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AS ANEDOTAS DE ATOS: HÁ UM PADRÃO FORMAL EM ATOS DOS APÓSTOLOS 19.13-16; 20.7-12; 28.1-6?

Anecdotes of Acts: is there a Formal Patt ern in Acts 19:13-16; 20:7-12; and 28:1-6?

RESUMO

No presente artigo analisamos três perícopes do livro de Atos dos Apóstolos (19.13-16; 20.7-12; 28.1-6) e, a partir da análise realizada, apontamos para a existência do gênero anedota nessas passagens neotestamentárias. Partimos da revisão dos principais estudos diacrônicos e sincrônicos feitos sobre o livro de Atos. Como metodologia, utilizamos os procedimentos da crítica das formas, uma vez que nesse texto discutimos a existência de um gênero literário que supostamente é ignorado pela exegese bíblica tradicional. No entanto, esse método típico da metodologia da exegese histórico-crítica é combinado com a teoria do romance de Bakhtin para propor renovação na abordagem teórica. As três perícopes mencionadas são analisadas a partir do texto grego. Assim, constata-se que, de fato, há anedotas no livro de Atos e que nesse livro a referida forma literária tem uma função dentro da narrativa, a de oferecer pausas no conteúdo da narrativa da obra lucana. Além disso, o resultado do estudo também aponta para a relevância da comicidade no Novo Testamento.

PALAVRAS-CHAVE
Anedota; Subgênero; Atos; Cômico; Lucas

ABSTRACT

This article analyzes three pericopes from the Acts of the Apostles (19:13-16; 20:7-12; 28:1-6) and highlights the existence therein of the literary genre anecdote. The article reviews the main diachronic and synchronic studies on the book of Acts. The method of form criticism is used, since those passages indicate the existence of a literary genre which is apparently overlooked by traditional biblical exegesis. This characteristic method of historical-critical exegesis is combined with Bakhtin’s theory of the novel, in order to propose a renewal of the theoretical approach. The three pericopes from the Acts of the Apostles are analyzed from the Greek text. The article points out the existence of anecdotes in the book of Acts and that the function of this literary genre is to provide pauses along the Lucan narrative. Another outcome of the study is to point out the relevance of comicality in the New Testament.

KEYWORDS
Anecdote; Subgenre; Acts; Comic; Luke

Introdução

Por meio do presente ensaio, propomo-nos a discutir o subgênero anedota, que aparece no livro canônico de Atos dos Apóstolos. O objetivo é apresentar a existência desse gênero em pelo menos um livro do Novo Testamento – no caso, Atos dos Apóstolos.

Sabemos que não é possível verificar a definição de anedota nos principais manuais de crítica das formas, porque esse termo não aparece em nenhuma dessas obras ou, pelo menos, em nenhuma das obras mais conhecidas, as que temos acesso. O que supomos que se justifica pela desvalorização que esses manuais proporcionam aos gêneros que não estão diretamente relacionados com o kerygma cristão primitivo. Ainda mais desvalorizado, como verificaremos são os gêneros e subgêneros relacionados com o cômico.

Nesse caso, para apontar para a existência de anedotas no Novo Testamento, assim como para descrever a importância que essas formas literárias têm na composição da teologia lucana, analisaremos três perícopes (At 19.13-16; 20.7-12; 28.1-6) do livro de Atos dos Apóstolos para que assim se aponte para a repetição de padrões literário-discursivos existentes nele, conforme a hipótese que será apresentada.

Para realizar esses procedimentos, primeiro discutiremos a metodologia exegética, depois apresentaremos uma breve revisão de literatura, assim como discutiremos a possibilidade de se aplicar perspectivas de leituras sincrônicas ao livro de Atos dos Apóstolos; por fim, traduziremos, analisaremos e comentaremos as passagens mencionadas a partir da língua grega e por meio desse exercício analítico, chegaremos às nossas conclusões quanto à pergunta feita no subtítulo desse artigo, a saber: Há um padrão formal em Atos dos Apóstolos que possamos classificar como anedota?

1 Metodologia exegética

O presente ensaio se propõe a realizar um estudo teológico-linguístico de algumas passagens curtas do livro canônico de Atos dos Apóstolos, no caso, propõe-se a analisar exegeticamente três breves perícopes deste livro – a saber: 19.13-16; 20.7-12; 28.1-6 – a partir da 28ª edição crítica do Novo Testamento. O objetivo é buscar o padrão existente nesses textos, o que permitirá classificá-los como subgênero “anedota”, como já sugeriu Vielhauer (2005, p. 422)VIELHAUER, P. História da Literatura Cristã Primitiva: uma introdução ao Novo Testamento, aos apócrifos e aos Pais Apostólicos. Santo André: Academia Cristã, 2005. quando comentou sobre essas passagens bíblicas, mas, apesar disso, não desenvolveu um estudo que fundamentasse sua afirmativa, restando para o pesquisador de nosso tempo a tarefa de encontrar o padrão formal desse forma literária, seja gênero ou subgênero.

Além de Vielhauer (2005)VIELHAUER, P. História da Literatura Cristã Primitiva: uma introdução ao Novo Testamento, aos apócrifos e aos Pais Apostólicos. Santo André: Academia Cristã, 2005., há outras obras de introdução ao Novo Testamento bem tradicionais que afirmaram que Atos dos Apóstolos contém uma multiplicidade de gêneros e subgêneros e, apesar de não mencionarem as anedotas, permitem que se chegue a conclusões aproximadas quanto à utilização dos gêneros baixos [alem. Kleinliteratur] (KÜMMEL, 2002KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982.; BROWN, 2012BROWN, R. E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2012. (Bíblia e História, Série Maior).; MARGUERAT, 2012MARGUERAT, D. Os Atos dos Apóstolos. In: MARGUERAT, D. [Org.]. Novo Testamento: história, escritura e teologia. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2012. p. 137-167.; ROBINSON, 1997ROBINSON, J. M. Atos. In: ALTER, R.; KERMODE, F. [Orgs.] Guia Literário da Bíblia. São Paulo: Editora UNESP, 1997. p. 501-513.; SCHNELLE, 2010SCHNELLE, U. Teologia do Novo Testamento. Santo André/São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2010.).

Apesar de não chegarem aos resultados para os quais o presente ensaio apontará, os comentários bíblicos eruditos (ALETTI, 2009ALETTI, J.-N. Il Racconto come Teologia: studio narrativo del Terzo Vangelo e del libro degli Atti degli Apostoli. Bologna: Dehoniane Bologna, 2009.; CONZELMANN, 1987CONZELMANN, Hans. Acts of the Apostle: a critical and historical commentary on the Bible. Minneapolis: Fortress Press, 1987.; FITZMYER, 2003FITZMYER, J. A. Hechos de los Apóstoles II. 9-28. Salamanca: Sígueme, 2003.; MARGUERAT, 2004MARGUERAT, D. Los Hechos de los Apostoles. Vol. II (13-28). Salamanca: Sígueme, 2004.; ROSSÉ, 1998ROSSÉ, G. Atti degli Apostoli: commento esegetico e teologico. Roma: Città Nuova, 1998.; ROLOFF, 1996ROLOFF, J. Hechos de los Apóstoles. Madrid: Ediciones Cristiandad, 1996. (Col. Sagrada Escritura).) destacaram timidamente o teor cômico, ou irônico, das perícopes mencionadas e assim proporcionaram abertura para a análise dos referidos textos a partir da perspectiva que pode ser aprofundada por meio da proposta teórica de Bakhtin (2019)BAKHTIN, M. M. Teoria do Romance II: as formas do tempo e do cronotopo. São Paulo: Editora 34, 2019a., sobre os gêneros populares da antiguidade Greco-Romana.

O que justifica a escolha de três perícopes, e não de apenas uma, é o fato de que neste ensaio apontaremos para a existência de um subgênero pouco estudado pelos biblistas, conforme já mencionamos, a anedota. A análise de três perícopes proporcionará condições de amostragem de padrões que se repetem em narrativas curtas, profanas e cômicas – três critérios que definem provisoriamente o referido subgênero, segundo Vielhaauer (2005, p. 422) VIELHAUER, P. História da Literatura Cristã Primitiva: uma introdução ao Novo Testamento, aos apócrifos e aos Pais Apostólicos. Santo André: Academia Cristã, 2005.e assim justificarão a classificação tipológica proposta.

Buscar-se-á o padrão formal, narrativo e estrutural das três perícopes (19.13-16; 20.7-12; 28.1-6), sem ignorar, por outro lado, a importância do conteúdo significativo das três breves narrativas, pois é amplamente reconhecido nos estudos linguísticos que “forma” e “conteúdo” sempre estão juntos na análise, por isso enfatiza-se o estudo do aspecto sincrônico, que será realizado pelo uso de uma metodologia que combina a exegese sincrônica com as teorias de Bakhtin – ambas perspectivas advindas das Ciências da Linguagem.

Desse modo, proporemos, de acordo com critérios filológicos e teológicos, a hipótese da existência do subgênero “anedota”, que corresponde às perícopes estudadas. No caso, nossa suposição é a de que esse subgênero, anedota, e suas perícopes correspondentes, foram pouco estudados pelos exegetas por causa de sua aparente superficialidade para o que consideravam ser o kerygma cristão primitivo e para o enredo do livro. Além da errônea associação do cômico com a frivolidade, o que não se confirma na compreensão dos principais estudiosos que se dedicaram a tratar do riso. Espera-se explicar a relevância teológica do reconhecimento desta forma e a expressividade do significado de seu conteúdo, assim como sua importância para o livro de Atos dos Apóstolos.

2 Breve revisão de literatura: visões diacrônicas sobre Atos dos Apóstolos

Uma antiga proposta de interpretação sobre o livro de Atos dos Apóstolos teve muito boa repercussão na academia, a qual foi elaborada por Dibelius (2004)DIBELIUS, M. The Book of Acts: Form, Style, and Theology. Minneapolis: Fortress Press, 2004.. Em seus textos, o exegeta alemão apresentou a importância central que os discursos dos apóstolos têm no livro de Atos. O que parece bem evidente quando se lembra das pregações de Estevão, de Pedro e de Paulo. A teoria de Dibelius (2004)DIBELIUS, M. The Book of Acts: Form, Style, and Theology. Minneapolis: Fortress Press, 2004. destaca que todos esses discursos são o conteúdo de um mesmo kerygma, cuja composição é de um mesmo autor, supostamente Lucas, que os atribuiu a diferentes personagens da igreja primitiva, mesmo que, na verdade, o padrão discursivo dos personagens mencionados fosse uma formulação lucana.

O exegeta alemão entendeu que essas pregações dos apóstolos são material de central importância para a conjuntura de Atos dos Apóstolos e que o próprio Lucas – que ele entende ser o autor do livro – elaborou-os e teceu conexões que proporcionaram enredo para a narrativa do livro sem recorrer à tradição, de modo diferente do que ele próprio e os outros autores dos sinóticos tinham realizado quando elaboraram os três primeiros evangelhos canônicos (Mc, Mt e Lc). Diga-se de passagem, em seu estudo sobre a história da tradição sinótica, Dibelius (1971)DIBELIUS, M. La Historia de las Formas Evangélicas. Valencia: Intitución San Jeronimo, 1971. (Clásicos de la Ciencia Bíblica, II). demonstrou a dependência dos sinóticos da antiga tradição oral, mas, apesar disso, compreendeu que Lucas usou outro recurso para construir Atos.

Numa perspectiva que proporciona conclusões parecidas às que Dibelius chega quanto à identidade comum dos sermões dos apóstolos no livro de Atos, Norden (2002)NORDEN, E. Dio Ignoto: ricerche sulla storia della forma del discorso religioso. Letteratura cristiana ântica, Studi. Brescia: Morcelliana, 2002. mostrou que o sermão de Paulo no Areópago era, na verdade, uma pregação padronizada ao estilo helenístico e, em sua opinião, nada tinha de autêntico, no que diz respeito ao homem histórico ao qual se lhes atribui a autoria, Paulo de Tarso.

Vielhauer (2012)VIELHAUER, P. On the paulinism of Acts. In: MOESSNER, D. P; MARGUERAT, D; PARSONS, M. C; WOLTER, M. Paul and Heritage of Israel: Luke’s Narrative Claim upon Paul and Israel’s Legacy. Lubrary of The New Tesatment Studies. London/New York: T & T Clark International, 2012. p. 3-17., por sua vez, estudou os sermões que foram atribuídos ao apóstolo Paulo que estão registrados no segundo volume da obra lucana e os textos paulinos de autoria inquestionável e apresentou as diferenças existentes entre um ‘paulinismo lucano’ e um ‘paulinismo autêntico’, acessível nas cartas redigidas pelo próprio apóstolo Paulo, de acordo com critérios que ele mesmo estabeleceu.

Esses estudos de perspectiva sincrônica apontaram para a ideia que atualmente pode ser definida como “ficcionalidade”, pois Jean Louis Ska utiliza o termo “literatura de fiction” para se referir à proposta metodológica que ele se propõe a utilizar para a análise sincrônica da literatura bíblica (2000) e, nessa mesma perspectiva, Anderson Lima utilizou o termo “ficção” em seu artigo: A Bíblia como literatura – A Bíblia como ficção (2015). Tanto no caso das abordagens antigas de Dibelius (2012), Norden (2002)NORDEN, E. Dio Ignoto: ricerche sulla storia della forma del discorso religioso. Letteratura cristiana ântica, Studi. Brescia: Morcelliana, 2002. e Vielhauer (2012)VIELHAUER, P. On the paulinism of Acts. In: MOESSNER, D. P; MARGUERAT, D; PARSONS, M. C; WOLTER, M. Paul and Heritage of Israel: Luke’s Narrative Claim upon Paul and Israel’s Legacy. Lubrary of The New Tesatment Studies. London/New York: T & T Clark International, 2012. p. 3-17. quanto nas recentes de Ska (2010)SKA, J. L. Sincronia: a análise narrativa. SIMIAN-YOFRE, H.; GARGANO, I.; SKA, J. L.; PISANO, S. Metodologia do Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2000. p. 123-148. (Col. Bíblica Loyola, 28). e Lima (2015)LIMA, A. A Bíblia como literatura – A Bíblia como ficção. Estudos da Religião, São Bernardo do Campo, v. 29, n. 1, p. 153-168, jan./jun. 2015., o procedimento é o mesmo, é o da análise sincrônica, poderíamos dizer também que é um estudo formal, que analisa o texto bíblico dentro de sua moldura textual e não como evento histórico concreto, independentemente de sua plausibilidade factual.

Se esse é o caso quanto ao kerygma na obra lucana, o que devemos pensar no que diz respeito às formas menos importantes, como textos que podem ser classificados como gêneros baixos, os quais foram colocadas ao lado de passagens de importância central, como as kerigmáticas, mas nem de longe têm a mesma importância.

De certo, se os kerygmata são fictícios, quanto mais o são os gêneros menores, que figuram aqui e acolá no segundo volume da obra lucana para proporcionar certa sensação de alívio em vista da tensão que se sente ao ler a aventura mais extensa que percorre mais extensamente o livro de Atos, que, no caso, na primeira parte do livro está relacionado com Pedro, e, na segunda parte, está relacionado com Paulo, que nos interessa particularmente para investigação que ora realizamos.

Além de proporcionar uma pausa necessária à extensa narrativa da aventura paulina em direção a Roma, as formas narrativas menores, no caso, como supomos ser as anedotas, proporcionam também a irrisão, que funciona como uma capitatio beneuolentia fora do lugar, ou pelo menos serve como recurso que mantêm presa a atenção da audiência por sua característica humorística divertida.

A perspectiva da ficcionalidade pode ser utilizada para abordagem dos sermões do livro de Atos dos Apóstolos, assim como para esses gêneros menores, nos quais incluímos as anedotas, isto é, tanto uns quanto outras podem ser compreendidos como ficções no sentido amplo do termo, pois pesquisas demonstraram que esses discursos dificilmente poderiam ser considerados historicamente plausíveis dentro de eventos situados pela pesquisa científica moderna, mas estão inseridos em narrativas para as quais a análise sincrônica é uma importante ferramenta de estudo, mesmo que se ignore a sua historicidade.

No entanto, por outro lado, tratam-se de peças literárias que fazem parte de um conjunto mais amplo, que é o livro no qual estão contidos esses textos. Assim, se, por um lado, a pesquisa sobre Atos não revelou muita coisa sobre a historicidade da Igreja Primitiva, por outro, foi alcançado grande conhecimento sobre a literaridade de Lucas, não ignoremos que Lucas, do ponto de vista da ficcionalidade, é um narrador exímio.

3 Relevância do estudo gênero anedota para os estudos bíblicos contemporâneos

O que justifica a importância do assunto proposto por esse ensaio é a renovação do estudo dos subgêneros do Novo Testamento. Tradicionalmente os gêneros e subgêneros bíblicos foram estudados pela crítica das formas. A mais popular obra que catalogou as formas e tipos textuais neotestamentários é As Formas Literárias do Novo Testamento, de Klaus Berger (1998)BERGER, K.. As Formas Literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1998. (Bíblica Loyola, 23).. Apesar da alta estima que os estudiosos do Novo Testamento têm por esse manual, seu autor declara desconhecimento das modernas teorias da linguagem, por isso seu conteúdo carece de ser elucidado com reflexões renovadoras realizadas a partir das Ciências da Linguagem.

Não apenas Berger (1998)BERGER, K.. As Formas Literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1998. (Bíblica Loyola, 23). ignorou a existência de anedotas, mas além dele, todos os manuais da crítica das formas, inclusive o que foi produzido mais recentemente, por Romi Auth (2022)AUTH, R. Introdução ao Estudo das Formas Literárias do Segundo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2022. (Bíblia como Lieteratura, 3)., no qual a palavra anedota nem sequer aparece. Esses fatos apontam para a necessidade que a teologia tem de abordar a anedota e outros efeitos da comicidade no Novo Testamento, como apontou o sociólogo Peter Berger (2017)BERGER, P. O Riso Redentor: a dimensão cômica da experiência humana. Petrópolis: Vozes, 2017. e, em sua esteira, o estudo feito por nós: O Riso Redentor no Novo Testamento (2022), pois há, sim, uma teologia do riso no Novo Testamento, e pode ser apontada no segundo volume da obra lucana como apontaremos abaixo.

Também devemos dizer que a abordagem do gênero anedota do modo como a propomos, também se justifica devido à importância do estudo das narrativas, uma vez que o resultado deve ser esclarecedor para o conhecimento aprofundado do conteúdo das perícopes analisadas (19.13-16; 20.7-12; 28.1-6).

Os estudos e as análises das perícopes mencionadas, que estão logo abaixo, proporão novos conhecimentos sobre os significados das narrativas lucanas individuais, mas, além disso, propõem-se a desenvolver o conhecimento que se tem sobre o padrão e a forma literária das referidas passagens lucanas, e a partir disso será apresentada uma renovada interpretação do gênero anedota que aparece em algumas perícopes da obra em dois volumes Lucas/Atos.

4 Outras possibilidades de leitura sincrônica de Atos dos Apóstolos

Sem ignorar o resultado das pesquisas mencionadas acima, mas passando à ênfase da análise da forma e do gênero de Atos dos Apóstolos a partir de estudos mais recentes; podemos, então, entender que essa obra segue um padrão narrativo helenístico, como muitos teólogos já afirmaram (ROBINSON, 1997ROBINSON, J. M. Atos. In: ALTER, R.; KERMODE, F. [Orgs.] Guia Literário da Bíblia. São Paulo: Editora UNESP, 1997. p. 501-513.; MARGUERAT, 2012MARGUERAT, D. Os Atos dos Apóstolos. In: MARGUERAT, D. [Org.]. Novo Testamento: história, escritura e teologia. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2012. p. 137-167.).

Apesar de não ser novidade a possibilidade de relacionar o livro de Atos dos Apóstolos com o gênero narrativo helenístico, acrescenta-se, doravante, uma diferente proposta de abordagem a ser realizada pela leitura que propomos, a qual deve ser realizada a partir da teoria do romance formulada pelo filólogo russo Mikhail M. Bakhtin (Orel, 1895 – Moscou, 1975), que estudou profundamente a ampla e rica variedade de gêneros populares (baixos/vulgares) da antiguidade Greco-Romana.

Na teoria de Bakhtin, há uma multiplicidade de gêneros narrativos do mundo Greco-Romano que são dotados de linguagem vulgar e ambígua, plurilinguismos e inconclusibilidade, são verdadeiras colchas de retalhos (característica fundamental da sátira), com pouca coesão orgânica, isentas de heroísmo épico e do triunfalismo nacionalista, que são qualidades típicas da épica, das quais se abriu mão no período helenístico.

Esses gêneros estão na pré-história do que viria a ser, ao longo dos séculos, o romance. Dentre os diferentes gêneros estudados por Bakhtin está o de “Aventuras e Provações” (BAKHTIN, 2019aBAKHTIN, M. M. Teoria do Romance II: as formas do tempo e do cronotopo. São Paulo: Editora 34, 2019a.), o qual contém as mesmas características estruturais que compõem o livro de Atos, segundo pesquisa previamente realizada sobre o assunto (LEITE, 2014LEITE, F. B. Aventuras e provações em Atos dos Apóstolos. In: SOUSA, R.; LEITE, F. B. [Org.]. Literatura Cristã Primitiva: Olhares Bakhtinianos. São Paulo: Fonte Editorial, 2014. p. 67-82.).

De toda a complexa teoria bakhtiniana sobre os gêneros helenísticos pré-romanescos, chama especialmente a nossa atenção quando pensamos nas anedotas de Atos o conceito que o filólogo russo nomeia de “sério-cômico”, de acordo com o estudo do surgimento das formas pré-romanescas que está em seu artigo: “O romance como gênero literário” (2019bBAKHTIN, M. M. Teoria do Romance III: o romance como gênero literário. São Paulo: Editora 34, 2019b., p.65-112).

Conforme sua proposta de compreensão dos gêneros da antiguidade helenística, havia gêneros que tratavam dos mais elevados assuntos, temas da maior seriedade e sublimidade imagináveis, mas tratavam disso por meio de um discurso formalmente vulgar, repleto de efeitos de comicidade, como a ironia, o sarcasmo, a paródia e outros efeitos do riso. Daí a definição do sério-cômico, sério quanto ao tema, mas cômico quanto à forma. Os próprios diálogos platônicos são exemplares dessa proposta, conforme Bakhtin (2019b)BAKHTIN, M. M. Teoria do Romance III: o romance como gênero literário. São Paulo: Editora 34, 2019b..

Bakhtin tratou extensivamente dos gêneros sério-cômicos em obras como Problemas da Poética de Dostoiévski (2010bBAKHTIN, M. M. Problemas da Poética de Dostoievski. 5.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010 b.), em Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento (2010aBAKHTIN, M. M. Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. 7.ed. São Paulo: Hucitec, 2010 a.) e, sobretudo, nos artigos que compõem a compilação de seus estudos sobre o romance, que foi organizada em três volumes e publicada postumamente sob o título de Teoria do Romance (2015, 2019a, 2019b)

Segundo o conteúdo fundamental desses estudos, era amplamente popular na Antiguidade e na Idade Média a ambivalência de gêneros sério-cômicos, que combinavam seriedade/sublimidade com vulgaridade/baixeza. No entanto, esses gêneros perderam espaço no período do Renascimento, quando entrou em cena a burguesia que passou a valorizar unilateralmente a seriedade e consequentemente passou a marginalizar a comicidade às classes baixas e aos gêneros cômicos estereotipados que não comunicam nada de sério ou sublime que possa estar relacionado com temas elevados como os religiosos ou teológicos, por exemplo. A partir dessa época, o cômico passou a estar relacionado com o frívolo, o fútil, com o divertimento do burguês ou com a alienação das classes baixas.

Da hipótese de que o gênero1 1 Certamente o livro de Atos dos Apóstolos possui muitas narrativas que podem ser classificadas por muitos gêneros e subgêneros e também há muitos critérios para a classificação destes. A proposta mencionada refere-se à coerência da classificação de Atos dos Apóstolos de acordo com os critérios específicos de Bakhtin, o que não conflita nem elimina as outras possibilidades de classificações que são mais tradicionais, as quais seguem a retórica e a poética clássicas ou se baseiam em outras áreas perspectivas de estudo. do livro de Atos dos Apóstolos possa ser classificado como “aventuras e provações” (LEITE, 2014LEITE, F. B. O Riso redentor no Novo Testamento. Caminhos, Goiânia, v. 20, n. 1, p. 51-65, jan./abr. 2022. Disponível em: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/12311/5534. Acesso em: 13 nov. 2022.
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) surge então a importância de compreender não apenas os discursos kerygmáticos, como foi o foco do interesse das pesquisas teológicas citadas acima, mas além deles, também os discursos populares, baixos, vulgares ou como quer que nomeemos a variedade de formas discursivas e literárias que compõe a Kleinliteratur.

Além disso, tornou-se importante o estudo dos subgêneros, como o da anedota, o qual teve sua importância teológica subestimada por ser considerada “profana”, de acordo com a afirmação de Vielhauer (2005, p.422). Difícil entender sob que aspecto essas perícopes seriam profanas no modo de ver dos exegetas germânicos do fim do século XIX e início do XX, uma vez que essas passagens também estão inseridas no livro de Atos como componentes do projeto teológico lucano. Como indicaremos abaixo, concordamos apenas parcialmente com essa afirmação.

De qualquer forma, a importância do estudo desses subgêneros se dá porque nessas passagens estão contidos os elementos cômicos que aparentemente os exegetas “empurraram para baixo do tapete” – como diz o adágio popular –, sem perceber o potencial teológico ou religioso que se continha neles. A permanência das anedotas justapostas aos discursos kerygmáticos apontam para a ambiguidade que significa sua colocação lado-a-lado a discursos de diferentes níveis numa mesma e contínua sequência narrativa, tratam-se de gêneros baixos que abordam assuntos profundamente sérios, como explica Bakhtin (2019b)BAKHTIN, M. M. Teoria do Romance III: o romance como gênero literário. São Paulo: Editora 34, 2019b. sobre o sério-cômico.

Do ponto de vista teológico, as ditas anedotas contêm um importante conteúdo sobre o poder da palavra, ou da performance dos apóstolos, pois tanto o dizer quanto o não dizer, combinado com a performance adequada, têm importância na atividade relatada nessas três passagens do livro de Atos, por isso, de modo algum podem ser consideradas abstratamente como profanas, no sentido em esse termo indica aquilo que se opõe ao sagrado, pois também nessas passagens manifesta-se o sagrado ou a crença no sagrado.

A exemplo disso, verifica-se na narrativa de “O castigo dos filhos de Ceva” (At 19.13-16) que a palavra apostólica está ausente e por esse motivo os sete judeus que a invocam são comicamente feridos e desnudados pelo espírito impuro, sendo vitimados pela execução malsucedida de um ato de fala, proferido por eles mesmos.

No episódio de “O ressuscitamento de Êutico” (20.7-12) – se é que podemos aceitar esse título para a referida passagem – há uma burlesca descrição do modo como a palavra de Paulo era enfadonha e prolongada o bastante para fazer um homem cair no sono e se acidentar fatalmente em consequência disso, mas ao mesmo tempo, era também poderosa o bastante para declará-lo vivo e, logo em seguida, trazê-lo a vida novamente sem interromper seu merecido momento de sono.

Por fim, em “O Episódio de Malta” (28.1-6), a performance de Paulo, mesmo sem palavra, também de modo cômico – já que ele foi picado por uma criaturinha [greg. θηρίον; transl. theríon] – o levou a passar da situação de suposto homicida a reverenciado como divino, o que indica que o julgamento dos assim chamados bárbaros move-se muito rapidamente apenas com a execução de um gesto, sem que Paulo precise abrir a boca e se expressar.

A compreensão da importância de subgêneros aparentemente tão superficiais no livro de Atos dos Apóstolos só poderá ser alcançada pelo estudo comparativo dos gêneros do Novo Testamento. Novas asseverações sobre o poder da palavra e da performance dos apóstolos no livro de Atos (nos textos estudados, refere-se exclusivamente à palavra e à performance do Apóstolo Paulo, embora uma pesquisa mais ampla pudesse incluir outras personagens do texto canônico) e o significado desses fenômenos à luz das Ciências da Linguagem serão possíveis unicamente por meio da pesquisa exegética que toma aportes da linguística em seu escopo teórico-metodológico, combinando-os com o que se tem da metodologia da exegese sincrônica.

5 Texto grego e proposta de tradução dos textos analisados

13Ἐπεχείρησαν δέ τινες καὶ τῶν περιερχομένων Ἰουδαίων ἐξορκιστῶν ὀνομάζειν ἐπὶ τοὺς ἔχοντας τὰ πνεύματα τὰ πονηρὰ τὸ ὄνομα τοῦ κυρίου Ἰησοῦ λέγοντες· ὁρκίζω ὑμᾶς τὸν Ἰησοῦν ὃν Παῦλος κηρύσσει.14ἦσαν δέ τινος Σκευᾶ Ἰουδαίου ἀρχιερέως ἑπτὰ υἱοὶ τοῦτο ποιοῦντες.15ἀποκριθὲν δὲ τὸ πνεῦμα τὸ πονηρὸν εἶπεν αὐτοῖς· τὸν μὲν Ἰησοῦν γινώσκω καὶ τὸν Παῦλον ἐπίσταμαι, ὑμεῖς δὲ τίνες ἐστέ;16καὶ ἐφαλόμενος ὁ ἄνθρωπος ἐπ’ αὐτοὺς ἐν ᾧ ἦν τὸ πνεῦμα τὸ πονηρόν, κατακυριεύσας ἀμφοτέρων ἴσχυσεν κατ’ αὐτῶν ὥστε γυμνοὺς καὶ τετραυματισμένους ἐκφυγεῖν ἐκ τοῦ οἴκου ἐκείνου. (At 19.13-16)

[Trasl. 13Epecheírēsan dé tines kaì tōn perierchoménōn Ioudaíōn exorkistōn onomádzein epí toùs échontas tà pneúmata tà ponērà tò ónoma toû kyríou Iēsoû légontes: horkídzo hymás tòn Iēsoû hón Paûlos kērýssei. 14hêsan dé tinos Skeuã Ioudaíou archieréōs heptà huioì toûto poioûntes 15 apokrithèn dè tò pneûma tò ponēròn eîpen autoîs: tòn mèn Iēsoûn ginōskō kaì tòn Paûlon epístamai, hymeîs dè tínes este? 16 kaì ephalómenos ho ánthropos ep’autoùs em hōi ēn tò pneûma tò ponērón, katakypieúsas amphotérōn íschysen kat’autōn hoste gymnoùs kaì tetraumatisménous ekphygeîn ek toû oíkou ekeínou].

[Trad. 13Tentaram também alguns ambulantes exorcistas judeus invocar sobre os que tinham espíritos maus o nome do Senhor Jesus dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, o qual Paulo proclama. 14Estavam fazendo isso sete filhos de um tal Ceva, judeu, sumo sacerdote. 15Respondendo o espírito mau, disse-lhes: De fato, a Jesus conheço e com Paulo estou familiarizado, mas quem são vocês? 16E atirando-se o homem no qual estava o espírito mau sobre eles, assenhorou-se de uns e outros, superou-os em força a ponto de nus e feridos fugirem daquela casa].

7Ἐν δὲ τῇ μιᾷ τῶν σαββάτων συνηγμένων ἡμῶν κλάσαι ἄρτον, ὁ Παῦλος διελέγετο αὐτοῖς μέλλων ἐξιέναι τῇ ἐπαύριον, παρέτεινέν τε τὸν λόγον μέχρι μεσονυκτίου.8ἦσαν δὲ λαμπάδες ἱκαναὶ ἐν τῷ ὑπερῴῳ οὗ ἦμεν συνηγμένοι.9καθεζόμενος δέ τις νεανίας ὀνόματι Εὔτυχος ἐπὶ τῆς θυρίδος, καταφερόμενος ὕπνῳ βαθεῖ διαλεγομένου τοῦ Παύλου ἐπὶ πλεῖον, κατενεχθεὶς ἀπὸ τοῦ ὕπνου ἔπεσεν ἀπὸ τοῦ τριστέγου κάτω καὶ ἤρθη νεκρός.10καταβὰς δὲ ὁ Παῦλος ἐπέπεσεν αὐτῷ καὶ συμπεριλαβὼν εἶπεν· μὴ θορυβεῖσθε, ἡ γὰρ ψυχὴ αὐτοῦ ἐν αὐτῷ ἐστιν.11ἀναβὰς δὲ καὶ κλάσας τὸν ἄρτον καὶ γευσάμενος ἐφ’ ἱκανόν τε ὁμιλήσας ἄχρι αὐγῆς, οὕτως ἐξῆλθεν.12ἤγαγον δὲ τὸν παῖδα ζῶντα καὶ παρεκλήθησαν οὐ μετρίως. (At 20.7-12)

[Transl. 7En dè tē miâi tōn sabbátōn synēgménōn hémōn klasai, ho Paûlos dielégeto autoîs méllōn exiénai tēi epaúrion, paréteinén te tòn lógon méchri mesonyktíou. 8ēsan dè lampádes hikanaì em tōi hyperōioi hoû hêmen synēgménoi. 9kathedzómenos dé tis neanías honómati Eútychos epí tēs tyrífod, katapherómenos hypnōi batheî dialegoménou toû Paûlou epí pleîon, katenchtheìs apò toû hýpnou épesen apò toû tristégou kátō kaí ērthē nekrós. 10katabàs dè ho Paûlos epépesen autōi kaì symperilabōn eîpen. Mē thorybeîsthe, ē gàr psychè autoû en autōi estin. 11anabàs dè kaì klásas tòn árton kaì geusámenos eph’hikanón te homilēsas árchri augēs oútōs exēlthen. 12ēgagon dè tòn paîda dzōnta kaí pareklēthēsan ou metíōs].

[Trad. 7No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo falava-lhes (estava para partir no dia seguinte), e prolongava o discurso até meia-noite, 8havia muitas lâmpadas na sala do andar superior, no qual estávamos reunidos. 9Sentando na janela, certo jovem que tinha por nome Êutico, dominado pelo sono profundo, uma vez que Paulo estava falando por mais tempo, vencido pelo sono caiu do terceiro andar para baixo e foi levado morto. 10Paulo, uma vez que desceu e abraçou-o, lançou-se sobre ele, e disse: “Não façam barulho, pois a vida dele está nele”. 11Tendo subido e partido o pão e tendo comido, por muito tempo tendo argumentado até a aurora, assim partiu. 12Conduziram o rapaz vivo e foram significativamente confortados].

1Καὶ διασωθέντες τότε ἐπέγνωμεν ὅτι Μελίτη ἡ νῆσος καλεῖται.2οἵ τε βάρβαροι παρεῖχον οὐ τὴν τυχοῦσαν φιλανθρωπίαν ἡμῖν, ἅψαντες γὰρ πυρὰν προσελάβοντο πάντας ἡμᾶς διὰ τὸν ὑετὸν τὸν ἐφεστῶτα καὶ διὰ τὸ ψῦχος.3Συστρέψαντος δὲ τοῦ Παύλου φρυγάνων τι πλῆθος καὶ ἐπιθέντος ἐπὶ τὴν πυράν, ἔχιδνα ἀπὸ τῆς θέρμης ἐξελθοῦσα καθῆψεν τῆς χειρὸς αὐτοῦ.4ὡς δὲ εἶδον οἱ βάρβαροι κρεμάμενον τὸ θηρίον ἐκ τῆς χειρὸς αὐτοῦ, πρὸς ἀλλήλους ἔλεγον· πάντως φονεύς ἐστιν ὁ ἄνθρωπος οὗτος ὃν διασωθέντα ἐκ τῆς θαλάσσης ἡ δίκη ζῆν οὐκ εἴασεν.5ὁ μὲν οὖν ἀποτινάξας τὸ θηρίον εἰς τὸ πῦρ ἔπαθεν οὐδὲν κακόν,6οἱ δὲ προσεδόκων αὐτὸν μέλλειν πίμπρασθαι ἢ καταπίπτειν ἄφνω νεκρόν. ἐπὶ πολὺ δὲ αὐτῶν προσδοκώντων καὶ θεωρούντων μηδὲν ἄτοπον εἰς αὐτὸν γινόμενον μεταβαλόμενοι ἔλεγον αὐτὸν εἶναι θεόν (At 28.1-6).

[Transl. 1Kaì diasōthéntes tóte epégnōmen hoti Melítē ē nēsos kaleîtai. 2hoí te bárbaroi pareîchon ou tēn tychoûsan philanthōpían hemîn, apsantes gàr pyràn proselábonto pántas ēmãs dià tón hyetòn tòn ephestōta kaì diá tò psychos. 3Systrépsantos dè toû Paûlou phrygánon ti plēthos kaì epithéntos epì tēn pyrán, échidna apò tēs thérmēs exelthoûsa katēpsen tēs cheiros autoû. 4hōs dè eîdon hoí bárbaroi kremámenon tò theríon ek tês cheiros autoû, pròs allēlous élegon: pántōs phoneús estin hó ántrōpos hoûtos hòn diasōthénta ek tēs thalásses hē díkē dzēn ouk eíasen. 5hó mèn oûn apotináxas tò thēríon eis tò pyr épathen oudèn kakón, 6hoi dè prosedókōn méllein pímprasthai è katapíptein áphnō nekrón. Epí polý dè autōn prosedókōntōn kaì theōrountōn mēdèn átopon eis autòn ginómenon metabalómenoi élegon autòn eînai theón].

[Trad. 1E tendo sido salvos, ficamos sabendo que a ilha se chama Malta. 2E os bárbaros nos mostravam incomum benevolência, pois acendendo uma fogueira, acolheram todos nós por causa da chuva que tinha chegado e por causa do frio. 3Paulo, tendo ajuntado um monte de gravetos e tendo colocado na fogueira, uma víbora, saindo do calor, prendeu-se na mão dele. 4Quando os bárbaros viram a criaturinha que pendia da mão dele, diziam uns aos outros: certamente este homem é assassino, o qual tendo sido salvo do mar, a justiça não o permitiu viver, 5Por um lado, tendo ele sacudido o animal para o fogo, não sofreu mal algum 6, por outro lado, eles esperavam que iria inchar ou cair morto de repente, mas por muito tempo esperando e observando, nada anormal lhe acontecendo, mudando de opinião, diziam ser ele um deus].

6 O gênero anedota

De todas as formas discursivas populares, é possível considerar a anedota como a mais vulgar ou mais baixa. Assim sendo, por que não dizer também que se trata da mais cômica? Isso parece bem evidente, pois a anedota diferencia-se da ironia, que produz um riso de canto de boca ou, se o interlocutor for despercebido, nem sequer produz riso; também se diferencia do sarcasmo que só proporciona riso aos insensíveis, e da paródia que é mais engraçada para aquele que conhece o texto parodiado.

Diferentemente das três manifestações cômicas mencionadas, a anedota é uma narrativa cuja irreverência é óbvia o bastante para que todos possam compreendê-la, e, ao mesmo tempo, ingênua para que não ofenda a sensibilidade de ninguém que a ouve ou lê. O resultado que se espera da anedota é a irrisão espontânea, não o riso tímido de um enigma inteligente ou o riso doentio dos sarcásticos.

Se, conforme Vladmir Propp (1992)PROPP, V. Comicidade e Riso. São Paulo: Ática, 1992., é um erro tratar do cômico a partir de abstrações, parece que o recurso existente é abordá-lo a partir de situações imagináveis concretas no mundo real, como seria o caso de pensar em um ser humano contando uma determinada história engraçada para um interlocutor real em posição de simetria durante a narrativa do breve relato que se caracteriza como anedota.

Para realizar esse exercício em termos práticos, por exemplo, suponhamos que o homem com espirito mau assassinasse os filhos de Ceva após a seção de exorcismo malsucedido. Isso não seria cômico, ao invés disso, seria um desastre que só causaria riso àqueles que têm um senso de humor doentio, os sarcásticos. No entanto, quando se diz que sete homens foram espancados, feridos e desnudados por um só endemoninhado, a história é cômica. Ainda que possa ter sido assustadora para quem a viu em tempo real, a passagem do tempo entre a ocorrência e o momento atual em que se relata sua ocorrência e a tranquilidade na consciência que produz a notícia que os males causados aos filhos de Ceva não foram permanentes proporcionam ainda mais comicidade.

O mesmo pode se dizer das outras duas passagens bíblicas. Se Êutico tivesse permanecido morto após cair da janela enquanto escutava o aparentemente enfadonho e extenso sermão do apóstolo Paulo que não parava de falar porque queria tratar de todo o assunto que presumia ser importante antes de sua partida na manhã seguinte, a história seria triste e insensível, tendo em vista que o apóstolo continuou seu discurso apesar de ter causado uma morte. Assim como seria de uma infelicidade fatalmente banal a narrativa que relatasse que o apóstolo, que triunfou sobre tantos perigos, armadilhas e infortúnios, morreu após ser mordido por uma “criaturinha”. Êutico foi ressuscitado após uma queda banal que não fez com que o apóstolo colocasse fim em seu discurso, e, na outra narrativa, Paulo passou ileso à picada de um pequena víbora peçonhenta, o olhar retrospectivo para o que ocorreu nos dois casos torna essas narrativas cômicas.

Cada uma dessas histórias seria ainda mais cômica se fosse contada por um bom contador de histórias, aquele tipo de pessoa dotada de bom humor que sabe dramatizar a narração, mudar a entonação de voz conforme o personagem ou o evento e gesticular de acordo com o conteúdo narrado. Esse tipo de habilidade da qual alguns seres humanos são dotados naturalmente é uma característica tipicamente carnavalesca que deve acompanhar a anedota, de acordo com a terminologia de Bakhtin (2010a)BAKHTIN, M. M. Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. 7.ed. São Paulo: Hucitec, 2010 a..

Não é por acaso que mencionamos essas características associadas ao bom contador de histórias à anedota, pois apesar de a anedota tratar-se de uma forma narrativa, com frequência, acompanham-na:

“[...] gestos não verbais como acessórios incluindo expressões manuais e faciais acopladas, posturas, etc., que tendem a complementar-se em uníssono, muitas vezes para reforçar, a irreverência transmitida pelo fio verbal temático primário. Apesar do fato de todas as anedotas serem configurações intrinsecamente pansemióticas, a alternância verbal é tipicamente primária

(SEBEOK, 2002SEBEOK, Th. A. Transmutações intersemióticas: um gênero de anedotas híbridas. DeSignis, n. 3, p. 105-112, 2002., p. 105).

Nesse caso, se o narrador imitasse a tom de voz acovardado e os gestos inseguros dos filhos de Ceva enquanto tentavam praticar o exorcismo tremendo de medo ou então imitasse a voz de uma pessoa possuída por um espírito maligno que se dá ao capricho de dizer que não conhece os sete homens que espancará, se alguém contasse essa história alternando vozes e realizando gestos de remedo, certamente seria uma história muito engraçada sem deixar de ser verdadeira e sem deixar de estar relacionada com um tema importante, que é o preparo que se exige daquele que pretende praticar exorcismo e a autoridade da palavra do apóstolo que invoca o nome de Jesus.

Na história de Êutico, o contador de anedotas bem poderia imitar a postura inalteravelmente tranquila do apóstolo Paulo, pois quem é que não se agitaria ao ver um membro de sua audiência cair do terceiro andar? Apesar de ser uma cena perturbadora a qualquer pessoa de bom senso, não foi para o apóstolo, que se aproximou do jovem que caiu da janela, comentou que ele não estava morto e retomou sua palestra até a aurora (At 20.12), isso após o narrador ter mencionado que quando o acidente ocorreu o discurso de Paulo já era extenso. Imagine alguém imitando a inabalável postura de Paulo enquanto acontece esse evento que poderia ter sido fatal. O testemunho do apóstolo Paulo é inquestionável para a audiência lucana, mesmo perante a sua aparente insensibilidade, a qual só resta ser compreendida como cômica. Ele tinha tanta necessidade de falar que nem um grave infortúnio ocorrido em sua frente o faz parar. Esse tipo de história parece estar relacionado a uma memória cômica que se registrou sobre o apóstolo.

Por sua vez, a comicidade da narrativa da criaturinha que mordeu e se dependurou na mão do apóstolo Paulo está no julgamento volátil dos bárbaros que a partir do mesmo fato ocorrido fizeram dois julgamentos opostos. Primeiro julgaram que Paulo estivesse amaldiçoado por ser um assassino e que a sucessão de infortúnios: “desastre marinho seguido pela picada da vibora” significasse que uma força divina, a justiça, queria-o morto (At 28.4), mas como ele não morreu, esses eventos indicavam que ele era divino. O relato dessa mudança significativa de julgamento feita a partir da interpretação dos mesmos acontecimentos indica certa ingenuidade no raciocínio dos malteses. Lembremo-nos que Lucas, o narrador implícito, possivelmente é grego, por isso nomeia os nativos de Malta de bárbaros, caçoar da ignorância deles e remedá-los não parece estranho a quem chama os não helenizados pelo pejorativo nome de bárbaros, que significa literalmente “balbuciadores” – ou, para ser mais direto, “babões”.

Se é convincente nossa argumentação sobre a comicidade dessas três narrativas, assim como se dispensa a necessidade de justificar que sejam narrativas breves, dada a dimensão diminuta desses três relatos, resta-nos, por outro lado, comentar em que sentido essas perícopes possuem conteúdo profano, uma vez que já explicamos que estão inseridas no projeto teológico lucano.

Só podemos compreendê-las como profanas no sentido em que são profanos o despreparo, o sono e a ignorância. De acordo com isso, o profano não é a negação ao religioso, mas são ocorrências comuns que não devem suceder durante a atividade religiosa, por isso, quando ocorrem, manifestam a contradição de termos que é o cômico per se.

Tomar a iniciativa de realizar um exorcismo invocando a autoridade de outrem, significa reconhecer que não se tem autoridade para realização de tal performance; significa, desse modo, reconhecer-se como profano, consequentemente como incapaz de uma atividade que ninguém coagiria a fazer quem não tomasse a iniciativa. A tomada de iniciativa para realização de um ato para o qual se é incapaz de realizar é um atestado de incompetência, não de vileza ou maldade. Não há julgamento moral quanto aos filhos de Ceva a não ser a mediocridade e incompetência deles que são pretensos exorcistas ambulantes.

Quanto a Êutico, era de supor que o narrador presumisse que sua audiência entendesse que se tratava de um jovem pobre que, para sobreviver no seu mundo desigual, trabalhava a maior parte do dia em serviços pesados em condições precárias. Que uma pessoa dessas não aguentasse ouvir um sermão tão extenso que adentra a madrugada, não deve surpreender nem atrair julgamentos negativos quanto à sua sonolência. Pelo contrário, era natural que alguém tivesse sono à meia-noite se vivesse nessas condições. O problema é quando o sono, que é uma das necessidades humanas mais básicas, portanto mais profanas, concorre com a palavra apostólica. Apesar de ser inapropriado, e, no caso particular, altamente arriscado dormir enquanto se ouve a palavra do apóstolo, não se trata efetivamente de uma atitude condenável.

No mesmo sentido, a interpretação ingênua que os malteses fazem dos fatos ocorridos ao apóstolo Paulo fazem deles profanos, isso é, totalmente destituídos da noção do sagrado que Lucas entende ser verdadeira. A noção de sagrado dos malteses é profana porque se baseia em evidências tiradas de ocorrências na realidade concreta que assistem, enquanto que para Lucas, a verdade do kerygma manifesta-se na palavra proclamada que desvela o real, que é desconhecido pelos sentidos humanos que só alcançam a realidade trivial, que é evidente aos olhos humanos comuns.

Como afirma Propp em seu estudo sobre a comicidade e o riso: “o nexo entre o objeto cômico e a pessoa que ri não é obrigatório nem natural. Lá, onde um ri, outro não ri” (1992, p. 31). Isso significa que apontar a comicidade não é um exercício objetivo, mas, mesmo sem sê-lo, é possível apontar elementos cômicos, geralmente indicados pelo contraditório, pela ausência entre causa e efeito, pelo inesperado, pelo exagero e pela ignorância e pela rude insensibilidade, e parece-nos que ao menos alguns desses efeitos estão claramente incluídos nas narrativas de Atos estudadas por nós.

Do ponto de vista da narrativa como um todo, a inserção das anedotas em sequências de textos kerimáticos que supostamente foram unidos para dar forma textual a conteúdos que foram compostos independentemente uns dos outros proporciona o interessante efeito literário da pausa, que tem sua relevância para a continuidade de uma obra extensa, como é a de Atos, diga-se de passagem, o maior livro do Novo Testamento. Referimo-nos à pausa, no sentido em que os temas das anedotas são independentes e não estão ligados aos grandes conteúdos narrativos que permeiam a maior parte do segundo volume da obra lucana. Com isso quer se dizer que as anedotas proporcionam leveza em vista do conteúdo kerigmático.

Além dos efeitos literários apontados acima, as anedotas também apontam para a manifestação do cômico no Novo Testamento, ao qual a maioria dos teólogos bíblicos ignora solenemente, porque a teologia acadêmica é unilateralmente agelasta. Apesar de pouco comentado nos estudos bíblicos, o segundo volume da obra lucana é repleto de efeitos de comicidade, os quais se distinguem claramente de qualquer espécie de frivolidade, por se caracterizarem com o que Peter Berger (2017)BERGER, P. O Riso Redentor: a dimensão cômica da experiência humana. Petrópolis: Vozes, 2017. chamou de “riso redentor”, que se trata, na interpretação desse sociólogo, do riso transcendente que, desse modo, aponta para a manifestação do divino. O cômico na obra lucana manifesta o sagrado e não há separação entre gêneros sérios e cômicos entre os textos neotestamentários em geral, e não há separação entre gêneros sérios e cômicos particularmente no segundo volume da obra atribuída a Lucas, como acabamos de apontar.

Considerações finais

Nossa reflexão sobre o gênero anedota apontou para a existência de padrões que nos permitem afirmar que há, sim, um subgênero no Novo Testamento que pode ser definido como anedota, apesar da não existência desse termo nos manuais de crítica das formas, que geralmente guiam os estudiosos que investigam as formas bíblicas.

Mesmo não sendo o que podemos chamar de kerigmático, o subgênero das anedotas tem importância especial no Novo Testamento, pois podem ser tratadas como gênero baixo ou, se preferir, como Kleinliteratur, que seriam o correspondente bíblico de gêneros inferiores, os quais fazem parte de uma ampla variedade de outros gêneros baixos da antiguidade Greco-Romana.

Também é importante dizer que as anedotas, por seu conteúdo ser independente dos textos que estão ao seu redor, proporcionam pausas temáticas à sequência kerigmática da narrativa do livro de Atos dos Apóstolos. O que é de significativa importância levando em conta a extensão dessa obra, que é o maior livro do Novo Testamento.

No que diz respeito à teologia, as anedotas apontam para o modo como a manifestação divina se realiza pela palavra e pela performance dos apóstolos na contraditoriedade das ações corriqueiras que se sucedem ao longo da ocorrência da vida humana, sobretudo em infortúnios, que podem ser classificados como profanos. Isso significa que o cômico das anedotas aponta para o transcendente, mesmo que a teologia acadêmica agelasta não tenha se dado conta disso até hoje.

  • 1
    Certamente o livro de Atos dos Apóstolos possui muitas narrativas que podem ser classificadas por muitos gêneros e subgêneros e também há muitos critérios para a classificação destes. A proposta mencionada refere-se à coerência da classificação de Atos dos Apóstolos de acordo com os critérios específicos de Bakhtin, o que não conflita nem elimina as outras possibilidades de classificações que são mais tradicionais, as quais seguem a retórica e a poética clássicas ou se baseiam em outras áreas perspectivas de estudo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    06 Out 2022
  • Aceito
    01 Dez 2022
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