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Intervenção coronária percutânea no mundo real: tão eficiente quanto nos estudos publicados, mas será que o aumento do uso de stents farmacológicos pode melhorar ainda mais os resultados?

EDITORIAL

Intervenção coronária percutânea no mundo real: tão eficiente quanto nos estudos publicados, mas será que o aumento do uso de stents farmacológicos pode melhorar ainda mais os resultados?

Robert M. Bersin

Seattle Cardiology and Swedish Medical Center - Seattle, WA, Estados Unidos

Correspondência Correspondência: Robert M. Bersin Seattle Cardiology, Endovascular Services 730 Minor Avenue, Suite 1010 Seattle, WA, USA - 98101 E-mail: rbersin@seattlecardiology.org

Em artigo de Abelin et al.1, publicado nesta edição da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva, os autores apresentam sua experiência coletiva com intervenção coronária percutânea realizada em um único centro, durante 12 anos. Esse esforço é admirável, pois proporciona uma visão da prática do mundo real, não sujeita a critérios de inclusão e exclusão ou vieses de seleção, que invariavelmente ocorrem em estudos clínicos prospectivos e registros multicêntricos. Dois terços dos pacientes tratados tinham lesões complexas tipo B2/C e mais da metade dos pacientes apresentava angina instável ou infarto agudo do miocárdio. Nessa série consecutiva de pacientes, não-selecionada, o sucesso do procedimento, de 97,1%, foi notável, com taxa de trombose precoce do stent de apenas 0,39%. Os resultados aos 30 dias são semelhantes ou melhores que os observados na maioria dos registros de intervenção coronária percutânea2,3. Em amostra aleatória de 1.610 pacientes, com acompanhamento clínico de um ano, a revascularização do vaso-alvo foi de 15,7%. A necessidade relativamente alta de nova revascularização do vaso tratado é o achado que mais chama a atenção. Embora não esteja descrita em uma série, a proporção de pacientes que recebem stents farmacológicos no Brasil fica, caracteristicamente, entre 10% e 20%, e esse uso porcentual relativamente baixo de stents farmacológicos provavelmente explica esse achado.

Os resultados de registros observacionais têm sido bastante criticados, por não representarem verdadeiramente a prática do mundo real, embora tenham esse objetivo. As críticas referem-se à seleção de pacientes realizada pelo centro e/ou pelo operador, aos critérios de inclusão e exclusão adotados, e à falta de acompanhamento clínico adequado. O grande valor desse banco de dados, não-selecionado, é que ele valida os achados de registros multicêntricos de intervenção coronária percutânea descritos recentemente. Indica, também, de forma indireta, os benefícios potenciais que o uso mais disseminado de stents farmacológicos teria no Brasil. Os intervencionistas brasileiros estão cientes disso, mas, por razões econômicas, têm que tomar decisões difíceis no dia-a-dia, em decorrência do alto custo das novas tecnologias. É preciso que se faça, no Brasil, um apelo conjunto a fabricantes, distribuidores e órgãos pagadores, para que encontrem soluções que permitam a uma maior proporção de pacientes se beneficiar hoje dos stents farmacológicos e das novas tecnologias que surgirão no futuro.

CONFLITO DE INTERESSES

O autor declarou que é consultor da Abbott Vascular, Boston Scientific Corporation, Cordis Corporation e Medtronic Inc.

Recebido em: 16/9/2009

Aceito em: 18/9/2009

Ver artigo relacionado na página 346

  • 1. Abelin AP, Quadros AS, Zanettini MT, Leboute FC, Yordi LM, Cardoso CR, et al. Doze anos de experiência com implante de stents coronários em 5.284 pacientes. Rev Bras Cardiol Invas. 2009;17(3):346-51.
  • 2. Douglas PS, Brennan JM, Anstrom KJ, Sedrakyan A, Eisenstein EL, Haque G, et al. Clinical effectiveness of coronary stents in elderly persons: results from 262,700 Medicare patients in the American College of Cardiology-National Cardiovascular Data Registry. J Am Coll Cardiol. 2009;53(18):1629-41.
  • 3. Ko DT, Chiu M, Guo H, Austin PC, Goeree R, Cohen E, et al. Safety and effectiveness of drug-eluting and bare-metal stents for patients with off- and on-label indications. J Am Coll Cardiol. 2009;53(19):1773-82.
  • Correspondência:

    Robert M. Bersin
    Seattle Cardiology, Endovascular Services
    730 Minor Avenue, Suite 1010
    Seattle, WA, USA - 98101
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      Set 2009
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