Acessibilidade / Reportar erro

VARIAÇÃO SAZONAL DE Selenaspidus articulatus (MORGAN, 1889) (HOMOPTERA, DIASPIDIDAE) EM Citrus reticulata BLANCO, NO CAMPUS DA UFRRJ

SAZONAL VARIATION OF Selenaspidus articulatus (MORGAN, 1889) (HOMOPTERA, DIASPIDIDAE) IN Citrus reticulata BLANCO, AT THE UFRRJ CAMPUS

RESUMO

Estudou-se a flutuação populacional de Selenaspidus articulatus (Morgan, 1889) em agroecossistema da UFRRJ, Seropédica - RJ, tendo como base a cultura da tangerina Citrus reticulata Blanco. Foram realizados monitoramentos semanais no período de janeiro de 1995 a dezembro de 1996, visando estabelecer o grau de infestação de S. articulatus, bem como a freqüência de seus inimigos naturais (predadores). Os baixos índices de precipitação pluviométrica e amplitude térmica influenciaram o crescimento da população de S. articulatus. Os inimigos naturais encontrados com maior freqüência foram: Pentilia egena e Chrysoperla sp..

Palavras-chaves:
Inseto; pardinha; citrus.

ABSTRACT

The populatíonal fluctuation of Selenaspidus articulatus (Morgan 1988) have been studied in a agroecosystem (UFRRJ- Seropédica-RJ) with the culture of tangerine Citrus reticulata Blanco. The data were collected every week from January 1995 to December 1996, trying to establish the degree of infestation of Selenaspidus articulatus, as the frequency of its natural enemies (predators). Few indices of precipitation and high thermal amplitude have influenced on the population of S. articulatus. The natural enemies found with high frequency were: Pentilia egena e Chrysoperla sp.

Key words:
Insect; ruffous scale; citrus.

INTRODUÇÃO

Selenaspidus articulatus (MORGAN, 1889) é um diaspidídeo que adaptou-se bem às condições brasileiras. Seu primeiro registro foi feito no Pará, por SILVA et al. (1968)SILVA, A. G.; GONÇALVES, C. R.; GALVÃO, D. M.; GONÇALVES, A. J. L.; GOMES, J.; SILVA, M. N. & SIMONI, L. 1968. Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil. Seus parásitos e predadores. D.D.I. Agropecuária. S.D.S.V., IAB. Central de Patologia Veg. Min. Agric. Rio de Janeiro, Part. II Tomo 1: 622 p.. De acordo com GALLO et al. (1988)GALLO, D.; NAKANO, O; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BATISTA, G. C.; BERTI FILHO, E; PARRA, J.P.R; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B. & VEDRAMIN, J.D. 1988. Manual de Entomologia Agrícola. 2ª ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 649p. a cochonilha tem grande potencial de dano para a citricultura. BUSOLI et al. (1991)BUSOLI, A. C.; DONADIO, L. C & VAZ FILHO, D. 1991. Daños de Selenaspidus articulatus (Morgan) (Homoptera, Diapididae) em citros e controle através de novas formulações de óleos minerais. In: Resumos XIII Congresso Brasileiro de Entomologia, Recife, p. 316. constataram redução de 40% na produtividade, e segundo WATANABE & YOSHII (1991)WATANABE, M. A. & YOSHII, C. 1991. Parasitismo em cochonilha Selenaspidus sp. (Homoptera, Diaspididae) por Aphytis sp. (Hymenoptera, Aphelinidae). In: Resumos XIII Congresso Brasileiro de Entomologia, Recife, p. 283., o uso indiscriminado de defensivos contribui para a destruição dos inimigos naturais e conseqüente proliferação de S. articulatus.

O conhecimento da flutuação populacional dos insetos-pragas, suas interações com os inimigos naturais e plantas hospedeiras além da influência dos fatores meteorológicos e épocas de ocorrência, são fundamentais para efeito de manejo integrado de pragas. O objetivo deste estudo foi avaliar a população de S. articulatus, correlacionando fatores bióticos e abióticos em agroecossisterna com citrus.

MATERIAL E MÉTODOS

Realizou-se o monitoramento, visando a obtenção da flutuação populacional de S. articulatus, no pomar de Citrus reticulata pertencente ao Campo Experimental de Produção da UFRRJ. O pomar apresenta 210 plantas de cultivar Poncã, com 4 anos de idade, no espaçamento de 4 x 3 m, sem tratamento fitossanitário. Os levantamentos iniciaram-se em janeiro de 1995 e estenderam-se até dezembro de 1996.

A metodologia utilizada foi adaptada a partir do trabalho de CASSINO et al. (1983)CASSINO, P. C. R.; GUAJARÁ, M. da S. & ALVES, R. C. P. 1983. Monitoramento, estratégia básica utilizada no Manejo Integrado de Fitoparasitos de Citrus spp. In: Resumos da 35a Reunião Anual da SBPC, Belém, p.7., que propõe o método de monitoramento baseado na amostragem “presença-ausência” (binomial). O tamanho da amostra foi determinado de acordo com a fórmula: n= (x/2)1/2; onde n é o número de plantas a serem monitoradas e x é o número total de plantas do talhão. Portanto, de acordo com o tamanho do pomar deste estudo (210 plantas), monitorou-se 7 plantas cítricas em cada data de levantamento. A escolha das plantas a serem examinadas em cada data, obedeceu a uma pré-casualização (caminhamento), baseada no intervalo de amostragem: i = x/n; onde i é o intervalo de amostragem. No caso do pomar em questão o valor de i foi igual a 30 plantas. Isto significa que, após a análise da primeira plantado pomar (arbitrada), intercalouse 30 plantas para monitorar a próxima, e assim por diante até o término do levantamento, analisando-se 7 plantas cítricas (n). Na semana seguinte (amostragem semanal) realizava-se novamente o monitoramento, porém iniciava-se pela segunda planta do pomar, evitando-se analisar as mesmas plantas já observadas anteriormente. A cada novo levantamento, portanto, sempre se começava pela planta seguinte àquela onde se iniciou a amostragem anterior.

A avaliação de cada planta consistiu da observação de quatro ramos opostos na copa, alternando-se um externo com um interno. Estes ramos estavam entre 1,30 m e 1,70 m de altura do solo. Foram observadas 10 folhas em cada ramo, do ápice para a base, totalizando 40 folhas/planta e, portanto, 280 folhas no pomar considerado. Na planilha de campo anotou-se o número de folhas com a presença de S. articulatus, não levando-se em conta a densidade populacional, sendo o grau de infestação expresso pela porcentagem de folhas infestadas.

Os predadores foram examinados nas mesmas plantas escolhidas através de pré-casualização, utilizando-se a seguinte adaptação metodológica: avaliou-se a sua ocorrência, dividindo-se a copa da cada plantaalvo em 4 quadrantes e anotando-se em planilha de campo a presença dos predadores, após a observação de cada quadrante por um minuto. Portanto em cada data de levantamento, obteve-se um índice de ocorrência dos predadores expresso em porcentagem de quadrantes.

Tabela 1
Grau de infestação (%) de Selenaspidus articulatus e freqüência de seus inimigos naturais em pomar de Citrus reticulata var. Poncã.

Figura 1
Flutuação populacional de Selenaspidus articulatus em função da precipitação volumétrica em pomar de Citrus reticulata no campus da UFRRJ nos anos de 1995 e 1996.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados referentes ao grau de infestação mensal de S. articulatus, assim como a freqüência dos inimigos naturais, no período de janeiro de 1995 a dezembro de 1996, encontram-se na Tabela 1.

Analisando a figura 1 nota-se que em 1995 o período que favoreceu o desenvolvimento populacional de S. articulatus foi de julho a dezembro. Observa-se que à medida que crescem os índices de precipitação pluviométrica, principalmente a partir do mês de agosto, ocorre urna queda sensível no crescimento populacional de S. articulatus. O período de janeiro a junho mostrou-se mais desfavorável para o diaspidídeo. Os resultados confirmam resultados anteriores obtidos por FERROSO (1994) que afirma que a precipitação pluviométrica excessiva causa redução populacional de S. articulatus e que o período mais favorável para esta cochonilha val de agosto a dezembro.

Em 1996, os índices de infestação foram baixos nos meses de janeiro e fevereiro, provavelmente por influência das altas intensidades de precipitação pluviométrica. A infestação de S. articulatus nos meses subsequentes possivelmente foi influenciada por esse fator meteorológico, principalmente no período de março a julho, onde foram registrados graus de infestação mais baixos do que em 1995. BARTRA (1974)BARTRA, C. E. P. 1974. Biologia de Selenaspidus articulatus Morgan y sus principales controladores biológicos. Rev. Per. Entomol. 17: 60-68. observou que o excesso de precipitação pluviométrica pode acarretar grande morte de migrantes por arrastamento. A partir de julho de 1996 o inseto tenta uma recuperação devido ao baixo índice de precipitação mas logo em seguida inicia novo período chuvoso, o que mantém a população do diaspidídeo em níveis baixos, como se observa no período de agosto a dezembro de 1996. Outro fator importante que provavelmente influenciou a população de S. articulatus, juntamente com a precipitação, foi a amplitude térmica (Figura 2). Nota-se que no período de agosto a dezembro de 1996 os índices dc amplitude térmica foram maiores com relação ao mesmo período do ano de 1995. Observou-se um crescimento da amplitude térmica a partir de maio de 1996, atingindo em dezembro, aproximadamente 12ºC, não havendo crescimento da população de S. articulatus.

Figura 2
Flutuação populacional de Selenaspidus articulatus em função da amplitude térmica em pomar de Citrus reticulata no campus da UFRRJ nos anos de 1995 e 1996.

Com relação aos inimigos naturais (Tabela 1), foram observados o coccinelídeo P. egena e o crisopídeo Chrysoperla sp. Dentre esses organismos, P. egena apresentou correlação positiva e significativa (r = 0,824), no teste T. A flutuação do coccinelídeo foi expressiva nos meses de intensa infestação de S. articulatus, caracterizando um crescimento populacional de P. egena em relação à cochonilha (Figura. 3). Essas ocorrências corroboram as observações de ALVES et. al. (1983)ALVES, R. P. C.; CASSINO, P. C. R.; BRISOLA, A. D. & GUAJARÁ, M. S. 1983. Influência da aplicação de Aldicarb 10g, sobre população de Selenaspidus articulatus (Hom., Diaspididae) em Citrus spp. na Baixada Fluminense. Resumo VIII Congresso Brasileiro de Entomologia, Brasília, p. 133. e PERRUSO (1994)PERRUSO, J. C. .1994. Interações bioecológicas de Selenaspidus articulatus (Morgan, 1889) (Hem.: Diaspididae) no agrossistema cítrico no Estado do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado Departamento de Fitotecnia da UFRRJ, Itaguaí- RJ 118 fls., que apontam P. egena como um dos principais inimigos naturais de S. articulatus no Estado do Rio de Janeiro.

Figura 3
Flutuação populacional de Selenaspidus articulatus e Pentilia egena em pomar de Citrus reticulata no campus da UFRRJ nos anos de 1995 e 1996.

Figura 4
Flutuação populacional de Selenaspidus articulatus e Chrysoperla sp. em pomar de Citrus reticulata no campus da UFRRJ nos anos de 1995 e 1996.

Com relação a Chrysoperla sp., analisando-se a Fígura.4, nota-se que sua ocorrência foi bastante significativa ao longo dos dois anos de monitoramento. Provavelmente este fato juntamente com o aumento da amplitude térmica, contribuiu para a queda da população de S. articulatus no ano de 1996.

LITERATURA CITADA

  • ALVES, R. P. C.; CASSINO, P. C. R.; BRISOLA, A. D. & GUAJARÁ, M. S. 1983. Influência da aplicação de Aldicarb 10g, sobre população de Selenaspidus articulatus (Hom., Diaspididae) em Citrus spp. na Baixada Fluminense. Resumo VIII Congresso Brasileiro de Entomologia, Brasília, p. 133.
  • BARTRA, C. E. P. 1974. Biologia de Selenaspidus articulatus Morgan y sus principales controladores biológicos. Rev. Per. Entomol. 17: 60-68.
  • BUSOLI, A. C.; DONADIO, L. C & VAZ FILHO, D. 1991. Daños de Selenaspidus articulatus (Morgan) (Homoptera, Diapididae) em citros e controle através de novas formulações de óleos minerais. In: Resumos XIII Congresso Brasileiro de Entomologia, Recife, p. 316.
  • CASSINO, P. C. R.; GUAJARÁ, M. da S. & ALVES, R. C. P. 1983. Monitoramento, estratégia básica utilizada no Manejo Integrado de Fitoparasitos de Citrus spp. In: Resumos da 35a Reunião Anual da SBPC, Belém, p.7.
  • GALLO, D.; NAKANO, O; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BATISTA, G. C.; BERTI FILHO, E; PARRA, J.P.R; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B. & VEDRAMIN, J.D. 1988. Manual de Entomologia Agrícola 2ª ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 649p.
  • PERRUSO, J. C. .1994. Interações bioecológicas de Selenaspidus articulatus (Morgan, 1889) (Hem.: Diaspididae) no agrossistema cítrico no Estado do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado Departamento de Fitotecnia da UFRRJ, Itaguaí- RJ 118 fls.
  • SILVA, A. G.; GONÇALVES, C. R.; GALVÃO, D. M.; GONÇALVES, A. J. L.; GOMES, J.; SILVA, M. N. & SIMONI, L. 1968. Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil. Seus parásitos e predadores. D.D.I. Agropecuária. S.D.S.V., IAB. Central de Patologia Veg. Min. Agric. Rio de Janeiro, Part. II Tomo 1: 622 p.
  • WATANABE, M. A. & YOSHII, C. 1991. Parasitismo em cochonilha Selenaspidus sp. (Homoptera, Diaspididae) por Aphytis sp. (Hymenoptera, Aphelinidae). In: Resumos XIII Congresso Brasileiro de Entomologia, Recife, p. 283.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 1998
Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Rodovia BR 465 Km 7, CEP 23897-000, Tel.: (21) 2682 0558 | (21) 3787-4033 - Seropédica - RJ - Brazil
E-mail: floram@ufrrj.br