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“Eu achei que lá seria tudo diferente”: representações do Brasil e do exterior entre bolsistas do Programa Ciência sem Fronteiras da Universidade Federal de Viçosa

“I thought everything would be different there”: representations of Brazil and foreign countries among students from Universidade Federal de Viçosa in the scholarship program Ciência sem Fronteiras

"Pensé que allá todo sería diferente": representaciones de Brasil y del extranjero entre becarios del Programa Ciencia sin Fronteras de la Universidad Federal de Viçosa

Resumo:

O Programa Ciência sem Fronteiras ficou conhecido mundialmente por proporcionar aos estudantes brasileiros bolsas de mobilidade acadêmica internacional em diversos países, possibilitando um contato direto com culturas e costumes diferentes. Este artigo analisou as representações que os bolsistas do Programa Ciência sem Fronteiras, vinculados ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa, campus Viçosa - Minas Gerais (MG), constroem sobre a experiência no exterior e o futuro do Brasil. Utilizou-se como metodologia a abordagem qualitativa, desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica e documental e de questionários on-line. Os resultados demonstram que os participantes esperavam encontrar no exterior maior qualidade de vida e segurança e melhor infraestrutura em relação tanto às cidades quanto às instituições de ensino. Constatou-se que algumas expectativas sobre o exterior foram confirmadas, ocorrendo situações no intercâmbio que fizeram os estudantes reavaliarem o atual cenário brasileiro. Porém, apesar de todos os problemas, alguns deles encontrados também em outros países, o Brasil ainda é representado como um país promissor, com capacidade de promover o desenvolvimento econômico e social, ainda que projetado no futuro.

Palavras-chave:
ciências agrárias; Ciência sem Fronteiras; programa bolsa de extensão; representação social.

Abstract:

The program Ciência sem Fronteiras became known worldwide for providing Brazilian students with scholarships that promoted international academic mobility into various countries, which enabled them direct contact with different cultures and customs.

This paper analyzed the representations built by students in the scholarship program Ciencia sem Fronteiras, linked to the Agrarian Sciences Center of the Universidade Federal de Viçosa in its campus at Minas Gerais (MG), regarding their experience abroad and Brazil’s future. The methodology used was the qualitative approach, developed through bibliographical and documentary research, and online questionnaires. Results show that the participants expected to find abroad a better security, infrastructure, and quality of life, regarding both the cities and educational institutions. It was verified that they confirmed some of their expectations about the foreign countries, and situations occurred during the exchange that caused students to reassess the current Brazilian scenario. However, despite all the problems, some of which also present in other countries, Brazil is still represented as a promising country able to promote economic and social development, even if projected in the future.

Keywords:
agrarian sciences; case studies; Ciência sem Fronteiras; outreach program; social representations

Resumen:

El Programa Ciencia sin Fronteras se ha hecho mundialmente conocido por proporcionar a estudiantes brasileños becas de movilidad académica internacional en varios países, posibilitando un contacto directo con diferentes culturas y costumbres. Este artículo analizó las representaciones que los becarios del Programa Ciencia sin Fronteras, vinculados al Centro de Ciencias Agrarias de la Universidad Federal de Viçosa, campus de Viçosa - Minas Gerais (MG), construyen sobre la experiencia en el extranjero y el futuro de Brasil. La metodología utilizada fue el enfoque cualitativo, desarrollado por medio de investigación bibliográfica y documental y de cuestionarios en línea. Los resultados muestran que los participantes esperaban encontrar una mejor calidad de vida y seguridad en el extranjero y mejor infraestructura en relación con las ciudades y las instituciones educativas. Se constató que se confirmaron algunas expectativas sobre el exterior, ocurriendo situaciones en el intercambio que hicieron que los estudiantes revalúen el escenario brasileño actual. Sin embargo, a pesar de todos los problemas, algunos de ellos encontrados también en otros países, Brasil todavía está representado como un país prometedor, con capacidad de promover el desarrollo económico y social, aunque proyectado en el futuro.

Palabras clave:
ciencias agrarias; Ciencia sin Fronteras; programa de becas de extensión; representación social

Introdução

Nos últimos anos, o Brasil tem passado por vários ciclos de instabilidade econômica, política e social, despertando a atenção dos pesquisadores para mudanças e permanências de representações sobre o país e os brasileiros. Nestas, pode-se perceber duas visões distintas, sendo a primeira positiva, ligada ao carnaval, ao samba, ao futebol e às pessoas acolhedoras que enfrentam seus problemas com resignação; já a segunda indica um país marcado por desigualdades sociais, violência, atraso e passividade (Da Matta, 1981DA MATTA, R. Carnavais, malandros e heróis. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.).

Da Matta (1986DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986., p. 11) afirma que o Brasil

é país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada.

O Brasil é o país da tradição, das relações amistosas e das belas paisagens, mas é também o país do “jeitinho” e da “malandragem”, onde cidadãos que vivem criticando os políticos de Brasília utilizam meios ilegais no cotidiano para burlar as leis a seu favor. É o país em que a corrupção, a violência e o desemprego tomam diariamente as páginas dos principais meios de comunicação. São várias as faces desse imaginário e, por isso, é importante trazer à tona as discussões sobre essas representações em torno do Brasil, principalmente em tempo de crise política e financeira. Mais do que isso, é oportuno contrastar as opiniões de brasileiros que viveram duas realidades distintas, a daqui e a do exterior. Portanto, buscamos neste artigo analisar a representação de estudantes sobre o Brasil e o exterior, após participarem de um intercâmbio acadêmico proporcionado pelo Programa Ciência sem Fronteiras (CsF).

Esse programa foi criado pelo governo federal brasileiro, por meio de uma parceria entre Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Ministério da Educação (MEC), e tinha como propósito a capacitação de estudantes de graduação e pós-graduação em instituições de educação superior de todo o mundo. Esse objetivo vai de encontro ao fato de a ciência brasileira, apesar de ter apresentado um crescimento significativo na consolidação de pesquisas nas diversas áreas do conhecimento, subindo 11 posições no ranking dos 25 países com maior produção científica (1993 a 2013), ainda assim ocupar o 13º lugar (Cruz, 2016CRUZ, V. X. A. Programa Ciência sem Fronteiras: uma avaliação da política pública de internacionalização do ensino superior sob a perspectiva do paradigma multidimensional. 2016. 209 f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) - Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2016., p. 78). Um outro fator que contribuiu para a criação do CsF foi a proporção de doutores por milhão de habitantes estar bem abaixo do esperado para um país em desenvolvimento, resultando, assim, na falta de interação entre as pesquisas acadêmicas e os setores empresariais e sociedade civil. Além disso, a quantidade de graduandos brasileiros no exterior era considerada muito inferior a de países norte-americanos e europeus, que detinham, ao final do século 20 e início do século 21, a maior taxa de mobilidade acadêmica internacional, com cerca de 47% de estudantes (Cruz, 2016CRUZ, V. X. A. Programa Ciência sem Fronteiras: uma avaliação da política pública de internacionalização do ensino superior sob a perspectiva do paradigma multidimensional. 2016. 209 f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) - Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2016.; Carvalho, 2015CARVALHO, C. S. Programa Ciência sem Fronteiras na UFV - Campus de Rio Paranaíba: êxitos e desafios. 2015. 123f. Dissertação (Mestrado profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2015. ; Bido, 2015BIDO, M. C. F. Ciência com fronteiras: a mobilidade acadêmica e seus impactos. São Leopoldo, 2015.).

Apesar de o oferecimento de bolsas de intercâmbio não ser um fenômeno recente, tampouco inédito, o Brasil ainda não tinha experienciado nada parecido ao que o Programa Ciência sem Fronteiras propunha, pois, ao contrário do que outros programas fizeram, optou-se por destinar a maior parcela de bolsas aos alunos de graduação. Bido (2015BIDO, M. C. F. Ciência com fronteiras: a mobilidade acadêmica e seus impactos. São Leopoldo, 2015.) apresenta que, em 1998, 95% das bolsas de intercâmbio oferecidas no Brasil eram ofertadas para alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado e, em 2012, após o primeiro ano de implementação do CsF, esse número caiu para 47%. Ou seja, em 14 anos a representatividade dos alunos de graduação no exterior subiu de 5% para mais de 50% (Bido, 2015BIDO, M. C. F. Ciência com fronteiras: a mobilidade acadêmica e seus impactos. São Leopoldo, 2015., p. 58). Esse foco na graduação estava ligado a um dos objetivos do Ciência sem Fronteiras, que era investir na formação de pessoal altamente qualificado nas competências e habilidades necessárias para o avanço da sociedade. Portanto, pode-se dizer que esse programa foi fruto da compreensão de que a mobilidade acadêmica e a cooperação internacional eram caminhos oportunos para se adquirir uma formação especializada em instituições renomadas (Muller, 2013MULLER, Christian. Ensino superior no Brasil: a caminho de Ciência sem Fronteiras? Cadernos Adenauer, Rio de Janeiro, v. esp. n. 14, p, 43-53, 2013. Disponível em: <Disponível em: http://www.kas.de/wf/doc/10987-1442-5-30.pdf > Acesso em: 01 set 2017.
http://www.kas.de/wf/doc/10987-1442-5-30...
; Carvalho, 2015CARVALHO, C. S. Programa Ciência sem Fronteiras na UFV - Campus de Rio Paranaíba: êxitos e desafios. 2015. 123f. Dissertação (Mestrado profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2015. ).

A partir desse breve contexto, esta pesquisa contou com 32 alunos vinculados ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa (UFV) - campus Viçosa, Minas Gerais (MG), que participaram do programa entre 2011 e 2016. A abordagem adotada foi a qualitativa, desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica e documental e da aplicação de questionários on-line. A teoria das representações sociais foi escolhida para nortear este trabalho, pois se buscou compreender as concepções que os estudantes tinham sobre o exterior e o Brasil, antes e após terem vivido outras realidades, culturas e experiências proporcionadas pelo CsF.

O Programa Ciência sem Fronteiras

O Programa Ciência sem Fronteiras foi criado em 2011, por meio de uma parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Ministério da Educação, mediante suas instituições de fomento à pesquisa - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Pautado pelo Decreto nº 7.642, de 13 de dezembro de 2011, o CsF tinha como objetivo inicial consolidar, expandir e internacionalizar a ciência e as tecnologias brasileiras, por meio de intercâmbio e mobilidade internacional de alunos de graduação e pós-graduação. Tinha ainda como objetivos específicos oferecer oportunidades de estudo a discentes brasileiros em universidades de excelência e permitir a atualização de conhecimentos em grades curriculares diferenciadas, possibilitando o acesso de estudantes brasileiros a instituições de elevado padrão de qualidade e experiências educacionais voltadas para a qualidade, o empreendedorismo, a competitividade e a inovação (Brasil, 2011BRASIL. Decreto nº 7.642, de 13 de dezembro de 2011. Institui o Programa Ciência sem Fronteiras. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 dez. 2011. Seção 1, p. 7.).

Para a concessão das bolsas, era necessário que o estudante estivesse matriculado em cursos de instituições brasileiras nas seguintes áreas: Engenharias; Ciências Exatas e da Terra; Biologia; Ciências Biomédicas e da Saúde; Computação e Tecnologias da Informação; Tecnologia Aeroespacial; Fármacos; Produção Agrícola Sustentável; Petróleo, Gás e Carvão Mineral; Energias Renováveis; Tecnologia Mineral; Biotecnologia; Nanotecnologia e Novos Materiais; Tecnologias de Prevenção e Mitigação de Desastres Naturais; Biodiversidade e Bioprospecção; Ciências do Mar; Indústria Criativa; Novas Tecnologias de Engenharia Construtiva; e Formação de Tecnólogos (Brasil, 2011BRASIL. Decreto nº 7.642, de 13 de dezembro de 2011. Institui o Programa Ciência sem Fronteiras. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 dez. 2011. Seção 1, p. 7.). A definição dessas áreas prioritárias foi justificada em razão de o Brasil possuir baixos níveis de desenvolvimento nas áreas de ciência e tecnologia. O programa foi criado, portanto, como uma qualificação internacional da futura força de trabalho para modificar essa realidade. Nesse sentido, da meta de 101.000 bolsas ofertadas inicialmente pelo CsF, foram utilizadas 92.880 até o ano de 2016. Destas, 79% foram destinadas aos alunos da graduação e 21% aos da pós-graduação e pesquisadores.

O país com maior procura para o intercâmbio foram os Estados Unidos da América (EUA), que receberam ao todo 27.821 estudantes, dos quais 79% eram de graduação, 19% de pós-graduação e 2% pesquisadores especiais. No caso da Universidade Federal de Viçosa, foi possível perceber essa mesma tendência. Dos 32 participantes desta pesquisa, 18 fizeram o intercâmbio em instituições desse país.

Uma possível explicação é que, além de os Estados Unidos serem reconhecidos com uma das principais potências econômicas mundiais, contando com empresas referenciais em diversos setores que poderiam facilitar a entrada dos estudantes para a realização dos estágios acadêmicos, as instituições norte-americanas de ensino foram as primeiras a firmar parcerias com o CsF. Assim, os alunos contemplados com as bolsas logo no início do programa foram direcionados a esse país (Viana, 2014VIANA, G. M. A reação norte-americana ao programa Ciência sem Fronteiras. 2016. 30f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-graduação em Relações Internacionais) - Instituto de Relações Internacionais, Universidade de Brasília, Brasília, 2014.).

Outra possibilidade foi a não permanência das instituições de ensino de Portugal como parceiras. Tendo o português como idioma oficial - não havendo, portanto, uma barreira idiomática -, esse país foi eleito pelos bolsistas como um dos principais destinos para o intercâmbio. Entretanto, ao observar essa tendência, o governo federal decidiu encerrar as parcerias já existentes e realocar os estudantes contemplados com as bolsas do CsF em instituições dos Estados Unidos, visto que o aprendizado em um novo idioma era um dos princípios básicos do programa (Borges; Garcia-Filice, 2016BORGES, R. A.; GARCIA-FILICE, R. C. A língua inglesa no programa Ciência sem Fronteiras: paradoxos na política de internacionalização. Interfaces Brasil/Canadá, Canoas, v. 16, n. 1, p. 72-101, 2016., p.86).

Uma última hipótese está ligada às representações sociais sobre os Estados Unidos. Por volta de 1980, vários emigrantes brasileiros foram para os EUA a fim de trabalhar e economizar para então voltarem ao Brasil com a esperança de uma vida melhor (Braga Martes; Fleischer, 2003BRAGA MARTES, A. C.; FLEISCHER, S. (orgs.). Fronteiras cruzadas: etnicidade, gênero e redes sociais. São Paulo: Paz e Terra, 2003.). Essa representação de um país cheio de oportunidades continua, ainda hoje, muito presente no imaginário das pessoas, sendo possível que os bolsistas do CsF tenham optado pelos Estados Unidos com esse mesmo sentido. Portanto, torna-se pertinente entender se as experiências de mobilidade acadêmica contribuíram para modificar ou reforçar as representações sociais dos estudantes sobre o Brasil e o exterior.

Teoria das representações sociais

A expressão “representação social” teve origem nas obras do sociólogo Emile Durkheim, ficando esquecida por um período até ser retomada por Serge Moscovici em 1961, quando tentava analisar a complexidade de relações, tanto dos indivíduos quanto dos grupos, com base na compreensão que estes processam sobre a realidade cotidiana (Corrêa et al, 2007CORRÊA, A. M. H. et al. Soldadinhos-de-chumbo e bonecas: representações sociais do masculino e feminino em jornais de empresas. RAC, Campinas, v. 11, n. 2, p. 191-211, abr./jun. 2007.). Para Moscovici, as representações compõem uma sociedade pensante, cujos indivíduos não seriam meros receptáculos de informação ou de conhecimento científico, mas resultado dos produtos mentais de determinados grupos, dado que as experiências cotidianas e as formas de interação social e de interpretação sobre o mundo são diferentes nos diversos segmentos (Sêga, 2000SÊGA, R. A. O conceito de representação social nas obras de Denise Jodelet e Serge Moscovici. Porto Alegre: Anos 90, 2000. ).

As representações ainda podem influenciar o comportamento do indivíduo na vida em sociedade, fazendo com que, além de criar percepções sobre sua realidade, os grupos possam tomar atitudes em relação a ela. Com isso, há uma formação de percepções e de práticas que se misturam entre o simbólico e o material (Rodrigues; Rangel, 2013RODRIGUES, J. N.; RANGEL, M. A teoria das representações sociais: um esboço sobre um caminho teórico-metodológico no campo da pesquisa em educação. Rio de Janeiro, 2013.).

Jodelet (2001JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org). As representações sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. p. 18-66., p. 22), uma das mais importantes seguidoras de Moscovici na França, também apresenta uma importante definição para a representação social:

É uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrente para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Essa forma de conhecimento distingue-se do conhecimento científico por se tratar mais de uma visão de senso comum, mas que ainda assim é relevante para os estudos de interações sociais.

A autora ressalta que a representação deve ser estudada articulando elementos afetivos, mentais e sociais e integrando, ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação, as relações sociais que afetam as representações e a realidade material, social e ideal sobre a qual elas vão intervir (Jodelet, 2001JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org). As representações sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. p. 18-66.).

Segundo Rodrigues e Rangel (2013RODRIGUES, J. N.; RANGEL, M. A teoria das representações sociais: um esboço sobre um caminho teórico-metodológico no campo da pesquisa em educação. Rio de Janeiro, 2013.), uma das questões centrais para a teoria das representações sociais é investigar como comunidades diferentes, em diferentes contextos, com diferentes padrões culturais e experiências constroem o saber sobre o mundo. Portanto, ela se torna um instrumento referencial que possibilita analisar a comunicação em uma mesma linguagem, opiniões e julgamentos que expressam valores sociais, culturais, morais e éticos que são exteriorizados e circulam nas interações sociais de um determinado grupo (Jodelet, 2001JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org). As representações sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. p. 18-66.).

Quando aplicada à análise de uma experiência específica - no caso desta pesquisa, o intercâmbio acadêmico possibilitado pelo CsF -, essa teoria permite verificar mudanças e reinterpretações dos conteúdos simbólicos que formam uma visão de mundo. Desse modo, considera-se que os alunos que participaram da experiência proporcionada pelo CsF afirmam ou reconstroem representações acerca do Brasil e do exterior, validando ou questionando os conteúdos não apenas relacionados a outros países, mas também a instituições “de fora”, comparando-as com as instituições de educação superior brasileiras (Azevedo, 2013AZEVEDO, L. F. Intercâmbios acadêmicos: projetos de desenvolvimento, geopolítica do conhecimento e o programa “Ciência Sem Fronteiras”. Juiz de Fora, 2013.).

Metodologia

Utilizando como lócus empírico a Universidade Federal de Viçosa (UFV), localizada na cidade de Viçosa - MG, a pesquisa desenvolveu-se por meio de uma abordagem qualitativa que teve como foco entender e interpretar dados e discursos (Ambrósio, 2006AMBRÓSIO, B. S. D’; AMBRÓSIO, U. Formação de professores de matemática: professor pesquisador. Atos de Pesquisa em Educação, Blumenau, v. 1, n. 1, p. 75-85, jan./abr. 2006. ). Essa abordagem se tornou mais adequada aos objetivos do estudo, uma vez que a proposta não se limitava a observar ou medir os aspectos aparentes de uma situação, mas identificar ações, motivações, percepções, valores e atitudes

Considerando que as Ciências Agrárias definiram a identidade institucional da UFV e que essa área está elencada como uma das prioritárias do Programa Ciência sem Fronteiras, tornou-se pertinente um estudo que analisasse as representações dos beneficiários do CsF sobre o Brasil e o exterior, antes e depois de terem participado do programa. O foco nos alunos do Centro de Ciências Agrárias para a realização desta pesquisa se justifica neste momento pelo fato de a UFV ser reconhecida como uma instituição que possui seus alicerces históricos, acadêmicos e científicos fundados nessa área do conhecimento. Essa história pautada na área agrária tem suas origens ainda na Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa (Esav), criada pelo Presidente Arthur da Silva Bernardes. Desde então, a Universidade Federal de Viçosa possui sua trajetória institucional marcada pelos princípios da internacionalização, fortalecendo ainda mais a necessidade da realização de uma pesquisa como esta.

Com base no exposto, foram aplicados questionários a 32 alunos de cursos do Centro de Ciências Agrárias da UFV, que participaram de forma voluntária a partir de um convite lançado nos grupos do Facebook relacionados à instituição. Das 72 pessoas que se dispuseram a participar inicialmente, somente 32 responderam ao questionário que foi disponibilizado em uma plataforma on-line. Como esta é uma pesquisa qualitativa, a quantidade de participantes foi satisfatória para observar padrões nas respostas obtidas.

Tendo como objetivo esclarecer e proteger os participantes e os pesquisadores, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi disponibilizado na página inicial do questionário on-line, de modo que os respondentes pudessem participar somente com esse consentimento, respeitando, assim, a ética no desenvolvimento do trabalho.

As questões direcionadas aos participantes que estruturaram as análises deste artigo foram, entre outras: Qual foi o maior desafio que você encontrou durante esse período de intercâmbio? Você sofreu algum tipo de preconceito no país de destino por ser intercambista ou por outro motivo? Foi possível aprender ou aprimorar alguma língua estrangeira durante o intercâmbio? Como você imaginava que era viver em outro país? Teve alguma diferença entre o que você imaginou e o que vivenciou? Qual visão você tem do Brasil e do exterior após a oportunidade de ter conhecido outras culturas e realidades? Dessa forma, o uso do questionário aberto permitiu aprofundar avaliações e mudanças de representações após a experiência internacional.

Um adendo sobre as informações relativas ao CsF é que no site oficial do programa consta que a Universidade Federal de Viçosa distribuiu ao longo de seus anos de vigência (2011 a 2016) o total de 1.692 bolsas. Entretanto, no sistema da Diretoria de Relações Internacionais da UFV constam apenas 1.095 alunos contemplados. Essa incoerência nos dados se justifica pelo fato de o sistema interno da UFV, responsável pelo controle de participantes, ter sido implementado posteriormente, ocasionando o não cadastramento de alguns alunos que ingressaram no início do programa. Para a realização desta pesquisa, utilizaram-se os dados do sistema oficial da UFV, que apresenta um total de 629 bolsas implementadas para os alunos do Centro de Ciências Exatas (CCE), 249 bolsas para o Centro de Ciências Agrárias (CCA) e 217 bolsas para o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCB). Como o foco desta pesquisa eram os alunos dos cursos de Ciências Agrárias, contamos com a participação de 32 estudantes deste centro, sendo 13 do curso de Engenharia Florestal, 12 de Agronomia, 4 de Engenharia Agrícola e Ambiental e 3 de Zootecnia. Desses alunos, 19 eram do sexo masculino e 13 do sexo feminino, e todos do nível de graduação.

Em relação aos países de destino dos entrevistados, 18 realizaram o intercâmbio em instituições dos Estados Unidos, 5 na Hungria, 3 na Austrália, 2 na Irlanda, 2 no Canadá, 1 na Itália e 1 na Áustria. Os resultados das questões abertas foram separados em quatro categorias, de acordo com as respostas obtidas: processo de adaptação; experiências internacionais; Ciências Agrárias no exterior; e representações sobre o Brasil e o exterior.

Resultados e discussões

Processo de adaptação

Ao embarcar em uma aventura, principalmente em outro país, com culturas e costumes diferentes, torna-se difícil imaginar o que se encontrará pelo caminho. No caso dos bolsistas do CsF, essa aventura teve novos desafios, pois, diferentemente dos turistas, eles tinham que se inserir em uma instituição de ensino e se adaptar ao novo estilo de vida. Mesmo com todas as mudanças, o processo de adaptação foi considerado tranquilo para boa parte dos entrevistados. Dos 32 que responderam o questionário, 27 afirmaram ter enfrentado esse momento sem muitas dificuldades. Alguns encontraram barreiras no início do intercâmbio, mas no decorrer do tempo se acostumaram com o novo ritmo de vida, como foi o caso dos entrevistados 15 e 30:

No início tive um pequeno choque cultural, mas aos poucos ocorreu a adaptação. (Entrevistado 15, Engenharia Florestal, bolsista na Irlanda).

Não tive dificuldades em morar com outras pessoas e adaptar à comida. Sempre considerei aquilo como uma forma de aprendizado e também de respeito com a cultura local. Obviamente, tiveram situações em que foi necessário “aceitar” sem entender nada. (Entrevistado 30, Agronomia, bolsista nos EUA).1 1 As transcrições aqui apresentadas respeitaram a forma textual utilizada pelos alunos participantes da pesquisa.

Apenas cinco respondentes destacaram que essa adaptação trouxe alguns obstáculos, principalmente quanto à alimentação. A entrevistada 19 (Engenharia Florestal, bolsista nos EUA), por exemplo, afirmou que sua principal dificuldade durante o intercâmbio foi em relação à comida:

No início parecia que ia ser mais fácil do que realmente foi. A primeira dificuldade que encontrei foi a comida. Tinha dias que eu tinha vontade de não comer nada, as refeições eram muito gordurosas. Com mais tempo no país fui percebendo que a cultura americana, que alguns brasileiros idolatram, não era só de méritos como se parece. Acho que essa percepção foi importante para ver que a nossa cultura é diferente e que temos aspectos que podemos melhorar, mas eles também têm.

A comida, como mostram os antropólogos, não se resume à saciedade fisiológica. Geertz (1989GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC,1989. ), Da Matta (1986DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.) e Fry (1982FRY, P. Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar , 1982. ) consideram que as sociedades se manifestam por meio de muitos espelhos e vários idiomas. No caso do Brasil, essa manifestação ocorre ainda pelo código da comida. É como se a nossa identidade, frequentemente associada ao futebol e ao carnaval, também estivesse simbolizada pela culinária brasileira que, com suas regionalidades, carrega um pouco de personalidade para cada prato. Da Matta (1986DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986., p. 56) apresenta uma distinção do que se caracterizaria alimento e comida no país:

Os americanos, sabemos, inventaram a chamada fast-food (alimento rápido) e, por causa disso mesmo, podem comer em pé, sentados, com estranhos ou amigos, sós ou acompanhados (…) comer, entre eles, é um ato que pode ser profundamente individual. Para nós, brasileiros, nem tudo que alimenta é sempre bom ou socialmente aceitável. Do mesmo modo, nem tudo que é alimento é comida. Alimento é tudo aquilo que pode ser ingerido para manter uma pessoa viva, comida é tudo que se come com prazer, de acordo com as regras mais sagradas de comunhão.

Comida, portanto, é signo de um estilo e um jeito de se alimentar. O mundo das comidas nos leva para casa, para os nossos parentes e amigos, para os nossos companheiros de teto e de mesa (Da Matta, 1986DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.). Dessa forma, esse estranhamento dos bolsistas, ao se depararem com os novos costumes e as novas comidas, provavelmente estava ligado mais a sentimentos identitários interiorizados do que propriamente à necessidade de se nutrir.

Outra dificuldade a ser ressaltada, exemplificada pelo entrevistado 3 (Engenharia Florestal, bolsista na Austrália), acaba reforçando um dos principais estereótipos dos brasileiros, que comumente é considerado um povo acolhedor:

As relações sociais as quais fui criado são bastante intensas e acaloradas. As pessoas nos países que falam inglês são muito reservadas.

É nesse tipo de representação que a identidade do brasileiro transparece e se torna mais significativa quando estamos distantes do que é familiar. Segundo Da Matta (1986)DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986., o que faz o brasil, Brasil - com B maiúsculo - é a comida, a música, a saudade que humaniza e a companhia dos amigos. Trata-se, além de saber quem e como somos, saber por que somos e, nesse caso, entender que a impessoalidade e o comportamento reservado nas relações sociais não são marcantes em nossas raízes históricas.

Como o CsF proporcionou aos estudantes a opção de realizarem o intercâmbio em diversos países, verificou-se que os bolsistas passaram por experiências diversificadas de aceitação e preconceito. Treze entrevistados afirmaram ter passado por algum tipo de situação preconceituosa, que em geral estava ligada ao fato de serem intercambistas. O entrevistado 22 (Zootecnia, bolsista nos EUA), por exemplo, afirmou que os colegas de classe evitavam convidá-lo para fazer parte de grupo de trabalho, pois consideravam que ele não compreendia bem o conteúdo das disciplinas por não falar fluentemente a língua inglesa.

Além disso, os participantes relataram situações nas quais foi possível perceber manifestações de preconceitos raciais, xenofóbicos e de gênero.

Uma vez uma chinesa (que também era estudante de intercâmbio) fez comentários maldosos a respeito da cor da minha pele e do meu cabelo encaracolado. (Entrevistado 5, Engenharia Agrícola e Ambiental, bolsista na Austrália).

[Encontrei] preconceito contra mulher. Mas isso é comum em todos os lugares, inclusive no Brasil. (Entrevistada 17, Agronomia, bolsista na Hungria).

(...) as pessoas têm uma visão do Brasil como o país do carnaval e acham que as mulheres andam peladas nas ruas e que tem animais selvagens na cidade. (Entrevistada 19, Engenharia Florestal, bolsista nos EUA).

Fui vítima de preconceito por ser de um país emergente e pouco desenvolvido. (Entrevistado 3, Engenharia Florestal, bolsista na Austrália).

Evidencia-se ainda nas respostas o preconceito velado, expresso por olhares e comportamentos que indicam a intenção de evitar, menosprezar, censurar ou anular a presença de estrangeiros. Em alguns casos, os entrevistados apontaram que, mesmo quando aparentemente não havia nada errado, ainda assim era possível perceber alguns sinais e atitudes inoportunas:

Apesar da boa receptividade, houve alguns casos isolados de pessoas parecerem não estarem interessadas em te atender bem e serem irônicos principalmente devido ao sotaque estrangeiro. (Entrevistado 6, Engenharia Florestal, bolsista nos EUA).

Não [sofri preconceito] diretamente, mas eu percebia que algumas pessoas não tinham paciência com não nativo. (Entrevistado 21, Engenharia Florestal, bolsista no Canadá).

Particularmente não [passei por situação preconceituosa], mas percebia olhares diferentes para uns de meus amigos por serem estrangeiros. (Entrevistado 29, Agronomia, bolsista na Hungria).

No Brasil, a discriminação racial é ilegal desde a instauração do regime republicano, em 1889. Já nos Estados Unidos, esse problema perdurou até o Movimento dos Direitos Civis, compreendido entre 1955 e 1968, que lutou para conseguir reformas visando abolir a discriminação e a segregação racial no país (Fry, 1982FRY, P. Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar , 1982. ). Sobre isso, Da Matta (1986DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.) destaca que em uma sociedade desigual o preconceito velado torna-se a forma mais “eficiente” de discriminação, pois há uma regra implícita de que cada pessoa possui um lugar no mundo, no qual deve permanecer. Isso se aplicou a todos os relatos dos entrevistados, pois, em circunstâncias diferentes, eles sentiram que não se encaixavam aos lugares de destino. Esse desencaixe fica evidente no depoimento do entrevistado 3, anteriormente citado, no qual o preconceito se refere ao fato de o bolsita ser originário de um país “pouco desenvolvido”, talvez indicando que ele estava fora do “seu lugar”.

Experiências internacionais

O sonho de conhecer novos horizontes, culturas e idiomas diferentes surge, possivelmente, muito antes de a situação se concretizar. É comum que esse desejo já esteja idealizado pelos estudantes quando se deparam com as oportunidades concretas de intercâmbio, motivando ainda mais sua realização. No caso dos entrevistados, 60% já haviam cogitado realizar intercâmbio durante a vida acadêmica, mesmo sem saber quais eram os caminhos para isso. Entretanto, apesar desse interesse, apenas 15% tiveram alguma experiência no exterior antes do CsF. Questionados se esse contato prévio influenciou a experiência no CsF, as respostas foram todas positivas.

Com certeza. Ter viajado anteriormente me fez ter uma visão de mundo. Além disso já sabia um pouco da diversidade cultural que poderia encontrar. Mesmo sabendo que as culturas dos EUA e do Brasil têm alguns pontos em comum, sabia que encontraria muitas diferenças. (Entrevistada 19, Engenharia Florestal, bolsista nos EUA).

[Ajudou] sim. No sentido de ser mais fácil me expor a outras culturas. Além disso, a entender e comparar rapidamente as diferenças entre cada pessoa segundo o lugar onde ela cresceu. Isso foi fundamental para que o choque cultural fosse mínimo. (Entrevistada 25, Engenharia Agrícola e Ambiental, bolsista na Hungria).

Mesmo no caso dos bolsistas que não tiveram essa experiência anteriormente, o CsF também proporcionou possibilidades para que eles conhecessem diversos países, além do país de destino. Isso em razão de algumas instituições estrangeiras oferecerem uma carga horária flexível, sendo possível aproveitar o tempo livre para viajar por períodos curtos. Em muitos casos, os alunos economizavam o dinheiro da bolsa para investir nas viagens. Dessa maneira, metade dos entrevistados afirmou ter visitado outros lugares durante o período de intercâmbio:

Viajei por diversos países: Portugal, Espanha, Croácia, França, Bélgica, Eslovênia, Holanda, Alemanha. (Entrevistado 2, Engenharia Florestal, bolsista na Itália).

[Visitei] Laos, Cingapura, Cambodia, Filipinas, Malásia, Tailândia e Indonésia. (Entrevistado 3, Engenharia Florestal, bolsista na Austrália).

Visitei 22 outros países. Incluindo todos do Leste Europeu, região dos Balcans e Oriente Médio. (Entrevistado 23, Agronomia, bolsista na Hungria).

Essas respostas confirmam a experiência de bolsistas do CsF de outras universidades. Martinez (2016MARTINEZ, K. L. Ciência sem Fronteiras na UFSC: universitários atendidos e percepção dos alunos e das alunas em perspectiva sociológica. 2016. 101 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Sociais) - Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.), ao analisar o programa no contexto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), constatou que, dos 516 entrevistados, 94% viajaram para outros lugares durante a vigência da bolsa. Resultados como esse acabaram gerando representações em torno do CsF, que passou a ser denominado por seus críticos de “Turismo sem Fronteiras”, em associação à utilização do dinheiro público para o lazer dos bolsistas, indicando que alguns estudantes aproveitavam o auxílio financeiro do CsF apenas para o próprio lazer, sem privilegiar as oportunidades acadêmicas. Nesse sentido, entre as respostas, foi possível perceber que alguns estudantes relacionavam esse problema ao fato de as universidades estrangeiras não terem controle sobre esses bolsistas, visto que sequer havia como exigência a entrega de relatórios para o controle das atividades durante o intercâmbio, o que demonstra um desequilíbrio por parte das agências de fomento, principalmente em relação à organização e ao planejamento do programa (Ribeiro, 2017RIBEIRO, C. P. S. Análise do programa Ciência sem Fronteiras (CSF) e de sua efetividade na promoção da visibilidade internacional dos trabalhos científicos dos Programas de pós-graduacão do centro de ciências exatas e tecnológicas/UFV. 2017. 112 f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública em Rede Nacional) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2017. ).

Ainda sobre o chamado “Turismo sem Fronteiras”, tendo como base a resposta dos participantes desta pesquisa, foi possível observar que os registros quanto a esse problema foram baixos em relação a outras críticas ao programa, podendo-se sugerir que esse fato ocorreu de forma isolada, não se aplicando a todas as universidades parceiras do Ciência sem Fronteiras.

As Ciências Agrárias no exterior

A Universidade Federal de Viçosa é famosa por sua trajetória na área de Ciências Agrárias, principalmente por ser reconhecida como uma instituição que possui seus alicerces históricos, acadêmicos e científicos fundados nessa grande área do conhecimento. Um exemplo disso é que a UFV está entre as cem melhores universidades do mundo na área de Agricultura e Ciências Florestais, segundo o QS World University Rankings2 2 O QS World University Rankings classifica as melhores universidades do mundo de acordo com 46 áreas e quatro indicadores, que avaliam a reputação acadêmica entre empregadores e o impacto de pesquisas com base em citações. . Na América Latina, ela está entre as dez melhores e é a primeira classificada de Minas Gerais nessa área (QSWUR, 2018QS WORLD UNIVERSITY RANKINGS (QSWUR). Top Universities. Reino Unido, 2018. Disponível em: <Disponível em: https://www.topuniversities.com/university-rankings/world-university-rankings/2018 >. Acesso em: 18 abr 2018.
https://www.topuniversities.com/universi...
).

Tomando como base as experiências acadêmicas dentro da UFV, os entrevistados foram convidados a apontar as principais diferenças em relação às instituições em que fizeram o intercâmbio. Entre as respostas, a que mais se destacou se refere ao fato de as disciplinas no exterior serem menos teóricas e mais práticas, proporcionando uma melhor flexibilidade na carga horária. Além disso, também foram ressaltadas de forma positiva as estruturas físicas das universidades e a maior valorização dos alunos.

O investimento deles nas aulas práticas é muito bom. As disciplinas são mais focadas e mais fáceis do que as disciplinas no Brasil. Acredito que o mercado de trabalho deles absorva profissionais mais específicos, comparando ao mercado brasileiro. Sendo assim, os cursos são mais específicos. Por exemplo, o curso de agronomia lá é dividido em quatro cursos na universidade em que estudei. (Entrevistada 27, Agronomia, bolsista nos EUA).

Embora muitos estudantes tenham destacado como ponto positivo o fato de as disciplinas no exterior serem mais práticas, isso não pode ser entendido como um aspecto negativo para o Brasil, visto que algumas instituições e pesquisadores estrangeiros têm cada vez mais se interessado pelos trabalhos de estudantes brasileiros justamente por possuírem uma carga teórica maior, o que constitui um foco positivo. Inclusive, alguns estudantes defenderam o ensino brasileiro, como é o caso da entrevistada 19 (Engenharia Florestal, bolsista nos EUA):

Ainda temos muito o que aprender academicamente e culturalmente. Mas isso não quer dizer que somos inferiores. Temos uma boa estrada andada e uma coisa que eu sempre enchia a boca para falar é que as melhores universidades do Brasil são gratuitas. Isso já é um ganho enorme para o país.

Ainda sobre a experiência prática, foi questionado se os alunos conseguiram ir a campo durante o intercâmbio. Assim, dos 32 que responderam o questionário, 27 realizaram atividades extracurriculares que possibilitaram a visita ao campo no exterior, seja por meio de estágios, pesquisas ou atividades voluntárias. Portanto, tornou-se pertinente observar como esse espaço é percebido e representado por eles no Brasil e no exterior.

De forma geral, os entrevistados representam o campo brasileiro como um lugar pobre, com baixas oportunidades e quase sem conhecimento técnico. Já no exterior, ele é visto como um espaço valorizado socialmente, com melhores condições de trabalho e maiores investimentos nas propriedades rurais. O entrevistado 21 (Engenharia Florestal, bolsista no Canadá) aponta que o campo no exterior é mais “evoluído” em relação ao brasileiro, pois conta com estradas adequadas que facilitam o escoamento da produção, acomodações maiores para armazenamento e melhor aproveitamento do solo para agricultura baseando-se nas condições de cada local. Outras diferenças também foram observadas:

A definição de agricultura familiar no Brasil refere-se a uma propriedade com baixo nível tecnológico. Já no EUA, mesmo que seja uma propriedade pequena e com apenas mão de obra familiar, são dotadas de maquinário e melhores condições de trabalho. (Entrevistada 9, Zootecnia, bolsista nos EUA).

Por ser da Zootecnia, o que mais me chamou atenção é a organização na produção de leite, carne e derivados, toda a tecnologia é investida mesmo em propriedades de pequeno porte. E há um maior entendimento e busca por conhecimento dos produtores de lá, quando comparados a muitos dos nossos produtores que não possuem escolaridade. (Entrevistada 28, Zootecnia, bolsista na Irlanda).

São realidades completamente diferentes. A educação e outros serviços sociais chegam até o rural Húngaro. As pessoas não precisam mudar para as cidades em busca de serviços básicos. (Entrevistado 23, Agronomia, bolsista na Hungria).

Há de se considerar que a realidade agrícola e industrial dos países desenvolvidos é completamente diferente da dos países em desenvolvimento, como frequentemente é observado no caso dos EUA e do Brasil. Por um lado, encontra-se um país com alto nível de industrialização e de capacidade técnico-científica, resultando em uma agricultura com base mais tecnificada. Por outro, no Brasil as tecnologias e os conhecimentos científicos são disponibilizados basicamente aos grandes proprietários e produtores, que podem arcar com os custos de insumos, maquinários e processo mais sofisticado de produção. Nos relatos, é possível perceber que os estudantes tecem crítica à forma desigual com que a ciência e a tecnologia são disponibilizadas no Brasil.

Representações sobre o Brasil e o exterior

Movidos pela idealização de que o “de fora” é sempre bom, muitos estudantes constroem representações dos países de destino para o intercâmbio antes mesmo de viajarem. Ao vivenciarem a nova experiência, acabam passando por frustrações que podem resultar inclusive na revalorização positiva do Brasil. Grande parte dos entrevistados esperava encontrar melhores condições de vida, principalmente em relação à segurança pessoal. Em alguns casos, essas idealizações se concretizaram de forma positiva, como apontaram estes relatos:

[Eu esperava encontrar um lugar] mais seguro, pessoas mais sérias, vida mais independente, método de ensino um pouco diferente do nosso, grande tolerância com pessoas de outras culturas, visto que a sociedade já é bem mais antiga. Me surpreendi de forma positiva, era realmente da forma que eu pensava. (Entrevistada 25, Engenharia Agrícola e Ambiental, bolsista na Hungria).

Eu imaginei em alguns momentos que seria mais complicado ou mais difícil, devido a diferença cultural e distância do Brasil, porém me deparei com uma experiência muito mais fácil e natural. (Entrevistada 12, Engenharia Florestal, bolsista nos EUA).

Entretanto, mesmo com esses exemplos bem sucedidos, a maioria das respostas indicou para o lado contrário. Os entrevistados 27 e 19 esperavam encontrar a “perfeição” nos Estados Unidos em relação à segurança, limpeza e infraestrutura do país e das instituições de ensino:

Eu pensei que lá seria tudo perfeito, em relação a segurança, limpeza e outros aspectos. Infelizmente, na primeira semana que chegamos no alojamento que iríamos morar uma das minhas amigas foi roubada dentro da própria casa. Essa garota guardou o dinheiro que tinha levado do Brasil dentro do quarto e foi passear, quando voltou o dinheiro tinha desaparecido. Passado algum tempo após esse roubo, fomos avisadas que no complexo que morávamos tinha um homem que perseguia as meninas. Assim, durante todo o período que estive lá foi necessário muito cuidado com segurança pessoal, eu realmente não esperava isso. (Entrevistada 27, Agronomia, bolsista nos EUA).

Eu imaginava que teria mais segurança no local onde fosse morar, mas não foi o que ocorreu. Também pensei que seria mais fácil fazer amizade com os nativos, o que também não foi tão fácil (...) acho que esperava que os alunos de lá tivessem mais interesse do que aqui, porém era na mesma proporção dos estudantes brasileiros. (Entrevistada 19, Engenharia Florestal, bolsista nos EUA).

O exterior, antes uma terra de oportunidades, passa a ser representado como um lugar comum, comparado até mesmo com a realidade brasileira. Apesar de muitas inovações e investimentos, os entrevistados concluíram que outros países também possuem os mesmos problemas do Brasil, como mencionado pela entrevistada 33 (Engenharia Agrícola e Ambiental, bolsista nos EUA):

Percebi que o mundo inteiro é uma grande vila e que em todos os lugares, temos problemas e oportunidades. A ideia de que nos EUA tudo funciona perfeitamente é só uma ilusão. Eles também enfrentam problemas de corrupção, falta de investimento em educação e saúde, violência e outros problemas, como catástrofes naturais, terrorismo, preconceito, etc.

Com a oportunidade proporcionada pelo CsF, os entrevistados construíram uma nova visão sobre o Brasil. A principal representação refere-se a um país promissor, que necessita de melhorias em vários setores, mas que possui grandes chances de se tornar um país desenvolvido, mesmo que projetado para daqui há alguns anos:

O Brasil tem muito a melhorar, principalmente nas áreas de infraestrutura, logística e na política, faltando maior participação da sociedade em geral na construção da democracia. No entanto, temos sistemas públicos de saúde e educação, que ainda que sejam ineficientes, são muito mais abrangentes que nos EUA. A legislação trabalhista do Brasil é muito pró-trabalhador e a forma como o Brasil conserva seus recursos naturais é impressionante. Temos muito ainda para avançar em muitas áreas, mas no que tange à agricultura, somos referência no exterior e isso é motivo de orgulho. (Entrevistada 33, Engenharia Agrícola e Ambiental, bolsista nos EUA).

O nosso país apesar de estar em crescimento não é muito reconhecido ou, quando é, é comparado como um grande rival. Muitos não sabem nada sobre a nossa cultura, quais tipos de tecnologia desenvolvemos aqui, qual o nosso grau de interação com o mercado e a sociedade em si. O que me deixou muito triste, pois a imagem que tive é que para os países europeus não somos quase nada. Essa visão me fez ter mais orgulho das minhas raízes, independente de tudo o que vemos de errado no nosso país. Se nós não começarmos a reconhecer nosso potencial e quem realmente somos, não seremos capazes de nos impor de forma a fazer diferença no “mundo deles”. (Entrevistada 28, Zootecnia, bolsista na Irlanda).

A consideração da entrevistada 28 remete-nos à conhecida análise do escritor Rodrigues (1993RODRIGUES, N. Complexo de vira-latas. In: RODRIGUES, N. À sombra das chuteiras imortais. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 51-52.), ao se referir ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a seleção brasileira de futebol foi derrotada pela uruguaia na final da Copa do Mundo, no Maracanã. Segundo ele, o Brasil só teria se recuperado do trauma em 1958, pelo menos no campo futebolístico, quando ganhou a Copa do Mundo pela primeira vez. Em sua análise, ele criou a expressão “complexo de vira-latas”:

Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos "os maiores" é uma cínica inverdade (...) eu vos digo: - o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender. (Rodrigues, 1993RODRIGUES, N. Complexo de vira-latas. In: RODRIGUES, N. À sombra das chuteiras imortais. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 51-52.).

O autor considera que o portador da “síndrome de vira-lata” despreza a realidade aqui encontrada e idolatra a de outros países, principalmente a de grandes potências mundiais, mesmo sem conhecê-las. Isso resulta na construção de representações estereotipadas tanto do Brasil quanto do exterior.

Considerações finais

Este estudo teve como propósito analisar as representações que os bolsistas do Programa Ciência sem Fronteiras, vinculados ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa, fazem sobre o Brasil e o exterior, antes e após a oportunidade de conhecerem diversas culturas por meio do intercâmbio acadêmico internacional. Com os dados obtidos nas entrevistas, criaram-se quatro categorias de análise.

A primeira considera o processo de adaptação dos estudantes à nova realidade. Mesmo com todas as mudanças, esse processo foi considerado tranquilo para boa parte dos entrevistados e apenas cinco relataram estranhamento em relação à alimentação dos países de destino. Outra situação exposta foi que alguns bolsistas passaram pela experiência do preconceito ligado à etnia, ao gênero, à origem e às dificuldades idiomáticas.

A segunda categoria diz respeito às experiências internacionais dos bolsistas antes e após o programa. A pesquisa mostrou que para mais da metade dos participantes o intercâmbio acadêmico internacional já era cogitado como um campo de possibilidades. Alunos com experiência internacional anterior tiveram menos dificuldades de adaptação linguística e cultural. No caso dos bolsistas que não tiveram essa experiência previamente, o CsF acabou proporcionando possibilidades inéditas para que eles conhecessem, além do país de destino, diversos outros países. Isso porque algumas instituições estrangeiras tinham uma carga horária flexível, permitindo o aproveitamento do tempo livre com deslocamentos por períodos curtos.

Considerando que a Universidade Federal de Viçosa possui uma trajetória na área de Ciências Agrárias, a terceira categoria se propôs a analisar como os entrevistados percebem as principais diferenças em relação a essa área do conhecimento nas instituições em que fizeram o intercâmbio e na instituição de origem. Entre as respostas, as que mais se destacaram foram foco mais prático das disciplinas cursadas no exterior, melhor flexibilidade na carga horária e boa estrutura física e organizacional das universidades estrangeiras, que acaba valorizando mais os alunos. A partir disso, tornou-se pertinente observar como o meio rural, tanto o brasileiro quanto o estrangeiro, é percebido e representado pelos entrevistados. De modo geral, os alunos representam o rural brasileiro de forma negativa - como lugar pobre, com poucas oportunidades e atrasado em termos tecnológicos. Já no exterior, o campo é visto como um lugar valorizado, com melhores condições de trabalho e investimentos nas propriedades rurais, o que traz impactos positivos na qualidade de vida dos moradores e trabalhadores rurais.

A última categoria abarca as representações dos bolsistas sobre o Brasil e o exterior, antes e após participarem do Programa Ciência sem Fronteiras. No início, esperavam encontrar melhores condições de vida, infraestrutura adequada aos interesses da comunidade e maior segurança nas cidades e instituições de ensino. Em alguns casos, essas idealizações foram confirmadas, mas para boa parte dos entrevistados a experiência se traduziu em frustrações que fizeram os bolsistas repensarem o atual cenário brasileiro. O exterior passou a ser representado como um lugar que possui os mesmos problemas do Brasil, por exemplo, a corrupção, a violência, a falta de investimento em educação e saúde, entre outros.

Mesmo com essa ressignificação tanto do Brasil quanto do exterior, foi possível perceber que uma representação ainda permanece entre os bolsistas: a do Brasil como um país promissor, do futuro. Boa parte dos entrevistados, ao apontar as falhas do nosso país, acabou ressaltando a necessidade de melhorias futuras, como quem dissesse que “um dia, talvez, o Brasil se torne esse país desenvolvido que todos almejam”. Entretanto, essa representação já perdura há tempos no imaginário do brasileiro e torna cristalizada a defasagem entre nós e os outros. Assim, apesar de perceberem e relativizarem as similaridades dos problemas sociais, econômicos, tecnológicos e culturais verificados no Brasil e nos demais países, os beneficiários do CsF, mesmo após a experiência da mobilidade acadêmica internacional, representam o seu país como um projeto a ser construído, desvalorizando-se o tempo presente.

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  • 1
    As transcrições aqui apresentadas respeitaram a forma textual utilizada pelos alunos participantes da pesquisa.
  • 2
    O QS World University Rankings classifica as melhores universidades do mundo de acordo com 46 áreas e quatro indicadores, que avaliam a reputação acadêmica entre empregadores e o impacto de pesquisas com base em citações.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jan 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    05 Nov 2018
  • Aceito
    16 Out 2019
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