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Editorial

Editorial

A solução de questões básicas e a maior participação no cenário científico têm trazido o tema da produtividade para debate na Fonoaudiologia. Nesse sentido, pode ser conveniente comentar algumas publicações recentes a esse respeito.

Em artigo recente na revista Carta Capital, um professor de filosofia questiona se os modelos de avaliação não são, na verdade, uma forma de impor um determinado modelo de funcionamento(1). Segundo o autor, métodos gerais de avaliação tendem a privilegiar certos tipos de pesquisa em detrimento de outros, definindo critérios de relevância e projetos de crescimento. O uso desse tipo de critério tem gerado resultados dispersos em que uma mesma instituição pode estar entre os "Top 20" em uma avaliação e depois do 100º em outra. Muitos desses rankings foram sistematizados por áreas específicas de pesquisa, de países com uma determinada tradição, e a tentativa de impor esses modelos gerou distorções nítidas. As ciências humanas sofrem as consequências desses modelos, não porque sejam menos científicas, mas porque têm dinâmica e impacto que merecem ser compreendidos em sua especificidade. As avaliações baseadas no número de artigos publicados ou no número de citações que um determinado artigo recebe, por exemplo, podem estar baseados em pressupostos falsos. O maior número de citações de um artigo não indica seu índice de qualidade, mas apenas que ele foi lido por um número maior de pessoas. Esse número é diretamente influenciado pelo número de pesquisadores de uma determinada área ou pela especificidade de um determinado tema. Em nossa realidade fica claro, por exemplo, que aspectos específicos da aquisição do Português – que são fundamentais para o fonoaudiólogo que trabalha com falantes dessa língua – interessarão a muito poucos pesquisadores norte-americanos, europeus ou australianos. O impacto do financiamento comercial nas pesquisas também não pode ser desconsiderado e, nesse sentido, áreas menos vinculadas a essa alternativa têm menor tendência à visibilidade. Um aspecto importante a ser considerado são as restrições éticas para a pesquisa nos países "desenvolvidos", o que coloca países com grande população e barreiras menores, na situação de receber um grande volume de estudos financiados pela iniciativa privada. Nada contra esse financiamento, mas esses fatores devem ser levados em consideração quando se propõe a avaliação da produção científica de uma determinada área, instituição e/ou pesquisador.

O setor privado já é um grande financiador de pesquisa no Brasil, respondendo por 53% desse financiamento no Estado de São Paulo em 2008, segundo matéria publicada na revista Pesquisa Fapesp(2). Segundo essa publicação, em média, 71% dos egressos do ensino médio continuam no ensino superior. A produção de artigos indexados cresceu 43,5% entre 2002 e 2006, enquanto o crescimento mundial foi de 22,7%. Por um lado, é inegável o entusiasmo proporcionado pela participação nessa atividade; por outro, como o filósofo comenta(1), a produção em ciências humanas é praticamente ignorada nessas estatísticas e isso exige a reflexão a respeito de quanto conhecimento importante está sendo produzido e não é divulgado de forma a ser incorporado pela sociedade.

Independentemente dessas reflexões, continuamos a ser avaliados segundo nossa "produtividade" e uma parte importante dela está relacionada à autoria de estudos científicos publicados em periódicos indexados. Outro artigo recente publicado na revista Pesquisa Fapesp(3) diz respeito à hierarquia das assinaturas dos diversos autores de um artigo científico. Trata-se de interessante material de leitura, que aborda de forma direta e aprofundada os resultados das escolhas que se faz no momento de encaminhar um artigo para publicação.

O amadurecimento da ciência Fonoaudiologia exige considerações e posicionamentos a respeito de temas que dizem respeito às relações entre Ciência e Sociedade. Nesse contexto, todos os envolvidos na publicação dos periódicos da SBFa contribuem das mais diversas formas para esse debate.

Fernanda Dreux

Editora executiva do JSBFa

  • 1. Safatle V. Avalliar para moldar. Carta Capital. 2011;(Julho):68-71.
  • 2. Marques F. Avanços e desafios. Rev Pesq Fapesp Online. 2011;(Julho). [citado 2011 Jul 29]. Disponível em: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=4477&bd=1&pg=1&lg=
  • 3. Marques F. Hierarquia complexa. Rev Pesq Fapesp Online. 2011;(Julho). [citado 2011 Jul 29]. Disponível em: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=4438&bd=1&pg=1&lg=

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Out 2011
  • Data do Fascículo
    Set 2011
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