1 INTRODUÇÃO
As árvores de Pinus taeda ocorrem naturalmente em 15 estados americanos, de Delaware a Florida, incluindo a região leste do Texas, no sul do EUA, em altitudes de 0 a 700 m, juntamente com P. echinata, P. elliottii, P. glabra, P. palustris e P. serotina. Em sua área de ocorrência natural, as árvores de Pinus taeda podem atingir diâmetro do tronco de 152 cm e altura total de 45 m, incluindo-se no grupo das espécies conhecidas como “pinheiros amarelos”, introduzidas no Brasil em 1880 e em ensaios experimentais em 1936, no estado de São Paulo, pelo Serviço Florestal do Estado de São Paulo (Shimizu, 2006).
O rápido crescimento das árvores de Pinus taeda, aliado às características e qualidade da sua madeira (polpa e papel, chapas, construção civil, mobiliário etc.), resultou na expansão das plantações florestais a partir da década de 1960, com a lei de incentivos fiscais, substituindo a Araucaria angustifolia nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo (Kronka et al., 2005). Atualmente há mais de 1,6 milhão de hectares plantados com Pinus no Brasil, com cerca de 70% das plantações nos estados do Paraná e Santa Catarina, sendo o P. taeda a principal espécie (ABRAF, 2013).
No entanto, algumas características das árvores da espécie, como a facilidade dos tratos culturais, rápido crescimento, associação com fungos micorrízicos – proporcionando o estabelecimento das árvores em solos pobres e ácidos –, produção de massiva quantidade de sementes pequenas e aladas dispersas pelo vento a longas distâncias, tolerância à sombra, curto período de juvenilidade e maior longevidade as incluem como de risco de invasão biológica (Shimizu, 2006; Instituto Hórus, 2016; Richardson & Higgins, 1998; Richardson et al., 2000; Richardson, 2006; Zenni & Ziller, 2011).
Assim, a literatura registra áreas de invasão biológica das árvores de Pinus taeda nos campos gerais no Paraná e em Santa Catarina, no cerrado em São Paulo, na restinga em Santa Catarina, nos pampas no Rio Grande do Sul e nos campos de altitude no Paraná, dentre outros (Ziller, 2001; Bechara, 2003; Mahmoud et al., 2015; Pivello, 2015; Abreu, 2015; Mocochinski, 2006; Vashchenko et al., 2007; Foelkel & Foelkel, 2008; Falleiros et al., 2011; Zenni & Simberloff, 2013; Miashike, 2015; Ramos, 2015).
A formação de anéis de crescimento anuais no lenho do tronco das árvores de Pinus taeda, a exemplo de inúmeras espécies de coníferas, como resultado da sazonalidade da atividade cambial e variação das condições climáticas (Tomazello et al., 1999), constitui importante ferramenta na avaliação espacial-temporal do processo de invasão biológica. Pela aplicação da análise dos anéis de crescimento são relatadas, na literatura especializada, árvores de Pinus taeda com 191 a 241 anos em sua área de ocorrência natural na Carolina do Norte e na Calorina do Sul, EUA (Pederson et al., 1997; Barefoot & Hafley, 2015).
Pelo exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a dispersão espacial e temporal de sementes de árvores de regeneração natural de Pinus taeda através do estudo dos anéis de crescimento anuais, na região de Faxinal do Céu, PR. O trabalho visou, também, comprovar a idade e determinar a taxa de crescimento do tronco das árvores das plantações florestais – data da germinação, área de dispersão das sementes e taxa de crescimento do tronco das árvores – e da área de regeneração natural.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Caracterização do local de estudo
O trabalho foi desenvolvido em área da Companhia Paranaense de Energia Elétrica – COPEL, município de Pinhão, distrito de Faxinal do Céu, estado do Paraná, latitude 25o59’48,47” S, longitude 51o40’2” O e altitude de 826 m. De acordo com Köppen, a região está inserida na unidade climática Cfb, clima subtropical úmido (mesotérmico), com média do mês mais quente inferior a 22 ºC e do mês mais frio inferior a 18 ºC, sem estação seca, verão brando, geadas severas e frequentes (Figura 1).
2.2 Caracterização das árvores de Pinus taeda
Foram selecionadas árvores de Pinus taeda em áreas de plantação (datadas de 1975 e 1977) – sem manejo florestal – e de regeneração natural. Nas cinco áreas de regeneração natural de Pinus taeda foram selecionadas e demarcadas duas parcelas (20 x 20 m), exceto na área de regeneração natural n. 04, para a coleta das amostras do lenho e avaliação da frequência e do diâmetro do tronco das árvores (Figura 1C, D). A distância entre as áreas de plantação e de regeneração natural das árvores de Pinus taeda foi determinada para a avaliação da dispersão de suas sementes (Tabela 1).
Tabela 1 Distância e localização das áreas de plantação e de regeneração natural das árvores de Pinus taeda.
Table 1 Distance and location of the plantation and natural regeneration areas of Pinus taeda trees.
ORIGEM | LOCALIZAÇÃO | DISTÂNCIA (m) | |
---|---|---|---|
PL1 | PL 2 | ||
Plantação 1 (PL1) | 25o 59’ 39,80” S 51o 39’ 44,50” O |
- | 420 |
Plantação 2 (PL2) | 25o 59’ 40,69” S 51o 40’ 00,28” O |
420 | - |
Regeneração natural 1 (RN1) | 25o 59’ 50,20” S 51o 39’ 55,90” O |
427,2 | 303,3 |
Regeneração natural 2 (RN2) | 25o 59’ 48,50” S 51o 40’ 07,00” O |
662,0 | 295,5 |
Regeneração natural 3 (RN3) | 25o 59’ 45,30” S 51o 39’ 50,60” O |
223,6 | 297,1 |
Regeneração natural 4 (RN4) | 26o 00’ 00,90” S 51o 40’ 30,20” O |
1410,2 | 967,2 |
Regeneração natural 5 (RN5) | 26o 00’ 13,03” S 51o 39’ 54,18” O |
1011,7 | 986,2 |
2.3 Coleta e preparo das amostras do lenho das árvores de Pinus taeda
As amostras do lenho do tronco das árvores de Pinus taeda foram coletadas por dois métodos: destrutivo – corte das árvores e utilização dos discos do lenho de diferentes alturas do tronco na análise dos anéis de crescimento para a determinação da idade e reconstrução do incremento radial-longitudinal – e método não destrutivo – extração de 3 a 4 amostras do lenho no DAP do tronco das árvores com sondas de Pressler, sendo elas utilizadas, da mesma forma, nas análises dendrocronológicas (Figura 2A, B). Os discos do lenho do tronco das árvores foram secos em laboratório e, em seguida, procedeu-se ao polimento das seções transversais com lixas de diferentes granulometrias (grana 60-600), de forma a permitir a distinção e contraste dos anéis de crescimento. As amostras do lenho obtidas pela sonda de Pressler foram coladas em suporte de madeira (Figura 2C) e suas seções transversais foram polidas com lixas da mesma forma, para evidenciar a estrutura anatômica macroscópica dos anéis de crescimento.
2.4 Análise dos anéis de crescimento das amostras do lenho das árvores de P. taeda
A seção transversal das amostras do lenho das árvores de Pinus taeda foi digitalizada para a demarcação do limite, contagem e mensuração da largura dos anéis de crescimento aplicando-se o programa SAIM (Figura 2D) (Tomazello et al., 1999). A contagem do número dos anéis de crescimento do lenho do DAP do tronco das árvores das plantações (com datas de plantio determinadas) e das de regeneração natural propiciou a determinação da sua idade. Obteve-se, na sequência, o incremento corrente anual (ICA) e o incremento médio anual (IMA) do raio do tronco das árvores de Pinus taeda. Com mensuração da largura dos anéis de crescimento das amostras do lenho, reconstitui-se o crescimento do tronco das árvores em diâmetro e em altura.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Caracterização das árvores de Pinus taeda das plantações florestais
A análise macroscópica da seção transversal do lenho do tronco das árvores de Pinus taeda evidencia a formação de anéis de crescimento distintos e contrastantes, constituídos pelos lenhos inicial e tardio característicos da espécie, fundamentados na anatomia da madeira e na densitometria de raios X e descritos por inúmeros autores como Panshin & Zeeuw (1970), Bucur et al. (1994), Harley et al. (2011) e Zegarra (2011) (Figura 3A). O resultado da contagem do número de anéis de crescimento das árvores de Pinus taeda das plantações florestais indicou idade de 31 a 33 anos, confirmadas pelas datas do plantio.
As árvores de P. taeda das plantações – sem manejo florestal – caracterizam-se por 3 fases distintas do crescimento radial do tronco: inicial (até 7º-9o ano), com anéis de crescimento anuais largos (>15 mm), intermediária (10º-15º ano) e final (16º-31º a 33º ano), com anéis de crescimento anuais estreitos e comprimidos (<5 mm de espessura), indicativos da idade biológica do câmbio – formação da madeira adulta – e da competição pelos fatores de crescimento – água, nutrientes e luz (Figuras 3B, 4). A análise do incremento radial acumulado do tronco das árvores de Pinus taeda das plantações evidencia, da mesma forma, tendência de estagnação nas 3 fases de crescimento, indicativa da ausência da aplicação de desbastes como prática de manejo florestal (Figura 5). Análise do tronco de árvore de Pinus taeda de 31 anos; altura comercial de 19 m; diâmetro da base do tronco de 23 cm propiciou, também, a caracterização da variação da largura dos anéis de crescimento anuais – descrita pelas 3 fases de crescimento nas amostra do lenho da base do tronco – no sentido longitudinal do seu tronco (Figura 3). Da mesma forma, Schneider et al. (2014), mensurando anéis de crescimento do tronco de árvores de Pinus taeda de 24 a 29 anos de plantações sem desbastes em áreas arenizadas e degradadas no Rio Grande do Sul, obtiveram valores próximos ao valor do incremento anual.
3.2 Caracterização da idade e frequência das árvores de P. taeda de áreas de regeneração natural
As árvores de Pinus taeda de regeneração natural amostradas nas 5 parcelas apresentaram significativa variação de idade, diâmetro e altura do tronco. As árvores de 8-17 anos (diâmetro do tronco: 23-49 cm) (RN 5) localizavam-se a 986-1.011 m de distância das plantações; as árvores de 16-25 anos (diâmetro do tronco: 49-57 cm) (RN 3), a 223-297 m das plantações (Tabela 2). A mesma tendência em relação à frequência das árvores de regeneração natural, em função da idade, foi observada nas 5 áreas avaliadas (Figura 6). As árvores de Pinus taeda mais jovens (8-17 anos) das áreas de regeneração natural localizadas mais distantes das plantações florestais são, provavelmente, originárias das árvores adultas localizadas nas parcelas caracterizadas como do primeiro ciclo de regeneração natural (RN3).
Tabela 2 Áreas amostradas, número, idade, diâmetro do tronco, incremento médio anual do tronco das árvores de Pinus taeda de regeneração natural e sua distância das áreas da plantação florestal.
Table 2 Sampled areas, number, age, trunk diameter, mean annual trunk increment of Pinus taeda trees of natural regeneration and its distance from the areas of forestry plantation.
RN | Árvores (número) | Idade (anos) | Diâmetro do tronco (cm) |
IMA (cm) | DISTÂNCIA (m) | |
---|---|---|---|---|---|---|
PL1 | PL 2 | |||||
1 | 6 | 10-18 | 18,8-47,7 | 3,0 | 427,2 | 303,3 |
2 | 8 | 11-17 | 31,5-60,5 | 3,4 | 662,0 | 295,5 |
3 | 5 | 16-25 | 48,7-57,0 | 3,0 | 223,6 | 297,1 |
4 | 3 | 11-16 | 45,5-71,9 | 4,2 | 1410,2 | 967,2 |
5 | 7 | 8-17 | 22,6-49,3 | 3,1 | 1011,7 | 986,2 |
Na avaliação das árvores de Pinus taeda de regeneração natural – caracterizadas como invasão biológica –, em área de altitude do Parque Nacional do Pico Paraná, PR, foi possível determinar, pelos anéis de crescimento, a idade das árvores mais velhas (36 anos). No entanto, não foi observado um padrão definido de distribuição espacial das árvores em classes de idade resultado da variação da intensidade e direção dos ventos dominantes na região (Falleiros et al., 2011), diferentemente do modelo de dispersão de sementes em franja proposto por Legard (2001) e Legard & Paul (2008).
Com a determinação da idade das árvores de Pinus taeda plantadas e de regeneração natural infere-se que a dispersão das sementes – processo de invasão biológica – iniciou-se quando as árvores plantadas atingiram cerca de 8 anos (ano referência 1983). Ainda, a distância da dispersão das sementes aladas das árvores de Pinus taeda por anemocoria foi de 300 m (árvores de 16-25 anos). Nesse sentido, Nathan et al. (2002) determinaram a distância de dispersão de sementes de 200 m a partir de uma plantação de Pinus taeda. Ainda, Brassiolo (1988), Zanchetta et al. (2007) e Richardson & Higgins (1998) indicam que 90% das sementes de pinus dispersam-se a até 75-100 m, podendo chegar a 5-8 km de distância em função da direção e velocidade do vento.
Além da dispersão de significativa quantidade de sementes das árvores de Pinus sp. a longa distância deve ser considerada, também, a sua alta porcentagem de germinação, em muitos casos acima de 90% (Ziller & Galvão, 2002). Bourscheid & Reis (2010) indicam a dispersão de mais de 3 milhões de sementes/ha/ano, com taxa de 90% de emergência de plântulas a partir de plantações de pinus no Parque Florestal do Rio Vermelho, SC; ainda, Bechara et al. (2013) determinaram dispersão de 204 sementes de pinus viáveis/m2/ano com uma taxa de germinação de 90%.
A data do início da regeneração natural das árvores de P. taeda na área RN2 coincide com o período de desativação das instalações prediais que existiam no local. Dessa forma, as áreas de regeneração natural são caracterizadas pela intensa ação antrópica, tais como, construções de estradas e obras civis (Figura 7), apresentando, também, alta frequência de plântulas/m2 em fase inicial de desenvolvimento, comprovando a alta porcentagem de germinação das sementes (Figura 7D). Nesse aspecto, Falleiros et al. (2011) indicam que as árvores do gênero Pinus são predominantemente heliófilas e reconhecidamente invadem ecossistemas abertos, clareiras e áreas desmatadas. Richardson et al. (1994), Grotkopp et al. (2002) e Ramos (2015) reiteram em estudo com espécies de pinus a sua característica como invasora em habitats perturbados e limitados em nutrientes. Ainda, Ziller (2000, 2001) informa que ambientes naturais alterados e a abertura de clareiras em áreas de florestas permitem maior incidência de luz, tornando esses ambientes suscetíveis às espécies invasoras de pinus. As mudanças climáticas globais estão, também, reduzindo o período de florescimento-polinização-maturação dos cones de pinus e aumentando a produção de cones (Mente & Brack-Hanes, 2005).
Nas áreas de regeneração natural de pinus verificou-se o efeito da cobertura vegetal de árvores e arbustos de espécies florestais nativas (ex.: Psidium sp) e exóticas (ex.: Hovenia dulcis) atuando, também, como espécies invasoras e exercendo competição na regeneração das plantas de pinus.
Nesse aspecto, na avaliação da invasão biológica, segundo Burke & Grime (1996) e Cuddington & Hastings (2004), faz-se necessário o conhecimento das características da comunidade-alvo, das espécies invasoras e das modificações do habitat, visando entender a dinâmica e o impacto causado pelas plantas das espécies invasoras.
3.3 Análise comparativa do crescimento em diâmetro e altura das árvores de P. taeda de plantação e de população natural
A comparação das árvores de Pinus taeda de plantação (31 anos) e de regeneração natural (19 anos) evidenciou diferenças na sua morfologia externa. As árvores de pinus das áreas de plantação apresentaram a forma florestal característica (pequena dimensão da copa, tronco cilíndrico com menor diâmetro e maior altura etc.) em resposta à competição pelos fatores de crescimento; as árvores de pinus de regeneração natural apresentaram ramificação mais desenvolvida, tronco cônico com maior diâmetro e menor altura, resultado da maior disponibilidade de nutrientes, água e luz. Essas diferenças da morfologia externa das árvores tornam-se, da mesma forma, claramente expressas pela largura e disposição dos anéis de crescimento no sentido radial-longitudinal do seu tronco (Figura 8).
4 CONCLUSÕES
Os resultados do presente trabalho permitem concluir que: (i) a análise dos anéis de crescimento indicou a idade de 31 e 33 anos das árvores de Pinus taeda das plantações; (ii) as árvores de P. taeda das plantações apresentaram anéis de crescimento anuais mais largos na fase inicial de crescimento do tronco (7º-9o ano) e na intermediária (10º-15º ano), e mais estreitos na fase final de crescimento (16º-31º a 33º ano); (iii) as árvores de P. taeda de regeneração natural apresentaram idade de 8 a 25 anos; as árvores de P. taeda mais jovens (8-17 anos) ocorreram à distância de 986-1.011 m das plantações, enquanto as mais velhas (16-25) anos, a 223-297 m das plantações; (iv) a dispersão das sementes iniciou-se a partir de 1983, quando as árvores de P. taeda da plantação atingiram 8 anos; (v) as áreas de regeneração natural de P. taeda são caracterizadas por intensa ação antrópica; (vi) as árvores de P. taeda da plantação (31 anos) mostraram diferenças significativas na forma florestal e no crescimento em relação às de regeneração natural (19 anos).