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Morfometria tridimensional (3D) da face

O QUE HÁ DE NOVO NA ODONTOLOGIA

Morfometria tridimensional (3D) da face

Márcio de MenezesI; Chiarella SforzaII

IDoutorando do Departamento de Morfologia Humana e Ciências Biomédicas da Universidade de Milão, Itália

IIProfessora do Departamento de Morfologia Humana e Ciências Biomédicas da Universidade de Milão, Itália

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Márcio de Menezes Praça Cônego Joaquim Alves 79 CEP: 14.300-000 - Batatais / SP E-mail: marcio.demenezes@unimi.it

Como a antropometria facial desempenha um papel importante no diagnóstico de diversas síndromes, diferentes áreas que trabalham com as estruturas da face (Odontologia, Cirurgia Plástica e Craniomaxilofacial, Otorrinolaringologia) estão cada vez mais interessadas por novas tecnologias que promovam um correto diagnóstico e preparação do plano de tratamento de pacientes que serão submetidos a tratamentos ortodônticos, cirurgias ortognáticas, cirurgias plásticas da face, diagnóstico de malformações congênitas ou adquiridas e pesquisas morfométricas1,6.

Recentemente, estudos clínicos e pesquisas baseadas na antropometria clássica em duas dimensões estão sendo substituídos por vários métodos de análise tridimensional (3D) e, consequentemente, o conhecimento dessa tecnologia, sua aplicação e interpretação dos dados tornam-se uma tarefa essencial para os profissionais envolvidos.

A marcação de pontos craniométricos representa uma ligação entre a antropometria convencional e a digital7: a antropometria convencional identifica os pontos faciais e, através deles, realiza medições utilizando paquímetros, réguas cefalométricas, etc. Fundamentalmente, a antropometria digital capta as posições dos pontos identificados na face, e usa as coordenadas X, Y e Z para cálculos baseados na geometria euclidiana: distâncias lineares e ângulos (Fig. 1). Associados com as medidas clássicas, cálculos matemáticos e geométricos permitem análises mais complexas como estimativas de volume, área da superfície, análises de simetria, avaliação de formas, utilizando os mesmos pontos já computados2-5,8.


MÉTODOS TRIDIMENSIONAIS DE MORFOMETRIA

Dois grupos principais de instrumentos podem ser utilizados na antropometria facial em 3D: instrumentos de contato (digitalizadores eletromagnéticos e eletromecânicos, sondas ultrassônicas) e instrumentos ópticos ou de não-contato (laser scanner, instrumentos óptico-eletrônicos, topografia Moiré, estereofotogrametria). Todos esses instrumentos não são invasivos e nem nocivos, não provocando dor ou desconforto aos pacientes. Entretanto, ambas as modalidades desses instrumentos possuem vantagens e limitações que devem ser consideradas de acordo com os problemas a serem investigados e os recursos disponíveis.

Um método de análise morfométrica quantitativa ideal para a avaliação de pacientes deve:

• ser não-invasivo;

• ser de baixo custo;

• ser rápido (obtenção das informações através de uma técnica simples e que promova captação e armazenamento dos dados digitais tridimensionais da morfologia facial);

• possibilitar a criação de um banco de dados;

• possibilitar a visualização, simulação e análise quantitativa do tratamento.

MÉTODOS DE CONTATO

As sondas ultrassônicas e os digitalizadores eletromagnéticos ou eletromecânicos estão entre os mais utilizados. O método de ultrassom é amplamente adotado em exames de pré-natal e a utilização de imagens intrauterinas e reconstruções 3D da face do feto está se tornando uma prática comum. Entretanto, a sua aplicação no pós-natal é limitada, sendo somente para avaliação da espessura do tecido mole que recobre a face. Digitalizadores eletromagnéticos e eletromecânicos fornecem as coordenadas tridimensionais dos pontos de referência demarcados previamente na face, que correspondem diretamente às estruturas anatômicas e antropométricas dos indivíduos analisados, ou seja, as coordenadas são obtidas ponto por ponto2,4,7.

Sondas ultrassônicas utilizam ondas acústicas com frequência em megahertz, enquanto digitalizadores eletromagnéticos ou eletromecânicos são baseados em ondas eletromagnéticas. As principais desvantagens desses métodos são a redução das informações obtidas e o tempo necessário para a aquisição dos dados, que é extremamente longo quando comparado com os instrumentos ópticos. Além disso, como cada ponto é obtido individualmente, movimentos da musculatura facial (especialmente ao redor dos olhos e da boca), bem como todo o movimento da cabeça, podem ocasionar uma incorreta captura dos pontos antropométricos. Além disso, esses métodos não permitem a reprodução de modelos providos de aparências reais (somente formas geométricas) e, uma vez obtidos os pontos, esses não são passíveis de uma correção das posições em "offline" ou a posterior introdução de novos pontos (Fig. 1).

INSTRUMENTOS ÓPTICOS

Os métodos mais utilizados dessa categoria são os lasers scanners e os sistemas de esterofotogrametria. O laser scanner ilumina a face com uma luz laser de baixa potência e, assim, câmeras digitais captam a luz refletida; as informações de profundidade são obtidas por meio de triangulação geométrica.

Os sistemas de estereofotogrametria, que vêm sendo amplamente estudados e aplicados, utilizam fontes de luz padrão ou convencionais para iluminar a face, e duas ou mais câmeras fotográficas sincronizadas salvam as imagens utilizando diferentes angulações. A calibração prévia do sistema fornece informações matemáticas necessárias para a reconstrução estereoscópica da face. O sistema pode, também, registrar a textura facial e combinar as informações tridimensionais com uma precisa reprodução de todas as características faciais (Fig. 2).


Existem também sistemas de fotogrametria, como o sistema Photomodeler (Eos Systems Inc. Vancouver, British Columbia), que usam o mesmo princípio de imagens estereoscópicas, mas através de fotos simples, tiradas com angulações diversas - com o auxílio de um programa específico, é possível obter e analisar medidas sobre a face (Fig. 3). Em estudo recente1, esse sistema se mostrou capaz de identificar a maioria dos pontos antropométricos da face com uma boa precisão, sendo um método relativamente rápido e de custo mais baixo em relação aos demais métodos citados, por utilizar equipamentos fotográficos convencionais1. Diversos métodos não-invasivos 3D têm sido desenvolvidos recentemente no mercado mundial, entretanto, a sua complexidade e alto custo limitam o uso em pesquisas e na prática clínica.


Instrumentos ópticos não necessitam de contato com a pele dos pacientes, o que elimina o risco de compressão cutânea, evitando danos ou erros na mensuração.

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  • 4. Ozsoy U, Demirel BM, Yildirim FB, Tosun O, Sarikcioglu L. Method selection in craniofacial measurements: advantages and disadvantages of 3D digitization method. J Craniomaxillofac Surg. 2009 Jul;37(5):285-90.
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  • Endereço para correspondência:
    Márcio de Menezes
    Praça Cônego Joaquim Alves 79
    CEP: 14.300-000 - Batatais / SP
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      Fev 2010
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