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Comparação entre a radiografia de cavum e a cefalométrica de perfil na avaliação da nasofaringe e das adenoides por otorrinolaringologistas

Resumos

INTRODUÇÃO: tanto a radiografia cefalométrica de perfil quanto a de cavum permitem a avaliação do espaço aéreo nasofaríngeo (EAN). Não é rara a solicitação dos otorrinolaringologistas de radiografia de cavum, mesmo o paciente possuindo uma cefalométrica. OBJETIVOS: objetivou-se (a) conhecer quais exames os otorrinolaringologistas solicitam para avaliar o EAN; (b) verificar o conhecimento da cefalométrica por otorrinolaringologistas; (c) comparar a avaliação de otorrinolaringologistas nas duas técnicas radiográficas para a medição e a visualização do EAN e da adenoide; (d) correlacionar os resultados do método de inspeção visual com os da medição de Schulhof. MÉTODOS: foram obtidas, no mesmo dia, radiografias cefalométricas e de cavum de 15 pacientes respiradores bucais. Essas foram cobertas com papel cartão, deixando visível apenas o EAN e adenoides e foram avaliadas por 12 otorrinolaringologistas. Estes respondiam sobre sua familiaridade com a cefalométrica, quais exames solicitam para visualizar EAN e adenoides e se utilizam algum método de medição do grau de obstrução. Avaliavam qual das radiografias apresentava a melhor visualização da adenoide e do EAN, e classificavam o tamanho dos mesmos em pequeno, médio ou grande, através de método visual. RESULTADOS: os resultados demonstraram que todos os otorrinolaringologistas costumam solicitar a radiografia de cavum. Apenas um solicita a cefalométrica, dois estão familiarizados com essa técnica e um utiliza algum método de medição do EAN. A cefalométrica foi preferida por 49,4% dos otorrinolaringologistas, a de cavum por 22,8%, enquanto 27,8% não observaram diferença entre ambas. Foi encontrada baixa correlação entre o método de medição visual e o de Schulhof.

Ortodontia; Otorrinolaringologia; Radiografia de cavum; Radiografia cefalométrica


INTRODUCTION: The lateral cephalometric as well as the cavum radiograph allow the evaluation of the nasopharyngeal airway (NAW). Otorhinolaryngologists routinely use the cavum radiograph, even when the patient already has a lateral cephalometric headfilm. OBJECTIVES: The aim of this study was to (a) acknowledge which exams otorhinolaryngologists use for the evaluation and measurement of the NAW; (b) evaluate if the otorhinolaryngologists are acquainted to the cephalometric; (c) compare both radiographs to see which one is preferred to visualize the NAW and adenoids and (d) correlate the visual analysis to the measuring method of Schulhof. METHODS: For this purpose, the cephalometric and the cavum radiographs of 15 mouth-breathing children were taken on the same day. These radiographs were masked leaving only the NAW and the adenoids visible, and were blindly presented to 12 otorhinolaryngologists. They received the radiographs together with a questionnaire asking on their familiarity with the lateral cephalometric, which exams are used for NAW and adenoid evaluation and if they use any method for measuring the NAW obstruction level. They were also asked to visually classify the NAW and the adenoids according to their sizes into small, medium and large. RESULTS: The results demonstrated that all otorhinolaryngologists in the sample use the cavum radiograph. Only one uses the cephalometric radiograph and two are familiar to this technique. The cephalometric was preferred by 49.4% of the otorhinolaryngologists, the cavum by 22.8% and 27.8% did not see any difference between both methods. There was low correlation between the visual method and the Schulhof measuring method.

Orthodontics; Otorhinolaryngology; Cavum radiograph; Cephalometric radiograph


ARTIGO INÉDITO

Comparação entre a radiografia de cavum e a cefalométrica de perfil na avaliação da nasofaringe e das adenoides por otorrinolaringologistas

Rhita Cristina Cunha AlmeidaI; Flavia ArteseII; Felipe de Assis Ribeiro CarvalhoI; Rachel Dias CunhaIII; Marco Antonio de Oliveira AlmeidaIV

IDoutorandos em Ortodontia na UERJ

IIProfessora adjunta de Ortodontia da UERJ

IIIEspecialista em Otorrinolaringologia

IVProfessor titular de Ortodontia da UERJ

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rhita Cristina Cunha Almeida Av. das Américas, 3434, bl. 5 sala 223 - Barra da Tijuca CEP: 22.640-102 - Rio de Janeiro / RJ E-mail: rhita.almeida@gmail.com

RESUMO

INTRODUÇÃO: tanto a radiografia cefalométrica de perfil quanto a de cavum permitem a avaliação do espaço aéreo nasofaríngeo (EAN). Não é rara a solicitação dos otorrinolaringologistas de radiografia de cavum, mesmo o paciente possuindo uma cefalométrica.

OBJETIVOS: objetivou-se (a) conhecer quais exames os otorrinolaringologistas solicitam para avaliar o EAN; (b) verificar o conhecimento da cefalométrica por otorrinolaringologistas; (c) comparar a avaliação de otorrinolaringologistas nas duas técnicas radiográficas para a medição e a visualização do EAN e da adenoide; (d) correlacionar os resultados do método de inspeção visual com os da medição de Schulhof.

MÉTODOS: foram obtidas, no mesmo dia, radiografias cefalométricas e de cavum de 15 pacientes respiradores bucais. Essas foram cobertas com papel cartão, deixando visível apenas o EAN e adenoides e foram avaliadas por 12 otorrinolaringologistas. Estes respondiam sobre sua familiaridade com a cefalométrica, quais exames solicitam para visualizar EAN e adenoides e se utilizam algum método de medição do grau de obstrução. Avaliavam qual das radiografias apresentava a melhor visualização da adenoide e do EAN, e classificavam o tamanho dos mesmos em pequeno, médio ou grande, através de método visual.

RESULTADOS: os resultados demonstraram que todos os otorrinolaringologistas costumam solicitar a radiografia de cavum. Apenas um solicita a cefalométrica, dois estão familiarizados com essa técnica e um utiliza algum método de medição do EAN. A cefalométrica foi preferida por 49,4% dos otorrinolaringologistas, a de cavum por 22,8%, enquanto 27,8% não observaram diferença entre ambas. Foi encontrada baixa correlação entre o método de medição visual e o de Schulhof.

Palavras-chave: Ortodontia. Otorrinolaringologia. Radiografia de cavum. Radiografia cefalométrica.

INTRODUÇÃO

A respiração bucal é um problema funcional relativamente comum, uma vez que 85% das crianças sofrem de algum grau de insuficiência nasal, como revelado por testes funcionais, e 20% respiram pela boca20. Os fatores que contribuem para o surgimento de uma respiração bucal podem ser de natureza obstrutiva ou decorrer de hábitos deletérios, como a sucção de dedo ou chupeta, podendo causar alterações no curso normal de crescimento e desenvolvimento craniofacial26. Dentre os fatores obstrutivos, a adenoide é o mais comumente citado na literatura médica-odontológica9,18,25,27 .

O tratamento de um paciente respirador bucal, por ter alterações funcionais e oclusais, exige uma interação multidisciplinar, envolvendo o fonoaudiólogo, o otorrinolaringologista e o ortodontista para que as causas da má oclusão sejam removidas, evitando, assim, prováveis recidivas13.

O ortodontista tem como exame de rotina, para traçar o plano de tratamento de seu paciente, a radiografia cefalométrica de perfil descrita por Broadbent4. Essa radiografia é obtida de maneira padronizada, sendo sempre feita com a mesma posição da cabeça e com a mesma distância do feixe de radiação, assim permitindo que sejam feitas medições e que essas sejam comparadas nos diferentes tempos do tratamento. Muitos autores a consideram um exame simples, prático e de resultados satisfatórios para diagnosticar o tamanho do espaço aéreo nasofaríngeo27. Entretanto, a maior parte dos otorrinolaringologistas utiliza a radiografia de cavum para avaliação da nasofaringe3; que é uma radiografia em norma lateral do crânio semelhante à radiografia cefalométrica de perfil, porém sem uma padronização tão rígida, e que fornece a imagem necessária para avaliar o tamanho do espaço aéreo nasofaríngeo, mas é inadequada para o planejamento ortodôntico.

A falta de maior inter-relação entre as duas especialidades e de trabalhos científicos comparando as duas técnicas resulta num desconhecimento sobre qual radiografia teria a melhor visualização radiográfica e uma técnica de medição mais fidedigna, gerando, assim, a duplicidade dessas radiografias.

Gurgel et al.10 descreveram em seu trabalho que o diagnóstico da respiração bucal é feito através de exames especializados - como o exame clínico da bucofaringe, rinoscopia anterior, nasofibroscopia e otoscopia - e por exames complementares, que seriam os hematológicos, radiográficos e avaliação do estado geral do paciente. O exame radiográfico ao qual eles se referem é a radiografia de cavum.

Holmberg e Linder-Aronson14 estudaram se as radiografias cefalométricas lateral e frontal seriam úteis para avaliar a função respiratória nasal, e concluíram que: a lateral proveria resultados satisfatórios sobre as dimensões da nasofaringe, e a frontal sobre a capacidade das vias aéreas nasais.

Major et al.21 concluíram, em uma revisão sistemática sobre a capacidade de diagnosticar hipertrofia adenoideana e obstrução do espaço nasofaringeano através da radiografia cefalométrica, que existe uma boa correlação nos achados do tamanho da adenoide, mas a habilidade de diagnosticar um espaço aéreo nasofaríngeo pequeno já não é tão boa. Explicam esse achado pelo fato de a adenoide ser uma estrutura anatômica mais simples do que a nasofaringe e, assim, perder menos informação quando transformada em imagem bidimensional.

Alguns trabalhos têm sido feitos comparando a radiografia cefalométrica com a endoscopia nasofaringeana. Ianni Filho et al.15 compararam os dois métodos e concluíram que o exame radiográfico é importante no diagnóstico inicial das obstruções nasofaringeanas, mas que suas informações seriam limitadas; porém a endoscopia, apesar de fornecer mais informações, é um exame de difícil acesso. Já Vilella et al.29 encontraram resultados bem próximos em relação ao tamanho anteroposterior da nasofaringe nos dois métodos, e sugeriram que, ao avaliar o modo respiratório da criança, deve ser feito não só exame clínico, mas também medidas cefalométricas do espaço nasofaringeano.

A tomografia computadorizada também é usada no diagnóstico de obstrução da nasofaringe, sendo um exame mais preciso, porém mais oneroso. Montgomery et al.23 descreveram que, após avaliar os resultados obtidos pela tomografia, fica claro o quanto o exame radiográfico é pobre em informações. Os autores sugerem que a tomografia deve ser usada como padrão-ouro, mas que a radiografia cefalométrica deve ser usada como ferramenta para determinar se um acompanhamento mais detalhado é necessário ou não, lembrando que esse é um exame bidimensional e, portanto, limitado21.

A avaliação radiográfica, além de ser o primeiro exame complementar de rotina para pacientes com suspeita de padrão respiratório bucal, é também o meio de diagnóstico mais utilizado na literatura médica e odontológica para avaliar hipertrofia adenoideana1 e alterações do espaço nasofaríngeo, aliada à anamnese e às observações clínicas do paciente7. A técnica radiográfica correta deverá ser sempre obedecida para minimizar as adversidades possíveis, como o mal posicionamento e a movimentação do paciente1. O paciente deverá estar calmo, ereto, com a boca fechada, em inspiração, e a cabeça orientada no plano horizontal em perfil absoluto1,24,25.

Araújo Neto et al.1 afirmaram que, devido à variedade e à complexidade dos métodos de mensuração preconizados para o diagnóstico radiográfico da adenoide, muitos radiologistas preferem usar a análise subjetiva. Dessa forma, uma análise visual da radiografia de cavum torna, na maioria das vezes, o diagnóstico impreciso.

Existem vários métodos descritos para avaliar radiografias da nasofaringe e a interpretação de quando a adenoide está significativamente grande varia de autor para autor. Os métodos mais usados de medir a adenoide na radiografia de cavum são os de: Johannesson16; Fujioka et al.8; Crepeau et al.6 e Cohen e Konak5. Já quando na utilização da radiografia cefalométrica, existem dois métodos de medição descritos na literatura: o método de McNamara22 e o de Schulhof26.

Como a respiração bucal é um problema multidisciplinar tratado pelo ortodontista e pelo otorrinolaringologista, quando ambos utilizam como exame complementar radiografias do crânio em normal lateral, torna-se necessária a comparação entre a radiografia cefalométrica lateral e a radiografia de cavum para tentar padronizar a documentação solicitada ao paciente, fazendo com que esse faça apenas uma radiografia ao invés de duas, assim minimizando gastos e exposição à radiação.

Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo avaliar: (a) quais os exames que os otorrinolaringologistas da amostra costumam solicitar para avaliar e medir o espaço aéreo nasofaríngeo; (b) a porcentagem de otorrinolaringologistas da amostra que conhece a radiografia cefalométrica de perfil; (c) a visualização, pelo otorrinolaringologista, do espaço aéreo nasofaríngeo e da adenoide do respirador bucal nas radiografias de cavum e na radiografia cefalométrica de perfil; e (d) a correlação entre o método visual de análise do espaço aéreo nasofaríngeo e das adenoides e o método de medição de Schulhof26.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a elaboração desse trabalho, foi utilizada uma amostra de radiografias de crianças respiradoras bucais: para o levantamento dessa amostra foram examinadas, na cidade de Recife/PE, 150 crianças com idades entre 6 e 12 anos. Todas passaram por uma anamnese feita pelo mesmo examinador utilizando os critérios de inclusão na amostra, que eram: não estar utilizando aparelho ortodôntico, não fazer uso de qualquer medicamento, não ter realizado a remoção cirúrgica da adenoide, não possuir qualquer anomalia congênita e apresentar respiração bucal.

Das 150 crianças, apenas 38 puderam ser incluídas na amostra de acordo com os critérios de inclusão. Foi solicitado aos pais ou responsáveis que assinassem um termo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com a Resolução n° 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, que rege os princípios sobre pesquisa envolvendo seres humanos, permitindo que as crianças participassem desse estudo. Entretanto, duas crianças não obtiveram o consentimento dos pais, resultando em um total de 36 crianças.

As crianças foram, então, submetidas a exames clínicos intra e extrabucais pelo ortodontista e a uma avaliação fonoaudiológica para certificar-se de que todas as crianças eram respiradoras bucais.

O exame fonoaudiológico constou de anamnese e exame clínico. Na anamnese foram feitas perguntas sobre mastigação e deglutição, qual o tipo de alimento utilizado pelo paciente durante as refeições, tempo gasto durante a alimentação, existência de problemas gástricos e ingestão de líquidos; sono, se o paciente apresentava insônia, ronco e/ou sialorreia; a presença de algum hábito deletério; estado geral de saúde, se o paciente apresentava doenças respiratórias (asma, rinite, sinusite, bronquite), obstrução nasal, doenças congênitas (fissura labiopalatina, síndromes), dor na articulação temporomandibular, traumas na face e se foi submetido a alguma cirurgia.

Além disso, foi feito um exame clínico que consistiu de uma observação dos lábios, língua, bochechas e aplicação de testes fonoaudiológicos para fala, respiração, mastigação e deglutição.

Após toda a anamnese pronta, os pacientes foram submetidos a dois exames radiográficos em um mesmo dia: radiografia cefalométrica de perfil (Fig. 1A) e radiografia de cavum (Fig. 1B). Se alguma criança, porventura, apresentasse um resfriado no dia marcado para o exame radiográfico, o exame era adiado para quando ela melhorasse.


As tomadas radiográficas foram realizadas por um único operador com mais de 5 anos de experiência, técnico em radiologia odontológica. Para avaliar o erro do método intraoperador foi utilizado o índice Kappa, que demonstrou um nível de concordância excelente. As normas utilizadas para a tomada radiográfica foram as mesmas descritas por Broadbent4 em 1931.

As radiografias de cavum também foram realizadas por um único operador, técnico em radiologia médica. As normas utilizadas para a tomada radiográfica foram as descritas por Bontrager3 em 2003, e algumas foram ajustadas para esse estudo, como a respiração do paciente, área de incidência do feixe de raios-X e a distância focal do aparelho de raios-X.

Foram, então, selecionadas radiografias de 15 pacientes com idades mais próximas a 10 anos e com tamanhos de espaço aéreo nasofaringeano diferentes, classificados como pequeno, médio ou grande de acordo com a análise de Schulhof26 (Fig. 2), resultando num total de 30 radiografias. Essa seleção foi feita para diminuir o tempo gasto pelos otorrinolaringologistas participantes da pesquisa, buscando maior cooperação dos mesmos.


Essas radiografias foram incluídas em envelopes de papel-cartão preto onde foram cortadas áreas para que a única região visível da radiografia fosse o espaço aéreo nasofaríngeo e a adenoide. Dessa forma, os examinadores não sabiam qual era a radiografia de cavum e qual era a radiografia cefalométrica de perfil. Isso foi feito para que não houvesse nenhuma tendência do avaliador em escolher a imagem que estivesse mais habituado a utilizar. Elas foram denominadas radiografia A (cavum) e radiografia B (cefalométrica). Foi solicitado, então, a 12 otorrinolaringologistas residentes da cidade do Rio de Janeiro, com no mínimo dois anos de experiência clínica, que avaliassem as radiografias comparando-as e respondendo aos questionários.

O examinador recebia, então, as radiografias junto a uma carta de apresentação do projeto, um questionário único e um questionário elaborado para avaliação de cada par de radiografias. No questionário único havia perguntas sobre a familiaridade do otorrinolaringologista com a técnica da radiografia cefalométrica, sobre quais exames ele costuma solicitar para visualizar o espaço aéreo nasofaríngeo e as adenoides, e se utiliza algum método de medição do grau de obstrução. Esse questionário único tinha como objetivo avaliar a amostra. No questionário para avaliação das radiografias havia perguntas sobre qual das duas tem a melhor qualidade na visualização da adenoide e do espaço aéreo nasofaríngeo, e, ainda, solicitava para que classificasse, através de método visual, o tamanho da adenoide e do espaço aéreo nasofaríngeo em P (pequeno), M (médio) ou G (grande).

Para tratamento estatístico, foi utilizada uma distribuição binomial para calcular qual das radiografias era preferida pelos otorrinolaringologistas para visualização de adenoide e do espaço aéreo nasofaríngeo, com frequências absolutas e relativas das preferências dos profissionais em relação às duas técnicas radiográficas diferentes. Para avaliar a correlação entre os resultados do método visual com os resultados do método de medição de Schulhof, foram calculados valores de concordância percentual e Kappa entre os diferentes métodos para os dois desfechos radiográficos em 180 diagnósticos.

RESULTADOS

A primeira parte do questionário teve como objetivo caracterizar quais exames os otorrinolaringologistas da amostra costumam solicitar para visualizar o espaço aéreo nasofaríngeo e as adenoides, se esses usam ou não algum método de medição e se estão familiarizados com a técnica da radiografia cefalométrica.

Esse questionário mostrou que a radiografia de cavum é a mais solicitada (100%), seguida pela endoscopia (83%), e que a cefalométrica só era utilizada por um otorrinolaringologista da amostra. Apenas 1 dos 12 otorrinolaringologistas utiliza algum método de medição para avaliação do grau de obstrução do espaço nasofaríngeo, enquanto apenas 2 dos 12 estão familiarizados com a técnica de radiografia cefalométrica de perfil como método de diagnóstico dessa obstrução.

A preferência dos otorrinolaringologistas para visualização da adenoide e do espaço aéreo nasofaríngeo, quando comparadas as duas técnicas radiográficas, está descrita nas Tabelas 2 e 3, as quais apresentam as frequências absolutas e relativas das preferências dos profissionais em relação à radiografia de cavum e à radiografia cefalométrica. A Tabela 1 mostra a preferência na visualização da adenoide, sendo que 49,4% preferiram a técnica B (cefalométrica), 22,8% preferiram a A (cavum) e 27,8% não observaram diferenças entre ambas. Na avaliação da preferência para visualização do espaço aéreo nasofaríngeo, 48,9% preferiram a técnica B (cefalométrica), 23,9% preferiram a técnica A (cavum) e 27,2% não observaram diferença entre ambas (Tab. 2).

A análise da Tabela 3 mostra valores de concordância entre a análise visual feita pelos otorrinolaringologistas quando analisando as radiografias, além dos valores encontrados utilizando o método de medição de Schulhof na medição da adenoide e do espaço aéreo nasofaríngeo, demonstrando haver baixa correlação entre os métodos.

DISCUSSÃO

Considerando a grande controvérsia em se aceitar apenas os sinais clínicos como confirmatórios para o diagnóstico da respiração bucal, os profissionais das áreas médica e odontológica utilizam exames complementares como coadjuvantes nesse diagnóstico.

Apesar das suas limitações, os exames radiográficos são comumente os mais utilizados e os primeiros a serem solicitados no momento do diagnóstico. A partir do resultado dado pela radiografia é que o médico solicita ou não outros exames1,5,7,24,25.

A segurança dos métodos radiográficos para a avaliação do espaço aéreo nasofaringeano tem sido questionada devido à visualização bidimensional e estática apresentada pelas radiografias, para avaliação de uma estrutura tridimensional e dinâmica. Vários trabalhos demonstram uma correlação significativa entre os resultados obtidos na avaliação radiográfica e os obtidos na avaliação clínica14; nas observações diretas durante o ato cirúrgico, na rinoscopia posterior18,19 e na endoscopia nasal15,29. Holmberg e Linder-Aronson14 concluíram que a radiografia cefalométrica lateral proveria resultados satisfatórios sobre as dimensões da nasofaringe. Entretanto, Vig28 enviou uma carta aos autores questionando esse resultado e dizendo que a radiografia cefalométrica não era adequada para avaliar o espaço aéreo nasofaríngeo. Todavia, o trabalho desses autores contou com uma amostra de 162 crianças, o que é considerado uma amostra relativamente grande, onde encontraram nas radiografias cefalométricas valores para o tamanho das adenoides laterais bem próximos dos achados clínicos feitos numa rinoscopia posterior, o que é um resultado bastante interessante.

A avaliação radiográfica além de ser o meio de diagnóstico mais utilizado na literatura médica para avaliar a hipertrofia adenoideana, também é o método mais usado no planejamento do tratamento ortodôntico do paciente. Entretanto, o médico normalmente utiliza a radiografia de cavum e o ortodontista a cefalométrica lateral. Ambas são radiografias feitas em norma lateral, porém a cefalométrica é padronizada através do uso de um cefalostato, para estabilizar a cabeça do paciente. Na radiografia de cavum, a ausência do cefalostato durante a tomada radiográfica permite que o paciente altere a posição da cabeça, o que requer do técnico mais atenção durante sua realização. De acordo com Oliveira, Anselmo-Lima e Souza25; uma pequena alteração no posicionamento da cabeça do paciente no momento do exame radiológico poderá gerar importantes mudanças nas distâncias entre as estruturas envolvidas para análise do grau de obstrução do espaço aéreo nasofaringeano. Desta forma, tal falta de padronização impede o ortodontista de usar a radiografia de cavum, pois as análises de medição usadas nessa técnica não seriam fidedignas.

Contudo, o resultado do presente estudo mostra que os otorrinolaringologistas têm pouco conhecimento da técnica cefalométrica, já que apenas 2 dos 12 entrevistados conheciam esse método radiográfico. É importante frisar que, quando comparadas as duas técnicas, a maioria escolheu como melhor a visualização do espaço aéreo nasofaríngeo e da adenoide na radiografia cefalométrica (49,4% e 48,9%, respectivamente) e aproximadamente um quarto não viu diferença entre as duas técnicas (27,8% e 27,2%, respectivamente). Isso mostra que os otorrinolaringologistas poderiam utilizar a mesma radiografia utilizada pelos ortodontistas, sem precisar submeter os pacientes a uma segunda radiografia, já que a maior parte do tratamento de respiradores bucais é multidisciplinar e envolve o ortodontista e o otorrinolaringologista.

Araújo Neto et al.1 afirmam que, devido à variedade e à complexidade dos métodos de mensuração preconizados para o diagnóstico radiográfico da adenoide, muitos radiologistas preferem usar a análise subjetiva. Entretanto, esse trabalho mostrou que a análise subjetiva tem baixa correlação com a análise de medição feita, o que mostra que a avaliação subjetiva não é precisa. Foi encontrado que existe muita divergência entre os otorrinolaringologistas quando fazem a classificação do tamanho do espaço aéreo nasofaríngeo e adenoides pelo método visual, o que sugere que a mesma radiografia poderia ter diagnósticos diferentes dependendo de quem está fazendo a análise. O diagnóstico seria mais fidedigno se os profissionais se acostumassem a utilizar algum método de medição em sua rotina.

Nesse estudo a análise do espaço aéreo nasofaringeano foi baseada no trabalho de Schulhof26; pois esse método reúne quatro medidas de diferentes pesquisadores. Foi utilizado o laudo computadorizado da análise do espaço aéreo nasofaringeano, uma vez que esse não exclui os conhecimentos básicos dos métodos de anatomia, além de diminuir as possibilidades de erros, conforme observado por David e Castilho7. Para avaliar o erro do método intraoperador foi utilizado o índice Kappa, que demonstrou um nível de concordância excelente. Esse resultado era esperado devido ao fato de o profissional ser um especialista em radiologia odontológica com mais de 5 anos de experiência.

No que se refere aos dados obtidos através da avaliação do espaço aéreo nasofaringeano, as médias das variáveis estavam dentro dos padrões de respiradores nasais12,18,26. Porém, o objetivo principal do presente trabalho não foi verificar a presença ou não da hipertrofia adenoideana, sendo essas medidas feitas para averiguar se o método visual usado pelos otorrinolaringologistas era compatível com os resultados encontrados ao se medir essas estruturas.

Entretanto, existem diversos outros métodos de medição descritos na literatura que o profissional pode utilizar, de acordo com o que ele achar mais fácil e de melhor qualidade. Wormald e Prescott30 compararam os métodos mais utilizados quando usando a radiografia de cavum - que são os de Johanneson, Fujioka, Crepeau, e Cohen e Konak - e encontraram que o método radiográfico de Cohen e Konak teve o resultado mais significativo e a melhor eficiência, embora a padronização deficiente da radiografia de cavum possa comprometer as medições.

Já se a radiografia cefalométrica for utilizada, existem o método de McNamara22 e o de Schulhof26. Os trabalhos avaliando esses métodos são antagônicos, Kluemper, Vig e Vig17 concluíram que as duas análises são fracos indicadores de impedimento nasal quando comparadas aos resultados clínicos, porém não compararam esses métodos com a tomografia computadorizada, que seria o padrão-ouro ideal.

Seria interessante que os otorrinolaringologistas passassem a utilizar os métodos de medição já existentes e, a partir das falhas destes, começassem a desenvolver outros métodos melhor elaborados, mais fidedignos e fáceis de utilizar, que pudessem ser amplamente utilizados pelos profissionais e que padronizassem o diagnóstico do tamanho do espaço aéreo nasofaríngeo e das adenoides.

Levando-se em consideração que os otorrinolaringologistas preferiram a imagem da radiografia cefalométrica em vez da de cavum, eles deveriam considerar passar a utilizar essa técnica, visando padronizar os exames solicitados por eles e pelos ortodontistas e facilitar o diálogo entre os mesmos, diminuindo o custo e a radiação à qual o paciente seria submetido.

CONCLUSÕES

O presente estudo concluiu que, segundo a amostra utilizada, os otorrinolaringologistas não têm conhecimento da técnica da radiografia cefalométrica e têm como hábito fazer diagnóstico de obstrução do espaço aéreo nasofaríngeo através da radiografia de cavum, sem utilizar nenhum método de medição.

Quando avaliadas as duas técnicas sem especificar qual era a radiografia cefalométrica e qual era a de cavum, os otorrinolaringologistas escolheram, na maioria dos casos, a técnica cefalométrica lateral.

Quando comparada a avaliação visual com o método de medição de Schulhof, foi visto que havia baixa correlação entre os métodos.

Enviado em: julho de 2008

Revisado e aceito: setembro de 2008

[Material suplementar]

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  • Endereço para correspondência:
    Rhita Cristina Cunha Almeida
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      Fev 2011

    Histórico

    • Revisado
      Set 2008
    • Recebido
      Jul 2008
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