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Indice de eficiência de micronutrientes em espécies arbóreas - Floresta Ombrófila Mista Montana/Paraná

Efficiency index of micronutrients in tree species in a Mixed Araucaria Forest/ Paraná state

Resumo

O trabalho aqui apresentado teve como objetivo principal caracterizar o Índice de Eficiência de Micronutrientes (IEM) nos componentes da biomassa acima do solo (DAP ≥ 10,0 cm) das espécies arbóreas da Floresta Ombrófila Mista Montana, General Carneiro/PR, utilizando 20 unidades amostrais primárias de 12 m x 12 m. Houve uma variação dos IEM entre as espécies arbóreas, bem como entre os componentes da biomassa acima do solo (fuste = madeira do fuste + casca; folhas e total = fuste + galhos + folhas). As espécies que apresentaram altos IEM para a produção de fuste foram as mesmas para a produção de componentes lenhosos (fuste + galhos), exceto Myrsine ferruginea; Schinus terebinthifolius e Calyptranthes concinna.

Palavras-chave:
Espécies Arbóreas; Eficiência de Nutrientes; Floresta com Araucária

Abstract

The main objective of this study was to characterize the efficiency index of micronutrients in the tree species biomass in a Mixed Araucaria Forest through 20 primary sample plots of 12 m x 12 m. The efficiency index of micronutrients (EIM) between the tree species, like between the up ground biomass components (stem = wood stem + bark; leaves and total = stem + branch + leaves) varied. The species that showed hight EIM for the stem production were the same that show for the woody components production (stem + branches), except for Myrsine ferruginea; Schinus terebinthifolius and Calyptranthes concinna.

Key words:
Tree species; nutrients efficiency; Araucaria Forest

Introdução

A determinação da eficiência de utilização de macro e micronutrientes em uma determinada espécie florestal podem ser definidas como a quantidade de matéria seca produzida (kg) por kg de nutriente utilizado (Hansen & Baker, 1979HANSEN, E.A.; BAKER, J.B. Biomass and nutrient removal in short rotation intensively cultured plantations. Annual Meeting American Poplars Council, Thompsomville, 1979. p. 130-151.).

Conforme Blair (1993)BLAIR, G. Nutrient efficiency - what do we really mean?. Genetic aspects of plant mineral nutrition. Boston: Kluwer Academic, 1993. p.205-213., espécies eficientes no uso de nutrientes são aquelas que apresentam capacidade em absorvê-los da rizosfera, incorporá-los e utilizálos para a produção de biomassa acima e/ou abaixo do solo. Determinada espécie pode ser eficiente conforme de três critérios: a) eficientes na absorção de nutrientes - baseado na capacidade da raiz em retirar os nutrientes do solo; b) eficiente na translocação de nutrientes - baseado na capacidade de produzir biomassa acima do solo e c) eficiente na utilização de nutrientes - baseado na capacidade de produzir biomassa acima do solo e abaixo do solo.

A seleção de material genético que melhor se adapte à condição de baixa fertilidade do solo tem sido uma preocupação constante, sendo desejáveis espécies, com maior capacidade de absorver e utilizar os nutrientes (Morais et al., 1990MORAIS, E.J.; BARROS, N.F.; NOVAIS, R.F.; BARNDI, R.M. Biomassa e eficiência nutricional de espécies de eucalipto em duas regiões bioclimáticas de Minas Gerais. Revista Brasileira de Ciência do Solo, V. 14, (3), p. 353-362, 1990.). A avaliação da eficiência de utilização de nutrientes por parte da diferentes espécies florestais, procedências, e/ou clones, é um parâmetro para auxiliar o silvicultor no momento de optar pelo material a ser utilizado nos reflorestamentos (Caldeira et al., 2002CALDEIRA, M.V.W.; RONDON NETO, R.M.; SCHUMACHER, M.V. Avaliação da eficiência nutricional de três procedências australianas de acácianegra (Acacia mearnsii De Wild.). Revista Árvore, Viçosa, MG, V. 26, (5), p.615-620, 2002.; Caldeira, 2003CALDEIRA, M.V.W. Determinação de biomassa e nutrientes em uma Floresta Ombrófila Mista Montana em General Carneiro, Paraná. Curitiba, 2003. 176p. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) - Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.; Caldeira et al., 2004CALDEIRA, M.V.W.; RONDON NETO, R.M.; SCHUMACHER, M.V. Eficiência do uso de micronutrientes e sódio em três procedências de acácianegra (Acacia mearnsii De Wild.). Revista Árvore, V. 28, (1), p.39-47, 2004.).

Do ponto de vista nutricional, Furlani et al. (1984)FURLANI, A.M.C.; CLARK, R.B.; MARANVILLE, J.W.; ROSS, W.M. Sorghum genotype differences in phosphorus uptake, phosphorus efficiency, phosphorus mobilization and utilization. Journal of Plant Nutrition, V. 7, (7), p. 1113-1126, 1984. conceituaram como uma espécie/genótipo superior, àquela capaz de desenvolver e ter uma boa produção em condições desfavoráveis de fertilidade do solo, tendo habilidade de absorver os nutrientes necessários, em menor quantidade, e/ou distribuí-los de uma maneira mais eficiente nos diversos componentes da planta, sem comprometer a produtividade. A maior ou menor eficiência de uso de nutrientes das diferentes espécies arbóreas pode ser o reflexo de uma adaptação às perdas anuais e ao aumento da reutilização dos mesmos (Schumacher, 1995SCHUMACHER, M.V. Naehrstoffkreislauf in verschiedenen Bestaeden von Eucalyptus saligna (Smith), Eucalyptus dunnii (Maiden) und Eucalyptus globulus (Labillardière) in Rio Grande do Sul, Brasilien. Wien, Austria: Universitäet für Bodenkultur, 1995. 167f. Tese (Doutorado em Ecologia e Nutrição Florestal) - Universitäet für Bodenkultur.). No entanto, uma menor devolução de serapilheira, principalmente de folhas, e o alto índice de redistribuição de alguns nutrientes antes da queda das folhas, são estratégias que as espécies podem utilizar para aumentar a conservação de nutrientes nos componentes das árvores (Caldeira, 2003CALDEIRA, M.V.W. Determinação de biomassa e nutrientes em uma Floresta Ombrófila Mista Montana em General Carneiro, Paraná. Curitiba, 2003. 176p. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) - Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.).

A eficiência de utilização de nutrientes varia em função da idade das espécies (Pereira et al., 1984PEREIRA, A.R.; BARROS, N.F.; ANDRADE, D.C.; CAMPOS, P.T.A. Concentração e distribuição de nutrientes em Eucalyptus grandis em função da idade, cultivado na região do cerrado. Brasil Florestal, Brasília, n.59, p. 27-38, 1984.; Schumacher, 1995SCHUMACHER, M.V. Naehrstoffkreislauf in verschiedenen Bestaeden von Eucalyptus saligna (Smith), Eucalyptus dunnii (Maiden) und Eucalyptus globulus (Labillardière) in Rio Grande do Sul, Brasilien. Wien, Austria: Universitäet für Bodenkultur, 1995. 167f. Tese (Doutorado em Ecologia e Nutrição Florestal) - Universitäet für Bodenkultur.). Segundo Negi & Sharma (1984)NEGI, J.D.S.; SHARMA, D.C. Distribution of nutrient in ages series of Eucalyptus globules plantations in Tamil Nadu. Indian Forester, V. 110, (9), p. 944-953, 1984. árvores de Eucalyptus globulus com 5 anos de idade possuem uma tendência de apresentar uma menor eficiência do que árvores com 9 anos de idade. Varia também em função da espécie, sítio, procedências, estágios sucessionais e em plantações puras e consorciadas (Gonçalves et al., 1992GONÇALVES, J.L.M.; KAGEYAMA, P.Y.; FREI- XÊDAS, V.M.; GONÇALVES, J.C.; GERES, W.L.A. Capacidade de absorção e eficiência nutricional de algumas espécies arbóreas tropicais. In: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ESSÊNCIAS NATIVAS: CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE, 2., 1992. São Paulo. Anais... São Paulo: Instituto Florestal, 1992. p. 463-469.; Caldeira et al., 2002CALDEIRA, M.V.W.; RONDON NETO, R.M.; SCHUMACHER, M.V. Avaliação da eficiência nutricional de três procedências australianas de acácianegra (Acacia mearnsii De Wild.). Revista Árvore, Viçosa, MG, V. 26, (5), p.615-620, 2002., 2004).

Neste estudo, deu-se ênfase somente aos aspectos relacionados à eficiencia na translocação de nutrientes. Entretanto, face à relevância do assunto para as espécies florestais, o mesmo precisa ser aprimorado, visando dominar e aprimorar, o conhecimento das estratégias de estabelecimento usado pelas espécies arbóreas no que diz respeito à eficiência de absorção, translocação e utilização de nutrientes.

O trabalho teve como objetivo caracterizar o índice de eficiência de micronutrientes (IEM) nos componentes da biomassa acima do solo (DAP ≥ 10,0 cm) das espécies arbóreas da Floresta Ombrofila Mista Montana, General Carneiro/PR.

Material e Métodos

O estudo foi realizado em uma propriedade das Indústrias Pedro N. Pizzatto, localizada no município de General Carneiro, Paraná, que fica no extremo sul do estado, fazendo divisa com o Estado de Santa Catarina. O município de General Carneiro está localizado na intersecção das coordenadas geográficas 26º 43’ 00 S e 51º 24’ 35 W, com altitude aproximada de 1000 m s.n.m. (Paraná, 1987PARANÁ. Secretária de Estado de Agricultura e Abastecimento, Instituto de Terras, Cartografia e Florestas. Atlas do Estado do Paraná, Curitiba, 1987. 73p.). A área da fazenda onde foi desenvolvido o trabalho é de aproximadamente de 4.570 ha.

Pela classificação de Köeppen, o clima da região é caracterizado como Subtropical Úmido Mesotérmico (Cfb), ou seja, temperado com verões frescos e invernos com ocorrência de geadas severas, sem estação seca. A média das temperaturas do mês mais quente é inferior a 22ºC e a do mês mais frio é superior a 18ºC (Paraná, 1987PARANÁ. Secretária de Estado de Agricultura e Abastecimento, Instituto de Terras, Cartografia e Florestas. Atlas do Estado do Paraná, Curitiba, 1987. 73p.; IAPAR, 1994IAPAR. Cartas climáticas básicas do Estado do Paraná. Londrina, 1994. 49p. (Documentos; 18).). Para Camargo (1988)CAMARGO, J. B. Geografia física, humana e econômica do Paraná. 2. ed. Chichetec, 1998. 207p. o clima da região pode ser considerado como Temperado Semi-Úmido de Altitude.

Em relação ao relevo General Carneiro apresenta 20% de topografia plana, 65% de topografia ondulada e 15% de topografia montanhosa. Nesta região, pelo sistema de classificação de solos da Embrapa (1999)EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999. 412p. os tipos de solos predominantes são os Neossolos Litólicos, Cambissolos (EMBRAPA, 1984EMBRAPA. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Paraná. Londrina: n. 27, t. 1 e 2, 1984.) e Argissolos (Paraná, 1987PARANÁ. Secretária de Estado de Agricultura e Abastecimento, Instituto de Terras, Cartografia e Florestas. Atlas do Estado do Paraná, Curitiba, 1987. 73p.).

Os Neossolos Litólicos são solos minerais, poucos desenvolvidos, formados a partir de diferentes materiais de origem, que se desenvolveram no Estado do Paraná principalmente de rochas eruptivas básicas e intermediárias, rochas ígneas ácidas, folhelhos, filitos e arenitos. Os Cambissolos compreendem solos minerais não hidromórficos com horizonte B câmbico e altos teores de silte (EMBRAPA, 1984EMBRAPA. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Paraná. Londrina: n. 27, t. 1 e 2, 1984.).

Os Argissolos são formados por solos não hidromórficos com horizonte B textural, argiloso com baixa capacidade de troca de cátions, ricos em sesquióxidos de Fe e Al. São solos com predomínios de minerais pesados e teores relativamente elevados de Mn (EMBRAPA, 1984EMBRAPA. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Paraná. Londrina: n. 27, t. 1 e 2, 1984.).

No primeiro semestre de 2001, o Laboratório de Inventário Florestal/UFPR realizou o inventário florestal, utilizando o método de amostragem de área fixa e o processo sistemático (Watzlawick, 2003WATZLAWICK, L.F. Estimativa de biomassa e carbono em Floresta Ombrófila Mista e plantações florestais a partir de dados de imagens do satélite IKONOS II. Curitiba, 2003. 120f. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) - Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.), no qual foram localizadas e medidas 70 unidades amostrais (UAs) de 25 m x 100 m, numeradas de 1 a 70.

Destas 70 UAs, conforme Watzlawick (2003)WATZLAWICK, L.F. Estimativa de biomassa e carbono em Floresta Ombrófila Mista e plantações florestais a partir de dados de imagens do satélite IKONOS II. Curitiba, 2003. 120f. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) - Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná. foram sorteadas aleatoriamente 20 para a quantificação de biomassa do presente estudo. Nestas, foram localizadas subunidades amostrais de 12 m x 12 m (unidade amostral primária - UAP).

A quantificação de biomassa acima do solo (DAP ≥ 10,0 cm) foi realizada durante o primeiro semestre de 2001 (janeiro a julho).

Nas UAPs foram cortadas e medidas todas as árvores com DAP ≥ 10,0 cm para a determinação de biomassa acima do solo. De cada árvore foram medidas ou pesadas as seguintes variáveis: CAP (circunferência à altura do peito); altura total; altura comercial (ponto de inversão morfológica); comprimento, largura e espessura da casca; peso verde da casca, da madeira do fuste, das folhas, dos galhos e da miscelânea (musgos, liquens, lianas, bromélias, orquídeas). Durante a coleta foram quantificados também flores e frutos, mas devido à pequena quantidade de material, não possuindo muitas vezes amostras suficientes para as análises de macro e micronutrientes, eles foram agrupados no componente miscelânea.

Os materiais coletados em cada UAP foram pesados separadamente no campo. Depois de pesado cada componente da árvore (madeira do fuste, casca, galhos, folhas e miscelâneas), foram retiradas amostras de aproximadamente 300 g. Para a amostra de madeira do fuste foram retirados dois discos de aproximadamente 5,0 cm de espessura, sendo o primeiro a 0,5 m de altura acima do corte da árvore e o segundo a 0,5 m abaixo do ponto de inversão morfológico. Para a amostra de casca foram utilizados os mesmos discos da amostra de madeira do fuste. Em cada disco amostrado foi separada a casca da madeira do fuste. A biomassa total de casca foi estimada utilizando relações de fator de casca (Watzlawick, 2003WATZLAWICK, L.F. Estimativa de biomassa e carbono em Floresta Ombrófila Mista e plantações florestais a partir de dados de imagens do satélite IKONOS II. Curitiba, 2003. 120f. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) - Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.). Somente foram considerados como galhos, aqueles que estavam acima do ponto de inversão morfológico. Para os galhos foram retiradas amostras em todos os diâmetros e em todas as alturas de copa. No que se refere às folhas, foram retiradas amostras na parte superior, intermediária e inferior da copa.

As amostras de cada componente foram acondicionadas e colocadas em estufa de circulação e renovação de ar forçada, para secagem à temperatura de 75ºC por um período de 72 horas, para a determinação da massa seca.

Todos os indivíduos amostrados no estudo tiveram seu material vegetativo e quando possível reprodutivo, coletados para serem submetidos aos processos de herbarização, conforme as recomendações do IBGE (1992)IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro, 1992. 92p.. O material herbarizado foi identificado no Laboratório de Inventário Florestal do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná.

A determinação da biomassa por espécie e por componente foi realizada através do somatório de cada espécie amostrada e a biomassa por unidade de área (ha) foi calculada a partir da biomassa média das UAPs.

Das espécies amostradas que apresentavam mais de três exemplares, foram selecionados três (com maior, médio e menor DAP) e das que tinham menos de três, todos foram usados para a determinação do teor de macronutrientes nos componentes da biomassa acima do solo (DAP ≥ 10,0 cm). Para a determinação dos macronutrientes na casca e na madeira do fuste foi utilizada a média de duas amostras.

As amostras de cada componente da biomassa foram secas em estufa de circulação e renovação de ar a 75°C e em seguida trituradas em moinho do tipo Wiley, passadas em peneiras de malha 1,0 mm (20 mesh) e armazenadas em frascos de vidros para subseqüente análise química (Miyazawa et al., 1999MIYAZAWA, M.; PAVAN, M.A.; MURAOKA, T.; CARMO, C.A.F.S.; MELLO, W.J. Análises químicas de tecido vegetal. In: SILVA, F.C. (Ed). Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes. Brasília: Embrapa Solos, 1999. p. 171-223.).

Os extratos de tecido vegetal de Cu, Zn, Fe e Mn foram obtidos por digestão úmida, solução nítricaperclórica. As análises de B feitas por digestão seca. No espectrofotômetro de absorção atômica (EAA) foram determinados os teores de Cu, Zn, Fe e Mn. O teor de Boro foi determinado no espectrofotômetro visível (VIS) (Tedesco et al., 1995TEDESCO, M.J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C.A.; BOHNEN, H.; VOLKWEISS, S.J. Análise de solos, plantas e outros materiais. Porto Alegre: UFRG, Departamento de Solos/Faculdade de Agronomia, 1995. 174p. (Boletim Técnico; 5).; Miyazawa et al., 1999MIYAZAWA, M.; PAVAN, M.A.; MURAOKA, T.; CARMO, C.A.F.S.; MELLO, W.J. Análises químicas de tecido vegetal. In: SILVA, F.C. (Ed). Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes. Brasília: Embrapa Solos, 1999. p. 171-223.).

A quantidade dos micronutrientes em kg/espécie-1 nos componentes da biomassa foi calculada através da multiplicação da biomassa (kg/espécie-1) pelo teor de micronutrientes determinado para cada componente (madeira do fuste, casca, galhos, folhas e miscelânea). A soma dos valores dos micronutrientes para cada componente da biomassa forneceu a quantidade total (Mg.ha-1) dos mesmos.

Para estimar o Índice de Eficiência de Micronutrientes (IEM) para os diferentes componentes da biomassa acima do solo (DAP ≥ 10,0 cm), foi utilizada a fórmula proposta por HANSEN e BAKER (1979)HANSEN, E.A.; BAKER, J.B. Biomass and nutrient removal in short rotation intensively cultured plantations. Annual Meeting American Poplars Council, Thompsomville, 1979. p. 130-151., sendo:

IEMicronutrientes = B N

Onde:

IEMicronutrientes = Índice de Eficiência de Micronutrientes

BP = kg de biomassa produzida

NU= kg de nutriente utilizado

Foram coletadas amostras simples de solo em uma das três unidades amostrais secundárias (UASs) (1 x 1 m), ou seja, das vintes unidades amostrais secundárias (UASs) (1 x 1 m), foram utilizadas catorze, para a coleta do solo na profundidade de 0-20 cm com objetivo de caracterizar algumas propriedades físicas e químicas do solo (Tabela 1). O fato de se utilizarem catorze e não vinte unidades devem-se a certas dificuldade tais como a presenca expressiva de calhaus. Para a realização das análises foi utilizada a metodologia de Tedesco et al. (1995)TEDESCO, M.J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C.A.; BOHNEN, H.; VOLKWEISS, S.J. Análise de solos, plantas e outros materiais. Porto Alegre: UFRG, Departamento de Solos/Faculdade de Agronomia, 1995. 174p. (Boletim Técnico; 5)..

Table 1
Valores médios da análise do solo (camada superficial 0-20 cm) da área de estudo - Floresta Ombrófila Mista Montana.
Table 1
Soil analysis medium values from studied area from the - Mixed Araucaria Forest.

Conforme a classificação do IBGE (1992)IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro, 1992. 92p., a formação florestal original da área de estudo é classificada como Floresta Ombrófila Mista Montana. Contudo, devido às diversas atividades antrópicas a vegetação se encontra em diferentes estágios sucessionais.

Na Figura 1 pode-se observar ao uso do solo da área de estudo, com as respectivas localizações das parcelas.

Resultados e Discussão

As espécies amostradas na floresta em estudo apresentaram comportamento bem diferenciado no que se refere ao IEM, bem como nos componentes da biomassa (Tabelas 2, 3 e 4).

Para a produção de biomassa total, as espécies que apresentaram índice de eficiência alta de B e Cu foram, Lamanonia ternata, Mimosa scabrella, e Myrcia sp.; Xylosma sp., Vernonia discolor e Ilex microdonta. No entanto, as espécies que apresentaram índice de eficiência baixa de B foram Sapium glandulatum, Clethra scabra, Jacaranda puberula e Dicksonia sellowiana (Tabela 2).

Das 39 espécies estudadas apenas cinco espécies apresentaram índice de eficiência alta de B para a produção de biomassa de fuste e uma espécie para produção de folhas (Clethra scabra) e três espécies (Casearia decandra, Sebastiania brasiliensis e Vernonia discolor) apresentaram índice de eficiência baixa de B para a produção de biomassa de folhas.

Em relação ao índice de eficiência do Cu para a produção de biomassa de fuste, as espécies Ilex microdonta e Vernonia discolor apresentam índice de eficiência alta desse micronutriente para a produção de biomassa em relação às outras espécies. As espécies Dicksonia sellowiana e Schinus terebinthifolius apresentam índice de eficiência baixa de Cu para a produção do fuste. Sebastiania commersoniana seguida da Araucaria angustifolia foram as espécies que apresentaram índice de eficiência alta de Cu para a produção de biomassa de folhas e Vernonia discolor seguida de outras com baixo índice de eficiência.

O índice de eficiência de Fe para a produção de biomassa entre as espécies apresentou certa similaridade entre os componentes, principalmente na produção de biomassa de folhas e total. O índice de eficiência de Mn para a produção de biomassa total também apresentou uma certa similaridade entre as espécies. Na produção de biomassa total, a Tabela 3 mostra que Symplocos celastrina apresentou índice de eficiência de Fe alta para a produção de biomassa total, porém Allophyllus edulis e Sebastiania commersoniana índice de eficiência de Mn alta para a produção de biomassa total.

Tabela 2
Índice de Eficiência de B e Cu nos componentes da biomassa acima do solo - Floresta Ombrófila Mista Montana.
Table 2
Efficiency index of B and Cu in the above-ground components - Mixed Araucaria Forest.
Tabela 3
Índice de Eficiência de Fe e Mn nos componentes da biomassa acima do solo - Floresta Ombrófila Mista Montana.
Table 3
Efficiency index of Fe and Mn in the above-ground components - Mixed Araucaria Forest.
Tabela 4
Índice de Eficiência de Zn nos componentes da biomassa acima do solo - Floresta Ombrófila Mista Montana.
Table 4
Efficiency index of Zn in the above-ground components - Mixed Araucaria Forest.

Figura 1
Uso do solo e localização das unidades amostrais na Floresta Ombrófila Mista Montana.
Figure 1
Soil use and the site of the sample units.

Para a produção do fuste, Xilosma sp., Quillaja brasiliensis, Prunus brasiliensis, Symplocos celatrina, Vernonia discolor, Nectandra megapotamica e Ilex microdonta foram consideradas espécies que apresentaram índice de eficiência alta de Fe. Para a produção de folhas somente duas espécies apresentaram índice de eficiência de Mn alta e cinco espécies com índice de eficiência baixo.

Algumas espécies como Symplocos celastrina, Myrcia sp, Mimosa scabrella e Dicksonia sellowiana apresentaram índice de eficiência de Mn baixo para a produção de biomassa de fuste. Para a produção de biomassa de folhas, o gênero Sebastiania em relação aos outros gêneros, bem como a outras espécies apresentou índice de eficiência de Mn alta para a produção de biomassa foliar.

A Tabela 4 mostra que as espécies Myrcia sp, Sloanea lasiocoma e Calyptranthes concinna apresentaram alto índice de eficiente de Zn para a produção de biomassa total, bem como para outros componentes. Das 39 espécies estudadas, quatro e três apresentaram alto índice de eficiência de Zn para a produção de biomassa de fuste e folhas, respectivamente.

Conclusões

Houve uma variação nos índices de eficiência de micronutrientes entre as espécies arbóreas, bem como entre os componentes da biomassa acima do solo (fuste = madeira do fuste + casca; folhas e total = fuste + galhos + folhas)

As espécies que apresentaram alto índice de eficiência de micronutrientes para a produção de biomassa de madeira do fuste foram as mesmas para a produção de componentes lenhosos (fuste + galhos), exceto Myrsine ferruginea; Schinus terebinthifolius e Calyptranthes concinna;

O estoque de micronutrientes de determinadas espécies arbóreas, assim como o índice de eficiência de micronutrientes, podem ser referência para pesquisas e interpretações quanto às necessidades nutricionais e manejo de povoamentos plantados.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Dr. Profº Carlos Roberto Sanquetta DCF/UFPR, pela oportunidade de participar do Projeto Ecólogico de Longa Duração - PELD Site 9 Bioma Floresta de Araucária e suas Transições e pelo auxílio financeiro, bem como às Industrias Pedro N. Pizzato Ltda, pelo apoio institucional a todos os seus funcionários.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2006

Histórico

  • Recebido
    25 Nov 2004
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