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AS CONTRIBUIÇÕES DE JOSEPH HERMAN PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PERÍODO IMPERIAL

JOSEPH HERMAN’S CONTRIBUTIONS TO BRAZILIAN EDUCATION IN THE IMPERIAL PERIOD

LAS CONTRIBUCIONES DE JOSEPH HERMAN PARA LA EDUCACIÓN BRASILEÑA EN EL PERÍODO IMPERIAL

LES CONTRIBUTIONS DE JOSEPH HERMAN À L’ÉDUCACION BRÉSILIENNE DANS LA PÉRIODE IMPÉRIALE

Resumo

Este artigo está fundamentado numa pesquisa de caráter biográfico sobre Joseph Herman, o Barão de Tautphoeus, um educador reconhecido no período Imperial brasileiro, mas que ainda não possui estudos mais aprofundados sobre a sua peculiar trajetória. De origem alemã, não só foi professor catedrático do Colégio Pedro II, como fundou e dirigiu outras instituições de ensino no município da Corte e em várias outras cidades. A metodologia utilizada foi a análise documental das fontes encontradas no Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II e em periódicos da época. Destacamos a importância desse professor e sustentamos que o mesmo pode ter sido um dos responsáveis pela penetração, no Brasil, de ideais do movimento de renovação pedagógica que ocorreu na Europa, no século XIX.

Palavras-chave:
Barão de Tautphoeus; trajetória; identidade profissional docente

Abstract

This study is based on a biographical research on Joseph Herman, The Barão de Tautphoeus, an acknowledged educator in the Brazilian Imperial period, but that still does not have further studies about his peculiar trajectory. Being of German origins, he was not only a professor from Colégio Pedro II, as he founded and directed other educational institutions of the Court city and several other cities. The methods used consist in documental analyses of sources founded in the Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II and also in journals at that time. We emphasize the importance of the professor and sustain that it may have been responsible for the entrance, in Brazil, of ideals from the movement of pedagogical renewal that occurred in Europe in the XIX century.

Keywords:
Barão de Tautphoeus; trajectory; teacher professional identity

Resumen

El estudio representa un trabajo de carácter biográfico sobre Joseph Herman, el Barón de Tautphoeus, un educador reconocido en el período Imperial brasileño, pero todavía no hay muchos estudios de suya peculiar trayectoria. De origen alemana, fue catedrático del Colegio Pedro II, fundó y dirigió otras instituciones de enseñanza en el municipio de la Corte y en diversas ciudades. La metodología elegida fue el análisis documental de las fuentes encontradas en el Núcleo de Documentación y Memoria del Colégio Pedro II y en los periódicos del período. Se destaca la importancia del profesor y sostenemos suya participación como uno de los responsables por la penetración, en Brasil, de ideales del movimiento de renovación pedagógica europeo, del siglo XIX.

Palabras clave:
Barón de Tautphoeus; trayectoria; identidad profesional docente

Résumé

Cet article présente une recherche biographique au sujet de Joseph Herman, le Baron de Tautphoeus, un célèbre éducateur du période Imperial brésilien, mais qui n’a encore beaucoup d’études de sa particulière trajectoire. D’origine allemand, il a été professeur agrégé du Colégio Pedro II, fondateur et directeur de plusieurs institutions d’enseignement à la municipalité de la Cour et en autres villes. La méthodologie utilisée a été l’analyse documentaire de sources trouvées dans le Centre de Documentation et Mémoire du Colégio Pedro II et quelques revues de l’époque. Nous soulignons l’importance de ce professeur et soutenons sa participation comme l’un des responsables pour la pénétration, au Brésil, des idées du mouvement de rénovation pédagogique européen, au 19e siècle.

Mots-clés:
Baron de Tautphoeus; trajectoire; identité professionnel enseignant

Introdução

Refletir sobre sujeitos que tiveram sua trajetória marcada por engajamentos educacionais ou que fizeram da educação parte de um projeto político e cultural para o Brasil, é um exercício que implica no mapeamento das redes pelas quais tais indivíduos circularam. Essa temática tem ocupado lugar de destaque na historiografia da educação brasileira há algum tempo.

Nos últimos anos, nos esforçamos no sentido de identificar como os primeiros professores secundários do Colégio Pedro II construíram suas trajetórias no contexto de fundação desta instituição, ou seja, em 1837, perpassando pelas décadas que se seguiram. Tratava-se de investigar os professores da primeira instituição de ensino secundário brasileira, que conservou até meados do século XX, o caráter modelar para outras instituições de ensino secundário no Brasil e que permanece mantido pelo governo federal nos dias atuais. Foi aí que, ao debruçarmos sobre a documentação disponível no Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II (Nudom/CPII)1 1 O Nudom é um núcleo institucional de pesquisa interdepartamental cuja meta é restaurar, organizar e divulgar o acervo manuscrito, iconográfico e documental da História e Memória do Colégio Pedro II, aberto a pesquisadores. O acervo documental e histórico do Nudom inclui: Atas da Congregação; Anuários; Compêndios (Livros Didáticos); Decretos / Leis; Livros de Exames; Livros de Concursos para a Cátedra; Planos de Estudo e Programas de Ensino, Relatórios e Regulamentos; Teses de Concursos (Concursos públicos de professores catedráticos e substitutos desde o séc. XIX e produção acadêmica atual de professores, funcionários e ex-alunos); dentre outros. , nos deparamos com a figura de Joseph Herman2 2 Os documentos encontrados foram publicados numa época em que não havia uma grafia uniformizada, o que explica as formas diferentes de escrita: Joseph Herman, José Guilherme Hermann de Tautphoeus, Joseph Hermann, dentre outras. , também conhecido como o Barão de Tautphoeus, personagem que abordaremos neste trabalho. De documento em documento percebíamos que esse professor ganhava importância, visibilidade e que se construía, ao seu redor, uma grande rede de sociabilidade.

Este artigo está fundamentado em uma pesquisa3 3 Trata-se de uma pesquisa de pós-doutoramento, ainda em andamento, sob a supervisão da Professora Dra.Ana Waleska Pollo Campos Mendonça. de caráter biográfico, sobre o Barão de Tautphoeus, um educador reconhecido no período Imperial, mas que ainda não possui estudos mais aprofundados sobre a sua peculiar trajetória. De origem alemã, não só foi professor do Colégio, como fundou e dirigiu outras instituições de ensino no município da Corte e em várias cidades. Sua atuação como professor do Colégio, em diferentes matérias de ensino, é lembrada nas memórias de vários intelectuais importantes desse período. Objetivamos investigar a vida e a obra de Joseph Herman, conferindo importância à sua trajetória profissional, identificando seus discípulos, instituições por onde passou, além de demonstrar suas contribuições para a educação brasileira.

A metodologia adotada foi a análise documental de fontes encontradas Nudom/CPII e em alguns relatos biográficos publicados em periódicos da época, especialmente os que foram escritos após seu falecimento. Nesse artigo dialogamos de forma mais direta com alguns deles. O primeiro é de Joaquim Nabuco (1963NABUCO, Joaquim. Minha Formação. 5 ed. Brasília: Ed. da UNB, 1963.), que dedica a Tautphoeus um capítulo do seu livro memorialístico, Minha Formação. Encontramos também, dois artigos de Escragnolle Dória (1890 e 1939), professor catedrático de História, publicados na Revista da Semana. Abordamos ainda, os textos de Dominó Sobrinho (1890DOMINÓ SOBRINHO. Pequenos Echos. Revista Illustrada, Ano 15, n. 580, p. 3, 1890.), publicado na Revista Illustrada; Pandiá H. de Tautphoeus C. Branco e Clado Ribeiro de Lessa, publicados no Anuário do Colégio Pedro II (COLÉGIO PEDRO II, 1944); de Gama Rosa (1911GAMA ROSA, Francisco Luís. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 323-324, 1911.) e Pires de Almeida (1905PIRES DE ALMEIDA, José Ricardo. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 263-264, 1905.); publicados no Almanaque Garnier; e, por fim, o estranho aparecimento do Barão de Tautphoeus nas memórias de Mário Lago (2012). Cabe destacar que os professores, políticos, intelectuais, que escreveram sobre Tautphoeus e cujas narrativas serão aqui apresentadas e analisadas, transitaram pelos mesmos espaços que o Barão.

O Barão de Tautphoeus: trajetória e aspectos identitários

Joaquim Nabuco publicou seu livro de memórias intitulado Minha Formação em 1900, aos 51 anos de idade. O Barão de Tauphoeus havia sido a maior influência intelectual de Nabuco. Influência recebida de um aristocrata alemão, considerado liberal naquela época.

Nabuco o via como um homem de características socráticas, ou seja, de “coragem fria”; “calma imperturbável”; “resistente à fadiga”; que gostava de palestras; da conversação intelectual; da companhia dos jovens; da modéstia; da alegria de viver como espectador do universo, cedendo sempre aos outros o melhor lugar; respeitador da ordem social, quem quer que a encarnasse. Tautphoeus era, para Nabuco, “um sábio da Grécia” e o comparava a uma enciclopédia ou dicionário que a cada instante alguém manuseasse. Bastava perguntar e esperar o desenrolar da resposta. Falava de um modo uniforme, sem ênfase, sem expressão, mas jorrava ciência e erudição, como se naquele mesmo dia tivesse estudado o assunto. Nabuco o conheceu conservador, católico e abalado com o Kulturkampf4 4 Movimento anticlerical alemão do século XIX, iniciado por Bismarck. .

Cerca de 10 anos após a morte do Barão, Nabuco já destacava em sua obra que pouco se sabia sobre a juventude de Tautphoeus e que seria interessante investigar os fatos a respeito dela. No artigo publicado na Revista da Semana, de 18 de novembro de 1939, intitulado Tautphoeus Educador, Dória também afirma que havia muito a dizer sobre a vida europeia de Tautphoeus, mas preferia, ao elaborar o artigo, atentar-se ao Brasil, entre estudantes, corte habitual do Barão.

Segundo Dória (1939_____. Tautphoeus Educador. Revista da Semana. Edição de 18 de Novembro de 1939, 1939.), José Guilherme Hermann de Tautphoeus era bávaro de Lindau5 5 O Jornal O Paiz, edição de 22 de setembro de 1912, publicou em coluna não assinada e intitulada Commemorações, que naquela data, no ano de 1812, nascia em Ingolstadt [e não em Lindau, como afirma Dória (1939)] o Barão de Tautphoeus. , nascido em 22 de setembro de 1812 e falecido no Rio de Janeiro, a 27 de fevereiro de 1890. Foi personagem não só do nosso ensino, como da sociedade brasileira do pleno Segundo Reinado aos dias incipientes da República. Formado em Direito pela Universidade de Munique, prestou exame de madureza aos 16 anos, dedicou-se ao estudo das ciências naturais e médias e, para descansar, das línguas, autodidata a completar lições de mestres. Tautphoeus na juventude, legitimo alemão universitário do seu tempo, era destro no manejo das armas, espada, florete e pistola. Era favorável à prática de exercícios físicos pelos jovens, desenvolvendo o corpo a par da inteligência, sem que isso os impedissem de sentar nas horas certas à banca de estudos.

Nabuco aponta que o jovem Tautphoeus, antes de ter sido forçado a expatriar-se da Baviera por motivos políticos, teria acompanhado o Rei Othon à Grécia, depois viveu em Paris, por volta de 1830, e frequentava a plêiade liberal do Journal des Débats, até que emigrou para o Brasil.

Sempre com um livro alemão de grosso volume debaixo do braço, caminhava horas inteiras no mesmo ritmo, alheio ao mundo exterior. Era um homem que sabia de tudo. Sua conversação era inesgotável. O assunto lhe era indiferente, e até o fim, anos seguidos, dia após dia, encontrava-se com interlocutores curiosos que desejavam ouvi-lo sobre os pontos que mais lhe interessavam. Dória (1939_____. Tautphoeus Educador. Revista da Semana. Edição de 18 de Novembro de 1939, 1939.) reafirma a insaciável paixão do Barão de Tautphoeus pela leitura. Se distraía também com o xadrez, embora seu amigo Joaquim Manoel de Macedo6 6 Professor de Geografia e História do Brasil no Colégio Pedro II, médico, jornalista, político, romancista, poeta, teatrólogo e memorialista brasileiro. , considerasse que tal jogo não exigia cálculo e reflexão. No artigo intitulado O Barão de Tautphoeus, publicado na Revista da Semana, Dória (1890) afirma, também, que o Barão era muito distraído, como se vivesse dentro dele mesmo, no bastar de si, do seu saber e da sua memória. Conta que o Barão era tão conhecido que, certa vez, um condutor dos velhos bondes cariocas se recusou a receber sua passagem, por saber que tratava-se Tautphoeus. Segundo Paranhos da Silva7 7 Bacharel pelo Colégio Pedro II e ex-diretor do Internato. , Tautphoeus era apreciador de charutos e “não os tirava da boca, além de usar sempre um casquete”. O ex-diretor ressalta ainda, que “verdadeira veneração tributavam-lhe os estudantes”.

Dominó Sobrinho (1890DOMINÓ SOBRINHO. Pequenos Echos. Revista Illustrada, Ano 15, n. 580, p. 3, 1890.), na breve síntese que faz da trajetória de Tautphoeus, destaca que “de origem alemã, estava no Brasil há quase cinquenta anos, e nesse período, provou sempre sobejamente, tanto a bondade do seu coração, verdadeiramente patriarcal, como a ilustração sólida do seu cérebro incomparável”. Retrata-o como um homem de hábitos muito simples, que fugia sempre das ninharias contemporâneas e de quem não havia meios de ouvir futilidades. E era assim, naturalmente, sempre de sorriso nos lábios e charuto no canto da boca.

Por sua vez, Francisco Luís da Gama Rosa8 (1911GAMA ROSA, Francisco Luís. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 323-324, 1911.) conheceu Tautphoeus na qualidade de discípulo. Tal fato acontecera em 1870, quando o Barão teria cerca de 60 anos. Gama Rosa o descreve como um homem de pequena estatura, magro, olhos minúsculos, cheio de vivacidade, a barba aparada em colar, à maruja, o bigode cortado rente ao bordo do lábio superior, trajando singelamente vestes domésticas, usadas, sempre ornado de pequeno gorro teutônico e, invariavelmente, sentado em amplíssima poltrona, estofada, a ler ininterruptamente e a fumar infindavelmente.

Muito míope, lia os escritos junto aos olhos. A especialidade do Barão era lecionar, profusa e profundamente, qualquer matéria de humanidades, sem leitura prévia, apenas indagando o ponto em que ficara o professor substituído. De resto, possuía erudição universal, germânica enciclopédica e vasta. O Barão de Tautphoeus não foi sempre esse indivíduo tranquilo e sábio que, invariavelmente, se exibiu no Brasil. Havia sido liberal exaltado na Alemanha, e, envolvido no movimento revolucionário de 1848 e na insurreição húngara de Kossuth, desembarcou no Brasil, evitando perseguições. Da Alemanha conservara o hábito de certos esportes universitários e, quando, momentaneamente, deixava a absorção de leituras sem fim, era para realizar, nos dias feriados, pasmosas excursões a pé, a arrabaldes remotos, à Gávea, à Tijuca ou às praias da Guaratiba.

Dória (1890) ressalta que nosso povo era devedor do Barão e afirma que, como um estrangeiro, Tautphoeus soube ser profundamente brasileiro. O autor fornece detalhes sobre sua trajetória. Afirma que Tautphoeus teve a progenitora por primeiro mestre, de quem teria recebido o saber básico. Cursou as melhores escolas do seu país, foi nelas sempre o melhor aluno. Travou a mais sólida amizade juvenil com a cultura humana. Entregaram-lhe segredos as Ciências naturais, línguas do Oriente, filosofia, matemática, como também o direito e a medicina. Não teria se albardado com diplomas, e sim transportado os méritos.

Cheio de ideias liberais, em uma Alemanha considerada reacionária, teve que deixar a pátria. Viajou pelo mundo. Na ocasião da guerra pela independência da Grécia, Tautphoeus teria oferecido sua vida nos combates. A Grécia agradecida o condecorou com prova honorífica de reconhecer. Aceitou, mas não teria usado, pois entendia que “ao valor basta o valor”.

Em Marselha, Tautphoeus teria conhecido o amor, partilhou-o com Camilla Casolane Cherueb, senhora de nobre sangue árabe-italiano, nascida em 1825, em Djedda Arábica, nas margens do Mar Vermelho. O Pai de Camilla, mahometano, estudou na Itália. Nessa ocasião teria conquistado o coração de Suzanna Casolane, católica. Perseguido na terra natal, por questões de ordem religiosa, João Baptiste Cherueb emigrou, e, por influência da família da esposa, chegou a governar a ilha de Malta. A cônjuge de Tautphoeus tinha a fama de ser uma mulher bela. Foi mãe em Paris, em 1844, de uma menina, Marianna, casada, no Brasil, com o capitão Eduardo Bello de Araujo, filha que recebeu, em 1878, em uma fazenda no Estado do Espírito Santo, o último suspiro materno.

Tautphoeus chegou ao Rio de Janeiro em 1842. Na época da publicação do artigo escrito por Dória (1890), já havia, segundo o autor, muita hesitação, muito engano, na tentativa de fixar a data da sua chegada ao Brasil. Pires de Almeida (1905PIRES DE ALMEIDA, José Ricardo. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 263-264, 1905.), por exemplo, diverge de Dória quanto à chegada de Tautphoeus ao Brasil, pois afirma que “tendo escolhido o Rio de Janeiro para centro de sua atividade mental, aporta aqui no ano de 1844”. Pesquisas foram desenvolvidas e, guiado por um velho livro de registros do Colégio de Pedro II, Dória confirma a data. E com base em outros documentos como a seção “movimento do porto” do Jornal do Commércio, de 16 de agosto de 1842, que apresentas as seguintes informações: “entradas do dia 14. Havre, 52 dias. Barca francesa Cénie. 217 toneladas. Comandante M. Ménard, equipagem 11, carga fazendas a Dalboussiére.” Segue-se a lista dos passageiros, vinte, entre os quais “os alemães Hermann J. Tautphoeus, sua mulher, uma filha e uma criada”.

Tautphoeus se dedicava aos seus discípulos, muitos se tornaram jornalistas, professores e ministros de Estado. Segundo Dória (1939_____. Tautphoeus Educador. Revista da Semana. Edição de 18 de Novembro de 1939, 1939.), discípulos conquistados a partir de sua atuação no Colégio Pedro II e nos seis colégios que dirigia. Esta relação de discípulos era composta por nomes ilustres daquela época, como Ferreira Vianna, Paulíno de Souza, Manoel Francisco Corrêa, Visconde de Taunay, Joaquim Nabuco, Carlos de Laet, Teixeira Junior, Alvares de Azevedo, Ramiz Galvão, Salvador de Mendonça, Ferreira de Menezes, Bithencourt da Silva, Fagundes Varella, dentre outros. Segundo Dominó Sobrinho (1890DOMINÓ SOBRINHO. Pequenos Echos. Revista Illustrada, Ano 15, n. 580, p. 3, 1890.), pelo menos duas gerações de homens notáveis nas letras e na política, deveram os seus triunfos à influência das lições do Barão. Muitos homens de talento procuravam a convivência do Barão de Tautphoeus, para, em simples conversas, resolverem dúvidas e, muitas vezes, aprenderem coisas que não sabiam. Conforme Dória (1890), todos os professores egrégios do Rio de Janeiro leram nos colégios de Tautphoeus, aqui chamado de “mestre dos mestres”. Na biografia de Rodrigues Alves9 9 Disponível em: <http://institutohistoriar.blogspot.com.br/2008_09_01_archive.html>. Acesso em: 23 jan. 2016. , Cordeiro afirma que Tautphoeus havia sido não só seu professor de Grego e Alemão, mas também professor do próprio Imperador. Segundo Rodrigues (2013), João Ribeiro, professor catedrático de História do Colégio Pedro II, também tomava aulas de Grego com o Barão. Por sua vez, Guesse (2009GUESSE, Érika Bergamasco. Silvio Romero e os Contos Populares Brasileiros de Origem indígena: uma proposta de análise. 2009. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista - Unesp, Araraquara, 2009.) afirma que Silvio Romero, catedrático de Filosofia do mesmo Colégio, foi aluno de Tautphoeus. Romero teria sofrido vetos dos examinadores em 1880, no concurso para a cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II e somente após o empenho do preceptor, o Barão de Tautphoeus, que o recomendou diretamente ao Imperador, Silvio Romero obteve uma boa posição na Corte: professor da Escola Normal. (VENTURA, 1991VENTURA, Roberto. Estilo Tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil 1870-1914. São Paulo: Cia. das Letras, 1991., p. 128-129).

A abundância de ideias gerais, de sugestões, de matéria para reflexão em sua conversa, era notável. Segundo Nabuco (1963NABUCO, Joaquim. Minha Formação. 5 ed. Brasília: Ed. da UNB, 1963.), pode-se afirmar que, embora nunca tenha escrito, pelo menos no Brasil,

Tautphoeus havia publicado um número maior de ensaios, de teses históricas e outras, do que todos os escritores daquela época juntos: unicamente suas contínuas edições tiradas a pequeno número de exemplares dissipavam-se como a palavra, quando não eram convertidas em trabalho alheio. (ibidem).

Mas isso não lhe importava, pois era destituído de ambições. Tendo que ganhar a vida no Brasil por meio de lições, enterrou tudo que pudesse restar-lhe do passado, dos velhos preconceitos aristocráticos de seu país, das aspirações à elegância, à vida de prazer, ostentação e sucessos mundanos da sua mocidade em Paris. Segundo Nabuco, Tautphoeus assumiu as atribuições que lhe foram confiadas com simplicidade, como se as recebesse por herança, sem ressentimento, queixa ou murmúrio. Além da posição involuntariamente considerada subalterna, Nabuco destaca o amor de Tautphoeus pelo país.

Do Barão partiu talvez o único grito de: “Viva a Constituição do Império!”, que se ouviu em 15 de novembro ao desfilar das tropas de Deodoro pela Rua do Ouvidor. Talvez alguém olhando para o velho que fazia sem medo tal protesto, pensasse que era um protegido do imperador alucinado pela catástrofe que o tragaria também. Não o era porém; ele não devia favores, nem gratidão; tudo que teve foi conquistado através de concursos, dos quais os competidores desistiam. Segundo Dória (1939_____. Tautphoeus Educador. Revista da Semana. Edição de 18 de Novembro de 1939, 1939.), Tautphoeus se sujeitava a concursos para obter cadeiras quando seu reconhecido saber lhe dava direito a mais justa das nomeações por decreto. Não era, conforme Nabuco, um despeitado, era o homem que melhor estudara a psicologia do nosso país e que mais se conformara a ela até aquele ato, que lhe pareceu nacionalmente fatídico.

Segundo Gama Rosa (1911GAMA ROSA, Francisco Luís. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 323-324, 1911.), além dos livros, as duas únicas paixões do Barão de Tautphoeus eram o Brasil e o Imperador. Quando desabou a monarquia, o Barão abismou-se em melancolia profunda. Dória (1890) narra fatos já mencionados por Nabuco (1963NABUCO, Joaquim. Minha Formação. 5 ed. Brasília: Ed. da UNB, 1963.), ocorridos na manhã histórica de 15 de novembro de 1889, quando foi proclamada a República no Brasil. A tropa, comandada por Deodoro, desceu a Rua do Ouvidor rumo do Arsenal da Marinha. Na porta da Gazeta da Tarde, entre as ruas Uruguaiana e São Francisco, admirado como todos, estava parado o já idoso Barão deTautphoeus. Segundo Dória, o Barão perguntou o que ocorria, ouvindo a música, rumor de gente, correr de curiosos e quando lhe deram as notícias sobre o grande acontecimento do dia, empalideceu. Trêmulo, abalado, gritou aos batalhões que desfilavam silenciosos: “Viva a Constituição que nós juramos”. Deodoro, Benjamin e Quintino teriam reconhecido o Barão e ouviram o protesto.

O Barão era um apaixonado por nossa natureza. Desde que chegou ao Brasil tinha sido um explorador de suas belezas. Conta Nabuco (1963NABUCO, Joaquim. Minha Formação. 5 ed. Brasília: Ed. da UNB, 1963.), que nos últimos tempos da vida de Tautphoeus encontravam refúgio e calmaria em Paquetá. Ele ia sempre aos sábados, ficava o domingo e, às vezes, nas curtas férias que tinha, dias seguidos. Estava visivelmente se despedindo. Suas faculdades estavam intactas, mas as forças físicas estavam em declínio. O discípulo afirma que os últimos dias na companhia de Tautphoeus foram penetrantes e melancólicos. Melancolia, porém, dos momentos que quiseram tornar eternos. O seu prazer, muitas vezes, era sentar-se num banco à beira do mar e assistir a tarde. Quando passeavam na mata ao lado da casa e o caminho ia se abrindo, Tautphoeus pedia a Nabuco que não tocasse na natureza, que respeitasse o inesperado de tudo aquilo. Nesses passeios pela floresta, conversavam sobre religião. Nabuco admirava os monólogos do Barão.

Tautphoeus dizia a Nabuco que nossos interesses pelas coisas públicas eram menores. Achava que os negócios do município interessavam a todos sempre menos que os da província e os da província menos que a política geral. Desejava mostrar a precariedade do nosso self-government.

Pires de Almeida (1905PIRES DE ALMEIDA, José Ricardo. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 263-264, 1905.), refere-se ao Barão como um “grande humanista”, afirma que a ele devia tudo que sabia e destaca a importância do Colégio Barão de Tautphoeus, tanto pelos raros méritos conquistados por ele, enquanto diretor, quanto pelo grande número de discípulos que preparou e que teve o privilégio de ver espalhados pelo país, ocupando posições e cargos elevados.

Pires de Almeida também informa que o Barão aporta no Rio de Janeiro e exerce exclusivamente o magistério público e particular por cerca de 50 anos, sem escolha de disciplinas, até que, em 1851, associando-se ao não menos ilustre Joaquim José Lamprêia de Sá Camelo, tio paterno do então ministro português no Brasil, adquiriram o Colégio Curiacio, à Rua do Lavradio n. 53 D. Nos seus Colégios, quando era surpreendido de momento pela falta de professores, substituía-os ao menor impedimento, aspecto mencionado também por Gama Rosa (1911GAMA ROSA, Francisco Luís. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 323-324, 1911.) e Dória (1890). Entrava pela classe de inglês ou pela de história, de latim ou de geometria.

Conta Pires de Almeida um fato característico, no qual uma inesperada lei, que incompatibilizava as funções de professor do Colégio Pedro II com as de diretor de colégio particular, levou o Barão de Tautphoeus a deixar vaga sua cadeira de grego. Um dispositivo legal posterior, porém, revogou esse artigo da lei e o Barão, qualificado por Pires de Almeida como “emérito pedagogo” resolveu disputar em concurso cinco cadeiras que estavam ocupadas em caráter interino, e nesse sentido, se inscreveu. Pires de Almeida encerra sua nota afirmando que o Barão obteve a primeira colocação em todas elas, deixando ao arbítrio do Imperador a preferência e designação da matéria a lecionar.

Segundo Dória (1890), pouco se sabe sobre os últimos momentos do Barão. No princípio de fevereiro de 1890 beirava os oitenta anos. O dia 9 de fevereiro teria sido um domingo alegre, de celebrações pelo batizado do seu neto Pandiá. No dia seguinte, partiu para Paquetá, hóspede querido da casa do Castello, onde sempre seu discípulo e amigo Joaquim Nabuco o visitava. Regressou a cabo de uma semana, fraco dos passos.

Dória (1890) conta, também, que em 20 de fevereiro, o Barão havia colocado uma cadeira, no terreno de sua casa da Rua D. Bibiana, na Fábrica de Chitas. Ia ler, mas quando voltou para dentro de casa para buscar o livro e seu inseparável charuto; caiu dentro do pátio. Começaram os sofrimentos em decorrência do acidente e no dia 27 de fevereiro veio a falecer. Teria sido sepultado na necrópole de S. Francisco Xavier. Sobre sua lápide se lê somente o local e a data do seu nascimento e do seu óbito. Seus cabedais não foram sujeitos a litígios de foro, nem ânsias de herdeiros, pois, segundo Dória, o Barão deixava pouco mais de oitocentos mil réis na gaveta para as necessidades da família, para o seu enterro; seus livros, quase todos em alemão, teriam sido entregues ao Club Germânia. Dória (1890) fornece indícios de que Tautphoeus, desde que havia chegado ao Brasil, nunca mais retornou a Europa. O mesmo afirma Nabuco (1963NABUCO, Joaquim. Minha Formação. 5 ed. Brasília: Ed. da UNB, 1963.), que introduziu nas conversas com Tautphoeus a ideia de uma viagem à Europa para ver se despertava nele afinidades esquecidas, recordações latentes. Toda essa parte européia, porém, estava morta, atrofiada; em vez dela, o que havia era uma sensibilidade nova, americana, a brasileira... Era um eterno encantado da nossa terra.

Segundo Nabuco (1963NABUCO, Joaquim. Minha Formação. 5 ed. Brasília: Ed. da UNB, 1963.), duas coisas o feriam em Tautphoeus: que com toda sua ciência ele não escrevesse nada e que pudesse ser tão submissamente católico. Parece que o primeiro ponto também feria Silvio Romero. Declarando Tautphoeus o homem mais bondoso e ilustrado que conheceu, Silvio Romero, num artigo publicado em Juiz de Fora, afirma que certa vez alguém perguntara a Tautphoeus o porquê de não publicar livros, possuindo ele tão vasta ilustração, aferida com admiração geral. Entre baforadas do charuto, respondeu ter na mocidade escrito muito em jornais franceses e ingleses. Acrescentou: “Deixei-me disto, hoje considero todos os bons talentos que foram meus discípulos e ajudei a formar outros tantos livros de minha vida”.

Partindo de uma abordagem dos problemas da nossa antiga instrução, Dória (1939_____. Tautphoeus Educador. Revista da Semana. Edição de 18 de Novembro de 1939, 1939.) afirma que no Rio de Janeiro do Segundo Reinado, numerosos colégios ofereciam instrução. O Colégio Pedro II bacharelava em ciências e letras obtidas em curso de 7 anos; colégios particulares ensinavam humanidades sob rótulo de preparatórios. Alguns colégios particulares ganharam fama. Vários deste tipo foram fundados, pelo estrangeiro considerado de benemerência na pedagogia nacional, Tautphoeus.

O Barão lecionou no topo do ensino secundário daquela época, ou seja, nas duas seções do Colégio Pedro II, Externato e Internato. Nesta instituição, subiu às cátedras de Alemão, Grego e História, com capacidade para ascender a todas as cadeiras no estabelecimento considerado padrão, modelo para o ensino secundário.

Nas suas recordações sobre o antigo Internato do Colégio Pedro II, Clado Ribeiro de Lessa (COLÉGIO PEDRO II, 1944) ressalta as palavras de seu pai, quando dizia que o Barão de Tautphoeus era exigente, mas extremamente bondoso, e tratava paternalmente todos os estudantes por filho, isso nos poucos instantes em que retirava o charuto da boca. Professor, de alemão e de grego, tinha, porém, uma queda irresistível pela história universal, em que também era germanicamente erudito.

Lessa10 10 O depoimento de Lessa foi encontrado em: COLÉGIO PEDRO II. Anuário Comemorativo do 1° Centenário da Fundação do Colégio (1937-1938). v. X. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944. mostra como os estudantes desenvolveram estratégias para evitar as aulas e os exames do Barão. Os estudantes que não se interessavam pelas línguas que o Barão ensinava tinham meios fáceis para evitar, principalmente, a arguição em que com todas as probabilidades se afundariam. Retiravam uma obra qualquer sobre história da biblioteca do Colégio e deixavam sobre a cátedra do mestre. Este chegava, dirigia-se ao seu lugar, via o livro, abria-o displicentemente e lia rigorosamente. E o tempo corria. Tautphoeus só era despertado pelo tinir da campainha que marcava o término da aula. Sobre a matéria do curso o mestre não tinha tempo de pronunciar uma única palavra. Outro meio de evitar as arguições era o de deixar escapar em conversa na presença do Barão qualquer frase de onde se pudesse depreender a falta de bases históricas para a então recente anexação da Alsácia e da Lorena pelo Império Alemão. Tautphoeus desandava numa eruditíssima dissertação, na qual, estudando o desenvolvimento do império germânico desde os tempos de Armínio e Varo, passava pelas partilhas territoriais que seguiram à morte de Luiz, o Piedoso, e atingia os então dias atuais, mostrando irrefutavelmente que essas duas províncias pertenciam de pleno direito, por motivos de ordem histórica, étnica e cultural à pátria de Bismarck... e dele. A prova se fazia, nunca, porém, com gasto de tempo inferior aos 55 minutos regimentais, e a aula de alemão ou de grego ficava no tinteiro.

Lessa11 11 Idem. reafirma que além da mania da história, o Barão, tinha um fraco irresistível pelos charutos. Os alunos e colegas de magistério ofertavam-lhe caixas de havanos preciosos que o incorrigível fumante trocava nas tabacarias por sacos de mata-ratos. Não dava importância à qualidade; o que desejava era não necessitar de gastar muitos fósforos por dia, passando o fogo de um charuto para o seguinte.

Fundou para seus estudantes um colégio na Rua do Lavradio em frente da Rua da Relação, estabelecimento transferido para Friburgo12 12 O Jornal do Commercio publicou na sua edição de 26 de julho, há 150 anos, que “o Colégio de São Vicente de Paulo, em Nova Friburgo, é dirigido pelo Barão de Tautphoeus e é um dos mais conceituados desta província. No próximo dia 10 o mesmo diretor partirá para a cidade da serra e todos os alunos que desejarem seguir em sua companhia poderão faze-lo, comparecendo até as 10h30 desta data, no Trapiche Mauá, nesta corte do Rio de Janeiro”. Provavelmente, Dória esteja fazendo referência a este Colégio. Disponível em:<http://www.jcom.com.br/noticia/125137/o_jornal_do_commercio_publicava_na_edicao_de_26_de_julho>. Acesso em: 21 mai. 2015. , onde Tautphoeus foi eleito vereador. Em 1863 teria aberto o terceiro colégio, de seu nome, no cais da Glória, no local, onde só haveria ruínas quando Dória publicou o artigo e onde funcionaram serviços da companhia ferroviária Leopoldina. Traspassado o Colégio Tauphoeus a terceiro, estava o educador a reger o quarto estabelecimento na Rua Pedro Américo. Cerca de um ano mais tarde, dirigia o quinto colégio na Rua Riachuelo, depois o sexto, de novo na Rua do Lavradio, em frente à Rua da Relação.

O quinto colégio dirigido por Tautphoeus já era renomado no Rio de Janeiro. Foi o Colégio Marinho, fundado pelo Cônego José Antônio Marinho, um dos muitos sacerdotes transviados na política de cultos tão opostos aos do altar. Gama Rosa (1911GAMA ROSA, Francisco Luís. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 323-324, 1911.) descreve Marinho como “celebre deputado liberal que tamanha influência exerceu nos meios políticos da época e na revolução mineira dos Luzias, em 1842”. O Antigo Colégio Marinho ocupava um prédio na Rua do Riachuelo esquina da Rua dos Inválidos. Dirigido por Tautphoeus era, segundo Gama Rosa, uma “espécie de Falanstério Fourier”, que acomodava mediante tabiques de madeira, em salas, saletas, quartos, desvãos e sótãos estudantes que viviam independentes, como em república aspecto revelador de que o Barão de Tautphoeus continuava a ser no Brasil o mesmo liberal de lutas germânicas e húngaras. Admitia gratuitamente quantos o desejavam, por simples pedido de alunos e conhecidos, e, verdadeiramente, nunca sabia ao certo o número e qualidade dos ocupantes do falanstério. No falanstério, como em qualquer outro colégio dirigido pelo Barão, ninguém se afligia com a falta ocasional de lentes, o diretor estava pronto para substituição imediata.

Dória (1890) sustenta que a perda de um conjunto de bens, de patrimônio ainda na França o trazia pobre ao Brasil. Diante da necessidade de sustentar sua família, abraçou o ensino e até o fim da sua vida. Abriu colégios em Friburgo e no Rio de Janeiro, e nunca fechou a porta a quem carecesse instruir-se. Quem podia pagar pagava; quem não podia ficava de graça. Dória afirma que essa era uma regra dos estabelecimentos de Tautphoeus, sejam nos fundados nas montanhas fluminenses ou na planície carioca, onde Dória destaca o da Rua Riachuelo, canto de Inválidos. Para Dória, nem Tautphoeus saberia dizer quantos teria educado e ressalta sua indiferença à gratidão, segundo ele uma característica daqueles que estão em posição de superioridade. Cita então, exemplos da generosidade do Barão. Conta que um dia, uma paupérrima viúva lhe trouxe um filho à presença, modestamente augusta. Julgava-o aproveitável, mas entendia que a falta de dinheiro dela o tornaria inútil. Tautphoeus acolheu mãe e filho, tranquilizou uma, encarreirou o outro. Este foi o caso do Dr. José Pereira Guimarães, nome que, segundo Dória, bastava citar na medicina brasileira.

Dando mais do que recebia, Tautphoeus pensou na necessidade e fechou o colégio. Foi aberto então, o concurso no Colégio Pedro II. Inscreveu-se. Segundo Dória, teve discípulos por juízes. Durante o certame, quase sempre quem era examinado, parecia examinando. Continuou a educar como quando dirigira escolas.

Discípulos de Tautphoeus, indagavam-se sobre a ausência de homenagens para um homem que havia feito tantas benfeitorias no campo da Instrução Pública. Até então Tautphoeus não possuía um busto, uma estátua, escolas tinham sido abertas, mas segundo seus discípulos, a elas eram dados os nomes de indivíduos que mal sabiam ler e nenhuma havia recebido o nome de Barão de Tautphoeus.

Dominó Sobrinho (1890DOMINÓ SOBRINHO. Pequenos Echos. Revista Illustrada, Ano 15, n. 580, p. 3, 1890.) publicou na coluna Pequenos Echos, o que chamou de “um echo triste” que, infelizmente, fecharia os já registrados. Nela, é anunciada a morte do Barão de Tautphoeus, o sábio professor, conhecido, estimado e respeitado. Dominó Sobrinho afirma que o Barão faleceu velho e pobre, mas digno e honrado. Destaca que Tautphoeus preferiu sempre viver modesto ao brilhantismo que as suas relações com altos personagens lhe podiam proporcionar.

Causou-nos surpresa o fato de Tautphoeus ser citado também, nas memórias de Mário Lago. Isso porque o considerado ex-aluno ilustre do Colégio Pedro II, ator, advogado, poeta, radialista e compositor, falecido em 2002, ao narrar episódios de sua trajetória como aluno em seu último livro intitulado Meus Tempos de Moleque, obra que não chegou a ser concluída, deixa claro que sua passagem pelo Colégio se dá em meados da década de 1920, mais de 30 anos após o falecimento do Barão.

Quando Mario Lago afirma que Tautphoeus dava aulas em cinco escolas, nos fornece um exemplo de elementos que também estão presentes em outras referências sobre Tautphoeus, mas não é possível que o Barão tenha sido seu professor, já que o primeiro faleceu em 1890, enquanto o segundo passava pelo Colégio Pedro II na década de 1920. É possível que Mário Lago tenha confundido o velho Barão de Tautphoeus com Pandiá de Tautphoeus Castello Branco, bisneto do Barão, antigo bacharel em Ciências e Letras pelo Colégio Pedro II, professor suplementar da cadeira de História Universal em meados de 1920 e que mais tarde se tornou bibliotecário do Arquivo Nacional. Entretanto, não encontramos informações mais detalhadas sobre a passagem de Pandiá pelo Colégio ou que comprovem seu protagonismo nos episódios narrados por Mario Lago.

Confirmamos, porém, que Pandiá participou de uma homenagem ao Barão, a inauguração do seu retrato, na Sala do Panteon do Internato, evento no qual proferiu um discurso. Nele, o bisneto do Barão se dirige a Fernando Raja Gabaglia, na época diretor do Externato do Colégio Pedro II, aos membros do Corpo Docente, à mocidade brasileira e demais presentes, para agradecer a tarefa que lhe cabia naquele momento, perante a Congregação do Colégio, instituição centenária e modelo da instrução secundária nacional.

Pandiá (1944) revela gratidão por trazer à lembrança a figura “serena”, “humilde” e “bondosa” do Barão de Tautphoeus, nome que naquela altura já era desconhecido das novas gerações. Afirma que quis deixar passar os festejos do primeiro centenário do Colégio, para cumprir o desejo que há tanto tempo alimentava - de levar para o Colégio o retrato a óleo do Barão de Tautphoeus, que por tantos anos guardava como “uma relíquia sagrada”.

O bisneto fez um breve histórico da trajetória do Barão, indagando-se sobre o que existia de escrito sobre sua vida. Remete então para alguns dos relatos já apresentados nesse artigo. Porém, Pandiá reforça a necessidade de investigar os arquivos das bibliotecas, pois quantos pareceres, teses de concurso, noticiários necrológicos, dentre outras fontes, para que se pudesse ter uma ideia do fecundo trabalho executado por Tautphoeus, de 1842 a 1889, em prol da educação nacional. Segundo Pandiá, os misteriosos motivos que teriam levado Tautphoeus a trocar a Baviera pelo Brasil não teriam sido contados nem mesmo aos amigos mais íntimos.

O Barão chega ao Brasil depois de ser diplomado em ciências jurídicas e sociais em Munique e viajado pela Grécia, Itália, França e Inglaterra, na ânsia de tudo saber e pesquisar. Despreocupado do espírito de lucro, fundou colégios na capital, em Vassouras, Friburgo e Petrópolis. Pandiá o descreve como um educador germânico proficiente, paciente, esforçado e bondoso no trato diuturno e demorado com a mocidade escolar. Foi nomeado professor de alemão do Externato do Imperial Colégio Pedro II, em 2 de agosto de 1847, passando mais tarde a reger as cadeiras de Grego e de História, de 1852 a 1868. Em 1876, após brilhante concurso, é aprovado para o Internato como Catedrático de Alemão, posto que ocupava ao falecer em 27 de fevereiro de 1890, depois de mais de 33 anos de magistério oficial no Colégio. Foi examinador tanto de concursos para todas as matérias do ensino secundário, como nos realizados em repartições públicas. Era solicitado quase que diariamente por D. Pedro II, patrono do Colégio, para traduções de livros e jornais estrangeiros. Pandiá revela que tinha em seu lar o arquivo dessa grande correspondência mantida, havia quase meio século.

Albuquerque (1996ALBUQUERQUE, Antônio Luiz Porto. Questões a Propósito do Pensamento sobre a Guerra no Brasil, no Século XIX. Anais do Museu Histórico Nacional. v. XXVIII, 1996, p. 87-161.) menciona que Tautphoeus teria exercido o magistério durante 48 anos no Brasil, como uma possível influência favorável à cultura alemã, dentre seus entusiasmados discípulos (p. 158). Sustenta ser razoável que o conhecimento de uma filosofia política (a de Clausewitz) dentre as elites brasileiras, antes da Guerra do Paraguai pode não apenas ter influenciado a condução daquele conflito, mas também penetrado no Brasil pela via de intelectuais alemães, como o referido professor.

Outra hipótese que nos parece razoável sustentar é a de que Tautphoeus tenha sido um dos responsáveis no Brasil, pela penetração de ideais renovadores da pedagogia alemã. Fazemos referência aqui à vertente Alemã (Romantismo Alemão), que possui, dentre seus principais representantes Pestalozzi e Fröebel, este último considerado o inventor do Jardim de Infância (kindergarten). Esses autores defendem que a especificidade da criança, a sua psicologia seja levada em consideração nos processos de ensino e aprendizagem. São os criadores do Método Intuitivo, que enfatiza a intuição da criança e a capacidade de observação como elemento central desse processo.

O artigo de Bastos (2008_____. O Kindergarten ou Jardim de Infância por Maria Guilhermina Loureiro de Andrade (1888). História da Educação, UFPel, v. 12, p. 259-268, 2008.) vai ao encontro desta hipótese quando a autora reporta-se a Teixeira de Macedo, no que diz respeito às experiências pioneiras na organização de jardins de infância no Brasil, para destacar o Barão de Tautphoeus dentre os profissionais que gozavam de merecida reputação, que conheciam perfeitamente a índole da puerícia brasileira, com todos os seus defeitos e qualidades, e como um dos homens mais competentes para coadjuvar um próximo Congresso de Instrução, na tentativa de resolver a questão da organização dos Jardins de Infância.

Bastos (2002BASTOS, Maria Helena Câmara. Conferências Populares da Freguesia da Glória (1873- 1890). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, II, 2002, Natal. Anais... Natal: Nucleo de Arte de Cultura da UFRN, 2002. ) realizou também, um estudo sobre as Conferências Populares da Freguesia da Glória, realizadas entre 1873 e 1890 -, as quais permitiram uma fecunda discussão de ideias científicas e educacionais na cidade do Rio de Janeiro. As conferências públicas - pedagógicas, literárias ou populares -, realizadas entre 1873 e 1890, caracterizam-se pela reunião de pessoas interessadas em ouvir e/ou discutir temas da atualidade. Possuem caráter educativo e de vulgarização do conhecimento, com a intenção de difundir as luzes e as modernidades científicas. Delas participam professores ou outros intelectuais, figuras proeminentes da sociedade, que objetivam discutir diversas questões vinculadas à profissão, à educação e ao ensino. Reconhecidas como fator relevante para o progresso e melhoramento da instrução pública, tiveram por objeto de estudo tanto questões relativas à política educacional do período como questões relativas à escola - as matérias e os métodos de ensino.

Segundo a autora, em 05/03/1874, o Barão de Tautphoeus ministrou uma conferência sobre “História da Economia Política e Relação desta Ciência com os Princípios da Moral e da Justiça”. No dia 26, do mesmo mês e ano, o Barão ministrou outra conferência, na qual continuou a defesa da tese apresentada na conferência anterior. Já no dia 16/04/1874, o Barão de Tautphoeus ministrou conferência abordando a temática da “Colonização”. A autora mostra que entre 1873-1883, o Barão havia ministrado 5 Conferências Populares da Freguesia da Glória.

Considerações finais

Observamos ainda, que muitos debates sobre a trajetória e memória de Tautphoeus foram travados nos jornais. Numa coluna do Jornal O Paiz foi publicado que o Dr. Joaquim Viana, um provável secretário, havia entregado um memorial ao Ministro do Interior. No segundo ponto desse memorial constava que o Imperador D. Pedro II, fundador do Colégio Pedro II, naquela época Gymnasio Nacional, para o qual sempre olhava com especial carinho, fez submeter a concurso professores eminentes que teria mandado vir da Europa. O Barão é citado como um exemplo desses professores, pois fez no Gymnasio três concursos, inclusive o de Alemão, a sua própria língua. Pandiá de Tautphoeus respondeu ao Jornal:

Sr. Redator - No memorial que o Dr Joaquim Vianna fez publicar hoje no vosso jornal, relativamente ao concurso de literatura do Externato do Gymnasio Nacional, tenho a opor, com relação ao segundo ponto, que o Barão de Tautphoeus, de saudosa memória, veio para o Brasil em 184613 13 Como vimos anteriormente, conforme Dória (1890), o ano de chegada do Barão ao Brasil é 1842. , onde formou segunda pátria e por muitos anos lecionou as diversas matérias do seu vasto conhecimento, não só particularmente, mas também em colégios que fundou, e só em 1879 entrou em concurso de Alemão no ex-Imperial Collegio de D. Pedro II. O que acabo de afirmar, consta da Revista Didactica, de 1905 e de artigos que os jornais desta capital publicaram, por ocasião de sua morte, em fevereiro de 1890. Apelo para os antigos amigos e colegas ainda existentes: Drs. Sylvio Romero, E. Nunes Pires e outros. Portanto, não veio o venerado Tautphoeus contratado por D.Pedro II, como quer fazer constar o Dr. Joaquim Vianna. (HEMEROTECA DIGITAL, O Paiz (RJ) - Quinta-feira, 08 de Abril de 1909 / Edição 08952 [1]).

Por sua vez, Lemos (2011LEMOS, Daniel Cavalcanti de Albuquerque. Professores em movimento: a emergência do associativismo docente na Corte Imperial. 2011. Tese (Doutorado em Educação e Inclusão Social) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, 2011.) encontrou indícios de que o Barão de Tautphoeus teria feito parte de uma associação docente, o Instituto dos Diretores, Subdiretores e Professores, possivelmente criado entre 1869 e 1870. Tautphoeus era membro da direção do Instituto. Tal direção era composta por pessoas ligadas à instrução particular e proprietários de escolas, o que não significa que não sejam professores, pois na maioria das vezes também se ocupavam do magistério, como é o caso do Barão.

Por todos os aspectos até aqui apresentados, parece ser possível enquadrar Tautphoeus na categoria cunhada por Andrade (2007ANDRADE, Vera Lúcia Cabana. Historiadores do IHGB / Catedráticos do CPII. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, a. 168, n. 434, p. 219-231, jan./mar. 2007., p. 222) de “homens do mundo”. Nas palavras da autora:

Os professores catedráticos do Colégio Pedro II foram, em sua maioria, “homens do mundo” - homens formados nas tradicionais universidades européias e/ ou nos cursos superiores de direito, medicina e engenharia do país, muitos deles também, ex-alunos do Colégio, sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e de outras instituições culturais - que se destacaram nos grupos de elite cultural como professores-autores de textos legislativos, literários, científicos, de obras históricas e de memória (individual, coletiva e institucional), artigos de jornais (palco de polêmicas e consagração) e de manuais didáticos de várias disciplinas escolares, adotados na maioria das escolas brasileiras. (ibidem).

Finalmente, ressaltamos a necessidade de continuidade da pesquisa; a fundamental identificação de outros atores que conviveram com Tautphoeus, que compartilharam daquele cenário, dos relatos diversos capazes de proporcionar novos aspectos para a mesma questão; e que este trabalho de investigação histórica não tem como pretensão apreender a obra de Tautphoeus em sua totalidade. Compreendemos a necessidade de problematização da documentação encontrada, pelo caráter de exaltação do personagem investigado e que a história é a construção sempre problemática e incompleta do que não existe mais. Nesse sentido, esta análise resultou numa visão particular e, portanto, parcial da vida do Barão, ainda que colabore com a historiografia, na medida em que proporcione um olhar a mais sobre sua trajetória e sobre a educação naquele contexto histórico. Investigar os esforços feitos em prol da Educação no Brasil, em períodos recuados e por intelectuais e professores como Tautphoeus, pode se configurar em contribuição relevante para o campo da história da educação, em especial para a história da profissão docente.

Referências

  • ALBUQUERQUE, Antônio Luiz Porto. Questões a Propósito do Pensamento sobre a Guerra no Brasil, no Século XIX. Anais do Museu Histórico Nacional. v. XXVIII, 1996, p. 87-161.
  • ANDRADE, Vera Lúcia Cabana. Historiadores do IHGB / Catedráticos do CPII. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, a. 168, n. 434, p. 219-231, jan./mar. 2007.
  • BASTOS, Maria Helena Câmara. Conferências Populares da Freguesia da Glória (1873- 1890). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, II, 2002, Natal. Anais... Natal: Nucleo de Arte de Cultura da UFRN, 2002.
  • _____. O Kindergarten ou Jardim de Infância por Maria Guilhermina Loureiro de Andrade (1888). História da Educação, UFPel, v. 12, p. 259-268, 2008.
  • COLÉGIO PEDRO II. Anuário Comemorativo do 1° Centenário da Fundação do Colégio (1937-1938). v. X. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944.
  • DOMINÓ SOBRINHO. Pequenos Echos. Revista Illustrada, Ano 15, n. 580, p. 3, 1890.
  • DÓRIA, Luís Gastão d’Escragnolle. O Barão de Tautphoeus. Revista da Semana, Anno XXIII, n. 10, 4 de março de 1922, 1890.
  • _____. Tautphoeus Educador. Revista da Semana. Edição de 18 de Novembro de 1939, 1939.
  • GAMA ROSA, Francisco Luís. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 323-324, 1911.
  • GUESSE, Érika Bergamasco. Silvio Romero e os Contos Populares Brasileiros de Origem indígena: uma proposta de análise. 2009. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista - Unesp, Araraquara, 2009.
  • LAGO, Mário. Meus Tempos de Moleque. Disponível em: <http://www.mariolago.com.br/livro.php>. Acesso em: 18 dez. 2012.
    » http://www.mariolago.com.br/livro.php
  • LEMOS, Daniel Cavalcanti de Albuquerque. Professores em movimento: a emergência do associativismo docente na Corte Imperial. 2011. Tese (Doutorado em Educação e Inclusão Social) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, 2011.
  • MENDONÇA, Ana Waleska Pollo Campos; SOARES, Jefferson da Costa; LOPES, Ivone Goulart; PATROCLO, Luciana Borges. A criação do Colégio de Pedro II e seu impacto na constituição do magistério público secundário no Brasil. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 4, out./dez. 2013, p. 985-1000.
  • NABUCO, Joaquim. Minha Formação. 5 ed. Brasília: Ed. da UNB, 1963.
  • PIRES DE ALMEIDA, José Ricardo. Barão de Tautphoeus. Almanaque Brasileiro Garnier, p. 263-264, 1905.
  • RODRIGUES, Rogério Rosa. Crítica e erudição em João Ribeiro. Dimensões, v. 30, p. 87-109, 2013.
  • VENTURA, Roberto. Estilo Tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil 1870-1914. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
  • 1
    O Nudom é um núcleo institucional de pesquisa interdepartamental cuja meta é restaurar, organizar e divulgar o acervo manuscrito, iconográfico e documental da História e Memória do Colégio Pedro II, aberto a pesquisadores. O acervo documental e histórico do Nudom inclui: Atas da Congregação; Anuários; Compêndios (Livros Didáticos); Decretos / Leis; Livros de Exames; Livros de Concursos para a Cátedra; Planos de Estudo e Programas de Ensino, Relatórios e Regulamentos; Teses de Concursos (Concursos públicos de professores catedráticos e substitutos desde o séc. XIX e produção acadêmica atual de professores, funcionários e ex-alunos); dentre outros.
  • 2
    Os documentos encontrados foram publicados numa época em que não havia uma grafia uniformizada, o que explica as formas diferentes de escrita: Joseph Herman, José Guilherme Hermann de Tautphoeus, Joseph Hermann, dentre outras.
  • 3
    Trata-se de uma pesquisa de pós-doutoramento, ainda em andamento, sob a supervisão da Professora Dra.Ana Waleska Pollo Campos Mendonça.
  • 4
    Movimento anticlerical alemão do século XIX, iniciado por Bismarck.
  • 5
    O Jornal O Paiz, edição de 22 de setembro de 1912, publicou em coluna não assinada e intitulada Commemorações, que naquela data, no ano de 1812, nascia em Ingolstadt [e não em Lindau, como afirma Dória (1939)] o Barão de Tautphoeus.
  • 6
    Professor de Geografia e História do Brasil no Colégio Pedro II, médico, jornalista, político, romancista, poeta, teatrólogo e memorialista brasileiro.
  • 7
    Bacharel pelo Colégio Pedro II e ex-diretor do Internato.
  • 8
    Jornalista e político brasileiro, formado em Medicina no Rio de Janeiro em 1876, presidente da província de Santa Catarina entre agosto de 1883 a setembro de 1884 e da província da Paraíba, de julho a novembro de 1889, nomeado por carta imperial.
  • 9
    Disponível em: <http://institutohistoriar.blogspot.com.br/2008_09_01_archive.html>. Acesso em: 23 jan. 2016.
  • 10
    O depoimento de Lessa foi encontrado em: COLÉGIO PEDRO II. Anuário Comemorativo do 1° Centenário da Fundação do Colégio (1937-1938). v. X. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944.
  • 11
    Idem.
  • 12
    O Jornal do Commercio publicou na sua edição de 26 de julho, há 150 anos, que “o Colégio de São Vicente de Paulo, em Nova Friburgo, é dirigido pelo Barão de Tautphoeus e é um dos mais conceituados desta província. No próximo dia 10 o mesmo diretor partirá para a cidade da serra e todos os alunos que desejarem seguir em sua companhia poderão faze-lo, comparecendo até as 10h30 desta data, no Trapiche Mauá, nesta corte do Rio de Janeiro”. Provavelmente, Dória esteja fazendo referência a este Colégio. Disponível em:<http://www.jcom.com.br/noticia/125137/o_jornal_do_commercio_publicava_na_edicao_de_26_de_julho>. Acesso em: 21 mai. 2015.
  • 13
    Como vimos anteriormente, conforme Dória (1890), o ano de chegada do Barão ao Brasil é 1842.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2018

Histórico

  • Recebido
    26 Jul 2016
  • Aceito
    16 Out 2016
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