brait (2005)BRAIT, B. Bakhtin e a natureza constitutivamente dialógica da linguagem. In: BRAIT, B (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. 2. ed. rev. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2005, p.87-98., o conceito de linguagem proveniente dos estudos de Bakhtin e o Círculo é comprometido com uma visão de mundo que não se identifica com uma única tendência linguística ou com uma teoria literária, mas que, na busca de formas de construção e instauração de sentidos, passa por um conjunto de dimensões como a abordagem linguístico-discursiva, teoria da literatura, teologia, filosofia e semiótica da cultura.

É na teoria dialógica bakhtiniana dos gêneros do discurso e estudos sobre a verbo-visualidade que nos baseamos para análise, mas antes, de forma abrangente, observamos a interlocução dessa teoria com os estudos da tradução e estudos da interpretação, sob a perspectiva de que “todo ato de tradução é tanto tradução como interpretação, porque traduzir é sempre interpretar e porque sempre que se interpreta se traduz” (SOBRAL, 2008SOBRAL, A. Dizer o “mesmo” a outros: ensaios sobre tradução. São Paulo: SBS, 2008., p.88).

São diversos os autores que apontam a tradução e a interpretação como processos similares e ao mesmo tempo distintos. Entretanto, entende-se que há uma diferença entre a atividade específica de tradução de textos, que acontece a partir de um texto em uma língua de partida, com tempo considerável para execução de seu trabalho, possibilidade de consulta a dicionários, possibilidade de revisões e ajustes no texto que será produzido na língua de chegada, e a atividade de interpretação simultânea, que acontece em um dado espaço e tempo limitados e lida com o texto em sua versão final no momento em que é enunciado na língua de chegada, conforme apontam Cokely (1992)COKELY, D. Interpreting: a Sociolinguistic Model. Burtonsville, Maryland: Linstok Press, 1992., Romão (1998)ROMÃO, T. Aspectos históricos e práticos de interpretação. Rev. de Letras, v. 1/2, n. 20, p. 103-109, 1998. Disponível em: [http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/16544]. Acesso em: 01 abr. 2018.
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, Pagura (2003)PAGURA, R. A interpretação de conferências: interfaces com a tradução escrita e implicações para a formação de intérpretes e tradutores. D.E.L.T.A. São Paulo, v. 19, n. esp., p.209-236, 2003. Disponível em: [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502003000300013&script=sci_abstract&tlng=pt]. Acesso em: 02 abr. 2018.
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e Nascimento (2016)NASCIMENTO, M. Formação de intérpretes de libras e língua portuguesa: encontros de sujeitos, discursos e saberes. 2016. 318f. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.. Por isso, ressalta-se a importância de um olhar aos estudos da interpretação como um campo disciplinar independente.

Os Estudos da Tradução (ET) e os Estudos da Interpretação (EI), segundo Pöchhacker (2009)PÖCHHACKER, F. Issues in interpreting studies. In: MUNDAY, J. (Editor). The Routledge companion to translation studies. New York: Routledge, 2009, p.128-140., surgiram concomitantemente na segunda metade do século XX; entretanto, os EI só tiveram seu reconhecimento de fato na década de 1990. Gile (2009)GILE, D. Interpreting Studies: a Critical View from within. MonTI. ESIT, Université Paris, Paris, n. 1, p.135-155, 2009. Disponível em: [http://www.redalyc.org/html/2651/265119728011/]. Acesso em 20 mar. 2018.
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afirma que o fato dos ET e EI terem tomado diferentes caminhos pode facilmente ser compreendido. Os EI, mais especificamente os estudos voltados à interpretação em conferências, eram exclusivamente focados no processo, e abordavam os desafios enfrentados na prática da interpretação como essencialmente cognitivos; já nos ET, as pesquisas não estavam relacionadas a questões cognitivas da mente dos sujeitos de pesquisa, mas a questões de equivalência cultural e linguística. Além disso, os ET surgiram como disciplina a partir dos estudos de literatura e cultura, enquanto os pioneiros em pesquisas na interpretação não tinham um histórico acadêmico e desejavam estabelecer uma disciplina desvinculada de outras.

Nos EI, temos a importante contribuição de Danica Seleskovitch e a Thèorie du Sens (Teoria do Sentido), na qual a noção de desverbalização e reverbalização é um dos pontos centrais da pesquisa publicada em 1975. Seleskovitch procurou explicar o processo de interpretação desde suas primeiras publicações, compartilhando um forte interesse com estudos da psicologia, estruturas cognitivas e operações de processamento, tais como a memória de curto prazo e uso do conhecimento. Entretanto, mesmo com diversos estudos, a noção de processo ainda não era considerada suficientemente ampla, pois, até o final de 1980, esta noção se restringia à de um movimento linear de um ponto a outro, envolvendo algum tipo de transformação entre partida e chegada (PÖCHHACKER, 2005PÖCHHACKER, F. From operation to action: process-orientation. Meta: journal des traducteurs, vol. 50, n. 2, p.682-695, 2005. Disponível em: [http://id.erudit.org/ iderudit/011011ar]. Acesso em: 15 mar. 2018.
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).

Mesmo entendendo o intérprete como um agente que faz pontes entre língua de partida e língua de chegada, essas teorias não abordavam as condições ou o contexto nos quais essa interpretação se dava e as inúmeras variáveis que podem impactar o ato de enunciação. Diversas pesquisas surgiram na área da interpretação de conferências a partir dos anos 1990, influenciadas por estudos da cognição, psicologia cognitiva e neurolinguística que, com pesquisas empíricas e experimentais, buscaram descrever e apontar as especificidades da interpretação enquanto tradução de textos orais em interações face-a-face. Ainda assim, essas pesquisas voltaram-se apenas para os processos, treinamento e qualidade da interpretação. Somente após os anos 2000, quando os estudos da interpretação abordaram a perspectiva da prática profissional na interpretação comunitária e em serviços públicos, pesquisas nessa área avançaram na exploração de aspectos relacionados a condições de trabalho, percepções sobre a função e efeitos da influência do intérprete nas partes envolvidas (GILE, 2009GILE, D. Interpreting Studies: a Critical View from within. MonTI. ESIT, Université Paris, Paris, n. 1, p.135-155, 2009. Disponível em: [http://www.redalyc.org/html/2651/265119728011/]. Acesso em 20 mar. 2018.
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).

Os Estudos da Tradução e Interpretação de Língua de Sinais aparecem no Brasil de forma significativa a partir do reconhecimento da Libras com status linguístico por meio da Lei 10.423/2002 e da regulamentação da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, por meio da Lei 12.319/2010, apontando para “a importância de teorizações sobre práticas já existentes” (NASCIMENTO, 2011NASCIMENTO, M. Interpretação da língua brasileira de sinais a partir do gênero jornalístico televisivo: elementos verbo-visuais na produção de sentidos. 2011. 147f. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. , p.32).

Neste estudo, tomamos a tradução e interpretação de língua de sinais como uma prática discursiva que se dá numa situação concreta de enunciação e que mobiliza discursos inscritos nas mais diversas esferas da linguagem, afastando-nos de um estudo baseado em teorias linguísticas com orientações de caráter estrutural ou formalista, mas concordando com a perspectiva de Bakhtin, Medviédev e Volóchinov, que “tanto no domínio das teorias da linguagem quanto no da poética, buscam uma fundamentação em abordagens filosóficas da linguagem e das artes (...)” (GRILLO, 2017GRILLO, S. Ensaio introdutório. In: VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2017. , p.14). Bakhtin afirma que

a língua passa a integrar a vida através de enunciados concretos (que a realizam); é igualmente através dos enunciados concretos que a vida entra na língua. O enunciado é um núcleo problemático de importância excepcional (2016, p.16).

Por isso, é importante lançarmos o olhar à situação concreta de enunciação e ao ambiente social em que ela acontece, pois,

Desse modo, a unidade do meio social e do acontecimento da comunicação social mais próximo são duas condições totalmente necessárias para que o conjunto físico-psicofisiológico apontado por nós possa ter uma relação com a língua, com o discurso, possa tornar-se um fato da língua-discurso (linguagem) (VOLÓCHINOV, 2017VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo; ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017. , p.145, destaques do autor).

Entendendo que todo enunciado se insere em uma cadeia discursiva, Volóchinov aponta para uma “unidade ininterrupta e orgânica” entre a forma da comunicação, a forma de seu enunciado e o seu tema, e afirma que

cada época e cada grupo social possui o seu próprio repertório de formas discursivas da comunicação ideológica cotidiana. Cada grupo de formas homogêneas, ou seja, cada gênero discursivo cotidiano, possui seu próprio conjunto de temas (2017, p.109).

Assim, não podemos isolar a comunicação de suas formas de manifestação, tampouco podemos isolar o signo das formas concretas de comunicação ou da ideologia da realidade material, pois todo signo é ideológico, e é apenas no contexto ideológico, no contexto de certos enunciados, que a forma linguística é dada ao falante (VOLÓCHINOV, 2017VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo; ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017. ).

Na abordagem da interpretação interlingual como uma prática discursiva, Sobral (2008)SOBRAL, A. Dizer o “mesmo” a outros: ensaios sobre tradução. São Paulo: SBS, 2008. e Nascimento (2014)NASCIMENTO, M. Gêneros do discurso e verbo-visualidade: dimensões da linguagem para a formação de Tradutores/Intérpretes de Libras/Português. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. (Orgs.). Dialogismo: teoria e(m) prática. São Paulo: Terracota Editora, 2014, p.213-231. propõem que ela acontece a partir de gêneros pré-existentes, ou seja, o intérprete, durante sua atividade, mobiliza discursos já inscritos em determinados recortes sócio-históricos e constituídos de um sistema semiótico-ideológico específico. Esses gêneros se manifestam em contextos de convívio cultural, sendo responsáveis pela circulação e intercâmbio de conhecimentos, culturas e tradições produzidas entre povos e na complexa linguagem humana. Assim, quando o TILS realiza a interpretação, ocorre a mobilização de um sistema semiótico-ideológico para outro, e, nesse processo, os elementos produzidos no enunciado primeiro, de partida, precisam ser levados para o enunciado segundo, na língua de chegada (SOBRAL, 2008SOBRAL, A. Dizer o “mesmo” a outros: ensaios sobre tradução. São Paulo: SBS, 2008.; NASCIMENTO, 2014NASCIMENTO, M. Gêneros do discurso e verbo-visualidade: dimensões da linguagem para a formação de Tradutores/Intérpretes de Libras/Português. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. (Orgs.). Dialogismo: teoria e(m) prática. São Paulo: Terracota Editora, 2014, p.213-231. ).

A perspectiva enunciativo-discursiva traz a concepção da linguagem como de cunho dialógico numa relação enunciativa/interlocutiva. Segundo Sobral (2008, p.117)SOBRAL, A. Dizer o “mesmo” a outros: ensaios sobre tradução. São Paulo: SBS, 2008., o tradutor é o profissional que reúne “a vivência que ele tem de sua língua e cultura, a vivência de língua e cultura estrangeiras e o contato necessário entre elas”, e, ainda segundo o autor, o tradutor tem a “posição de fronteira que lhe permite criar pontes entre culturas” (SOBRAL, 2008SOBRAL, A. Dizer o “mesmo” a outros: ensaios sobre tradução. São Paulo: SBS, 2008., p.117). Nessa mesma linha, Nascimento (2014, p.217)NASCIMENTO, M. Gêneros do discurso e verbo-visualidade: dimensões da linguagem para a formação de Tradutores/Intérpretes de Libras/Português. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. (Orgs.). Dialogismo: teoria e(m) prática. São Paulo: Terracota Editora, 2014, p.213-231. afirma que a tradução e a interpretação são “pontes que unem as diferentes arquitetônicas dos gêneros que procuram se transpor”.

A tarefa do TILS de mobilizar discursos em diferentes gêneros, completos e complexos, apresenta inúmeros desafios e desdobramentos, tanto pela totalidade dos enunciados proferidos na língua de partida, quanto pelos enunciados produzidos durante o ato interpretativo e pelo que será entendido pelos receptores desse discurso. Quando o par linguístico a ser traduzido ou interpretado envolve uma língua de modalidade viso-espacial, deve-se considerar que toda a construção arquitetônica, o projeto dos elementos que compõem essa enunciação, os discursos, o contexto cultural e todas as interferências visuais presentes no espaço físico têm grande relevância, e todos esses elementos compõem o gênero aqui discutido.

Brait (2005, p.93)BRAIT, B. Bakhtin e a natureza constitutivamente dialógica da linguagem. In: BRAIT, B (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. 2. ed. rev. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2005, p.87-98. afirma que Bakthin e o Círculo exploram a ideia de que “a linguagem não é falada no vazio, mas numa situação histórica e social concreta no momento e no lugar da atualização do enunciado”. Isto posto, deve-se considerar uma proposta de análise que contempla a particularidade da situação em que se dá um determinado enunciado, uma análise na qual “sejam levados em conta a história, o tempo particular, o lugar de geração do enunciado, de um lado, e os envolvimentos intersubjetivos que dizem respeito a um dado discurso, de outro” (BRAIT, 2005BRAIT, B. Bakhtin e a natureza constitutivamente dialógica da linguagem. In: BRAIT, B (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. 2. ed. rev. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2005, p.87-98., p.93).

Visto que “[...] o signo e sua situação social estão fundidos de modo inseparável. O signo não pode ser isolado da situação social sem perder sua natureza sígnica” (VOLÓCHINOV, 2017VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo; ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017. , p.135; grifo do autor), todo enunciado está relacionado com a esfera na qual se insere; assim, o discurso não trata de um texto em si, mas de uma linguagem em uso, que pode criar “sentidos diferentes a depender de quem diz o quê a quem, onde e como” (SOBRAL, 2008SOBRAL, A. Dizer o “mesmo” a outros: ensaios sobre tradução. São Paulo: SBS, 2008., p.10). Para Sobral (2011)SOBRAL, A. Gêneros discursivos, posição enunciativa e dilemas da transposição didática: novas reflexões. Letras de Hoje. Porto Alegre, v. 46, n. 1, p.37-45, 2011. Disponível em: [http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/9246]. Acesso em: 01 abr. 2018.
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, o pensamento bakhtiniano, que traz a concepção da linguagem como de cunho dialógico, considera o todo orgânico do enunciado e tem como elemento fundante do gênero o projeto enunciativo, ou a relação enunciativa/interlocutiva.

2 Dimensão verbo-visual dos textos de espetáculos teatrais

Os estudos sobre a verbo-visualidade vêm sendo desenvolvidos no Brasil por diversos teóricos a partir dos estudos da linguagem de Bakhtin e o Círculo como uma teoria do discurso. Brait aponta que Volóchinov foi incluído na obra Tekstura: Russian Essays on Visual Culture3 3 EFIMOVA, A.; MANOVICH, L. (eds) Tekstura: Russian on Essais on Visual Culture. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1993.

que objetiva o estudo da cultura visual, demonstrando a amplitude de sua contribuição que, para além dos estudos linguísticos, se oferece enquanto teoria geral e perspectiva semiótico-ideológica da linguagem (BRAIT, 2013BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.8, n.2, p.43-66, 2013. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568]. Acesso em: 25 mar. 2017.
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, p.47).

Se os estudos do verbal e do visual vêm se desenvolvendo, separadamente, em diversas áreas do conhecimento com respeitável tradição, a condição verbo-visual da linguagem tem hoje lugar privilegiado enquanto produção social, cultural, discursiva e, por esse motivo, também como objeto de estudos (BRAIT, 2013BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.8, n.2, p.43-66, 2013. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568]. Acesso em: 25 mar. 2017.
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). Nessa teoria, que considera os enunciados situados e sempre em tensão, as relações dialógicas são uma categoria fundante de análise do verbal e do visual “tramado entre as duas linguagens” (BRAIT, 2013BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.8, n.2, p.43-66, 2013. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568]. Acesso em: 25 mar. 2017.
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, p.62, grifo do autor).

Os estudos da verbo-visualidade procuram

[...] explicar o verbal e visual casados, articulados num único enunciado, o que pode acontecer na arte ou fora dela, e que tem gradações pendendo mais para o verbal ou mais para o visual, mas organizados num único plano de expressão, numa combinatória de materialidades, numa expressão material estruturada [...] (BRAIT, 2013BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.8, n.2, p.43-66, 2013. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568]. Acesso em: 25 mar. 2017.
https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
, p.50).

Para este estudo, adotamos, então, a dimensão verbo-visual como articulação entre elementos verbais (orais e escritos) e visuais (múltiplas semioses usadas na construção de sentidos), que formam um todo indissolúvel e são constituídos a partir de uma esfera ideológica que interfere diretamente em suas formas de produção, circulação e recepção (BRAIT, 2010BRAIT, B. Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010.).

No que tange à interpretação da língua de sinais, Nascimento (2011)NASCIMENTO, M. Interpretação da língua brasileira de sinais a partir do gênero jornalístico televisivo: elementos verbo-visuais na produção de sentidos. 2011. 147f. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. , ao realizar uma pesquisa a partir do gênero jornalístico televisivo, discute a totalidade instaurada principalmente pela condição de modalidade viso-espacial da língua de sinais que abrange uma “relação direta e imprescindível entre a dimensão verbal com visualidades que lhes são externas” (NASCIMENTO, 2014NASCIMENTO, M. Gêneros do discurso e verbo-visualidade: dimensões da linguagem para a formação de Tradutores/Intérpretes de Libras/Português. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. (Orgs.). Dialogismo: teoria e(m) prática. São Paulo: Terracota Editora, 2014, p.213-231. , p.219). Assim, a depender do gênero em que se insere essa materialidade linguística, linguagem verbal e visual constituem a produção de sentidos e são inseparáveis, correndo-se o risco, caso sejam separadas, de perda de uma parte do todo que produz sentido ao enunciado (BRAIT, 2013BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.8, n.2, p.43-66, 2013. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568]. Acesso em: 25 mar. 2017.
https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
; NASCIMENTO, 2014NASCIMENTO, M. Gêneros do discurso e verbo-visualidade: dimensões da linguagem para a formação de Tradutores/Intérpretes de Libras/Português. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. (Orgs.). Dialogismo: teoria e(m) prática. São Paulo: Terracota Editora, 2014, p.213-231. ).

Para refletir sobre a interpretação de língua de sinais na esfera artística, partimos para a reflexão sobre o texto produzido no teatro, suas peculiaridades e seus modos de dizer. Analisar o discurso teatral implica diversos aspectos:

[...] é necessário considerar o texto em seu sentido amplo e descentrado de uma característica somente verbal, tanto pelas formas que podem ser adotadas pelo pesquisador ao se relacionar dialogicamente com diferentes materialidades enunciativo-discursivas provenientes dos mais diversos elementos de teatralidade, como pelo procedimento da esfera teatral como um campo bem maior que o espetáculo, que abrange etapas de construção e recepção cênicas constituídas discursivamente. Assim, a análise dialógica do discurso se apresenta como um modo efetivo de olhar para as relações dialógicas como constitutivas do próprio evento teatral. Evento este que não se esgota no ato cênico (GONÇALVES, 2014GONÇALVES, J. Circo Negro: o discurso teatral em perspectiva dialógica. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. (Orgs.). Dialogismo: teoria e(m) prática. São Paulo: Terracota Editora, 2014, p.267-279., p.272).

Sobre a tradução de textos nessa esfera, Pavis (2015a)PAVIS, P. O teatro no cruzamento de culturas. Trad. Nanci Fernandes. São Paulo: Perspectiva, 2015a. (Estudos; 247). aponta que interessa à tradução o que acontece em cena e não uma mera tradução interlingual de textos dramáticos. O autor levanta duas evidências: a primeira, de que no teatro a tradução passa pelo corpo dos atores e pelos ouvidos dos atores; e a segunda, de que um texto linguístico não é meramente traduzido para uma língua de chegada, mas comunica-se graças ao palco, às situações de enunciação e de cultura que são heterogêneas e separadas pelo espaço e pelo tempo.

Nessa perspectiva, tradutor e texto da tradução não têm a função de equivalência, mas têm necessariamente uma função de mediação, uma vez que se situam em uma intersecção de dois conjuntos aos quais pertencem, fazendo parte tanto de texto e cultura dos quais partirá a mobilização de discursos, quanto de texto e cultura para os quais o texto foi traduzido. Esse fenômeno é aplicável a qualquer tradução linguística, mas no teatro reforça-se a necessidade de uma abordagem que considera a situação de enunciação. Em geral, o tradutor dessa esfera trabalha com um texto escrito que foi enunciado em uma encenação concreta, e planeja sua tradução consciente de que ela não poderá conservar a situação do ponto de partida, mas está destinada à enunciação em cena ainda não conhecida (PAVIS, 2015aPAVIS, P. O teatro no cruzamento de culturas. Trad. Nanci Fernandes. São Paulo: Perspectiva, 2015a. (Estudos; 247).).

Assim, durante o espetáculo teatral, temos “conjuntos de textos” (BRAIT, 2009BRAIT, B. A palavra mandioca: do verbal ao verbo-visual. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v. 1, p.142-160, 2009. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/3004]. Acesso em: 01 mar. 2017.
https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
, p.143) compostos não só pela dimensão verbal, mas também por diferentes elementos visuais extralinguísticos que compõem a linguagem do espetáculo. Nessa perspectiva,

Em determinados textos ou conjuntos de textos, artísticos ou não, a articulação entre os elementos verbais e visuais forma um todo indissolúvel, cuja unidade exige do analista o reconhecimento dessa particularidade. São textos em que a verbo-visualidade se apresenta como constitutiva, impossibilitando o tratamento excludente do verbal ou do visual e, em especial, das formas de junção assumidas por essas dimensões para produzir sentido (BRAIT, 2009BRAIT, B. A palavra mandioca: do verbal ao verbo-visual. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v. 1, p.142-160, 2009. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/3004]. Acesso em: 01 mar. 2017.
https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
, p.143).

Faz-se necessário, então, pensar a atuação dos TILS no teatro para além da perspectiva de tradução de textos dramáticos, mas com um olhar para o ato de interpretação, pois esses profissionais encontram-se em situação de enunciação no momento em que a cena teatral acontece com toda a sua verbo-visualidade.

3 Questões teórico-metodológicas

Antes de apresentamos a análise propriamente dita, discorreremos sobre alguns pressupostos teórico-metodológicos norteadores. Partimos do pressuposto de que

A verbo-visualidade funciona de maneira a constituir o objeto de conhecimento, a partir de um ponto de vista teórico-metodológico. A dimensão visual interage constitutivamente com o verbal (ou vice-versa), acrescentando-lhe valores. Sem esse jogo não se dá a construção do objeto de conhecimento, nem dos sujeitos da construção e da recepção (BRAIT, 2013BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.8, n.2, p.43-66, 2013. Disponível em: [https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568]. Acesso em: 25 mar. 2017.
https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
, p.62).

Outro fundamento para este estudo, para além da dimensão verbo-visual que já trabalhamos ao longo do texto, é a concepção das formas dos enunciados como uma

[...] totalidade que se realiza apenas no fluxo da comunicação discursiva. A totalidade é determinada pelas fronteiras que se encontram na linha de contato desse enunciado com o meio extraverbal e verbal (isto é, com outros enunciados) (VOLÓCHINOV, 2017VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo; ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017. , p.221).

Assim, tudo o que doravante for apresentado parte do pressuposto de que o visual e o verbal encontram-se amalgamados nos textos que serão analisados e, também, de que estes enunciados se inserem em uma cadeia discursiva em constante diálogo com outros enunciados. Nesse sentido, entendemos os profissionais TILS que estão atuando no espetáculo como um elemento que entra em cena e que, portanto, passa a dialogar com ela e fazer parte do texto e da cena teatral.

Para o Círculo, o mundo dado (o sensível) e a apreensão de mundo (o inteligível) estão integrados; esse princípio nega a dissociação entre a realização concreta do ato e a organização do conteúdo do ato, gerando unidade de sentido. Todo ato, portanto, integra conteúdo e forma, significação e tema, elaboração teórica e materialidade, ser no mundo e categorização do mundo, repetibilidade e irrepetibilidade, sendo percebido em um determinado contexto e situação (SOBRAL, 2014SOBRAL, A. Ato/atividade e evento. In: BRAIT, B. (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. 5.ed. 2.. reimp. São Paulo: Contexto, 2014, p.11-36.).

Outro pressuposto teórico-metodológico importante de ressaltar é o de que nenhum método de análise da cena teatral esgota todas as possibilidades de observá-la, e é, por esse motivo,

[...] com a maior humildade, e sobretudo com a mais elementar prudência, que devemos avançar no terreno do espetacular, campo minado pelas mais contraditórias tendências e as suspeitas metodológicas mais insidiosas, terreno baldio que ainda não viu se desenvolver um método satisfatório e universal (PAVIS, 2015bPAVIS, P. A análise dos espetáculos. Trad. Sérgio Sálvia Coelho. São Paulo: Perspectiva, 2015b. (Estudos; 196)., p.XVII).

Ou seja, ao lidar com a realidade da linguagem e observar um projeto enunciativo na instauração de efeitos de sentidos de acordo com o gênero na qual se insere essa materialidade textual, não temos a pretensão de um registro ou de uma descrição que abarque todas as variáveis existentes na enunciação. Especialmente quando lidamos com a esfera artística, devemos ter a consciência da irrepetibilidade da cena teatral que acontece no momento único de sua prática. Devemos considerar, ainda, que a atividade de interpretação simultânea lida com a instantaneidade e a imprevisibilidade; assim, mesmo que os TILS tenham ensaiado ou estudado o roteiro do espetáculo, é no momento em que a cena acontece que o ato interpretativo se dará. Ou seja, as enunciações, tanto dos atores como dos TILS, são únicas.

À vista disso, a fim de observamos algumas das variáveis envolvidas na enunciação em Libras nesta análise, realizamos um estudo qualitativo do tipo analítico-descritivo de dois espetáculos em São Paulo que contaram com apresentações teatrais acessíveis em Libras por meio da contratação de TILS. Para coleta de dados, registramos em vídeo tanto o espetáculo como a atuação dos TILS, e fizemos anotações em um diário de campo durante o desenvolvimento da apresentação teatral. Além disso, aplicamos um questionário para que os TILS pudessem descrever como se prepararam para a interpretação e fazer observações sobre as impressões que tiveram sobre a atuação no momento em que o espetáculo aconteceu.

De acordo com Brait, a perspectiva teórica adotada traz exigências para o analista, pois:

[...] o trabalho com a verbo-visualidade inspirado no pensamento bakhtiniano é possível, desempenha um papel importante na leitura da contemporaneidade e no ensino dessa leitura, mas exige empenho e rigor teórico-metodológico (2013, p.62).

Em função dessa necessidade de rigor referida, os excertos foram escolhidos após longo processo de descrição tanto da cena teatral como da atuação dos TILS. Antes de partirmos para a análise e interpretação dos dados, foram descritas: (a) características da instituição cultural em que ocorreu o espetáculo no que tange à concepção de acessibilidade; (b) informações do espetáculo, como duração, sinopse e meios de divulgação; (c) descrição de cenário, figurino e iluminação do espetáculo; (d) questões relacionadas à atuação dos atores e interação com a plateia e elementos do cenário; (e) quantidade, localização e esquema de trabalho dos TILS; (f) estratégias de interpretação utilizadas pelos TILS para indicação de elementos dêiticos.

Os sujeitos de pesquisa foram duas profissionais TILS contratadas pela instituição cultural que sedia os espetáculos, ambas com experiência de atuação nessa esfera há mais de dois anos; também são participantes da pesquisa os atores que aparecem em cena durante o espetáculo. Nos dois espetáculos teatrais - doravante E1 e E2 -, a interpretação em Libras se deu com as duas profissionais TILS atuando em equipe4 4 O conceito de “atuação em equipe” foi adotado com base nos estudos de Nogueira (2016), que traz autores e reflexões que abordam o revezamento na produção da interpretação. A atuação em equipe inclui, como uma das características, a alternância da responsabilidade do turno da interpretação, na qual um TILS assume a função de produção da interpretação e o outro de apoio. , alternando entre turno de interpretação e apoio.

No espetáculo E1, a profissional TILS que estava no turno de interpretação ficou localizada no fosso à esquerda do palco (na perspectiva do espectador), e no espetáculo E2, à direita do palco. A TILS que não estava atuando em cena no turno da interpretação estava de apoio, informando qual ator/personagem tinha o turno da fala, movimentação de palco etc. Ela estava sentada na plateia com visão do todo do espetáculo à frente da TILS que estava no turno da interpretação (Quadro 01). Em ambos os espetáculos analisados, a iluminação das TILS se deu através de um foco de luz fixo e ininterrupto.

Quadro 01
mapeamento de posicionamento das câmeras, dos TILS e dos assentos reservados para o público surdo

Registramos a atuação das intérpretes com duas câmeras, conforme Quadro 01, no qual demonstramos, pelas figuras 01 e 02, o posicionamento das TILS e das câmeras nos espetáculos E1 e E2, respectivamente. As duas câmeras foram posicionadas de forma a perceber a cena como um todo, mas com um olhar específico para produção do enunciado em língua de sinais, pela compreensão da importância de se observar a materialidade linguística em que os enunciados se realizam.

Os vídeos foram sincronizados pelo software de edição de vídeos ‘Adobe Premier Pro CC’ e, na montagem (figura 03), utilizamos o vídeo da cena como um todo com o vídeo da intérprete ampliado para melhor visualização dos detalhes da produção dos enunciados em língua de sinais.

Figura 03
Exemplo da montagem e sincronia dos registros do espetáculo com a intérprete ampliada

4 Elementos verbo-visuais da cena teatral e a interpretação em Libras

Dentre as diversas verbo-visualidades presentes na cena teatral, para fins deste estudo, elencamos alguns excertos de elementos verbo-visuais que foram incorporados à enunciação das TILS no momento em que a cena aconteceu. Adentramos na análise conscientes de que “a análise não deve, de fato, se obrigar a adivinhar todas essas decisões e intenções, ela se baseia no produto final do trabalho, por mais inacabado e desorganizado que esteja” (PAVIS, 2015bPAVIS, P. A análise dos espetáculos. Trad. Sérgio Sálvia Coelho. São Paulo: Perspectiva, 2015b. (Estudos; 196)., p.XVIII).

A cena apresentada no excerto abaixo (Quadro 02) é de uma personagem que ordena para outra personagem em cena que leia um texto composto por letras combinadas projetadas na parede do cubo, na qual supostamente estaria escrito o nome completo da primeira. Entretanto, as letras projetadas estão desordenadas e por si só não formam necessariamente palavras. A personagem se inclina então para o texto (como se estivesse tentando ler), mas o que ela pronuncia com dificuldade não é o texto projetado na parede.

Quadro 02
espetáculo E1

A estratégia utilizada em Libras pela intérprete é de apontar com gesto enfático com duas mãos para o lado em que se encontraria a parede do cubo, caso ele estivesse à sua frente, fazendo uso do marcador facial intensificado para indicar autoridade (Quadro 02 - Cena A). Para indicar a personagem que tenta ler o conjunto de letras, a intérprete incorpora sua postura, abaixada, aproximando-se da projeção para leitura do texto projetado. A intérprete começa, então, uma soletração na tentativa de formar uma palavra (Quadro 02 - Cena B). Mesmo depois que a projeção é desligada, o texto narrado continua fazendo referência a esta tentativa de leitura e a intérprete continua sinalizando como se a parede estivesse no mesmo espaço que ela havia indicado anteriormente (Quadro 02 - Cena C).

Pode-se observar, no excerto apresentado acima, que a posição dos atores e o direcionamento deles para os elementos cenográficos (luz, projeções e objetos do cenário) exercem forte influência na enunciação em Libras, e que as escolhas interpretativas precisam considerar o aspecto visual da cena para produzir sentido coerente.

No próximo excerto, retirado do espetáculo E2 (Quadros 03 e 04), observamos um mesmo objeto em cena (rolo de folha de papel que representa um projeto de arquitetura) manuseado pela personagem de diferentes maneiras. No Quadro 03, observa-se a Cena D, na qual a personagem manuseia o papel. O texto falado pela atriz para referir-se ao seu projeto de arquitetura é: “Aqui! Aqui! Eu comecei a entender que os lugares que não feitos pra sonhar [...]”. Na Cena D, percebe-se que a intérprete, para entender a que se refere o “Aqui!”, sente a necessidade de ver o que acontece na cena, pois sua visão é limitada. Ela vira a cabeça e, ao ver a atriz manuseando os papéis em uma mesa, escolhe fazer o apontamento e a demarcação do espaço que o papel ocuparia sobre essa mesa. No Quadro 04 - Cena E, acontece um processo similar, no qual a intérprete mais uma vez olha para a cena e vê o papel do projeto posicionado de outra forma, o que faz com que ela adote também outra estratégia. A intérprete decide adotar o mesmo gestual da atriz ao segurar o papel, e, na demarcação do espaço, o faz por meio de apontamento, circundando o espaço que o papel ocuparia frente ao seu corpo.

Quadro 03
descrição da Cena D
Quadro 04
descrição da Cena E

Conforme relato, durante o período de estudos, as TILS tiveram acesso a registro em vídeo e texto dramático dos espetáculos e assistiram a uma passagem de som e iluminação no mesmo dia em que o espetáculo foi realizado. Todos esses processos de estudos se tornaram fundamentais para a tomada de decisões, visto que a localização delas com relação ao palco não permitia visualizar a cena no momento em que ela aconteceu. É nesse período de estudos que o TILS consegue explorar e encontrar pistas dos elementos que constituirão os enunciados que serão produzidos durante o espetáculo teatral. Além dos estudos, é de suma importância a parceria do TILS que não atuará em cena, mas que, sentado na plateia, com visão do todo, consegue passar informações visuais dos acontecimentos da cena teatral no momento em que ela acontece.

Durante a análise do corpus percebemos diversos elementos verbo-visuais na enunciação das TILS, tais como a representação na Libras de marcas corpóreas dos personagens, o uso de apontamentos no espaço que fazem referência a objetos presentes na cena e o direcionamento dos sinais de acordo com o posicionamento do corpo dos atores.

Com isso, não esgotamos o assunto; ao contrário, partimos de uma reflexão para abrirmos novos campos de discussão.

Evidencia-se, desta forma, que a produção de linguagem constitui uma atividade altamente complexa de construção de sentidos, que se realiza não apenas com base nos elementos linguísticos selecionados e sua forma de organização, mas requer dos interlocutores a mobilização de um vasto conjunto de saberes, de ordem sociocognitiva, cultural, histórica, enfim, de todo o contexto, da forma como é altamente conceituado, bem como a sua reconstrução no momento da interação verbal (KOCH, 2012KOCH, I. Flagrantes da construção internacional dos sentidos. In: BRAIT, B.; SOUZA-E-SILVA, M. (Org.). Texto ou discurso? São Paulo: Contexto, 2012, p.129-143., p.140).

Entendemos que, dialogicamente, todo texto é heterogêneo, recheado de outros textos, insere-se numa cadeia discursiva e é lugar de interação entre sujeitos sociais que se constituem e são constituídos (KOCH, 2012KOCH, I. Flagrantes da construção internacional dos sentidos. In: BRAIT, B.; SOUZA-E-SILVA, M. (Org.). Texto ou discurso? São Paulo: Contexto, 2012, p.129-143.). Dessa forma, não podemos perder de vista que “em todos os campos da criação ideológica é possível somente um acabamento composicional do enunciado, porém, não é possível um acabamento temático autêntico dele” (MEDVIÉDEV, 2012MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica. Trad. Sheila Grillo e Ekaterina Américo. São Paulo: Editora Contexto, 2012., p.194). Portanto, quantos forem os espectadores de um espetáculo, tantos serão os temas que surgirão.

Considerações Finais

Neste artigo, nossa proposta foi a de refletir sobre a atuação de TILS em espetáculos teatrais e observar elementos verbo-visuais que estão imbricados no dizer desses intérpretes no momento em que a cena teatral acontece. A descrição e análise desse pequeno recorte de um corpus de pesquisa mais extenso não esgotam o assunto nesse estudo, porém buscam contribuir com os estudos da tradução e interpretação de línguas de sinais, estudos sobre a teatralidade e sobre a verbo-visualidade. Entendemos que descrições da prática profissional são fundamentais para reflexões e teorizações sobre a atuação de TILS que estão presentes nas mais diversas esferas da linguagem.

Fundamentados na dialogia proposta por Bakhtin e o Círculo, lançamos olhar para as enunciações que se inserem numa cadeia discursiva e ideológica e consideramos, para essa análise da interpretação em Libras, o texto produzido no espetáculo para além de uma dimensão verbal proferida pelos atores e pelos profissionais TILS, mas como um todo orgânico que se materializa no momento em que a cena teatral acontece.

Nos textos analisados, o visual e o verbal estão amalgamados, formando enunciados em constante diálogo com outros enunciados. Entendemos o profissional TILS atuando no espetáculo como um elemento verbo-visual que entra em cena e que, portanto, passa a dialogar com ela e a fazer parte do texto do espetáculo, parte da cena teatral, sendo impossível desassociá-lo de um todo que dialoga, que influencia e se deixa influenciar pelo momento da enunciação e das relações que ali acontecem.

Para finalizar, destacamos que a análise dos dados apresentados aqui reforça a importância do caráter verbo-visual de textos produzidos no teatro e o quanto essas verbo-visualidades, tão presentes na cena teatral, são material imprescindível para o ato interpretativo em Libras, especialmente porque o texto de chegada dessa interpretação é uma língua de modalidade gesto-visual, sendo assim verbo-visual em sua essência. Dito isso, a interpretação para uma língua de sinais na esfera teatral exige desses profissionais a consciência da indissolubilidade do texto verbal com o texto visual.

  • 1
    Este estudo adota o termo TILS (Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais), conforme regulamentação da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS através da Lei 12.319/2010; entretanto, abordará o ato interpretativo, ou seja, o intérprete em atividade no momento da enunciação em Libras, e não a atividade específica de tradução de textos.
  • 2
    O termo “texto dramático" será abordado aqui como o texto escrito ou roteiro de um espetáculo que geralmente é utilizado como texto base para ensaios e para referenciar os atores e intérpretes de Libras sobre como o espetáculo teatral pretende acontecer.
  • 3
    EFIMOVA, A.; MANOVICH, L. (eds) Tekstura: Russian on Essais on Visual Culture. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1993.
  • 4
    O conceito de “atuação em equipe” foi adotado com base nos estudos de Nogueira (2016)NOGUEIRA, T. Intérpretes de Libras-Português no contexto de conferência: uma descrição do trabalho em equipe e as formas de apoio na cabine. 2016. 213 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de pós-graduação em estudos da tradução. Florianópolis., que traz autores e reflexões que abordam o revezamento na produção da interpretação. A atuação em equipe inclui, como uma das características, a alternância da responsabilidade do turno da interpretação, na qual um TILS assume a função de produção da interpretação e o outro de apoio.

REFERÊNCIAS

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  • BRASIL. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e dá outras providências. Disponível em: [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm]. Acesso em: 01 mar. 2017.
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  • BRASIL. Lei 12.319 de 1 de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Disponível em: [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm]. Acesso em: 01 mar. 2017.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2018

Histórico

  • Recebido
    06 Jan 2018
  • Aceito
    11 Ago 2018
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