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NOVOS TEMPOS SE ANUNCIAM

A escrita da história, como prática, é também um exercício de deslocamento, de enxergar possibilidades diante do que se reúne, organiza, separa para compor uma história. Como historiadores da educação, buscamos documentos, diversificar as fontes e dialogar de modo interdisciplinar com outras áreas do conhecimento. Nesse fazer historiográfico, ao escrevermos temos direções e inúmeras possibilidades, como argumentam Serna e Pons (2013SERNA, Justo; PONS, Anaclet. La historia cultural. Autores, obras, lugares. Madrid: Akal, 2013., p. 5):

[...] el historiador no está al final del tempo; quien investiga no sabe cómo van a acabar las cosas. No está arriba de un cerro desde el que pueda divisarlo todo y tampoco está en una posición protegida fuera de las acometidas. Por tanto, unos hechos del pasado remoto aún pueden estar provocando efectos en el presente de nuestros días. O, al revés, lo que hoy nos pasa nos hace ver las cosas pretéritas de otro modo, descubrirlo que hasta hace nada no atisbábamos.

As experiências dos sujeitos no tempo dão sentido ao passado como uma continuidade de ações coletivas em prol de um projeto comum. A revista História da Educação é um exemplo disso1 1 A Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (Asphe), criada em 11 de dezembro de 1995, é uma entidade que agrega estudiosos deste campo de pesquisa. Como argumentam Bastos, Tambara e Kreutz (2002), a Asphe realiza encontros anuais e publica a revista História da Educação, que evidencia a relevância para produção e discussão da história da educação, sendo uma das pioneiras no Brasil. . E compor uma história deste periódico exige dar sentido ao passado, como argumenta Hobsbawm (2000HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.) e reconhecer as práticas, os encontros, as iniciativas que compõem esta trajetória. Escrevermos permite perceber de outra maneira os fatos passados e projetar futuros, estreitar utopias no horizonte.

Nesse sentido, o ano de 2019 inaugura um momento de novos desafios para a revista História da Educação, quando se completam 22 anos de publicação ininterrupta. Nesta trajetória, é importante lembrar que a revista começou pelo empenho dos professores da Universidade Federal de Pelotas/UFPel, do estimado colega Elomar Antonio Callegaro Tambara, que foi seu editor até 2006. Outros colegas partilharam a editoria: Eduardo Arriada, Gomercindo Ghiggi, Claudemir de Quadros, Maria Stephanou, os quais também devemos externar nosso especial agradecimento.

Avaliamos que o empenho dos editores nesses anos viabilizou o fortalecimento da revista como espaço de publicações acadêmicas em nível de excelência, considerando a complexificação cada vez maior no processo de edição e editoração de periódicos. Iniciamos a editoração do periódico de modo artesanal, quando um grupo de pesquisadores apostou em sua publicação, dedicou seu tempo e energias para que a revista se efetivasse. Sabemos que nessa caminhada houve dificuldades, mas o trabalho foi recompensado, pois os resultados são expressivos e satisfatórios a todos nós da Asphe.

Acreditamos que “renovar é preciso”. Já formamos várias gerações de pesquisadores, capazes de assumir, com igual ou maior zelo, as funções que exercemos até agora. O tempo presente simboliza uma importante fase de transição, com um novo formato editorial, projetando um cenário marcado por novos desafios da comunicação científica.

Na última Assembleia Geral da Asphe, realizada em outubro de 2018, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos/Unisinos, em São Leopoldo/RS, foi aprovada uma nova Comissão Editorial, com perfil coletivo e interinstitucional, para fazer frente às inúmeras demandas dos órgãos de fomento Capes e CNPq, assim como do Scielo (Scientific Electronic Library Online). A equipe editorial entende a participação na revista História da Educação como uma possibilidade de aprimoramento de sua formação acadêmica, que pode se estender a outros pesquisadores. Diante dessas concepções, a Diretoria da Asphe decidiu que a função na revista terá um prazo limite de quatro anos e, a cada dois anos, haverá renovação de 50% do grupo de editores, a fim de possibilitar que outros colegas possam experimentar o trabalho de editoria.

Seguindo as recomendações do sistema Scielo, a partir de 2019, adotamos o sistema de publicação contínua, que visa acelerar a comunicação das pesquisas com a disponibilização dos manuscritos tão logo tenham sido avaliados, revisados, aprovados, diagramados e liberados para publicação, com atribuição de DOI. Esse formato permite que os artigos possam ser publicados sem a necessidade de espera pelo fechamento de volumes da revista. Diferentemente do modelo utilizado até então, pelo qual se publicava três volumes por ano, a partir de 2019 a revista apresenta um único volume anual, que receberá, no decorrer do ano, os artigos em suas variadas seções, tais como: Dossiê, Artigo, Entrevista, Resenha, Acervo e Documento.

Os arquivos seguem sendo de acesso aberto por definição e cabe aos autores a responsabilidade sobre o rigor científico e ético com que a pesquisa foi realizada e é comunicada. Além dessa iniciativa, ampliamos os Conselhos Científicos - nacional e internacional, com nomes representativos do campo da História, Educação e História da Educação. Também atualizamos as Normas de publicação, fizemos algumas alterações e renovações na identidade visual da revista; operacionalizamos as “boas práticas editoriais”, recomendadas pelo Scielo, com a participação ativa dos editores em todo o processo.

Para essa primeira publicação, destacamos a entrevista com o professor Dr. Carlos Jamil Cury, realizada pelo colega Dr. Décio Gatti, a qual aborda a trajetória acadêmica e pública desse educador e pesquisador em prol do direito à educação e da justiça social. Além disso, também consta o Dossiê “Arquitetura escolar: diálogos entre o global, nacional e regional na história da educação”, organizado pelos professores Dra. Tatiane de Freitas Ermel e Dr. Marcus Levy Bencostta, com a participação de pesquisadores da Argentina, Brasil, Itália, México e Suíça. Na intenção de rememorar os 20 anos da publicação no Brasil da obra dos professores Agustín Escolano Benito e Antonio Viñao Frago, intitulada “Currículo, Espaço e Subjetividade: arquitetura escolar como programa” (1998), os organizadores prospectam novos horizontes sobre a temática, aproximando experientes e jovens pesquisadores da América Latina e Europa. Completam esse conjunto inicial de publicações, que dá início ao volume único de 2019, artigos de demanda contínua, uma resenha e a apresentação de um acervo digital.

Desejamos a todos um boa leitura!

Os Editores

REFERÊNCIAS

  • BASTOS, Maria Helena Camara; TAMBARA, Elomar; KREUTZ, Lúcio. Apresentação. In: BASTOS, Maria Helena Camara; TAMBARA, Elomar; KREUTZ, Lúcio (org.). Histórias e memórias da educação do Rio Grande do Sul. Pelotas: Seiva, 2002, p. 7-11.
  • HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
  • SERNA, Justo; PONS, Anaclet. La historia cultural. Autores, obras, lugares. Madrid: Akal, 2013.
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    A Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (Asphe), criada em 11 de dezembro de 1995, é uma entidade que agrega estudiosos deste campo de pesquisa. Como argumentam Bastos, Tambara e Kreutz (2002), a Asphe realiza encontros anuais e publica a revista História da Educação, que evidencia a relevância para produção e discussão da história da educação, sendo uma das pioneiras no Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2019
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