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Variabilidade Genética em Populações Naturais de Cassia grandis L. f.

Genetic Variability in Natural Populations of Cassia grandis L. F.

RESUMO

O delineamento de estratégias para a conservação genética de uma espécie requer o conhecimento de aspectos ecológicos e genéticos de suas populações. Assim, este trabalho foi realizado com o objetivo de caracterizar, por meio de marcadores isoenzimáticos, populações naturais de Cassia grandis L.f. A diversidade genética foi analisada a partir das frequências alélicas ( P^ij ) e dos Índices de diversidade: Heterozigose média observada ( H^0 ) e esperada ( H^e ), número médio de alelos por loco ( A^ ) e porcentagem de locos polimórficos (P^); e a estrutura genética por meio das estatísticas F de Wright. Foram estimados o fluxo gênico, o tamanho efetivo das populações e a população mínima viável a curto e longo prazo. Com base nos resultados observados pode-se concluir que as populações estudadas de C. grandis estão estruturadas, o que pode ser comprovado pela observação de alelos raros e exclusivos e da alta diversidade genética entre as mesmas.

Palavras-chave:
canafístula; isoenzimas; estrutura genética; conservação da biodiversidade

ABSTRACT

The design of strategies for genetic conservation requires knowledge of the ecologic and genetics aspects of the target species populations. This work aimed to characterize genetically natural populations of Cassia grandis L. F. using isozymes. Genetic diversity was analyzed by allele frequencies ( P^ij ) and the following diversity indexes: observed ( H^e ) and expected ( H^e )average heterozygosity, average number of alleles per locus ( A^ ) and percentage of polymorphic loci (P^); and the genetic structure of populations by Wright's statistics. We estimated gene flow, population effective size and the minimum viable population in the short and long time. The observed results conclude that the studied populations of C. grandis are structured, which can be demonstrated by observation of rare and exclusive alleles, and high genetic diversity among them.

Keywords:
canafistula; isozymes; genetic structure; biodiversity conservation

1. INTRODUÇÃO

Cassia grandis L.f. (canafístula), pertencente à família Fabaceae, é uma espécie arbórea decídua, característica de mata secundária e da floresta primária aberta de terra firme ( Oliveira et al., 1995 Oliveira A Fo, Vilela EA, Carvalho DA, Gavilanes ML. Estudos florísticos e fitossociológicos em remanescentes de matas ciliares do Alto e Médio Rio Grande. Belo Horizonte: CEMIG; 1995. ; Carvalho, 2006 Carvalho PER. Cássia-Rósea – Cassia grandis . Colombo: Embrapa; 2006. (Circular técnica; no. 117). ). Na região do Baixo São Francisco, no Estado de Sergipe, a ocorrência desta espécie vai desde o município de Nossa Senhora de Lourdes (Alto Sertão) até à Foz do rio, no município de Brejo Grande. As populações ribeirinhas desta região utilizam seus frutos na medicina popular e sua madeira como lenha e carvão. Em razão do significativo extrativismo observado, que tem reduzido e comprometido as suas populações naturais, esta espécie tem sido empregada em programas de recuperação de áreas degradadas no Estado, na tentativa de se reverter esta situação.

A fragmentação florestal causada pela supressão de espécies florestais, sem um adequado plano de manejo, promove a formação de mosaicos de vegetação e, consequentemente, alterações nos processos ecológicos e genéticos das espécies ( Kageyama & Gandara, 1998 Kageyama PY, Gandara FB. Indicadores de sustentabilidade de florestas naturais. Série Técnica IPEF 1998; 12(31): 79-84. ). Caso os fragmentos permaneçam pequenos e isolados por várias gerações, poderá haver um aumento da endogamia, da deriva genética e da divergência genética entre as populações, devido à restrição ao fluxo alélico entre as subpopulações, e aos cruzamentos entre os indivíduos remanescentes (Wright, 1949 Wright S. Population structure in evolution. Proceedings of the American Philosophical Society 1949; 93(6): 471-478. PMid:15398807. , 1951 Wright S. The genetical structure of populations. Annals of Eugenics 1951; 15(4): 323-420. PMid:24540312. ). Portanto, as estratégias de conservação/ recuperação das áreas degradadas devem ser elaboradas com base nas características ecológicas e genéticas das espécies-alvo.

No ramo da genética, os marcadores moleculares tem sido utilizados frequentemente para a estimativa de parâmetros de diversidade e estrutura genética de populações, como ferramenta para subsidiar a tomada de decisões nos projetos de conservação. Entre os marcadores moleculares utilizados em estudos de diversidade genética de populações naturais observam-se as isoenzimas, que são formas diferentes de uma mesma enzima que apresentam afinidade por um mesmo substrato ( Ferreira & Grattapaglia, 1998 Ferreira ME, Grattapaglia D. Introdução ao uso de marcadores moleculares em análise genética. 3. ed. Brasília: Embrapa-Cenargen; 1998. ). A análise isoenzimática pode ser realizada para qualquer espécie e não requer o conhecimento prévio do genoma, o que a torna adequada para a caracterização da estrutura genética de populações naturais. Além disso, as isoenzimas apresentam ação gênica codominante, o que favorece a distinção entre homozigotos e heterozigotos, o que torna possível a estimação de parâmetros genéticos ( Brown & Weir, 1983 Brown AHD, Weir BA. Measuring genetic variability in plant populations. In: Tanksley SD & Orton TJ, editores. Isozymes in plant genetics and breeding. Amsterdam: Elsevier; 1983. ; Ferreira & Grattapaglia, 1998 Ferreira ME, Grattapaglia D. Introdução ao uso de marcadores moleculares em análise genética. 3. ed. Brasília: Embrapa-Cenargen; 1998. ).

Os marcadores isoenzimáticos, devido à sua natureza codominante, tem sido utilizados amplamente no estudo de espécies arbóreas florestais, principalmente na caracterização do sistema reprodutivo ( Oliveira et al., 2002 Oliveira AF, Carvalho D, Rosado SCS. Taxa de cruzamento e sistema reprodutivo de uma população natural de Copaifera langsdorffii Desf. na região de Lavras (MG) por meio de isoenzimas. Revista Brasileira de Botanica. Brazilian Journal of Botany 2002; 25(3): 331-338. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-84042002000300009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-8404200...
), da variabilidade genética ( Botrel & Carvalho, 2004 Botrel MC, Carvalho D. Variabilidade isoenzimática em populações naturais de jacarandá paulista (Machaerium villosum Vog.). Revista Brasileira de Botanica. Brazilian Journal of Botany 2004; 27(4): 621-627. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-84042004000400002.
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-8404200...
; Gois et al., 2009 Gois IB, Silva-Mann R, Ferreira RA. Variabilidade genética de Spondias lutea L. em uma população do Baixo São Francisco sergipano, por meio de isoenzimas. Scientia Forestalis 2009; 37(81): 55-60. ; Glasenapp et al., 2014 Glasenapp JS, Casali VWC, Martins ER, Cruz CD, Barbosa PB. Descrição da diversidade genética de populações naturais de barbatimão Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville em unidades de conservação de Minas Gerais. Revista Árvore 2014; 38(1): 103-112. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-67622014000100010.
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-6762201...
;) e da estrutura genética de populações ( Pinto et al., 2004 Pinto SIC, Souza AM, Carvalho D. Variabilidade genética por isoenzimas em populações de Copaifera langsdorffii Desf. em dois fragmentos de mata ciliar. Scientia Forestalis 2004; 65: 40-48. ; Moraes at al., 2005 Moraes MLT, Kageyama PY, Sebbenn AM. Diversidade e estrutura genética espacial em duas populações de Myracrodruon urundeuva Fr. All. sob diferentes condições antrópicas. Revista Árvore 2005; 29(2): 281-289. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-67622005000200011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-6762200...
). Estes estudos aumentam o conhecimento do padrão genético de populações naturais, e, consequentemente, a eficiência das estratégias utilizadas para a conservação genética das espécies ameaçadas de extinção.

Na região do Baixo São Francisco sergipano diversas espécies tem sido estudadas do ponto de vista genético ( Santana et al., 2008 Santana GC, Mann RS, Ferreira RA, Gois IB, Oliveira AS, Boari AJ et al. Diversidade genética de Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong. no Baixo Rio São Francisco, por meio de marcadores RAPD. Revista Árvore 2008; 32(3): 427-433. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-67622008000300005.
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-6762200...
; Gois et al., 2009 Gois IB, Silva-Mann R, Ferreira RA. Variabilidade genética de Spondias lutea L. em uma população do Baixo São Francisco sergipano, por meio de isoenzimas. Scientia Forestalis 2009; 37(81): 55-60. ; Gois et al., 2014 Gois IB, Ferreira RA, Silva-Mann R, Pantaleão SM, Gois CB, Oliveira RSC. Variabilidade genética em populações naturais de Ziziphus joazeiro Mart., por meio de marcadores moleculares RAPD. Revista Árvore 2014; 38(4): 621-630. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-67622014000400005.
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; Álvares-Carvalho et al., 2015 Álvares-Carvalho SV, Duarte JF, Carvalho D, Pereira GS, Silva-Mann R, Ferreira RA. Schinus terebinthifolius: population structure and implications for its conservation. Biochemical Systematics and Ecology 2015; 58: 120-125. http://dx.doi.org/10.1016/j.bse.2014.10.002.
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), por meio de marcadores moleculares. Assim, este trabalho foi realizado com o objetivo de caracterizar geneticamente, por meio de marcadores isoenzimáticos, três populações naturais de C. grandis L.f., localizadas na região do Baixo São Francisco sergipano. Esses estudos serão úteis para subsidiar a elaboração de estratégias de conservação, coleta de sementes e produção de mudas para uso em trabalhos de recuperação de áreas degradadas, especialmente as ciliares desta região.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Material vegetal

Para a coleta do material vegetal (folhas tenras) foi realizado um censo dos indivíduos presentes em três áreas localizadas em municípios do estado de Sergipe, Brasil: Nossa Senhora de Lourdes (oito indivíduos em uma área de 1,56 km 2 - 10°4'33.21”S e 37°0'27.85”O), localizado no Alto Sertão sergipano; Canhoba (treze indivíduos em uma área 1,40 km 2 - 10°8'15.54”S e 36°58'51.42”O), zona de transição entre a Caatinga e a Mata Atlântica; e Santana do São Francisco (dezoito indivíduos em uma área de 1 km2 - 10°17'36.26”S e 36°36'38.31”O), Zona Costeira; perfazendo um total de 39 indivíduos. O material foliar coletado foi acondicionado em sacos plásticos, identificado, mantido sob refrigeração (caixa térmica) e levado ao Laboratório de Biotecnologia do Departamento de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de Sergipe, onde foi realizada a extração das isoenzimas.

2.2. Análise isoenzimática

As isoenzimas foram extraídas por meio da maceração de 200 mg de folhas tenras com 0,5 mg de PVP (polivinil pirrolidone) e 1,5 mL da solução tampão de extração n°1, de acordo com metodologia descrita por Alfenas et al. (1991) Alfenas AC, Peters I, Brune W, Passador CG. Eletroforese de proteínas e isoenzimas de fungos e essências florestais. 1. ed. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 1991. , modificado pela ausência de DIECA (Dietilditiocarbamato). A eletroforese vertical foi realizada em gel de poliacrilamida descontínuo, sendo o gel de concentração de 4,5% e o gel de separação de 7,5%, a 150 V com duração de quatro horas a 4 °C. O sistema tampão gel eletrodo foi o Tris-glicina pH 8,9. Os procedimentos de preparo do gel e eletroforese seguiram a metodologia descrita por Alfenas et al. (1991) Alfenas AC, Peters I, Brune W, Passador CG. Eletroforese de proteínas e isoenzimas de fungos e essências florestais. 1. ed. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 1991. .

Ao término da corrida, os géis foram submetidos à coloração em enzimas específicas, sendo que neste processo foram testados catorze sistemas enzimáticos: Álcool Desidrogenase (ADH), Enzima Málica (ME), Esterase (EST), Fosfatase Alcalina (ALP), β-Galactose Desidrogenase (GLDH), Glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PDH), Glucose Desidrogenase (GLUDH), Glutamato Oxaloacetato Transaminase (GOT), Isocitrato desidrogenase (IDH), Malato Desidrogenase (MDH), Peroxidase (PO), Sorbitol Desidrogenase (SOD), Succinato Desidrogenase (SDH) e Xiquimato Desidrogenase (SKDH), seguindo a metodologia descrita por Alfenas et al. (1991) Alfenas AC, Peters I, Brune W, Passador CG. Eletroforese de proteínas e isoenzimas de fungos e essências florestais. 1. ed. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 1991. .

2.3. Análise dos dados

Os genótipos de cada indivíduo analisado foram obtidos por meio da interpretação do zimograma. Os zimogramas obtidos no presente estudo foram comparados com os padrões descritos por Alfenas et al. (1991) Alfenas AC, Peters I, Brune W, Passador CG. Eletroforese de proteínas e isoenzimas de fungos e essências florestais. 1. ed. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 1991. , sendo as zonas codificadoras dos locos e dos alelos feita da região mais catódica para a mais anódica.

A variabilidade genética foi caracterizada a partir das estimativas das frequências alélicas ( P^ij ) e dos Índices de diversidade genética: porcentagem de locos polimórficos (P^); número médio de alelos por loco ( A^ ); heterozigose média observada ( H^0 ) e heterozigose média esperada ( H^e ) de acordo com o equilíbrio de Hardy-Weinberg. Com base nas estimativas das frequências observadas ( H^0 ) e esperadas ( H^e ) de heterozigotos, calculou-se o índice de fixação de Wright ( F^(IS) ) ou o coeficiente de endogamia para cada população, por meio da fórmula: F^(IS)=(H^OH^e)/He , que é definido como o total de heterozigose observada em relação à heterozigose esperada em cruzamentos ao acaso ( Wright, 1965 Wright S. The interpretation of population structure by F-statistics with special regard to systems of mating. Evolution; International Journal of Organic Evolution 1965; 19(3): 395-420. http://dx.doi.org/10.1111/j.1558-5646.1965.tb01731.x.
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). Estes índices foram obtidos pelo programa Popgene ( Yeh et al., 1999 Yeh FC, Yang R, Boyle T. POPGENE version 1.32: Microsoft Window-based freeware for population genetics analysis. Edmonton: University of Alberta; 1999. ).

A distribuição da variabilidade genética entre e dentro das populações foi estimada pelas estatísticas F de Wright (1931 Wright S. Evolution in Mendelian populations. Genetics 1931; 16(2): 97-159. PMid:17246615. , 1965 Wright S. The interpretation of population structure by F-statistics with special regard to systems of mating. Evolution; International Journal of Organic Evolution 1965; 19(3): 395-420. http://dx.doi.org/10.1111/j.1558-5646.1965.tb01731.x.
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), por meio dos índices: de fixação médio dentro das populações ( FIS - coeficiente de endogamia de um indivíduo devido a cruzamentos não aleatórios dentro de populações); de fixação para o conjunto das populações ( FIT - coeficiente de endogamia de indivíduos no contexto da população total, ou seja, entre e dentro de populações); e de divergência genética entre populações ( FST - coeficiente de endogamia devido à subdivisão da população total) ( Resende, 2015 Resende MDV. Genética quantitativa e de populações. 1. ed. Viçosa: Suprema; 2015. ).

A estimativa do fluxo alélico entre as populações foi obtida pela relação entre a quantidade de migrantes (N^m) e a divergência entre populações ( F^ST ), de acordo com Crow & Aoki (1984) Crow JF, Aoki K. Group selection for polygenic behavioral trait: estimating the degree of population subdivision. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 1984; 81(19): 6073-6077. http://dx.doi.org/10.1073/pnas.81.19.6073 PMid:6592602.
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: N^m=14α(1F^ST1); onde: α=(n/(n1))2 .

O tamanho efetivo populacional ( N^e ) foi estimado pelos métodos descritos por Vencovsky (1992) Vencovsky R. Análise de variância de frequências alélicas. Genetics and Molecular Biology 1992; 15: 53-60. para duas diferentes situações. A primeira estimativa do N^e para indivíduos adultos de uma simples população foi baseada na expressão: N^e=n1+f ; em que n é o número de indivíduos e f é o coeficiente de endogamia médio da população. A segunda estimativa do N^e para várias populações foi baseada na expressão: N^e=0,5θp[1+Cpn1n]+1+F´'2n , em que θp é a divergência genética entre populações; n é o número total de indivíduos avaliados nas populações; Cp é o quadrado do coeficiente de variação do número de indivíduos sobre as populações; e F é o índice de fixação para o conjunto de populações. Adicionalmente, calculou-se a população mínima viável (PMV), que corresponde ao número de indivíduos necessários para a manutenção da integridade genética da população, pela relação: PMV=N^e(referência)N^e/n . O tamanho efetivo de referência utilizado foi de 150 e 1.500, conforme proposto por Nunney & Campbell (1993) Nunney L, Campbell KA. Assessing minimum viable population size: demography meets populations genetics. Trends in Ecology & Evolution 1993; 8(7): 234-239. http://dx.doi.org/10.1016/0169-5347(93)90197-W PMid:21236157.
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, para a conservação a curto e longo prazo, respectivamente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos catorze sistemas enzimáticos testados, dez foram selecionados, em função da resolução, para a caracterização da diversidade genética das populações de Cassia grandis. Os sistemas avaliados foram: EST, ME, ALP, GOT, G6PDH, IDH, MDH, PO, SKDH e SDH, nos quais foi possível detectar 15 locos. Nos sistemas ME, EST, IDH, MDH e PO foram observados dois locos e nos sistemas ALP, GOT, G6PDH, SKDH, e SDH apenas um ( Tabela 1 ).

Tabela 1
Locos isoenzimáticos, número de alelos e frequência alélica em três populações naturais de Cassia grandis L.f. localizadas na região do Baixo São Francisco sergipano.
Table 1
Isozyme loci, number of alleles and allele frequency in three natural populations of Cassia grandis L.f. located in the região do Baixo São Francisco sergipano.

O número de locos polimórficos de marcadores isoenzimáticos utilizados em estudos de diversidade genética em espécies arbóreas é bastante variável. Oliveira et al. (2006) Oliveira CAM, Silva EF, Molica SG, Ferreira RLC, Lira DAS, Barros Júnior JAB. Diversidade e estrutura genética em populações de Caesalpinia echinata (Lam.) na Estação Ecológica do Tapacurá, PE. Scientia Forestalis 2006; 70: 77-83. estudaram a diversidade e estrutura genética em populações de Caesalpinia echinata Lam. com a utilização de onze locos polimórficos; Moraes & Derbyshire (2002) Moraes PLR, Derbyshire MTVC. Estrutura genética de populações naturais de Cryptocarya aschersoniana Mez (Lauraceae) através de marcadores isoenzimáticos. Biota Neotropica 2002; 2(2): 1-19. para estimar a diversidade genética em populações de Cryptocarya aschersoniana Mez. utilizaram trinta e oito locos polimórficos. De acordo com Berg & Hamrick (1997) Berg EE, Hamrick JL. Quantification of genetic diversity at allozyme loci. Canadian Journal of Forest Research 1997; 27(3): 415-424. http://dx.doi.org/10.1139/x96-195.
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para os estudos de diversidade e estrutura genética por isoenzimas dez locos polimórficos são considerados suficientes.

Dos quinze locos avaliados ( Tabela 1 ), dois foram monomórficos (EST-2 e MDH-1), enquanto os demais apresentaram de dois a cinco alelos. O número de alelos observados em cada população variou de vinte e oito a trinta e dois. A presença de alelos raros, fixados e exclusivos nas populações analisadas pode ser resultado direto do processo de fragmentação florestal. De acordo com Kageyama et al. (1998) Kageyama PY, Gandara FB, Souza LI. Consequências genéticas da fragmentação sobre populações de espécies arbóreas. Série Técnica IPEF 1998; 12(32): 65-70. , as oscilações nas frequências alélicas são frequentemente observadas em populações pequenas, devido ao efeito da deriva genética, o que pode ocasionar a perda e fixação de alelos. Houve a fixação do alelo 1 do loco EST-2 na população de Nossa Senhora de Lourdes; do alelo 1 do loco MDH-1 na população de Canhoba; e do alelo 1 do loco PO-1 na população de Santana do São Francisco. A presença de alelos raros (p< 0,05), que também indica a perda da diversidade genética por meio da deriva genética ( Kageyama et al., 1998 Kageyama PY, Gandara FB, Souza LI. Consequências genéticas da fragmentação sobre populações de espécies arbóreas. Série Técnica IPEF 1998; 12(32): 65-70. ), foi observada nas populações de Santana do São Francisco e Canhoba.

Foram detectados nove alelos exclusivos na população de Santana do São Francisco (alelos 3, 4 e 5 no loco EST-1; os alelos 4 e 5 no loco MDH-2 ; o alelo 3 no loco ME-1; e os alelos 1, 2 e 3 no loco ALP), oito na população de Canhoba (o alelo 1 no loco MDH-1 ; o alelo 5 no loco PO-1; o alelo 3 no loco ME-1; os alelos 1, 3, 4 e 5 no loco IDH-1; e o alelo 2 no loco IDH-2) e cinco na população de Nossa Senhora de Lourdes (alelos 4 e 5 no loco GOT-1 ; os alelos 1 e 2 no loco PO-2; e o alelo 5 no loco SKDH). A presença de alelos exclusivos nas populações também é considerada um indicativo da ausência de fluxo alélico, ou seja, indica que há certa diferenciação entre as populações ( Kageyama et al., 2003 Kageyama PY, Sebbenn AM, Ribas LA, Gandara FB, Castellen M, Perecim MB et al. Diversidade genética em espécies arbóreas tropicais de diferentes estágios sucessionais por marcadores genéticos. Scientia Forestalis 2003; 64: 93-107. ; Seoane et al., 2000 Seoane CES, Kageyama PY, Sebben AM. Efeitos da fragmentação florestal na estrutura genética de populações de Esenbeckia leiocarpa Engl. (Guarantã). Scientia Forestalis 2000; 57: 123-139. ).

A presença de alelos exclusivos e fixados pode também ser um indicativo de seleção, além de ser um indicativo de deriva genética. O efeito da seleção pode ser de natureza indireta, quando as isoenzimas estão associadas a alelos responsáveis pela expressão das características sob seleção; ou de natureza direta, quando as isoenzimas participam diretamente de rotas metabólicas que afetam tais características ( Oliveira et al., 2002 Oliveira AF, Carvalho D, Rosado SCS. Taxa de cruzamento e sistema reprodutivo de uma população natural de Copaifera langsdorffii Desf. na região de Lavras (MG) por meio de isoenzimas. Revista Brasileira de Botanica. Brazilian Journal of Botany 2002; 25(3): 331-338. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-84042002000300009.
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).

Os índices de diversidade genética para as populações de C. grandis, computadas a partir das frequências alélicas dos locos isoenzimáticos, estão apresentados na Tabela 2 .

Tabela 2
Índices de diversidade genética de três populações naturais de Cassia grandis L.f. localizadas na região do Baixo São Francisco sergipano, baseados em 15 locos e 10 sistemas isoenzimáticos.
Table 2
Genetic diversity index of three natural populations of Cassia grandis L. F. located in the região do Baixo São Francisco sergipano, based on 15 locos and 10 isozyme systems.

Observa-se que a porcentagem de locos polimórficos ( P^ ) variou de 60 a 73,33%. Os valores observados foram inferiores aos encontrados por Melo et al. (2004) Melo AF Jr, Carvalho D, Póvoa JSR, Bearzoti E. Estrutura genética de populações naturais de pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.). Scientia Forestalis 2004; 66: 56-65. em populações naturais de Caryocar brasiliense Camb. (100%) e superiores ao encontrado por Póvoa (2002) Póvoa JSR. Distribuição da variação genética de Cedrela fissilis Vell., em fragmentos florestais, no sul de Minas Gerais, por meio de isoenzimas [tese]. Lavras: Universidade Federal de Lavras; 2002. 78 p. em populações de Cedrela fissilis Vell. (média de 48,72%). Hamrick & Murawski (1991) Hamrick JL, Murawski DA. Levels of allozyme diversity in populations of uncommon neotropical tree species. Journal of Tropical Ecology 1991; 7(03): 395-399. http://dx.doi.org/10.1017/S0266467400005691.
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concluíram que espécies comuns apresentam em média 77% de locos polimórficos, já as espécies raras 42%. Nota-se que devido ao reduzido número de indivíduos presentes nas áreas de estudo, a espécie apresenta porcentagem de locos polimórficos superiores ao esperado.

O número médio de alelos por loco esperado para espécies que apresentam elevado tamanho e densidade populacional é alto, e baixo para espécies com baixa densidade populacional. Assim, observa-se que mesmo com tamanho populacional reduzido, o número de alelos por loco (na) para as populações de C. grandis foi alto (variou de 2,2 a 2,9). Pode-se supor que a espécie que hoje é rara na área, era abundante no passado como sugerido por Kageyama et al. (2003) Kageyama PY, Sebbenn AM, Ribas LA, Gandara FB, Castellen M, Perecim MB et al. Diversidade genética em espécies arbóreas tropicais de diferentes estágios sucessionais por marcadores genéticos. Scientia Forestalis 2003; 64: 93-107. . Valores próximos a este têm sido encontrados em outras espécies arbóreas ( Cavallari Neto, 2004 Cavallari Neto M. Efeito do manejo na diversidade genetica de populações naturais de Tabebuia cassinoides Lam. (DC), por marcadores isoenzimáticos [dissertação]. Piracivaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz; 2004. ).

A heterozigose média observada ( H^0 ) para as populações variou de 0,7806 a 0,8279; e a heterozigose esperada segundo as expectativas de Hardy-Weinberg - EHW ( H^e ) variou de 0,5116 a 0,5442. A heterozigose observada foi maior do que a esperada em todas as populações, sugerindo excesso de heterozigotos em relação ao modelo de equilíbrio de Hardy-Weinberg ( Moura et al., 2009 Moura TM, Sebbenn AM, Chaves LJ, Coelho ASG, Oliveira GCX, Kageyama PY. Diversidade e estrutura genética espacial em populações fragmentadas de Solanum spp. do Cerrado, estimadas por meio de locos microssatélites. Scientia Forestalis 2009; 37(82): 143-150. ). Estes resultados podem ser confirmados observando-se os valores encontrados para o índice de fixação de Wright ( F^(IS) ). Nas três populações analisadas os valores do índice de fixação foram negativos, demonstrando excesso de heterozigotos nas populações, o que favorece o aumento da plasticidade ecológica da espécie ( Kawaguici & Kageyama, 2001 Kawaguici CB, Kageyama PY. Diversidade genética de três grupos de indivíduos (adultos, jovens e plântulas) de Calophyllum brasiliense em uma população de mata de galeria. Scientia Forestalis 2001; 59: 131-143. ). Valores negativos do índice de fixação têm sido observados em outras espécies arbóreas: Caryocar brasiliense Camb. ( Melo et al., 2004 Melo AF Jr, Carvalho D, Póvoa JSR, Bearzoti E. Estrutura genética de populações naturais de pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.). Scientia Forestalis 2004; 66: 56-65. ), Protium spruceanum Benth. ( Vieira & Carvalho, 2009 Vieira FA, Carvalho D. Genetic differentiation of the neotropical tree species Protium spruceanum (Benth.) Engler (Burseraceae) between fragments and vegetation corridors in Brazilian Atlantic Forest. Acta Botanica Brasílica 2009; 23(4): 1180-1185. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33062009000400028.
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) e Stryphnodendron adstringens Mart. ( Glasenapp et al., 2014 Glasenapp JS, Casali VWC, Martins ER, Cruz CD, Barbosa PB. Descrição da diversidade genética de populações naturais de barbatimão Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville em unidades de conservação de Minas Gerais. Revista Árvore 2014; 38(1): 103-112. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-67622014000100010.
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).

Os valores médios obtidos para as estatísticas F de Wright estão apresentados na Tabela 3 .

Tabela 3
Estimativas das estatísticas F de Wright ( F^IS , F^IT e F^ST ) e fluxo gênico para três populações naturais de Cassia grandis L.f., localizadas na região do Baixo São Francisco sergipano.
Table 3
Estimates of Wright's F statistics ( F^IS , F^IT e F^ST ) and gene flow for three natural populations of Cassia grandis L. F., located in the região do Baixo São Francisco sergipano.

A maior parte da diversidade genética encontra-se distribuída dentro das populações, embora exista grande variação entre as populações ( F^ST =0,3399). Este padrão de distribuição está de acordo com o observado para outras espécies arbóreas e com o esperado em espécies alógamas ou de sistema misto, predominantemente alógamas, com eficiente mecanismo de dispersão de pólen e sementes ( Kageyama et al., 2003 Kageyama PY, Sebbenn AM, Ribas LA, Gandara FB, Castellen M, Perecim MB et al. Diversidade genética em espécies arbóreas tropicais de diferentes estágios sucessionais por marcadores genéticos. Scientia Forestalis 2003; 64: 93-107. ). Caso da C. grandis que é uma espécie alógama, cuja dispersão dos polens é realizada por abelhas, e a dos frutos e sementes é classificada como barocórica, zoocórica e hidrocórica ( Carvalho, 2006 Carvalho PER. Cássia-Rósea – Cassia grandis . Colombo: Embrapa; 2006. (Circular técnica; no. 117). ). Constata-se, portanto, que o processo antrópico pode interferir diretamente no padrão de diversidade genética observado, visto que, cria barreiras ao fluxo de animais na área. Nas populações de C. grandis avaliadas apenas dois indivíduos poderão dispersar suas sementes de forma hidrocórica (estão na beira do rio).

O espaço paramétrico da estatística FST é de 0 (ausência de divergência genética entre as populações) a 1 (fixação de alelos em diferentes populações). No entanto, Wright (1978) Wright S. Evolution and genetics of populations: variability within and among natural populations. Chicago: University of Chicago Press; 1978. classifica que quando a estatística FST apresenta valores superiores a 0,25 as populações apresentam alta diferenciação genética. De acordo com Wright (1951) Wright S. The genetical structure of populations. Annals of Eugenics 1951; 15(4): 323-420. PMid:24540312. , o alto nível de diferenciação genética entre populações (0,3399) é decorrente de efeitos da deriva genética e da predominância de fluxo gênico em curtas distâncias, ou seja, fluxo gênico limitado, o que pode ocasionar o isolamento reprodutivo das mesmas. Devido a isto, as populações de espécies ameaçadas de extinção se encontram frequentemente estruturadas ( Wright, 1932 Wright S. The roles of mutation, inbreeding, crossbreeding, and selection in evolution. In: Jones DF, editor Proceedings of the 6th International Congress of Genetics . Menasha: Brooklyn Botanic Garden; 1932. p. 356-366. ). Mesmo presente em fragmentos isolados a espécie C. grandis apresenta alta heterozigose ( F^IT =0,0666), ou seja, as populações não apresentam cruzamentos entre indivíduos aparentados.

O fluxo alélico, número médio de migrantes por geração, entre as populações foi igual a 0,4855. Este valor representa o fluxo alélico ocorrido no passado, quando as florestas eram contínuas ou ocupavam grande parte da extensão que as separam. Este isolamento, possivelmente, no futuro, refletirá em aumento na diferenciação entre populações por deriva genética ( Wright, 1932 Wright S. The roles of mutation, inbreeding, crossbreeding, and selection in evolution. In: Jones DF, editor Proceedings of the 6th International Congress of Genetics . Menasha: Brooklyn Botanic Garden; 1932. p. 356-366. ). Segundo Wright (1951) Wright S. The genetical structure of populations. Annals of Eugenics 1951; 15(4): 323-420. PMid:24540312. , quando a estimativa de fluxo alélico é menor que um, os efeitos da migração não são suficientes para contrapor os efeitos da deriva e, portanto, favorece a divergência entre populações.

O conhecimento do tamanho efetivo de uma população ou de um conjunto de populações ( N^e ) imprescindível para a elaboração de estratégias de conservação, uma vez que mede a representatividade genética dos indivíduos amostrados na população em relação a uma população panmítica ideal ( Vencovsky, 1987 Vencovsky R. Tamanho efetivo populacional na coleta e preservação de germoplasmas de espécies alógamas. Scientia Forestalis 1987; 35: 79-84. ). A partir da Tabela 4 , pode-se pressupor que os dezoito indivíduos amostrados na população de Santana, os treze em Canhoba e os oito em Nossa Senhora de Lourdes, representam geneticamente 40, 34 e 24 indivíduos, respectivamente, de uma população panmítica ideal.

Tabela 4
Tamanho efetivo ( N^e ) número de indivíduos (N) de três populações naturais de Cassia grandis L.f., localizadas na região do Baixo São Francisco sergipano.
Table 4
Effective size ( N^e ) and number of individuals (N) of three natural populations of Cassia grandis L. F., located in the região do Baixo São Francisco sergipano.

O tamanho efetivo foi superior ao número de indivíduos, resultado que está de acordo com os índices de fixação calculados, ou seja, não há cruzamento entre indivíduos aparentados, resultado também observado por Oliveira et al. (2002) Oliveira AF, Carvalho D, Rosado SCS. Taxa de cruzamento e sistema reprodutivo de uma população natural de Copaifera langsdorffii Desf. na região de Lavras (MG) por meio de isoenzimas. Revista Brasileira de Botanica. Brazilian Journal of Botany 2002; 25(3): 331-338. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-84042002000300009.
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estudando populações naturais de Copaifera langsdorffii Desf. De acordo com o resultado obtido para o conjunto das populações, a coleta de sementes, para conservação ex situ, deverá contemplar, pelo menos, 78 árvores matrizes, garantindo, assim, a manutenção da variabilidade genética.

Porém, conforme afirma Eguiarte et al. (2007) Eguiarte L, Souza V, A guirre X. La ecología molecular de plantas y animales . 1. ed. México: INE/ Conabio; 2007. , é importante salientar que os níveis de variabilidade genética observados em populações naturais nem sempre correspondem ao predito na teoria, já que algumas espécies com alta variabilidade têm pequenas populações e estão demograficamente em perigo. Esta situação pode ser observada para as populações de C. grandis analisadas.

A população mínima viável para o conjunto de populações é de 75 e 750 indivíduos, para a conservação a curto e longo prazo, respectivamente. Estes valores correspondem ao número mínimo de árvores que deverão ser mantidas, visando assegurar a manutenção dos níveis de variabilidade genética em populações naturais ( Moura, 2005 Moura MC. Distribuição da variabilidade genética em populações naturais de Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish por isoenzimas e RAPD [tese] Lavras: Universidade Federal de Lavras; 2005. ).

As estratégias de conservação de espécies presentes em áreas fragmentadas, como a C. grandis, tem como propósito a manutenção dos níveis de variabilidade genética encontradas em populações naturais, além de um número mínimo viável de indivíduos para que as populações permaneçam viáveis no tempo e no espaço ( Vencovsky, 1987 Vencovsky R. Tamanho efetivo populacional na coleta e preservação de germoplasmas de espécies alógamas. Scientia Forestalis 1987; 35: 79-84. ; Nunney & Campbell, 1993 Nunney L, Campbell KA. Assessing minimum viable population size: demography meets populations genetics. Trends in Ecology & Evolution 1993; 8(7): 234-239. http://dx.doi.org/10.1016/0169-5347(93)90197-W PMid:21236157.
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). Portanto, o conhecimento da diversidade genética, aliada ao conhecimento dos padrões ecológicos das espécies propicia o delineamento de estratégias mais eficientes de conservação. Com os resultados observados neste estudo, observa-se que a C. grandis apresenta altos níveis de diversidade genética dentro e entre as populações, apesar do reduzido número de indivíduos observados nas áreas.

Assim, as estratégias de conservação devem visar à manutenção dos indivíduos observados nas áreas, além do enriquecimento das mesmas com alelos de outras populações, por meio da dispersão de sementes (técnicas de nucleação) ou plantio de mudas. A propagação de C. grandis é limitada devido à presença de dormência tegumentar e, sem nenhum tratamento para quebra desta dormência a mesma apresenta taxa de germinação de 5% ( Lopes et al., 1998 Lopes JC, Capucho MT, Krohling B, Zanotti P. Germinação de espécies florestais de Caesalpinea ferrea Mart. ex Tul. var. leiostachia Benth., Cassia grandis L. e Samanea saman Merril, após tratamentos para superar a dormência. Revista Brasileira de Sementes 1998; 20(1): 80-86. http://dx.doi.org/10.17801/0101-3122/rbs.v20n1p80-86.
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). Assim, a produção de mudas viabiliza o aumento do número de indivíduos na área, uma vez que, com tratamento mecânico (escarificação mecânica) a taxa de germinação é de 90% ( Lopes et al., 1998 Lopes JC, Capucho MT, Krohling B, Zanotti P. Germinação de espécies florestais de Caesalpinea ferrea Mart. ex Tul. var. leiostachia Benth., Cassia grandis L. e Samanea saman Merril, após tratamentos para superar a dormência. Revista Brasileira de Sementes 1998; 20(1): 80-86. http://dx.doi.org/10.17801/0101-3122/rbs.v20n1p80-86.
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). A adoção desta estratégia aliada aos dados de diversidade genética dos indivíduos analisados irá aumentar a eficiência dos projetos de conservação para as áreas estudadas.

4. CONCLUSÕES

O isolamento das populações devido ao processo de fragmentação da vegetação na região do Baixo São Francisco sergipano favorece a estruturação das populações de C. grandis , fato constatado pela presença de alelos raros e exclusivos.

O tamanho efetivo da população é maior do que o número de indivíduos presentes nas populações, evidenciando a alta variabilidade genética presente dentro e entre as populações. Consequentemente, a necessidade de conservação dos indivíduos remanescentes e a utilização dos mesmos em programas de recuperação de áreas degradadas são essenciais para a manutenção da integridade genética das populações.

A redução do número de indivíduos abaixo do mínimo viável indica que a introdução de imigrantes deve ser considerada para contornar os efeitos da deriva genética. E, para a C. grandis a introdução por meio do plantio de mudas advindas de indivíduos pertencentes a outras populações aumentará a eficiência dos projetos de conservação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2018
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    23 Jun 2016
  • Aceito
    06 Dez 2016
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