Acessibilidade / Reportar erro

TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: VISÃO DOS PROFISSIONAIS DO ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

RESUMO

Objetivo:

avaliar o interesse, acesso e conhecimento dos profissionais do Atendimento Móvel de Urgência e Emergência em relação às Tecnologias da Informação e Comunicação no Serviço.

Método:

estudo descritivo e transversal realizado com profissionais (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e condutores) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do noroeste do Paraná, Brasil, em setembro e outubro de 2020. Os dados foram coletados por meio de instrumento estruturado e analisados por estatística descritiva.

Resultados:

dos 30 profissionais participantes, 80% relataram acesso apenas a um celular simples e 86,7% acreditam na viabilidade de um sistema informatizado que auxilie no atendimento e no tempo/resposta da ocorrência.

Conclusão:

apesar do déficit de tecnologias dentro do serviço pesquisado e da insatisfação desses profissionais, estes anseiam por tecnologias que agilizem o atendimento gerando diminuição do tempo/resposta da ocorrência. Assim, os resultados podem subsidiar a gestão dos serviços e contribuir positivamente para a prática profissional da equipe do SAMU.

DESCRITORES:
Profissionais da saúde; Serviços médicos de emergência; Aplicações da informática médica; Tecnologia da informação; Prática profissional.

ABSTRACT

Objective:

to assess the interest, access and knowledge of the Urgency and Emergency Mobile Care Service professionals in relation to Information and Communication Technologies in such service.

Method:

a descriptive and cross-sectional study conducted with Urgency and Emergency Mobile Care Service professionals (physicians, nurses, nursing technicians and drivers) in September and October 2020 in the Northwest region of the state of Paraná, Brazil. The data were collected through a structured instrument and analyzed by means of descriptive statistics.

Results:

of the 30 participants, 80% reported access only to a simple cell phone, and 86.7% believed in the viability of a computerized system to assist in care provision and in the improvement of the response time for the event.

Conclusion:

despite the technological deficit in the service researched and dissatisfaction of its professionals, they wish for technologies to streamline care, thus reducing the response time for the event. Thus, the results can support management of the services and bring about positive contributions to the SAMU team professional practice.

DESCRIPTORS:
Health Professionals; Emergency Medical Services; Applications of Medical Informatics; Information Technology; Professional Practice.

RESUMEN

Objetivo:

evaluar el interés, acceso y conocimiento de los profesionales del Servicio Móvil de Urgencias y Emergencias en relación con las Tecnologías de la Información y la Comunicación en dicho servicio.

Método:

estudio descriptivo y transversal realizado con profesionales (médicos, enfermeros, técnicos de enfermería y choferes) del Servicio Móvil de Atención de Urgencias del noroeste de Paraná, Brasil, en los meses de septiembre y octubre de 2020. Los datos se recolectaron por medio de un instrumento estructurado y se los analizó a través de estadística descriptiva.

Resultados:

de los 30 profesionales participantes, el 80% informó tener acceso solamente a un celular simple y el 86,7% cree en la viabilidad de un sistema informatizado que asista en la atención y en el tiempo de respuesta ante el evento.

Conclusión:

a pesar de la falta de tecnologías dentro del servicio investigado y la insatisfacción de estos profesionales, anhelan tecnologías que agilicen el servicio, generando una reducción en el tiempo de respuesta ante el evento. De esta manera, los resultados pueden sustentar la gestión de los servicios y contribuir en forma positiva a la práctica profesional del equipo del SAMU.

DESCRIPTORES:
Profesionales de Salud; Servicios Médicos de Emergencia; Aplicaciones de la Informática Médica; Tecnología de la Información; Práctica Profesional.

INTRODUÇÃO

As tecnologias em serviço podem ser classificadas como leves, duras e leve-duras. As leves são aquelas relacionadas ao acolhimento, à produção de vínculo, gestão, busca de autonomia e escuta qualificada. Tecnologias duras são equipamentos materiais tecnológicos utilizados na assistência, por exemplo: glicosímetro, balança, formulário de dados, estruturas organizacionais, manuais e normativas; já as tecnologias leve-duras são os saberes e o conhecimento técnico científico11 Mercês JMR, Redeiro MMP. A importância dos dispositivos móveis como estratégia para a formação e desenvolvimento de profissionais de saúde. In: Congresso internacional ABED de educação a distância; 2016 p.1-9; São Paulo, Brasil: ABED, 2016 [acesso em 11 ago 2021]; Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/306.pdf.
http://www.abed.org.br/congresso2016/tra...
.

Dentre as ferramentas tecnológicas disponíveis, nota-se ampla divulgação e difusão das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), que podem ser definidas como um conjunto de recursos tecnológicos, utilizados de forma integrada, com um objetivo comum. Esse intercâmbio de informações gera novos conhecimentos e competências entre os profissionais11 Mercês JMR, Redeiro MMP. A importância dos dispositivos móveis como estratégia para a formação e desenvolvimento de profissionais de saúde. In: Congresso internacional ABED de educação a distância; 2016 p.1-9; São Paulo, Brasil: ABED, 2016 [acesso em 11 ago 2021]; Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/306.pdf.
http://www.abed.org.br/congresso2016/tra...
. Destaca-se que as TICs vêm sendo aperfeiçoadas a fim de aprimorar a assistência à saúde, de modo que os atendimentos prestados aos pacientes sejam mais rápidos e eficazes, além de servir como ferramenta auxiliar no aprimoramento do conhecimento técnico-científico dos profissionais da saúde11 Mercês JMR, Redeiro MMP. A importância dos dispositivos móveis como estratégia para a formação e desenvolvimento de profissionais de saúde. In: Congresso internacional ABED de educação a distância; 2016 p.1-9; São Paulo, Brasil: ABED, 2016 [acesso em 11 ago 2021]; Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/306.pdf.
http://www.abed.org.br/congresso2016/tra...
-22 Barra DCC, Paim SMS, Sasso GTMD, Colla GW. Métodos para desenvolvimento de aplicativos móveis em saúde: revisão integrativa da literatura. Revisão de literatura. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 02 dez 2020];16(4). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-07072017002260017.
https://doi.org/10.1590/0104-07072017002...
.

As TICs promovem uma melhoria na prática clínica e assistência prestada ao cliente, possibilitando a divulgação, disseminação e atualização do conhecimento na área da saúde. Além disso, servem de ferramenta de apoio na tomada de decisão dos profissionais de saúde, por meio da elaboração de diagnósticos mais fidedignos, orientações e condutas terapêuticas qualificadas destinadas aos pacientes22 Barra DCC, Paim SMS, Sasso GTMD, Colla GW. Métodos para desenvolvimento de aplicativos móveis em saúde: revisão integrativa da literatura. Revisão de literatura. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 02 dez 2020];16(4). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-07072017002260017.
https://doi.org/10.1590/0104-07072017002...
.

No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), as TICs estão cada vez mais inseridas nas redes de atenção, contribuindo para a troca de informações, agilizando o processo de atendimento, facilitando o preenchimento e envio do prontuário, tendo como reflexo de sua inclusão a melhoria da assistência prestada ao usuário33 Silva AM de A, Mascarenhas VHA, Araújo SNM, Machado R da S, Santos AMR dos, Andrade EMLR. Tecnologias móveis na área de enfermagem. Revisão. Rev. Bras. Enferm. [Internet]. 2018 [acesso em 17 dez 2020];71(5). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0513.
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
.

Dentre as redes prioritárias do SUS, a Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE), implantada em 2011 pelo Ministério da Saúde (MS)44 Santos A de F dos, Sobrinho DF, Araujo LL, Procópio C da SD, Lopes EAS, Lima AM de LD de, et al. Incorporação de tecnologias de informação e comunicação e qualidade na Atenção Básica em Saúde no Brasil. Cad Saúde Pública. [Internet]. 2017 [acesso em 02 dez 2020]; 33(5). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00172815.
https://doi.org/10.1590/0102-311X0017281...
, tem por finalidade articular e integrar os equipamentos de saúde, objetivando ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência/emergência nos serviços de saúde, de forma ágil e oportuna, ou seja, visa ao diagnóstico rápido para encaminhamento do paciente ao tratamento adequado, mediante seu nível de complexidade55 Oliveira M, Trindade MF. Atendimento de urgência e emergência na rede de Atenção Básica de saúde: análise do papel do enfermeiro e o processo de acolhimento. Hórus. [Internet]. 2017 [Acesso em 17 dez 2020]; 5(2):160-171. Disponível em: http://periodicos.estacio.br/index.php/revistahorus/article/view/3978.
http://periodicos.estacio.br/index.php/r...
.

Entre os componentes da RUE, estão o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência (SAMU) e suas centrais de regulação médica em parceria com o Corpo de Bombeiros Militar, Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e Atenção Hospitalar. O SAMU tem como principal objetivo chegar, o mais precocemente possível, ao local da ocorrência, prestando suporte efetivo à vítima em situação de urgência e emergência. Nesse serviço, a tomada de decisão é importante para a eficácia do atendimento, e, nesse contexto, vislumbra-se o papel fundamental das tecnologias de informações66 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Manual instrutivo da Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2013 [acesso em 06 nov 2020]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_instrutivo_rede_atencao_urgencias.pdf.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
.

As informações sobre a ocorrência na assistência do SAMU devem chegar o mais rápido possível aos serviços de referência, como unidades de pronto socorro. Nesse aspecto, a implantação do SAMU proporciona benefício à população, pois oferece um atendimento mais rápido e eficiente, podendo ser qualificado ainda mais com a implementação e utilização de forma adequada das TICs77 Souza Júnior MF, Amorim LAM, Santos LEPS, Correia Neto JS, Souza HA. Aprimoramento de interfaces de usuários de sistemas de informação em saúde no atendimento pré-hospitalar na ótica da consciência situacional. iSys [Internet]. 2019 [citado em 07 dez 2020];12(4):98-116. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/isys/article/view/8429.
http://www.seer.unirio.br/isys/article/v...
.

Considera-se que, para a análise da utilização das TICs no SAMU, por ser um tema ainda incipiente na literatura, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas sobre a temática. O levantamento de dados quanto à necessidade e o interesse dos profissionais inseridos no serviço de urgência e emergência poderá ser utilizado como subsídio para busca da inserção de novas TICs que venham contribuir para a otimização do serviço, além de incentivar novas pesquisas sobre o assunto88 Uchida TH, Fujimaki M, Umeda JE, Higase MS, Caldarelli PG. Percepção de profissionais de saúde sobre utilização de tecnologias de informação e comunicação. Sustinare [Internet]. 2020 [acesso em 10 jan 2021]; 8(1):4-22. Disponível em: https://doi.org/10.12957/sustinere.2020.51280.
https://doi.org/10.12957/sustinere.2020....
.

Diante disso, o objetivo deste estudo é avaliar o interesse, acesso e conhecimento dos profissionais do Atendimento Móvel de Urgência em relação às Tecnologias da Informação e Comunicação no serviço.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa sobre o interesse, acesso e conhecimento dos profissionais do SAMU em relação às TICs. Participaram da pesquisa 30 profissionais de uma base descentralizada do SAMU 192 de um município do Noroeste do Paraná, de todas as categorias profissionais (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e condutores).

O SAMU é regido pelo Consórcio Intermunicipal de Urgência e Emergência do Noroeste do Paraná (CIUENP) que, desde 2011, conta com a participação de 101 municípios, coordenando assim as Urgências e Emergências de 1.200.000 habitantes por meio da Central de Regulação do Serviço de Atendimento Móvel de urgência do SAMU 192.

O serviço pesquisado conta com uma Unidade de Suporte Avançado e duas Unidades de Suporte Básico de Vida. O serviço é composto por seis equipes de atendimento, com sete profissionais trabalhando em turnos de 12 por 60 horas, perfazendo um total de 18 condutores, 12 técnicos de enfermagem, seis enfermeiros e seis médicos.

Para a realização da coleta de dados, foi adotado como critério de inclusão: ser profissional ativo na base de referência do estudo. Foram excluídos os profissionais que não estavam atuando no período da pesquisa, por férias ou licença.

A coleta de dados ocorreu nos meses de setembro e outubro de 2020, por meio de um formulário construído na plataforma online do Google Forms®, em razão das medidas de proteção contra a pandemia da COVID-19.

O formulário era composto por questões em escala Likert divididas em três eixos principais, sendo: caracterização sociodemográfica dos participantes; questões referentes ao conhecimento e utilização das TICs pelos profissionais da base descentralizada; e interesse e necessidade das TICs entre os componentes da RUE, para o atendimento de qualidade às urgências e emergências.

O envio do formulário eletrônico aos participantes se deu via WhatsApp®. Para ter acesso às questões do formulário, os participantes necessitaram dar o aceito após a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que fazia parte da página inicial do link enviado pelo aplicativo. O formulário ficou aberto durante cinco dias, para respostas dos participantes.

Os dados foram tabulados em planilha do Microsoft Excel 2016 e analisados por meio do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 21.0, apresentando as frequências absolutas e respectivos percentuais e utilizando estatística descritiva.

Todos os preceitos éticos com pesquisas envolvendo seres humanos foram respeitados, sendo a pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Paraná sob o nº 4.573.667.

RESULTADOS

Foram entrevistados 30 profissionais, dos quais 21 (71,4%) tinham média e desvio padrão para a idade de 39,9±5,5 anos. Quanto à categoria profissional, participaram 11 condutores e técnicos de enfermagem, cinco enfermeiros e três médicos. Em relação ao tempo de atuação no SAMU, 28 (93,3%) dos participantes trabalhavam, na base descentralizada, há mais de cinco anos. Quanto ao grau de formação, 14 (46,6%) dos participantes possuíam ensino superior completo ou pós-graduação (Tabela 1).

Tabela 1
Caracterização profissional dos servidores atuantes no SAMU, Paranavaí, PR, Brasil, 2020 (n=30)

Em relação à percepção dos profissionais sobre a utilização das TICs no ambiente de trabalho, foi evidenciado que 16 (53,3%) demonstraram ter muito interesse, 22 (73,3%) consideraram pertinente que as fichas de atendimento (FA) fossem em formato digital, 26 (86,7%) acreditavam que a implementação de um sistema informatizado no serviço seria viável, 28 (93,3%) acreditavam na necessidade de algum recurso tecnológico que auxiliasse na criação de um banco de dados para os serviços de urgência e emergência (Tabela 2).

Tabela 2
Percepção dos profissionais do SAMU da base de referência do estudo sobre as tecnologias existentes no serviço, Paranavaí, PR, Brasil, 2020

Quando questionados sobre o acesso ao uso das TICs no dia a dia de trabalho, 18 (60%) apontaram ter alcance somente a algumas tecnologias, dois (6,7%) tinham acesso a todas as tecnologias disponíveis, enquanto oito (26,7%) afirmaram não ter acesso algum e dois (6,7%) desconheciam as tecnologias existentes no serviço (Tabela 2).

Os participantes foram solicitados a apontar quais eram as TICs disponíveis para utilização em seu ambiente de trabalho, sendo que a maioria, 24 (80%), referiu apenas um celular simples (não smartphone) como ferramenta oferecida pelo serviço (Tabela 3).

Tabela 3
Tecnologias de informação e comunicação disponíveis para uso no serviço do SAMU 192 apontadas pelos profissionais, Paranavaí, PR, Brasil, 2020 (n=30)

Em contraponto, 14 (46,7%) apontaram pouco ou razoável interesse em utilizar as TICs no trabalho, 28 (93,3%) expressaram a necessidade de algum tipo de tecnologia que auxiliasse na criação de um banco de dados para o serviço de emergência, agregando-se a FA em formato digital. Somente um profissional pontuou incerteza nesse aspecto e um outro não visualizou tal necessidade (Tabela 4).

Um participante relatou que a coleta e armazenamento de dados do paciente e da ocorrência são realizados em formulário eletrônico, os outros 29 (96,7%) trouxeram o formulário impresso em papel como o principal instrumento utilizado atualmente (Tabela 4).

Tabela 4
Percepções dos profissionais sobre relevância, importância e disponibilidade das TICs na integração do serviço do SAMU, Paranavaí, PR, Brasil, 2020

Na categoria “nível de conhecimento”, seis (20%) participantes avaliaram negativamente seu conhecimento sobre as TICs no serviço, os demais expressaram ter um bom nível de conhecimento (Tabela 5). Por conseguinte, quando questionados sobre o nível de satisfação em relação às TICs, nenhum participante se encontrava completamente satisfeito. A grande maioria estava pouco ou nada satisfeita ()=1,9).

Ainda na Tabela 5, além da insatisfação identificada, observou-se que os participantes tinham pouco ou regular interesse pela disponibilidade das TICs no serviço (=2,6), podendo esses fatores estarem interligados. Entretanto, quando questionados sobre seu interesse por um sistema que conecta o SAMU a outros serviços de atenção às urgências e emergências, houve expressivo interesse (=4,0).

Tabela 5
Nível de conhecimento, satisfação e interesse relacionado às TICs inseridas no serviço do SAMU, Paranavaí, PR, Brasil, 2020

DISCUSSÃO

De acordo com os resultados desta pesquisa, nota-se que 66,7% dos participantes sentem a necessidade de um aplicativo que possa melhorar o tempo de atendimento. Segundo estudo realizado em Recife99 Grasselli EA. Implantação do sistema de informações hospitalares do exército brasileiro: do prontuário de papel ao prontuário eletrônico [monografia]. 2019 [Acesso em 17 de dez de 2020]. Disponível em: https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/5201/1/MONO_GRASSELLI_CFO.pdf.
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/1...
, a TIC é um dos fundamentos da abordagem gerencial da administração pública eficiente. Destaca-se como um dos meios estratégicos para a gestão do sistema de saúde, quando adotada como mecanismo facilitador do serviço, além de contribuir para o fortalecimento do estado regulador, na medida em que seu uso proporciona eficiência e transparência nos serviços públicos de saúde.

Uma outra análise no mesmo município enfatizou que o uso das TICs refletiu numa melhora significativa na qualidade do atendimento ao usuário e na eficiência na gestão das instituições de saúde assim como no emprego inteligente dos dados obtidos. Percebeu-se o impacto causado pelo emprego das TICs nas competências dos colaboradores do serviço de Urgência e Emergência que atendem diretamente o paciente. Ressalta-se que o acesso, em tempo real e/ou remoto, às informações contribuiu significativamente para a resolução de problemas de saúde11 Mercês JMR, Redeiro MMP. A importância dos dispositivos móveis como estratégia para a formação e desenvolvimento de profissionais de saúde. In: Congresso internacional ABED de educação a distância; 2016 p.1-9; São Paulo, Brasil: ABED, 2016 [acesso em 11 ago 2021]; Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/306.pdf.
http://www.abed.org.br/congresso2016/tra...
.

Conforme achados do estudo, os profissionais acreditam na informatização e melhoria do sistema, igualmente destacam a necessidade de criação de um banco de dados para a melhoria da assistência na urgência e emergência. Apesar de a pesquisa ter identificado um acesso restrito às tecnologias existentes no serviço pelos profissionais de saúde, observou-se um déficit na disponibilidade de tecnologias ofertadas pelo serviço, evidência que expõe o quanto as TICs podem auxiliar no processo do atendimento do SAMU1010 Moreira ACA, Teixeira FE, Araujo TL de, Cavalcante TF, Silva MJ da, Cruz ATCT. Desenvolvimento de software para o cuidado de enfermagem: revisão integrativa. Rev enferm. UFPE. [Internet]. 2016 [acesso em 10 jan 2021]; 10(Supl. 6):4942-50. Disponível em: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i6a11276p4942-4950-2016.
https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i6a...
.

As TICs são classificadas como leve, leve-dura e dura e podem ser consideradas como meio de suporte na assistência. Na área da saúde, dentre os tipos de tecnologias citadas, um estudo realizado na Colômbia1111 Granados-Pembertty YY, Arias-Valencia MM. Being in front of the patient. Nurse-patient interaction and use of technology in emergency services. Invest. educ. Enferm. [Internet]. 2013 [acesso em 10 jan 2021]; 31(3): 421-432. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=105229159010.
https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=1...
refere especificamente a importância das classificadas como tecnologias duras e ressalta a importância das mesmas na otimização da assistência, reflexão essa que corrobora os resultados elencados neste estudo que identificou, na visão dos profissionais, a necessidade da implementação de um aplicativo que auxilie e otimize o serviço de urgência e emergência.

As tecnologias trazem grandes avanços para os profissionais e para os usuários do serviço de saúde, uma vez que as informações passam a ser eletrônicas/digitais, oferecendo acesso rápido e fácil e auxiliando tanto na organização do serviço quanto no atendimento ao paciente1212 Santos MC dos, Marim H de F. Analysing the use of a computerized system by hospital managers. Acta Paul Enferm. [Internet]. 2018 [acesso em 12 dez 2020]; 31(1). Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-0194201800002.
https://doi.org/10.1590/1982-01942018000...
. Portanto, a inserção de TICs, além de benefícios diretos à assistência, auxilia na diminuição de custos e possíveis erros, pois documentos de papel possuem limitações e grande chance de rasuras e elegibilidade, além de um alto custo de pessoal e armazenamento99 Grasselli EA. Implantação do sistema de informações hospitalares do exército brasileiro: do prontuário de papel ao prontuário eletrônico [monografia]. 2019 [Acesso em 17 de dez de 2020]. Disponível em: https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/5201/1/MONO_GRASSELLI_CFO.pdf.
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/1...
.

Verificou-se que os participantes da pesquisa mostraram interesse em uma ferramenta tecnológica para interação do serviço, no entanto, quando questionados sobre o interesse por novas tecnologias, os profissionais demonstraram baixo nível de interesse, informação que condiz com estudo realizado em Santa Catarina1313 Matos DF. Aplicativo para auxílio no atendimento a emergências no âmbito do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina [TCC - especialização]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2017. que apresenta a resistência quanto à aceitação e adaptação dos funcionários como limitações para o uso das TICs. Fato este que pode estar associado à falta de ferramenta tecnológica para se manusear no serviço, levando em consideração que 80% dos participantes citaram apenas o celular simples como ferramenta tecnológica ofertada no serviço de urgência e emergência.

Estudo realizado no Rio Grande do Norte11 Mercês JMR, Redeiro MMP. A importância dos dispositivos móveis como estratégia para a formação e desenvolvimento de profissionais de saúde. In: Congresso internacional ABED de educação a distância; 2016 p.1-9; São Paulo, Brasil: ABED, 2016 [acesso em 11 ago 2021]; Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/306.pdf.
http://www.abed.org.br/congresso2016/tra...
demonstrou que as TICs, cada vez mais, vêm sendo utilizadas como ferramentas que auxiliam no tempo/resposta e diagnóstico das ocorrências atendidas pelo serviço de atendimento pré-hospitalar, SAMU 192. Ademais, aponta um grande avanço no tempo de resposta de diagnósticos realizados pela equipe médica do serviço em questão, após a implementação de um aplicativo desenvolvido intitulado como SOS Socorrista, que tem a finalidade de auxiliar a equipe de regulação, no processo de atendimentos de ocorrências de urgência e emergência, na tomada de decisão.

Portanto, este estudo, apesar de apresentar a limitação de ter sido desenvolvido somente em uma base descentralizada do SAMU, demonstra a perspectiva de implementação de novas TICs para a otimização da assistência dos serviços de emergência. Observa-se que, cada dia mais, os serviços de saúde necessitam de novas ferramentas tecnológicas que visem a um atendimento mais qualificado e humanizado, de forma rápida e ágil, garantindo fácil acesso e troca de informações entre os serviços de saúde, principalmente nos serviços de atendimento a urgências e emergências1515 Sousa KHJF, Damasceno CKCS, Almeida CAPL, Magalhões JM, Ferreira M de A. Humanização nos serviços de urgência e emergência: contribuições para o cuidado de enfermagem. Rev. Gaúcha Enferm. [Internet]. 2019 [acesso em 12 fev 2021]; 40. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180263.
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.2...
. Os resultados desta pesquisa podem subsidiar a gestão dos serviços e contribuir positivamente para a prática profissional da equipe do SAMU.

CONCLUSÃO

Os profissionais de saúde participantes da pesquisa, na sua maioria, não possuem conhecimento, 16 (53,3%), e acesso, 28 (96,4%), adequado em relação à Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC), no entanto, expressam interesse na utilização, 16 (53,3%), ficando evidente a necessidade de um treinamento correspondente às demandas tecnológicas da atualidade, visando a melhorias no atendimento, com ênfase, não somente nos quesitos agilidade e qualidade, mas, acima de tudo, mantendo características humanizadas no âmbito do atendimento.

Dessa forma, os resultados deste estudo podem subsidiar novas pesquisas sobre o tema, mesmo que tecnologia da informação seja um assunto atual, ainda há necessidade de aprofundamento para estimular profissionais de saúde atuantes nos serviços de urgência e emergência, nos quais a resposta deve ser eficiente e eficaz, para que se apropriem das TICs, gerando assim uma assistência de qualidade e buscando diminuir os índices de mortalidade, além de que a temática ainda se apresenta incipiente na literatura, quando o foco é urgência e emergência, sendo um déficit na contribuição da prática assistencial desse setor.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Mercês JMR, Redeiro MMP. A importância dos dispositivos móveis como estratégia para a formação e desenvolvimento de profissionais de saúde. In: Congresso internacional ABED de educação a distância; 2016 p.1-9; São Paulo, Brasil: ABED, 2016 [acesso em 11 ago 2021]; Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/306.pdf
    » http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/306.pdf
  • 2
    Barra DCC, Paim SMS, Sasso GTMD, Colla GW. Métodos para desenvolvimento de aplicativos móveis em saúde: revisão integrativa da literatura. Revisão de literatura. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2017 [acesso em 02 dez 2020];16(4). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-07072017002260017
    » https://doi.org/10.1590/0104-07072017002260017
  • 3
    Silva AM de A, Mascarenhas VHA, Araújo SNM, Machado R da S, Santos AMR dos, Andrade EMLR. Tecnologias móveis na área de enfermagem. Revisão. Rev. Bras. Enferm. [Internet]. 2018 [acesso em 17 dez 2020];71(5). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0513
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0513
  • 4
    Santos A de F dos, Sobrinho DF, Araujo LL, Procópio C da SD, Lopes EAS, Lima AM de LD de, et al Incorporação de tecnologias de informação e comunicação e qualidade na Atenção Básica em Saúde no Brasil. Cad Saúde Pública. [Internet]. 2017 [acesso em 02 dez 2020]; 33(5). Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00172815
    » https://doi.org/10.1590/0102-311X00172815
  • 5
    Oliveira M, Trindade MF. Atendimento de urgência e emergência na rede de Atenção Básica de saúde: análise do papel do enfermeiro e o processo de acolhimento. Hórus. [Internet]. 2017 [Acesso em 17 dez 2020]; 5(2):160-171. Disponível em: http://periodicos.estacio.br/index.php/revistahorus/article/view/3978
    » http://periodicos.estacio.br/index.php/revistahorus/article/view/3978
  • 6
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Manual instrutivo da Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2013 [acesso em 06 nov 2020]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_instrutivo_rede_atencao_urgencias.pdf
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_instrutivo_rede_atencao_urgencias.pdf
  • 7
    Souza Júnior MF, Amorim LAM, Santos LEPS, Correia Neto JS, Souza HA. Aprimoramento de interfaces de usuários de sistemas de informação em saúde no atendimento pré-hospitalar na ótica da consciência situacional. iSys [Internet]. 2019 [citado em 07 dez 2020];12(4):98-116. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/isys/article/view/8429
    » http://www.seer.unirio.br/isys/article/view/8429
  • 8
    Uchida TH, Fujimaki M, Umeda JE, Higase MS, Caldarelli PG. Percepção de profissionais de saúde sobre utilização de tecnologias de informação e comunicação. Sustinare [Internet]. 2020 [acesso em 10 jan 2021]; 8(1):4-22. Disponível em: https://doi.org/10.12957/sustinere.2020.51280
    » https://doi.org/10.12957/sustinere.2020.51280
  • 9
    Grasselli EA. Implantação do sistema de informações hospitalares do exército brasileiro: do prontuário de papel ao prontuário eletrônico [monografia]. 2019 [Acesso em 17 de dez de 2020]. Disponível em: https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/5201/1/MONO_GRASSELLI_CFO.pdf
    » https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/5201/1/MONO_GRASSELLI_CFO.pdf
  • 10
    Moreira ACA, Teixeira FE, Araujo TL de, Cavalcante TF, Silva MJ da, Cruz ATCT. Desenvolvimento de software para o cuidado de enfermagem: revisão integrativa. Rev enferm. UFPE. [Internet]. 2016 [acesso em 10 jan 2021]; 10(Supl. 6):4942-50. Disponível em: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i6a11276p4942-4950-2016
    » https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i6a11276p4942-4950-2016
  • 11
    Granados-Pembertty YY, Arias-Valencia MM. Being in front of the patient. Nurse-patient interaction and use of technology in emergency services. Invest. educ. Enferm. [Internet]. 2013 [acesso em 10 jan 2021]; 31(3): 421-432. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=105229159010
    » https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=105229159010
  • 12
    Santos MC dos, Marim H de F. Analysing the use of a computerized system by hospital managers. Acta Paul Enferm. [Internet]. 2018 [acesso em 12 dez 2020]; 31(1). Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-0194201800002
    » https://doi.org/10.1590/1982-0194201800002
  • 13
    Matos DF. Aplicativo para auxílio no atendimento a emergências no âmbito do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina [TCC - especialização]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2017.
  • 14
    Comitê Gestor da Internet no Brasil. TIC SAÚDE- pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos estabelecimentos de saúde brasileiros 2019. Comitê Gestor da Internet no Brasil, [Internet]. 2020 [acesso em 15 jan 2021]. Disponível em: https://www.nic.br/media/docs/publicacoes/2/20201123084414/tic_saude_2019_livro_eletronico.pdf
    » https://www.nic.br/media/docs/publicacoes/2/20201123084414/tic_saude_2019_livro_eletronico.pdf
  • 15
    Sousa KHJF, Damasceno CKCS, Almeida CAPL, Magalhões JM, Ferreira M de A. Humanização nos serviços de urgência e emergência: contribuições para o cuidado de enfermagem. Rev. Gaúcha Enferm. [Internet]. 2019 [acesso em 12 fev 2021]; 40. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180263
    » https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180263
Editora associada: Dra. Luciana Nogueira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    17 Jul 2021
  • Aceito
    13 Jun 2022
Universidade Federal do Paraná Av. Prefeito Lothário Meissner, 632, Cep: 80210-170, Brasil - Paraná / Curitiba, Tel: +55 (41) 3361-3755 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: cogitare@ufpr.br