Acessibilidade / Reportar erro

Editorial

Editorial

O presente fascículo do JSBFa apresenta 12 artigos originais, dois estudos de caso, um artigo sobre Fonoaudiologia baseada em evidência e uma comunicação breve. O fio condutor é destacar diversos aspectos da normalidade na área de distúrbios da comunicação humana, audição, equilíbrio e deglutição.

A área de motricidade oral contribuiu com quatro artigos originais, sendo um relacionado a aspectos da deglutição, além de uma revisão crítica da literatura sobre a fisiologia do exercício publicada na sessão Fonoaudiologia Baseada em Evidência. A área de linguagem contribuiu com seis artigos originais, incluindo dois sobre aspectos da escrita, um sobre a relação de processamento auditivo e consciência fonológica e um sobre teste para avaliação de afasia, além de um estudo de caso sobre os aspectos funcionais da comunicação em crianças pequenas. A área de voz contribuiu com um artigo original sobre atores de teatro e uma comunicação breve sobre duas modalidades de resposta de um protocolo de autoavaliação do impacto da disfonia. A área de equilíbrio contribuiu com um artigo original que analisou a postura a partir de estímulos de realidade virtual.

O primeiro artigo de motricidade oral, de Ramires, Ferreira, Marchesan, Cattoni & Andrada e Silva, apresenta uma proposta de determinação do tipo facial a partir da antropometria, analisando 105 indivíduos adultos e concluindo que alguns índices e proporções variam de acordo com os tipos faciais e gênero, embora as variáveis antropométricas tenham pouca habilidade preditiva.

O artigo de Motta, César, Bommarito & Chiari, analisou a força axial de língua em 92 indivíduos, de diferentes faixas etárias e verificou que o tempo médio gasto para se alcançar a força máxima da língua é menor nos indivíduos adultos, embora a força máxima e a energia cumulada pela língua não tenham sofrido influência da faixa etária.

O artigo de Silva-Munhoz & Bühler descreve os achados fluoroscópicos da deglutição de 20 recém-nascidos pré-termo, comparando com 17 recém-nascidos de termo e concluiu que os bebês pré-termo de 0 a 6 meses de idade apresentam refluxo para a nasofaringe e refluxo gastroesofágico, além de maior dessaturação de oxigênio, levantando a hipótese de que as alterações da deglutição são devidas à imaturidade nesta função.

O artigo de Pernambuco, Silva, Lima, Cunha, Santos, Cunha & Leão caracterizou a atividade elétrica do músculo masseter durante a deglutição de líquido em 14 adultos jovens saudáveis e concluiu que há atividade elétrica muscular durante essa tarefa, com respostas bilaterais diferentes, influenciada pelo volume deglutido.

Passando para os artigos da área de linguagem, a primeira contribuição de Ortiz & Costa, avaliou a aplicação do teste M1-Alpha em 30 sujeitos normais com baixa escolaridade, de ambos os gêneros, para obter dados de referência e concluiu que há influência da escolaridade nas tarefas de escrita copiada, ditado, leitura em voz alta e compreensão gráfica.

O estudo de Capellini, Amaral, Oliveira, Sampaio Fusco, Cervera-Mérida & Ygual-Fernández caracterizou o desempenho ortográfico de 120 escolares do 2º ao 5º ano do ensino público segundo a semiologia dos erros e concluiu que o perfil de aquisição da ortografia do sistema de escrita do Português é indicativo do funcionamento normal de desenvolvimento da escrita infantil, mostrando evolução ao longo das séries analisadas.

O estudo de Bigarelli & Ávila também analisou habilidades ortográficas de narrativa na escrita em ensino fundamental, identificando características e correlações em 160 crianças maiores, entre 8 e 12 anos de idade, e concluindo que os escolares da rede particular apresentam melhor desempenho ortográfico e narrativo que os da rede pública, com influência da progressão da escolaridade no desempenho nas tarefas de escrita.

O estudo de Grivol & Hage analisou a memória de trabalho fonológica de 90 sujeitos normais, sendo 30 crianças, 30 adultos e 30 idosos e concluiu que os últimos apresentam pior desempenho em provas de memória de trabalho fonológica e que os adultos apresentam melhor capacidade de armazenagem de material verbal, sugerindo que esta habilidade sofre declínio com o envelhecimento.

O artigo de Vidor-Souza, Mota & Santos analisou o desenvolvimento da consciência fonoarticulatória de 90 crianças da educação infantil e primeira série do ensino fundamental e verificou que há um aprimoramento desta de acordo com a idade e escolaridade, com maior desempenho nas meninas em todas as faixas etárias, e havendo boa relação entre o desempenho nas tarefas de percepção e nas tarefas de produção da consciência fonoarticulatória.

O estudo de Escalda, Lemos & França avaliou as habilidades de processamento auditivo e consciência fonológica em 56 crianças de 5 anos e concluiu que a presença de experiência musical promove o aprimoramento das habilidades auditivas e metalinguísticas, principalmente por diferenças nos testes de memória sequencial verbal e não-verbal, identificação de rimas, síntese e exclusão fonêmica.

O artigo original da área de voz de Goulart & Vilanova, verificou a ocorrência de queixas e sintomas vocais em 48 atores profissionais de teatro e concluiu que estes profissionais da voz, apesar de terem histórico de treinamento e orientação para a utilização da voz profissional, 25% ainda percebem dificuldades.

O primeiro estudo de caso, de Amato & Fernandes, oferece uma análise longitudinal de aspectos pragmáticos da comunicação de seis sujeitos entre o 1º e o 36º mês de vida, mostrando que os bebês buscam interação desde o nascimento e que, com o avanço da idade, ampliam suas habilidades comunicativas em qualidade e quantidade.

O segundo estudo de caso de Mendes, Molini-Avejonas, Ribeiro & Souza apresenta uma interessante análise descritivo-exploratória sobre o relato da construção do "Guia do Cuidador" de pacientes acamados e/ou com restrição ao lar, elaborado a partir de uma parceria entre as Equipes de Saúde da Família (EqSF), fonoaudiólogos, e os cuidadores de pacientes usuários de uma UBS.

A área do equilíbrio foi representada pelo estudo de Ghiringhelli & Ganança, sobre posturografia com estímulos de realidade virtual, em 50 adultos jovens de ambos os gêneros sem alterações do equilíbrio corporal. Determinou-se a área do limite de estabilidade e outros parâmetros de normalidade, destacando que há diferença entre os gêneros quanto ao centro de pressão, limite de estabilidade e velocidade da oscilação.

A contribuição de Ferreira, Mangilli, Sassi, Fortunato-Tavares, Limongi & Andrade faz parte dos esforços dos pesquisadores em identificar evidências fonoaudiológicas. As autoras analisaram 38 artigos sobre a fisiologia dos exercícios fonoaudiológicos utilizados nos tratamentos de alterações da motricidade orofacial e concluíram que o conhecimento sobre os efeitos musculares dos exercícios é pouco aprofundado, não havendo evidência cientifica suficiente para determinar a frequência de sua realização.

Finalmente, a comunicação breve de Pires, Oliveira & Behlau teve como objetivo comparar duas modalidades de marcação de respostas do Protocolo de Participação e Atividades Vocais – PPAV e concluiu que os escores obtidos são semelhantes, e como a escala numérica é mais rápida e preferida pelos pacientes, pode-se optar por sua utilização na prática clínica.

O editorial de Fernanda Dreux Miranda Fernandes destaca aspectos importantes e preocupantes sobre a publicação científica no Brasil e os esforços que a Fonoaudiologia tem feito para melhorar sua representatividade no cenário nacional e internacional. Analisando a evolução dos artigos publicados tanto na Revista da SBFa, como no JSBFa (antiga Revista Pro-Fono de Atualização Científica), percebe-se o esforço dos pesquisadores e também dos pareceristas para produzir um texto mais adequado, de fácil leitura e que destaca o impacto da investigação desenvolvida para a Fonoaudiologia.

O Brasil tem hoje quase 100 programas de graduação, dos quais 24 concentrados no estado de São Paulo; 13 programas de pós-graduação, sendo nove mestrados: seis no estado de São Paulo, um mestrado profissionalizante no Rio de Janeiro, um no Paraná e outro no Rio Grande do Sul, e somente quatro doutorados, todos no estado de São Paulo. A SBFa reconhece os esforços de todos os pesquisadores, principalmente dos de outros estados, superando as limitações de suas instituições de ensino e pesquisa. Somos 35 mil fonoaudiólogos e apenas 510 doutores. Embora a maioria dos estudos seja capitaneada por pesquisadores paulistas, muitos dos primeiros autores são jovens pesquisadores em formação, que levarão seu conhecimento e sua experiência para as regiões de origem. A SBFa aposta nisso e contribui para a democratização da ciência com uma persistente e cuidadosa revisão.

Mara Behlau

Editora científica do JSBFa

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Out 2011
  • Data do Fascículo
    Set 2011
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia Alameda Jaú, 684, 7ºandar, 01420-001 São Paulo/SP Brasil, Tel/Fax: (55 11) 3873-4211 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: jornal@sbfa.org.br