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Problemas da poética de Dostoiévski: a recepção brasileira

RESUMO

Este artigo dá continuidade às reflexões desenvolvidas no projeto/CNPq Discursos de resistência: tradição e ruptura, em sua vertente dedicada à recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil. As traduções, consideradas fonte indiscutível dessa recepção, são observadas a partir dos paratextos, ou mais especificamente, de seus textos-moldura, como os denominamos, que as compõem desde o final da década de 1970. A autoria desses textos-moldura ajuda a traçar um significativo panorama das faces brasileiras da perspectiva dialógica, advinda de Bakhtin e o Círculo, em seus diferentes momentos. Neste trabalho, o objetivo é focalizar as cinco edições (tradução e re-traduções) de Problemas da poética de Dostoiévski (1981, 1997, 2002, 2008 e 2010), todas feitas por Paulo Bezerra, diretamente do russo. Os textos-moldura que as acompanham, também assinados pelo tradutor, apresentam e aprofundam as qualidades do autor traduzido e de sua obra, desenhando a construção sistemática e institucional do pensamento bakhtiniano no Brasil, realizada por pesquisadores que, além da necessária escuta internacional, vão construindo um caminho com especificidades brasileiras.

PALAVRAS-CHAVE:
Problemas da poética de Dostoiévski ; Textos-moldura; Recepção brasileira; Análise Dialógica do Discurso

ABSTRACT

This article furthers reflections developed in the research project entitled, Discursos de resistência: tradição e ruptura [Discourse of Resistance: Tradition and Rupture]/CNPq, and focuses on the aspect of the project devoted to how Bakhtin and the Circle’s works have been received in Brazil. The published translations, an indisputable source of this reception, are studied through paratexts, or, more specifically, as we call them, frame-texts, included in the translated editions since the late 1970s. The authorship of these frame-texts helps to outline a clear overview of the various Brazilian articulations of the dialogical perspective, as per Bakhtin and the Circle, at different moments in time. This paper aims to focus on five editions (translations and re-translations) of Problems of Dostoevsky’s Poetics (1981, 1997, 2002, 2008 and 2010), translated from Russian into Portuguese by Paulo Bezerra. The frame-texts included in these editions, also written by the translator, present and deepen the understanding of characteristics of the author translated, and his work, tracing the systematic and institutional development of Bakhtinian thought in Brazil, carried out by researchers who, along with the necessary listening to international voices, construct a characteristically Brazilian path.

KEYWORDS:
Problems of Dostoevsky’s Poetics ; Frame-texts; Reception in Brazil; Dialogical Analysis of Discourse

Considerações iniciais

Este artigo dá continuidade às reflexões desenvolvidas no projeto/CNPq Discursos de resistência: tradição e ruptura, em sua vertente dedicada à recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil1 1 Nessa vertente do Projeto CNPq/Proc. 303643/2014-5, do qual sou coordenadora, Maria Helena Cruz Pistori atua como participante e desenvolvemos a recepção de Bakhtin e o Círculo em conjunto. , cujos primeiros resultados já começaram a ser publicados (BRAIT; PISTORI, 2020BRAIT, B.; PISTORI, M.H.C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil / Marxism and the Philosophy of Language: the Reception of Bakhtin and the Circle in Brazil. In: In: Bakhtiniana, São Paulo, 15 (2): 33-63, abril/jun. 2020. Artigo bilíngue. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/44560/31602 Acesso em 20 de abril de 2020.
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). As traduções, consideradas fonte indiscutível dessa recepção, são focalizadas a partir dos paratextos ou, mais especificamente, de seus textos-moldura, como os denominamos, que as compõem desde 1979, com a primeira tradução brasileira de Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1979BAKHTIN, M. (VOLOSHINOV). Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1979.), tendo sequência nas mais recentes traduções das obras do Círculo, caso de Bakhtin (2019)BAKHTIN, M. Sobre a pré-história do discurso romanesco. In: BAKHTIN, M. Teoria do romance III: o romance como gênero literário. Tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. Organização da edição russa de Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2019. p.11-63. e Volóchinov (2019)VOLÓCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia. Ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019..

A autoria e o conteúdo desses textos-moldura ajudam a traçar um significativo panorama das faces brasileiras da perspectiva dialógica / teoria-análise dialógica do discurso (ADD), advinda de Bakhtin e o Círculo, em seus diferentes momentos. Reconhecendo que sua característica primeira é antecipar o texto principal, envolvendo-o de forma a apresentá-lo persuasivamente ao leitor, convencendo-o de sua importância, podemos afirmar que esses textos-moldura, produzidos ao longo de mais de quatro décadas, apontam para um significativo diferencial no que diz respeito à interlocução brasileira com a pesquisa internacional.

Inicialmente, a interlocução se dava de forma muito especial com trabalhos produzidos em língua francesa. Esse é o caso da primeira tradução brasileira ou mesmo de ensaios realizados na França por estudiosos que, dominando a língua russa, tinham acesso ao pouco que se conhecia, naquele momento, da produção dos pensadores do hoje denominado Círculo. Naquele começo, tradução e textos-moldura assumem um tom que poderíamos chamar de “terceirizado”. Ou seja, uma terceira língua atravessa o contato dos leitores, dos pesquisadores brasileiros com Volóchinov (considerado um mero pseudônimo de Bakhtin...), embaralhando línguas, culturas, contextos, perspectivas epistemológicas e teóricas.

A partir da década de 1980, do ponto de vista da tradução e dos textos-moldura, a pesquisa brasileira, mais diretamente ligada a Bakhtin e aos estudos bakhtinianos, assume, por assim dizer, a primeira pessoa enunciativo-discursiva, tanto nas traduções, feitas diretamente do russo (BAKHTIN, 1981BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1981. [1963]; BAKHTIN, 1988BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética. A teoria do romance. Tradução de Aurora F. Bernardini et al. São Paulo: HUCITEC, 1988.), como em seus textos-moldura, assinados por pesquisadores brasileiros. Sem dúvida, um início fundamental para a construção de uma recepção brasileira que vai às fontes e que, na interlocução com os pesquisadores internacionais, inclui os russos, seus arquivos e suas bibliotecas.

Neste trabalho, o objetivo é focalizar as cinco edições (tradução e re-traduções) de Problemas da poética de Dostoiévski (1981, 1997, 2002, 2008 e 2010), todas feitas por Paulo Bezerra, diretamente do russo2 2 Não posso deixar de mencionar aqui o excelente artigo de Adriana Pucci (SILVA, 2001), intitulado 0,5 mm: a nova edição brasileira de Problemas da poética de Dostoiévski, em que a autora discute, com muita propriedade, as edições brasileiras de PPD, comparando-as com traduções em outras línguas e abordando, por razões diferentes das apresentadas aqui, também textos emolduradores. . Os textos-moldura que as acompanham, também assinados pelo tradutor, apresentam e aprofundam as qualidades de Mikhail Bakhtin e de sua obra, desenhando a construção sistemática e institucional do pensamento bakhtiniano no Brasil, realizada por pesquisadores que, além da necessária escuta internacional, vão construindo um caminho com especificidades brasileiras.

O que se encontrará aqui, pela via da discussão dos texto-moldura, articula-se diretamente com a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil, na busca de algumas formas encontradas, na esfera acadêmica e na esfera editorial, para enfrentar a linguagem a partir das reflexões feitas por esses pensadores russos, criadores de uma potente discursividade filosófica, linguística e artística. Discutir essa recepção significa tocar em atividades que concretizaram e continuam concretizando os estudos bakhtinianos brasileiros, envolvendo não apenas as obras de Mikhail Bakhtin como dos outros dois pensadores que proporcionaram uma visão inovadora da linguagem, caso de Valentin Volóchinov e Pavel Medviédev. Quero ressaltar que o resultado aqui apresentado, ligado ao projeto maior, objetiva assinalar constituição da identidade brasileira nos estudos bakhtinianos, realizada na alteridade entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, articulando tradição e ruptura.

Não tratarei aqui das especificidades teóricas que envolvem o conceito de textos-moldura, assim como do encaminhamento metodológico específico para a seleção e tratamento do corpus da pesquisa, uma vez que esses aspectos estão tratados em Brait e Pistori (2020)BRAIT, B.; PISTORI, M.H.C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil / Marxism and the Philosophy of Language: the Reception of Bakhtin and the Circle in Brazil. In: In: Bakhtiniana, São Paulo, 15 (2): 33-63, abril/jun. 2020. Artigo bilíngue. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/44560/31602 Acesso em 20 de abril de 2020.
https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
. Destaco apenas dois aspectos que, retomando o trabalho mencionado, ajudam o leitor a localizar-se, para além do que apresentei nos parágrafos anteriores.

Esse é o caso da concepção e da função dos textos-moldura, que se mantêm ao longo de toda a pesquisa, “considerados como elementos que, ao compor o todo inserem-se na tradição de um momento científico acadêmico internacional ou se revelam como resistência que expõe as especificidades da ciência brasileira da linguagem na atualidade (BRAIT; PISTORI, 2020, p.34BRAIT, B.; PISTORI, M.H.C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil / Marxism and the Philosophy of Language: the Reception of Bakhtin and the Circle in Brazil. In: In: Bakhtiniana, São Paulo, 15 (2): 33-63, abril/jun. 2020. Artigo bilíngue. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/44560/31602 Acesso em 20 de abril de 2020.
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).

Da mesma forma, o conceito de (re)tradução, que vem de Matos; Faleiros (2014, p.54; destaques nossos):

[...] retradução é toda reescritura de um texto-fonte, que coexiste e se relaciona com outras reescrituras desse mesmo texto-fonte, estabelecendo com elas uma rede de modos plurais de (re)lê-lo e (re)escrevê-lo, gesto que é, finalmente, uma crítica. [...] a (re)tradução [...] procura evidenciar que uma (re)tradução é um gesto de acréscimo: acréscimo de novos modos de ler e escrever aquele texto no espaço da (re)tradução.

Munidos desses elementos e dos objetivos da pesquisa como um todo, passamos às especificidades de PPD e às características de seus pertinentes textos-moldura.

1 Problemas da poética de Dostoiévski e seus textos-moldura

As cinco edições (tradução e re-traduções) de Problemas da poética de Dostoiévski (1981, 1997, 2002, 2008 e 2010) foram feitas pelo mesmo tradutor: Paulo Bezerra. Pesquisador, livre-docente em Literatura Russa pela USP (1997) e professor da Universidade Federal Fluminense/UFF e da USP, Bezerra é reconhecido pela excelência de suas atividades nos três campos em que atua e pelo papel fundamental por ele desempenhado, juntamente com Boris Schnaiderman, na existência de Dostoiévski em língua portuguesa e na construção e constituição dos estudos bakhinianos no Brasil. Em PPD, ele se empenhou na tradução feita diretamente do russo, a partir do texto-fonte M. BAKHTIN Problémi poétiki Dostoiévskovo. 3. ed. Moscou: Kbudójestvennaya Literatura, 1972, ao qual ele volta a cada nova edição, aqui considerada como (re)tradução, na medida em que ele interfere em seu próprio trabalho tradutório, não para simplesmente corrigir possíveis deslizes, mas para, a partir da releitura do original e da tradução, esclarecer, nas filigranas lexicais, por exemplo, aspectos teóricos essenciais do pensamento bakhtiniano. Todas trazem textos-moldura assinados por ele, com importantes esclarecimentos sobre as descobertas feitas a cada (re)leitura do texto fonte e as consequências para a revisão e ampliação da edição em pauta.

1.1 A primeira edição, 1981, e seu texto-moldura

A primeira edição brasileira de Problemas da poética de Dostoiévski (1981) traz um texto-moldura, genericamente denominado orelha, apresentado na dobra da primeira capa e da última, com o título Problemas da poética de Dostoiévski e assinatura do tradutor Paulo Bezerra que, naquele momento realizava seu mestrado em Letras, na PUC-Rio.

Trata-se de uma apresentação da obra e de seu autor, em princípio dirigida a estudiosos de literatura e crítica literária, mas que na verdade atinge um público leitor bem mais amplo. Refiro-me a pesquisadores que, mesmo não sendo necessariamente estudiosos da arte literária, se interessavam, profissionalmente, por maneiras singulares, inovadoras de tratar a linguagem. Nesse sentido, Bezerra chama a atenção para o fato de não se tratar de “um simples livro de crítica literária”, mas de um “livro de teses”: tese a respeito do romance polifônico, da dialogia, da carnavalização da literatura, de gêneros literários e sua transformação na obra de Dostoiévski.

Além disso, ele deixa claro que essas teses só podem ser assim concebidas graças às obras de Dostoévski, assentando-se “sobre um fundo mais amplo, de abrangência multidisciplinar, que é o problema do diálogo como fundamento do pensamento criativo e da própria criação”. Ao considerar esses elementos centrais da obra de Bakhtin, necessariamente interligados ao conjunto da obra do autor de Crime e castigo, Paulo Bezerra antecipa a possibilidade (que por vezes acontece até hoje) de leitores de PPD considerarem os conceitos/teses como se Bakhtin os tivesse concebido teoricamente e tomasse Dostoiévski apenas como exemplo, o que seria, por assim dizer, uma heresia epistemológica. Embora possam ser mobilizados para o enfrentamento da linguagem em diferentes esferas do conhecimento, esses conceitos-tese foram indiciados pela obra de Dostoiévski. Não o contrário. A partir desse alerta, acontece uma síntese precisa de todos esses conceitos/tese, aguçando o interesse do leitor e motivando-o para a leitura.

Essa orelha funciona, portanto, como o texto-emoldurador dessa primeira tradução brasileira de PPD. Pela sua força inaugural e esclarecedora e, ainda, pela sua capacidade de apontar para as principais questões tratadas em PPD, vai ser reproduzida, enquanto tal, em todas as demais edições, sem o título, mas com a assinatura do tradutor. Essa autoria, que se soma à tradução, caracteriza o que Bakhtin (2016, p.73, itálicos nossos)BAKHTIN, M. O texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. Notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. p.71-107. denomina segundo sujeito, em relação ao autor, designando o texto criado por ele como texto emoldurador: “A questão do segundo sujeito, que reproduz (para esse ou outro fim, inclusive para fins de pesquisa) o texto (do outro) e cria um texto emoldurador (que comenta, avalia, objeta, etc.)”. É precisamente o texto-moldura e seu sujeito emoldurador que interessam a esta pesquisa. Trata-se de uma articulação que expõe uma face consistente da recepção do pensamento bakhtiniano no Brasil, no início dos anos 1980. Acoplado à tradução de um dos mais importantes trabalhos de Bakhtin, realizada diretamente do russo, está esse texto-moldura, enunciado/assinado por um sujeito emoldurador, pertencente ao universo da pesquisa brasileira.

Em 1979, quando da primeira tradução de Marxismo e filosofia da linguagem, os textos-moldura tinham como assinatura, como sujeitos emolduradores, dois renomados linguistas estrangeiros3 3 Ver Brait e Pistori (2020). - Roman Jakobson e Marina Yaguello -, os quais garantiam, como autoridades reconhecidas em estudos da linguagem, a qualidade e importância da obra que estava sendo traduzida pela primeira vez no Brasil, a partir da versão francesa. Dois anos depois, é possível perceber que a recepção de mais uma obra do hoje denominado Círculo apresenta uma nova face, que pode ser pontuada por ao menos dois aspectos. Em primeiro lugar, a tradução foi feita diretamente do russo, o que significa um ganho tradutório, sem os percalços da intermediação de uma terceira língua. Em segundo, e não menos importante, a recepção brasileira se dá como duplo trabalho de um pesquisador brasileiro, estudioso de Dostoiévski e da produção bakhtiniana.

Nesse sentido, ainda que a orelha como gênero, digamos assim, possa parecer um texto modesto, apenas uma exigência editorial para despertar o leitor para o conteúdo do livro, nesse caso ela tem uma função: sinalizar para a constituição de um universo de pesquisa brasileiro, que tem como objeto a produção bakhtiniana e suas singularidades. É nesse sentido, e especialmente no contraste entre a primeira tradução de MFL (1979) e esta de PPD (1981), que esse texto-moldura funciona como um marco, sendo aqui considerado como resistência cultural, desenhando uma nova face da recepção brasileira, construída de forma intelectual e profissional.

Na sequência, veremos que essa teoria da recepção se confirma com os textos-moldura presentes nas edições seguintes.

1.2 A segunda edição (1997) e seus textos moldura

A segunda edição, Problemas da poética de Dostoiévski (1997), acontece dezesseis anos depois da primeira, explicitando, na segunda folha de rosto, que se trata de uma edição revista, tradução direta do russo, notas e prefácio de Paulo Bezerra, com a indicação da afiliação universitária do tradutor: UFF- USP. Indica ainda a mesma fonte da tradução, mas sem a data.

Damos sequência, aqui, a nosso objetivo primeiro, que é mostrar, por meio da pesquisa mais ampla e de cada tradução em particular, que a recepção de Bakhtin (e o Círculo), focalizada a partir dos textos-moldura, acontece de maneira a expor a construção sistemática e institucional do pensamento bakhtiniano no Brasil.

Em 1997, o tradutor Paulo Bezerra já havia defendido sua dissertação e suas duas teses, todas ligadas aos estudos bakhtinianos: Mestrado, Carnavalização e história em Incidente em Antares (1982); Doutorado: A gênese do romance na teoria de Mikhail Bakhtin (1989); Livre-Docência: Bobók, de Dostoiévski. Polêmica e dialogismo (1997). E atuava como professor e pesquisador em duas grandes universidades brasileiras: UFF/Universidade Federal Fluminense (desde 1992) e USP/Universidade de São Paulo (desde 1990). Anteriormente, ele atuou também em outras IES. Essa condição de professor, indicada na folha de rosto, junto ao nome do tradutor, é um índice de sua condição de pesquisador institucionalizado, cujas atividades se desenvolvem por meio de linhas de pesquisa, disciplinas, projetos, etc., centradas em temas voltados para estudos russos (língua e literatura), Bakhtin, Dostoiévski, dialogismo e polifonia no romance; literatura e vida cultural; carnaval e carnavalização na literatura; teoria da literatura, literatura brasileira e tradução.

No Prefácio à segunda edição brasileira, um alentado ensaio de 8 páginas, a condição de pesquisador-tradutor bakhtiniano de Paulo Bezerra se afirma fortemente. Ele justifica essa segunda edição como resultante de uma “cuidadosa revisão” da primeira, visando “corrigir algumas imprecisões [...]”; apresenta a razão que motivou a (re)tradução: “tornar o texto conceitualmente mais preciso [...], contribuindo para uma melhor apreensão das reflexões teóricas de Bakhtin pelo leitor brasileiro” (1997, p.V, itálicos nossos) e apresenta uma síntese da reflexão teórica de Bakhtin e a necessidade de um tradutor à altura:

Uma reflexão teórica com o nível de profundidade e abrangência e construída com o rigor formal como o faz Bakhtin tem de encontrar no tradutor a consciência e a responsabilidade de produzir em sua língua um texto calcado numa linguagem qualitativamente à altura do objeto traduzido. É o mínimo que se exige de um tradutor, e foi essa a nossa preocupação ao rever o texto inicial deste livro, após duas décadas de estudos permanente da obra bakhtiniana e quinze anos após sua primeira edição (BEZERRA, 1997, p.V; destaques nossosBEZERRA, P. Prefácio à segunda edição brasileira. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p.V-XII.).

Bezerra nos informa, em seguida, que, no tempo que separa a primeira edição desta segunda, o texto-fonte russo foi restaurado em sua íntegra, tendo como consequência tradutória a necessária substituição de termos, visando o rigor teórico, bem como de alguns títulos de capítulos. Dá como exemplo, dentre outros, o conceito designado gênero cômico-sério, substituído por sério-cômico, com base na teoria do carnaval e da carnavalização de Bakhtin. Esse aspecto é muito importante no que se refere às modificações que não significam uma revisão textual, pura e simplesmente, mas, de um lado, o contato com o texto fonte restaurado, o que demonstra a contínua atuação do pesquisador/tradutor, e de outro, a teoria bakhtiniana tomada como parâmetro para as mudanças. Sem dúvida, uma forma de demonstrar nossa hipótese: o texto-moldura indicia o estágio da construção dos estudos bakhtinianos no Brasil, como reitera a sequência do prefácio.

No item Uma teoria revolucionária, que ocupa o restante do ensaio, Bezerra inicialmente situa o estado da arte dos estudos bakhtinianos brasileiros no momento dessa segunda edição, afirmando a consagração do nome de Bakhtin nos meios universitários, incluindo traduções, vários livros de estudos, dissertações e teses, justificadas pela afirmação de que “Bakhtin é hoje estudado em praticamente todos os cursos de pós-graduação em literatura brasileira, teoria da literatura e linguística, o que torna seus livros bibliografia obrigatória na nossa vida acadêmica” (BEZERRA, 1997, p.VIIBEZERRA, P. Prefácio à segunda edição brasileira. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p.V-XII.). Afirma que os estudos bakhtinianos foram ampliados para além dos domínios da literatura, alcançando a linguística, a antropologia, a filosofia e a história, dando como exemplo dessa realidade o Colóquio Cem Anos de Bakhtin (1995)4 4 O Colóquio Internacional – Dialogismo: Cem Anos de Bakhtin foi realizado de 16 a 18/ 11 de 1995, no Centro Universitário Maria Antonia/ USP, como atividade prevista pelo Projeto Construção do Sentido e Aquisição das Línguas/ Acordo Internacional CAPES/COFECUB/USP/Université de Paris X/Nanterre, organizado por mim que, naquele momento, era chefe do Departamento de Linguística e coordenadora do Acordo. Como evento do Departamento de Linguística e do Programa de Pós-Graduação em Semiótica e Linguística Geral, da FFLCH, há exatos 25 anos, com apoio FAPESP, CNPq, CAPES, COFECUB, foi realizado o primeiro grande colóquio internacional, com pesquisadores nacionais de várias universidades brasileiras e estrangeiras, os quais participaram de 9 mesas-redondas. O evento teve como abertura a conferência Bakhtin 40 graus (Uma experiência brasileira), proferida por Bóris Schnaiderman, homenageado no Colóquio. Um dos resultados foi o livro BRAIT, B. (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997. [2. ed. 2013, 6. reimp. 2020] . Compõem ainda esse panorama, a referência aos artigos de Bóris Schnaiderman e seu aprofundamento na obra bakhtiniana, assim como as contribuições dele mesmo, Paulo Bezerra, para a ampliação dos estudos bakhtinianos: traduzir PPD pela primeira vez no Brasil e diretamente do russo; defender uma dissertação e duas teses acadêmicas ligadas a essa vertente do conhecimento; produzir estudos comparativos Dostoiévski e Machado na chave da polifonia; além de vários cursos ministrados e artigos publicados. Portanto, ele assume e destaca essa condição de pesquisador/tradutor/professor que “vem estudando de forma sistemática o acervo teórico bakhtiniano” (BEZERRA, 1997, p.VIIBEZERRA, P. Prefácio à segunda edição brasileira. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p.V-XII.).

Como continuidade, o prefaciador realiza uma avaliação de PPD, começando pelo fato de a obra revelar “um autor que se caracteriza pelo mais absoluto destemor teórico”, especialmente no que diz respeito à “maneira ousada e inusitada com que Bakhtin discute a função do autor na obra dostoievskiana”, desconcertando “o leitor de formação teórica mais ou menos tradicional pela absoluta novidade que ele traz ao relativizar, até certo ponto, a posição do autor no romance polifônico criado por Dostoiévski” (BEZERRA, 1997, p.VIIBEZERRA, P. Prefácio à segunda edição brasileira. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p.V-XII.).

A partir dessas afirmações, que informam avaliativamente e aguçam o interesse do leitor, Bezerra dá uma verdadeira aula teórica sobre a reflexão bakhtiniana, ainda muito atual, que parte da hipótese de que “as personagens de Dostoiévski revelam uma notória independência interior em relação ao autor na estrutura do romance”. Por meio de uma “leitura” competente, de autoridade no assunto, toca nos pontos fundamentais da argumentação bakhtiniana para afirmar que Bakhtin “admite liberdade e independência das personagens em relação ao autor na obra dostoievskiana, mas deixa claro que, sendo dialógica a totalidade do romance dostoievskiano, o autor também participa do diálogo, mas é ao mesmo tempo seu organizador” (BEZERRA, 1997, p.VIIIBEZERRA, P. Prefácio à segunda edição brasileira. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p.V-XII.). Menciona o texto Para uma reelaboração de PPD, de 1963, sinalizando, a partir daí, a visão filosófica de Bakhtin e o fato de o homem-personagem ser produto de discurso, considerando que, “no universo polifônico, tanto o discurso do herói, quanto o discurso sobre o herói derivam do tratamento dialógico, ou seja, “[...] o autor participa do diálogo, em isonomia com as personagens, mas exerce funções complementares e muito complexas”. Reitera e aprofunda a ideia de que Bakhtin desenvolve o tema do autor como um fenômeno estético. Refere-se ao texto O autor e o herói na atividade estética, escrito por volta de 1924, comparando o tratamento do tema autor-personagem em ambas: PPD (1929), segundo ele, apresenta um tratamento mais conceitual e mais preciso, constituindo-se na “chave para a compreensão da teoria bakhtiniana” (BEZERRA, 1997, p.XBEZERRA, P. Prefácio à segunda edição brasileira. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p.V-XII.). Ressalta, ainda, que é em O autor e o herói na atividade estética que se encontra a afirmação fundamental para a ideia de autor em Bakhtin: “O autor-criador nos ajuda a entender também o autor-homem [...]. Como se vê, existe uma relação direta entre a criação artística e o ser humano enquanto essência criadora [...]” (BEZERRA, 1997, p.XIBEZERRA, P. Prefácio à segunda edição brasileira. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p.V-XII.).

Esse resumo radical de pontos essenciais do Prefácio à segunda edição brasileira permite afirmar que esse texto-moldura, ao antecipar a leitura da tradução, apresenta elementos essenciais à compreensão do texto bakhtiniano, além dos que constavam (e continuam constando) da mesma orelha nas duas edições. Se nesse sentido ele pode ser considerado fundamental para aquele final dos anos 1990, possibilitando um mergulho de fôlego em PPD e seu autor, sua pertinência ressoa até hoje nas pesquisas ligadas ao conhecimento do pensamento bakhtiniano. Ao incluir outros trabalhos referentes às incursões filosófico-artístico-literárias do autor de PPD pela teoria do romance, constitutivamente relacionadas às teses aí defendidas, o tradutor-prefaciador aprofunda aspectos fundamentais para a compreensão, por exemplo, da concepção bakhtiniana de autor e personagem, autor-personagem, universo polifônico. Temas complexos e em constante ebulição nos estudos do discurso, da linguagem literária de forma geral.

Mas se um olho se volta para o diferencial epistemológico, revolucionário, representado pelo conjunto da obra de Mikhail Bakhtin, o outro mapeia a ampla e diversificada recepção brasileira do pensador russo, naquele momento, incluindo, de forma crítica e irônica, a que lia o autor de PPD como pós-moderno e acreditava na concepção em voga (e até hoje discutida) de morte do autor. Essa dimensão do texto-moldura é essencial para o conhecimento historiográfico, por assim dizer, dos modos como Bakhtin (e o Círculo, em geral, poderíamos acrescentar) vinha sendo mobilizado no Brasil. Nesse caso, o prefaciador-tradutor-pesquisador-professor, que faz parte da recepção, mobilizando-a de várias maneiras, apresenta seu ponto de vista, demonstrando a diversidade e, num certo sentido, a impertinência, segundo ele, de certas leituras.

Aqui podemos reiterar a concepção bakhtiniana de contexto emoldurador, mobilizada em outro artigo sobre a recepção de Bakhtin no Brasil5 5 Ver: Brait; Pistori (2020, p.34). , definido como a “complexa inter-relação do texto (objeto de estudo e reflexão) e do contexto emoldurador a ser criado (que interroga, faz objeções, etc.), no qual se realiza o pensamento cognoscente e valorativo do cientista” (2016, p.76; grifos nossos). Como essa reflexão argumentativa antecipa o texto traduzido, fica explícita uma das funções inerentes ao texto-moldura: preparar o leitor, emoldurar sua leitura, antecipar aspectos que poderiam não ser de seu conhecimento em relação ao texto que ele vai enfrentar. Sendo a autoria do texto-moldura uma autoridade no assunto, a leitura, inevitavelmente, será feita, levando em conta, para aceitar ou não, a advertência contida em meio às informações. Isso significa reiterar que o enunciado concreto, no sentido bakhtiniano, deve ser entendido como a articulação indissociável entre textos-molduras e tradução.

Para finalizar as considerações sobre esse texto-moldura e o papel fundamental representado por Paulo Bezerra enquanto segundo sujeito, sujeito-emoldurador configurado no conjunto tradução+textos-moldura, há mais um elemento que caracteriza aquele contexto de recepção, contexto emoldurador, segundo Bakhtin. Trata-se da ausência de uma distinção clara, do ponto de vista dos títulos entre Problemy tvorčestva Dostoevskogo [Problemas da obra de Dostoiévski]/1929 e Problémi poétiki Dostoiévskovo/ Problemas da poética de Dostoiévski/1963.). A data da primeira edição (1929) russa está presente no prefácio, como não poderia deixar de ser, mas sempre como PPD. Há, entretanto, elementos que sugerem a existência das duas edições, como a referência aos textos Para uma reelaboração de Problemas da poética de Dostoiévski, adendo 1 (À guisa de comentário) e 2 (sem título) que aparecerão na 4. edição de Estética da criação verbal (2003, p.337-357), e na 4. e 5. edições de PPD (2008, p.311-317; 318-338; 2010, p.311-317; 318-338).

Se compararmos o sumário de Problemy tvorčestva Dostoevskogo (Leningrad: Priboj, 1929) [aqui acessado pela tradução italiana - BACHTIN, Michail M. (2010BACHTIN, M. M. Problemi dell’opera di Dostoevskij. Tradução de Margherita de Michiel. Bari: Edizioni dal Sud, 2010. [1929]/. 1929), veremos que, dentre outras diferenças, inclui-se, na edição de 1963, Algumas observações metodológicas, texto fundamental para a concepção do que Bezerra assinala no Prefácio à segunda edição: “Cabe observar ainda que no livro sobre Dostoiévski, a metalinguística já se esboça como método de análise e hipótese de uma futura síntese da filologia com a filosofia que Bakhtin imaginava como disciplina humana nova e específica capaz de reunir em contiguidade a linguística, a filosofia, a antropologia e a teoria da literatura” (BEZERRA, 1997, p.XBEZERRA, P. Prefácio à segunda edição brasileira. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p.V-XII.). Isso significa que a edição trabalhada é mesmo a de 1963, embora esteja registrada, também, a de 1929.

Essa segunda edição apresenta, na quarta capa, mais um texto-moldura. Sem assinatura, composto por três parágrafos, o texto destaca a condição de Dostoiévski como um dos maiores romancistas de todos os tempos e a originalidade da análise feita por Bakhtin em PPD e se repetirá nas duas edições seguintes. Nesse caso, claramente um texto-moldura editorial e não autoral, sem muitas consequências para a reflexão aqui desenvolvida.

A terceira edição, publicada cinco anos depois, Problemas da poética de Dostoiévski (2002), reproduz os mesmos textos-moldura da segunda: Orelha, Prefácio à segunda edição brasileira e Quarta capa. Trata-se, exceção feita à capa que é bem diferente das anteriores (conforme reprodução acima), de uma reimpressão. Passaremos, portanto, aos textos moldura da edição seguinte.

A quarta edição brasileira de Problemas da poética de Dostoiévski (2008) acontece seis anos depois da terceira, explicitando, na segunda folha de rosto, que se trata de uma 4. edição revista e ampliada, tradução direta do russo, notas e prefácio de Paulo Bezerra, com a indicação de sua afiliação universitária: UFF- USP.

O Prefácio, intitulado Uma obra à prova de seu tempo, assinado por Bezerra, é mais um consistente texto-moldura, o qual, ao longo de 18 páginas, reafirma a autoridade do tradutor-pesquisador-professor-ensaísta, motivando e antecipando aspectos fundamentais do texto que o leitor terá pela frente. Ele explica, na primeira parte, que essa edição antecipa em um ano a comemoração dos 80 anos PPD [Problemas da obra de Dostoiévski], sugerindo sua vitalidade como o motivo principal da duração no tempo, assim como sua “capacidade de ampliar-se na recepção” (BEZERRA, 2008, p.VBEZERRA, P. Uma obra à prova de seu tempo. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 4. ed. revista e ampliada. Tradução, notas e prefácio de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2008. p.V-XXII.). Em seguida, passa às características dessa (re)tradução. Refere-se à condição de PPD como obra consagrada no Brasil e no exterior; explica as razões da cuidadosa revisão, o que inclui tanto as traduções diretas das citações de romances de Dostoiévski, justificadas pelos problemas das edições existentes em português, como o cuidado com aspectos teórico-conceituais: “[...] além de recriar o espírito da obra na linguagem mais próxima possível do original, a tradução direta permite uma compreensão muitíssimo mais ampla e profunda das peculiaridades da teoria bakhtiniana [...]” e “das propriedades do discurso dostoiévskiano” (BEZERRA, 2008, p.VI; itálicos nossosBEZERRA, P. Uma obra à prova de seu tempo. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 4. ed. revista e ampliada. Tradução, notas e prefácio de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2008. p.V-XXII.).

Esclarece, ainda, que essa “edição vem ‘encorpada’ com dois textos essenciais: dois escritos de Bakhtin (1961) a respeito de PPD”, intitulados “PPD. À guisa de comentário” e “Esboços de reformulação de PPD”, que estavam inseridos em Estética da criação verbal, onde constituíam corpo estranho. Nas palavras de Bezerra, trazidos para PPD, esses textos ampliam e tornam mais precisos os conceitos de dialogismo, monologismo, polifonia; relação autor/personagens; relação eu-outro, inacabamento, dentre outros.

Portanto, mais uma vez, é importante ressaltar que a revisão empreendida nas edições não implica somente sutilezas estilístico-tradutórias, o que por si já as justificaria, mas rigor em relação não apenas a Dostoiévski, mas especialmente à perspectiva bakhtiniana, suas nuances, suas especificidades e, consequentemente, o tratamento necessário para o conhecimento de seus construtos mais significativos e inovadores. Essa dimensão teórica abrange, ainda, a inclusão dos anexos, que ajudam a entender as ideias e os movimentos de reformulação do texto de 1929, facilitando, por assim, os caminhos da leitura bakhtiniana, colocada em perspectiva. É, sem dúvida, uma demonstração da nova fase em que a construção dos estudos bakhtinianos se encontrava.

O item seguinte, intitulado Uma revolução na poética do romance, apresenta e discute a pertinente ideia de que PPD “[...] representa uma autêntica revolução na teoria do romance como gênero específico e produto de uma poética histórica” [BEZERRA, 2008, p.VIIBEZERRA, P. Uma obra à prova de seu tempo. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 4. ed. revista e ampliada. Tradução, notas e prefácio de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2008. p.V-XXII.), que tem continuidade em outros importantes textos presentes em Questões de literatura e de estética. A teoria do romance (1988). Além de explicitar esse aspecto em profundidade, Bezerra destaca a valorização e a potência dos elementos carnavalescos do gênero sério-cômico, importante até mesmo para a compreensão de obras de grandes escritores brasileiros, caso de Machado de Assis, Érico Veríssimo, Mário de Andrade, dentre outros.

Em seguida, o item Dialogismo e polifonia retoma, com muito fôlego e precisão, a maneira como Bakhtin discute a função do autor na obra dostoievskiana, questão já abordada no Prefácio à segunda edição brasileira (1997), agora remobilizando a complexa relação autor-personagens, sempre de interesse dos pesquisadores do discurso artístico ou não. Destaco aqui uma afirmativa que, a meu ver, sintetiza e evita muitas confusões em torno do tema e especialmente do papel autor no gênero romance polifônico:

[...] o diálogo do autor com o herói é, no romance polifônico de Dostoiévski, um procedimento de construção das personagens e, ao mesmo tempo, a afirmação da presença não ostensiva, porém eficaz, do autor nesse processo. Sem ferir jamais a integridade da personagem, como constituinte do arranjo polifônico, o procedimento polifônico de Dostoiévski tampouco apaga ou neutraliza a presença do autor e sua concepção ativa no conjunto romanesco, conseguindo, ao contrário, criar condição efetivamente nova e original de materialização dessa presença e dessa concepção na estrutura do diálogo polifônico (BEZERRA, 2008, p.XIIBEZERRA, P. Uma obra à prova de seu tempo. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 4. ed. revista e ampliada. Tradução, notas e prefácio de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2008. p.V-XXII.).

O item seguinte, cujo curioso título é A Bakhtin o que é de Bakhtin, está centrado em um panorama, por assim dizer, da recepção da obra de Bakhtin, no Brasil e no exterior. Bezerra situa as primeiras contribuições para o conhecimento de Bakhtin no Brasil e, dentre vários nomes, destaca a reflexão sobre literatura e cultura, de Bóris Schnaiderman e José Guilherme Merquior. Também menciona os pesquisadores brasileiros que incorporaram o pensamento bakhtiniano aos estudos linguísticos. Em seguida, dedica um longo trecho (quase 10 páginas) à leitura pioneira que Julia Kristeva fez de Bakhtin, detalhando e respondendo a essa recepção, que ele considera deturpada, demonstrando, por meio de uma forte e demolidora argumentação, pautada especialmente na “concepção de dialogismo como intertextualidade” e no fato de Kristeva afirmar que a linguística estrutural e a psicanálise “foram o fundamento profundo do pensamento bakhtiniano”. Considerando a forte recepção de Kristeva no Brasil, ele localiza seus seguidores, demonstrando, de forma dura, que eles leram Bakhtin via Kristeva, ou seja, que não leram Bakhtin. Por incrível que pareça, esse acesso atabalhoado a Bakhtin continua a acontecer até hoje, especialmente quando pesquisadores neófitos juntam intertextualidade e dialogismo, como se fossem a mesma coisa. Portanto, a crítica é pertinente, uma vez que intertextualidade é um conceito que não está em nenhuma obra de Bakhtin (nem de outros pensadores do Círculo) e que vem da reflexão de Kristeva. Portanto, parafraseando Bezerra, a Kristeva o que é de Kristeva!

A quinta edição brasileira de Problemas da poética de Dostoiévski (2010), embora revista, traz os mesmos textos-moldura que compõem a quarta edição. Por esse motivo, mesmo havendo pequenas alterações nos textos, ela foge dos objetivos da pesquisa maior e deste artigo em particular.

Algumas rápidas considerações finais

Os textos-moldura que acompanham a tradução e retraduções de Problemas da poética de Dostoiévski formam um conjunto privilegiado para a confirmação das hipóteses que motivaram este trabalho. De um lado, a ideia, já exposta no trabalho sobre a recepção de MFL (BRAIT; PISTORI, 2020BRAIT, B.; PISTORI, M.H.C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil / Marxism and the Philosophy of Language: the Reception of Bakhtin and the Circle in Brazil. In: In: Bakhtiniana, São Paulo, 15 (2): 33-63, abril/jun. 2020. Artigo bilíngue. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/44560/31602 Acesso em 20 de abril de 2020.
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), a partir de (MATOS; FALEIROS, 2014, p.54), de que as (re)traduções de uma obra constituem o acesso ao conhecimento produzido em uma língua-fonte, em dado espaço-tempo, instaurando sua existência, pela língua de chegada, em um novo espaço-tempo, em outra cultura, incorporando-a a novos sistemas de produção, circulação e recepção de saberes. A (re)tradução, como afirmado anteriormente, é um gesto de acréscimo: acréscimo de novos modos de ler e escrever aquele texto no espaço da (re)tradução. Por outro, e concomitantemente, assim como a (re) tradução, os textos que a emolduram, umbilicalmente ligados a ela, tem o objetivo, a necessidade de se antecipar à leitura e conduzir o leitor para esse novo modo de ler comentando, avaliando, interagindo diretamente com a recepção; explicitando as qualidades e a originalidade teórica ou literária de uma obra, ou de um autor e, também, a urgência cronotópica, por assim dizer, e resumir bakhtinianamente as questões de tempo e de espaço que envolvem traduzir e (re)traduzir.

Os textos-moldura das traduções brasileiras de PPD, exceto a quarta capa, foram escritos por Paulo Bezerra, professor, pesquisador, tradutor, especialista em Dostoiévski e Bakhtin, dentre outros pensadores russos, teórico da literatura e um dos concretizadores dos estudos bakhtinianos no Brasil. Essa especialização institucionalizada, tanto no campo acadêmico como editorial, expõe sua proximidade e familiaridade com as fontes primárias, assim como a participação ativa na produção de uma perspectiva bakhtiniana brasileira, tanto pela via da (re)tradução, como pelos estudos teóricos aprofundados e pela explícita e atenta consciência em relação às formas de nossa recepção do pensamento bakhtiniano. O conjunto dos textos-moldura de PPD constroem a imagem desse segundo sujeito, no sentido bakhtiniano, como já mencionado anteriormente, instalando-o ativamente em ao menos três esferas articuladas: o (re)tradutório, o teórico, uma vez que grandes espaços desses textos molduras são dedicados a temas fundamentais desenvolvidos por Bakhtin em PPD, e o avaliativo da recepção da obra no Brasil e no exterior.

A comprovação de que os textos-moldura constroem e espelham tradição e ruptura no que diz respeito aos estudos bakhtinianos no Brasil pode ser demonstrada pela significativa diferença existente entre a tradução de MFL, de 1979 e a de PPD, de 1981. Se a primeira de MFL foi realizada a partir do francês, com textos-moldura (prefácio e a apresentação) de dois renomados linguistas estrangeiros, conforme já apontado e desenvolvido em outro artigo (Ver Brait e Pistori, 2020BRAIT, B.; PISTORI, M.H.C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil / Marxism and the Philosophy of Language: the Reception of Bakhtin and the Circle in Brazil. In: In: Bakhtiniana, São Paulo, 15 (2): 33-63, abril/jun. 2020. Artigo bilíngue. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/44560/31602 Acesso em 20 de abril de 2020.
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), a tradução de PPD, feita diretamente do russo, publicada apenas dois anos depois, 1981, expõe, por meio de seus textos-moldura, um amadurecimento da recepção dos estudos bakhtinianos no Brasil.

As traduções brasileiras de Problemas da poética de Dostoiévski, desde sua primeira edição, demonstram a condição de especialista em estudos bakhtinianos e em literatura russa de seu tradutor, autor de todos os textos-moldura. Esse segundo sujeito autoral se enuncia desde a orelha da primeira edição, por meio da dialógica relação existente entre os textos-moldura, que constroem a imagem de um pesquisador-tradutor, estudioso sistemático do acervo teórico bakhtiniano, e a tradução a qual emolduram, revelando o posicionamento crítico em relação a diferentes fases e diferentes grupos representantes da recepção de Bakhtin no Brasil, ao longo de algumas décadas.

Termino aqui as minhas considerações sobre os textos-moldura de PPD, sabendo que esse estudo terá de ser complementado assim que a tradução brasileira de Problemas da obra de Dostoiévski for lançada por Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Certamente, como aconteceu com a segunda tradução de Marxismo e filosofia da linguagem (2017), feita diretamente do russo, os textos-moldura demonstrarão a vitalidade dos estudos bakhtinianos no Brasil, pela via de uma nova geração de tradutoras-pesquisadoras-professoras, que assumem e expõem sua natureza de segundo sujeito em relação ao texto traduzido.

Agradecimento

Agradeço ao CNPq o auxílio ao projeto de pesquisa Discursos de resistência: tradição e ruptura (2019-2024), do qual este artigo é um dos resultados.

Notes

  • 1
    Nessa vertente do Projeto CNPq/Proc. 303643/2014-5, do qual sou coordenadora, Maria Helena Cruz Pistori atua como participante e desenvolvemos a recepção de Bakhtin e o Círculo em conjunto.
  • 2
    Não posso deixar de mencionar aqui o excelente artigo de Adriana Pucci (SILVA, 2001SILVA, A. P. P. Faria e. O, 5 mm: a nova edição brasileira de Problemas da poética de Dostoiévski/0.5 mm: The New Brazilian Edition of Problems of Dostoevsky’s Poetics. Bakhtiniana, São Paulo, 6 (1): 7-23, Ago./Dez. 2011. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/6422/5525 Acesso em 20 de abril de 2020.
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    ), intitulado 0,5 mm: a nova edição brasileira de Problemas da poética de Dostoiévski, em que a autora discute, com muita propriedade, as edições brasileiras de PPD, comparando-as com traduções em outras línguas e abordando, por razões diferentes das apresentadas aqui, também textos emolduradores.
  • 3
    Ver Brait e Pistori (2020)BRAIT, B.; PISTORI, M.H.C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil / Marxism and the Philosophy of Language: the Reception of Bakhtin and the Circle in Brazil. In: In: Bakhtiniana, São Paulo, 15 (2): 33-63, abril/jun. 2020. Artigo bilíngue. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/44560/31602 Acesso em 20 de abril de 2020.
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    .
  • 4
    O Colóquio Internacional – Dialogismo: Cem Anos de Bakhtin foi realizado de 16 a 18/ 11 de 1995, no Centro Universitário Maria Antonia/ USP, como atividade prevista pelo Projeto Construção do Sentido e Aquisição das Línguas/ Acordo Internacional CAPES/COFECUB/USP/Université de Paris X/Nanterre, organizado por mim que, naquele momento, era chefe do Departamento de Linguística e coordenadora do Acordo. Como evento do Departamento de Linguística e do Programa de Pós-Graduação em Semiótica e Linguística Geral, da FFLCH, há exatos 25 anos, com apoio FAPESP, CNPq, CAPES, COFECUB, foi realizado o primeiro grande colóquio internacional, com pesquisadores nacionais de várias universidades brasileiras e estrangeiras, os quais participaram de 9 mesas-redondas. O evento teve como abertura a conferência Bakhtin 40 graus (Uma experiência brasileira), proferida por Bóris Schnaiderman, homenageado no Colóquio. Um dos resultados foi o livro BRAIT, B. (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997. [2. ed. 2013, 6. reimp. 2020]
  • 5
    Ver: Brait; Pistori (2020, p.34)BRAIT, B.; PISTORI, M.H.C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil / Marxism and the Philosophy of Language: the Reception of Bakhtin and the Circle in Brazil. In: In: Bakhtiniana, São Paulo, 15 (2): 33-63, abril/jun. 2020. Artigo bilíngue. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/44560/31602 Acesso em 20 de abril de 2020.
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    .

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    29 Maio 2020
  • Aceito
    06 Dez 2020
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