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Relação entre dentes mal posicionados e a condição dos tecidos periodontais

Resumos

OBJETIVO: avaliar pacientes encaminhados à Associação Brasileira de Odontologia, Seção Pernambuco, para tratamento periodontal, a fim de identificar as anomalias de posição dentária presentes na amostra, bem como verificar se há relação entre essas anomalias e a condição dos tecidos periodontais. MÉTODOS: a amostra foi constituída por 90 indivíduos, com idades de 15 a 69 anos. Inicialmente, cada participante foi submetido à identificação dos tipos de anomalias de posição dentária através de exame de inspeção visual e, posteriormente, à avaliação da condição periodontal, registrada pelos seguintes parâmetros clínicos: sangramento gengival na sondagem, perda de inserção periodontal e profundidade de sondagem. Na análise bivariada utilizou-se o teste Qui-quadrado para calcular o nível de significância das associações testadas. RESULTADOS: foram identificados vários tipos de alterações na posição dentária dos pacientes examinados, sendo os mais significativos: giroversão (86,7%), apinhamento (52,2%) e molar inclinado mesialmente (48,9%). Em todos os participantes foram registradas alterações periodontais relacionadas a essas anomalias: 100% apresentaram sangramento gengival; 67,8%, recessão gengival; 54,4%, hiperplasia gengival e 28,9%, periodontite crônica.Verificou-se associação significativa entre a recessão gengival e as variáveis dente vestibularizado e proclinação excessiva dos incisivos superiores; e entre a periodontite crônica e molar inclinado mesialmente, dentes apinhados, proclinação excessiva dos incisivos superiores e inferiores, e diastema (p<0,05). A necessidade de tratamento interdisciplinar foi evidente em todas as situações encontradas. CONCLUSÕES: os dentes mal posicionados contribuíram negativamente para a saúde dos tecidos periodontais, o que evidencia a importância de um tratamento multidisciplinar envolvendo, em especial, Periodontia e Ortodontia, levando à melhoria das condições de saúde bucal dos pacientes.

Dentes mal posicionados; Condição periodontal; Tratamento ortodôntico


OBJECTIVE: To identify malpositioned teeth in patients referred to periodontal treatment in the Brazilian Association of Dentistry, Pernambuco Division and evaluate the association of these irregularities with periodontal health. METHODS: The sample comprised 90 individuals aged 15 to 69 years. First, each participant was examined to identify the types of abnormal tooth positions by means of visual inspection. After that, their periodontal health was assessed according to the following clinical parameters: gingival bleeding on probing, periodontal attachment loss, and probing depth. In bivariate analysis, a chi-square test was used to calculate significance of the associations. RESULTS: Several types of changes in tooth position were detected in the participants, and the most significant were: rotated teeth (86.7%); crowding (52.2%); and mesially tipped molar (48.9%). All participants had periodontal changes associated with these abnormalities: 100% had gingival bleeding; 67.8%, gingival recession; 54.4%, gingival enlargement; and 28.9%, chronic periodontitis. There were significant associations between gingival recession and the variables buccally tipped tooth and excessive proclination of maxillary incisors, and also between chronic periodontitis and mesially tipped molar, crowding, excessive proclination of maxillary and mandibular incisors, and diastema (p<0.05). The need of multidisciplinary treatment was clear in all the cases. CONCLUSIONS: Malpositioned teeth negatively affected the health of periodontal tissues, which draws attention to the importance of a multidisciplinary approach that includes, primarily, periodontal and orthodontic care to improve the oral health of patients.

Malpositioned teeth; Periodontal health; Orthodontic treatment


ARTIGO INÉDITO

Relação entre dentes mal posicionados e a condição dos tecidos periodontais

Estela Santos GusmãoI; Roberlene Deschamps Coutinho de QueirozII; Renata de Souza CoelhoIII; Renata CimõesIV; Rosenês Lima dos SantosV

IProfessora Adjunta de Periodontia na Universidade de Pernambuco. Doutora em Periodontia pela USP-SP

IIEspecialista em Periodontia pela EAP-ABO/PE

IIIDoutoranda em Odontologia (Saúde Coletiva) na Universidade de Pernambuco

IVProfessora Adjunta da Clínica Integrada na Universidade Federal de Pernambuco. Doutora em Odontologia (Saúde Coletiva) pela FOP/UPE

VProfessora Adjunta de Dentística da Universidade Federal da Paraíba. Doutora em Dentística e Endodontia pela FOP/UPE

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Estela Santos Gusmão Rua Olavo Bilac, 50 , apt. 902 – Ed. Barão de Grajaú CEP: 51.021-480 – Recife/PE E-mail: esg@nlink.com.br

RESUMO

OBJETIVO: avaliar pacientes encaminhados à Associação Brasileira de Odontologia, Seção Pernambuco, para tratamento periodontal, a fim de identificar as anomalias de posição dentária presentes na amostra, bem como verificar se há relação entre essas anomalias e a condição dos tecidos periodontais.

MÉTODOS: a amostra foi constituída por 90 indivíduos, com idades de 15 a 69 anos. Inicialmente, cada participante foi submetido à identificação dos tipos de anomalias de posição dentária através de exame de inspeção visual e, posteriormente, à avaliação da condição periodontal, registrada pelos seguintes parâmetros clínicos: sangramento gengival na sondagem, perda de inserção periodontal e profundidade de sondagem. Na análise bivariada utilizou-se o teste Qui-quadrado para calcular o nível de significância das associações testadas.

RESULTADOS: foram identificados vários tipos de alterações na posição dentária dos pacientes examinados, sendo os mais significativos: giroversão (86,7%), apinhamento (52,2%) e molar inclinado mesialmente (48,9%). Em todos os participantes foram registradas alterações periodontais relacionadas a essas anomalias: 100% apresentaram sangramento gengival; 67,8%, recessão gengival; 54,4%, hiperplasia gengival e 28,9%, periodontite crônica.Verificou-se associação significativa entre a recessão gengival e as variáveis dente vestibularizado e proclinação excessiva dos incisivos superiores; e entre a periodontite crônica e molar inclinado mesialmente, dentes apinhados, proclinação excessiva dos incisivos superiores e inferiores, e diastema (p<0,05). A necessidade de tratamento interdisciplinar foi evidente em todas as situações encontradas.

CONCLUSÕES: os dentes mal posicionados contribuíram negativamente para a saúde dos tecidos periodontais, o que evidencia a importância de um tratamento multidisciplinar envolvendo, em especial, Periodontia e Ortodontia, levando à melhoria das condições de saúde bucal dos pacientes.

Palavras-chave: Dentes mal posicionados. Condição periodontal. Tratamento ortodôntico.

INTRODUÇÃO

A inter-relação diagnóstica entre Periodontia e Ortodontia deve ser conduta constante na clínica odontológica, principalmente para os especialistas.

O diagnóstico precoce de qualquer tipo de anomalia na posição dentária viabiliza o direcionamento terapêutico e, assim, impede que elas acometam os tecidos periodontais. A terapia ortodôntica como parte da reabilitação periodontal pode apresentar benefícios, como a melhoria no acesso à higiene dentária pelo indivíduo, restituição do equilíbrio da oclusão, ou, ainda, levar a um correto selamento labial. A Ortodontia, ao atuar no reposicionamento dentário, apresenta íntima relação com os tecidos periodontais, tanto pela forma de execução quanto pelos resultados alcançados, reduzindo a possibilidade de perda dos dentes e de infecções gengivais decorrentes de seu mau posicionamento.

Dentre as diversas patologias que acometem a cavidade bucal, a má oclusão constitui o terceiro maior problema encontrado na população mundial. As irregularidades na posição dentária iniciam-se na dentição decídua, daí a necessidade de os profissionais (odontopediatras e ortodontistas) atuarem de forma preventiva, para permitir o correto posicionamento dentário, evitando ou minimizando más oclusões que possam se perpetuar nas dentições mista e permanente3,5,6,12,13,18,25. Essa situação é bem ilustrada na Figura 1.


Reconhecidamente, a má oclusão, por si só, não leva à doença periodontal1,2. Pesquisas desenvolvidas em crianças, adolescentes e adultos jovens têm avaliado a repercussão, em relação aos tecidos periodontais clinicamente saudáveis, dos vários tipos de má oclusão, bem como de dentes isolados com mau posicionamento. Os resultados mostram que a maioria dos pacientes analisados apresenta deficiência na higiene bucal, com consequente acúmulo de placa bacteriana, podendo causar, em alguns indivíduos, inflamação gengival, sendo essa a mais comum das alterações, enquanto outros indivíduos podem não apresentar qualquer tipo de alteração periodontal (Fig. 2). Essas pesquisas revelam, ainda, a importância, como medidas preventivas, das orientações de higiene bucal e do encaminhamento para tratamento ortodôntico. É importante considerar que, nos casos em que o periodonto já se encontra comprometido, a resposta periodontal é diferente, pois, além da resposta fisiológica do paciente pelo acúmulo de placa bacteriana, considera-se que — em função da suscetibilidade genética de cada indivíduo — a probabilidade de um aumento na severidade da doença é sempre positiva1,2,7,9,14,21-24,26-29.


Dentre todos os tipos de má posição dentária (diastema, apinhamento, giroversão, proclinação dos incisivos, etc.), a inclinação dos molares inferiores, pela perda dentária precoce, leva à formação de bolsas periodontais na face mesial do dente comprometido, devido à tendência que a crista óssea apresenta de acompanhar a junção cemento-esmalte15. O alinhamento dentário deve ser realizado em qualquer uma dessas alterações, para redirecionar as forças oclusais, a fim de incidirem sobre o longo eixo dos dentes, distribuindo-as de forma mais harmoniosa e, assim, eliminando o trauma oclusal, fator modificador da condição periodontal15,20. De acordo com Freitas et al.10, a verticalização dos segundos molares inferiores leva à maior facilidade de higiene na região mesial do dente, eliminação do ambiente periodontal patológico, correção do defeito ósseo proximal, melhor relação coroa/raiz e prevenção do trauma oclusal. Considerando-se os dentes anteriores, a proclinação excessiva dos incisivos inferiores é causa constante de recessão gengival29.

Com os avanços científicos e tecnológicos da Ortodontia, utilizando aparelhos mais precisos no controle da força, e com a melhoria da capacitação do profissional em relação às correções das anomalias de posicionamento dentário, o tratamento ortodôntico deixou de ser aplicado exclusivamente em crianças e adolescentes. Pesquisas demonstram que o paciente adulto tem se submetido à terapia ortodôntica, em especial por razões estéticas, embora sejam informados pelo profissional sobre sua funcionalidade4,9. Observa-se, ainda, a intervenção ortodôntica em pacientes portadores das sequelas produzidas pela doença periodontal e/ou pelo seu tratamento. Os autores ainda ressaltam a importância de uma abordagem terapêutica multidisciplinar (Ortodontia, Periodontia, Dentística Restauradora, Prótese Dentária e Implantodontia) com o objetivo de atender a todas as necessidades existentes4,8,9,11,17,19.

A presente pesquisa teve como objetivo identificar em pacientes ambulatoriais, encaminhados para tratamento periodontal pelo serviço público, os tipos de anomalias de posicionamento dentário presentes e verificar a existência ou não de associação patológica com os tecidos periodontais.

METODOLOGIA

Participaram da seleção da amostra 150 indivíduos adultos, de ambos os sexos, encaminhados para tratamento ao ambulatório do Curso de Especialização em Periodontia da Associação Brasileira de Odontologia/Seção Pernambuco, pelo serviço público do município de Recife. Todos os pacientes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e, após orientação oral e escrita, foi obtido o consentimento dos participantes através de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, elaborado de acordo com a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco, conforme parecer nº 043/05, Sisnep: 065782. Através do exame de inspeção visual, foram excluídos os indivíduos que não apresentavam dentes mal posicionados; utilizavam aparelho ortodôntico; apresentavam doença sistêmica; que faziam uso de algum tipo de substância medicamentosa; e, ainda, indivíduos fumantes, ex-fumantes e respiradores bucais. Após a verificação desses critérios, foi obtida uma amostra de conveniência de 90 pacientes, com idades entre 15 e 69 anos. Em uma ficha clínica foram registrados, para cada paciente, os tipos de mau posicionamento dentário. Em seguida, para fins de diagnóstico periodontal, aplicou-se o índice de sangramento gengival à sondagem (marginal), a profundidade de sondagem e, através da inspeção visual, a presença ou ausência da perda de inserção clínica visível (recessão gengival), tendo como parâmetro a exposição da junção cemento-esmalte. Todos os participantes foram examinados por um único pesquisador devidamente treinado e calibrado.

A análise dos dados foi obtida através de distribuições absolutas e percentuais uni e bivariadas das variáveis na escala nominal das medidas estatísticas descritivas: valor mínimo e máximo, média, desvio-padrão e coeficiente de variação, e os testes estatísticos Qui-quadrado e Exato de Fischer, esse último quando as condições para utilização do primeiro teste não foram verificadas. O nível de significância utilizado nas decisões dos testes foi de 5,0%.

RESULTADOS

A idade dos 90 pacientes variou entre 15 e 69 anos, com média de 28,18 anos. Em relação ao sexo, 60,0% eram do feminino e 40,0% do masculino.

Na Tabela 1 apresentam-se os resultados dos tipos de anomalias na posição dentária registrados na amostra examinada. Nessa tabela, considerando que um mesmo paciente apresentou um ou mais dentes com anomalia na posição, destaca-se que as maiores prevalências foram de pacientes com giroversão (86,7%), dente apinhado (52,0%) e molar inclinado mesialmente (48,9%).

A distribuição das alterações periodontais encontradas pode ser verificada na Tabela 2, considerando-se, também, que um mesmo paciente apresentou um ou mais tipos de alteração periodontal. Constatou-se que 100% dos examinados apresentaram gengivite marginal crônica, caracterizada pela presença de sangramento gengival à sondagem (Fig. 3A, B); e 28,9%, periodontite crônica, nos mais variados graus de severidade; 67,8% dos examinados apresentaram dentes com recessão gengival; e 54,4%, regiões com hiperplasia gengival.


Na Tabela 3 são descritos os resultados da análise dos pacientes com mau posicionamento dentário e sua associação com os dentes que apresentavam ou não recessão gengival. Verificou-se que, de todos os tipos de irregularidades encontradas na amostra analisada (Tab. 1), somente os pacientes com dentes vestibularizados isoladamente e com proclinação excessiva dos incisivos superiores apresentaram associação significativa com a presença de recessão gengival (p<0,05). Essa situação pode ser observada clinicamente na Figura 4.


A relação entre a presença de periodontite crônica e as anomalias de posição dentária é mostrada na Tabela 4. Observa-se que as maiores diferenças percentuais de pacientes com periodontite crônica ocorreram entre aqueles que apresentavam molar inclinado mesialmente, proclinação excessiva dos incisivos superiores, proclinação excessiva dos incisivos inferiores, dentes apinhados, espaçamento generalizado entre os dentes e diastemas. Isso comprovou que, ao nível de 5,0% (p<0,05), houve associação significativa entre essas variáveis e a periodontite crônica (Fig. 5).


Ao analisar a necessidade de tratamento periodontal na amostra, constatou-se que 100,0% dos pacientes apresentavam necessidade de se submeter à terapia básica periodontal (instrução de higiene bucal e raspagem/alisamento coronorradicular), enquanto 44,4% apresentavam indicação cirúrgica após esses procedimentos. Em relação à necessidade de tratamento ortodôntico, 66,7% dos pacientes precisavam de pequenos movimentos ortodônticos nos dentes mal posicionados, e em 33,3% de toda a amostra estava indicada movimentação ortodôntica.

DISCUSSÃO

Considerando-se os resultados obtidos nessa pesquisa, reafirma-se que a inter-relação diagnóstica e terapêutica entre a Ortodontia e a Periodontia é consensual na literatura7,8,10,13. Salienta-se, ainda, a necessidade de haver saúde clínica periodontal para que qualquer tipo de movimentação ortodôntica possa ser realizado, assim como é imprescindível que, durante a correção ortodôntica, essa não cause danos aos tecidos periodontais. Por essa razão, todas as ações devem ser combinadas entre os profissionais e acompanhadas de acordo com o protocolo predeterminado para cada paciente.

Verifica-se, ainda, na literatura uma escassez de pesquisas que investiguem a inter-relação da presença de irregularidades no posicionamento dentário, e/ou má oclusão, com as condições periodontais de pacientes adultos. A maioria dos estudos é direcionada para crianças e adolescentes. Sendo assim, essa pesquisa buscou examinar, em pacientes encaminhados para tratamento periodontal, a presença do mau posicionamento dentário e suas possíveis consequências nos tecidos periodontais. Os dados obtidos mostraram a existência de alterações patológicas periodontais associadas a essas anomalias, corroborando as pesquisas referenciadas1,2,7,8,14.

Embora a doença periodontal apresente como principal fator etiológico a placa bacteriana, normalmente outros fatores também se encontram relacionados, podendo levar a uma modificação da resposta do hospedeiro. Dentre esses fatores, os dentes mal posicionados são considerados predisponentes, uma vez que dificultam a higiene bucal do indivíduo, retendo e acumulando placa bacteriana, que, por sua vez, se prolifera e causa manifestações patológicas nos tecidos periodontais. Os resultados obtidos nessa pesquisa colaboram com a literatura, já que todos os pacientes que apresentavam anomalias na posição dentária mostravam algum tipo de doença periodontal, como gengivite marginal crônica, gengivite hiperplásica, recessão gengival e periodontite crônica em vários graus de severidade. No entanto, vale ressaltar que essa predisposição não leva obrigatoriamente o indivíduo a desenvolver a doença periodontal, principalmente se houver um constante acompanhamento do profissional, instruindo-o em relação a uma correta higiene bucal, com a condição anatômica presente1,2,7,14,21-24,26.

As más oclusões — etiologicamente associadas a vários fatores, como o mau posicionamento dentário — são detectadas com certa frequência em crianças e adolescentes, como sinal de alerta para sua correção precoce1,7,22. A sua prevalência é considerável na população mundial, independentemente do desenvolvimento socioeconômico dos países, como, por exemplo, no Brasil, sendo considerada um problema de saúde pública3. Contudo, verifica-se no dia a dia clínico que, na fase de detecção precoce do problema, na maioria das vezes esse mau posicionamento não é considerado, levando os dentes a permanecerem com a condição preexistente até a fase adulta. Dados obtidos nas pesquisas que abordam esse tema são concordantes com os resultados encontrados no presente estudo, pois, segundo relatos dos pacientes, as irregularidades encontradas na posição dentária nunca receberam atenção por parte dos profissionais especializados. Faz-se necessária, portanto, uma maior atuação profissional já na primeira visita com a criança e/ou adolescente, para a tomada de decisão terapêutica5,6,12,13,18,25,27.

O trauma de oclusão como resultado da má posição dentária — por exemplo, nos casos da proclinação excessiva dos incisivos inferiores — é um fator destrutivo para os tecidos de suporte do periodonto.

Destaca-se, aqui, a sua relação significativa com a recessão gengival, patologia com alto percentual na amosta analisada na presente pesquisa, e como fator codestrutivo quando associado à doença periodontal preexistente, proporcionando maior mobilidade dos dentes comprometidos, dado comprovado nos pacientes que apresentaram periodontite crônica, sendo concordante com os achados descritos por Gutiérrez Izquierdo, Martínez Pérez14 e Vanzin et al.29

Nesta pesquisa, a necessidade de tratamento periodontal básico e/ou cirúrgico ficou explícita na totalidade da amostra investigada e demonstrou o quanto um dente fora do seu alinhamento na arcada dentária é capaz de produzir uma doença e/ou modificar a intensidade de uma doença prévia. Provavelmente esse fato ocorra em função da ausência de cuidados odontológicos específicos e falta de orientação quanto à higiene bucal controlada. A necessidade de correção ortodôntica é outro dado marcante em todos os pacientes, seja por pequenos movimentos ortodônticos ou pela movimentação ortodôntica completa. Constatou-se, ainda, que em muitos pacientes outros tipos de procedimentos odontológicos estavam indicados, enfatizando, desse modo, a necessidade de uma terapia multidisciplinar e corroborando as pesquisas que enfatizam essa relação terapêutica, bem como mostrando que o tratamento ortodôntico pode ser realizado em pacientes que apresentam redução de inserção pela severidade da doença e pelo tratamento periodontal4,8,9,11,17,19.

CONCLUSÕES

Através da observação dos resultados obtidos, é lícíto constatar a presença de vários tipos de anomalias de posição dentária na amostra investigada e sua associação significativa com alterações periodontais como gengivite marginal crônica, gengivite hiperplásica, recessão gengival e periodontite crônica, assim como a necessidade de tratamento periodontal básico e cirúrgico e da correção ortodôntica. Evidencia-se, portanto, o papel fundamental da Ortodontia/Periodontia na correção do posicionamento dentário, levando à melhoria das condições de saúde bucal dos indivíduos.

Enviado em: 23/10/2007

Revisado e aceito: 13/03/2009

Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

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  • Endereço para correspondência:

    Estela Santos Gusmão
    Rua Olavo Bilac, 50 , apt. 902 – Ed. Barão de Grajaú
    CEP: 51.021-480 – Recife/PE
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Nov 2011
    • Data do Fascículo
      Ago 2011

    Histórico

    • Aceito
      13 Mar 2009
    • Recebido
      23 Out 2007
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