Acessibilidade / Reportar erro

CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM PARA PESSOAS COM HEMOFILIA

CONSTRUCCIÓN Y VALIDACIÓN DE UN INSTRUMENTO DE CONSULTA DE ENFERMERÍA PARA PERSONAS CON HEMOFILIA

RESUMO

Objetivo:

construir e validar um instrumento de consulta de enfermagem para pessoas com hemofilia.

Método:

estudo metodológico realizado de fevereiro de 2017 a fevereiro de 2018, em um serviço referência de hematologia do Nordeste do Brasil. Utilizou-se a técnica Delphi para validação, por três grupos de enfermeiras juízas (n=29): Especialistas em hemofilia (n=nove) de nove hemocentros do país; Residência em Hematologia (n=oito); Enfermeiras do Serviço (n=12). A concordância entre as juízas foi verificada por escala Likert e teste exato de Fisher.

Resultados:

89,6% não apresentaram dificuldade para compreender o instrumento. Quanto ao grau de relevância, as características ‘credibilidade’ e ‘cientificidade’ apresentaram maiores percentuais de extremamente relevante (90%). O teste exato de Fisher foi significativo no grau de satisfação de ‘clareza das afirmações’ (p<0,05).

Conclusão:

o instrumento foi considerado válido, proporcionando autonomia, apoio técnico e respaldo ético ao enfermeiro, contribuindo na melhoria da qualidade da assistência.

DESCRITORES
Enfermagem no Consultório; Estudo de Validação; Hemofilia A; Hemofilia B; Protocolo

RESUMEN

Objetivo:

construir y validar un instrumento de consulta de enfermería para personas con hemofilia.

Método:

estudio metodológico realizado de febrero de 2017 a febrero de 2018, en un servicio de referencia de hematología del Nordeste de Brasil. Para la validación se utilizó la técnica Delphi, por parte de tres grupos de enfermeras jueces (n=29): Especialistas en hemofilia (n=nueve) de nove hemocentros del país; Residencia en Hematología (n=ocho); Enfermeras del Servicio (n=12). La concordancia entre las jueces se verificó mediante la escala Likert y la prueba exacto de Fisher.

Resultados:

89,6% não apresentaram dificuldade para compreender o instrumento. Quanto ao grau de relevância, as características ‘credibilidade’ e ‘cientificidade’ apresentaram maiores percentuais de extremamente relevante (90%). O teste exato de Fisher foi significativo no grau de satisfação de ‘clareza das afirmações’ (p<0,05).

Conclusión:

o instrumento foi considerado válido, proporcionando autonomia, apoio técnico e respaldo ético ao enfermeiro, contribuindo na melhoria da qualidade da assistência.

DESCRIPTORES
Enfermagem no Consultório; Estudo de Validação; Hemofilia A; Hemofilia B; Protocolo

ABSTRACT

Objective:

to construct and validate a nursing consultation instrument for people with hemophilia.

Method:

methodological study conducted from February 2017 to February 2018, in a hematology reference service in Northeast Brazil. The Delphi technique was used for validation, by three groups of nurse judges (n=29): hemophilia specialists (n=nine) from nine blood centers in the country; Hematology Residency (n=eight); Service Nurses (n=12). Inter-rater agreement was checked by Likert scale and Fisher’s exact test.

Results:

89.6% had no difficulty in understanding the instrument. As for the degree of relevance, the characteristics ‘credibility’ and ‘scientificity’ showed higher percentages of extremely relevant (90%). Fisher’s exact test was significant in the degree of satisfaction of ‘clarity of statements’ (p<0.05).

Conclusion:

the instrument was considered valid, providing autonomy, technical support, and ethical support to the nurse, contributing to the improvement of the quality of care.

DESCRITORES
Office Nursing; Validation Study; Hemophilia A; Hemophilia B; Protocol

INTRODUÇÃO

A hemofilia é uma doença hemorrágica, genética, rara, com herança recessiva ligada ao cromossomo X. É caracterizada pela deficiência ou anormalidade da atividade coagulante do fator VIII (hemofilia A) ou do fator IX (hemofilia B). Do ponto de vista clínico, as hemofilias A e B são semelhantes, apresentando quadros hemorrágicos dependendo dos níveis plasmáticos do fator deficiente. As hemofilias podem ser classificadas como grave, quando o nível de fator circulante é menor que 1%; moderada, entre 1% e 5% e; leve, de 5% a 40%(11 Srivastava A, Brewer AK, Mauser-Bunschoten EP, Key NS, Kitchen S, Llinas A, et al. Guidelines for the management of hemophilia. Haemophilia. [Internet]. 2013 [acesso em 04 jul 2019]; 19(1). Disponível em: https://doi.org/10.1111/j.1365-2516.2012.02909.x.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2516.2012...
-22 Scott MJ, Xiang H, Hart DP, Palmer B, Collins PW, Stephensen D, et al. Treatment regimens and outcomes in severe and moderate haemophilia A in the UK: the Thunder study. Haemophilia. [Internet]. 2019 [acesso em 04 jul 2019]; 25(2). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.13616.
https://doi.org/10.1111/hae.13616...
).

Em 2017, o Brasil (n=12.432) tinha a quarta maior população mundial de Pessoas com Hemofilia (PcH), ficando atrás da Índia (n=18.966), Estados Unidos (n=17.750) e China (n=14.390), sendo a doença de maior prevalência entre as coagulopatias hereditárias(33 World Federation of Hemophilia. Annual Global Survey 2017 [Internet]. Montreal; 2018 [acesso em 08 ago 2019]. Disponível em: http://www1.wfh.org/publications/files/pdf-1714.pdf.
http://www1.wfh.org/publications/files/p...
).

A consulta de enfermagem (CE) é parte fundamental do cuidado a PcH, sendo considerada uma estratégia tecnológica importante e resolutiva, que oferece inúmeras vantagens no cuidado prestado(44 O’Shea E, Coughlan M, Corrigan H, McKee G. Evaluation of a nurse-led haemophilia counselling service. Br J Nurs. [Internet]. 2012 [acesso em 17 jul 2019]; 21(14). Disponível em: http://doi.org/10.12968/bjon.2012.21.14.864.
https://doi.org/10.12968/bjon.2012.21.14...
-55 Khair K, Chaplin S. What is a nurse-led service? A discussion paper. J Haem Pract. [Internet]. 2017 [acesso em 04 jul 2019]; 4(1). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00100.
https://doi.org/10.17225/jhp00100...
). Neste contexto, o enfermeiro é um dos principais protagonistas do cuidado, porque realiza educação em saúde do paciente e familiares(11 Srivastava A, Brewer AK, Mauser-Bunschoten EP, Key NS, Kitchen S, Llinas A, et al. Guidelines for the management of hemophilia. Haemophilia. [Internet]. 2013 [acesso em 04 jul 2019]; 19(1). Disponível em: https://doi.org/10.1111/j.1365-2516.2012.02909.x.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2516.2012...
,44 O’Shea E, Coughlan M, Corrigan H, McKee G. Evaluation of a nurse-led haemophilia counselling service. Br J Nurs. [Internet]. 2012 [acesso em 17 jul 2019]; 21(14). Disponível em: http://doi.org/10.12968/bjon.2012.21.14.864.
https://doi.org/10.12968/bjon.2012.21.14...

5 Khair K, Chaplin S. What is a nurse-led service? A discussion paper. J Haem Pract. [Internet]. 2017 [acesso em 04 jul 2019]; 4(1). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00100.
https://doi.org/10.17225/jhp00100...
-66 Khair K, Abu-Riash M, Acerbi AC, Beijlevelt M, Floros G, Li K, et al. Haemophilia nursing practice: a global survey of roles and responsibilities. J Haem Pract. [Internet]. 2016 [acesso em 20 jul 2019]; 3(2). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00078.
https://doi.org/10.17225/jhp00078...
), faz o treinamento para autoinfusão do fator em domicílio(77 Polinski JM, Kowal MK, Gagnon M, Brennan TA, Shrank WH. Home infusion: safe, clinically effective, patient preferred, and cost saving. Healthc (Amst). [Internet]. 2017 [acesso em 08 jul 2019]; 5(1-2). Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.hjdsi.2016.04.004.
https://doi.org/10.1016/j.hjdsi.2016.04....

8 Santaella ME, Bloomberg M, Anglade D. Home infusion teaching practices at federally funded hemophilia treatment centers in the United States of America. Res Pract Thromb Haemost. [Internet]. 2017 [acesso em 08 jul 2019]; 1(1). Disponível em: http://doi.org/10.1002/rth2.12020.
https://doi.org/10.1002/rth2.12020...
-99 Lock J, Raat H, Peters M, Scholten M, Beijlevelt M, Oostenbrink R, et al. Optimization of home treatment in haemophilia: effects of transmural support by a haemophilia nurse on adherence and quality of life. Haemophilia. [Internet]. 2016 [acesso em 17 jul 2019]; 22(6). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.13043.
https://doi.org/10.1111/hae.13043...
), monitora o progresso do tratamento, melhorando a qualidade e a segurança, incluindo a adesão ao tratamento(99 Lock J, Raat H, Peters M, Scholten M, Beijlevelt M, Oostenbrink R, et al. Optimization of home treatment in haemophilia: effects of transmural support by a haemophilia nurse on adherence and quality of life. Haemophilia. [Internet]. 2016 [acesso em 17 jul 2019]; 22(6). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.13043.
https://doi.org/10.1111/hae.13043...
-1010 Schrijvers LH, Schuurmans MJ, Fischer K. Promoting self-management and adherence during prophylaxis: evidence-based recommendations for haemophilia professionals. Haemophilia. [Internet]. 2016 [acesso em 13 jun 2019]; 22(4). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.12904.
https://doi.org/10.1111/hae.12904...
).

Para garantir a confiabilidade à assistência de enfermagem através de procedimentos seguros, baseados em evidências científicas, é imprescindível a construção de protocolos. Há princípios estabelecidos para construção e validação de protocolos de assistência, como a definição clara do foco, da população a que se destinam, quem é o executor das ações, qual a estratégia de revisão da literatura, análise das evidências utilizadas, a forma de validação pelos pares, estratégias de implementação e a construção dos resultados esperados(1111 Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Guia para construção de protocolos assistenciais de Enfermagem [Internet]. São Paulo: COREN-SP; 2017 [acesso em 08 ago 2019]. Disponível em: http://www.coren-sp.gov.br/sites/default/files/Protocolo-web.pdf.
http://www.coren-sp.gov.br/sites/default...
-1212 Catunda HLO, Bernardo EBR, Vasconcelos CTM, Moura ERF, Pinheiro AKB, Aquino P de S. Percurso metodológico em pesquisas de enfermagem para construção e validação de protocolos. Texto contexto - enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 05 jun 2018]; 26(2). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017000650016.
https://doi.org/10.1590/0104-07072017000...
).

A validade de conteúdo é a determinação da representatividade de itens que expressam um conteúdo, baseada no julgamento de especialistas em uma área específica, determinando se o conteúdo de um instrumento de medida explora, de maneira efetiva, os quesitos para mensuração de um determinado fenômeno a ser investigado(1212 Catunda HLO, Bernardo EBR, Vasconcelos CTM, Moura ERF, Pinheiro AKB, Aquino P de S. Percurso metodológico em pesquisas de enfermagem para construção e validação de protocolos. Texto contexto - enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 05 jun 2018]; 26(2). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017000650016.
https://doi.org/10.1590/0104-07072017000...
).

Este artigo tem como objetivo descrever a construção e a validação de conteúdo de um instrumento de consulta de enfermagem para PcH, em um serviço referência de hematologia do Nordeste brasileiro. A escassez de instrumentos de CE para pacientes com coagulopatias, e a grande complexidade de informações necessárias para a consulta, de forma a garantir que nenhum aspecto seja negligenciado, justificam a importância deste estudo.

MÉTODO

Estudo metodológico realizado no ambulatório de coagulopatias hereditárias de um serviço referência de hematologia do Nordeste brasileiro, situado em Recife-PE. A coleta de dados foi realizada de fevereiro de 2017 a fevereiro de 2018.

O referencial teórico seguido no estudo(1313 Benson J, Clark F. A guide for instrument development and validation. Am J Occup Ther. [Internet]. 1982 [acesso em 21 maio 2017];36(12). Disponível em: http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789.
https://doi.org/10.5014/ajot.36.12.789...
) sugere um roteiro de quatro etapas para guiar o processo de construção e validação de instrumentos: 1. Planejamento (objetivo, população alvo, itens do instrumento); 2. Construção (conteúdo, avaliação da validade de conteúdo por um painel de especialistas); 3. Validação (aplicação do teste em um número significativo de juízes para validade de conteúdo e de aparência). 4. Avaliação final do instrumento (aplicação da versão piloto em um grupo experimental apropriado).

1ª Etapa: Planejamento

Nesta etapa foram identificados indicadores empíricos (variáveis sociodemográficas e clínicas) e das necessidades humanas afetadas de PcH, através da observação randomizada das CE no ambulatório do serviço. Realizou-se também levantamento bibliográfico com os descritores “estudos de validação” combinados com “enfermagem no consultório”, “hemofilia A” e “hemofilia B” utilizando o operador booleano ‘AND’, nas bases de dados BDENF, BIREME/BVS, LILACS, MEDLINE/PubMed, Ministério da Saúde do Brasil, SCIELO e World Federation of Hemophilia.

2ª Etapa: Construção do Instrumento

A primeira versão do instrumento foi construída segundo modelo do Hemovida Web-Coagulopatias do Ministério da Saúde do Brasil(1414 Rezende SM, Rodrigues SHL, Brito KNP, Silva DLQ da, Santo ML, Simões B de J, et al. Evaluation of a web-based registry of inherited bleeding disorders: a descriptive study of the Brazilian experience with HEMOVIDAweb Coagulopatias. Orphanet J Rare Dis. [Internet]. 2017 [acesso em 15 maio 2018]; 12(27). Disponível em: https://ojrd.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13023-016-0560-6.
https://ojrd.biomedcentral.com/articles/...
), porque o levantamento bibliográfico realizado não encontrou artigos sobre instrumento de CE para hemofilia. Desta forma, o instrumento foi elaborado por duas enfermeiras do serviço com 10 anos dedicados exclusivamente a PcH, com média de 110 atendimentos/mês. Posteriormente, o instrumento foi analisado pela técnica do grupo focal, por uma equipe multiprofissional de 12 especialistas do ambulatório (um assistente social, duas enfermeiras, duas psicólogas, um fisioterapeuta, um dentista, uma farmacêutica e quatro médicas).

3ª Etapa: Validação do instrumento

Nesta etapa, o instrumento foi avaliado por enfermeiras juízas através da técnica Delphi(1515 Massaroli A, Martini JG, Lino MM, Spenassato D, Massaroli R. The Delphi method as a methodological framework for research in nursing. Texto contexto-enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 05 jun 2019]; 26(4). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017001110017.
https://doi.org/10.1590/0104-07072017001...
), que consiste em avaliar um determinado tópico por meio do julgamento de especialistas no assunto, baseando-se na opinião convergente dos avaliadores, enfatizando a necessidade de consenso do grupo. Também utilizou-se a validação de aparência, mesmo sendo considerada uma técnica subjetiva(1212 Catunda HLO, Bernardo EBR, Vasconcelos CTM, Moura ERF, Pinheiro AKB, Aquino P de S. Percurso metodológico em pesquisas de enfermagem para construção e validação de protocolos. Texto contexto - enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 05 jun 2018]; 26(2). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017000650016.
https://doi.org/10.1590/0104-07072017000...
), entretanto consideramos importante devido à avaliação ter sido realizado por especialistas de nove estados brasileiros, propiciando uma maior confiabilidade ao instrumento.

O tamanho da amostra das juízas foi definido pela fórmula n=Za2.P.(1-P)/d2, onde Za refere-se ao nível de confiança (convencionou-se 95%), P é a proporção de indivíduos que concordam com a pertinência dos conceitos (convencionou-se 85%), e d é a diferença de proporção considerada aceitável (convencionou-se 15%)(1616 Arango HG. Bioestatística: teórica e computacional. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009.). O cálculo final foi determinado por n=1,952.0,85.0,15/0,152 e com isso, obteve-se uma amostra de 22 juízas, sendo acrescentado 20% para perdas ou recusas, totalizando 26 juízas.

Os critérios de seleção das juízas foram: 1. Especialistas em Hemofilia (EH, n=nove) de nove hemocentros do país (Campinas, Ceará, João Pessoa, Maceió, Manaus, Natal, Minas Gerais, Recife e Rio de Janeiro) definida por meio da amostragem de bola de neve(1717 Polit DF, Beck CT. Fundamentos da pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências na prática de enfermagem. 7. ed. Porto Alegre: Artmed; 2011), na qual o participante selecionado indica outros participantes, tratando-se de uma amostra por conveniência, sendo enviados por endereço eletrônico a carta convite e a ficha de avaliação; 2. Enfermeiros com Residência em Hematologia (ER, n=oito); 3. Enfermeiros do Serviço (ES, n=12), todas com experiência de mais de três anos no atendimento a PcH. Adotou-se como critérios de exclusão enfermeiras afastadas por licença médica, prêmio e férias.

As juízas foram convidadas a participar do estudo, orientadas dos objetivos e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todas as enfermeiras aceitaram participar do estudo e o grupo EH enviou as respostas por meio de endereço eletrônico. Conseguiu-se obter uma amostra de 29 juízas, conferindo maior confiança à validação efetuada, atendendo ao quantitativo recomendado de uma amostra de 25 a 50 especialistas para realizar a validação(1515 Massaroli A, Martini JG, Lino MM, Spenassato D, Massaroli R. The Delphi method as a methodological framework for research in nursing. Texto contexto-enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 05 jun 2019]; 26(4). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017001110017.
https://doi.org/10.1590/0104-07072017001...
).

A concordância entre as juízas foi verificada pela escala likert de quatro pontos(1818 Voutillainen A, Pitkäaho T, Kvist T, Vehviläinen-Julkunen K. How to ask about patient satisfaction? The visual analogue scale is less vulnerable to confounding factors and ceiling effect than a symmetric Likert scale. J Adv Nurs. [Internet]. 2015 [acesso em 23 jun 2019]; 72(4). Disponível em: http://doi.org/10.1111/jan.12875.
https://doi.org/10.1111/jan.12875...
) e pelo teste exato de Fisher, aplicado para comparar a concordância entre as especialistas, para verificar a homogeneidade da aplicação do instrumento. A ficha de avaliação analisou: A. Grau de dificuldade de preenchimento (dificuldade completa-1, dificuldade moderada-2, dificuldade leve-3, sem dificuldade-4); B. Grau de relevância das características: objetividade, simplicidade, clareza, pertinência, precisão, credibilidade e cientificidade (não relevante-1, pouco relevante-2, relevante-3, extremamente relevante-4); C. Grau de satisfação sobre aparência do instrumento: apresentação, clareza das questões, facilidade de leitura, interpretação e representatividade (sem impacto-1, insuficiente-2, satisfatório-3, ótimo-4).

A pontuação de cada item foi tabulada com uma contagem simples do número de respostas para cada critério de avaliação e a porcentagem de juízas que concordaram com o conteúdo do instrumento. Os escores um e dois foram considerados indicativos de baixa qualidade, e os escores três e quatro foram considerados indicativos de boa qualidade. Foram considerados válidos os itens com no mínimo 85% de concordância.

Para análise estatística dos dados, foi construído um banco na planilha Microsoft Excel 2013, que foi exportada para o software SPSS-18, onde foi realizada a análise. Todas as conclusões foram tiradas considerando o nível de significância de 5%.

4ª Etapa: Avaliação final do instrumento

Esta etapa constou da realização do teste piloto da versão final do instrumento a 30 PcH adultas, que compareceram às CE no ambulatório da instituição, conforme critérios estabelecidos na literatura, que definem uma amostra de 30 a 40 pessoas(1919 Coluci MZO, Alexandre NMC, Milani D. Construção de instrumentos de medida na área da saúde. Ciênc saúde coletiva. [Internet]. 2015 [acesso em 12 maio 2020]; 20(3). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015203.04332013.
https://doi.org/10.1590/1413-81232015203...
).

O estudo foi realizado respeitando-se a resolução 466/2012 do Conselho Nacional da Saúde do Ministério da Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição pesquisada sob parecer número 1.863.411.

RESULTADOS

Quanto à caraterização das juízas, todas eram do sexo feminino. O grupo ER era mais jovem, apresentando média de idade (30±6,4), EH (47±9,8) e ES (51±12). No grupo EH, verificou-se uma titulação de doutorado (11,1%), duas de mestrado (22,2%) e três proficiências em hematologia (33,3%); no ER todas tinham concluído a residência de enfermagem em hematologia há menos de cinco anos; e no ES seis tinham titulação de mestrado (50%) em áreas diferentes de hematologia.

Considerando as sugestões dadas pelas juízas (Quadro 1), verificou-se um total de 19 sugestões das quais 12 (63,2%) foram aceitas pelos pesquisadores. Observou-se que o grupo EH apresentou mais sugestões 11 (57,9%), seguido pelo ES cinco (26,3%) e ER três (15,8%).

Quadro 1
Lista de sugestões das enfermeiras juízas. Recife, PE, Brasil, 2018

Em relação ao grau de dificuldade das juízas para compreender o instrumento, constatou-se que a maioria não apresentou nenhuma dificuldade 15 (51,7%), seguida de dificuldade leve 11 (37,9%) e dificuldade moderada três (10,4%). O teste exato de Fisher (p=0,358) não foi significativo, indicando que o grau de dificuldade é semelhante entre os grupos analisados.

A análise das características do instrumento quanto à estrutura, estética e conteúdo mostrou um padrão similar de resposta, apresentando uma única divergência no item ‘clareza de informação’, onde o grupo EH apresentou menor percentual de ‘ótimo’; e sugeriu que o instrumento fosse ampliado para todas as coagulopatias hereditárias. Entretanto, optou-se por manter o instrumento sem mudança, porque seria necessário inserir vários itens referentes à saúde da mulher, para atender o perfil feminino das demais coagulopatias hereditárias.

O instrumento foi também considerado longo pelo grupo EH, apesar de todas as enfermeiras terem sido orientadas que seria implantado no formato eletrônico, e que o preenchimento completo ocorreria somente na primeira consulta, e posteriormente, os dados seriam apenas atualizados.

A relevância das características avaliadas no instrumento está descrita na Tabela 1. Verificou-se que ‘credibilidade’ e ‘cientificidade’ apresentaram os maiores percentuais de “extremamente relevante”. Entretanto, excluindo-se essas características, observou-se maior percentual de “extremamente relevante” nos grupos EH (precisão), ER (objetividade e pertinência) e ES (clareza) do instrumento. O teste de comparação não foi significativo em todas as características (p>0,05).

Tabela 1
Distribuição do grau de relevância das características do instrumento avaliadas pelas enfermeiras juízas (n=29), segundo a formação/atuação profissional. Recife, PE, Brasil, 2018

Em relação ao grau de satisfação das juízas sobre a aparência do instrumento (Tabela 2), verificou-se que a característica ‘representatividade’ apresentou os maiores percentuais de ótimo. O grupo ER considerou todas as características analisadas como ótimas, apresentando maiores percentuais de satisfação. O grupo EH apresentou menor percentual de ótimo em relação à característica ‘clareza das afirmações’, resultando em um teste exato de Fisher significativo (p<0,05), indicando que existe diferença da opinião entre os grupos.

Tabela 2
Distribuição do grau de satisfação das enfermeiras juízas sobre os itens de aparência do instrumento, segundo a formação/atuação profissional. Recife, PE, Brasil, 2018

A versão final do instrumento foi composta por duas partes, a primeira (Figura 1) com dados gerais com 19 categorias, e a segunda (Figura 2) com dados de Imunotolerância.

Figura 1
Instrumento de Consulta de Enfermagem para Pessoa com Hemofilia. Recife, PE, Brasil, 2018
Figura 2
Instrumento de Consulta de Enfermagem para Pessoa com Hemofilia/Imunotolerância. Recife, PE, Brasil, 2018

No teste piloto realizado no ambulatório com 30 PcH, verificou-se que as enfermeiras não tiveram dificuldades na aplicação do instrumento. A primeira consulta foi mais longa, em torno de 30 minutos; as consultas subsequentes, quando os dados foram apenas atualizados, levou de 10 a 15 minutos. A parte mais demorada foi a aplicação do Escore de Independência Funcional em Hemofilia (FISH), que deve ser preenchido semestralmente, e a avaliação da autoinfusão do fator de coagulação, que deve ser realizado anualmente.

DISCUSSÃO

A utilização de instrumentos de medida nas práticas de saúde cresce progressivamente. Na área da enfermagem, validar instrumentos que norteiem a prática é sinônimo de desenvolvimento de tecnologias de saúde para a profissão, uma vez que se torna possível direcionar os cuidados de enfermagem e melhorar a qualidade da assistência(2020 Vieira CENK, Enders BC, Coura AS, Menezes DJC de, Lira ALB de C, Medeiros CCM. Validación de instrumento para la detección de adolescentes con sobrepeso en la escuela. Enfermería Global. [Internet]. 2016 [acesso em 7 jul 2020]; 15(3). Disponível em: https://doi.org/10.6018/eglobal.15.3.221531.
https://doi.org/10.6018/eglobal.15.3.221...
).

Vantagens têm sido apontadas para o uso de instrumentos de assistência, tais como maior segurança aos usuários e profissionais, redução da variabilidade de ações de cuidado, melhora na qualificação dos profissionais para a tomada de decisão assistencial, facilidade para a incorporação de novas tecnologias, inovação do cuidado, uso mais racional dos recursos disponíveis e maior transparência e controle dos custos. Ainda como vantagens, protocolos facilitam o desenvolvimento de indicadores de processo e de resultados, a disseminação de conhecimento, a comunicação profissional e a coordenação do cuidado(1111 Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Guia para construção de protocolos assistenciais de Enfermagem [Internet]. São Paulo: COREN-SP; 2017 [acesso em 08 ago 2019]. Disponível em: http://www.coren-sp.gov.br/sites/default/files/Protocolo-web.pdf.
http://www.coren-sp.gov.br/sites/default...
,1919 Coluci MZO, Alexandre NMC, Milani D. Construção de instrumentos de medida na área da saúde. Ciênc saúde coletiva. [Internet]. 2015 [acesso em 12 maio 2020]; 20(3). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015203.04332013.
https://doi.org/10.1590/1413-81232015203...
).

Segundo recomendações de especialistas em coagulopatias hereditárias do Nordeste brasileiro sobre o papel da enfermeira na assistência de pessoas com hemofilia, descreve a importância do uso de instrumentos validados: “A consulta de enfermagem à pessoa com hemofilia deve ser realizada em todos os centros de tratamentos de hemofilia, por meio de instrumento padronizado e validado, aplicado por enfermeira com experiência em coagulopatias hereditárias”(21: e121).

As recomendações visam unificar a enfermagem na prática assistencial, garantindo sua liderança, seu papel na consulta, com autonomia para selecionar pacientes que são candidatos a tratamento de profilaxia, solicitar exames laboratoriais de acordo com protocolos internos e participar da decisão terapêutica(2121 Costa NC de M, Costa IM, Guimarães TMR, Souza HP de, Casaretto ES, Medeiros TC de, et al. North-eastern Brazilian recommendations for the nurse professional role on the pharmacokinetic-assisted prophylaxis individualization for haemophilia A. Haemophilia. [Internet]. 2020 [acesso em 02 nov 2020]; 26(3). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32026514/.).

Vários estudos(2222 Ferreira RC, Montanari FL, Ribeiro E, Correia MDL, Manzoli J, Duran ECM. Elaboração e validação de instrumento de assistência de enfermagem para pacientes em unidades de terapia intensiva. Cogitare enferm. [Internet]. 2018 [acesso em 24 set 2020]; 23(4). Disponível em: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v23i4.57539.

23 Alves MG, Pereira VOS, Batista DFG, Cordeiro ALP de C, Nascimento J da SG, Dalri MCB. Construção e validação de questionário para avaliação de conhecimento sobre ressuscitação cardiopulmonar. Cogitare enferm [Internet]. 2019 [acesso em 25 set 2020]; 24. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v24i0.64560.

24 Tolentino GS, Bettencourt AR de C, Fonseca SM da. Construção e validação de instrumento para consulta de enfermagem em quimioterapia ambulatorial. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2019 [acesso em 26 set 2020]; 72(2). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0031.
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0...
-2525 Moraes JT, Fonseca DF da, Mata LRF da, Oliveira PP de, Sampaio F de C, Silva JF da. Validation of a tool for nursing appointment to the person with diabetes mellitus and/or systemic hypertension. Rev. Enf. Ref. [Internet]. 2018 [acesso em 26 set 2020]; serIV(19). Disponível em: http://dx.doi.org/10.12707/RIV18041.
https://doi.org/10.12707/RIV18041...
) demonstram que instrumentos válidos quanto ao seu conteúdo subsidiam o desenvolvimento na prática assistencial de enfermagem, e ao utilizar a técnica Delphi para alcançar o consenso entre especialistas, minimiza a influência direta, permite o acesso a participantes distantes e favorece o raciocínio pessoal e clínico.

A consulta de enfermagem à PcH está preconizada no Manual de hemofilia brasileiro(2626 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Manual de hemofilia. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2015.) e nas Diretrizes para o Tratamento da Hemofilia da Federação Mundial de Hemofilia(11 Srivastava A, Brewer AK, Mauser-Bunschoten EP, Key NS, Kitchen S, Llinas A, et al. Guidelines for the management of hemophilia. Haemophilia. [Internet]. 2013 [acesso em 04 jul 2019]; 19(1). Disponível em: https://doi.org/10.1111/j.1365-2516.2012.02909.x.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2516.2012...
) como parte fundamental do atendimento ao paciente, sendo considerada uma estratégia tecnológica de cuidado em saúde importante e resolutiva, respaldada por lei, privativa do enfermeiro, e que oferece inúmeras vantagens na assistência prestada.

Neste contexto, é frequentemente sugerido que o papel dos enfermeiros se tornará cada vez mais importante na prestação futura de cuidados a PcH(55 Khair K, Chaplin S. What is a nurse-led service? A discussion paper. J Haem Pract. [Internet]. 2017 [acesso em 04 jul 2019]; 4(1). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00100.
https://doi.org/10.17225/jhp00100...

6 Khair K, Abu-Riash M, Acerbi AC, Beijlevelt M, Floros G, Li K, et al. Haemophilia nursing practice: a global survey of roles and responsibilities. J Haem Pract. [Internet]. 2016 [acesso em 20 jul 2019]; 3(2). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00078.
https://doi.org/10.17225/jhp00078...

7 Polinski JM, Kowal MK, Gagnon M, Brennan TA, Shrank WH. Home infusion: safe, clinically effective, patient preferred, and cost saving. Healthc (Amst). [Internet]. 2017 [acesso em 08 jul 2019]; 5(1-2). Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.hjdsi.2016.04.004.
https://doi.org/10.1016/j.hjdsi.2016.04....

8 Santaella ME, Bloomberg M, Anglade D. Home infusion teaching practices at federally funded hemophilia treatment centers in the United States of America. Res Pract Thromb Haemost. [Internet]. 2017 [acesso em 08 jul 2019]; 1(1). Disponível em: http://doi.org/10.1002/rth2.12020.
https://doi.org/10.1002/rth2.12020...

9 Lock J, Raat H, Peters M, Scholten M, Beijlevelt M, Oostenbrink R, et al. Optimization of home treatment in haemophilia: effects of transmural support by a haemophilia nurse on adherence and quality of life. Haemophilia. [Internet]. 2016 [acesso em 17 jul 2019]; 22(6). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.13043.
https://doi.org/10.1111/hae.13043...
-1010 Schrijvers LH, Schuurmans MJ, Fischer K. Promoting self-management and adherence during prophylaxis: evidence-based recommendations for haemophilia professionals. Haemophilia. [Internet]. 2016 [acesso em 13 jun 2019]; 22(4). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.12904.
https://doi.org/10.1111/hae.12904...
,2121 Costa NC de M, Costa IM, Guimarães TMR, Souza HP de, Casaretto ES, Medeiros TC de, et al. North-eastern Brazilian recommendations for the nurse professional role on the pharmacokinetic-assisted prophylaxis individualization for haemophilia A. Haemophilia. [Internet]. 2020 [acesso em 02 nov 2020]; 26(3). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32026514/.). Segundo o European Haemophilia Consortium:

Os enfermeiros são um recurso extremamente valioso no atendimento de pacientes com hemofilia e assumem cada vez mais responsabilidades, incluindo tratamento de hemorragias agudas, organização de clínicas ambulatoriais, treinamento de pais e crianças em punção venosa e profilaxia, e prescrição de concentrados de fator de coagulação e outras medicações(2727 Berntorp E, Hart D, Mancuso ME, D’Oiron R, Perry D, O’Mahony B, et al. The first Team Haemophilia Education meeting, 2015, Amsterdam, The Netherlands. Eur J Haematol. [Internet]. 2016 [acesso em 05 jun 2020]; 97(suppl83). Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27272000.:1414 Rezende SM, Rodrigues SHL, Brito KNP, Silva DLQ da, Santo ML, Simões B de J, et al. Evaluation of a web-based registry of inherited bleeding disorders: a descriptive study of the Brazilian experience with HEMOVIDAweb Coagulopatias. Orphanet J Rare Dis. [Internet]. 2017 [acesso em 15 maio 2018]; 12(27). Disponível em: https://ojrd.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13023-016-0560-6.
https://ojrd.biomedcentral.com/articles/...
).

O perfil das juízas que validaram o instrumento evidenciou um elevado número de atendimento mensal aos pacientes de coagulopatias, demonstrando experiência assistencial em hematologia. O instrumento foi construído num hemocentro de referência de atendimento a PcH do Nordeste brasileiro, e validado por nove especialistas de hemocentros do país, propiciando maior confiabilidade e legitimidade ao instrumento.

A análise do instrumento pelas juízas demonstrou a necessidade de acrescentar dados e aperfeiçoar categorias para melhorar seu conteúdo, sendo inseridos: número de cigarros/dia; presença de inibidor, data do último treinamento, primeiro título, pico histórico, título geral; treinamento de infusão/autoinfusão do fator de coagulação; imunização; número de filhos, atividade sexual, planejamento familiar e atividades esportivas.

A aplicação da CE requer o treinamento contínuo de enfermeiras para raciocínio clínico, usando ferramentas do exame clínico(44 O’Shea E, Coughlan M, Corrigan H, McKee G. Evaluation of a nurse-led haemophilia counselling service. Br J Nurs. [Internet]. 2012 [acesso em 17 jul 2019]; 21(14). Disponível em: http://doi.org/10.12968/bjon.2012.21.14.864.
https://doi.org/10.12968/bjon.2012.21.14...

5 Khair K, Chaplin S. What is a nurse-led service? A discussion paper. J Haem Pract. [Internet]. 2017 [acesso em 04 jul 2019]; 4(1). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00100.
https://doi.org/10.17225/jhp00100...
-66 Khair K, Abu-Riash M, Acerbi AC, Beijlevelt M, Floros G, Li K, et al. Haemophilia nursing practice: a global survey of roles and responsibilities. J Haem Pract. [Internet]. 2016 [acesso em 20 jul 2019]; 3(2). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00078.
https://doi.org/10.17225/jhp00078...
) bem como para diagnóstico de enfermagem, de forma que foram acrescentados no instrumento os diagnósticos de enfermagem e os encaminhamentos realizados pelas enfermeiras de forma a garantir a autonomia.

A versão final do instrumento foi aplicada a uma amostra de 30 PcH, por meio de um teste piloto, e não houve dificuldade de aplicação pelas enfermeiras do ambulatório.

Segundo Ministério da Saúde, o enfermeiro precisa realizar três consultas por hora, não havendo distinções entre a consulta nova e a de seguimento(2828 Dantas CN, Santos VEP, Tourinho FSV. Nursing consultation as a technology for care in light of the thoughts of Bacon and Galimberti. Texto contexto - enferm [Internet]. 2016 [acesso em 26 set 2020]; 25(1). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-0707201500002800014.
https://doi.org/10.1590/0104-07072015000...
) . Portanto, o enfermeiro dispõe em média de 20 minutos para realizar a consulta de enfermagem. Observou-se que o tempo de duração das consultas para aplicação do instrumento da pesquisa foi reduzido com a prática da aplicação do instrumento, atingindo a média preconizada.

Semelhantemente, estudo internacional(2929 Stevens S, Bankhead C, Mukhtar T, Perera-Salazar R, Holt TA, Salisbury C, et al. Patient-level and practice-level factors associated with consultation duration: a cross-sectional analysis of over one million consultations in English primary care. BMJ Open [Internet]. 2017 [acesso em 10 out 2020]; 7(11). Disponível em: https://bmjopen.bmj.com/content/7/11/e018261.long.
https://bmjopen.bmj.com/content/7/11/e01...
) verificou duração média das CE de 10 minutos, com o mínimo de quatro minutos e o máximo de 35 minutos. Os autores afirmaram que a duração da consulta está associada às características do cliente, presença de comorbidades e do nível de prática do profissional. Nesta pesquisa, PcH apresentavam várias comorbidades como hemartrose, artropatias, inibidores contra fatores de coagulação, o que pode ter contribuído para um maior tempo na aplicação do instrumento nas primeiras consultas.

Verificou-se que a maioria das juízas não apresentou dificuldade em compreender o instrumento, fato positivo na avaliação, demonstrando que não houve diferenças significativas no uso do instrumento entre os grupos. O instrumento foi implantado no serviço em formato eletrônico, e enfermeiros de outros hemocentros do Nordeste do país estão sendo treinados para seu uso.

A limitação do estudo consistiu na ausência de estudos sobre instrumento e/ou protocolo de consulta de enfermagem para pessoa com hemofilia ou coagulopatias hereditárias, que servissem de modelo ou comparação dos resultados.

CONCLUSÃO

Elaborar e validar um instrumento de CE para hemofilia é importante para a prática clínica e científica da enfermagem, pois representa uma inovação na tomada de decisão, na aplicação de terminologias padronizadas, proporcionando autonomia, apoio técnico e respaldo ético ao enfermeiro. Entretanto, outros estudos são sugeridos: verificou-se lacuna bibliográfica sobre os instrumentos de CE para hemofilia, tanto nacional como internacionalmente.

COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO:

  • Andrade IAF de, Guimarães TMR, Costa IM, Costa NC de M, Camelo RM, Lima FM de. Construction and validation of a nursing consultation tool for people with hemophilia. Cogitare enferm. [Internet]. 2021 [accessed “insert day, monh and year”]; 26. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v26i0.74467.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Srivastava A, Brewer AK, Mauser-Bunschoten EP, Key NS, Kitchen S, Llinas A, et al. Guidelines for the management of hemophilia. Haemophilia. [Internet]. 2013 [acesso em 04 jul 2019]; 19(1). Disponível em: https://doi.org/10.1111/j.1365-2516.2012.02909.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1365-2516.2012.02909.x
  • 2
    Scott MJ, Xiang H, Hart DP, Palmer B, Collins PW, Stephensen D, et al. Treatment regimens and outcomes in severe and moderate haemophilia A in the UK: the Thunder study. Haemophilia. [Internet]. 2019 [acesso em 04 jul 2019]; 25(2). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.13616.
    » https://doi.org/10.1111/hae.13616
  • 3
    World Federation of Hemophilia. Annual Global Survey 2017 [Internet]. Montreal; 2018 [acesso em 08 ago 2019]. Disponível em: http://www1.wfh.org/publications/files/pdf-1714.pdf
    » http://www1.wfh.org/publications/files/pdf-1714.pdf
  • 4
    O’Shea E, Coughlan M, Corrigan H, McKee G. Evaluation of a nurse-led haemophilia counselling service. Br J Nurs. [Internet]. 2012 [acesso em 17 jul 2019]; 21(14). Disponível em: http://doi.org/10.12968/bjon.2012.21.14.864.
    » https://doi.org/10.12968/bjon.2012.21.14.864
  • 5
    Khair K, Chaplin S. What is a nurse-led service? A discussion paper. J Haem Pract. [Internet]. 2017 [acesso em 04 jul 2019]; 4(1). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00100.
    » https://doi.org/10.17225/jhp00100
  • 6
    Khair K, Abu-Riash M, Acerbi AC, Beijlevelt M, Floros G, Li K, et al. Haemophilia nursing practice: a global survey of roles and responsibilities. J Haem Pract. [Internet]. 2016 [acesso em 20 jul 2019]; 3(2). Disponível em: http://doi.org/10.17225/jhp00078.
    » https://doi.org/10.17225/jhp00078
  • 7
    Polinski JM, Kowal MK, Gagnon M, Brennan TA, Shrank WH. Home infusion: safe, clinically effective, patient preferred, and cost saving. Healthc (Amst). [Internet]. 2017 [acesso em 08 jul 2019]; 5(1-2). Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.hjdsi.2016.04.004.
    » https://doi.org/10.1016/j.hjdsi.2016.04.004
  • 8
    Santaella ME, Bloomberg M, Anglade D. Home infusion teaching practices at federally funded hemophilia treatment centers in the United States of America. Res Pract Thromb Haemost. [Internet]. 2017 [acesso em 08 jul 2019]; 1(1). Disponível em: http://doi.org/10.1002/rth2.12020.
    » https://doi.org/10.1002/rth2.12020
  • 9
    Lock J, Raat H, Peters M, Scholten M, Beijlevelt M, Oostenbrink R, et al. Optimization of home treatment in haemophilia: effects of transmural support by a haemophilia nurse on adherence and quality of life. Haemophilia. [Internet]. 2016 [acesso em 17 jul 2019]; 22(6). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.13043.
    » https://doi.org/10.1111/hae.13043
  • 10
    Schrijvers LH, Schuurmans MJ, Fischer K. Promoting self-management and adherence during prophylaxis: evidence-based recommendations for haemophilia professionals. Haemophilia. [Internet]. 2016 [acesso em 13 jun 2019]; 22(4). Disponível em: http://doi.org/10.1111/hae.12904.
    » https://doi.org/10.1111/hae.12904
  • 11
    Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Guia para construção de protocolos assistenciais de Enfermagem [Internet]. São Paulo: COREN-SP; 2017 [acesso em 08 ago 2019]. Disponível em: http://www.coren-sp.gov.br/sites/default/files/Protocolo-web.pdf
    » http://www.coren-sp.gov.br/sites/default/files/Protocolo-web.pdf
  • 12
    Catunda HLO, Bernardo EBR, Vasconcelos CTM, Moura ERF, Pinheiro AKB, Aquino P de S. Percurso metodológico em pesquisas de enfermagem para construção e validação de protocolos. Texto contexto - enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 05 jun 2018]; 26(2). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017000650016.
    » https://doi.org/10.1590/0104-07072017000650016
  • 13
    Benson J, Clark F. A guide for instrument development and validation. Am J Occup Ther. [Internet]. 1982 [acesso em 21 maio 2017];36(12). Disponível em: http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789.
    » https://doi.org/10.5014/ajot.36.12.789
  • 14
    Rezende SM, Rodrigues SHL, Brito KNP, Silva DLQ da, Santo ML, Simões B de J, et al. Evaluation of a web-based registry of inherited bleeding disorders: a descriptive study of the Brazilian experience with HEMOVIDAweb Coagulopatias. Orphanet J Rare Dis. [Internet]. 2017 [acesso em 15 maio 2018]; 12(27). Disponível em: https://ojrd.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13023-016-0560-6
    » https://ojrd.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13023-016-0560-6
  • 15
    Massaroli A, Martini JG, Lino MM, Spenassato D, Massaroli R. The Delphi method as a methodological framework for research in nursing. Texto contexto-enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 05 jun 2019]; 26(4). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017001110017.
    » https://doi.org/10.1590/0104-07072017001110017
  • 16
    Arango HG. Bioestatística: teórica e computacional. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009.
  • 17
    Polit DF, Beck CT. Fundamentos da pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências na prática de enfermagem. 7. ed. Porto Alegre: Artmed; 2011
  • 18
    Voutillainen A, Pitkäaho T, Kvist T, Vehviläinen-Julkunen K. How to ask about patient satisfaction? The visual analogue scale is less vulnerable to confounding factors and ceiling effect than a symmetric Likert scale. J Adv Nurs. [Internet]. 2015 [acesso em 23 jun 2019]; 72(4). Disponível em: http://doi.org/10.1111/jan.12875.
    » https://doi.org/10.1111/jan.12875
  • 19
    Coluci MZO, Alexandre NMC, Milani D. Construção de instrumentos de medida na área da saúde. Ciênc saúde coletiva. [Internet]. 2015 [acesso em 12 maio 2020]; 20(3). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015203.04332013.
    » https://doi.org/10.1590/1413-81232015203.04332013
  • 20
    Vieira CENK, Enders BC, Coura AS, Menezes DJC de, Lira ALB de C, Medeiros CCM. Validación de instrumento para la detección de adolescentes con sobrepeso en la escuela. Enfermería Global. [Internet]. 2016 [acesso em 7 jul 2020]; 15(3). Disponível em: https://doi.org/10.6018/eglobal.15.3.221531.
    » https://doi.org/10.6018/eglobal.15.3.221531
  • 21
    Costa NC de M, Costa IM, Guimarães TMR, Souza HP de, Casaretto ES, Medeiros TC de, et al. North-eastern Brazilian recommendations for the nurse professional role on the pharmacokinetic-assisted prophylaxis individualization for haemophilia A. Haemophilia. [Internet]. 2020 [acesso em 02 nov 2020]; 26(3). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32026514/.
  • 22
    Ferreira RC, Montanari FL, Ribeiro E, Correia MDL, Manzoli J, Duran ECM. Elaboração e validação de instrumento de assistência de enfermagem para pacientes em unidades de terapia intensiva. Cogitare enferm. [Internet]. 2018 [acesso em 24 set 2020]; 23(4). Disponível em: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v23i4.57539.
  • 23
    Alves MG, Pereira VOS, Batista DFG, Cordeiro ALP de C, Nascimento J da SG, Dalri MCB. Construção e validação de questionário para avaliação de conhecimento sobre ressuscitação cardiopulmonar. Cogitare enferm [Internet]. 2019 [acesso em 25 set 2020]; 24. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v24i0.64560.
  • 24
    Tolentino GS, Bettencourt AR de C, Fonseca SM da. Construção e validação de instrumento para consulta de enfermagem em quimioterapia ambulatorial. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2019 [acesso em 26 set 2020]; 72(2). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0031.
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0031
  • 25
    Moraes JT, Fonseca DF da, Mata LRF da, Oliveira PP de, Sampaio F de C, Silva JF da. Validation of a tool for nursing appointment to the person with diabetes mellitus and/or systemic hypertension. Rev. Enf. Ref. [Internet]. 2018 [acesso em 26 set 2020]; serIV(19). Disponível em: http://dx.doi.org/10.12707/RIV18041.
    » https://doi.org/10.12707/RIV18041
  • 26
    Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Manual de hemofilia. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2015.
  • 27
    Berntorp E, Hart D, Mancuso ME, D’Oiron R, Perry D, O’Mahony B, et al. The first Team Haemophilia Education meeting, 2015, Amsterdam, The Netherlands. Eur J Haematol. [Internet]. 2016 [acesso em 05 jun 2020]; 97(suppl83). Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27272000.
  • 28
    Dantas CN, Santos VEP, Tourinho FSV. Nursing consultation as a technology for care in light of the thoughts of Bacon and Galimberti. Texto contexto - enferm [Internet]. 2016 [acesso em 26 set 2020]; 25(1). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-0707201500002800014.
    » https://doi.org/10.1590/0104-0707201500002800014» https://doi.org/10.1590/0104-0707201500002800014
  • 29
    Stevens S, Bankhead C, Mukhtar T, Perera-Salazar R, Holt TA, Salisbury C, et al. Patient-level and practice-level factors associated with consultation duration: a cross-sectional analysis of over one million consultations in English primary care. BMJ Open [Internet]. 2017 [acesso em 10 out 2020]; 7(11). Disponível em: https://bmjopen.bmj.com/content/7/11/e018261.long
    » https://bmjopen.bmj.com/content/7/11/e018261.long

Editado por

Editora associada: Luciana Alcântara Nogueira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Out 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    12 Jun 2020
  • Aceito
    13 Nov 2020
Universidade Federal do Paraná Av. Prefeito Lothário Meissner, 632, Cep: 80210-170, Brasil - Paraná / Curitiba, Tel: +55 (41) 3361-3755 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: cogitare@ufpr.br