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BIOLOGIA DE Oxydia vesulia (CRAMER, 1779) (LEPIDOPTERA: GEOMETRIDAE)

BIOLOGY OF OXYDIA VESULIA (CRAMER, 1779) (LEPIDOPTERA: GEOMETRIDAE)

RESUMO

Oxydia vesulia (Cramer, 1779) (Lepidoptera: Geometridae) é considerada uma das principais pragas florestais, por ser importante desfolhadora de Eucalyptus spp. A biologia desta espécie foi estudada a 25 ± 1 ºC de temperatura, 70 ± 3 % de UR e 14 h de fotoperíodo. A duração do primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto e sétimo estádios, o período larval, de pré-pupa e de pupa, a longevidade e o ciclo de vida de O. vesulia, foi de 4,15, 3,98, 3,72, 4,29, 5,22, 7,65, 8,00, 29,21, 2,05, 13,65, 14,61 e 60,18 dias, respectivamente. A razão sexual foi de 0,44; a fecundidade de 1970,96 ovos; a fertilidade de 961,44 ovos; a taxa de fertilidade de 48,78 % e o número de posturas por fêmea de 5,30.

Palavras-chaves
Biologia; Lepidoptera; praga e eucaliptos

ABSTRACT

Oxydia vesulia (Cramer, 1779) (Lepidoptera: Geometridae) is considered one of the most important defoliator of Eucalyptus. Development was studied at temperature of 25 ± 1 oC, 70 ± 3 % RH and 14 L: 10D, The duration of the first, second, third, fourth, fifth, sixth and seventh stage was 4.15, 3.98, 3.72, 4.29, 5.22, 7.65, 8.00, 29.21, 2.05, 13.65, 14.61and 60.18 days, respectively, The sex ratio was 0.44; the fecundity was 1970.96; the fertility was 961.44 eggs; the fertility rate was 48.78% and the mean egg masses per female 5.30.

Keys words
lepidoptera; pest and eucalyptus

INTRODUÇÃO

No Brasil, as florestas implantadas ocupam área superior a sete milhões de hectares, sendo 50% de eucalipto, hoje considerada a essência florestal mais conhecida e cultivada em nosso país (MORAES et al., 1983MORAES, G.W.G., BRUN, P.G. & SOARES, L.A. O controle biológico dos lepidópteros desfolhadores de eucalipto em Minas Gerais. Inf. Agropec., Belo Horizonte, v. 9, n.104, p.23-30, ago., 1983. e POGGIANI, 1993POGGIANI, F. Olhando para o futuro das plantações de eucaliptos. Rev. da Madeira, Caxias do Sul, v.9, p.22-23, 1993.).

A substituição de ecossistemas equilibrados e altamente diversificados por maciços florestais homogêneos e, muitas vezes, compostos por espécies exóticas, promove o aparecimento de condições ideais para o surgimento de pragas, que se adaptam às condições de uma monocultura, resolvendo de forma mais vantajosa um dos seus principais problemas que é a alimentação. Desta forma, a prática da monocultura pelo homem tem favorecido alguns insetos por diminuir a competição entre eles e reduzir o número de seus inimigos naturais (GONÇALVES, 1996GONÇALVES, L. Fatos históricos do controle biológico. Floresta e Ambiente, v.3, p.96-101, 1996. e 1997________ . Bionomia, aspectos comportamentais e controle de Thyrinteina arnobia (Stoll, 1782) (Lepidoptera: Geometridae), “praga” de Eucalyptus (MYRTACEAE), pelo Bacillus thuringiensis var. kurstaki (Berliner, 1915) (BACILLACEA). Curitiba, 1997 345 p. (Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná/UFPR).).

Dentre os desfolhadores de eucalipto, os lepidópteros figuram como um dos mais importantes e Oxydia vesulia (Cramer, 1779) (Lepidoptera: Geometridae) aparece como uma das principais pragas florestais, sendo citada pela primeira vez, em caráter endêmico em 1985, numa área de 250 ha de Eucalyptus cloësiana, no município de Alagoinhas, BA por SANTOS et al. (1986)SANTOS, G. P., ANJOS, N., ALVES, A.P. & ZANUNCIO, J. C. Bionomia de Oxydia vesulia (Cramer, 1779) (Lepidoptera: Geometridae), desfolhador de eucalipto. Revista Árvore, v.10, n.2, p.161-167, 1986., e logo após como causadora de problemas em eucaliptais por ZANUNCIO et al. (1990)ZANUNCIO, J.C., FAGUNDES, M., ANJOS, N., ZANUNCIO, T.V. & CAPITANI, R.L. Levantamento e flutuação populacional de lepidópteros associados à eucaliptocultura: V - Região de Belo Oriente - Minas Gerais, junho de 1986 a maio de 1987. Revista Árvore, v.14, n .1, p.35-44, 1990; ALVES et al. (1991a)ALVES, A. P., ZANUNCIO, J. C., REGAZZI, A. J. & SARTÓRIO, R.C. Índices faunísticos de alguns lepidópteros - pragas do Eucalyptus grandis coletados em cinco comunidades florestais, na região do Alto São Francisco - MG. In XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE EN- TOMOLOGIA, II. Resumos. 1991a. p.496.; ALVES, et al. (1991b)ALVES, A.P., ZANUNCIO, J.C., SCHOEREDER, J.H. & CAPITANI, L.R. Índices faunísticos de alguns lepidópteros - Pragas do Eucalyptus grandis coletados em cinco comunidades florestais, na região do Vale do Rio Doce - MG. In XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, II. Resumos.1991b. p.497.; AMARAL et al. (1991)AMARAL, F.A.F, ZANUNCIO, J.C., CAPITANI, L.R. & ZANUNCIO, T.V. Levantamento e flutuação de lepidópteros associados à eucaliptocultura: IX- Região de Guanhães, Minas Gerais, junho de 1989 a maio de 1990. In XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, II. Resumos. 1991. p.481.; BATISTA et al. (1991)BATISTA, L.G., ZANUNCIO, J.C., ZANUNCIO, T.V. & SANTOS, G.P. Levantamento e flutuação populacional de lepidópteros associados à eucaliptocultura: VI - Região de Belo Oriente - Minas Gerais, junho de 1988 a maio de 1989. In XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, II resumos.1991. p.501.; ZANUNCIO, J., et al. (1991)ZANUNCIO, J.C., BATISTA L.G., ZANUNCIO, T.V., VILELA, E.F. & PEREIRA, J.F. Levantamento e flutuação populacional de lepidópteros associados à eucaliptocultura: VIII - Região de Belo Oriente - Minas Gerais, junho de 1989 a maio de 1990. Revista Árvore, v.15, n.1, p.83-93, 1991.; ZANUNCIO, T., et al. (1991)ZANUNCIO, J.C., BATISTA L.G., ZANUNCIO, T.V., VILELA, E.F. & PEREIRA, J.F. Levantamento e flutuação populacional de lepidópteros associados à eucaliptocultura: VIII - Região de Belo Oriente - Minas Gerais, junho de 1989 a maio de 1990. Revista Árvore, v.15, n.1, p.83-93, 1991.; ZANUNCIO et al. (1992)ZANUNCIO, J.,C., FAGUNDES, M., ARAÚJO, M.,S.,S. & EVARISTO, F.,D.,C. 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(1994)ALVES, J.B., ZANUNCIO, J.C., FLORIN, A. & PIFFER, A.A. Análise faunística e flutuação populacional de lepidópteros associados ao eucalipto em Niquelândia, Goiás. Revista Árvore, v.18, n.2,:P.159-168, 1994. e ZANUNCIO et al. (1995)ZANUNCIO, T. V., ZANUNCIO, J. C., ARAÚJO, M. S. S. & EVARISTO, F. C. Influência da fase lunar na coleta de lepidópteros, em plantios de eucalipto, na região de Açailândia, Maranhão, Brasil. Revista Árvore, v.19, n.1, p.100-109, 1995.. Ataques de lepidópteros provocam desfolhas parcial ou total, o que afeta o desenvolvimento dos eucaliptos, e interfere na taxa e no equilíbrio dos processos fisiológicos internos destas plantas, afetando seu crescimento, formação da biomassa da copa, da biomassa do tronco e da CAP (circunferência à altura do peito). Estas reduções são, ainda mais drásticas quando ocorrem na época de estresse hídrico (FREITAS & BERTI FILHO, 1994 aFREITAS, S. & BERTI FILHO, E. Efeito da desfolha parcial e total na produção de biomassa de Eucalyptus grandis em Mogi Guaçu, São Paulo. IPEF, Piracicaba v.47, p.29-35, 1994a. e b_______. Efeito da desfolha parcial e total na produção de biomassa de Eucalyptus grandis em Mogi Guaçu. IPEF, v. 47, p.36-43, 1994b.). Por isto, o objetivo deste trabalho foi estudar a biologia de O. vesulia para um melhor controle de eventuais surtos desta praga.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletados em plantios de eucalipto da região de Jacareí - SP, adultos de O. vesulia, os quais foram mantidos no Laboratório de Entomologia do Departamento de Ciências Ambientais, Instituto de Florestas -UFRRJ à 25 ± 1 oC de temperatura, 70 ± 3 % de UR e 14 h de fotoperíodo. Larvas da geração F2 de laboratório, nessas mesmas condições, foram individualizadas em 65 potes de polietileno transparente (potes de criação), medindo 6,5 cm de altura, 8 cm de diâmetro no fundo, 10 cm de diâmetro na borda, com sete furos na tampa, um na parede lateral e outro na lateral do fundo (0,8 cm de diâmetro), todos protegidos por tecido de filó.

Diariamente eram oferecidas folhas de Eucalyptus grandis (Hill) Maiden (Myrtaceae) previamente lavadas em água corrente, enxaguadas com água destilada e secas com auxílio de uma toalha de algodão. Estas logo após terem seus pecíolos cortados em bisel eram fixadas pela introdução destes em um orifício na tampa (de aproximadamente 1 mm de diâmetro) de pequenos potes também de polietileno, (com 4 cm altura / 3 cm de diâmetro) que continham água destilada para a manutenção da hidratação destas folhas.

As lagartas de primeiro e segundo estádios de O. vesulia foram alimentadas, diariamente com uma folha adulta e tenra (coloração verdeclara), por pote de criação; enquanto as de terceiro e quarto estádios recebiam uma folha adulta e pouco tenra (coloração verde-clara) e, as de quinto, sexto e sétimo duas folhas adultas grandes e fibrosas (coloração verde-escura).

A mudança de estádio foi considerada sempre que houve a liberação da cápsula cefálica.

Os adultos emergidos foram acondicionados em gaiolas de papelão, medindo 20 cm de altura, 20 cm de largura e 25 cm de comprimento, com duas aberturas opostas (janelas), medindo cada uma 15 cm de altura por 22 cm de comprimento, protegidas por plástico transparente colado com cola plástica. Estas aberturas tiveram a função de facilitar a observação do comportamento dos casais no interior das gaiolas e a melhor iluminação das mesmas. Foi oferecido como alimento uma solução aquosa de mel a 10 %, colocada em pote de polietileno transparente medindo 4 cm de altura, 3 cm de diâmetro e com a tampa possuindo uma abertura de 0,5 cm de diâmetro. Nesta abertura foi introduzido um pavio de algodão através do qual os insetos se alimentaram. Esta solução foi trocada a cada dois dias, período suficiente para que não houvesse fermentação (GONÇALVES, 1997________ . Bionomia, aspectos comportamentais e controle de Thyrinteina arnobia (Stoll, 1782) (Lepidoptera: Geometridae), “praga” de Eucalyptus (MYRTACEAE), pelo Bacillus thuringiensis var. kurstaki (Berliner, 1915) (BACILLACEA). Curitiba, 1997 345 p. (Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná/UFPR).).

Foi utilizado para as análises estatísticas o teste de Mann-Whitney.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 65 larvas criadas, somente uma não completou o ciclo, morrendo no primeiro estádio, o que dá uma mortalidade de 1,53%. SANTOS et al. (1986)SANTOS, G. P., ANJOS, N., ALVES, A.P. & ZANUNCIO, J. C. Bionomia de Oxydia vesulia (Cramer, 1779) (Lepidoptera: Geometridae), desfolhador de eucalipto. Revista Árvore, v.10, n.2, p.161-167, 1986., encontraram elevada mortalidade no primeiro estádio, e SOARES & PIMENTA (1993)SOARES, L.A. & PIMENTA, H.R. Tabela de vida e dados bionômicos de Oxydia vesulia (Lepidoptera: Geometridae) em Persea gratissima (Lauraceae). In ANAIS DO 14º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA. 1993. p.136., encontraram uma alta sobrevivência em todos os estádios de O. vesulia. ZANUNCIO et al. (1990)ZANUNCIO, J. C., GARCIA, J. F., SANTOS, G. P., ZANUNCIO, T. V. & NASCIMENTO, E.C. Biologia e consumo foliar de lagartas de Euselasia apisaon (Dalman, 1823) (Lepidoptera: Riodinidae) em Eucalyptus spp. Revista Árvore, v.14, n.1, p.45-54, 1990., encontram maior taxa de mortalidade no segundo estádio de Euselasia apisaon (Lepidoptera: Riodinidae), a 27 ± 1 ºC de temperatura e 10 h de fotoperíodo em Eucalyptus sp. SANTOS (op. cit.) obteve, maior duração para o período larval (48,90 dias), pré-pupa (2,20 dias), pupa (20,30 dias para os machos e 20,90 dias para as fêmeas) e ciclo de vida (82,30 dias para os machos e 85,40 dias para as fêmeas). A longevidade dos machos foi menor (10,90 dias) que a das fêmeas (13,40 dias). Já SOARES (op. cit.) obteve duração menor nos segundo (2,90 dias para os machos e 2,70 dias para as fêmeas), terceiro (3,30 dias para os machos e 3,50 dias para as fêmeas), quarto (3,20 dias machos e 3,10 dias fêmeas) e quinto (4,00 nos machos e 4,60 nas fêmeas) estádios para machos e fêmeas e no sexto estádio somente para fêmeas (8,11 dias). Esses autores obtiveram, também maior duração no primeiro estádio dos machos e fêmeas (6,40 dias para os machos e, 6,50 dias para as fêmeas) e do sexto estádio somente para machos (10,20 dias). Já o período larval foi maior para machos (30,00 dias) e menor para as fêmeas (28,51dias), enquanto os períodos de pupa (13,30 dias para machos e 12,70 dias para as fêmeas), longevidade (machos 8,40 dias e fêmeas 9,60 dias) e ciclo de vida (53,30 dias para os machos e 54,50 dias para as fêmeas) foram menores que os nossos (Tabelas 1 ). Tais diferenças podem ser devidas a diferentes metodologias de cada experimento. SANTOS et al. (op. cit.) manteve grupos de 10 larvas por pote de criação, alimentadas diariamente com folhas de Eucalyptus spp. em laboratório à 25 ± 1º C de temperatura e fotoperíodo de 10 h, mas não citou umidade. SOARES & PIMENTA (op. cit.), criaram O. vesulia à 25 ± 1º C de temperatura e 75 ± 3 % de UR. Entretanto, esses autores usaram fotoperíodo de 12 h e alimentaram as lagartas com folhas de Persea gratissima Gaertn (Laurácea) (abacateiro). Isto deve ser considerado pois a influência do fotoperíodo e do tipo de alimento no ciclo de vida dos insetos foi comprovada por diversos autores. FERREIRA & PARRA (1985)FERREIRA, M. J. M. & PARRA J. R. P. Efeito do fotoperíodo no ciclo biológico de Mocis latipes (GUENÈE, 1852) (Lepidoptera: Noctuidae), em condições de laboratório. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil. v.14, n.1, p. 89-96, 1985. demonstram que fotoperíodos diferentes influenciaram no ciclo biológico de todas as formas imaturas de Mocis latipes (Guenèe, 1852) (Lepidoptera: Noctuidae); VENDRAMIM (1982) demonstrou que diferentes tipos de celulose alteram o desenvolvimento e a viabilidade de Heliothis virescens (Lepidoptera: Noctuidae), inclusive indicando a celulose de E. grandis como a mais adequada para a dieta artificial deste inseto; GONÇALVES (1997)________ . Bionomia, aspectos comportamentais e controle de Thyrinteina arnobia (Stoll, 1782) (Lepidoptera: Geometridae), “praga” de Eucalyptus (MYRTACEAE), pelo Bacillus thuringiensis var. kurstaki (Berliner, 1915) (BACILLACEA). Curitiba, 1997 345 p. (Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná/UFPR). mostrou que o desenvolvimento de Thyrinteina arnobia (Lepidoptera: Geometridae) difere quando esta espécie foi alimentada com folhas de E. grandis ou E. camaldulensis (Myrtaceae) e SANTOS & SHIELDS (1998)SANTOS, L. & SHIELDS, E. J. Temperature and diet effect on black cutworm (Lepidoptera: Noctuidae) larval development. Journal of Economic Entomology v.9, n.1, p.267-273, 1998., demonstraram que o tempo de desenvolvimento larval e o número de ínstares de Agriotis ipsilon (Lepidoptera: Noctuidae), foi altamente afetado pelo tipo de dieta em que as larvas foram criadas.

A análise comparativa, para machos e fêmeas, mostrou que o quarto e sexto estádio, além do período larval das fêmeas foram, significativamente maiores que os dos machos (P < 0,05), mas a duração do período pupal e da longevidade dos machos foram significativamente maiores que das fêmeas (P < 0,05) (Tabela 1).

Tabela 1
Duração média (dias) das fases de desenvolvimento de Oxydia vesulia (Lepidoptera: Geometridae) criados em Eucalyptus grandis em condições de laboratório, à 25 ± 1 oC de temperatura, 70 ± 3 % de UR e 14 h de fotoperíodo.

Das 65 larvas do experimento, 64 completaram o ciclo de vida, com emergência de 36 machos e 28 fêmeas respectivamente, apresentando uma razão de sexo de 0,44, próximo de 0,43 obtido por SANTOS et al. (1986SANTOS, G. P., ANJOS, N., ALVES, A.P. & ZANUNCIO, J. C. Bionomia de Oxydia vesulia (Cramer, 1779) (Lepidoptera: Geometridae), desfolhador de eucalipto. Revista Árvore, v.10, n.2, p.161-167, 1986.).

O. vesulia coloca seus ovos em linha e estes, logo após a oviposição, apresentam coloração verde-clara. No decorrer do desenvolvimento embrionário tornam-se avermelhados e antes da eclosão apresentam coloração negra, o que também foi observado por SANTOS et al. (1986)SANTOS, G. P., ANJOS, N., ALVES, A.P. & ZANUNCIO, J. C. Bionomia de Oxydia vesulia (Cramer, 1779) (Lepidoptera: Geometridae), desfolhador de eucalipto. Revista Árvore, v.10, n.2, p.161-167, 1986.. Oxydia apidania (Lepidoptera: Geometridae) também oviposita seus ovos em linha e ocorre variação na coloração destes durante o desenvolvimento embrionário.

Inicialmente são verde-claros, passando pela cor de bronze até se tornarem escuros quase pretos próximos à eclosão (SANTOS et al., 1979SANTOS, G.P., VILELA, E.V. & NOGUEIRA, S. B. Estudos da bionomia e controle biológico de Oxydia apidania (Cramer) (Lepidoptera: Geometridae), desfolhador de eucalipto. Revista Árvore, v.3, n.1, p.57-74, 1979.).

Apenas uma fêmea não ovipositou, tendo-se obtido 53.216 ovos para 27 fêmeas, com fecundidade de 1.970,96 ovos, fertilidade de 961,44 ovos e a taxa de fertilidade de 48,78 %. O. vesulia fez em média 5,30 posturas com intervalo de variação de 1 a 9. A fecundidade reduziu a cada postura, mas a fertilidade apresentou oscilações, tendo ocorrido a maior taxa na 9a postura (Tabela 2). BORTOLI et al. (1982)BORTOLI, S.A., PARRA, J.R.P. & LARA, F.M. Aspectos biológicos de Hedylepta indicata (FABRICIUS, 1775) (Lepidoptera: Pyralidae) em soja (Glycine max (L.) Merrill), sob condições de laboratório. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.11, n.1, p.23-32, 1982., mostraram que a fertilidade de Hedylepta indicata (Lepidoptera: Pyralidae) em soja, foi maior nas primeiras posturas do que nas últimas, enquanto SANTOS & NAKANO (1982)SANTOS, H.R. & NAKANO, O. Dados biológicos sobre a lagarta rosca Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1776) (Lepidoptera: Noctuidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.11, n.1, p.33-48, 1982., observaram que ovos de Agrotis ipsilon (Lepidoptera: Noctuidae) dos dois primeiros dias de postura são inférteis.

Tabela 2
Fecundidade , fertilidade, número de ovos inférteis e inviáveis de fêmeas de Oxydia vesulia (Cramer 1779) (Lepidoptera: Geometridae) criadas à temperatura de 25 ± 1 ºC, 70 ± 3% de UR e 14 h de fotoperíodo.

CONCLUSÕES

Por ser O. vesulia um inseto de grande importância para a eucaliptocultura de nosso país e por ser pouco estudado, os dados obtidos neste trabalho serão de grande valia para avançar conhecimentos sobre a influência de diferentes fatores bióticos e abióticos na biologia e na dinâmica da espécie. Tais conhecimentos fundamentarão medidas de controle desta praga.

Foram registradas diferenças significativas entre os períodos larvais de machos e fêmeas de O. vesulia e entre os de pupa e de longevidade (P < 0,05), mas, nos períodos de pré-pupa e os ciclos de vida não foram significativas as diferenças entre machos e fêmeas (P > 0,05). Constatou-se também, que este inseto possui fecundidade elevada associada a alta taxa de sobrevivência.

É necessário o desenvolvimento de novos estudos que aprofundem o conhecimento da biologia e da dinâmica populacional de O. vesulia, pois tais informações são importantes para a adoção de medidas mais eficazes de controle desta praga e menos danosas ao meio ambiente.

LITERATURA CITADA

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 2000
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