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PERCEPÇÃO DE ENFERMEIROS FRENTE À PROMOÇÃO DA AUTONOMIA DOS IDOSOS NO CONTEXTO DA COVID-19: ESTUDO DESCRITIVO CORRELACIONAL

LA PERCEPCIÓN DE LOS ENFERMEROS ANTE LA PROMOCIÓN DE LA AUTONOMÍA DEL ANCIANO EN COVID-19: UN ESTUDIO CORRELACIONAL DESCRIPTIVO

RESUMO

Objetivo

identificar e comparar a percepção dos enfermeiros de cuidados gerais e enfermeiros especialistas sobre o desenvolvimento de intervenções promotoras da autonomia dos idosos

Método

estudo descritivo-correlacional, transversal. Foi aplicada aos enfermeiros portugueses a Escala de Autoavaliação da Promoção da Autonomia dos Idosos, em setembro e outubro de 2020

Resultados

a amostra foi composta por 356 enfermeiros, especialistas e generalistas. Todos tiveram a percepção de promover a autonomia dos idosos, com menos visibilidade no desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diária. Os enfermeiros especialistas percebem promover mais a autonomia dos idosos, através do desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas (p<0,01), de intervenções de atividades instrumentais de vida diárias (p<0,05) e da capacitação do cuidador (p<0,05)

Conclusão

este estudo permitiu enfatizar a potencial relevância do desenvolvimento de intervenções promotoras da autonomia dos idosos, assim como a importância da consciencialização dos enfermeiros para a sua realização

DESCRITORES
Assistência ao Paciente; Autonomia Pessoal; Promoção da Saúde; Enfermeiros; Especialidades de Enfermagem

RESUMEN

Objetivo

identificar y comparar la percepción de enfermeros de cuidados generales y enfermeros especializados sobre el desarrollo de intervenciones que promuevan la autonomía de los ancianos

Método

estudio descriptivo-correlacional, transversal. La Escala de Autoevaluación para la Promoción de la Autonomía de las Personas Mayores se aplicó a enfermeros portugueses en septiembre/octubre de 2020

Resultados

la muestra estuvo conformada por 356 enfermeros, especialistas y generales. Todos los enfermeros tuvieron la percepción de promover la autonomía de los ancianos, con menor visibilidad en el desarrollo de intervenciones que involucren actividades instrumentales de la vida diaria. Los enfermeros especialistas perciben promover más autonomía para los ancianos, a través del desarrollo de intervenciones físicas y cognitivas (p <0.01), intervenciones en actividades instrumentales de la vida diaria (p <0.05) y en la formación del cuidador (p <0.05). 0,05)

Conclusión

este estudio permitió enfatizar la potencial relevancia de desarrollar intervenciones que promuevan la autonomía de los ancianos, así como la importancia de sensibilizar a los enfermeros para que las lleven a cabo

DESCRIPTORES
Atención al paciente; Autonomía personal; Promoción de la salud; Enfermeros; Especialidades de enfermería

ABSTRACT

Objective

to identify and compare the perception of general care nurses and specialist nurses about the development of interventions promoting older people’s autonomy

Method

descriptive-correlational, cross-sectional study. The Self-Assessment Scale for the Promotion of Older People’s Autonomy was applied to Portuguese nurses in September/October 2020

Results

the sample consisted of 356 nurses, specialists and general practitioners. All nurses had the perception of promoting older people’s autonomy, with less visibility in the development of interventions involving instrumental activities of daily living. Specialist nurses have a perception of more promotion of autonomy to older people through the development of physical and cognitive interventions (p<0.01), of interventions of instrumental activities of daily living (p<0.05), and in the training of the caregiver (p<0.05)

Conclusion

this study allowed emphasizing the potential relevance of developing interventions that promote older people’s autonomy, as well as the importance of raising nurses’ awareness to carry them out

DESCRIPTORS
Patient Care; Personal Autonomy; Health promotion; Nurses; Specialties, Nursing

INTRODUÇÃO

A longevidade é uma conquista decorrente dos avanços científicos e tecnológicos dos últimos séculos. No entanto, quando acompanhada pela diminuição da fecundidade, promove alterações nas sociedades que as fragilizam. Prevê-se que, no contexto mundial, entre 2017 e 2050, a população mundial com mais de 60 anos passará de 962 milhões para 2,1 bilhões. Em 2050, cerca de 80% das pessoas mais velhas viverão em países com baixa ou média renda; assim, a maioria dos países enfrenta grandes desafios para manter a assistência adequada a estas pessoas(11 Organização Pan-Americana da Saúde. Folha informativa – Envelhecimento e saúde. [Internet]. 2018 [acesso em 08 abr 2021]. Disponível em: https://unric.org/pt/envelhecimento/.
https://unric.org/pt/envelhecimento/...
).

O aumento da esperança média de vida nem sempre é acompanhado por qualidade de vida e dignidade da pessoa idosa. Algumas vezes, os processos de envelhecimento são acompanhados por doenças crônicas debilitantes, que colocam o idoso em situações de grande vulnerabilidade e fragilidade(22 Apóstolo J, Cooke R, Bobrowicz-Campos E, Santana S, Marcucci M, Cano A, et al. Effectiveness of interventions to prevent pre-frailty and frailty progression in older adults: a systematic review. JBI Database System Rev Implement Rep. [Internet]. 2018 [acesso em 04 jan 2021]; 16(1). Disponível em: http://doi.org/10.11124/jbisrir-2017-003382.
https://doi.org/10.11124/jbisrir-2017-00...
). Por si só, os processos fisiológicos decorrentes do envelhecimento, como o comprometimento do desempenho neuromuscular - evidenciado pela fraqueza ou perda da força muscular, lentificação dos movimentos, diminuição do equilíbrio, mobilidade e perda involuntária de peso(33 Kamdem B, Seematter-Bagnoud L, Botrugno F, Santos-Eggimann B. Relationship between oral health and Fried’s frailty criteria in community-dwelling older persons. BMC Geriatrics [Internet]. 2017 [acesso em 06 abr 2021]; 17. Disponível em: https://bmcgeriatr.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12877-017-0568-3#citeas.
https://bmcgeriatr.biomedcentral.com/art...
), condicionam o idoso e tornam-no vulnerável e muito frágil(22 Apóstolo J, Cooke R, Bobrowicz-Campos E, Santana S, Marcucci M, Cano A, et al. Effectiveness of interventions to prevent pre-frailty and frailty progression in older adults: a systematic review. JBI Database System Rev Implement Rep. [Internet]. 2018 [acesso em 04 jan 2021]; 16(1). Disponível em: http://doi.org/10.11124/jbisrir-2017-003382.
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,44 Apóstolo J, Cooke R, Bobrowicz-Campos E, Santana S, Marcucci M, Cano A, et al. Predicting risk and outcomes for frail older adults: an umbrella review of frailty screening tools. JBI Database System Rev Implement Rep. [Internet]. 2017 [acesso em 07 jan 2021]; 15(4): 1154-208. Disponível em: http://doi.org/10.11124/jbisrir-2016-003018.
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). Apesar do envelhecimento progredir a uma velocidade variável de pessoa para pessoa, em geral, o declínio das funções físicas e fisiológicas tem início durante a terceira década de vida, e aumenta substancialmente a partir dos 60 anos(44 Apóstolo J, Cooke R, Bobrowicz-Campos E, Santana S, Marcucci M, Cano A, et al. Predicting risk and outcomes for frail older adults: an umbrella review of frailty screening tools. JBI Database System Rev Implement Rep. [Internet]. 2017 [acesso em 07 jan 2021]; 15(4): 1154-208. Disponível em: http://doi.org/10.11124/jbisrir-2016-003018.
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).

Durante o ciclo vital, justifica-se a implementação de programas de exercício físico, treino cognitivo, integração social e mesmo de gestão emocional, com recurso a grupos de trabalho. Esta problemática assume maior relevância no idoso, e a implementação destes programas tem demonstrado grande eficácia na diminuição dos indicadores de fragilidade da pessoa idosa(22 Apóstolo J, Cooke R, Bobrowicz-Campos E, Santana S, Marcucci M, Cano A, et al. Effectiveness of interventions to prevent pre-frailty and frailty progression in older adults: a systematic review. JBI Database System Rev Implement Rep. [Internet]. 2018 [acesso em 04 jan 2021]; 16(1). Disponível em: http://doi.org/10.11124/jbisrir-2017-003382.
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).

Todos os processos próprios do envelhecimento, assim como as patologias crônicas que muitas vezes se associam, vulnerabilizam a pessoa idosa e refletem na sua autonomia(22 Apóstolo J, Cooke R, Bobrowicz-Campos E, Santana S, Marcucci M, Cano A, et al. Effectiveness of interventions to prevent pre-frailty and frailty progression in older adults: a systematic review. JBI Database System Rev Implement Rep. [Internet]. 2018 [acesso em 04 jan 2021]; 16(1). Disponível em: http://doi.org/10.11124/jbisrir-2017-003382.
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,44 Apóstolo J, Cooke R, Bobrowicz-Campos E, Santana S, Marcucci M, Cano A, et al. Predicting risk and outcomes for frail older adults: an umbrella review of frailty screening tools. JBI Database System Rev Implement Rep. [Internet]. 2017 [acesso em 07 jan 2021]; 15(4): 1154-208. Disponível em: http://doi.org/10.11124/jbisrir-2016-003018.
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). A autonomia é um conceito complexo e abrange dimensões como o estado cognitivo, a inteligência emocional, a integração social, a condição intelectual e a condição física, sendo essencial para consumar uma vida autônoma a existência de homeostasia entre estas dimensões(55 Lima AMN, Martins MMF da SM, Ferreira MSM, Schoeller SD, Parola VS de O. O conceito multidimensional de autonomia: uma análise conceptual recorrendo a uma scoping review. Referência [Internet]. 2021 [acesso em 14 set 2021]. Disponível em: https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr⌖=publicationDetails&pesquisa=&id_artigo=3904&id_revista=55&id_edicao=249.
https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module...
).

Pela importância da manutenção da autonomia para a qualidade de vida da pessoa idosa, o enfermeiro, e muito especialmente o enfermeiro especialista, deve analisar sua conduta neste âmbito, pois dada a finalidade do seu trabalho e proximidade com as pessoas-alvo dos cuidados, desempenha um papel crucial na promoção da autonomia das pessoas, particularmente nos idosos(66 Lima AM, Ferreira MSM, Martins MMFP da S, Fernandes CS, Moreira MTF, Rodrigues TMP. Independência funcional e o estado confusional de pessoas sujeitas a programa de reabilitação. J Health NPEPS [Internet]. 2020 [acesso em 08 jan 2021]; 5(2). Disponível em: http://doi.org/10.30681/252610104440.
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). Assim, espera-se que, na relação entre os profissionais de saúde (entre eles enfermeiros e enfermeiros especialistas), sejam princípios basilares o respeito e a busca pela autonomia.

A autonomia da pessoa idosa passa pela ampliação das competências descritas anteriormente e pelo empoderamento em saúde. Importa salientar que isso só é possível se a pessoa detiver capacidades cognitivas e sociais. O empoderamento facilita o processo de gestão das condições de saúde e promove a autonomia(77 Bennett L, Bergin M, Wells JSG. The social space of empowerment within epilepsy services: The map is not the terrain. Epilepsy Behav [Internet]. 2016 [acesso em 30 dez 2020]; 56: 139-48. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.yebeh.2015.12.045.
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). As intervenções de enfermagem que promovem este empoderamento são do tipo “ensinar” e “instruir”, já que permitem aumentar o “conhecimento” da pessoa sobre determinado tema e perceber a necessidade de aprofundar esses conhecimentos e diminuir a lacuna existente(88 Paiva A, Cardoso A, Sequeira C, Morais EJ, Bastos F, Pereira F, et al. Análise da parametrização nacional do Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem - SAPE. Escola Superior de Enfermagem do Porto [Internet]. 2014 [acesso em 04 jan 2021]. Disponível em: https://www.esenf.pt/fotos/editor2/i_d/publicacoes/apn-978-989-98443-5-3.pdf.
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).

O aumento de habilidades que o conceito de autonomia abrange é adquirido através de intervenções de enfermagem do tipo “treinar”(88 Paiva A, Cardoso A, Sequeira C, Morais EJ, Bastos F, Pereira F, et al. Análise da parametrização nacional do Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem - SAPE. Escola Superior de Enfermagem do Porto [Internet]. 2014 [acesso em 04 jan 2021]. Disponível em: https://www.esenf.pt/fotos/editor2/i_d/publicacoes/apn-978-989-98443-5-3.pdf.
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). Os programas de intervenção realizados pelos enfermeiros especialistas demonstram a sua efetividade em ganhos em saúde, direta ou indiretamente, no que se refere à autonomia(66 Lima AM, Ferreira MSM, Martins MMFP da S, Fernandes CS, Moreira MTF, Rodrigues TMP. Independência funcional e o estado confusional de pessoas sujeitas a programa de reabilitação. J Health NPEPS [Internet]. 2020 [acesso em 08 jan 2021]; 5(2). Disponível em: http://doi.org/10.30681/252610104440.
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,99 Lima AMN, Ferreira MSM, Martins MMFP da S, Fernandes CS. Influência dos cuidados de enfermagem de reabilitação na recuperação da independência funcional do paciente. J Health NPEPS [Internet]. 2019 [acesso em 04 jan 2021]; 4(2). Disponível em: http://doi.org/10.30681/252610104062.
https://doi.org/10.30681/252610104062...

10 Gil AC, Sousa FMM, Martins MM. Implementação de Programa de Enfermagem de Reabilitação em Idoso com Fragilidade/Síndrome de Desuso - Estudo de Caso. Rev Port Enf Reab [Internet]. 2020 [acesso em 08 jan 2021]; 3(2). Disponível em: http://doi.org/10.33194/rper.2020.v3.n2.5.5794.
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11 Ferreira M de FAP, Peres MR. Implementação de um programa de reabilitação: intervenção do enfermeiro especialista de reabilitação numa UCI. Rev Port Enf Reab [Internet]. 2020 [acesso em 08 jan 2021]; 3(2). Disponível em: http://doi.org/10.33194/rper.2020.v3.s2.10.5828.
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12 Matos M de FG de, Simões JAG. Enfermagem de reabilitação na transição da pessoa com alterações motoras por AVC: revisão sistemática da literatura. Rev Port Enf Reab [Internet]. 2020 [acesso em 08 jan 2021]; 3(2). Disponível em: https://doi.org/10.33194/rper.2020.v3.n2.2.5770.
https://doi.org/10.33194/rper.2020.v3.n2...

13 Sequeira C, Sequeira A, Rodrigues A, Gonçalves A, Sequeira C, Falcó-Pegueroles A, et al. Comunicação clínica e relação de ajuda. Lisboa: LIDEL; 2016.
-1414 Sampaio F, Peres M, Ribeiro G, Barreto A, Teixeira S, Fernandes M. Programas de Intervenção Psicoterapêutica Grupal: implementação e avaliação num contexto da prática clínica. Rev. port. enferm. saúde mental. [Internet]. 2017 [acesso em 08 jan 2021]; 5. Disponível em: http://doi.org/10.19131/rpesm.0173.
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).

Os enfermeiros especialistas, de acordo com a Ordem dos Enfermeiros de Portugal(15:4745):

Possuem competências comuns independentemente da sua área de especialidade, demonstradas através da sua elevada capacidade de concepção, gestão e supervisão de cuidados e, ainda, através de um suporte efetivo ao exercício profissional especializado no âmbito da formação, investigação e assessoria.

Estas competências repercutem-se em intervenções de enfermagem que, no seu todo, promovem a autonomia das pessoas ao longo do ciclo vital e nos processos de transição saúde-doença.

As competências específicas dos enfermeiros especialistas levam-nos a desenvolver as suas práticas de uma forma mais específica e efetiva. Na sua área de atuação, todos os enfermeiros, nomeadamente os enfermeiros de cuidados gerais, possuem conhecimentos que lhes permitem promover a autonomia(1515 Ordem dos Enfermeiros. Regulamento das competências comuns do enfermeiro especialista. Diário da República [Internet]. 2019 [acesso em 04 jan 2021]. Disponível em: https://www.ordemenfermeiros.pt/media/10778/0474404750.pdf.
https://www.ordemenfermeiros.pt/media/10...
), já que, nos planos de estudo dos cursos de Licenciatura em Enfermagem, esta temática é contemplada.

De acordo com a Ordem dos Enfermeiros de Portugal, os enfermeiros de cuidados gerais detêm competências capazes de dar resposta às necessidades da pessoa, em todos os níveis de atuação, recorrendo a técnicas de relação interpessoal, pensamento crítico, capacitados para tomadas de decisão sistêmica e sistemática e de respeito às capacidades da pessoa, pela liberdade de escolha e dignidade(1616 Ordem dos Enfermeiros. Regulamento do Perfil de Competências do Enfermeiro de Cuidados Gerais. Diário da República [Internet]. 2019 [acesso em 04 jan 2021]. Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/67058782.
https://dre.pt/application/conteudo/6705...
). Em Portugal, desde 1999, os enfermeiros de cuidados gerais têm uma formação de base de quatro anos que lhe confere o grau de licenciados em enfermagem. Já os enfermeiros especialistas só poderão concorrer a esta formação após dois anos de exercício profissional, nas áreas: reabilitação, saúde infantil e pediátrica, médico-cirúrgica, saúde mental e psiquiatra, e saúde materna e obstétrica(1717 Fronteira I, Jesus EH, Dussault G. Nursing in Portugal in the National Health Service at 40. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2020 [acesso em 04 jan 2021]; 25(1): 273-82. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232020251.28482019.
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). Assim, todos os enfermeiros detêm conhecimentos que lhes permitem promover a autonomia das pessoas, independentemente de serem ou não especialistas.

O processo de Enfermagem equaciona e sistematiza os cuidados de Enfermagem, mediante a identificação dos diagnósticos; permite prescrever, implementar e avaliar intervenções, que dão resposta às necessidades das pessoas de que cuidam, que neste âmbito dizem respeito àquelas que são promotoras da autonomia dos idosos(1818 Lopes MA, Gomes SC, Almada-Lobo B. Os cuidados de enfermagem especializados como resposta à evolução das necessidades em cuidados de saúde. Ordem dos Enfermeiros [Internet]. 2018 [acesso em 04 jan 2021]. Disponível em: https://www.ordemenfermeiros.pt/media/5908/estudocuidadosespecializadosenfermagem_inesctecabril2018.pdf.
https://www.ordemenfermeiros.pt/media/59...
).

O presente estudo tem como objetivos identificar e comparar a percepção dos enfermeiros de cuidados gerais e enfermeiros especialistas sobre o desenvolvimento de intervenções promotoras da autonomia dos idosos, testando a hipótese: existe diferença na autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos entre enfermeiros especialistas e enfermeiros de cuidados gerais?

MÉTODO

Trata-se de um estudo de natureza quantitativa, descritivo-correlacional e transversal. Optou-se por este tipo de estudo, por considerar ser o que melhor permitia responder aos objetivos. Recorreu-se à técnica de amostragem não probabilística, em bola de neve, tendo sido enviado via e-mail o link criado na plataforma online Google Forms® para preenchimento do questionário a enfermeiros da lista de contatos de todos os investigadores, solicitando a esses a partilha com outros enfermeiros que apresentassem as mesmas caraterísticas.

A amostra foi constituída por 356 enfermeiros que exercem funções em Portugal, que responderam ao seguinte critério de inclusão: trabalhar com idosos.

O presente estudo foi realizado durante o período de pandemia de Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), já que em Portugal o primeiro caso surgiu no mês de março de 2020, e a coleta de dados foi realizada no período de setembro e outubro de 2020, ou seja, no período temporal em que estava iminente a chegada da segunda onda da doença.

O instrumento de coleta de dados contemplou os seguintes dados sociodemográficos e profissionais dos participantes: idade, sexo, tempo de serviço, especialidade, tempo de serviço como especialista, qual a especialidade, e ainda a Escala de Autoavaliação da Promoção da Autonomia dos Idosos (EAPAI)(1919 Lima AMN, Martins MMF da S, Ferreira MSM, Fernandes CS, Schoeller SD, Rodrigues TMP, Parola VSO. Autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos: um estudo Delphi. J Health NPEPS [Internet]. 2021 [acesso em 29 jul 2021]; 6(1): 155-74. Disponível em: http://dx.doi.org/10.30681/252610105088.
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), para autoavaliar a forma como se promove a autonomia dos idosos.

A EAPAI é um instrumento validado para a população portuguesa(1919 Lima AMN, Martins MMF da S, Ferreira MSM, Fernandes CS, Schoeller SD, Rodrigues TMP, Parola VSO. Autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos: um estudo Delphi. J Health NPEPS [Internet]. 2021 [acesso em 29 jul 2021]; 6(1): 155-74. Disponível em: http://dx.doi.org/10.30681/252610105088.
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), composto por 68 itens organizados em seis fatores (desenvolvimento de intervenções emocionais, sociais e de autocuidado; desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas; desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diária; desenvolvimento de intervenções avaliativas na área do autocuidado; desenvolvimento de intervenções avaliativas nas áreas emocionais, cognitivas e sociais e capacitação do cuidador), com um Alfa de Cronbach de 0,98. Os itens são avaliados através de resposta tipo Likert – permitindo o posicionamento num continuum de variação da autopercepção: 0) não aplico; 1) aplico poucas vezes; 2) aplico frequentemente; 3); aplico muitas vezes; 4) aplico sempre. Assim, quanto maior a pontuação final da escala, mais os enfermeiros percebem promover a autonomia da pessoa idosa.

Para o tratamento estatístico dos dados, utilizou-se o software IBM SPSS® versão 26. Para análise dos dados, recorreu-se à estatística descritiva (para as variáveis nominais e ordinais foram analisadas as frequências e percentuais, e para as variáveis escalares, as médias e desvio-padrão) e inferencial, adotou-se o intervalo de confiança de 95%, com p-valor<0,05 para assumir a hipótese de que houve associação entre as variáveis estudadas.

Para fins de análise estatística, as variáveis contínuas referentes à escala total e os seus fatores não foram categorizadas, na medida em que não apresentam pontos de corte. Foi avaliada a normalidade de distribuição das variáveis através do teste de Kolmogorov-Smirnov. Por ter-se verificado a normalidade na distribuição das variáveis, a estatística inferencial foi concretizada com recurso ao teste t de Student.

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética de duas instituições de saúde da região Norte de Portugal (pareceres nº 324/17 e nº 11/18), antes da coleta de dados. Todos os participantes foram informados do estudo e de seus objetivos, bem como do fato de que todos os dados fornecidos seriam tratados anonimamente, garantindo assim a confidencialidade e o anonimato.

RESULTADOS

O estudo incluiu 356 enfermeiros de Portugal. As caraterísticas sociodemográficas dos participantes são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1
Caraterísticas sociodemográficas e profissionais dos participantes (n=356). Porto, Portugal, 2020

A idade média dos participantes foi de 37,44 anos (DP=8,76) e 308 (86,5%) eram do sexo feminino. A maioria dos participantes eram enfermeiros de cuidados gerais 205 (57,6%), sendo 151 (42,4%) enfermeiros especialistas, destes últimos, 72 (47,7%) eram especialistas em enfermagem de reabilitação. Em média, o grupo de participantes trabalhava há 14,14 anos (DP=8,77), sendo que o grupo de especialistas exercia funções nesta categoria em média há 8,07 anos (DP=6,67). Ainda, 272 (77,2%) enfermeiros trabalhavam em instituições de internação e 81 (22,8%) trabalhavam na comunidade. A amostra foi composta, em proporções similares, por enfermeiros de todo o país (Portugal), incluindo, portanto, participantes de grandes áreas urbanas e de contextos rurais.

Relativamente à análise descritiva, importa salientar que não houve qualquer dado faltante relativamente às variáveis de interesse. No que diz respeito à autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos, percebida pelos enfermeiros de cuidados gerais e enfermeiros especialistas, considerando que zero corresponde a “não promove” e quatro a “promove sempre”, para todos os fatores da escala EAPAI, os enfermeiros, na generalidade dos fatores e para o total da EAPAI, perceberam que promovem a autonomia dos idosos. Estes profissionais demonstraram que o desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diárias (fator três), em média, é o fator no qual menos investem na sua prática, sendo o desenvolvimento de intervenções avaliativas nas áreas emocionais, cognitivas e sociais (fator cinco) o fator no qual mais investem, conforme Tabela 2.

Tabela 2
Estatística descritiva dos fatores da EAPAI para os enfermeiros (n=356). Porto, Portugal, 2020

Na análise inferencial entre os enfermeiros de cuidados gerais e os especialistas, existem diferenças estatisticamente significativas entre a autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos no que concerne ao desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas, ao desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diárias e à capacitação do cuidador. Assim, quanto à autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos, os enfermeiros especialistas percebem promovê-la mais, sendo a diferença estatisticamente significativa para o fator dois (t=-3,29; df=354; p<0,01), para o fator três (t=-2,15; df=354; p<0,05) e para o fator seis (t=-2,36; df=354; p<0,05), tal como se pode constatar na Tabela 3.

Tabela 3
Descrição dos fatores por enfermeiros de cuidados gerais e enfermeiros especialistas (n=356). Porto, Portugal, 2020

DISCUSSÃO

Os dados sociodemográficos e profissionais da amostra encontram-se em linha com os dados da Ordem dos Enfermeiros(2020 Ordem dos Enfermeiros. Anuário Estatístico de 2019. Ordem dos Enfermeiros. [Internet]. 2020 [acesso em 04 jan 2021]. Disponível em: https://www.ordemenfermeiros.pt/arquivo/estatistica/2019_AnuarioEstatisticos.pdf.
https://www.ordemenfermeiros.pt/arquivo/...
), sendo a maioria dos enfermeiros em Portugal do sexo feminino, e os grupos etários que compreendem maior número de enfermeiros entre os 31 e 35 anos e 36 a 40 anos, com 13.607 e 13.164, respectivamente. A enfermagem de reabilitação é a especialidade com maior número de especialistas e o setor com maior número de enfermeiros são as instituições de internação. Nesta amostra, não se pretendeu obter a sua representatividade, embora pareça haver convergências entre a amostra e os dados disponíveis relativamente à população, não é garantido que o seja, já que não foi realizado previamente o cálculo da dimensão amostral e que não é garantida a representatividade da amostra. O potencial de generalização dos resultados deve ser analisado com parcimônia.

No presente estudo, os enfermeiros em geral percebem promover a autonomia dos idosos, tal como se pode constatar pelos resultados obtidos para cada um dos fatores da escala e para o total da EAPAI, dando assim resposta ao objetivo do estudo.

O desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diárias é a área menos promovida pelos profissionais, dados que corroboram com os resultados de estudo(2121 Cruz AG, Gomes AMT, Parreira PMSD. Focos de atenção prioritários e ações de enfermagem dirigidos à pessoa idosa em contexto clínico agudo. Rev Enf Ref. [Internet]. 2017 [acesso em 06 jan 2021]. Disponível em: http://doi.org/10.12707/RIV17048.
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) cujo objetivo foi descrever a percepção dos enfermeiros sobre prioridades dos focos de atenção das intervenções de enfermagem mais comuns dirigidos à pessoa idosa hospitalizada. Este estudo concluiu que os profissionais de enfermagem priorizavam os autocuidados arranjar-se, vestir/despir e transferir, pela necessidade de, nas pessoas hospitalizadas, dar-se resposta às áreas prioritárias como as atividades básicas de vida diárias, já que em situação de doença, estas são as áreas prementes da intervenção de enfermagem(2121 Cruz AG, Gomes AMT, Parreira PMSD. Focos de atenção prioritários e ações de enfermagem dirigidos à pessoa idosa em contexto clínico agudo. Rev Enf Ref. [Internet]. 2017 [acesso em 06 jan 2021]. Disponível em: http://doi.org/10.12707/RIV17048.
https://doi.org/10.12707/RIV17048...
).

Por outro lado, as más condições de trabalho podem repercutir na qualidade dos cuidados prestados, nomeadamente no âmbito da autonomia dos idosos, predispondo os profissionais de saúde a situações de burnout(2222 Maroco J, Maroco AL, Leite E, Bastos C, Vazão MJ, Campos J. Burnout em profissionais da saúde portugueses. Acta Med Port. [Internet]. 2016 [acesso em 06 abr 2021]; 29(1): 24-30. Disponível em: https://run.unl.pt/bitstream/10362/31415/1/Maroco_Acta_Med_Port_2016_29_1_24.pdf.
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).

Neste estudo, verificou-se que o fator 3 (desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diárias) foi aquele em que a média apresentada foi inferior para toda a amostra. Este resultado está em linha com os achados de estudo(2323 Clares JWB, Nóbrega MML da, Guedes MVC, Silva L de F da, Freitas MC de. ICNP ® nursing diagnoses, outcomes and interventions for community elderly. Rev Bras Enferm [Internet]. 2019 [acesso em 24 dez 2020]; 72. Disponível em: http://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0540.
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), que demonstram que a promoção da capacidade para a realização das atividades instrumentais de vida diária no idoso não é uma prioridade nos processos de enfermagem implementados.

Quando comparado o grupo de enfermeiros de cuidados gerais e os enfermeiros especialistas, verifica-se que não existem diferenças estatisticamente significativas para o total da EAPAI, e, portanto, rejeita-se a hipótese de investigação. Ainda assim, na análise para cada um dos fatores da escala, verificam-se diferenças significativas para três deles, nomeadamente o desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas, o desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diárias e a capacitação do cuidador.

No que respeita às diferenças no desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas, relembra-se que a maioria dos enfermeiros especialistas são da área da enfermagem de reabilitação, o que pode ter potencializado as diferenças encontradas. Estes profissionais, de acordo com as suas competências especificas, concebem, implementam, supervisionam, vigiam e avaliam programas de reabilitação, que visam não só minimizar o impacto das incapacidades instaladas(2424 Ordem dos Enfermeiros. Regulamento das Competências Especificas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação. Diário da República. [Internet]. 2019 [acesso em 04 jan 2021]. Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/122216893.
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), mas atuar a todos os níveis de prevenção.

Neste âmbito, muitos são os estudos que corroboram os resultados do presente estudo, salientando-se o estudo(66 Lima AM, Ferreira MSM, Martins MMFP da S, Fernandes CS, Moreira MTF, Rodrigues TMP. Independência funcional e o estado confusional de pessoas sujeitas a programa de reabilitação. J Health NPEPS [Internet]. 2020 [acesso em 08 jan 2021]; 5(2). Disponível em: http://doi.org/10.30681/252610104440.
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) cujo objetivo foi conhecer a influência do estado confusional na recuperação da independência funcional, concluindo que mesmo pessoas confusas, quando submetidas a um programa de enfermagem de reabilitação, tendem a recuperar a sua independência. Pode verificar-se esses ganhos também pelos resultados do estudo(2525 Pires R, Martins MM, Gomes B, Monteiro C, Ribeiro O. Intervenção do Enfermeiro Especialista em Reabilitação na mobilidade da pessoa idosa institucionalizada - Programa TEIA. Rev Port Enf Reab [Internet]. 2019 [acesso em 08 jan 2021]; 2(1). Disponível em: http://doi.org/10.33194/rper.2019.v2.n1.11.4557.
https://doi.org/10.33194/rper.2019.v2.n1...
), os quais concluíram que a implementação do programa TEIA, realizado por enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação, traduz-se em ganhos significativos na melhoria do equilíbrio, na força muscular dos músculos do assoalho pélvico e no desempenho da cognição do idoso.

Os resultados evidenciam a importância percebida pelos enfermeiros na avaliação da capacidade cognitiva. No entanto, estes profissionais percebem desenvolver menos esta vertente comparativamente a outras intervenções no âmbito autonomia dos idosos, um aspecto relevante, uma vez que, tal como comprovam os estudos(2626 Parola V, Coelho A, Neves H, Almeida M, Gil I, Mouro A, et al. Efeitos de um programa de estimulação cognitiva em idosos institucionalizados. Revista de Enfermagem Referência [Internet]. 2019 [acesso em 08 abr 2021]; 20. Disponível em: https://doi.org/10.12707/RIV18043.
https://doi.org/10.12707/RIV18043...
-2727 Lima Neto AV de, Nunes VM de A, Oliveira KSA de, Azevedo LM de, Mesquita GXB. Estimulação em idosos institucionalizados: efeitos da prática de atividades cognitivas. Rev. Pesqui. Cuid. Fundam. (Online). [Internet]. 2017 [acesso em 08 abr 2021]; 9(3): 753-9. Disponível em: https://doi.org/10.9789/2175-5361.2017.v9i3.753-759.
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2017.v...
), é importante a estimulação da cognição em idosos.

No nosso estudo verifica-se, relativamente ao desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diárias, que os enfermeiros especialistas também se evidenciam neste fator. Estes resultados são corroborados pelo estudo(2828 Santana RF, Santos GLA dos, Alexandrino SA, Alencar TD de, Souza TA de, Lobato HA. Oficinas de estimulação cognitiva para idosos com baixa escolaridade: estudo intervenção. Av Enferm. [Internet]. 2016 [acesso em 05 jan 2021]; 34(2). Disponível em: http://doi.org/10.15446/av.enferm.v34n2.44711.
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) que refere programas de capacitação física realizados por enfermeiros especialistas promovendo a autonomia no que diz respeito à realização das atividades de vida diárias.

No presente estudo, a capacitação do cuidador, na percepção dos enfermeiros especialistas, foi também um fator importante para promover a autonomia dos idosos na sua prática clínica. Estes resultados são corroborados pelo estudo(2929 Martins R, Santos C. Capacitação do cuidador informal: o papel dos enfermeiros no processo de gestão da doença. Gestão e Desenvolvimento [Internet]. 2020 [acesso em 08 jan 2021]; 28. Disponível em: http://doi.org/10.34632/gestaoedesenvolvimento.2020.9468.
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), revelando evidências de que as intervenções dos enfermeiros contribuem para a melhor capacitação do cuidador informal, com melhoria efetiva da autonomia da pessoa de que cuida.

Mesmo durante a pandemia, os enfermeiros percebem que promovem a autonomia dos idosos, apesar de todos os desafios que enfrentam pelo “Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2” (SARS-CoV-2), os quais limitam os cuidados prestados e a prestar, por vários motivos. Perante a presença deste vírus, os profissionais vêem aumentada a quantidade de cuidados, especialmente no que concerne à prevenção da disseminação da doença, para além da gravidade do estado de saúde das pessoas de que cuidam(3030 Hammerschmidt KS de A, Bonatelli LCS, Carvalho AA de. The path of hope in relationships involving older adults: the perspective from the complexity of the Covid-19 pandemic. Texto context-enferm [Internet]. 2020 [acesso em 04 jan 2021]. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2020-0132.
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).

Este estudo também apresenta limitações. Não foi realizado cálculo prévio da dimensão amostral, pelo que não é possível concluir a possibilidade de generalização dos resultados. Ressalva-se, no entanto, que o cálculo não foi realizado por não ser possível conhecer previamente o tamanho da população (número de enfermeiros que exercem funções na prestação de cuidados às pessoas idosas). Outra limitação potencial é não ter sido realizado qualquer ajuste aos potenciais confundidores na análise estatística. Ainda assim, esta opção justifica-se pelo fato de na literatura não terem sido encontrados, de forma clara, potenciais confundidores do constructo em análise. Investigações futuras devem ser realizadas, procurando utilizar o mesmo instrumento numa amostra de enfermeiros mais alargada.

CONCLUSÃO

O presente estudo pretendeu identificar e comparar a percepção dos enfermeiros de cuidados gerais e os enfermeiros especialistas sobre o desenvolvimento de intervenções promotoras da autonomia dos idosos. Verificou-se que, de um modo geral, os enfermeiros portugueses perceberam promover a autonomia dos idosos, embora existam diferenças na percepção entre enfermeiros especialistas e enfermeiros de cuidados gerais, especialmente relacionadas ao nível dos fatores da escala relativos ao desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas, de intervenções de atividades instrumentais de vida diárias e à capacitação do cuidador. Ainda assim, na análise do instrumento na sua globalidade, não existem diferenças. Os enfermeiros perceberam implementar mais estas intervenções na prática clínica para dar resposta à promoção da autonomia dos idosos.

Constata-se, assim, a necessidade de contratar mais enfermeiros especialistas ou incentivar os enfermeiros de cuidados gerais a investir na sua formação especializada. A autonomia da pessoa idosa é fundamental para manter a sua qualidade de vida e dignidade. Uma vez que existem muitos fatores que podem piorar essa qualidade de vida, urge a necessidade de prevenir as suas consequências através de medidas promotoras da autonomia dos idosos. Nos cuidados de enfermagem, através das intervenções de enfermagem, os enfermeiros de cuidados gerais e de cuidados especializados são capazes de dar resposta a essas necessidades.

Sendo esta promoção essencial para a qualidade de vida destas pessoas, os enfermeiros carecem da utilização de instrumentos que permitam autoavaliar a forma como essa promoção é realizada. Esses instrumentos facilitam a identificação de lacunas na promoção da autonomia dos idosos, facilitando a implementação de medidas retificativas, quer pela gestão operacional, quer pela gestão organizacional, quer pela investigação, podendo dessa forma servir para a melhoria da qualidade da prestação dos cuidados de enfermagem.

COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO

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Editado por

Editora associada: Susanne Elero Betiolli

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    28 Jan 2021
  • Aceito
    29 Jul 2021
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