Acessibilidade / Reportar erro

Comparação dos Resultados da Intervenção Coronária Percutânea por Via Radial na Síndrome Coronariana Aguda Entre Mulheres e Homens

Comparison of Percutaneous Coronary Intervention Outcomes in Men and Women Using the Transradial Approach in Acute Coronary Syndrome

Resumos

Introdução:

Na síndrome coronariana aguda, o uso de múltiplos fármacos anticoagulantes e antiagregantes plaquetários contribui para o risco de sangramentos, incluindo aqueles da via de acesso vascular, particularmente no sexo feminino. O uso da artéria radial como via de acesso vascular mostrou reduzir a incidência de complicações.

Métodos:

Estudo retrospectivo, que incluiu pacientes com síndrome coronariana aguda submetidos a intervenções coronárias percutâneas por via radial, divididos de acordo com o sexo. Foram analisados os perfis dos pacientes, assim como as evoluções clínicas inicial e tardia.

Resultados:

Pacientes com síndrome coronariana aguda (n = 188) foram submetidos a intervenção coronária percutânea por acesso radial, sendo 34,6% mulheres. Os grupos não mostraram diferenças em relação às variáveis clínicas, com exceção do EuroSCORE e o clearence de creatinina, que caracterizaram um perfil um pouco mais complexo nas mulheres. Em relação às características angiográficas e do procedimento, não foram observadas diferenças em relação à maioria das variáveis. Dois terços dos pacientes tinham acometimento multiarterial, e as lesões tipo não C foram as mais tratadas. As taxas hospitalares de óbito (5,8% vs. 5,5%; p = 0,81), infarto do miocárdio (1,4% vs. 0; p = 0,76) e intervenção coronária percutânea de urgência (1,4% vs. 0; p = 0,76) foram semelhantes entre os grupos; os sangramentos graves foram raros (1,4% vs. 0; p = 0,76). Na evolução tardia, os eventos cardíacos maiores (18,3% vs. 17,1%; p = 0,67) foram semelhantes.

Conclusões:

Intervenção coronária percutânea por via radial mostrou-se tão efetiva nas mulheres quanto nos homens, no cenário da síndrome coronariana aguda, com alta taxa de sucesso e evolução clínica similar. Mostrou também ser segura, uma vez que os sangramentos foram eventos raros na população avaliada.

Síndrome coronariana aguda; Intervenção coronária percutânea; Artéria radial; Hemorragia; Fatores sexuais


Background:

In acute coronary syndrome, the use of multiple anticoagulation and antiplatelet drugs contributes to the risk of bleeding, including vascular access site bleeding, particularly in female patients. The use of the radial artery as a vascular access has shown to reduce the incidence of complications.

Methods:

Retrospective study including patients with acute coronary syndrome undergoing percutaneous coronary intervention by radial access, divided by gender. Patient profiles were analyzed, as well as the early and late outcomes.

Results:

Patients with acute coronary syndrome (n = 188) were submitted to percutaneous coronary intervention using the radial access and 34.6% of them were female. Clinical variables were similar between groups, except for the EuroSCORE and creatinine clearance, characterizing a slightly more complex profile in women. There were no differences in angiographic and procedure-related characteristics for most of the variables. Two thirds of the patients had multivessel disease and type non-C lesions were the most treated lesions. In-hospital death rates (5.8% vs. 5.5%; p = 0.81), myocardial infarction (1.4% vs. 0; p = 0.76) and emergency percutaneous intervention (1.4% vs 0; p = 0.76) were similar between groups and severe bleeding was rare (1.4% vs 0; p = 0.76). In the late follow-up, major adverse cardiac events (18.3% vs. 17.1%; p = 0.67) were similar.

Conclusions:

The transradial approach for per-cutaneous coronary intervention proved to be as effective in women as in men in the setting of acute coronary syndrome, with a high success rate and similar clinical outcomes. It also proved to be safe, since bleeding events were rare in the evaluated population.

Acute coronary syndrome; Percutaneous coronary intervention; Radial artery; Hemorrhage; Sex factors


A despeito dos inúmeros avanços ocorridos para o tratamento da síndrome coronariana aguda (SCA) nas últimas décadas, esta persiste como causa importante de mortalidade, e a aplicação de terapias em conformidade com as evidências científicas em pacientes da prática clínica permanece heterogênea. Esse problema é particularmente verdadeiro para populações específicas, como as mulheres, para quem a disparidade no tratamento tem sido evidenciada desde os estudos iniciais.11. Radovanovic D, Nallamothu BK, Seifert B, Bertel O, Eberli F, Urban P, et al. Temporal trends in treatment of ST-elevation myocardial infarction among men and women in Switzerland between 1997 and 2011. Eur Heart J Acute Cardiovasc Care. 2012;1(3):183-91.

A necessidade de anticoagulação plena e de antiagregação com múltiplos fármacos, incluindo os inibidores da glicoproteína IIb/IIIa, contribui para o risco de complicações hemorrágicas na abordagem percutânea da SCA. O sangramento do sítio do acesso vascular é uma causa importante de morbidade e de mortalidade após o procedimento, particularmente em mulheres.22. Piper WD, Malenka DJ, Ryan TJ Jr, Shubrooks SJ Jr, O'Connor GT, Robb JF, et al. Predicting vascular complications in per-cutaneous coronary interventions. Am Heart J. 2003;145(6): 1022-9. Nas intervenções coronárias percutâneas (ICP) realizadas de forma eletiva ou urgente, o uso da artéria radial, comparado ao da artéria femoral, como rota vascular de acesso, tem mostrado taxas de sucesso semelhantes e redução das complicações relacionadas ao sítio de punção.33. Eichhofer J, Horlick E, Ivanov J, Seidelin PH, Ross JR, Ing D, et al. Decreased complication rates using the transradial compared to the transfemoral approach in percutaneous coronary intervention in the era of routine stenting and glycoprotein platelet IIb/IIIa inhibitor use: a large single-center experience. Am Heart J. 2008;156(5):864-70.,44. Jolly SS, Amlani S, Hamon M, Yusuf S, Mehta SR. Radial versus femoral access for coronary angiography or intervention and the impact on major bleeding and ischemic events: a systematic review and meta-analysis of randomized trials. Am Heart J. 2009;157(1):132-40. No entanto, existem poucos estudos que avaliam o impacto do sexo feminino nos resultados da ICP realizada por via radial na SCA.

O objetivo deste estudo foi avaliar os perfis clínico, angiográfico e do procedimento, assim como a evolução inicial e tardia, de mulheres e de homens portadores de SCA, tratados com a ICP via radial.

MÉTODOS

População do estudo

Estudo retrospectivo, com a inclusão consecutiva de pacientes com SCA, com e sem supradesnivelamento do segmento ST, tratados por via radial. Pacientes em choque cardiogênico que tinham pulso radial presente no momento da ICP também foram incluídos na casuística.

Procedimento

A punção da artéria radial foi realizada com o paciente com o membro superior direito estendido ao lado do corpo, com a mão em posição supina, sob anestesia local, realizada com 2 a 3 mL de lidocaína 2%. Para puncionar a artéria, foi utilizado um jelco 20 e, após a punção, foram inseridas bainhas arteriais específicas para a artéria radial de 5 a 7 F, com 11 cm de comprimento. Após o procedimento, a bainha arterial foi retirada em sala, sem reversão da heparina, tendo sido realizado curativo compressivo com gaze e esparadrapo. Habitualmente, o curativo compressivo é retirado 2 horas após o procedimento.

Todos os pacientes foram tratados com stents não farmacológicos e receberam dose de ataque de 300 mg de ácido acetilsalicílico e 600 mg de clopidogrel, seguida de dose de manutenção de 100 mg e 75 mg diários, respectivamente, além de heparina não fracionada por via endovenosa, durante o procedimento, na dose de 70 a 100 U/kg.

Foi realizado seguimento após a alta hospitalar com 1, 3, 6 e 12 meses e, a seguir, anual, via contato médico ou telefônico.

Definições

A morfologia da lesão pela classificação da Society for Cardiovascular Angiography and Interventions (SCAI) foi definida como I para lesão não C patente; II para lesão tipo C patente; III para lesão não C ocluída; e IV para lesão tipo C ocluída. O sucesso angiográfico foi definido como a obtenção do diâmetro da estenose < 30% com fluxo final segundo o critério Thrombolysis in Myocardial Infarction (TIMI) 3.

O sangramento foi definido de acordo com os critérios TIMI:55. Chesebro JH, Knatterud G, Roberts R, Borer J, Cohen LS, Dalen J, et al. Thrombolysis in Myocardial Infarction (TIMI) Trial, phase I: a comparison between intravenous tissue plasminogen activator and intravenous streptokinase: clinical findings through hospital discharge. Circulation. 1987;76(1):142-54. mínimo para qualquer sinal clínico de hemorragia associado a queda da hemoglobina < 3 g/dL; menor para qualquer sinal clínico de hemorragia associado a queda da hemoglobina de 3 a 5 g/dL; e maior para hemorragia intracraniana, sinal de hemorragia clinicamente significante associada à queda da hemoglobina > 5 g/dL ou sangramento fatal. Utilizamos também os critérios do Bleeding Academic Research Consortium (BARC),66. Mehran R, Rao SV, Bhatt DL, Gibson CM, Gibson CM, Caixeta A, et al. Standardized bleeding definitions for cardiovascular clinical trials: a consensus report from the Bleeding Academic Research Consortium. Circulation. 2011;123(23):2736-47. ou seja: tipo 0 se ausência de sangramento; tipo 1 se sangramentos pequenos que não necessitam de atendimento médico ou internação hospitalar; tipo 2 se qualquer sinal de hemorragia que não se encaixa nos tipos 3, 4 ou 5, mas com pelo menos um dos seguintes critérios: intervenção médica não cirúrgica, necessidade de internação hospitalar ou aumento do nível de cuidados, necessidade de avaliação clínica; tipo 3A se sangramento associado à queda da hemoglobina de 3 a 5 g/dL ou sangramento que necessita de transfusão sanguínea; tipo 3B se sangramento associado a queda da hemoglobina > 5 g/dL, tamponamento cardíaco, sangramento que necessita de tratamento cirúrgico para controle (exceto dental/nasal/pele/hemorroidas) ou do uso de drogas vasoativas; tipo 3C se sangramento intracraniano (exceto micro-hemorragias ou transformação hemorrágica, subcategorias distintas de sangramentos confirmados por autópsia, exames de imagem ou lavado peritoneal ou sangramento intraocular que comprometa a visão); tipo 4 se sangramento relacionado à cirurgia de revascularização miocárdica; tipo 5 para sangramento fatal.

Os eventos cardíacos adversos maiores (ECAM) foram definidos como o combinado de óbito cardíaco, IAM não fatal e necessidade de revascularização do vaso-alvo. A trombose do stent foi classificada em aguda, subaguda, tardia e muito tardia, de acordo com os critérios do Academic Research Consortium (ARC).66. Mehran R, Rao SV, Bhatt DL, Gibson CM, Gibson CM, Caixeta A, et al. Standardized bleeding definitions for cardiovascular clinical trials: a consensus report from the Bleeding Academic Research Consortium. Circulation. 2011;123(23):2736-47.

Análise estatística

As variáveis contínuas foram expressas como média e desvio padrão, e as comparações foram realizadas com o teste t para amostras independentes. Variáveis qualitativas foram expressas como números e porcentagens e comparadas pelos testes qui-quadrado ou exato de Fisher, quando apropriado.

Utilizamos o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows versão 12.0 para a execução dos cálculos estatísticos. Valor de p < 0,05 foi considerado significante.

RESULTADOS

No período de junho de 2011 a dezembro de 2013, 188 pacientes com SCA foram submetidos à ICP por acesso transradial, sendo 65 (34,6%) do sexo feminino. A média de idades foi 62,0 ± 13,4 anos e 61,0 ± 11,0 anos (p = 0,58), e a incidência de diabetes foi de 33,8% vs. 22,0% (p = 0,24), respectivamente para mulheres e homens. Os grupos não mostraram diferenças em relação à maioria das variáveis clínicas, com exceção do EuroSCORE aditivo ou logístico e o clearence de creatinina (71,9 ± 32,3 mL/kg/min vs. 91,2 ± 31,3 mL/kg/min; p < 0,01), que caracterizaram perfil um pouco mais complexo das pacientes do sexo feminino (Tabela 1).

Tabela 1
Características clínicas

Em relação às características angiográficas (Tabela 2) e do procedimento (Tabela 3), não foram observadas diferenças em relação à maioria das variáveis entre os grupos. Dois terços dos pacientes tinham acometimento multiarterial e as lesões tipo não C foram as mais frequentemente tratadas. O tempo porta-balão foi significantemente maior nas pacientes submetidas à ICP primária (188,2 ± 92,1 minutos vs. 80,7 ± 15,7 minutos; p < 0,01). O crossover da via de acesso foi baixo (5,7% vs. 5,5%; p = 0,39), e o volume de contraste utilizado, o tempo de fluoroscopia e a duração do procedimento foram semelhantes entre os grupos. Os introdutores 5 F foram mais frequentemente utilizados no grupo das mulheres (33,3% vs. 15,0%; p = 0,02). O sucesso angiográfico foi alto e sem diferença entre os grupos (97,8% vs. 96,8%; p = 0,97). A angiografia coronariana quantitativa (Tabela 4) mostrou que os pacientes do sexo feminino tinham vasos de mais fino calibre e com menores diâmetros de estenose.

Tabela 2
Características angiográficas
Tabela 3
Características do procedimento
Tabela 4
Angiografia coronariana quantitativa

As taxas hospitalares de óbito (5,8% vs. 5,5%; p = 0,81), infarto do miocárdio (1,4% vs. 0; p = 0,76) e ICP de urgência (1,4% vs. 0; p = 0,76) foram semelhantes entre os grupos (Tabela 5). Houve um caso de trombose subaguda do stent no grupo das mulheres, com consequente infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST e reintervenção percutânea de urgência. Em relação aos sangramentos, tivemos apenas um caso de sangramento grave entre as mulheres (maior e tipo 3B, pelos critérios TIMI e BARC, respectivamente), que ocorreu em paciente em que foi necessária a troca da via de acesso para a artéria femoral e que necessitou de intervenção cirúrgica vascular.

Tabela 5
Evolução hospitalar

No seguimento tardio (Tabela 6), o tempo médio de seguimento foi 211,1 ± 223,4 dias e 217,2 ± 238,4 dias (p = 0,87), respectivamente para mulheres e homens. Não observamos diferenças na taxas de óbito (8,3% vs. 7,2%; p = 0,96), infarto do miocárdio (0 vs. 2,7%; p = 0,93), revascularização do vaso-alvo (10,0% vs. 7,2%; p = 0,77) e ECAM (18,3% vs. 17,1%; p = 0,67). Ocorreram mais três casos de trombose subaguda do stent (0 vs. 2,7%; p = 0,93) e nenhum caso de trombose tardia ou muito tardia.

Tabela 6
Evolução tardia

DISCUSSÃO

Em nossa experiência, a ICP por via radial mostrou-se tão efetiva nos pacientes do sexo feminino quanto do masculino no cenário da SCA, além de ter apresentado baixas taxas de crossover da via de acesso, sangramento e complicações do sítio de punção.

Inúmeros estudos demostraram benefícios do emprego da via radial em relação à femoral na SCA. Hetherington et al.77. Hetherington SL, Adam Z, Morley R, Belder MA, Hall JA, Muir DF, et al. Primary percutaneous coronary intervention for acute ST-segment elevation myocardial infarction: changing patterns of vascular access, radial versus femoral artery. Heart. 2009;95(19):1612-8. mostraram, em estudo observacional com pacientes submetidos à ICP primária transradial, taxa de eventos cardíacos adversos intra-hospitalares semelhantes e redução de complicações vasculares quando comparados ao acesso femoral. Já no estudo randomizado RIFLE-STEACS, a ICP primária ou de resgate por via radial, quando comparada à via femoral, foi associada a taxas significativamente menores de mortalidade cardíaca e sangramento.88. Romagnoli E, Biondi-Zoccai G, Sciahbasi A, Politi L, Rigattieri S, Pendenza G, et al. Radial versus femoral randomized investigation in ST-segment elevation acute coronary syndrome: the RIFLE-STEACS (Radial Versus Femoral Randomized Investigation in ST-Elevation Acute Coronary Syndrome) study. J Am Coll Cardiol. 2012;60(24):2481-9. Da mesma forma, Vorobcsuk et al.,99. Vorobcsuk A, Konyi A, Aradi D, Ungi I, Louvard Y, Komócsi A. Transradial versus transfemoral percutaneous coronary intervention in acute myocardial infarction: systematic overview and meta-analysis. Am Heart J. 2009;158(5):814-21. em meta-análise de 12 estudos com 3.324 pacientes submetidos à ICP no infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST por via radial, comparada à via femoral, destacaram redução de 70% do sangramento do sítio de acesso com a via radial, menor incidência de eventos cardíacos adversos e mortalidade. No registro MORTAL, foram analisados retrospectivamente 38.872 pacientes submetidos à ICP por vias radial ou femoral em pacientes com e sem SCA, sendo constatado que pacientes transfundidos tiveram aumento significativo da mortalidade em 30 dias e 1 ano − a via radial reduziu a taxa de transfusões. Após ajuste de todas as variáveis, o acesso radial esteve associado com significativa redução na mortalidade em 30 dias e 1 ano.1010. Chase AJ, Fretz EB, Warburton WP, Klinke WP, Carere RG, PI D, et al. Association of the arterial acess site at angioplasty with transfusion and mortality: the M.O.R.T.A.L study (Mortality benefit Of Reduced Transfusion after percutaneous coronary intervention via the Arm or Leg). Heart. 2008;94(8): 1019-25. Por último, o maior estudo randomizado realizado até o momento, o RIVAL, comparou os acessos radial e femoral em 7.021 pacientes com SCA e mostrou, nos pacientes com infarto com supradesnivelamento do segmento ST, benefícios a favor do acesso radial, que foram, em grande parte, influenciados pela redução da mortalidade, provavelmente devido à redução nas taxas de sangramento.1111. Jolly SS, Yusuf S, Cairns J, Niemelä K, Xavier D, Widimsky P, et al. Radial versus femoral access for coronary angiography and intervention in patients with acute coronary syndromes (RIVAL): a randomised, parallel group, multicentre trial. Lancet. 2011;377(9775):1409-20. Esses resultados foram encontrados apenas entre os operadores com maior experiência no acesso radial (400 casos/ano). Em nosso meio, publicações de Andrade et al.1212. Andrade PB, Tebet MA, Silva FSM, Andrade MVA, Mattos LA, Labrunie A. Utilização do acesso radial elimina a ocorrência de sangramento grave relacionado ao sítio de punção após intervenção coronária percutânea primária. Rev Bras Cardiol Invasiva. 2010;18(4):387-91. e do nosso grupo1313. Dall'Orto CC, Lopes RPF, Oliveira LDS, Cisari G, Marques AS, Perea JCC, et al. Intervenção coronária percutânea por acesso transradial em pacientes com infarto agudo do miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST. Rev Bras Cardiol Invasiva. 2012;20(3):282-7. reproduziram os benefícios da opção pelo acesso radial na ICP primária.

No que tange à abordagem das mulheres com a ICP, historicamente esse grupo de pacientes apresenta piores resultados agudos e tardios, em comparação com os homens.1414. Chauhan MS, Ho KK, Baim DS, Kuntz RE, Cutlip DE. Effect of gender on in-hospital and one-year outcomes after contemporary coronary artery stenting. Am J Cardiol. 2005;95(1): 101-4. Estudos mais contemporâneos têm mostrado que os eventos isquêmicos não ajustados permanecem desfavoráveis para as mulheres, mas o ajuste estatístico para diferenças basais geralmente neutraliza o impacto do sexo feminino.1515. Mehilli J, Kastrati A, Dirschinger J, Bollwein H, Neumann FJ, Schömig A. Differences in prognostic factors and outcomes between women and men undergoing coronary artery stenting. JAMA. 2000;284(14):1799-805.

Em relação às complicações vasculares da via de acesso e sangramentos, existem poucos estudos que tratam do impacto do gênero feminino nos resultados da ICP, especialmente na SCA. Tizón-Marcos et al.,1616. Tizón-Marcos H, Bertrand OF, Rodés-Cabau J, Larose E, Gaudreault V, Bagur R, et al. Impact of female gender and transradial coronary stenting with maximal antiplatelet therapy on bleeding and ischemic outcomes. Am Heart J. 2009;157(4):740-5. em subanálise do estudo EARLY, avaliaram 1.348 pacientes com SCA submetidos à ICP por via radial, comparando os resultados de acordo com os gêneros. Em concordância com nossos resultados, as mulheres mostraram pior função renal, maior utilização de introdutores 5 F e não apresentaram diferença na taxa de eventos isquêmicos e sangramento maior quando comparadas aos homens. Os autores sugerem que a abordagem transradial sistemática é mais importante que a escolha do regime antiagregante e antitrombótico na diminuição do sangramento e desfechos adversos nessa população.1616. Tizón-Marcos H, Bertrand OF, Rodés-Cabau J, Larose E, Gaudreault V, Bagur R, et al. Impact of female gender and transradial coronary stenting with maximal antiplatelet therapy on bleeding and ischemic outcomes. Am Heart J. 2009;157(4):740-5.

Limitações do estudo

Este estudo apresenta as limitações inerentes aos estudos retrospectivos e observacionais. Limitações adicionais estão relacionadas ao tamanho reduzido da população e ao fato de ter sido conduzido em um único centro, onde o acesso radial é preponderante para a realização de procedimentos coronarianos, diagnósticos e terapêuticos.

CONCLUSÕES

Em nossa experiência, a intervenção coronária percutânea por via radial mostrou-se tão efetiva nos pacientes do sexo feminino quanto do masculino no cenário da síndrome coronariana aguda, com alta taxa de sucesso do procedimento e evolução clínica similar. Mostrou também ser segura, uma vez que a taxa de sangramento foi evento raro na população avaliada.

  • FONTE DE FINANCIAMENTO
    Não há.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Radovanovic D, Nallamothu BK, Seifert B, Bertel O, Eberli F, Urban P, et al. Temporal trends in treatment of ST-elevation myocardial infarction among men and women in Switzerland between 1997 and 2011. Eur Heart J Acute Cardiovasc Care. 2012;1(3):183-91.
  • 2
    Piper WD, Malenka DJ, Ryan TJ Jr, Shubrooks SJ Jr, O'Connor GT, Robb JF, et al. Predicting vascular complications in per-cutaneous coronary interventions. Am Heart J. 2003;145(6): 1022-9.
  • 3
    Eichhofer J, Horlick E, Ivanov J, Seidelin PH, Ross JR, Ing D, et al. Decreased complication rates using the transradial compared to the transfemoral approach in percutaneous coronary intervention in the era of routine stenting and glycoprotein platelet IIb/IIIa inhibitor use: a large single-center experience. Am Heart J. 2008;156(5):864-70.
  • 4
    Jolly SS, Amlani S, Hamon M, Yusuf S, Mehta SR. Radial versus femoral access for coronary angiography or intervention and the impact on major bleeding and ischemic events: a systematic review and meta-analysis of randomized trials. Am Heart J. 2009;157(1):132-40.
  • 5
    Chesebro JH, Knatterud G, Roberts R, Borer J, Cohen LS, Dalen J, et al. Thrombolysis in Myocardial Infarction (TIMI) Trial, phase I: a comparison between intravenous tissue plasminogen activator and intravenous streptokinase: clinical findings through hospital discharge. Circulation. 1987;76(1):142-54.
  • 6
    Mehran R, Rao SV, Bhatt DL, Gibson CM, Gibson CM, Caixeta A, et al. Standardized bleeding definitions for cardiovascular clinical trials: a consensus report from the Bleeding Academic Research Consortium. Circulation. 2011;123(23):2736-47.
  • 7
    Hetherington SL, Adam Z, Morley R, Belder MA, Hall JA, Muir DF, et al. Primary percutaneous coronary intervention for acute ST-segment elevation myocardial infarction: changing patterns of vascular access, radial versus femoral artery. Heart. 2009;95(19):1612-8.
  • 8
    Romagnoli E, Biondi-Zoccai G, Sciahbasi A, Politi L, Rigattieri S, Pendenza G, et al. Radial versus femoral randomized investigation in ST-segment elevation acute coronary syndrome: the RIFLE-STEACS (Radial Versus Femoral Randomized Investigation in ST-Elevation Acute Coronary Syndrome) study. J Am Coll Cardiol. 2012;60(24):2481-9.
  • 9
    Vorobcsuk A, Konyi A, Aradi D, Ungi I, Louvard Y, Komócsi A. Transradial versus transfemoral percutaneous coronary intervention in acute myocardial infarction: systematic overview and meta-analysis. Am Heart J. 2009;158(5):814-21.
  • 10
    Chase AJ, Fretz EB, Warburton WP, Klinke WP, Carere RG, PI D, et al. Association of the arterial acess site at angioplasty with transfusion and mortality: the M.O.R.T.A.L study (Mortality benefit Of Reduced Transfusion after percutaneous coronary intervention via the Arm or Leg). Heart. 2008;94(8): 1019-25.
  • 11
    Jolly SS, Yusuf S, Cairns J, Niemelä K, Xavier D, Widimsky P, et al. Radial versus femoral access for coronary angiography and intervention in patients with acute coronary syndromes (RIVAL): a randomised, parallel group, multicentre trial. Lancet. 2011;377(9775):1409-20.
  • 12
    Andrade PB, Tebet MA, Silva FSM, Andrade MVA, Mattos LA, Labrunie A. Utilização do acesso radial elimina a ocorrência de sangramento grave relacionado ao sítio de punção após intervenção coronária percutânea primária. Rev Bras Cardiol Invasiva. 2010;18(4):387-91.
  • 13
    Dall'Orto CC, Lopes RPF, Oliveira LDS, Cisari G, Marques AS, Perea JCC, et al. Intervenção coronária percutânea por acesso transradial em pacientes com infarto agudo do miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST. Rev Bras Cardiol Invasiva. 2012;20(3):282-7.
  • 14
    Chauhan MS, Ho KK, Baim DS, Kuntz RE, Cutlip DE. Effect of gender on in-hospital and one-year outcomes after contemporary coronary artery stenting. Am J Cardiol. 2005;95(1): 101-4.
  • 15
    Mehilli J, Kastrati A, Dirschinger J, Bollwein H, Neumann FJ, Schömig A. Differences in prognostic factors and outcomes between women and men undergoing coronary artery stenting. JAMA. 2000;284(14):1799-805.
  • 16
    Tizón-Marcos H, Bertrand OF, Rodés-Cabau J, Larose E, Gaudreault V, Bagur R, et al. Impact of female gender and transradial coronary stenting with maximal antiplatelet therapy on bleeding and ischemic outcomes. Am Heart J. 2009;157(4):740-5.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2014

Histórico

  • Recebido
    05 Dez 2013
  • Aceito
    20 Fev 2014
Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista - SBHCI R. Beira Rio, 45, 7o andar - Cj 71, 04548-050 São Paulo – SP, Tel. (55 11) 3849-5034, Fax (55 11) 4081-8727 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbhci@sbhci.org.br