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Perfil de risco de reestenose em pacientes submetidos a implante de stents coronarianos convencionais

Restenosis risk profile of patients submitted to coronary bare-metal stent implantation

Resumos

INTRODUÇÃO: O perfil de risco de reestenose de populações tratadas com implante de stents coronarianos em nosso meio não é conhecido. Essa informação tem importância na decisão de incorporar uma estratégia seletiva de implante de stents farmacológicos pelo sistema público de saúde. OBJETIVOS: Avaliar o risco de reestenose antes do procedimento de uma população de pacientes tratados com stents coronarianos convencionais. MÉTODO: Estudo observacional de corte transversal, com 4.482 pacientes tratados com 5.336 stents, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2007. O risco de reestenose foi avaliado conforme escore previamente validado, com pontuação de 0 a 5 conforme a presença de diabetes melito (1 ponto), o diâmetro de referência do vaso tratado (< 3 mm = 2 pontos, 3-3,5 mm = 1, e > 3,5 mm = 0) e a extensão da lesão (> 20 mm = 2 pontos, 10-20 mm = 1, e < 10 mm = 0). RESULTADOS: A média de idade foi de 60,6 ± 10,6 anos e 32% dos pacientes eram do sexo feminino. O diâmetro de referência do vaso tratado foi de 3,10 ± 0,51 mm, a extensão da lesão foi de 13,2 ± 5,9 mm e 20% dos pacientes apresentavam diabetes melito. A distribuição dos pacientes conforme os pontos no escore de reestenose foi a seguinte: escore 0 = 4% dos pacientes; escore 1 = 22%; 2 = 34%; 3 = 29%; 4 = 9%; e escore 5 = 1% dos pacientes. CONCLUSÃO: A maioria dos pacientes apresentou risco de reestenose baixo ou intermediário. A adoção de stents farmacológicos somente naqueles com alto risco de reestenose representaria seu uso em no máximo 20% dos procedimentos realizados atualmente.

Contenedores; Reestenose coronária; Angioplastia


BACKGROUND: The restenosis risk of patient populations treated with coronary stent implantation is not well studied. This information has a potential impact on the decision of incorporating a selective strategy of drug-eluting stent implantation by the public health system. Our objective was to evaluate the restenosis risk of a population of patients (pts) treated with bare-metal stents. METHODS: Observational study with 4,482 pts treated with 5,336 stents, between January 2000 and December 2007. The restenosis risk was assessed according to a previous validated risk score. Points in the score ranged from 0 to 5 according to diabetes mellitus (1 point), reference vessel diameter (< 3 mm = 2 points, 3-3.5 mm = 1, and > 3.5 mm = 0), and the lesion length (> 20 mm = 2 points, 10-20 mm = 1, and < 10 mm = 0). RESULTS: The mean age was 60.6 ± 10.6 years of age, and 32% were female. The mean reference vessel diameter was 3.10 mm ± 0.51mm, the lesion length was 13.2 mm ± 5.9 mm, and 20% of the pts were diabetics. The distribution of pts according to points in the risk score was the following: score 0 = 4% of the pts; score 1 = 22%; 2 = 34%; 3 = 29%; 4 = 9%; and score 5 = 1% of the pts. CONCLUSIONS: The majority of pts presented low or intermediate restenosis risk. The adoption of a selective strategy of drug-eluting stent implantation only in those at higher restenosis risk would represent its use in no more than 20% of the procedures.

Stents; Coronary restenosis; Angioplasty


ARTIGO ORIGINAL

Perfil de risco de reestenose em pacientes submetidos a implante de stents coronarianos convencionais

Restenosis risk profile of patients submitted to coronary bare-metal stent implantation

Alexandre Schaan de Quadros; Carlos A. M. Gottschall; Fabiane Diemer; Dayane Diehl; Rogério Sarmento-Leite; Ana Paula da Rosa Rodrigues; Mateus D. Vizzotto; Fernanda Camozzatto; João M. P. Martins; La Hore Corrêa Rodrigues Junior; Giana Sassi; Thais B. Modkovski

Instituto de Cardiologia, Fundação Universitária de Cardiologia - Porto Alegre, RS

Correspondência Correspondência: Alexandre Quadros Unidade de Pesquisa do IC/ FUC Av. Princesa Isabel, 370 - Santana Porto Alegre, RS CEP 90620-001 Fax: (51) 3219-2802/ramais 22-23-24 E-mail: aquadros@cardiol.br

RESUMO

INTRODUÇÃO: O perfil de risco de reestenose de populações tratadas com implante de stents coronarianos em nosso meio não é conhecido. Essa informação tem importância na decisão de incorporar uma estratégia seletiva de implante de stents farmacológicos pelo sistema público de saúde.

OBJETIVOS: Avaliar o risco de reestenose antes do procedimento de uma população de pacientes tratados com stents coronarianos convencionais.

MÉTODO: Estudo observacional de corte transversal, com 4.482 pacientes tratados com 5.336 stents, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2007. O risco de reestenose foi avaliado conforme escore previamente validado, com pontuação de 0 a 5 conforme a presença de diabetes melito (1 ponto), o diâmetro de referência do vaso tratado (< 3 mm = 2 pontos, 3-3,5 mm = 1, e > 3,5 mm = 0) e a extensão da lesão (> 20 mm = 2 pontos, 10-20 mm = 1, e < 10 mm = 0).

RESULTADOS: A média de idade foi de 60,6 ± 10,6 anos e 32% dos pacientes eram do sexo feminino. O diâmetro de referência do vaso tratado foi de 3,10 ± 0,51 mm, a extensão da lesão foi de 13,2 ± 5,9 mm e 20% dos pacientes apresentavam diabetes melito. A distribuição dos pacientes conforme os pontos no escore de reestenose foi a seguinte: escore 0 = 4% dos pacientes; escore 1 = 22%; 2 = 34%; 3 = 29%; 4 = 9%; e escore 5 = 1% dos pacientes.

CONCLUSÃO: A maioria dos pacientes apresentou risco de reestenose baixo ou intermediário. A adoção de stents farmacológicos somente naqueles com alto risco de reestenose representaria seu uso em no máximo 20% dos procedimentos realizados atualmente.

Descritores: Contenedores. Reestenose coronária. Angioplastia.

SUMMARY

BACKGROUND: The restenosis risk of patient populations treated with coronary stent implantation is not well studied. This information has a potential impact on the decision of incorporating a selective strategy of drug-eluting stent implantation by the public health system. Our objective was to evaluate the restenosis risk of a population of patients (pts) treated with bare-metal stents.

METHODS: Observational study with 4,482 pts treated with 5,336 stents, between January 2000 and December 2007. The restenosis risk was assessed according to a previous validated risk score. Points in the score ranged from 0 to 5 according to diabetes mellitus (1 point), reference vessel diameter (< 3 mm = 2 points, 3-3.5 mm = 1, and > 3.5 mm = 0), and the lesion length (> 20 mm = 2 points, 10-20 mm = 1, and < 10 mm = 0).

RESULTS: The mean age was 60.6 ± 10.6 years of age, and 32% were female. The mean reference vessel diameter was 3.10 mm ± 0.51mm, the lesion length was 13.2 mm ± 5.9 mm, and 20% of the pts were diabetics. The distribution of pts according to points in the risk score was the following: score 0 = 4% of the pts; score 1 = 22%; 2 = 34%; 3 = 29%; 4 = 9%; and score 5 = 1% of the pts.

CONCLUSIONS: The majority of pts presented low or intermediate restenosis risk. The adoption of a selective strategy of drug-eluting stent implantation only in those at higher restenosis risk would represent its use in no more than 20% of the procedures.

Descriptors: Stents. Coronary restenosis. Angioplasty.

Os stents farmacológicos estão associados a taxas significativamente menores de reestenose que os stents convencionais1-3. Essa é uma característica importante desses dispositivos, já que a reestenose está associada a piora da qualidade de vida e a síndromes coronarianas agudas em alguns pacientes4-6. Além disso, estudos recentes têm demonstrado que os stents farmacológicos não estão associados a risco aumentado de morte e infarto do miocárdio (IAM) na maioria das situações clínicas e angiográficas e quando terapia antiplaquetária dupla adequada é instituída e mantida7-10. Nesse contexto, questões financeiras parecem ser o maior problema para que os stents farmacológicos sejam utilizados em maior número de pacientes, já que são significativamente mais caros que os stents convencionais. Por outro lado, mesmo com custos iniciais maiores, análises econômicas têm demonstrado que os stents farmacológicos podem ser custo-efetivos ou mesmo economizar recursos em pacientes com alto risco de reestenose, por diminuir significativamente a necessidade de novos procedimentos de revascularização11,12.

O risco de reestenose de populações de pacientes tratados com stents coronarianos no Brasil não é bem estudado. Essa informação tem importante impacto potencial na decisão de adotar uma estratégia seletiva de implante de stents farmacológicos pelo sistema público de saúde. Nosso grupo recentemente desenvolveu e validou um escore de risco para avaliar o risco de reestenose após implante de stents coronarianos convencionais, baseado em variáveis obtidas antes do procedimento13,14. O objetivo desse estudo é a avaliação do risco de reestenose em população de pacientes tratados em um centro de referência para Cardiologia Intervencionista.

MÉTODO

Pacientes

Todos os pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea (ICP) com implante de stent para doença arterial coronariana sintomática em nossa instituição foram considerados para inclusão no estudo. Os pacientes foram tratados entre janeiro de 2000 e dezembro de 2007. As características clínicas, angiográficas e do procedimento em relação à população em estudo foram registradas prospectivamente e armazenadas em banco de dados computadorizado. Foram excluídos aqueles pacientes tratados com stents farmacológicos.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição.

Procedimento de implante de stent

Todos os pacientes estavam recebendo inibidores plaquetários no momento da intervenção: aspirina (100200 mg por dia) e tienopiridínicos (clopidogrel 75 mg por dia ou ticlopidina 250 mg duas vezes por dia). Nos casos urgentes, as drogas foram administradas antes ou logo após o procedimento, e as doses em bolus de clopidogrel foram de 300 mg. Bolus de heparina foram administrados durante o procedimento para manter tempo de coagulação ativado > 300 segundos (ou 200300 segundos naqueles recebendo inibidores de glicoproteína IIb/IIIa). As lesões foram tratadas com as técnicas padrão de ICP15. Os demais aspectos técnicos, como tipo e número de stents implantados, uso de outros dispositivos e farmacologia adjunta, ficaram a cargo das decisões dos médicos operadores.

Análise angiográfica

Todas as análises angiográficas foram realizadas em pelo menos duas projeções ortogonais, por operadores experientes, por meio de angiografia quantitativa com sistemas digitais previamente validados (Siemens Axiom Artis - Munique, Alemanha). Nitroglicerina intracoronariana foi administrada rotineiramente em dose de 100-200 µg antes das mensurações. O diâmetro do vaso-alvo foi definido como a média do diâmetro dos segmentos proximal e distal à lesão, e a gravidade da estenose foi medida em duas projeções ortogonais. O comprimento da lesão foi medido "ombro a ombro", sendo as lesões longas consideradas únicas quando existia um segmento normal < 10 mm entre elas.

Escore de risco

O escore utilizado para avaliar o risco de reestenose nesse estudo foi desenvolvido em uma coorte prospectiva de 848 pacientes e, subseqüentemente, validado em outra amostra independente de 491 pacientes, conforme previamente descrito13,14. No estudo de desenvolvimento, os preditores de revascularização do vaso-alvo (RVA) em um ano foram identificados por análise multivariada, e o teste de Hosmer-Lemeshow goodness-of-fit foi utilizado para identificar o modelo com melhor calibração. A presença de diabetes melito, o diâmetro de referência do vaso-alvo e o comprimento da lesão permaneceram no modelo final, e os pontos no escore foram atribuídos conforme os riscos relativos de cada variável:

1. diabetes melito: presente = 1 ponto e ausente = 0 pontos;

2. diâmetro de referência do vaso: < 3,0 mm = 2 pontos, 3,0-3,5 mm = 1 ponto e > 3,5 mm = 0 pontos;

3. comprimento da lesão: > 20 mm = 2 pontos, 10-20 mm = 1 ponto e < 10 mm = 0 pontos.

De acordo com essa metodologia, o escore variou de 0 a 5 pontos. Pacientes com escores de 4 ou 5 foram incluídos na mesma categoria, já que poucos pacientes apresentaram escore de 5/5.

Na Figura 1, podemos observar a variação nas taxas de RVA em um ano, conforme os pontos no escore, sendo a associação entre ambos estatisticamente significativa, tanto na coorte de desenvolvimento (p < 0,001) como na de validação (p = 0,008).


Análise estatística

Os dados foram armazenados em banco de dados Access e analisados em programa estatístico SPSS for Windows 11.0.

Nesse estudo, as variáveis categóricas foram descritas como percentis e as variáveis contínuas, conforme sua média ± desvio padrão.

RESULTADOS

No período do estudo, foram incluídos 4.482 pacientes tratados com 5.336 stents coronarianos convencionais. Em relação às características clínicas dos pacientes, a média de idade foi de 60,64 ± 10,65 anos e 32% eram mulheres (Tabela 1). Quanto aos fatores de risco para cardiopatia isquêmica, hipertensão foi observada em 75% dos pacientes, diabetes melito em 20%, tabagismo em 47% e dislipidemia em 56%. Em relação à história médica pregressa, 9% já haviam realizado uma ICP, 20% tinham história de IAM, e 10% haviam sido submetidos a revascularização cirúrgica. A apresentação clínica no momento do implante do stent foi de angina estável em 42%, angina instável em 48% e IAM em 10%.

As características angiográficas dos 5.336 procedimentos de implante de stents encontram-se na Tabela 2. Os procedimentos foram mais freqüentemente realizados em lesões nas artérias descendente anterior e direita (41% e 30% dos casos, respectivamente), 17% dos quais foram realizados em lesões da artéria circunflexa e somente 4% em pontes de safena. Quanto aos dados da análise por angiografia quantitativa, observou-se que a média do diâmetro de referência do vaso tratado foi de 3,10 ± 0,51 mm, a média do comprimento da lesão foi de 13,2 ± 5,9 mm, e o porcentual da estenose antes do implante foi de 87,05 ± 11,59%. Quanto à extensão da lesão, 8% apresentavam lesões > 20 mm, e em relação ao diâmetro de referência, 28% apresentavam vasos < 3 mm. Os stents implantados apresentaram diâmetro médio de 3,15 ± 1,02 mm, comprimento de 16,05 ± 5,26 mm, e pressão de implante de 13,92 ± 2,48 atm. O diâmetro luminal mínimo antes do implante foi de 0,46 ± 0,37 mm, aumentando para 3,16 ± 0,61 mm após o procedimento.

A Figura 2 demonstra a distribuição dos pacientes conforme os pontos no escore de risco: escore 0 = 4% dos pacientes; escore 1 = 22%; 2 = 34%; 3 = 29%; 4 = 9%; e escore 5 = 1% dos pacientes. A observação dessa figura sugere distribuição próxima à curva normal.


Na Figura 3, esses resultados estão apresentados conforme três categorias de risco. Foram considerados pacientes de baixo risco para reestenose aqueles com escores iguais a 0 ou 1, médio risco aqueles com escores de 2 ou 3, e alto risco os pacientes com escores de 4 ou 5. Assim, observamos que a maioria dos pacientes apresentava risco intermediário (64%), 26% apresentavam risco médio, e somente 10% apresentavam alto risco.


DISCUSSÃO

Nesse estudo, analisamos as características clínicas e angiográficas de uma grande população de pacientes tratados com stents coronarianos convencionais em um hospital de referência para Cardiologia Intervencionista, sendo o perfil de risco de reestenose estimado por um escore de risco previamente validado. Os resultados da análise demonstram que a maioria dos pacientes apresenta risco baixo ou intermedi-ário para novas RVA, e somente 10% dos procedimentos foram realizados em indivíduos com alto risco quando avaliado pela ferramenta utilizada. Essa informação tem importância dentro da perspectiva da adoção do uso seletivo de stents farmacológicos pelo sistema público de saúde, já que essa estratégia representaria seu uso em não mais que 20% dos pacientes tratados atualmente.

Embora os stents farmacológicos sejam usados atualmente em cerca de 60% a 80% dos procedimentos realizados em alguns países desenvolvidos, análises de custo-efetividade considerando a perspectiva dos sistemas de saúde brasileiros não sugerem que essa seja atualmente uma estratégia economicamente viável no Brasil16. Assim, a estimativa do risco de novas RVA em populações tratadas contemporaneamente em nosso meio adquire importância para estimar seu potencial emprego na prática clínica diária caso venha a ser adotada. Como o principal benefício clínico dos stents farmacológicos consiste na diminuição da reestenose e de novos procedimentos de revascularização, seu uso preferencialmente naqueles pacientes propensos a esses desfechos parece ser a alternativa mais adequada dentro desse contexto, o que também foi demonstrado em alguns estudos recentes8,17.

Em nossos estudos prévios, os pacientes com alto risco de reestenose pelo escore utilizado apresentaram risco de novas revascularizações de 20% ou mais, e aqueles com baixo risco tiveram taxas de novas revascularizações de aproximadamente 5%13,14. Enquanto esses parecem ser limites bastante razoáveis para indicar ou não stents farmacológicos, dois terços dos pacientes incluídos no presente estudo encontravamse em um perfil de risco intermediário, em que as taxas de revascularização estão estimadas entre 10% e 20%, conforme demonstrado na Figura 1. A decisão do uso de stents farmacológicos nesses pacientes deve provavelmente ser individualizada, considerando outros fatores como envolvimento proximal da artéria descendente anterior, presença de reestenose prévia e potencial aderência aos antiplaquetários.

A capacidade de modelos estatísticos para predizer a reestenose e novas revascularizações após implante de stents coronarianos tem sido objeto de controvérsia. Em nossos estudos prévios para validação e desenvolvimento do escore utilizado, observamos associação altamente significativa entre este e as taxas de novas revascularizações, sugerindo ser possível a estimativa de pacientes com baixo e alto riscos13,14. Esses achados são concordantes com o modelo estatístico sugerido no estudo de Greenberg et al.12. Por outro lado, Singh et al.18 não identificaram boa capacidade preditiva de um escore de risco desenvolvido na população de pacientes incluída no ensaio clínico PRESTO. Da mesma forma, Ellis et al.19 analisaram a evolução clínica de aproximadamente 5.000 pacientes tratados com stents convencionais, concluindo pela dificuldade em definir aqueles com muito baixo risco. Por outro lado, vários subgrupos de baixo risco identificados foram muito semelhantes àqueles encontrados em nossos estudos.

Um achado interessante do presente estudo foi que o perfil de risco de novas revascularizações da população estudada conforme o escore utilizado apresentou distribuição próxima da distribuição normal, com a maioria dos pacientes concentrando-se nos escores intermediários e poucos nos extremos. Até onde alcança nosso conhecimento, esse dado não havia sido previamente relatado, sendo poucos os estudos sobre o perfil de risco de reestenose de pacientes tratados com stents coronarianos. Em um estudo realizado com pacientes tratados com angioplastia coronariana, Rensing et al.20 analisaram a distribuição da perda tardia avaliada por angiografia quantitativa em aproximadamente 1.400 lesões. Esses autores demonstraram que a reestenose pode ser vista como o final da cauda de um fenômeno com distribuição quase normal, o que seria compatível com os resultados de nosso estudo.

De acordo com dados recentemente relatados provenientes do registro CENIC21, a utilização dos stents farmacológicos no Brasil tem crescido nos últimos anos, bem como as taxas de sucesso e a diminuição de complicações desses procedimentos. A expectativa é de que a ampliação do uso dessa tecnologia continue para um número cada vez maior de pacientes, mas as questões econômicas permanecem como uma limitação importante. Os resultados principais desse estudo, de que a minoria dos pacientes tratados contemporaneamente com stents coronarianos apresenta alto risco de reestenose, podem fornecer um balizamento importante para os órgãos regulatórios, no sentido de que essa importante tecnologia possa ser aprovada para aqueles pacientes com melhor relação custo-benefício.

Recebido em: 9/5/2008

Aceito em: 15/5/2008

Suporte Financeiro: CNPq, FAPERGS

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  • Correspondência:

    Alexandre Quadros
    Unidade de Pesquisa do IC/ FUC
    Av. Princesa Isabel, 370 - Santana
    Porto Alegre, RS CEP 90620-001
    Fax: (51) 3219-2802/ramais 22-23-24
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      2008

    Histórico

    • Aceito
      15 Maio 2008
    • Recebido
      09 Maio 2008
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