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A inovação precisa ser estimulada no Brasil por meio de depósitos de patentes

EDITORIAL

A inovação precisa ser estimulada no Brasil por meio de depósitos de patentes

A capacidade de inovar e desenvolver novos produtos e serviços é uma das formas de se aquilatar o empreendedorismo de uma nação. Empreender significa gerar divisas para um país, muitas vezes pelo desenvolvimento de tecnologia. Consequentemente, o desenvolvimento de tecnologia, medido pelo número de depósitos de patentes, precisa ser uma prioridade brasileira.

Tecnologia e ciência são matérias distintas, mas que possuem inter-relação tão coesa que temos o Ministério da Ciência e Tecnologia para tratar dessas duas questões. O trabalho realizado ao longo dos anos nesse ministério - criado em 1985, concretizando o compromisso do presidente Tancredo Neves com a comunidade científica nacional - produziu dividendos. Na produção de ciência, crescemos muito. Por exemplo, na Odontologia ocupamos o 4º lugar na produção científica mundial, e hoje muitas vezes é mais vantajoso um dentista estrangeiro vir estudar no Brasil do que o contrário, pois temos vários excelentes programas de pós-graduação espalhados pelo país.

Entretanto, há aparente cisão entre a produção de ciência e a de tecnologia no Brasil. Nosso número de depósitos de patentes ainda é exíguo quando comparado ao de países desenvolvidos. O problema é parcialmente explicado por nossa história. A vocação agrícola prefaciada por Pero Vaz de Caminha - "... em se plantando, tudo dá..." - tirou o foco do também necessário desenvolvimento tecnológico e industrial. Consequentemente, quando as empresas brasileiras, diante da globalização e abertura de nossos mercados, tiveram que fazer frente à concorrência de produtos e processos de produção contemporâneos, não estavam prontas para inovar. A alternativa imediata das empresas foi aprofundar a incorporação de tecnologia estrangeira, ampliando a participação de componentes não-nacionais nos produtos elaborados no Brasil, transformando as patentes em fatos desnecessários.

A comunidade acadêmica brasileira trouxe para o laboratório a falta de empreendedorismo tecnológico, e priorizou desequilibradamente a produção científica. Grande parte da energia gasta na produção científica foi muito bem decifrada por Thomas Kuhn1. Para ele, os resultados obtidos pela ciência normal são significativos porque contribuem para aumentar a precisão e o alcance com os quais o conhecimento vigente, paradigma, pode ser aplicado. Todavia, a ciência não se dedica, na maior parte das vezes, a quebrar paradigmas e produzir inovações, mudanças de atitude ou pensamento. Dessa forma, a atenção da ciência não é voltada para a inovação tecnológica.

Outra forma de olhar o problema, e por uma perspectiva mais pragmática, é acessar o site do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (www.inpi.gov.br). Ao se buscar os registros de patentes com a palavra Ortodontia no título, apenas 16 processos aparecem, sendo o primeiro de 1977 e o último de 2005. Esse é o mesmo número de processos envolvendo Ortodontia no título que o US Patent & Trademark Office (appft1.uspto.gov/netahtml/PTO/search-bool.html) registrou nos 35 dias que antecederam a redação desse editorial. Para essa palavra-chave, 35 dias nos EUA foram equivalentes a 28 anos no Brasil, e em uma área que o nosso país tem uma importante posição de liderança no campo científico.

Esse quadro precisa ser melhorado. É preciso, via políticas educacional e industrial, criar mais estímulos para o desenvolvimento de tecnologia nacional. É fato que muitas universidades brasileiras favorecem o depósito de patentes por meio de órgãos de apoio, e outras medidas estão em curso. Entretanto, mais ênfase precisa ser dada a esse tema. Um dos caminhos possíveis é a troca de projetos de conclusão de curso - monografias, dissertações e teses - por patentes. Essas têm grande valor no currículo de um pesquisador e os coordenadores de cursos de pós-graduação precisam se empenhar nesse sentido.

Inovem.

Jorge Faber

Editor chefe

faber@dentalpress.com.br

  • 1
    Kuhn TS. A estrutura das revoluções científicas. 7ª ed. São Paulo: Perspectiva; 2003. p. 58.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Ago 2010
  • Data do Fascículo
    Ago 2010
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