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APRENDIZADOS COM A CATÁSTROFE CLIMÁTICA (EX 9,13-35)

Learnings from the Climatic Catastrophe (Ex 9,13-35)

RESUMO

Extremos meteorológicos e/ou catástrofes climáticas são experiências cada vez mais frequentes. No livro do Êxodo, uma forte chuva de granizo, acompanhada de estrondos e fogo lampejante, torna-se econarratividade (Ex 9,13-35). A partir de estudos poéticos e temáticos desse episódio exodal, os quais conseguem trazer observações novas, a presente investigação visa, sobretudo, ao diálogo entre as dimensões ecoteológicas inerentes à narrativa bíblica e as questões ambientais que, atualmente, afligem a humanidade. Com isso, o Artigo se propõe a gerar resultados inovadores tanto para a Teologia cristã, que, ao dedicar-se à questão ecológica, ainda carece de fundamentações bíblicas mais abrangentes, quanto para o Brasil, que, em vista de seu futuro, precisa encontrar-se com a questão ambiental, em especial o clima.

PALAVRAS-CHAVE
Pentateuco; Econarratividade exodal; Catástrofe climática

ABSTRACT

Meteorological extremes and/or climatic catastrophes are increasingly frequent experiences. In the Book of Exodus, a strong hailstorm, accompanied by thunder and lightning, becomes an eco-narrative (Ex 9:13-35). From poetic and thematic studies of this exodal episode, which manage to bring new observations, the present investigation aims, above all, at the dialogue between the eco-theological dimensions inherent in the biblical narrative and the environmental issues that currently afflict humanity. With this, the article proposes to generate innovative results both for Christian Theology, which by dedicating itself to the ecological issue still lacks more extensive biblical foundations, and for Brazil, which in view of its future needs to deal with the environmental issue, especially the climate.

KEYWORDS
Pentateuch; Exodal econarrativity; Climatic catastrophe

Introdução

As mudanças climáticas, em princípio, são hoje a maior preocupação da humanidade, sobretudo o aumento da temperatura no planeta terra. Publicado no dia 7 de agosto de 2021, o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que é um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), de forma clara e científica, dá destaque às consequências provocadas pelas mudanças climáticas, sendo que estas se tornam visíveis no mundo inteiro, inclusive no Brasil (IPCC, 2021INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE . Sixth Assessment Report (AR6), 2021. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/#SPM. Acesso em: 31 dez. 2021.
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). Urge, portanto, reconhecer suas causas no comportamento humano e iniciar um processo abrangente de aprendizagem.

Ao observar as forças no meio da natureza e o tamanho das destruições provocadas por extremos meteorológicos, o ser humano se assusta. Por alguns momentos, parece diminuir a sensação e/ou a convicção de que, ao ser humano, caiba um maior domínio ou senhorio sobre a terra. Paradigmas de longa data precisam ser reformulados. No caso, as catástrofes naturais já não podem mais ser vistas como algo que, simplesmente, “pertence” à terra, mas é preciso observar nelas uma “intromissão da gaia” (STENGERS, 2015STENGERS, I. In Catastrophic Times. Resisting the Coming Barbarism. London: Open Humanities Press; Meson Press, 2015., p. 43-44). Ou seja, a terra parece reagir ao comportamento dos seres humanos. Enfim, os estudos científicos detectam causalidades, como entre a poluição crescente, o aquecimento da temperatura global e os acontecimentos meteorológicos extremos. De acordo com a Encíclica Laudato Si´, do Papa Francisco (2015)FRANCISCO, Papa. Laudato Si´ sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015., vislumbra-se que “este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e de uma destruição sem precedentes dos ecossistemas” (LS, n. 24).

Justamente nos momentos em que o ser humano se sente mais ameaçado em sua sobrevivência, porém, a crise parece permitir uma busca diferenciada da verdade. Trata-se de uma oportunidade de descobrir quem e/ou o que é justo. E tal experiência, repetidamente, é transformada em arte. Eis também o caso da narrativa em Ex 9,13-35, quando o ouvinte-leitor se encontra, no segundo livro do Pentateuco, com o episódio da sétima praga sofrida pelo faraó, pelos servos deste e pelo povo egípcio. Visa-se a uma catástrofe climática, com granizo, trovões, lampejos de fogo e chuva.

A proposta específica neste estudo é descrever as econarratividades exodais inerentes ao texto bíblico em Ex 9,13-35. Para isso, é preciso ler a narrativa milenar de perto, algo que inclui estudos literário-estilísticos. Afinal, trata-se de uma narrativa poética, originalmente composta em hebraico, a qual, como arte literária, promove uma reflexão teológica a partir de um olhar para uma tempestade. Todavia, em termos metodológicos, o presente estudo nasce no contexto das pesquisas exegéticas comumente realizadas no mundo acadêmico da Teologia e acolhe, em especial, elementos da análise narrativa.1 1 No que se refere ao método da análise narrativa, os estudos de SEYBOLD (2006), BAR-EFRAT (2006) e SKA (2000) constituem as referências básicas. Econarratividade, aqui, diz respeito às narrativas que abrangem a complexidade da vida (flora e fauna) e os fatores que a determinam (água, ar, solo e calor), sem defender um domínio violento do ser humano sobre a natureza, mas visando a convivências harmoniosas.

Em relação à temática, os atuais debates sobre as questões ecológicas e, em especial, sobre o clima favorecem o estudo da sabedoria profética pertencente à cultura religiosa do Israel bíblico. No entanto, o estudo aqui apresentado limita-se à investigação de um só texto bíblico a partir da perspectiva hermenêutica da ecologia. Com isso, aos “enfoques recentes para o estudo do Êxodo” (MARKL, 2021MARKL, D. Enfoques recientes para el estudio del éxodo. In: RUIZ, E. R. 80 años de exégesis bíblica en América Latina. Actas del Congreso Internacional de Estudios Bíblicos organizado con ocasión de 80º aniversario de Revista Bíblica, Buenos Aires, 16 al 10 de julio de 2019. Madrid: Asociación Bíblica Argentina; Editorial Verbo Divino, 2021. p. 223-234., p. 223), os quais, em princípio, são teocêntricos e/ou antropocêntricos, acrescenta-se o olhar atento para o ambiente. Em geral, pois, quando, na literatura bíblica, ocorrem referências a espaços geográficos, fenômenos atmosféricos e/ou meteorológicos, elementos abióticos (ar, água, solo, calor), fauna e flora, essas ainda correm o risco de serem avaliadas como meramente ilustrativas e, portanto, secundárias. Formula-se, porém, aqui, a hipótese de que esses textos milenares, sobremodo, valorizam os seres que coexistem com o ser humano neste mundo.2 2 Há cinquenta anos que a questão ambiental ganha espaço nos estudos bíblicos, sendo que “qualquer livro publicado antes de 1970 contém poucas ou nenhuma informação sobre a visão da Bíblia em relação à natureza e sobre o papel do ambiente de Israel na formação da religião e cultura dele” (SIMKINS, 1994, p. 1).

Seja ainda dito que o presente estudo surge consciente de que também o Brasil está diante da tarefa de iniciar um processo de transformação ecológica. Isso também inclui aprendizados junto aos extremos do clima, sendo que estes provocam prejuízos econômicos e danos irreparáveis a todos os seres vivos: vegetais, animais e seres humanos. Somente com a preservação do ambiente, guardando o princípio da sustentabilidade, haverá um futuro bom para todos. Muitas vezes, por sua vez, decisões e atitudes práticas das pessoas dependem justamente daquilo em que estas últimas põem a sua fé. Por isso, cada estudo de um texto bíblico também é uma oportunidade de um discernimento maior em vista daquilo que se acredita ser a palavra de Deus.

1 Texto e configuração poética

Antes de tudo, é preciso ouvir ou ler a narrativa bíblica em questão. Eis uma tradução do texto hebraico em Ex 9,13-35, a qual visa à literalidade e à preservação dos paralelismos:3 3 Todos os textos citados da Bíblia Hebraica são apresentados com tradução própria, tendo como fonte a edição crítica da Biblia Hebraica Stuttgartensia (ELLIGER; RUDOLPH, 1997).

13 O Senhor disse a Moisés: “Levanta-te logo de manhã e posiciona-te diante do faraó! Dize-lhe: ‘Assim disse o Senhor, o Deus dos hebreus: Solta meu povo, para que me sirva! 14 De fato, desta vez, eu enviarei todas as minhas pragas até teu coração, a teus servos e a teu povo, para que saibas que, em toda a terra, não existe ninguém semelhante a mim. 15 Porque agora poderia ter enviado minha mão e ferido com a peste a ti e a teu povo, e terias sido eliminado da terra. 16 Contudo, eu te fiz permanecer para te fazer ver meu poder, a fim de registrar meu nome em toda a terra. 17 Ainda procedes altivamente contra meu povo, sem soltá-lo. 18 Eis que amanhã, neste horário, farei chover um granizo muito pesado, como não houve no Egito desde o dia de sua fundação até hoje. 19 Manda recolher agora tua propriedade, tudo que é teu no campo! Todo ser humano e o gado que se encontrarem no campo e não forem reunidos dentro da casa, ao cair sobre eles o granizo, morrerão’”.

20 Quem dos servos do faraó temia a palavra do Senhor fugiu, com seus servos e com sua propriedade, para dentro das casas. 21 Quem, porém, não pôs seu coração na palavra do Senhor abandonou seus servos e sua propriedade no campo.

22 O Senhor disse a Moisés: “Estende tua mão aos céus, para que haja granizo em toda a terra do Egito, sobre o ser humano, sobre o gado e sobre cada erva do campo na terra do Egito!”

23 Moisés, então, estendeu seu cajado aos céus, e o Senhor proporcionou trovoadas e granizo. Um fogo foi até a terra, e o Senhor fez chover granizo sobre a terra do Egito. 24 Houve granizo e fogo lampejando em meio ao granizo. Era muito pesado. Jamais houvera igual a ele em toda a terra do Egito, desde que se tornara uma nação. 25 Em toda a terra do Egito, o granizo feriu tudo o que estava no campo, desde o ser humano até o gado. O granizo feriu cada erva no campo. Toda árvore no campo quebrou. 26 Somente na terra de Gósen não houve granizo, pois ali estavam os filhos de Israel.

27 O faraó mandou chamar Moisés e Aarão. Disse-lhes: “Pequei desta vez. O Senhor é o justo. Eu e meu povo somos os perversos. 28 Rogai ao Senhor, pois as trovoadas de Deus e o granizo são suficientes! Então vos soltarei. Não continuareis parados”. 29 Moisés lhe disse: “Quando eu sair da cidade, estenderei as palmas de minhas mãos ao Senhor. As trovoadas cessarão, e não haverá mais o granizo, para que saibas que a terra é do Senhor. 30 Quanto a ti e a teus servos, soube que ainda não temeis o Senhor Deus”.

31 O linho e a cevada foram feridos, porque a cevada estava com espigas, e o linho, com botão. 32 O trigo e o centeio, porém, não foram feridos, porque eles são tardios. 33 Moisés, pois, saiu de junto do faraó e da cidade e estendeu as palmas de suas mãos ao Senhor. Cessaram as trovoadas e o granizo. Não se derramou chuva em direção à terra. 34 Então o faraó viu que a chuva tinha cessado, assim como o granizo e as trovoadas. Continuou a pecar e deu peso a seu coração. Ele e seus servos. 35 O coração do faraó se fez forte. E não soltou os filhos de Israel, conforme o Senhor falara por Moisés.

O episódio pertence ao livro do Êxodo. Dentro do ciclo narrativo das dez pragas sofridas pelos egípcios (Ex 7,14–11,10; 12,29-36), trata-se da sétima. Existe “a convenção literária” de uma série formada por dez elementos encontrar seu “clímax duplo” na sétima e na décima unidade (NOEGEL, 1995NOEGEL, S. B. The Significance of the Seventh Plague. Biblica, Roma, v. 76, n. 4, p. 532-539, out./dez. 1995., p. 539). Portanto, com o episódio de Ex 9,13-35, o ouvinte-leitor chega ao primeiro ponto auge na apresentação das dez pragas. Além disso, o livro do Êxodo permite descobrir uma “estruturação da narrativa das pragas em três ciclos de três episódios, aos quais se junta o décimo episódio como conclusão e transição (3+3+3+1)” (UTZSCHNEIDER; OSWALD, 2013UTZSCHNEIDER, H.; OSWALD, W. Exodus 1–15. Stuttgart: Kohlhammer, 2013., p. 189). A última série de três episódios (Ex 9,13–10,29) traz as catástrofes mais abrangentes, sendo que, com vinte e três versículos, o episódio em Ex 9,13-35 é o mais extenso. No que se refere ao episódio sobre a tempestade de granizo, sua “descrição é mais detalhada do que nas pragas anteriores” (HOUTMAN, 1996HOUTMAN, C. Exodus. Kampen: Kok, 1996. v. 2., p. 80).

Seis cenas formam a narrativa em questão. Três delas nascem de discursos diretos (v. 13-19.22.27-30). As outras três são trechos de narração (v. 20-21.23-26.31-35). Escuta-se somente a voz do narrador, o qual noticia os acontecimentos. Ou seja, de forma rítmica (a-b, a-b, a-b), alternam-se, de um lado, dois monólogos e um diálogo, e, de outro, as narrações em relação às ocorrências no meio da natureza, causando, assim, a impressão de que aquilo que é dito se cumpre.

Diversos elementos provocam a impressão de que a narrativa em Ex 9,13-35, literariamente, é uniforme. No final dela ocorrem diversas referências ao que foi narrado no início. No caso, a oração subordinada “como o Senhor falara a Moisés” (v. 35) recorda o início, onde tudo começa com as palavras “o Senhor disse a Moisés” (v. 13). Semelhantemente, a notícia final a respeito do faraó – “E não enviou os filhos de Israel” (v. 35) – espelha a ordem divina inicial – “Envia meu povo!” (v. 13). Além disso, as duas observações a respeito do coração do opressor egípcio no final da narrativa – “Deu peso a seu coração” (v. 34) e “O coração do faraó se fez forte” (v. 35) – correspondem ao que Deus afirma no início – “Eu enviarei todas as minhas pragas até teu coração” (v. 14). Nitidamente, a narrativa encontra-se emoldurada.

Em especial, por sua vez, a repetição de uma série de vocábulos de acordo com números significativos, assim como a construção de campos semânticos conforme os mesmos números simbólicos, confere maior uniformidade à narrativa. Isto é, como ocorre comumente nos escritos da Bíblia Hebraica, especialmente nas narrativas sobre as pragas egípcias, “a tendência a esquemas numéricos baseados no número sete e no sistema sexagenal é observável” (CASSUTO, 1997CASSUTO, U. A Commentary on the Book of Exodus. Jerusalem: Magness Press, 1997., p. 135). Inicialmente, é possível observar como o tetragrama, traduzido como “Senhor”, aparece catorze – duas vezes sete! – vezes (v. 132x.20.21.22.232x.27.28.292x.30.33.35) e o nome de “Moisés”, sete vezes (v. 13.22.23.27.29.33.35). Semelhantemente, o adjetivo “todo” ou o pronome indefinido “tudo”, que é a mesma palavra em hebraico, aparece doze vezes com sua função hiperbólica (v. 142x.16.192x.222x.24.254x).4 4 Enquanto o número sete traz consigo a conotação da completude – ver a semana formada por sete dias –, o número oito (sete mais um!) talvez indique algo visto como mais que perfeito. Nesse sentido, no texto hebraico de Ex 9,13-35, uma mesma raiz verbal, traduzida aqui como “enviar”, “estender”, “soltar” e “mandar” (v. 13.14.15.17.19.27.28.35), é usada oito vezes. Enfim, existem momentos nos quais, ao traduzir um texto bíblico, não é possível guardar todos os paralelismos.

Em vista da temática investigada neste Artigo, por sua vez, o interesse se dirige, de um lado, ao vocabulário referente ao clima e, de outro, à fauna e flora. No caso, chama atenção que o substantivo “granizo” (v. 18.19.22.232x.242x.252x.26.28.29.33.34) aparece, justamente, “catorze vezes, duas vezes sete” (NOEGEL, 1995NOEGEL, S. B. The Significance of the Seventh Plague. Biblica, Roma, v. 76, n. 4, p. 532-539, out./dez. 1995., p. 538). Contudo, outras observações podem completar esse quadro. Ao juntar os vocábulos traduzidos como “trovoadas” (v. 23.28.29.33.34) – cinco vezes –, “fogo” (v. 23.24), no sentido de relâmpago – duas vezes –, “chuva” (v. 33.34) – duas vezes –, “chover” (v. 18.23) – duas vezes – e “derramar-se” (v. 33) – uma vez –, alcança-se uma lista formada por quatro vocábulos – também em hebraico, “chuva” e “chover” provêm da mesma raiz – com doze menções, todos eles, de forma direta, palavras indicadoras do extremo meteorológico.

Algo semelhante ocorre também com os vegetais e animais. Eis o conjunto dos vocábulos que, juntamente, visam doze vezes à flora: “erva”, isto é, a relva em geral, no sentido de vegetais herbáceos (v. 22.25), “árvore”, isto é, o vegetal lenhoso (v. 25), “linho” (v. 312x), “cevada” (v. 312x), “trigo” (v. 32), “centeio” (v. 32), “espiga” (v. 31), “botão” (v. 31) e “tardios” (v. 32). Além disso, a narrativa se refere seis vezes aos animais: “propriedade”, no sentido de manada ou animais adquiridos (v. 19.20.21), e “gado” (v. 19.22.25). Junto a isso também é chamativo que a “terra” (v. 14.15.16.222x.232x.24.25.26.29.33) é mencionada justamente doze vezes e o “campo” (v. 192x.21.22.253x), sete vezes.

Enfim, sem poder controlar se todos esses números foram planejados no momento em que a narrativa em Ex 9,13-35 foi configurada, observa-se que o milenar texto bíblico, de forma artística e maciça, insiste na questão ecológica. O episódio gira, centralmente, em torno da catástrofe climática que, em determinado momento, atinge mortalmente seres humanos, animais e vegetais.

2 Estudo temático

Extremos meteorológicos, além de ameaçarem todos os seres em sua sobrevivência, provocam amplas reflexões. Ex 9,13-35 é um testemunho literário desse processo. Ora se detecta a gravidade da catástrofe, ora se visa à possibilidade de sobrevivência. Existe a questão em relação às causas humanas da tempestade e, com isso, à eventual evitação desse tipo de acontecimento no futuro. E, além disso, o desastre provoca a reflexão sobre Deus. Enfim, o que aprender com a catástrofe climática?

2.1 A gravidade da catástrofe

A narrativa em Ex 9,13-35 apresenta um cenário que, de forma intensa, acolhe uma “experiência espantosa do tempo” (FRETHEIM, 1991FRETHEIM, T. E. The Plagues as Ecological Signs of Historical Disaster. Journal of Biblical Literature, Atlanta, v. 110, n. 3, p. 385-396, jul./set. 1991., p. 391). A tempestade ímpar nasce de diversos elementos. De um lado, “derrama-se” (v. 33) “chuva” (v. 33.34) e, em especial, “chove” (v. 18.23) “granizo” (v. 18.19.22.232x.242x.252x.26.28.29.33.34). Este último é descrito como “muito pesado” (v. 18.24). Trata-se de granizo que “fere” (v. 252x.31.32) os seres por ele atingidos e/ou os “quebra” (v. 25). “Morre todo aquele sobre quem desce o granizo” (v. 19). Além disso, “trovões” (v. 23.28.29.33.34) e “fogo” (v. 23.24) acompanham a tempestade dos pedregulhos de gelo. O último desses dois elementos indica os relâmpagos que, ao “irem até a terra” (v. 23), são experimentados como fogo, sendo este “o efeito dos raios que atingem a terra” (SILVA, 2006SILVA, C. M. D. Aquele que manda a chuva sobre a face da terra. São Paulo: Loyola, 2006., p. 235). Além disso, enquanto, em hebraico, os relâmpagos literalmente “se pegam”, isto é, “lampejam” no ar, eles também têm aparência de “fogo” (v. 24). Enfim, ocorre “um duradouro e selvagem temporal de granizo, marcado por repetidos estrondos de trovões e continuados relâmpagos flamejantes” (SARNA, 1991SARNA, N. M. Exodus. Philadelphia: Jewish Publication Society, 1991., p. 46). Em relação às dez pragas que atingem o Egito (Ex 7,14–11,10; 12,29-36), “nenhuma outra praga conta com tantos fenômenos ao mesmo tempo” (ANDIÑACH, 2010ANDIÑACH, P. R. O Livro do Êxodo: um comentário exegético-teológico. São Leopoldo: Sinodal, 2010., p. 137). De fato, não parece ser uma só praga, mas, de acordo com a narrativa, “todas as pragas” (v. 14).

Surpreende igualmente a abrangência geográfica com a qual a catástrofe climática atinge a região: “Há granizo em toda a terra do Egito” (v. 22.24.25). No entanto, como no momento da quarta praga das moscas, “a terra de Gósen” (v. 26; Ex 8,18) escapa do desastre. Confirma-se, de forma irônica, que essa “região em torno do Uádi Tumilate”, isto é, “a vigésima província do Egito baixo” (THEIS, 2020THEIS, C. Goschen. In: Das wissenschaftliche Bibellexikon im Internet (WiBiLex). Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 2020. Disponível em: http://www.bibelwissenschaft.de/stichwort/19880/. Acesso: 07 jan. 2022.
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, p. 2), no leste do delta do rio Nilo, é a “melhor terra” em relação à “terra do Egito” (Gn 47,6). Enfim, desde a decisão do faraó no tempo de José, “ali estão os filhos de Israel” (v. 26; Gn 47,1-12).

Ainda sob outros aspectos, o episódio em Ex 9,13-25 destaca a catástrofe em questão como ímpar. Há um extremo meteorológico, isto é, a tempestade de granizo atinge os diversos seres que estão no campo: o “ser humano” (v. 19.22.25); o “gado” (v. 19.22.25), considerando que o vocábulo hebraico traduzido assim inclui todos “animais domésticos” (RIEDE, 2002RIEDE, P. Im Spiegel der Tiere. Studien zum Verhältnis von Mensch und Tier im alten Israel. Freiburg; Göttingen: Universitätsverlag Freiburg; Vandenhoeck & Ruprecht, 2002., p. 292) – aliás, também a palavra hebraica traduzida por “propriedade” (v. 19.20.21) refere-se, sobretudo, aos animais adquiridos como posse –; as plantas baixas, isto é, as “ervas” (v. 22.25) – em especial, a narrativa visa ao “linho” (v. 312x), com seu “botão” (v. 31), e à “cevada” (v. 312x), com sua “espiga” (v. 31) –; as “árvores” (v. 25). As sete presenças do vocábulo “campo” (v. 192x.21.22.253x), de modo poeticamente realçado, parecem indicar que a vida campestre é atingida em sua completude, ou seja, em todas as suas dimensões.

No mais, ao acompanhar a sequência das pragas egípcias (Ex 7,14–11,10; 12,29-36), “junto aos animais, morrem pela primeira vez muitos seres humanos” (ALBERTZ, 2012ALBERTZ, R. Exodus 1–18. Zurique: Theologischer Verlag Zürich, 2012., p. 177). Quer dizer, após as diversas catástrofes ambientais terem atingido “peixes” (Ex 7,18.21), “rãs” (Ex 8,9), “cavalos” (Ex 9,3), “jumentos” (Ex 9,3), “camelos” (Ex 9,3), “gado grande” (Ex 9,3) e “gado pequeno” (Ex 9,3), também a chuva de granizo elimina seres vivos. Dessa vez, no entanto, a morte não se limita a um setor. Pelo contrário, “a calamidade destrói seres humanos, animais e vegetação”, sendo que, outra vez, faz sentido que o texto bíblico, no v. 14, “use a palavra ‘praga’ em sua forma plural” (MEYERS, 2005MEYERS, C. Exodus. Cambridge: University Press, 2005., p. 85). Além disso, é possível imaginar que o desastre no campo também atinja a vida na cidade, embora isso não seja narrado diretamente. Contudo, vale lembrar em relação ao “linho” (v. 312x) que “os níveis mais altos da sociedade egípcia e, especialmente, a classe sacerdotal raramente vestem outro tipo de roupa” (NOEGEL, 1995NOEGEL, S. B. The Significance of the Seventh Plague. Biblica, Roma, v. 76, n. 4, p. 532-539, out./dez. 1995., p. 536). Algo semelhante vale em vista da produção de alimentos.

Finalmente, para descrever as dimensões destrutivas e realçar a incomparabilidade da chuva de granizo, a narrativa bíblica em Ex 9,13-35 dirige seu olhar à história do Egito. Procura comparar o extremo meteorológico atual a algo ocorrido no passado, mas não encontra nada. “Nada igual a isso houve no Egito desde o dia de sua fundação” (v. 18), “desde que se tornara uma nação” (v. 24). Enfim, sabendo-se do nascimento do estado egípcio no início do terceiro milênio antes de Cristo e, com isso, da história imensa da sociedade faraônica, os superlativos encontrados para dimensionar a catástrofe climática não poderiam ser maiores.

2.2 Causas humanas

A narrativa poética em Ex 9,13-35 reflete sobre as relações que existem entre o comportamento humano e a catástrofe ambiental. Em especial, as palavras do faraó causam essa impressão. Eis o que o governador egípcio chega a afirmar diante das dramáticas devastações: “Pequei desta vez! Eu e meu povo somos perversos!” (v. 27).

O faraó se declara culpado. “De um lado, isso é novo; de outro, incompleto” (FISCHER; MARKL, 2009FISCHER, G.; MARKL, D. Das Buch Exodus. Stuttgart: Katholisches Bibelwerk, 2009., p. 117). No caso, a narrativa exodal deixa claro que a pecaminosidade das decisões do rei do Egito é algo constante e estrutural. Inicialmente, de acordo com Ex 1,8-14, “o faraó, com um discurso recheado de elementos demagógicos, consegue motivar o seu povo a impor, a outro grupo étnico, um regime repressivo marcado pela servidão dura” (GRENZER, 2014GRENZER, M. O fracasso da política de opressão violenta (Êxodo 1,8-14). Horizonte, Belo Horizonte, v. 12, n. 33, p. 141-163, jan./mar. 2014., p. 161). Mais tarde, ao dar continuidade a essa mesma “sabedoria” palaciana (Ex 1,10), o rei do Egito avalia os por ele curvados como “preguiçosos” (Ex 5,17) e aumenta as exigências do trabalho forçado. E, embora “desta vez” o rei do Egito se diga “pecador” (v. 27; cf. Ex 10,16), logo ao sentir algum alívio após a superação da catástrofe, ele “continua a pecar” (v. 34). Portanto, em nenhum momento, o opressor chega a compreender que o povo por ele injustiçado precisa, inteiramente, voltar a ser livre.

O faraó, porém, não está sozinho. Existe o “povo” (v. 14.15.27) dele. Em primeiro lugar, é preciso pensar naqueles que, mais de perto e mais diretamente, estão a serviço do governante. No entanto, todos se encontram subjugados ao faraó e, em princípio, estão a serviço dele. Eis os momentos em que o ouvinte-leitor da narrativa exodal se encontra com o personagem em questão: há o “povo” ao qual o faraó fala e com o qual se identifica ao usar o pronome “nós” (Ex 1,9-10), sendo que, do meio deste povo, surgem os “comandantes dos trabalhos forçados” (Ex 1,11), ou seja, os “egípcios” que, “com brutalidade, impõem os serviços” (Ex 1,13) aos que se encontram subjugados ao regime opressivo; semelhantemente, “todo o povo” recebe a “ordem” faraônica de “lançar no rio os meninos hebreus recém-nascidos” (Ex 1,22); existe o “homem egípcio” capaz de “ferir um homem hebreu” (Ex 2,11); além disso, há os “capatazes” (Ex 3,7; 5,6.10.13) “do faraó” (Ex 5,14), que são controladores do rendimento dos trabalhadores forçados e estão preparados para “ferir” ou mandar “ferir”, inclusive, “os inspetores dos filhos de Israel” (Ex 5,15-16); há, também, os “sábios” e “feiticeiros” (Ex 7,11), ou seja, os “magos egípcios” com suas “ciências ocultas”, companheiros constantes do faraó na corte (Ex 7,11.22; 8,3.14.15; 9,112x); no mais, existem os demais “servos do faraó” (Ex 7,10.20.28.29; 8,5.7.17.20.25.27; 9,14.20.30.34; 10,1.6.7; 11,3.8; 12,30; 14,5), em especial, o “povo” do “exército” egípcio (Ex 14,6.9.28), com seus “oficiais” (Ex 14,7) e “condutores” dos carros de guerra (Ex 14,9.23.28).

Diante desse contexto sociocultural tão abrangente, a narrativa exodal visa ao “povo” que, por aderir à política promovida pelo “faraó”, com este último torna-se “perverso” (v. 27). No caso, o rei do Egito, em seu discurso direto, não define mais exatamente se ele se refere a um grupo específico no meio do povo ou à toda a sociedade egípcia. “Perversidade” ou “impiedade”, por sua vez, ocorre, sobretudo, onde “se trama contra o justo” (Sl 37,12) e “se faz cair o oprimido e pobre” (Sl 37,14). Nesse sentido, é interessante observar como o próprio livro do Êxodo oferece destaque a algumas personagens resistentes às ordens do faraó. Ora se trata das “parteiras das hebreias”, que, talvez como egípcias, salvam a vida dos meninos hebreus após o nascimento deles (Ex 1,15-22). Ora são a “filha do faraó” e as “criadas dela”, que salvam a criancinha Moisés (Ex 2,1-10). Ora se visa às “vizinhas” e “hospedeiras” das famílias hebreias (Ex 3,22), ou aos “egípcios” em geral (Ex 12,36), enquanto, como “companheiros” e “companheiras” (Ex 11,2), “se comiseram” e realizam “a transferência de bens materiais” para “quem deve enfrentar o caminho à liberdade” (GRENZER; DE PAULA, 2020GRENZER, M.; DE PAULA, P. C. A libertação dos egípcios (Ex 3,22; 12,36). Interações, Belo Horizonte, v. 15, n. 1, p. 167-177, jan./jun. 2020., p. 175). Além disso, há também o episódio sobre a tempestade de granizo, no qual, entre “os servos do faraó”, há aquele que é “temente” ou “respeitoso à palavra do Senhor” (v. 20), assumindo, portanto, uma postura contrária à “perversidade” favorecida pelo faraó e por seu “povo” (v. 27).

A questão, em princípio, não é a qual povo ou nação alguém pertence. Assim como o “faraó” (v. 27; Ex 10,16), “seus servos” (v. 34) e/ou seu “povo” (Ex 5,16) chegam a “pecar”, também o povo israelita corre o perigo de “pecar” (Ex 20,20; 23,33; 32,30.31.33). Mais importante é descobrir como “o desenvolvimento narrativo em Ex 1–15” visa a um “conflito” que gira em torno da “opressão social e política” (KESSLER, 2002KESSLER, R. Die Ägyptenbilder der Hebräischen Bibel. Ein Beitrag zur neueren Monotheismusdebatte. Stuttgart: Katholisches Bibelwerk, 2002., p. 109). E isso também é importante para a temática estudada aqui. No caso, a narrativa em Ex 9,13-35 estabelece uma relação entre as políticas opressivas que partem do faraó e os acontecimentos no meio da natureza, isto é, a catástrofe climática. Diante do extremo meteorológico, o faraó descobre o quanto “ele e seu povo são perversos” (v. 27). Ou seja, vislumbra-se o quanto o desastre é socioambiental.

Resumindo: “no antigo Egito, apesar dos ocasionais desastres ambientais, nunca se questiona a harmonia entre Estado e natureza”, sendo que “o Estado é idêntico ao faraó” (HORNUNG, 1992HORNUNG, E. Der Pharao. In: DONADONI, S. (Org.). Der Mensch des Alten Ägypten. Frankfurt; New York: Campus, 1992. p. 328-360., p. 358). O episódio em Ex 9,13-35, porém, coloca essa convicção em xeque.

2.3 E Deus?

A narrativa em Ex 9,13-35 é teológica e/ou religiosa. Deus é o personagem mais mencionado. O vocábulo “Deus” aparece três vezes (v. 13.28.30). O nome do Deus de Israel, por sua vez, tem catorze presenças (ver a tradução do tetragrama como “Senhor” no v. 132x.20.21.22.232x.27.28.29.302x.33.35). Afirma-se, de forma expressa, que o “Senhor Deus” (v. 30) é o “Deus dos hebreus” (v. 13). Além disso, dois discursos diretos pertencem a Deus (v. 13-19.22). Nos discursos do faraó (v. 27-28) e de Moisés (v. 29-30), por sua vez, o Senhor, Deus dos hebreus, é o tema central. Semelhantemente, nos trechos de narração (v. 20-21.23-26.31-35), as notícias e informações oferecidas visam, sobretudo, a Deus como quem age. Por três vezes, destaca-se, de forma direta, sua incomparabilidade. Ou seja, “ninguém é como ele” (v. 14.18.24).

Em vista da temática investigada neste Artigo, o interesse se dirige especificamente àquilo que a narrativa bíblica reflete sobre Deus em relação à catástrofe climática. Como ponto de partida, seja destacado que o episódio em Ex 9,13-35 trabalha com a ideia de que é “Deus quem faz chover” (v. 18), sendo que tal elemento ganha destaque por ser repetido. É “o Senhor” quem “solta trovoadas e granizo” (v. 23) e é “o Senhor quem faz chover granizo sobre a terra do Egito” (v. 23). Inclusive o faraó fala sobre as “trovoadas de Deus” (v. 28). Portanto, a narrativa bíblica em questão acolhe o extremo meteorológico não somente como um fenômeno extraordinário pertencente à natureza, o qual ocorre como um mero acaso ou mesmo em consequência de determinadas causas humanas, mas “identifica algo como um plano de Deus nesses eventos” (HIEKE, 2021HIEKE, T. Theology and the COVID-19 Pandemic. ET-Studies, Leuven, v. 12, n. 1, p. 5-16, jan./jun. 2021., p. 10). Enfim, segundo a Bíblia, Deus tem poder para impor sua vontade também de um modo doloroso para o ser humano e para os demais seres. “Se não for ele, quem será então?” (Jó 9,24). Ao mesmo tempo, existem sinais esperançosos de que “a palavra do Senhor” (v. 20.21), embora decidida e resistente, não se esgote em destruições violentas.

Nesse sentido, a narrativa em Ex 9,13-35 destaca primeiramente como a tempestade de granizo é antecedida pela paciência de Deus. Antes da catástrofe, Deus parece permitir que o ser humano, inclusive um governante, durante algum tempo, “proceda altivamente contra” (v. 17) os por ele curvados. Observa-se, pois, que o faraó, de forma repetida, “não escuta” (Ex 7,13,22; 8,11.15; 9,12; 11,9) a quem lhe solicita a libertação do povo oprimido, sendo que, com constância, “se recusa a soltá-lo” ou “enviá-lo” (v. 17.35; Ex 8,25; 9,2.7; 10,4.20.27; 11,10). Apenas “engana” (Ex 8,25) aquele que por sua causa sofre. Não há “prodígio” (Ex 7,9; 11,9.10) nem “sinal” (Ex 8,19; 10,1.2), não há “praga” (v. 14) nem “castigo” (Ex 11,1) que, para valer, fizesse-o descobrir “o dedo de Deus” (Ex 8,15) nos sinais do tempo que ocorrem em meio à natureza, mas, definitivamente, “recusa-se a ser humilde” (Ex 10,3). Nem mesmo o fato de ver somente seu povo, sua terra e sua propriedade atingidos pelas catástrofes, sem ocorrer o mesmo aos israelitas (cf. v. 26; Ex 8,18-19; 9,4.6; 10,23; 11,7), leva o governador egípcio a descobrir que, para sempre, não poderia opor-se ao “justo Senhor” (v. 27) e “continuar a pecar” (v. 34). Enfim, a narrativa exodal insiste na fé de que o Senhor Deus é “lento para a ira” (Ex 34,6). Paciência, porém, não significa inércia. A ideia de Deus é, pelo contrário, “fazer permanecer” o faraó, a fim de que este “veja” e reconheça “o poder” do primeiro (v. 16).

Em segundo lugar, com a catástrofe climática no horizonte, “Deus dá instruções sobre como ser humano e animal, ao menos parcialmente, podem proteger-se da praga de granizo” (ALBERTZ, 2012ALBERTZ, R. Exodus 1–18. Zurique: Theologischer Verlag Zürich, 2012., p. 168). Com isso, continua também o projeto divino em relação à salvação dos egípcios. Ou seja, visa-se às potenciais vítimas da catástrofe, isto é, a quem vive na região a ser atingida pela tempestade de granizo. Afinal, de acordo com a previsão do extremo meteorológico, este ocorreria no dia seguinte, isto é, “amanhã, neste horário” (v. 18). Por isso, o governante egípcio, de imediato, deve “ordenar o recolhimento de tudo o que está no campo”, ou seja, de “todo ser humano e gado” (v. 19). Há tempo suficiente para isso. E se pressupõe que, “reunidos dentro da casa” (v. 19), pessoas e animais encontrem abrigo e proteção suficientes para sobreviver. De forma alguma, porém, eles podem ficar expostos às forças destrutivas da natureza. Portanto, o maior desafio para quem governa e para quem auxilia este último, isto é, “os servos do faraó” (v. 20), encontra-se em adotar uma postura marcada pelo “temor”, isto é, pelo respeito à “palavra” (v. 20) de quem os alerta sobre a calamidade vindoura, uma vez que é possível encontrar instalações protetoras. Enfim, é justamente de acordo com esse critério que ocorre uma “distinção entre os egípcios a partir do comportamento” deles (DOHMEN, 2015DOHMEN, C. Exodus 1–18. Freiburg: Herder, 2015., p. 253). Ou seja, existe “entre os servos do faraó quem faça escapar seus servos e sua propriedade” da tempestade (v. 20), pondo-os em segurança, porque “teme a palavra do Senhor” (v. 20).

Um terceiro indício para a paciência divina encontra-se no fato de que, segundo a narrativa bíblica, a catástrofe climática não é total. Ou seja, aos sobreviventes é permitido continuarem as suas vidas. O gado abrigado está vivo (cf. v. 20). Dessa forma, os rebanhos podem ser multiplicados novamente. E, embora “linho e cevada tenham sido feridos” (v. 31), “o trigo e o centeio” (v. 32), por serem de outra estação, não foram atingidos pela tempestade. Ou seja, “o granizo deixou sobrar” algo (Ex 10,5.12.15). Mesmo assim, é preciso ficar alerta. Caso, pois, não houver mudanças estruturais a partir de decisões políticas que acolhem “a justiça do Senhor” (v. 27), outra praga pode causar destruições em relação ao que tinha sido salvo.5 5 A sequência das pragas narradas em Ex 7,14–11,10; 12,29-36 visa justamente a essa realidade. Nesse sentido, no episódio que se segue à praga do granizo (Ex 9,13-35), os gafanhotos comem as plantas não destruídas pelo extremo meteorológico (Ex 10,1-20). Assim, na narrativa exodal, os “gafanhotos”, já no episódio seguinte, “devoram toda erva da terra e cada árvore frutífera” (Ex 10,5.12.15) restantes da catástrofe anterior.

Resumindo: a narrativa em Ex 9,13-35 contempla o extremo meteorológico da chuva de granizo como ação e/ou palavra de Deus. Justamente nesse sentido é possível observar como, na Bíblia Hebraica, “fenômenos relacionados ao tempo, muitas vezes, funcionam como imagens teofânicas e contextos de julgamento divino”, sendo que “o granizo é uma imagem poderosa da vinda de Deus para o julgamento” (Js 10,11; Is 28,2.17; 30,30; Ag 2,17; Sl 18,13.14; 78,47.48; 105,32; 148,8; Jó 38,22; cf. também a “saraivada” ou o “pedregulho de gelo” em Ez 13,11.13; 38,22) (FRETHEIM, 1991FRETHEIM, T. E. The Plagues as Ecological Signs of Historical Disaster. Journal of Biblical Literature, Atlanta, v. 110, n. 3, p. 385-396, jul./set. 1991., p. 391). Além disso, semelhante à imagem em que “o Senhor faz chover enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra” (Gn 19,24), há também “fogo lampejando no meio do granizo pesado” (v. 24) que “o Senhor faz chover sobre a terra do Egito” (v. 23). Existem ainda outros episódios na narrativa exodal, nas quais Deus atua por meio de fenômenos meteorológicos. Seja lembrado como, por um “vento leste”, traz os gafanhotos (Ex 10,13) e afasta as águas do mar dos Juncos (Ex 14,21), ou como, por um “vento do mar”, afasta os gafanhotos (Ex 10,19) ou traz as codornizes (Nm 11,31). Além disso, “trovoadas, relâmpagos e nuvem espessa” (Ex 19,16; 24,15.18) acompanham Deus, quando, “em meio ao fogo” (Ex 19,18), desce sobre o monte Sinai, a fim de, “no meio de uma nuvem espessa”, encontrar-se com Moisés (Ex 24,15.18). Portanto, na Bíblia, mudanças de tempo e, em especial, tempestades pesadas, repetidamente, tornam-se sinais da presença de Deus.

3 Transposição do tema para pensar a situação climática no Brasil

Nos tempos atuais, catástrofes climáticas, repetidamente, atingem as diversas regiões no mundo. Inclusive o Brasil sofre com destruições amplas, ora provocadas por chuvas demasiadamente volumosas, ora pela falta de chuva. As pessoas, sobretudo, as mais pobres, assim como animais e vegetais, são dramaticamente afetadas. Perdem-se vidas e/ou bens com os extremos meteorológicos.

As ciências se dedicam amplamente ao estudo do clima. Existem dados acumulados que hoje, em princípio, comprovam as causas humanas dos acontecimentos climáticos geradores de grandes destruições. Nesse sentido, seja mencionado o aquecimento global por causa da concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, sendo que o aumento desses poluentes, de forma significativa, encontra-se vinculado aos modelos de produção e consumo que predominam no mundo.

Cada novo extremo meteorológico, por sua vez, além de provocar comoções, suscita a impressão de que faltam convicções e posturas mais firmes. No caso, este Artigo é escrito no momento em que chuvas volumosas, novamente, causaram enormes enchentes em Minas Gerais, na Bahia e em Pernambuco. Em vista disso, o encontro com a narratividade bíblica em Ex 9,13-35 é oportuno, por mais que esse tipo de estudo encontre dois perigos. De um lado, em relação às questões de “ecologia integral e pleno desenvolvimento do gênero humano”, há quem, de antemão, rejeite a literatura bíblica e, com isso, as reflexões religiosas e/ou teológicas como algo “irrelevante”, “irracional” ou, no máximo, “subcultura que se deve simplesmente tolerar” (LS, n. 62). De outro lado, pode faltar maior disponibilidade e até competência para realizar os estudos literários, histórico-culturais e teológicos necessários, a fim de descobrir, mais exatamente, o que faz parte da narratividade bíblica. Ora, não tão poucas vezes, pessoas partem da ideia de que, em princípio, já saibam o que está sendo pensado na Bíblia ou, ao se sentirem contraditas pelos textos em questão, justamente por cultivarem interesses contrários, rejeitam as leituras mais críticas.

Não obstante, defende-se aqui o resultado de que a narrativa poética em Ex 9,13-35, como arte literário-religiosa milenar, traz uma reflexão com preciosas dimensões ecológicas. Junto a isso, por não ser discriminatória e/ou socialmente excludente, ela precisa ser qualificada como racional e boa. Eis um resumo em forma de três teses para reunir o que o episódio bíblico em questão traz como aprendizados com a catástrofe climática:

(a) Existem extremos meteorológicos que provocam amplas destruições. Exatamente por isso é preciso observar bem essa realidade e, a partir de dados científicos e um diálogo franco, procurar pelas causas dela, em vez de negar a gravidade da situação.

(b) Existem causas humanas que favorecem e/ou provocam catástrofes climáticas, sendo que a terra, em princípio, é sensível ao comportamento do ser humano. O episódio em Ex 9,13-35 contempla, nesse sentido, o regime opressivo encabeçado pelo faraó, no qual “perversos” insistem em seu “pecado”, embora estejam conscientes da oposição que fazem à “justiça do Senhor” (v. 27). Em todo caso, esse tipo de atuação traz consequências para o ambiente e, consequentemente, para a sobrevivência de todos. Mais ainda: onde o diálogo com as vozes proféticas não provoca raciocínios mais sábios e mudanças estruturais, o sistema opressivo, rapidamente, se vê confrontado com as imensas forças presentes na natureza.

(c) Para quem se abre à reflexão sobre Deus, existe a possibilidade de, junto ao extremo meteorológico, descobrir uma lição do alto, no sentido de aprender com a crise. Ao recomeçarem suas vidas, os sobreviventes precisam mudar seus comportamentos socioambientais destrutivos, a fim de evitar outras catástrofes. Junto a isso, em relação às vítimas, prevalece o luto, porém, acompanhado da esperança de que estejam com Deus e de que a sua morte não tenha sido em vão.

No mais, a presente investigação adere à compreensão de que o conjunto dos textos na Bíblia Hebraica, a começar com aquilo que se lê no Pentateuco,

condiciona seus leitores a sentir reverência pela natureza, ordena a restrição na exploração dos recursos naturais em vista das necessidades humanas, suscita a admiração como resposta à diversidade e complexidade da criação e articula o princípio da responsabilidade humana para uma confiante gestão fiduciária do mundo natural

(GORDIS, 2001GORDIS, D. M. Ecology. In: Lieber, D. L. Etz Hayim. Torah and Commentary. New York: The Jewish Publication Society, 2001. p. 1369-1372., p. 1369).

Contudo, para descobrir mais exatamente a eventual contribuição dessas milenares tradições literárias ao debate ecológico, é preciso reler narrativa por narrativa, poema por poema e formulação jurídica por formulação jurídica.

Considerações finais

Em vista das contribuições da literatura bíblica às questões socioambientais, que, atualmente, afligem a humanidade, o presente estudo da narrativa em Ex 9,13-35 traz resultados novos em diversos níveis. No primeiro momento, a tradução do texto hebraico e, em especial, a descrição da configuração poética dele trazem observações em relação a elementos estilísticos até agora não detectados. Com isso, a narrativa bíblica em questão, mais e mais, revela-se como obra de arte. Cabe-lhe maior força justamente por causa de sua dimensão literária e/ou poética. Em especial, as repetições marcantes e, com isso, a presença maciça de fenômenos climáticos, vegetais, animais e solo justificam falar de econarratividades ou ecopoeticidades.

No segundo momento, o estudo temático de Ex 9,13-35 consegue descrever a insistência da narrativa bíblica na questão socioambiental, sendo que, até agora, existem poucos exemplos desse tipo de leitura da Sagrada Escritura judaico-cristã. Observa-se como o texto bíblico, de forma detalhada, acolhe o fenômeno de um extremo meteorológico, ora ao apresentar a gravidade da catástrofe, ora ao visar às causas humanas dela. Eis o foco para o qual a narrativa converge, isto é, um item importante para os estudos ecológicos, quando se descobre a interferência nada positiva do ser humano na natureza. Mais ainda: a questão ecológica se torna ecoteológica quando a reflexão sobre Deus passa a ser olhada segundo a perspectiva das coexistências dos seres que habitam este mundo.

No terceiro momento, a investigação propõe uma transposição do tema para a atualidade no Brasil. Imagina-se que a arte milenar presente em Ex 9,13-35 possa oferecer contribuições válidas à tarefa de, em especial, reavaliar e repensar a situação climática. Como os textos bíblicos são um dos maiores referenciais culturais, eles se tornam uma oportunidade para, de forma ampla, favorecer diálogos, aprendizagens e mudanças de comportamento. Nesse sentido, em face de um número elevado de leituras metodologicamente pouco justificadas e/ou marcadas por elementos não pertencentes à literatura bíblica, o presente estudo de Ex 9,13-35 mostra sua originalidade na exatidão e fidelidade às dimensões exodais da narrativa bíblica em questão.6 6 Os resultados do estudo apresentado neste Artigo foram discutidos no International Meeting da Society of Biblical Literature (SBL), realizado em Salzburg, Áustria, nos dias 17 a 21 de julho de 2022.

  • 1
    No que se refere ao método da análise narrativa, os estudos de SEYBOLD (2006)SEYBOLD, K. Poetik der erzählenden Literatur im Alten Testament. Stuttgart: Kohlhammer, 2006., BAR-EFRAT (2006)BAR-EFRAT, S. Wie die Bibel erzählt. Alttestamentliche Texte als literarische Kunstwerke verstehen. Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus, 2006. e SKA (2000)SKA, J. L. “Our Fathers Have Told Us”. Introduction to the Analysis of Hebrew Narratives. Roma: Pontificio Istituto Biblico, 2000. constituem as referências básicas. Econarratividade, aqui, diz respeito às narrativas que abrangem a complexidade da vida (flora e fauna) e os fatores que a determinam (água, ar, solo e calor), sem defender um domínio violento do ser humano sobre a natureza, mas visando a convivências harmoniosas.
  • 2
    Há cinquenta anos que a questão ambiental ganha espaço nos estudos bíblicos, sendo que “qualquer livro publicado antes de 1970 contém poucas ou nenhuma informação sobre a visão da Bíblia em relação à natureza e sobre o papel do ambiente de Israel na formação da religião e cultura dele” (SIMKINS, 1994SIMKINS, R. Creator & Creation. Nature in the Worldview of Ancient Israel. Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1994., p. 1).
  • 3
    Todos os textos citados da Bíblia Hebraica são apresentados com tradução própria, tendo como fonte a edição crítica da Biblia Hebraica Stuttgartensia (ELLIGER; RUDOLPH, 1997ELLIGER, K.; RUDOLPH, W. (Eds.). Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5.ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.).
  • 4
    Enquanto o número sete traz consigo a conotação da completude – ver a semana formada por sete dias –, o número oito (sete mais um!) talvez indique algo visto como mais que perfeito. Nesse sentido, no texto hebraico de Ex 9,13-35, uma mesma raiz verbal, traduzida aqui como “enviar”, “estender”, “soltar” e “mandar” (v. 13.14.15.17.19.27.28.35), é usada oito vezes. Enfim, existem momentos nos quais, ao traduzir um texto bíblico, não é possível guardar todos os paralelismos.
  • 5
    A sequência das pragas narradas em Ex 7,14–11,10; 12,29-36 visa justamente a essa realidade. Nesse sentido, no episódio que se segue à praga do granizo (Ex 9,13-35), os gafanhotos comem as plantas não destruídas pelo extremo meteorológico (Ex 10,1-20).
  • 6
    Os resultados do estudo apresentado neste Artigo foram discutidos no International Meeting da Society of Biblical Literature (SBL), realizado em Salzburg, Áustria, nos dias 17 a 21 de julho de 2022.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Set 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    26 Jan 2022
  • Aceito
    22 Jul 2022
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