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AVALIAÇÃO DA APTIDÃO AGRÍCOLA PARA USO FLORESTAL

EVALUATION OF FORESTRY LAND CAPABILITY

RESUMO

O panorama brasileiro da agricultura e silvicultura requer uma nova abordagem para a avaliação da aptidão das terras para uso florestal. Neste estudo foram propostas modificações no Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras, utilizado pela EMBRAPA/CNPS, que foram testadas no campus da UFRRJ. Grupos e subgrupos de aptidão agrícola para silvicultura foram criados para os níveis de manejo A, B e C. Ainda, terras de relevante interesse ecológico foram incluídas no conceito de terras inaptas, independentemente de seu potencial agrícola.

Palavras-chaves
UFRRJ; uso das terras; silvicultura.

ABSTRACT

The present scenario of Brazilian agriculture and forestry requires a new approach to assess the land capabifity for forest cultivation. In this study modifications in the System of Evaluation of the Land Agricultural Capability, utilized by EMBRAPA/ CNPS, were proposed and tested on the campus of Federal Rural University of Rio de Janeiro. Groups and sub groups of land capability for forest production were created for the levels of management A, B and C. Also, lands identified as ecologically important were included in the concept of non-arable lands, independently of their agricutural potential.

Key words
UFRRJ; forestry; land use.

INTRODUÇÃO

O Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILHO et al., 1978RAMALHO FILHO, A., PEREIRA E. G., BEEK, K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. Brasília: SUPLAN/EMBRAPA-SNLCS, 1978, 70p.; RAMALHO FILHO & BEEK 1995RAMALHO FILHO, A., BEEK, K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. 3ed. Ver. - Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1995. Viii + 65p.) foi desenvolvido para ser utilizado em trabalho de interpretação de levantamento de solos. Neste sistema a aptidão agrícola das terras é avaliada para alternativas de utilização tais como lavouras (anuais e perenes), pastagem plantada, silvicultura e/ou pastagem natural e preservação da flora e fauna. Para diagnosticar o comportamento das terras diante da adoção de práticas agrícolas, são considerados três níveis de manejo: primitivo, pouco desenvolvido e desenvolvido, indicados pelas letras A, B, e C, respectivamente, e definidos em função do investimento de capital na produção agrícola. Para a utilização das terras com lavouras são consideradas, no Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras, os três níveis de manejo. Já para silvicultura, apenas o nível de manejo B é considerado e as terras aptas para este fim seriam aquelas cujo uso para lavouras ou pastagem plantada não é recomendado. Esta classificação refletia o perfil do silvicultor no momento em que o sistema foi criado (1975), com o crescimento das atividades silviculturais, através de plantios voltados ao fornecimento de matéria prima para abastecimento do mercado de celulose e papel, e o desenvolvimento de novos modelos de produção (DUBOIS et al., 1996DUBOIS, JEAN C. L., VIANA, V. M., ANDERSON, A. B. Manual Agroflorestal para Amazônia. Rio de Janeiro, RJ, REBARF, 1996. p.228.) percebe-se hoje que silvicultores ocupam, como agricultores, os três níveis de manejo (LAMPRECHT, 1990LAMPRECHt, H. Silvicultura nos Trópicos: ecossistemas florestais e respectivas espécies arbóreaspossibilidades e métodos de aproveitamento sustentado. Hans Lamprecht. Dt. Ges. Für Techn. Zusammenarbeit (GTZ) GmbH, Eschbom. 1990, 343p.). Observa-se ainda que as atividades florestais passaram a ser praticadas em áreas de melhor fertilidade, que eram automaticamente destinadas à produção agrícola ou pastagem plantada, passando a competir com estas duas formas de uso. Ainda, no Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras o conceito de terras inaptas (classe 6) de “terras sem aptidão para uso agrícola, nas quais não há outra alternativa senão a preservação da natureza”( RAMALHO FILHO & BEEK, 1995RAMALHO FILHO, A., BEEK, K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. 3ed. Ver. - Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1995. Viii + 65p., pg. 10).

OLIVEIRA & BURGOS SOSA (1995)OLIVEIRA, J. B. de & BURGOS SOSA, S. M. Sistema de Ciassificacion de la aptitud agro-ecologica de la Tierra ( S.C.A.A.T.) para la region oriental dei Paraguay. 1ª Aproximacion. Asuncion, Paraguay: Universidad Nacional de Asuncion, Facultad de Ciencias Agrarias, 1995.77p., em um estudo para a região oriental do Paraguai, propõe um modelo no qual se pretende discriminar as terras segundo sua aptidão agroecológica, para possibilitar o melhor zoneamento territorial e minimizar os impactos ambientais negativos que resultam da ocupação desordenada e do manejo inapropriado das mesmas. Neste modelo o uso florestal é avaliado em todas as classes de aptidão agroecológicas das terras.

Em 1980, foi realizado um estudo detalhado dos recursos florestais e potencial para reflorestamento nas diversas regiões do estado do Rio de Janeiro (GOLFARI & MOOSMAYER, 1980GOLFARI, L. & MOOSMAYER, H. Manual de Reflorestamento do Estado do Rio de Janeiro. IBAMA. 1980. 382p.). Entre outros produtos foram gerados mapas de fertilidade das terras, e produtividade para essências florestais, declividade e erosão das terras, de profundidade, rochosidade e pedegrosidade e de drenagem das terras. Entretanto essas informações não foram reunidas em um sistema que permitisse a interpretação da aptidão das terras para uso florestal.

Considerando o panorama atual da agricultura e da produção de espécies florestais, uma nova abordagem para a avaliação da aptidão apícola para uso florestal se faz necessária. Neste estudo foram propostas algumas modificações no Sistema de Avaliação da Aptidão Apícola das Terras e o novo modelo foi aplicado às terras do campus da UFRRJ.

MATERIAL E MÉTODOS

Para testar as modificações propostas no Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILLLO & BEEK 1995), foi utilizado o levantamento detalhado de solos da área da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (RAMOS et al., 1973RAMOS, D. P., CASTRO, A. F., CAMARGO, M. N. Levantamento Detalhado de Solos da Área da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pesq. Agropec. bras., Sér. Agron., n.8, 1973, p.1-27.). Foram selecionadas as séries Zootecnia, Silvicultura, Complexo Seropédica, Guandu, que correspondem as classes de solos, Planossolos, Podzólico Vermelho-amarelo, Podzólico Vermelho-amarelo imperfeitamente drenado e Glei Pouco Húmico respectivamente.

Para a identificação das classes de aptidão utilizou-se preferencialmente o quadro guia referente a região tropical úmida, pois essa abrange a maior parte das regiões onde ocorrem povoamentos florestais, implantados ou naturais. Neste quadro foram feitas modificações considerando o comportamento dos solos diante da implantação de sistemas florestais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Quadro 1 apresenta a proposta de alteração para utilização florestal considerando os três níveis tecnológicos, sendo identificadas como principais limitações para implantação de um sistema florestal, o tamanho da área, sua localização e sua destinação para preservação da fauna e flora.

Ainda, recomenda-se que terras inaptas à produção agrícola sejam definidas por restrições físicas severas e por serem de relevância ecológica. Ou seja, uma área de baixa fertilidade natural pode não ser apta para agricultores classificados como pertencentes ao nível manejo A. Da mesma forma uma área de elevada fertilidade natural deve ser considerada inapta se a mesma abrigar espécies endêmicas, ou constituir um bioma, que dentro de uma visão de produção sustentada deva ser preservada para manutenção de determinadas espécies da fauna e/ou flora locais.

Assim, entende-se que terras inaptas passariam a ocupar dois grupos identificados como:

  1. Terras inaptas por limitação de fatores ligados à produção;

  2. Terras inaptas por serem consideradas de relevante interesse ecológico

Com base nas modificações realizadas para o tipo de utilização, foram criados novos grupos e subgrupos de aptidão agrícola de acordo com níveis de manejo A, B e C (Quadro 2).

Quadro 1
Proposta para alteração do Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das terras. Tipo de utilização: Silvicultura
Quadro 2
Diferenciação dos grupos e subgrupos de aptidão agrícola ds terras, para os níveis de manejo A, B e C. (Fonte: Ramalho et al., 1978, modificada)
Quadro 3
Quadro guia de avaliação da aptidão da s terras. (Fonte: Ramalho et al., 1978, modificada) Região Tropical Úmida. Tipo de utilização, Silvicultura

A ausência de algarismos sublinhados acompanhando a letra representativa do grau de limitação, indica não haver possibilidade de melhoramento naquele nível de manejo; Grau de limitação: N- nulo, L-ligeiro, M-moderado, F-forte, MF - forte, MF - Muito forte, 1 - Intermediário

Quadro 4
Principais classes de aptidão dos solos, na UFRRJ para utilização florestal
  • Grupo 7, Terras com aptidão boa para silvicultura em pelo menos um dos níveis de manejo A, B ou C.

  • Grupo 8, Terras com aptidão regular para silvicultura em pelo menos um dos níveis de manejo A, B ou C.

  • Grupo 9, Terras com aptidão restrita para silvicultura em pelo menos um dos níveis de manejo A, B ou C (Quadro 3).

Com o objetivo de testar o sistema, este foi utilizado na área da UFRRJ, para diferentes classes se solos a saber: Planossolo, Podzólico Vermelho-amarelo, Podzólico Vermelhoamarelo imperfeitamente drenado, Glei pouco Húmicos. As principais limitações verificadas para as classes de solos para utilização florestal, são apresentadas no Quadro 4.

Na classe dos Planossolos, para o nível de manejo A, as principais limitações são a baixa fertilidade e o excesso de água, no nível B além destas destacam-se a suscetibilidade à erosão e o impedimento a mecanização. Já no nível de manejo C, as principais limitações são a suscetibilidade à erosão e impedimento a mecanização. Na classe dos Podzólicos Vermelho-amarelo, o nível tecnológico C apresenta como principal limitação, o impedimento à mecanização. Na classe dos Podzólicos Vermelho-amarelo (imperfeitamente drenado), para o nível tecnológico A, a principal limitação é a baixa fertilidade, e para o nível C, o impedimento à mecanização. Na classe dos Glei Pouco Húmicos, tanto para o nível tecnológico A como o B, as principais limitações são o excesso de água e o impedimento a mecanização, e para o nível C, o impedimento a mecanização é o principal fator limitante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O método proposto apresenta-se em fase de desenvolvimento, sugere-se que este seja testado em outras áreas de utilização, bem como em sistemas agroflorestais, para que seja submetido a críticas e sugestões visando seu aprimoramento.

LITERATURA CITADA

  • DUBOIS, JEAN C. L., VIANA, V. M., ANDERSON, A. B. Manual Agroflorestal para Amazônia Rio de Janeiro, RJ, REBARF, 1996. p.228.
  • GOLFARI, L. & MOOSMAYER, H. Manual de Reflorestamento do Estado do Rio de Janeiro. IBAMA. 1980. 382p.
  • LAMPRECHt, H. Silvicultura nos Trópicos: ecossistemas florestais e respectivas espécies arbóreaspossibilidades e métodos de aproveitamento sustentado Hans Lamprecht. Dt. Ges. Für Techn. Zusammenarbeit (GTZ) GmbH, Eschbom. 1990, 343p.
  • OLIVEIRA, J. B. de & BURGOS SOSA, S. M. Sistema de Ciassificacion de la aptitud agro-ecologica de la Tierra ( S.C.A.A.T.) para la region oriental dei Paraguay. 1ª Aproximacion. Asuncion, Paraguay: Universidad Nacional de Asuncion, Facultad de Ciencias Agrarias, 1995.77p.
  • RAMALHO FILHO, A., PEREIRA E. G., BEEK, K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. Brasília: SUPLAN/EMBRAPA-SNLCS, 1978, 70p.
  • RAMALHO FILHO, A., BEEK, K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. 3ed. Ver. - Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1995. Viii + 65p.
  • RAMOS, D. P., CASTRO, A. F., CAMARGO, M. N. Levantamento Detalhado de Solos da Área da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pesq. Agropec. bras, Sér. Agron., n.8, 1973, p.1-27.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 2000
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