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Proteção cerebral em pacientes idosos durante implante de stent carotídeo

Resumos

INTRODUÇÃO: O tipo de proteção cerebral utilizado durante o implante de stent carotídeo é controverso em idosos. Nosso objetivo foi avaliar os resultados dos dispositivos de proteção embólica cerebral (PEC), proximal e distal, em pacientes > 70 anos de idade, por meio da ressonância magnética ponderada de difusão (RM-PD). MÉTODOS: Entre 2008 e 2011, 60 pacientes com indicação de stent carotídeo foram randomizados para PEC com Mo.Ma® ou Angioguard®, dos quais 26 tinham > 70 anos de idade. Os resultados da RM-PD realizada antes e 48 horas após o procedimento foram avaliados por neurologista independente e cego para o tipo de PEC utilizado. Foram analisados o número de novos focos isquêmicos, sua localização e o tamanho. RESULTADOS: Novos focos isquêmicos cerebrais foram encontrados em 8/12 (66,7%) pacientes do grupo Mo.Ma® e em 12/14 (85,7%) pacientes do grupo Angioguard® (P = 0,37). A maioria das lesões (> 90%) era ipsilateral à artéria tratada em ambos os grupos, e o tamanho das lesões foi < 0,5 cm na maioria dos casos. O número de lesões por paciente foi menor com o dispositivo Mo.Ma® (mediana [variação]: 3 [1 a 8] lesões vs. 15 [2 a 76] lesões; P < 0,001). Todos os pacientes que tiveram mais de 40 lesões pertenciam ao grupo Angioguard®. CONCLUSÕES: Mesmo utilizando PEC (proximal ou distal), novas lesões isquêmicas foram observadas em ambos os grupos em pacientes idosos. Proporcionalmente maior número de pacientes com Angioguard® teve novos focos isquêmicos se comparados aos pacientes do grupo Mo.Ma®. O dispositivo de PEC Mo.Ma® parece diminuir o número de lesões por paciente.

Idoso; Estenose das carótidas; Ressonância magnética ponderada por difusão; Angioplastia; Stents; Angiografia cerebral


BACKGROUND: The type of cerebral protection used during carotid stenting in the elderly is controversial. Our objective was to evaluate the results of proximal and distal cerebral embolic protection devices (EPDs), in patients > 70 years through diffusion-weighted magnetic resonance imaging (DW-MRI). METHODS: Between 2008 and 2011, 60 patients with indication for carotid stenting were randomized to EPD with Mo.Ma® or Angioguard®, of which 26 patients were > 70 years of age. Results of DW-MRI performed before and 48 hours after the procedure were evaluated by an independent neurologist blinded to the type of EPD used. New ischemic lesions, their localization and size were analyzed. RESULTS: New cerebral ischemic lesions were found in 8/12 (66.7%) patients in the Mo.Ma® group and 12/14 (85.7%) patients in the Angioguard® group (P = 0.37). The vast majority of the lesions (> 90%) were ipsilateral to the treated artery in both groups and the size of the lesions was < 0.5 cm in most cases. The number of lesions per patient was lower with the Mo.Ma® device (median [variation]: 3 [1 to 8] lesions vs 15 [2 to 76] lesions; P < 0.001). All of the patients with more than 40 lesions were in the Angioguard® group. CONCLUSIONS: Despite the use of EPDs (proximal or distal), new ischemic lesions were observed in both groups in elderly patients. A proportionately larger number of patients with Angioguard® had new ischemic lesions when compared to those with Mo.Ma®. The Mo.Ma® device seems to decrease the number of lesions per patient.

Aged; Carotid stenosis; Diffusion-weighted magnetic ressonance imaging; Angioplasty; Stents; Cerebral angiography


ARTIGO ORIGINAL

Proteção cerebral em pacientes idosos durante implante de stent carotídeo

Manuel Nicolas CanoI; Silvia Judith Fortunato de CanoII; Antônio Massamitsu KambaraIII; Samuel MoreiraIV; Luiz Antônio Pezzi PortelaV; J. Ribamar Costa Jr.VI; Alexandre AbizaidVII; Amanda G. M. R. SousaVIII; J. Eduardo SousaIX

IDoutor. Médico assistente do Setor de Cardiologia Intervencionista do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. São Paulo, SP, Brasil

IIMédica cardiologista clínica do Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio. São Paulo, SP, Brasil

IIIDoutor. Chefe do Setor de Radiologia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. São Paulo, SP, Brasil

IVMédico assistente do Setor de Radiologia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. São Paulo, SP, Brasil

VMédico neurorradiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. São Paulo, SP, Brasil

VIDoutor. Chefe da Seção Médica de Intervenção Coronária do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. São Paulo, SP, Brasil

VIILivre-docente. Diretor do Serviço de Cardiologia Invasiva do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. São Paulo, SP, Brasil

VIIILivre-docente. Diretora geral do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. São Paulo, SP, Brasil

IXLivre-docente. Diretor do Centro de Intervenções em Doenças Estruturais do Coração do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Manuel Nicolas Cano Rua Sampaio Viana, 203 - Paraíso São Paulo, SP, Brasil - CEP 04004-000 E-mail: mncano@uol.com.br

RESUMO

INTRODUÇÃO: O tipo de proteção cerebral utilizado durante o implante de stent carotídeo é controverso em idosos. Nosso objetivo foi avaliar os resultados dos dispositivos de proteção embólica cerebral (PEC), proximal e distal, em pacientes > 70 anos de idade, por meio da ressonância magnética ponderada de difusão (RM-PD).

MÉTODOS: Entre 2008 e 2011, 60 pacientes com indicação de stent carotídeo foram randomizados para PEC com Mo.Ma® ou Angioguard®, dos quais 26 tinham > 70 anos de idade. Os resultados da RM-PD realizada antes e 48 horas após o procedimento foram avaliados por neuro­logista independente e cego para o tipo de PEC utilizado. Foram analisados o número de novos focos isquêmicos, sua localização e o tamanho.

RESULTADOS: Novos focos isquêmicos cerebrais foram encontrados em 8/12 (66,7%) pacientes do grupo Mo.Ma® e em 12/14 (85,7%) pacientes do grupo Angioguard® (P = 0,37). A maioria das lesões (> 90%) era ipsilateral à artéria tratada em ambos os grupos, e o tamanho das lesões foi < 0,5 cm na maioria dos casos. O número de lesões por paciente foi menor com o dispositivo Mo.Ma® (mediana [variação]: 3 [1 a 8] lesões vs. 15 [2 a 76] lesões; P < 0,001). Todos os pacientes que tiveram mais de 40 lesões pertenciam ao grupo Angioguard®.

CONCLUSÕES: Mesmo utilizando PEC (proximal ou distal), novas lesões isquêmicas foram observadas em ambos os grupos em pacientes idosos. Proporcionalmente maior número de pacientes com Angioguard® teve novos focos isquêmicos se comparados aos pacientes do grupo Mo.Ma®. O dispositivo de PEC Mo.Ma® parece diminuir o número de lesões por paciente.

Descritores: Idoso. Estenose das carótidas. Ressonância magnética ponderada por difusão. Angioplastia. Stents. Angiografia cerebral.

ABSTRACT

BACKGROUND: The type of cerebral protection used during carotid stenting in the elderly is controversial. Our objective was to evaluate the results of proximal and distal cerebral embolic protection devices (EPDs), in patients > 70 years through diffusion-weighted magnetic resonance imaging (DW-MRI).

METHODS: Between 2008 and 2011, 60 patients with indication for carotid stenting were randomized to EPD with Mo.Ma® or Angioguard®, of which 26 patients were > 70 years of age. Results of DW-MRI performed before and 48 hours after the procedure were evaluated by an independent neurologist blinded to the type of EPD used. New ischemic lesions, their localization and size were analyzed.

RESULTS: New cerebral ischemic lesions were found in 8/12 (66.7%) patients in the Mo.Ma® group and 12/14 (85.7%) patients in the Angioguard® group (P = 0.37). The vast majority of the lesions (> 90%) were ipsilateral to the treated artery in both groups and the size of the lesions was < 0.5 cm in most cases. The number of lesions per patient was lower with the Mo.Ma® device (median [variation]: 3 [1 to 8] lesions vs 15 [2 to 76] lesions; P < 0.001). All of the patients with more than 40 lesions were in the Angioguard® group.

CONCLUSIONS: Despite the use of EPDs (proximal or distal), new ischemic lesions were observed in both groups in elderly patients. A proportionately larger number of patients with Angioguard® had new ischemic lesions when compared to those with Mo.Ma®. The Mo.Ma® device seems to decrease the number of lesions per patient.

Descriptors: Aged. Carotid stenosis. Diffusion-weighted magnetic ressonance imaging. Angioplasty. Stents. Cerebral angiography.

A doença carotídea extracraniana tem como tratamento padrão a endarterectomia cirúrgica. Já o tratamento percutâneo com implante de stent1 surgiu como alternativa menos invasiva para pacientes de alto risco cirúrgico.

Os microêmbolos gerados durante o procedimento percutâneo são o maior desafio a ser vencido. Theron et al.2 foram os primeiros a relatar o uso de dispositivos de proteção embólica cerebral (PEC) na prática clínica. Utilizaram um sistema de oclusão por balão da carótida interna, distal à lesão, e ao final do procedimento, ao analisar o material aspirado, encontraram partículas com risco potencial de embolização de vasos intracranianos.

Na atualidade, a PEC utiliza dois princípios de proteção: dispositivos de PEC proximal, que produzem clampeamento endovascular do fluxo sanguíneo por meio de balões expandidos na artéria carótida comum e artéria carótida externa, e que provocam a interrupção ou a reversão de fluxo sanguíneo na carótida interna, permitindo a captura de partículas de todos os tamanhos por aspiração da coluna de sangue; e dispositivos de PEC distal, constituídos por filtro com poros que capturam partículas > 100 µm, posicionados distalmente à lesão na artéria carótida interna. Estes últimos são de mais simples utilização e têm a preferência dos intervencionistas.

O objetivo deste estudo foi analisar o comportamento de dois diferentes tipos de PEC em pacientes idosos (> 70 anos), avaliando os achados da ressonância magnética ponderada de difusão (RM-PD) antes e 48 horas após o implante de stents carotídeos.

MÉTODOS

Estudo prospectivo, unicêntrico e randomizado, que incluiu pacientes com estenose carotídea, sintomáticos e assintomáticos, candidatos a implante de stent e que pudessem utilizar indistintamente os dispositivos de PEC proximal, Mo.Ma® (Invatec Corporation, Brescia, Itália), ou distal, Angioguard® (Cordis Endovascular, Miami Lakes, Estados Unidos) (Figura 1).


Todos os pacientes receberam o stent carotídeo de nitinol PRECISE® (Cordis Endovascular, Miami Lakes, Estados Unidos), que é um stent autoexpansível, de células abertas, e que necessita de um sistema de liberação de 6 F.

Foi utilizada RM-PD para detectar microinfartos cerebrais hiperagudos, provocados por micropartículas liberadas durante o procedimento endovascular, sendo analisados o número, o tamanho e a localização dos novos focos isquêmicos. Foram obtidas imagens de RM-PD em um equipamento de 3.0 Tesla (Excite HD, GE Medical System, Milwaukee, Estados Unidos) com uma bobina de crânio de oito canais. A RM-PD foi realizada antes e 48 horas após o procedimento percutâneo. Os resultados foram avaliados por neurologista independente e cego ao tipo de proteção cerebral utilizado. Os pacientes foram acompanhados por um período de pelo menos um ano.

A randomização dos pacientes para os grupos Mo.Ma® e Angioguard® foi realizada eletronicamente pelo módulo Complex Samples do programa estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Para garantir o equilíbrio em relação ao número de pacientes em cada grupo, a randomização foi feita em blocos de 6 (3 para o grupo Mo.Ma® e 3 para o grupo Angioguard®).

Todos os requisitos fundamentais das resoluções CNS nos 196/96, 251/97 e 292/99, sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, do Conselho Nacional de Saúde/Conselho Nacional de Ética em Pesquisa/Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e as Boas Práticas de Pesquisa Cínica do ICH-GCP, foram cumpridos.

Objetivos e definições

O objetivo principal deste estudo foi a comparação, por meio da RM-PD, entre a incidência e a extensão de eventos isquêmicos após implante de stent carotídeo em pacientes > 70 anos de idade, utilizando-se dois tipos de PEC (proximal vs. distal).

As seguintes definições foram adotadas:

- Acidente isquêmico transitório: definido como alteração temporária do aporte de sangue para uma área do cérebro, resultando em súbita e breve (inferior a 24 horas, normalmente menos de 1 hora) diminuição das funções cerebrais. Os sintomas variam, dependendo da área afetada, e incluem alterações visuais, alterações na fala, e deficiências sensorial ou motora localizadas.

- Acidente vascular encefálico: novo déficit neurológico com sintomas focais e sinais consistentes com isquemia focal com duração superior a 24 horas. O acidente vascular encefálico menor provoca déficit neurológico que resolve completamente em até 30 dias. Acidente vascular encefálico maior provoca déficit neurológico que não resolve completamente em até 30 dias.

- Sucesso do procedimento: quando houve sucesso técnico (capacidade de utilizar o dispositivo de PEC e de implantar o stent com lesão residual < 30%), associado a sucesso clínico (sem ocorrência de eventos cerebrovasculares e cardiovasculares durante o procedimento).

- Infarto do miocárdio: sintomas compatíveis com isquemia miocárdica associada a alteração eletrocardiográfica de isquemia e aumento de marcadores de necrose em pelo menos duas vezes o valor normal.

Análise estatística

Na análise estatística, os dados qualitativos foram resumidos em frequências absolutas e relativas (porcentagens) e comparados com o teste t de Student. Os dados quantitativos foram expressos como média e desvio padrão e comparados pelo teste exato de Fisher.

Um valor de P < 0,05 foi considerado significante. Os programas estatísticos utilizados foram SPSS para Windows, versão 19.0, e R (R Core Team), versão 16.0.

RESULTADOS

Entre julho de 2008 e julho de 2011 foram randomizados 60 pacientes (Figura 2). Durante o período da realização deste estudo, mais de 250 procedimentos com implante de stents em carótidas foram realizados na instituição e 67 pacientes cumpriram os critérios de seleção/exclusão e foram randomizados. Durante o estudo, 2 pacientes retiraram seu consentimento e os outros 5 pacientes foram excluídos, uma vez que, no momento do procedimento, as características anatômicas das lesões as tornavam mais adequadas para um dos dispositivos de proteção cerebral, violando o critério de inclusão. Dos 60 pacientes incluídos, 26 (43,3%) tinham idade > 70 anos e foram objeto da presente análise.


Doze pacientes foram alocados para o grupo Mo.Ma® e 14, para o grupo Angioguard®, com média de idade de 75 ± 3,5 anos e características clínicas similares (Tabela).

Em todos os pacientes foi possível implantar o stent com o dispositivo de PEC indicado na randomização, sem cruzamentos (crossover). O tempo médio de procedimento foi similar (29,5 ± 10,3 minutos vs. 24,2 ± 10,4 minutos; P = 0,21).

Novos focos isquêmicos cerebrais foram encontrados em 8/12 (66,7%) pacientes do grupo Mo.Ma® e em 12/14 (85,7%) pacientes do grupo Angioguard® (P = 0,37). O número de lesões por paciente foi menor com o dispositivo Mo.Ma® (mediana [variação]: 3 [1 a 8] lesões vs. 15 [2 a 76] lesões; P < 0,001). Todos os 5 pacientes com > 40 lesões eram do grupo Angioguard® (Figura 3).


As lesões eram, em sua maioria, ipsilaterais à artéria tratada em ambos os grupos. Na Figura 4 observa-se a distribuição anatômica das microlesões cerebrais segundo o tipo de proteção cerebral. As lesões foram, em sua maioria, pequenas (< 0,5 cm em mais de 90% das lesões).


O sucesso do procedimento foi de 96,2%, com um paciente apresentando acidente vascular encefálico durante a intervenção, o qual apresentou recuperação total em menos de 30 dias (acidente vascular encefálico menor). Nova RM-PD tardia realizada nesse paciente mostrou o desaparecimento das lesões (Figura 5). No seguimento de pelo menos um ano, não ocorreram óbito ou acidente vascular encefálico maior nos pacientes dos dois grupos.


DISCUSSÃO

Os principais achados deste estudo foram: o número de microlesões cerebrais por paciente pela RM-PD foi significativamente menor no grupo de pacientes idosos tratados com Mo.Ma®, quando comparado ao grupo tratado com Angioguard®; e o implante de stents carotídeos com os dois tipos de PEC é factível em idosos e eficaz em termos de prevenção de eventos clínicos maiores.

As causas subjacentes da menor incidência de microembolização cerebral pela RM-PD em pacientes idosos que utilizaram proteção cerebral proximal ainda não estão completamente elucidadas e podem incluir uma combinação de fatores. A PEC por filtro distal necessita ultrapassar a lesão antes que a proteção esteja efetivamente funcionando. Os principais determinantes de aumento de risco de acidente vascular encefálico nesses pacientes são a complexidade do arco aórtico (maior proporção de arco aórtico tipo III)3, tipo de lesão tratada4,5, grau de calcificação6, excesso de angulação e tortuosidade da carótida abordada.7

O estudo de Brott et al.8 demonstrou, em 2.502 pacientes, que não houve diferença significativa no seguimento de quatro anos no desfecho primário de óbito, acidente vascular encefálico e infarto, entre stent carotídeo com proteção cerebral por filtro distal e endarterectomia (7.2% vs. 6.8%; P = 0,51). Também não houve diferença dos eventos encontrados entre gêneros (masculino/feminino) e sintomas (sintomáticos/assintomáticos). Com relação à idade, foi encontrada associação crescente entre maior risco de acidente vascular encefálico e idade mais avançada, quando se utilizava PEC distal.

Os fatores de risco para utilização de PEC distal foram estudados em registros e revisões9 e sistematicamente identificados a idade e o diabetes, e em outros trabalhos o gênero, o tabagismo e fatores de risco anatômicos já comentados. Contudo, ainda não sabemos se para a PEC proximal devemos considerar os mesmos fatores que para a PEC distal. Quando analisamos os estudos abordando a utilização de PEC proximal, encontramos que em 2.397 pacientes10 houve um desfecho primário combinado de morte, acidente vascular encefálico total ou infarto do miocárdio em 30 dias de 2,5%, com incidência de óbito em 0,40%, de acidente vascular encefálico em 1,71%, e de infarto do miocárdio em 0,02%. Verificamos que os únicos preditores independentes para eventos (morte, acidente vascular encefálico e infarto do miocárdio) foram idade e diabetes. Digno de nota, em todos os subgrupos, incluindo os octogenários, a incidência de eventos foi < 2,6%.

Finalmente, com a introdução de PEC proximal, as taxas de eventos adversos diminuíram sobremaneira, sendo mais beneficiados os pacientes de alto risco (idosos incluídos). Até o momento não existem estudos randomizados comparando stent carotídeo com proteção cerebral proximal e endarterectomia.

Limitações do estudo

As maiores limitações deste estudo referem-se ao pequeno número de casos, decorrente da dificuldade de encontrar pacientes que pudessem utilizar indistintamente ambos os sistemas de proteção cerebral, e à ausência de caracterização angiográfica da população, que poderia desequilibrar os grupos, apesar da randomização.

O reduzido número de pacientes restringe a extensão de nossas conclusões, que ficam limitadas ao cenário apresentado e aos dispositivos de PEC utilizados, não podendo ser extrapoladas para outros dispositivos já disponíveis comercialmente.

CONCLUSÕES

Os pacientes > 70 anos de idade parecem ter melhores resultados quando realizam implante de stents carotídeos com uso de PEC proximal (Mo.Ma®), apresentando menos microinfartos se comparados aos que utilizaram PEC distal (Angioguard®).

Estudos maiores com desfechos clínicos são recomendados para confirmar os achados deste estudo.

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses relacionado a este manuscrito.

Recebido em: 5/3/2013

Aceito em: 1o/6/2013

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  • Endereço para correspondência:
    Manuel Nicolas Cano
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Jul 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013

    Histórico

    • Recebido
      05 Mar 2013
    • Aceito
      01 Jun 2013
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