EFEITO DO FORNECIMENTO DE SOLUÇÃO À BASE DE SACAROSE E MEL NO DESENVOLVIMENTO NINFAL DO PREDADOR Podisus nigrispinus (DALLAS) (HETEROPTERA: PENTATOMIDAE)

EFFECT OF A SOLUTION OF SACAROSE AND HONEY ON NYMPHAL DEVELOPMENT OF THE PREDATOR Podisus nigrispinus (DALLAS) (HETEROPTERA: PENTATOMIDAE)

RESUMO

Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) é um percevejo predador encontrado em sistemas agrícolas e florestais. Visando melhorar a eficiência de criação massal dessa espécie em laboratório, este trabalho objetivou avaliar o efeito do fornecimento de uma solução à base de sacarose e mel, como alternativa ao suprimento de água para ninfas desse percevejo. Para cada tratamento foram realizadas 40 repetições, com ninfas de segundo estádio de P. nigrispinus, individualizadas em placas de Petri de 9,0 x 1,5 cm. Em ambos os tratamentos, as ninfas, desse predador, foram alimentadas com pupas de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) recebendo, ainda, em um deles, somente água e, no outro, uma solução contendo mel (5 g), sacarose (60 g), ácido ascórbico (0,5 g) e nipagin (0,4 g) em 500 ml de solução. Não houve diferença entre a duração e o peso de ninfas, em todos os estádios, exceto no quinto, sendo que aquelas que originaram fêmeas e que receberam, apenas, água foram mais pesadas que as que receberam a solução. Na fase adulta, em ambos os tratamentos, as fêmeas de P. nigrispinus foram mais pesadas que os machos, não se observando diferença para indivíduos do mesmo sexo entre tratamentos. Em todos os estádios, a viabilidade das ninfas que receberam, apenas água foi maior, com, aproximadamente 90% nesse tratamento, enquanto no outro isto foi de 55%. Isto mostra que, apesar de não apresentarem diferenças no peso de ninfas e na duração do período ninfal, a viabilidade dessa fase é, significativamente, reduzida pela adição de mel e sacarose, como alternativa ao suprimento de água para esse predador.

Palavras-chaves
Predador; Podisus nigrispinus; alimentação

ABSTRACT

Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) is a predator found in agricultural and forest habitats. The objective of this research was to evaluate the effect of a sacarose and honey solution as an alternative to water supply for this insect. Treatments had 40 replicates each one starting with a second instar nymph of P. nigrispinus individualized in Petri dishes with 9.0 x 1.2 cm. Nymph of both treatments were fed with Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) pupae and water or with a water solution with honey (5g), sacarose (60g), ascorbic acid (0.5g) and nipagin (0.4g). Duration of the nymphal period and weight of nymphs of P. nigrispinus were similar except for the fifth instar where the nymphs in the treatment receiving only water originated heavier females than those which received the water solution. Females in both treatments were heavier than males, but no diferences were found for individuals of the same sex between treatments. Viability of nymphs of P. nigrispinus receiving only water was higher with total viability of 90% while this value reached only 55% in the other treatment. Even though no diferences in weight and duration of the nymphal period were found between treatments, number of adults of P. nigrispinus obtained in the treatment with honey and sacarose was lower than that with water.

Key-words:
Predator; Podisus nigrispinus; food.

INTRODUÇÃO

Percevejos predadores do gênero Podisus ocorrem em todo o Continente Americano (THOMAS, 1992), sendo citados no Brasil, como inimigos naturais de pragas agrícolas e florestais (GRAVENA & LARA, 1982; TEIXEIRA & VILLA, 1987; FARIA et al., 1993; ZANUNCIO et al., 1993a). Aspectos biológicos de espécies desse gênero, principalmente de Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae), tem sido estudados visando otimizar a criação massal desses insetos, pois os mesmos apresentam potencial para o controle biológico muito além do utilizado atualmente (TORRES et al., 1996).

Carboidratos podem servir de fagoestimulantes em dietas artificiais (PARRA, 1991), sendo que BUENO (1982) usou uma solução à base desses compostos para a criação de percevejos predadores. Por outro lado, SAAVEDRA et al. (1996; 1997) e ZANUNCIO et al. (1996a), buscaram melhorar o valor nutritivo de uma dieta artificial, com a adição de mel a mesma. Portanto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito do fornecimento de uma solução contendo mel e sacarose, em comparação à água destilada, no desenvolvimento ninfal de P. nigrispinus.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi realizado no Laboratório de Controle Biológico do Núcleo de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária (BIOAGRO), da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, Minas Gerais, em câmara climatizada à temperatura de 25 ± 1 ºC, 70 ± 10% de umidade relativa e 12 horas de fotofase.

Tabela 1
Média (M) e erro padrão (EP) da duração (dias) dos estádios ninfais de Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) alimentado com pupas de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae), e suprido com solução de sacarose e mel (T1) ou água (T2), a 25 ± 1ºC, 70 ± 10% de umidade relativa e fotofase de 12 horas.

Tratamento	Sexo	Dura ª o dos EstÆdios
			II	III	IV	V
		M	4,00	3,15	3,38	5,77
	Macho	EP	0,32	0,34	0,18	0,18
T1		M	3,89	3,33	3,22	5,89
	FŒmea	EP	0,17	0,14	0,12	0,09
		M	3,81	3,71	3,86	5,71
T2	Macho	EP	0,11	0,37	0,26	0,17
		M	4,53	3,73	3,93	5,73
	FŒmea	EP	0,39	0,42	0,29	0,22

• ^*
  - Não houve diferença significativa entre as médias da duração dos estádios.

Tabela 2
Média (M) e erro padrão (EP) do peso de ninfas e de adultos, um dia após a emergência, de Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) alimentado com pupas de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae), e suprido com solução de sacarose e mel (T1) ou água (T2), a 25 ± 1ºC, 70 ± 10% de umidade relativa e fotofase de 12 horas.

Tratamento	Sexo	Peso (mg)/EstÆdio
	Macho	M	II 0,87a	III 4,22a	IV 12,47a	V 25,93a*	Adulto 46,44a*
		EP	0,02	0,45	1,42	3,11	2,27
T1	FŒmea	M	0,93a	3,39a	10,87a	26,07b	60,80a
		EP	0,02	0,41	1,13	0,91	2,02
	Macho	M	0,90a	4,38a	12,77a	29,46a*	47,59a*
		EP	0,02	0,47	1,38	2,55	2,22
T2	FŒmea	M	0,87a	4,73a	15,19a	39,99a	69,39a
		EP	0,02	0,52	1,25	2,95	3,06

Médias seguidas de mesma letra, na coluna, para indivíduos do mesmo sexo são estatisticamente semelhantes a 5% de probabilidade pelo teste “ t” e seguidas de
• ^*
  são diferentes entre sexos dentro de cada tratamento.

Ninfas de segundo estádio de P. nigrispinus foram pesadas e acondicionadas, individualmente, em placas de Petri de 9,0 x 1,5 cm, e submetidas a dois tratamentos. Em um deles, quarenta ninfas receberam pupas de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) e uma solução contendo sacarose (60 g), mel (5 g), ácido ascórbico (0,5 g) e nipagin (0,4 g) em 500 ml de água (T1). No outro tratamento, com a mesma presa e número de ninfas de P. nigrispinus, foi fornecida somente água destilada (T2).

Figura 1
Viabilidade dos estádios e da fase ninfal de Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) com pupas de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) e solução de sacarose e mel (T1) ou água (T2), a 25 ± 1ºC, 70 ± 10% de umidade relativa e fotofase de 12 horas.

Os dados foram submetidos ao teste de normalidade de Lilliefors, e as médias de duração dos estádios e do peso das ninfas de P. nigrispinus comparadas pelo teste

“ t ”, enquanto a viabilidade da fase ninfal, desse predador, foi analisada pelo teste de Wilcoxon.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A duração dos estádios de P. nigrispinus (Tabela 1) não apresentou diferenças significativas entre tratamentos, com resultados semelhantes àqueles obtidos por ZANUNCIO et al. (1993a) que foram de 4,93; 4,06; 4,13 e 6,39 e por ZANUNCIO et al. (1993b) de 4,9; 4,4; 4,9 e 5,8 dias, para os segundo, terceiro, quarto e quinto estádios, respectivamente, mas esses últimos autores trabalharam com cinco ninfas de P. nigrispinus, por placa de Petri de 9,0 x 1,5 cm.

O peso de P. nigrispinus (Tabela 2), nos primeiros estádios, foi semelhante entre tratamentos e sexos. No entanto, no quinto estádio as fêmeas do tratamento T2 foram mais pesadas que aquelas do tratamento T1. Além disso, nos dois tratamentos, ninfas de P. nigrispinus que originaram fêmeas foram mais pesadas que aquelas que originaram machos, o que foi mantido na fase adulta. Tais resultados foram semelhantes àqueles obtidos por ZANUNCIO et al. (1993b), de 39,9 e 59,0 mg para machos e fêmeas, respectivamente, de P. nigrispinus alimentado com larvas de Musca domestica L. (Diptera: Muscidae), na densidade de cinco ninfas desse predador por placa de Petri de 9,0 x 1,5 cm. A viabilidade (Figura 1), em todos os estádios, apresentou diferenças significativas entre tratamentos, sempre com valores menores para ninfas de P. nigrispinus que receberam a solução de sacarose e mel. A viabilidade do período ninfal foi de 55,0 e de 90,0% para os tratamentos T1 e T2, respectivamente, mostrando assim, acentuado efeito deletério da adição de sacarose e mel, ao invés do suprimento de, apenas, água para ninfas de P. nigrispinus. Os resultados obtidos com as ninfas, desse predador, que receberam água são semelhantes aos de ZANUNCIO et al. (1996b), de 92,0%, e de DIDONET et al. (1995) de 85,0%, trabalhando, também, com P. nigrispinus.

A menor viabilidade das ninfas de P. nigrispinus que receberam sacarose e mel, ao invés de água, talvez possa ser explicada pela ocorrência de desequilíbrio nutricional na dieta desse percevejo, em conseqüência do enriquecimento relativo de carboidratos na dieta. Segundo CHAPMAN (1969), o crescimento, a muda, a forma do corpo ou, ainda, a reprodução de insetos podem ser afetados, negativamente, por taxas inadequadas ou pelo desbalanceamento de nutrientes no alimento.

CONCLUSÃO

A adição de sacarose e mel, como suplemento à dieta de percevejos predadores, afetou negativamente o desenvolvimento de P. nigrispinus. Por isto, recomenda-se que esse predador receba, apenas, água além de presa durante sua fase ninfal e adulta.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçomento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária (BIOAGRO), da Universidade Federal de Viçosa.

LITERATURA CITADA

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Abr 2024
• Data do Fascículo
  Jan-Dec 2000