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Expectativas com a carreira docente: escolha e inserção profissional de estudantes de Pedagogia

Expectations about the teaching career: professional choice and integration of students of Pedagogy

Resumo:

Estudos dos processos de inserção profissional têm recebido um incremento nos últimos anos do século 21, favorecendo a aparição de um importante corpo teórico e investigador ao redor desse constructo. Universidades, pesquisadores, educadores e orientadores profissionais vêm acumulando experiências e uma vasta produção acerca do tema engendrado por inquietações e pela busca de alternativas para o tratamento da inserção socioprofissional. O artigo analisa as expectativas dos acadêmicos de um curso de licenciatura em Pedagogia, de uma universidade comunitária no sul do País, quanto à escolha profissional e à inserção no mercado de trabalho. Apresenta uma pesquisa de abordagem qualitativa, e como instrumento de coleta dos dados apoiou-se em um questionário semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas, aplicado a um grupo representativo de formandos do curso de Pedagogia. Os dados foram tratados por meio da análise de conteúdo. Os resultados evidenciaram o reconhecimento da escolha profissional dos acadêmicos, identificando suas expectativas positivas quanto à inserção no mercado de trabalho na respectiva área. Algumas informações revelaram pontos negativos em relação ao pouco reconhecimento social da carreira e à baixa remuneração. Nesse sentido, a análise considera uma teia de relações vivenciadas pelos formandos durante esse percurso.

Palavras-chave:
escolha profissional; inserção profissional; carreira docente; mercado de trabalho.

Abstract:

Studies on professional integration processes have increased in the last years of the 21st century, favoring the appearance of an important theoretical and investigating body around this construct. Universities, researchers, educators and professional counselors have accumulated experiences and a vast production on the subject outlined by concerns and the search for alternatives for the treatment of social and professional integration. This article analyses the expectations of academicians of a Pedagogy degree, from a community college in the South of the country, regarding their professional choices and integration into the labor market. It presents a qualitative research which uses as instrument for the data collection a semi-structured questionnaire, with open and closed questions, applied to a representative group of trainees from the Pedagogy course. The data handling was developed by means of the analysis of content. The survey results showed the recognition of the professional academic choice, identifying their positive expectations regarding the insertion into the labor market in their area. Some information revealed negative points regarding the career low social recognition and low payment. In this sense, the analysis considers a networking experienced by students during this course.

Keywords:
professional choice; professional integration; teaching career; labor market.

Introdução

No cenário educacional contemporâneo brasileiro, os temas escolha e inserção profissional apresentam-se como emergentes, envolvendo um conjunto de fatores contextuais e pessoais que influenciam a transição acadêmica e laboral dos estudantes universitários. Essa temática apresenta-se em dois momentos distintos: o primeiro com a escolha profissional e o segundo com a conclusão do curso superior e a passagem da universidade ao mercado de trabalho.

Assim, esta investigação objetivou analisar as expectativas dos acadêmicos de um curso de licenciatura em Pedagogia, de uma universidade comunitária, no sul do País, quanto à escolha profissional e à inserção no mercado de trabalho. O estudo apoiou-se na abordagem qualitativa, tendo como instrumento um questionário semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas. A análise de conteúdo contribuiu para a categorização e o exame das informações trazidas nos resultados da investigação.

Os estudantes universitários sentem-se inseguros diante do início da atividade profissional, especialmente aqueles que estão se formando. Neste sentido, os fatores contextuais, além dos de ordem pessoal, como autoestima, motivação, iniciativa e criatividade, também influenciam a transição acadêmica e laboral, bem como os aspectos do contexto político e econômico da conjuntura atual e o aspecto social configurado na valorização da profissão.

Os momentos que antecedem o término de um curso universitário e o da inserção no mercado de trabalho sempre são motivos para o aparecimento de preocupações relativas à escolha, constituindo-se em ocasiões relevantes para a problemática de pesquisa. Portanto, o presente estudo contribui para a aproximação entre universidade e mercado de trabalho, ao mesmo tempo que colabora para trazer elementos de compreensão do processo de transição e inserção na vida profissional de alunos universitários. Fornece, ainda, entendimento aos estudantes no tocante à identificação das características da profissão, à entrada na carreira docente e à constituição de uma identidade profissional comprometida com as ações pedagógicas.

Escolha e inserção profissional

A escolha profissional se apresenta como um desafio ao sujeito antes de ingressar na universidade, influenciado por fatores familiares e sociais. A escolha do curso de graduação é impactada pela conjuntura econômica e política do período, pelas expectativas em relação à carreira e pela aproximação com a prática profissional. Para Popkewitz (1997POPKEWITZ, T. S. Profissionalização e formação de professores: algumas notas sobre a sua história, ideologia e potencial. Lisboa: Dom Quixote, 1997.), a profissão faz parte de um processo de construção social diretamente ligado ao cenário institucional e às condições sociais a que a pessoa está submetida, caracterizando os aspectos individuais.

Os aspectos individuais se configuram na origem da família, na representação do trabalho, nas experiências e nas expectativas profissionais conforme aponta Silva (2004SILVA, J. S. A influência dos meios de comunicação social na problemática da escolha profissional: o que isso suscita à psicologia no campo da orientação vocacional/profissional? Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 4, p. 60-67, dez. 2004. ). Ao abordar a categoria institucional que faz parte do contexto sócio-histórico, é possível considerar as regulamentações estatais, as políticas públicas, a gestão de recursos humanos, a organização profissional da categoria, os agentes institucionais e, por fim, a instituição de ensino.

Ao resgatar o conceito de escolha profissional, Silva (2004SILVA, J. S. A influência dos meios de comunicação social na problemática da escolha profissional: o que isso suscita à psicologia no campo da orientação vocacional/profissional? Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 4, p. 60-67, dez. 2004. ) o apresenta como a identidade profissional com base no desdobramento da própria identidade, constituído mediante o movimento dialético, com seu mundo. Bardagi et al. (2006BARDAGI, M.; LASSANCE, M. C. P.; PARADISO, A. C.; MENEZES, I. A. Escolha profissional e inserção no mercado de trabalho: percepções de estudantes formandos. Psicologia Escolar Educacional, Campinas, v. 10, n. 1, p. 69-82, jan./jun. 2006. ) definem a escolha profissional como o estabelecimento pelo sujeito do que fazer, de quem quer ser e do lugar no mundo a que pretende pertencer por intermédio do trabalho. Considera-se que a escolha profissional envolve elementos como mudanças, perdas, medo do fracasso e da desvalorização, de modo a requerer novos significados e reavaliações.

Nesse sentido, a escolha profissional, por meio das influências intrínseca e extrínseca, é considerada um momento de transição, processo que produz implicações na identidade profissional, nas dimensões culturais, nos saberes e em outros aspectos - sociais, políticos e referentes ao espaço de atuação profissional. Diretamente ligado ao tema da escolha está o conceito de inserção profissional, que é marcado pelos mesmos impactos do conjunto histórico, social e político. A inserção profissional não deixa de caracterizar um momento de transição ao término do curso escolhido para colocação em prática do que foi aprendido.

Nessa perspectiva, a inserção profissional é compreendida como construção social marcada por elementos do contexto sócio-histórico, da identidade dos sujeitos e dos aspectos institucionais que caracterizam o ingresso do estudante no mercado de trabalho. O contexto sócio-histórico envolve “as estruturas demográficas e a ocupacional, aspectos econômicos, o nível de formação e o desenvolvimento tecnológico e industrial” (Rocha-de-Oliveira, 2012ROCHA-DE-OLIVEIRA, S. Inserção profissional: perspectivas teóricas e agenda de pesquisa. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 124-135, jan./mar. 2012. , p. 70). Bardagi et al. (2006BARDAGI, M.; LASSANCE, M. C. P.; PARADISO, A. C.; MENEZES, I. A. Escolha profissional e inserção no mercado de trabalho: percepções de estudantes formandos. Psicologia Escolar Educacional, Campinas, v. 10, n. 1, p. 69-82, jan./jun. 2006. , p. 70) apontam que “do indivíduo resulta a percepção de que o trabalho é uma expressão do seu autoconceito, ou seja, de que é possível, através do exercício profissional, expressar os próprios valores, interesses e características de personalidade”.

Ainda quanto à definição de inserção profissional, Cordeiro (2002CORDEIRO, J. P. Modalidades de inserção profissional dos quadros superiores nas empresas. Sociologia, Problemas e Práticas, Lisboa, n. 38, p. 79-98, maio 2002. ) diz que se pode realizar uma abordagem que não se restrinja à entrada ao mercado de trabalho, mas essa inserção é resultado de um processo marcado pela articulação entre a condição profissional do momento e as origens da situação profissional.

Portanto, destaca-se a inserção influenciada por um conjunto de fatores, tornando necessário analisá-la numa teia de relações que implicam a escolha e a inserção profissional, considerando também os aspectos regionais. Como argumentam Rocha e Gois (2010ROCHA, N. M. F. D.; GOIS, C. W. L. Trajetórias de jovens no mundo do trabalho a partir da primeira inserção: o caso de Sísifo em Maracanaú - Ceará, Brasil. Psicologia e Sociedade, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 466-475, 2010., p. 467), “o processo de inserção profissional é visto como um momento que altera o modo de vida do sujeito, sua localização no mundo e sua relação com os outros [...]”. Sendo assim, a construção da identidade profissional passa pelo dispositivo de formação e do processo relacional, pelas experiências vivenciadas no espaço de atuação profissional, não separando as dimensões pessoais e profissionais, pois a cultura, os saberes e as visões de mundo do profissional é que possibilitam a construção de sua identidade. Assim, a formação é um elemento que compõe essa identidade e também precisa ser analisada.

A formação na docência

Com a formação em um curso superior, em especial na área docente, acredita-se que o profissional passa a atuar com capacidade para mediar a relação entre teoria e prática no processo do trabalho de professor. Nesse sentido, Azzi (2009AZZI, S. Trabalho docente: autonomia didática e construção do saber pedagógico. In: PIMENTA, S. G. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009. p. 35-60. , p. 38), ao abordar o conceito de trabalho docente, pontua a relação teoria e prática como práxis, afirmando que esse conceito se apoia em uma contextualização social/histórica e definindo-o:

[...] uma práxis em que a unidade teoria e prática se caracteriza pela ação-reflexão-ação; o trabalho docente só pode ser compreendido se considerado no contexto da organização escolar e da organização do trabalho no modo de produção, no caso, o capitalismo; a compreensão do trabalho docente só pode ocorrer no processo de elaboração de seu conceito, que emerge após o estudo de sua gênese, de suas condições históricas (o trabalho como forma histórica) e particulares (o cotidiano da ação docente).

O licenciado em Pedagogia é o “profissional que age em diversas instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligada à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação” (Libâneo, 1999LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999., p. 44). Nesse sentido, destacam-se as colocações de Luckesi (1991LUCKESI, C. C. Subsídios para a organização do trabalho docente. Série Ideias, São Paulo, n. 11, p. 88-103, 1991., p. 92), ao dizer que o professor desenvolve uma atividade intencional, rompendo o paradigma entre teoria e prática, traçando objetivos, percebendo a mediação social. Assim, o professor

[...] deverá organizar o seu trabalho, tendo em vista executar mediações que conduzam à consecução dos objetivos estabelecidos. Se tem como meta o trabalho pela democratização da sociedade e se compreende que esta não pode ocorrer sem que os sujeitos possuam sua independência, importa que o educador, como profissional que tem claro que o setor da educação é uma das mediações sociais que podem servir à luta pela democratização, deverá ter conhecimentos dos fins a serem obtidos, assim como dos princípios e meios científicos e tecnológicos disponíveis para a obtenção do que se traçou como resultado final de seu trabalho.

Logo, na formação do professor, é necessário romper com o paradigma da separação entre teoria e prática, pois se considera a atividade pedagógica um conjunto de interações conscientes, dirigidas com fins específicos, servindo para a reflexão e a produção de conhecimento sistematizado, apropriando-se dos avanços científicos na contribuição para uma formação reflexiva das práticas, analisando o contexto social e a relação com a educação. Quando se discute a formação de professores, é preciso pensar no contexto social atual, na relação indissociável entre a teoria e a prática, com um trabalho que evidencie o contexto de situações de dificuldades que serão enfrentadas no dia a dia. Assim,

[...] se faz necessário superar a linearidade mecânica posta frente ao conhecimento teórico e ao conhecimento prático. Romper com a dicotomia teoria/prática, e tratar o conhecimento como fonte de recursos intelectuais que subsidiam a ação docente em todos os momentos da prática pedagógica. A reflexão não é um processo mecânico, implica em constante movimento e transformação. Portanto, a formação de professores reflexivos depende dos conhecimentos articulados e interligados com a própria ação. (Tozetto; Gomes, 2009TOZETTO, S. S.; GOMES, T. S. A prática pedagógica na formação docente. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 181-196, 2009. , p. 186).

Compartilhando do pensamento de Moran (2007MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2007.), sobre a universidade e a educação, esta última seria a soma de todos os processos de transmissão do conhecimento, da cultura, do aprendizado das novas ideias; considera-se a escola como um local privilegiado de elaboração de projetos de conhecimento e de experimentação de situações desafiadoras. Portanto, é preciso refletir sobre a formação do professor e suas expectativas relacionadas com o curso, seu trajeto acadêmico e o processo de transição para o mercado de trabalho. Dessa forma, deve-se pensar na formação para esse profissional da educação, no sentido de contribuição para o processo educativo, a fim de que em sua prática como educador tenha conhecimento para

[...] aprender, ensinar, partilhar saberes, pensar com a escola e não sobre a escola, fortalecer a instituição educacional, compreender a reflexão como prática social, oportunizando apoio e estímulo mútuos - na forma de trabalho coletivo - analisar os contextos de produção do ensino e aprendizagem, qualificar melhor os discursos oficiais que se utilizam de termos ou conceitos da moda, ressignificando-os. (Lima; Gomes, 2010LIMA, M. S. L.; GOMES, M. O. Redimensionando o papel dos profissionais da educação: algumas considerações. In: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2010. p. 163-186., p. 170).

O papel da universidade é ser moderadora do comportamento humano, organizando o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos para a participação consciente e crítica no sistema social. O professor é considerado o elo entre a verdade científica e o aluno. Portanto, resgata-se o pensamento de Tozetto e Gomes (2009TOZETTO, S. S.; GOMES, T. S. A prática pedagógica na formação docente. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 181-196, 2009. ) ao expor que o professor pode assumir a função de guia, sendo aquele que ilumina as ações em sala de aula, que interfere significativamente na construção do conhecimento do aluno. É com essa intenção de ação transformadora que acontece a relação da teoria com a prática. Dessa maneira, compreende-se a necessidade no processo de formação dos alunos de licenciatura em Pedagogia de discutir o que é ser professor e a constituição de uma identidade profissional comprometida com o fazer-refletir-agir sobre as ações pedagógicas.

Carreira docente e valorização do trabalho

Ao se estudar a escolha profissional e a inserção no mercado de trabalho, no desenvolvimento da pesquisa, apresentou-se como ponto de destaque a questão da carreira docente, tornando importante sua discussão. Segundo Nóvoa (1995NÓVOA, A. Profissão professor. Porto: Porto Editora, 1995.), Sousa e Mendes Sobrinho (2011SOUSA, M. G. S.; MENDES SOBRINHO, J. A. C. Formação e profissionalização docente: revelações a partir de histórias de vida. In: MENDES SOBRINHO, J. A. C.; LIMA, M. G. S. B. (Orgs.). Formação, prática pedagógica e pesquisa em educação: retratos e relatos. Teresina: Ed. da UFPI, 2011. p. 113-151.) e Veiga e Araújo (1998VEIGA, I. P. A.; ARAÚJO, J. C. S. Reflexão sobre um projeto ético para os profissionais da educação. In: VEIGA, I. P. A. (Org.). Caminhos da profissionalização do magistério. Campinas: Papirus, 1998. p. 153-176.), a escolha profissional e a inserção no mercado de trabalho estão associados à melhora do status, elevação do rendimento, aumento da autonomia, portanto, garantia do exercício profissional com qualidade.

Valle (2006VALLE, I. R. Carreira do magistério: uma escolha profissional deliberada. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 87, n. 216, p. 178-187, maio/ago. 2006. ) argumenta que a carreira docente inscreve-se entre duas dinâmicas contraditórias, entre as carreiras valorizadas socialmente que combinam status profissional com estabilidade de emprego e, por outro lado, oferece um futuro profissional bastante incerto, baixos salários e ascensão profissional limitada, aliada às condições muitas vezes precárias de trabalho.

Nesse mesmo sentido, Gatti (2012GATTI, B. A. Reconhecimento social e as políticas de carreira docente na educação básica. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 145, p. 88-111, jan./abr. 2012., p. 88) também discute a valorização da carreira docente, tanto no âmbito social como no plano da vida profissional relacionado à qualidade da educação:

há um movimento nas diferentes esferas da gestão pública da educação no sentido de se preocupar com os planos de carreira do magistério, embora esse movimento ainda não tenha abrangência total e não tenha mostrado ainda impactos efetivos.

Gatti (2012GATTI, B. A. Reconhecimento social e as políticas de carreira docente na educação básica. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 145, p. 88-111, jan./abr. 2012.), apoiada em estudos de Oliveira e Vieira (2010), que aliam trabalho docente da educação básica à valorização, ressalta a situação dos salários dos professores, os quais não são condizentes com o exigido quanto à sua formação, condições de trabalho e outras cobranças relativas à avaliação e ao apoio pedagógico.

Essa relação da desvalorização do professor da educação básica está no senso de injustiça conectado às condições de formação, de trabalho do coletivo de professores, e é um fator que mobiliza, paralisa ou perturba sua atuação, em dois sentidos: o da sobrevivência - habitação, alimentação, vestimenta e saúde, entre outros pontos relevantes - e o da sobrevivência intelectual - associado a custeio de cursos, compra de livros e acesso à cultura (Gatti, 2012GATTI, B. A. Reconhecimento social e as políticas de carreira docente na educação básica. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 145, p. 88-111, jan./abr. 2012.). Já para Barretto (2011), apresenta-se como desafio para a qualidade do ensino no Brasil integrar as ações relacionadas à formação inicial e continuada, uma remuneração condigna e uma carreira profissional que atraia pela renovação da motivação para trabalhar com o ensino.

Outro ponto a ser destacado no tocante ao plano de carreira é que cada município e estado articula o seu plano levando em consideração a realidade social, política e econômica. Gatti (2012GATTI, B. A. Reconhecimento social e as políticas de carreira docente na educação básica. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 145, p. 88-111, jan./abr. 2012.) pondera que mesmo existindo um movimento das diferentes esferas da gestão pública da educação, a preocupação com o plano de carreira do magistério foi intensificada a partir de 2000 e envolveu ações políticas da União, dos estados e dos municípios, por meio das pressões para uma melhoria das condições de trabalho e da remuneração, mas ainda não foi o suficiente para superar problemas cruciais da profissão, colocando-a em crise. Nessa mesma perspectiva, Azevedo et al. (2012AZEVEDO, R. O. M.; GHEDIN, E.; SILVA-FORSBERG, M. C.; GONZAGA, A. M. Formação inicial de professores da educação básica no Brasil: trajetória e perspectivas. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 12, n. 37, p. 997-1026, set./dez. 2012.) afirmam que o trabalho docente não pode ser pensado isoladamente de outros setores socioeconômicos, visto que o problema da educação deve ser pensado no bojo das mudanças no mundo do trabalho e do emprego.

Metodologia investigativa

Esta investigação pautou-se na abordagem qualitativa, ao mesmo tempo, realizou-se como complemento a pesquisa estatística interpretada por meio do uso de instrumentos que agregam a abordagem quantitativa. Os dados quantitativos objetivam construir uma caracterização do perfil do grupo pesquisado. Nesse sentido, Richardson et al. (1999RICHARDSON, R. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999., p. 70) mencionam que o método quantitativo “representa, em princípio a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e de interpretação”. Portanto, possibilita a confiabilidade dos resultados no que se refere ao perfil do grupo e à satisfação com a profissão escolhida.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário, por se caracterizar como fonte estável e confiável, que permitiu a abrangência de dados pela sua organização em questões fechadas e abertas. O questionário buscou informações acerca do reconhecimento da escolha profissional dos acadêmicos da área de licenciatura e suas expectativas quanto à inserção no mercado de trabalho na respectiva área.

De acordo com Richardson et al. (1999RICHARDSON, R. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.), as perguntas abertas levam o entrevistado a empregar frases ou orações e apresentam como vantagem a possibilidade de se responder com mais liberdade, sem a restrição de marcar uma alternativa ou outra. O questionário permite obter informações de um grande número de pessoas e abranger uma área geográfica extensa, e as pessoas têm liberdade para se expressarem.

A amostra da população investigada contou com 57% dos acadêmicos formandos do curso de licenciatura em Pedagogia, que estudavam em uma universidade comunitária na região Sul do País.

Na realização da análise de conteúdo, seguiu-se a orientação de Franco (1997FRANCO, M. L. P. B. O que é análise de conteúdo? Avaliação de currículos e programas. Brasília: UnB, 1997. , p. 60) que salienta que é “preciso decidir, de acordo com os objetivos da pesquisa, que unidades de análise devem ser privilegiadas. [...] as unidades de análise podem ser uma palavra, um tema, um item, etc.”. Com o desenvolvimento do estudo, as categorias de análise parciais foram emergindo dos objetivos da pesquisa com o uso da teoria. A análise dos dados tem importância fundamental no contexto do estudo e na produção de conhecimento novo, favorecendo a compreensão de seu sentido e de sua finalidade.

Para Franco (1997FRANCO, M. L. P. B. O que é análise de conteúdo? Avaliação de currículos e programas. Brasília: UnB, 1997. , p. 64), “formular categorias, em análise de conteúdo, é, via de regra, um processo longo, difícil e desafiante.” Logo, a análise de conteúdo desenvolvida aponta categorias de análise, visando ao atendimento dos objetivos da investigação. Assim, na análise de conteúdo não foram estabelecidas categorias a priori, mas no esquadrinhar de sentenças significativas ao objeto de estudo. Para o exame dos eixos “escolha e inserção profissional docente”, foi considerada a influência de um conjunto de fatores que possibilitaram a ampliação do estudo, por meio da organização de categorias advindas dos dados coletados que possibilitaram uma teia de relações, considerando também características regionais, sociais, econômicas e históricas.

Perfil do grupo

As análises das informações estão caracterizadas em três eixos: perfil do grupo, escolha profissional e inserção no mercado de trabalho e na carreira docente. O eixo perfil do grupo traz dados da população investigada, constituindo a representação de acadêmicos participantes, sexo, idade, diplomação superior anterior e situação profissional atual. Nesse sentido, a pesquisa investigou uma amostra representativa de 57% dos acadêmicos formandos do segundo semestre de 2013 do curso de licenciatura em Pedagogia.

Quanto aos participantes da pesquisa, 99% são do sexo feminino e 1% do masculino. Na análise das características do grupo, destaca-se que a escolha da profissão docente está relacionada à questão de gênero e é influenciada pelo contexto histórico e social da profissão. Nessa direção, Folle e Nascimento (2008FOLLE, A.; NASCIMENTO, J. V. Estudos sobre desenvolvimento profissional: da escolha à ruptura da carreira docente. Revista da Educação Física, Maringá, v. 19, n. 4, p. 605-618, 2008.) argumentam que a profissão do magistério ainda é considerada uma profissão feminina.

Quando tomado o fator da idade dos participantes da investigação, percebe-se que o grupo era composto de idades variadas; entretanto, a faixa etária entre 20 e 35 anos apresentava uma maior representatividade, perfazendo 76%.

Com relação ao perfil e à formação superior, indagou-se aos participantes se já haviam concluído ou cursado outro curso superior. Como resultado, 93% dos pesquisados indicam que o curso de Pedagogia é o seu primeiro curso superior e apenas 7% relatam possuir outro curso superior, nas áreas de História, Administração, Artes Visuais e Turismo e Hotelaria. Desse grupo que já cursou outra graduação, destaca-se o posicionamento de um participante, que afirma: “Espero não me frustrar no campo de atuação como aconteceu com a minha profissão anterior” (Ita).1 1 As siglas estão relacionadas aos nomes dos participantes da pesquisa, que não foram identificados devido a um compromisso de preservação do sigilo. Essa é uma demonstração de sua expectativa quanto à escolha do curso atual e à futura inserção profissional. Quanto ao fato de os investigados estarem ou não trabalhando, surgiram os seguintes dados: 82% estavam trabalhando ou exerciam alguma atividade remunerada e apenas 18% estavam desempregados ou não tinham atividade remunerada.

No segundo eixo de análise, que trata da escolha profissional, questionou-se sobre a satisfação com a escolha da profissão e verificou-se que 93% estavam muito satisfeitos ou satisfeitos com sua escolha. A análise das respostas quanto à escolha profissional, em especial levando em consideração os que responderam que estavam muito satisfeitos ou satisfeitos, permitiu agrupá-las em categorias: aspectos individuais, área de atuação, articulação universidade com o mercado de trabalho, relação com a carreira e valorização da profissão.

Dessa maneira, identificou-se que 37% dos participantes compartilharam posições semelhantes relacionadas aos aspectos individuais que influenciaram sua escolha: “Porque amo o que faço” (Bi); “Sempre sonhei em ser professora, desde criança, mas quero estar pronta para trabalhar na área” (Ita). Nessa mesma perspectiva, aparece outra fala: “Pois é uma área que eu me identifico muito, e que desde criança queria ser professora” (Ita). Silva (2004SILVA, J. S. A influência dos meios de comunicação social na problemática da escolha profissional: o que isso suscita à psicologia no campo da orientação vocacional/profissional? Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 4, p. 60-67, dez. 2004. ) contribui para explicar que os aspectos individuais normalmente se originam da família e da representação do trabalho. Com o mesmo ponto de vista, Valle (2006VALLE, I. R. Carreira do magistério: uma escolha profissional deliberada. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 87, n. 216, p. 178-187, maio/ago. 2006. , p. 183) ressalta que:

[...] as motivações para o ingresso no magistério permanecem no campo dos valores altruístas e da realização pessoal, estando fortemente ancoradas na imagem de si e na experiência cotidiana, a saber: o dom e a vocação [...], o amor pelas crianças [...], o amor pelo outro [...], o amor pela profissão [...].

Silva (2004SILVA, J. S. A influência dos meios de comunicação social na problemática da escolha profissional: o que isso suscita à psicologia no campo da orientação vocacional/profissional? Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 4, p. 60-67, dez. 2004. ) e Bardagi et al. (2006BARDAGI, M.; LASSANCE, M. C. P.; PARADISO, A. C.; MENEZES, I. A. Escolha profissional e inserção no mercado de trabalho: percepções de estudantes formandos. Psicologia Escolar Educacional, Campinas, v. 10, n. 1, p. 69-82, jan./jun. 2006. ) refletem sobre as relações entre a escolha profissional e a identidade profissional num movimento dialético com o mundo. Ao escolher uma profissão, o sujeito escolhe o que quer ser, o lugar no mundo a que pretende pertencer; ao mesmo tempo, pondera sobre um movimento paralelo de sentimentos individuais pela profissão, das perspectivas das dificuldades da docência e dos aspectos sociais relacionados à valorização da profissão. “[...] como qualquer outra profissão tem alguns contras. Falta valorização, salário [é] baixo, alguns municípios não apoiam a formação continuada, enfim” (Bi).

A análise revelou como um aspecto análogo da categoria principal quanto à escolha profissional que o grupo pesquisado demonstrou maturidade ao expressar a preocupação com a valorização da profissão e as dificuldades existentes no desenvolvimento profissional. Na articulação da carreira e na valorização da profissão, foram identificadas algumas falas interessantes no que se refere à oferta de trabalho: “Acredito que estou na área certa, porém algumas situações ou condições tornaram o trabalho um pouco difícil” (Ita); “Sou feliz pelo que faço, mas minha profissão é pouco valorizada (Ita); “Sinto-me satisfeita com a profissão que escolhi, porém acho que nossa profissão merece mais respeito em relação ao salário” (Bi). Os entrevistados que salientaram estar pouco satisfeitos com a escolha profissional resultam em 6%. Diante desses elementos, Barreto (2011BARRETO, E. S. S. Políticas e práticas de formação de professores da educação básica no Brasil: um panorama nacional. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Porto Alegre, v. 27, n. 1, p. 39-52, jan./abr. 2011.) apresenta o desafio de que no Brasil o ensino integre as ações da formação inicial e continuada a uma remuneração condigna e uma carreira profissional que atraia pela renovação da motivação para trabalhar com o ensino.

A categoria que abrange “sentimento e valorização profissional” trouxe informações importantes dos participantes: “Não me sinto muito realizada com minha profissão” (Ita); “Devido a dificuldade nas relações, muita exigência e pouca recompensa” (Pi). Nas falas, nota-se que a carreira docente é permeada por várias dimensões difíceis pela complexidade que a engloba. Para Valle (2006VALLE, I. R. Carreira do magistério: uma escolha profissional deliberada. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 87, n. 216, p. 178-187, maio/ago. 2006. ), a carreira docente inscreve-se entre duas dinâmicas contraditórias, entre as carreiras valorizadas socialmente que combinam status profissional com estabilidade de emprego e, por outro lado, oferece um futuro profissional bastante incerto, baixos salários e ascensão profissional limitada, aliada às condições, muitas vezes precárias, de trabalho.

Inserção no mercado de trabalho e expectativas na carreira docente

No eixo inserção no mercado de trabalho e expectativas na carreira docente, encontram-se questões inter-relacionadas que objetivavam reconhecer a vontade de seguir carreira na área de formação, as dificuldades de inserção no mercado de trabalho e a expectativa quanto à futura atuação docente.

Sobre o desejo de seguir carreira na área de formação, verificou-se que 93% dos pesquisados afirmavam que continuariam na carreira escolhida, e revelaram-se as categorias: dos aspectos individuais, de aperfeiçoamento profissional e de articulação da formação com atuação no mercado de trabalho. Quanto à carreira escolhida, evidenciou-se que os participantes pretendem seguir carreira na área da docência. Essa categoria está ligada aos aspectos individuais e às expectativas pessoais diante da nova etapa que está por vir: “É minha paixão e meu sonho. Quase nem acredito que este sonho está se concretizando” (Ti); “É o que gosto de fazer e pretendo atuar nessa área” (Pi).

A análise sobre aperfeiçoamento profissional apontou que todos os entrevistados pretendem fazer cursos de pós-graduação, demonstrando a necessidade, a aspiração de qualificação e o investimento profissional. As seguintes respostas foram destacadas: “Pretendo fazer uma pós-graduação me especializando na área de educação especial” (Ita); “Porque quero aprender mais e chegar até o mestrado” (Ita). Acerca do desejo de seguir carreira na área de formação, surgiu a categoria em que se articulam a formação e a atuação no mercado de trabalho. O principal aspecto sinalizado mostra que a inserção no mercado de trabalho se dá por intermédio da realização de concursos. Os depoimentos a seguir confirmam essa perspectiva: “Pretendo assim que me formar fazer concurso público” (Bi); “[...] depois de me formar pretendo prestar um concurso público” (Pi).

Aqueles que assinalaram que não pretendiam seguir a carreira (7%) apresentaram a justificativa da desvalorização da profissão e da não identificação com o curso ou o fato de que já atuavam em outras áreas e não desejavam seguir a docência. Isso está registrado no depoimento de uma aluna: “A princípio sim, mas estou um pouco desiludida com a realidade dos profissionais hoje” (P). Essa questão se repete como desafio para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil. Barreto (2011BARRETO, E. S. S. Políticas e práticas de formação de professores da educação básica no Brasil: um panorama nacional. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Porto Alegre, v. 27, n. 1, p. 39-52, jan./abr. 2011.) pondera sobre o assunto aliando a remuneração da carreira profissional com a atração e motivação para trabalhar na área.

Outro aspecto significativo da pesquisa foi a percepção dos entrevistados das dificuldades para inserção no mercado de trabalho e das expectativas da futura atuação como profissionais. As respostas geraram categorias como: manutenção na carreira em virtude da baixa remuneração e valorização social do professor, inserção no mercado por concursos públicos, falta de experiência e não há dificuldades.

A manutenção na carreira é evidenciada por alguns entrevistados em virtude da remuneração em comparação a outras profissões de nível superior e à valorização profissional do docente na sociedade, conforme se verifica nessas narrativas: “O professor ainda continua desvalorizado, com relação ao salário e o respeito (Bi); “Salário e respeito profissional” (Bi); “A única dificuldade que encontrei até agora é a desvalorização profissional” (Bi); “A questão do salário, por ser muito baixo” (Bc). Os participantes da investigação que não encontravam dificuldades apresentavam outra perspectiva de atuação: “Nenhuma, o mercado de trabalho na área da Pedagogia é amplo, devido à grande opção na formação, seja empresarial, hospitalar, escolar, profissionalizante” (Pi); “Nenhuma, há várias vagas nessa profissão na minha cidade” (Ti).

Também foram observadas respostas como os desafios e a necessidade de o docente ser um profissional competente e ter domínio teórico e prático. Esses aspectos se confirmam nas colocações: “Minhas expectativas são em relação a desenvolver uma prática baseada no conhecimento adquirido” (Ita); “Minha expectativa é de ser uma profissional competente, determinada no campo que pretendo estar atuando” (Ita); “Estar sempre atualizada, buscando cursos de capacitação, para desenvolver melhor meu trabalho” (Ti); “Tornar-se uma profissional competente” (Bi). Esses relatos evidenciam que o profissionalismo na docência implica uma referência à organização do trabalho dentro do sistema educativo e à dinâmica externa do mercado de trabalho.

Ser um profissional, portanto, implica dominar uma série de capacidades e habilidades especializadas que nos fazem ser competentes em um determinado trabalho, além de nos ligar a um grupo profissional organizado e sujeito a controle. (Imbernón, 2000IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: forma-se para a mudança e a incerteza. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2000., p. 25).

O desenvolvimento da pesquisa com a temática da escolha e inserção profissional encontrou uma expressiva e importante problemática relacionada à construção da identidade profissional no contexto da relação entre a formação e as experiências vividas no ambiente profissional, envolvendo as dimensões individuais e profissionais. Com base na investigação realizada com os formandos, percebe-se, em seus relatos, a satisfação pelo curso de licenciatura em Pedagogia, principalmente quando exibem a intenção de seguir carreira. Resgatando a ideia de Rocha-de-Oliveira (2012)ROCHA-DE-OLIVEIRA, S. Inserção profissional: perspectivas teóricas e agenda de pesquisa. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 124-135, jan./mar. 2012. , as experiências vividas por cada pessoa interferem na inserção profissional.

Outro ponto de destaque é o contexto social inter-relacionado ao reconhecimento social da profissão e às dificuldades de inserção na área de formação. Esses aspectos são abordados por Rocha-de-Oliveira (2012)ROCHA-DE-OLIVEIRA, S. Inserção profissional: perspectivas teóricas e agenda de pesquisa. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 124-135, jan./mar. 2012. , Dubar (2001DUBAR, C. La construction sociale de l’insertion professionnelle. Education et Sociétés, Paris, v. 1, n. 7, p. 23-36, janv./juil. 2001.), Bardagi, Lassance e Teixeira (2012BARDAGI, M. P.; LASSANCE, M. C. P.; TEIXEIRA, M. A. P. O contexto familiar e o desenvolvimento vocacional de jovens. In: BAPTISTA, M. N.; TEODORO, M. L. M. (Orgs.). Psicologia de família: teoria, avaliação e intervenções. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 135-144.), ao desenvolverem a reflexão de que os componentes socioeconômicos e demográficos também são fatores que influenciam a inserção profissional e estão presentes nas características individuais e institucionais.

Considerações finais

Os dados da pesquisa oportunizaram reconhecer, no conjunto da escolha profissional dos acadêmicos do curso de Pedagogia, as dificuldades e os desafios identificados em suas expectativas quanto à inserção no mercado de trabalho. Os resultados dizem respeito ao aspecto insegurança, uma vez que a maioria dos pesquisados já atuava na área de formação e, por conseguinte, suas expectativas estavam associadas à qualificação profissional, ao aprimoramento do desempenho e à busca da estabilidade profissional.

Quanto aos aspectos de satisfação na escolha profissional dos entrevistados, verificaram-se razões de ordem individual, como motivação e sentimento de adequação referente à satisfação. Já no tocante à insatisfação, foram visíveis componentes associados a mercado de trabalho, remuneração, origem da família, o que gera a representação do trabalho, bem como as categorias do contexto sócio-histórico, a valorização da profissão e as dificuldades no desenvolvimento profissional.

Na última questão, sobre a futura atuação profissional (projetos futuros), os estudantes apresentaram expectativas positivas com relação à sua atuação e inserção no mercado de trabalho. Dessa forma, dá-se visibilidade aos resultados que indicam que a atuação profissional do ser professor é muito mais ampla e complexa do que se imagina. Nesse sentido, os futuros profissionais vivenciam um movimento transitório e contraditório no ir e vir de sua identidade profissional.

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  • 1
    As siglas estão relacionadas aos nomes dos participantes da pesquisa, que não foram identificados devido a um compromisso de preservação do sigilo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2017

Histórico

  • Recebido
    24 Fev 2016
  • Aceito
    03 Nov 2016
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