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SETOR FLORESTAL BRASILEIRO: POTENCIALIDADE E REALIDADE

BRASILIAN FOREST SECTOR: REALITY AND POTENTIALITY

RESUMO

Em uma economia estável, com abertura gradual da economia, acirra-se a competição de mercado e modernização torna-se necessidade de extrema importância. O Brasil necessita de uma política florestal séria com definições claras de objetivos, prioridades e estratégias. A partir disso, o país poderá transformar a potencialidade em realidade.

Palavras-chaves:
política florestal; economia florestal

ABSTRACT

A stable economy, with gradual economic opening provides a growing competitive market situation and modernization becomes an extreme importance requisite. Brazil needs a serius forest politics with clear definition of objectives, priorities and strategies. Then, the country will be able to make the potencialities come true.

Key words:
forest polic; forest economic; Brazil

Em uma economia estável, com baixas taxas de inflação e abertura econômica de forma gradual para o mundo, acirra-se a competição de mercado que, neste caso, caracteriza um mercado em processo de globalização. Nesta condição, o país necessita de uma economia forte e modernização torna-se uma ação imperiosa, para que esta economia continue forte e competitiva. Para tanto, um procedimento ainda não muito comum, entre os que decidem no Brasil, torna-se de substantiva significância, ou seja, planejamento sério, a nível nacional, com definições claras do que é prioritário e estratégico ao país, a médio e longo prazos. Por conseguinte, objetivos e metas são traçados e definidos. Considerando-se prazos mais longos, num estado de estabilidade econômica, afloram possibilidades em setores potencialmente promissores, ainda pouco ou não explorados.

O Setor Florestal Brasileiro, em sua totalidade, apesar de muito aquém de suas potencialidades e possibilidades, gera US$ 16,5 bilhões/ano, com exportações em torno de US$ 3,5 bilhões/ano, o que significa um dado econômico a ser encarado com maior seriedade, pois o país já se encontra numa situação de déficit de madeira, necessitando aumentar a produção dos atuais 106.000.000 m3 para 240.000.000 m3, até o ano de 2010. O carro chefe deste setor, sem dúvida, é representado pela indústria de celulose e papel que, aliás, apresenta níveis internacionalmente invejáveis de produtividade e tecnologia. Entretanto, a parte que engloba o processamento mecânico da madeira, como as serrarias e a indústria moveleira, apresenta-se defasada tecnologicamente, apresentando níveis de produção, produtividade e eficiência muito baixos, se comparado aos apresentados pelos países do primeiro mundo. Está faltando, às autoridades brasileiras, definir e efetivar uma política florestal estável, séria, eficaz, a nível nacional, para médio e longo prazo, com definição clara do que é estratégico e prioritário ao país. Sem uma política como esta, estaremos, provavelmente, colocando em sério risco o maior potencial silvicultural do mundo. Este potencial mostra-se como um iceberg, através de uma pequena ponta, que consiste nas atuais potencialidades do Pinus e do Eucalipto, que transcenderam a indústria de celulose e papel, atingindo a produção de madeira serrada, além da exótica Teca (Tectona grandis) e de inúmeras outras espécies, nativas ou não, possíveis de serem exploradas silviculturalmente.

O consumo mundial de madeira, segundo a FAO, situa-se em 3,5 bilhões de m3, enquanto que o Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Silvicultura, consumiu, em 1993, 282 milhões de m3, sendo que apenas 75 milhões de m3 foram provenientes de plantios, o que representa uma porção muita pequena, se comparado com o que o país necessita e pode tecnicamente produzir pois, atualmente, considerando-se apenas o eucalipto, o país possui a maior plantio do mundo, representando cerca de 50 % de todo o plantio mundial.

Portanto, a fim de uma melhor visão do desempenho brasileiro no setor da indústria madeireira, compara-tivamente aos principais produtores mundiais, uma melhor análise dos dados oficiais se faz necessária e, a partir desta (FAO Yearbook 1993), observa-se que o Brasil possui uma produção global de produtos florestais muito modesta diante de seu enorme potencial. Além disso, uma análise da produção per capita evidencia ainda mais a citada situação produtiva brasileira no setor (FIGURAS 1 e 2). Torna-se claro, então, a necessidade de uma urgente e continuada evolução neste setor produtivo, a partir de um consistente planejamento de abrangência nacional, se o país realmente pretende se destacar no panorama mundial no setor da indústria madeireira.

Com relação ao desenvolvimento tecnológico, as recentes pesquisas saídas, principalmente, das Universidades Públicas e dos Órgãos Oficiais de Pesquisa, além de algumas empresas e instituições do setor, apresentam resultados importantes e significativos que merecem maior apoio e atenção. Estes resultados, por exemplo, aliados aos fatores positivos das condições brasileiras, permitiram que atingíssemos níveis invejáveis de produtividade, tais como a rotação de 7 anos e o incremento anual de 45 m3/ha/ano com o Eucalipto, para a produção de celulose. Para produção de madeira serrada, é possível uma rotação entre 12 e 15 anos, considerando-se o Pinus e, em relação ao Eucalipto, é possível obter tábuas a partir de 6 anos. Entretanto, em países como o Canadá, um dos maiores produtores mundiais de celulose, papel e madeira serrada, é necessária uma rotação que varia de 45 a 90 anos para a produção de celulose, dados que evidenciam ainda mais o potencial brasileiro.

Em suma, o setor florestal brasileiro pode se tomar uma fonte geradora de empregos e riquezas em patamares muito superiores aos existentes atualmente, não só na produção de carvão, celulose e papel, como também, na produção de madeira processada (madeira serrada, cavacos, laminados), chapas de composição, indústria moveleira... em níveis de liderança mundial em produção, produtividade e qualidade.

É hora da potencialidade transformar-se em realidade. Enquanto há tempo!

Na atual situação econômica e social que atravessa o país, onde é imperiosa a necessidade de se criar novas frentes de trabalho e aumentar produção e produtividade, o setor florestal desponta como uma fantástica alternativa e oportunidade, entretanto, até os dias atuais, este setor não recebeu a devida atenção dos que decidem. O Brasil não pode se dar ao luxo de perder este trem da história, pois este pode ser o último.

Figura 1
Produção anual, em m3, de madeira serrada e chapas de composição (aglomerados + chapas de libras + compensados).

Figura 2
Produção per capita, em cm3, de madeira serrada e chapas de composição (aglomerados + chapas de libras + compensados).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 1998
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