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CULTURA ESCRITA E TIPOGRAFIAS EM MINAS GERAIS: ALGUMAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DOS IMPRESSOS NO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

CULTURA ESCRITA Y TIPOGRAFÍAS EN MINAS GERAIS, BRASIL: CONDICIONES DE PRODUCCIÓN Y OFERTAS DE USO DE MATERIALES IMPRESOS A FINALES DEL SIGLO XIX Y PRINCIPIOS DEL XX

WRITTEN CULTURE AND TYPOGRAPHIES IN MINAS GERAIS: PRODUCTION CONDITIONS AND OFFERS OF PRINTED MATERIAL USE BETWEEN THE END OF THE 19TH CENTURY AND THE BEGINNING OF THE 20TH

LA CULTURE ÉCRITE ET LES IMPRIMERIES DANS LE MINAS GERAIS : QUELQUES CONDITIONS DE PRODUCTION ET CIRCULATION DES IMPRIMÉS À LA FIN DU XIXe ET DÉBUT DU XXe SIÈCLES

Resumo

Tendo como referência os estudos da história do livro e da cultura escrita, o artigo trabalha com a tipografia como um dos indicadores de circulação da cultura escrita em Minas Gerais, no final do século XIX e início do século XX. Tomando como fonte anuários, almanaques e anúncios são recuperadas algumas condições técnicas das tipografias e o papel que exercem na relação com instâncias como livrarias e papelarias. A partir dos anúncios é feito um inventário de ofertas de impressão e mapeadas algumas esferas de usos e gêneros de escrita. Constata-se que prevalecem, nas ofertas, usos relacionados à vida financeira e comercial, seguidos daqueles ligados à vida cotidiana, informativa, publicitária, religiosa, civil e jurídica, escolar e literária. Conclui-se que a cultura impressa e manuscrita se mesclam nos gêneros e que a tipografia pode refletir as práticas sociais de escrita ao mesmo tempo em que as institui e inventa.

Palavras chave:
cultura escrita; tipografia; cultura impressa; cultura manuscrita

Resumen

Basado en la historia del libro y la cultura escrita, este artículo aborda la tipografía como uno de los indicadores de circulación de la cultura escrita en Minas Gerais-Brasil a finales del siglo XIX y principios del XX. Utilizando anuarios, almanaques y anuncios como fuente, se revisaron condiciones técnicas de las tipografías y el rol que desempeñan en su relación con instituciones como librerías y papelerías. A partir de los anuncios, se confeccionó un inventario de las ofertas de impresos y se mapearon algunos ámbitos de usos y géneros de escritura. Se comprobó que en las ofertas prevalecen los usos sobre vida financiera y comercial, seguidos de los ámbitos cotidiano, informativo, publicitario, religioso, civil, jurídico, escolar y literario. Se concluyó que la cultura impresa y la manuscrita se mezclan en los géneros y que la tipografía puede reflejar las prácticas sociales de la escritura, mientras que las instituye e inventa.

Palabras clave:
cultura escrita; tipografía; cultura impresa; cultura manuscrita

Abstract

Based on the studies of the history of books and written culture, the article considers typography as one of the indicators of the circulation of written culture in the state of Minas Gerais, Brazil, between the end of the 19th century and the beginning of the 20th. We take yearbooks, almanacs, and advertisements as sources to recover some technical conditions of typographies and their role in the relation to other instances, such as bookstores and stationery stores. From the advertisements, we inventory the offer of printing and map some areas of use and writing genres. We have discovered that the majority of the offers are used in financial and commercial life, followed by the uses connected to everyday life, information, advertising, religious, civil and legal spheres, school, and literature. We conclude that printed and manuscript cultures are blended in the genres and that typography can reflect the social practices of writing while establishing and inventing them.

Keywords:
written culture; typography; printed culture; manuscript culture

Resumé

Ayant comme référence l’histoire du livre et de la culture écrite, cet article aborde l’imprimerie comme étant l’un des indicateurs de circulation de la culture écrite dans le Minas Gerais, pendant la période qui va de la fin du XIXe au début du XXe siècles. Les sources utilisées ont été des annuaires, des almanachs et des annonces publicitaires, qui ont permis la récupération des conditions techniques des imprimeries et le rôle qu’elles ont exercé dans les rapports avec des instances comme des librairies et des papeteries. À partir des annonces, un inventaire des offres d’impression est réalisé et certaines sphères d'usages et genres d'écriture ont été cartographiés. On a pu constater qui prédominent, dans les offres, les usages qui relèvent de la vie financière et commercial, suivis de ceux liés à la vie quotidienne, informative, religieuse, civile et juridique, scolaire et littéraire. On a pu conclure que les cultures imprimée et manuscrite se mêlent dans les genres et que l’imprimerie peut, à la fois, refléter les pratiques sociales de l’écrit et aussi les instituer et les inventer.

Mots clés
culture écrite; imprimerie; culture imprimée; culture manuscrite

Ao adotar o tema da tipografia na relação com a história da cultura escrita, foco deste artigo, é reforçada a ideia de que a possibilidade de circulação dos escritos numa sociedade depende de variáveis e condições que vão além das instâncias e objetos que privilegiamos em pesquisas na área da educação.

Seguindo uma concepção ampliada, estudos realizados sobre Minas Gerais , no final do século XIX e duas primeiras décadas do século XX, como o de GALVÃO e FRADE (2019GALVÃO, Ana Maria; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Cultura escrita em Minas Gerais nas primeiras décadas republicanas. In: CARVALHO, Carlos Henrique; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. (Org.) História Geral da Educação em Minas Gerais: da colônia à República. Uberlândia: EdUFU, 2019 ), analisaram indicadores de cultura escrita, como índices de alfabetização, a presença de escolas secundárias e superiores, de sociedades literárias, de bibliotecas, de imprensa, tipografias e de teatro, além de outros fatores que ajudam a compreender as condições de possibilidade de circulação da escrita. As autoras também buscaram relacionar a cultura escrita com outros indicadores como as atividades de trabalho no setor primário, em indústrias e atividades comerciais em 178 municípios de Minas Gerais, no período.

Assim como Harvey Graff (1990GRAFF, Harvey. O mito do alfabetismo. Revista Teoria e Educação. Porto Alegre. Pannonica. 1990. p. 30-64.) alerta, não se pode desvincular as questões da alfabetização e do letramento de outras variáveis, pois a alfabetização ou mesmo os usos da escrita por uma sociedade não são variáveis independentes. Dessa forma, é importante verticalizar e colocar luz em indicadores como a tipografia que, estando dentro e fora dos textos, configura e cria condições que repercutem no que uma sociedade pode ler , assim como o seu poder de produzir os escritos (GALVÃO, 2010GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa. In: MARINHO, Marildes, CARVALHO, Gilcinei (orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2010).

Os estudos sobre tipografia no Brasil são mais voltados para pesquisas sobre edição, conforme Hallewell (2005HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.) e são expressivos, sobretudo no campo da comunicação, como nos indica Ana Galvão (2010GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa. In: MARINHO, Marildes, CARVALHO, Gilcinei (orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2010).

Visando aprofundar no indicador tipografia, este estudo visa compreender o tempo de produção dos escritos (condições técnicas, meios de reprodução, oferta de serviços, instâncias articuladas às tipografias e circulação) através da presença de tipografias e de algumas condições de funcionamento e dos usos e esferas de circulação dos textos impressos, reproduzidos ou incentivados pelas tipografias em seus anúncios, em Minas Gerais, entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX.

O estudo vale-se de pressupostos da história da cultura escrita, campo que, segundo Galvão e Frade (2016GALVÃO, Ana Maria de Oliveira e FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva Dossiê - Apresentação. Rev. bras. hist. educ., Maringá-PR, v. 16, n. 1 (40), p. 207-214, jan./abr. 2016. p. 207/208), transita entre estudos da história da alfabetização, do letramento, do livro e da leitura, entre outras áreas, tendo como referência autores como Roger Chartier (1994CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Universidade de Brasília, 1994,2002CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo. UNESP. 2002, 2020CHARTIER, Roger. Literatura e cultura escrita: permanência das obras, mobilidade dos textos, pluralidade das leitura. CHARTIER, R., RODRIGUES, José, MAGALHÃES, Justino. Escritas e cultura na Europa e no Atlântico Modernos. Centro de História da Universidade de Lisboa | Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Lisboa. 2020), Robert Darnton (1995DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, 2010DARNTON, Robert. A questão dos livros. Passado, presente e futuro. São Paulo. Companhia das letras. 2010. ) Armando Petrucci (1999PETRUCCI, Armando. Alfabetismo, escritura, sociedade. Barcelona.Editorial Gedisa, 1999.) e Antonio Castillo Gomez (2003GÓMEZ, Antonio Castillo. Historia da la cultura escrita. Ideas para el debate. Revista Brasileira de História da Educação. N. 5. jan/jun. 2003. p. 93 a 124).

Citando Roger Chartier, Antonio Castillo Gomez (2003GÓMEZ, Antonio Castillo. Historia da la cultura escrita. Ideas para el debate. Revista Brasileira de História da Educação. N. 5. jan/jun. 2003. p. 93 a 124) afirma que a história da cultura escrita tem como objetor “ensamblar, en una historia de la larga duración, los diferentes soportes del escrito y las diversas prácticas que lo producen o lo apropian”1 1 “reunir, em uma história de longa duração, os diferentes suportes de escrita e as diversas práticas que a produzem ou que dela se apropriam” (p. 105).

Segundo Roger Chartier (2020CHARTIER, Roger. Literatura e cultura escrita: permanência das obras, mobilidade dos textos, pluralidade das leitura. CHARTIER, R., RODRIGUES, José, MAGALHÃES, Justino. Escritas e cultura na Europa e no Atlântico Modernos. Centro de História da Universidade de Lisboa | Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Lisboa. 2020), os estudos da história da cultura escrita são relacionados a

processos que são o próprio objecto de toda a história da cultura escrita. O primeiro processo é dado pela pluralidade das intervenções que caracterizam a publicação dos textos. Os autores não escrevem os livros, nem mesmo os seus. Os livros manuscritos e impressos são sempre resultado de múltiplas operações, que pressupõem decisões técnicas e competências diversas. CHARTIER (2020CHARTIER, Roger. Literatura e cultura escrita: permanência das obras, mobilidade dos textos, pluralidade das leitura. CHARTIER, R., RODRIGUES, José, MAGALHÃES, Justino. Escritas e cultura na Europa e no Atlântico Modernos. Centro de História da Universidade de Lisboa | Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Lisboa. 2020, p. 25)

O mesmo autor trabalha a noção de materialidade envolvida na cultura escrita, que contribui para outras tendências de estudo, no caso a importância de se estudar a tipografia, indicando que é preciso estabelecer rupturas com certas tradições de estudo ocidentais e

Tal deslocamento exige a aproximação daquilo que a tradição ocidental separa de forma duradoura; de um lado, a interpretação, o comentário das obras; do outro lado, a análise das condições técnicas ou sociais da sua publicação, circulação, apropriação. (Chartier, 2020CHARTIER, Roger. Literatura e cultura escrita: permanência das obras, mobilidade dos textos, pluralidade das leitura. CHARTIER, R., RODRIGUES, José, MAGALHÃES, Justino. Escritas e cultura na Europa e no Atlântico Modernos. Centro de História da Universidade de Lisboa | Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Lisboa. 2020, p. 23)

Este estudo considera “cultura escrita como o lugar simbólico e material que o escrito ocupa em determinados grupos sociais, comunidades e sociedades, em épocas distintas (Galvão, 2010GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa. In: MARINHO, Marildes, CARVALHO, Gilcinei (orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2010) e os diferentes modos ou entradas em objetos que a circundam (Chartier, 2002CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo. UNESP. 2002) e isso inclui

as instâncias ou instituições que ensinam ou possibilitam a circulação do escrito; os objetos que lhe dão suporte; os próprios suportes nos quais o escrito é difundido e ensinado; os sujeitos que o utilizam (ou não); os seus meios de produção e transmissão.(GALVÃO e FRADE, 2016GALVÃO, Ana Maria de Oliveira e FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva Dossiê - Apresentação. Rev. bras. hist. educ., Maringá-PR, v. 16, n. 1 (40), p. 207-214, jan./abr. 2016. p. 207/208,p. 207)

Outra dimensão conceitual que dá sustentação à categorização do fenômeno investigado é trazida por Castillo Goméz (2003GÓMEZ, Antonio Castillo. Historia da la cultura escrita. Ideas para el debate. Revista Brasileira de História da Educação. N. 5. jan/jun. 2003. p. 93 a 124) que apresenta como uma das categorias ligadas diversos tempos do escrito, o tempo da produção (as circunstâncias que intervêm no momento de criar ou fabricar um produto da cultura escrita). Esta categoria põe luz na presença de meios para reprodução dos textos, no caso específico, a tipografia e outras instituições a ela relacionadas.

Com a escrita manuscrita foi possível usar instrumentos e suportes para uma produção individual dos textos. No entanto, nesta forma de produção encontramos vários limites, sobretudo porque ela restringe as possibilidades reprodução e de circulação dos escritos. É inegável a revolução nos modos de reprodução quando foram inventados os tipos móveis por Gutenberg no século XV, o que abriu muitas possibilidades de multiplicação dos textos e o deslocamento da ação de inscrever para outras instâncias e sujeitos. A existência de tipografias em determinados locais seria indício de outros ordenamentos culturais, institucionais e técnicos que atravessam a produção dos textos e que reconfiguram um tipo de cultura gráfica que vai do manuscrito para o impresso ou do impresso para o manuscrito, o que faz conviver mais de um sistema de inscrição e reprodução dos textos. (CHARTIER, 2002CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo. UNESP. 2002, PETRUCCI, 1999PETRUCCI, Armando. Alfabetismo, escritura, sociedade. Barcelona.Editorial Gedisa, 1999.)

O estudo surgiu de perguntas iniciais e de outras que foram emergindo durante a categorização dos dados : como se configura a atividade de impressão no estado? Que dimensões técnicas podem ser apreendidas através das fontes consultadas? A atividade tipográfica se sustenta com quais tipos de produção ou parcerias? O que estas tipografias produzem em termos de suporte de texto e de gêneros de escrita? Os materiais impressos circulariam em qual instância da vida social? Quais gêneros textuais impressos são produzidos? Como se relaciona a cultura impressa e a manuscrita no período?

As fontes consultadas foram os anuários do Estado de Minas (1906, 1913), almanaques de Juiz de Fora (1897, 1898, 1899), almanaque de Barbacena (1898) , o repertório de imprensa de Belo Horizonte produzido por Linhares (1947LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte. 1947. Joaquim Nabuco Linhares; estudo crítico e nota biográfica de Ceres Pimenta S. Castro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.) e editado por Castro (1995) e os periódicos mineiros que são conservados nas hemerotecas do Arquivo Público Mineiro e da Biblioteca Nacional entre 1889 e 1930. Nos anuários, foram buscadas informações relacionadas ao tema da tipografia e, nos jornais, foram selecionados os anúncios.

Tipografia e meios de reprodução dos escritos em Minas Gerais

Estudo de Hallewell (2005HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.,p. 129) indica que a produção impressa na província de Minas Gerais começou em 1807, quando o padre José Joaquim de Viegas, tendo aprendido a gravar na Tipografia Arco do Cego, em Lisboa, publicou poema em homenagem a Diogo de Vasconcelos, gravando o texto em placa de metal e imprimindo-o em uma pequena prensa projetada para fins domésticos. Treze anos mais tarde, o padre se associa ao sapateiro português Manoel José Barbosa Pimenta e Sal, a quem ensina a moldar e fundir tipos, traduzindo partes do Dictionnaire des sciences et des arts. Em 1821, funcionava em Vila Rica a Typographia Patriota de Barbosa e Silva, quando foi trazida uma máquina tipográfica do Rio de Janeiro. O autor também menciona a criação de outras tipografias em São João Del Rei (1827), Diamantina (1828) e Mariana (1830) e, tomando como fonte o catálogo da Garraux, de 1883, conclui que Minas Gerais, um dos estados mais populosos do país, tinha uma grande produção de jornais, ficando atrás apenas do munícipio de Corte, Maranhão, Pernambuco e São Paulo.

Entre 1822 e 1824, propõe-se um plano de instalação da primeira tipografia oficial do estado de Minas Gerais e o império brasileiro autoriza uma oficina tipográfica, mas apenas em 1891 é que se cria a imprensa oficial, em Ouro Preto.2 2 Conforme www.iof.mg.gov.br Fontes sobre a imprensa permitem verificar que há oficinas locais em alguns lugares em períodos anteriores ao abordado neste trabalho, como revelam os dados editoriais do periódico O Universal, com seu primeiro número publicado em 1836 pela Tipografia do Universal, ou obras impressas por um autor que era, ao mesmo tempo, o tipógrafo, como Luiz Maria da Silva Pinto, que imprimiu o seu Dicionário de Língua Brasileira na Typografia de Silva, em Ouro Preto, em 1832.

Segundo Linhares (1947LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte. 1947. Joaquim Nabuco Linhares; estudo crítico e nota biográfica de Ceres Pimenta S. Castro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.), a capital 3 3 Ouro Preto foi designada capital de Minas Gerais em 1823 e a capital foi transferida para Belo Horizonte em 1893. possuía, entre 1895 e 1920, 268 títulos, mesmo que tivessem um circuito de vida curto (aproximadamente de dois meses ou um ano). No entanto, há também uma produção intensa de jornais em vários municípios de Minas Gerais, como Ouro Preto, São João Del Rei e Juiz de Fora e Barbacena 4 4 Almanach Municipal de Barbacena. Barbacena. 1898. Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervodigital , cidade onde também circulavam jornalistas e intelectuais que atuavam em Belo Horizonte , como Artur Joviano e Francisco Mendes Pimentel. Não é uma coincidência o fato de que essas cidades também tinham outros tipos de desenvolvimentos culturais, econômicos, políticos, urbanos, por isso são necessários estudos mais aprofundados sobre a produção tipográfica e editorial. Tomando apenas Juiz de Fora, que sediou a Academia Mineira de Letras, impressionam os números de periódicos editados5 5 Não sabemos se o termo editado queria dizer impresso naquele local ou produzido no local , mas de qualquer forma, estes são indícios do parque editorial montado na cidade que recebeu, posteriormente, encomendas de impressão até da capital do estado : "Publicámos o anno passado uma lista de 60 jornaes que se têm publicado nesta cidade, lista muito incompleta, porquanto, de 1867 até hoje, mais de 70 jornaes têm sido editados em Juiz de Fora”. (Almanaque de Juiz de Fora, 1868Almanach de Juiz de Fora para 1897 - Publicação commercial, industrial, agricola e litteraria. Juiz de Fora: Matoso & Medeiros, 1897. http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/almanach-juiz-fora/214329
http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-di...
)

Indo além destes municípios de maior porte ou de intensa atividade cultural, há fortes indicadores de cultura escrita em várias localidades com perfis diferenciados, conforme comprovou o estudo de Galvão e Frade (2019GALVÃO, Ana Maria; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Cultura escrita em Minas Gerais nas primeiras décadas republicanas. In: CARVALHO, Carlos Henrique; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. (Org.) História Geral da Educação em Minas Gerais: da colônia à República. Uberlândia: EdUFU, 2019 ) que evidencia a predominância de atividades de imprensa periódica em 129 municípios dos 178 investigados, no período. (GALVÃO e FRADE, 2019GALVÃO, Ana Maria; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Cultura escrita em Minas Gerais nas primeiras décadas republicanas. In: CARVALHO, Carlos Henrique; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. (Org.) História Geral da Educação em Minas Gerais: da colônia à República. Uberlândia: EdUFU, 2019 )

Foi nas páginas dos periódicos localizados na hemeroteca da Biblioteca Nacional (HBN) 6 6 Para referenciar os anúncios será utilizada a abreviatura HBN para designar Hemeroteca da Biblioteca Nacional e APM para designar o acervo do Arquivo Público Mineiro. e na hemeroteca do Arquivo Público Mineiro (APM) que encontramos anúncios de tipografias, muitas vezes denominadas com o nome dos próprios jornais. Por meio da análise desse gênero, encontramos outras facetas sobre os usos e circulações dos escritos, uma vez que as oficinas tipográficas, para além da impressão dos jornais, inventam ou consolidam usos que repercutem nas práticas sociais de ler e escrever, oferecidas nos produtos avulsos que anunciam:

Barbacena - Nas bem montadas oficinas de obras deste jornal fazem-se quaisquer trabalhos typographicos a uma e mais cores. Cartões de visita em 15 minutos. Variadíssimo sortimento de cartões de visita simples e a fantasia, participações de casamento, caixa de {...} papel, cartões, facturas, notas, papel e envelopes comerciaes, livros de recibo, de cadernetas, livros, penas, canetas etc. (A Lavoura, 1900 ed.86 p.4). HBN

Itajubá: Typographia d’A Verdade. Nesta bem montada oficina, fazem-se todos os trabalhos concernentes á arte typographica, com perfeição e a preços razoáveis. (A Verdade 1889 ed.50 p.2) -HBN

Fructal - “ As oficinas desta folha acham-se [...] para executar quaisquer serviços da arte de typographica como sejam: circulares, prospectos, talões de recibo, facturas, envelopes, impressões em geral. Preços módicos, trabalho rápido e perfeito. (Cidade de Fructal 1916 ed.234 p.4) - HBN

A ligação entre produção local de periódicos e tipografia é ressaltada quando encontramos o termo “typographia” ou oficinas de impressão, ligadas ou não aos jornais locais, em 86 municípios dos 178 municípios investigados. Em vários casos, há correspondência entre o nome dos jornais e os nomes de tipografias ou entre número de jornais e de tipografias. Há também cidades com 12 jornais e três tipografias, como Queluz. O inverso, a existência de tipografias e a não existência de periódicos ocorre apenas em uma localidade, Monte Santo, que possui quatro tipografias e nenhum jornal. Seria uma cidade que se especializou em negócios de impressão?

Ao buscar conexões para além da imprensa periódica local, as atividades das tipografias devem ser relacionadas com alguns indicadores de atividades artísticas e culturais nos municípios, ao número de habitantes, a fatores comerciais, econômicos, urbanos e culturais que, por sua vez, também têm ligações com as esferas burocrática/estatal, comercial, religiosa ou escolar.

Aproximação com algumas condições relacionadas à impressão

No início do século XX, várias cidades do interior do Estado possuíam tipografias com maior capacidade de produção, como a que se anuncia no anuário de 1906, pertencente ao Instituto Polytéchnico de Juiz de Fora: "Salão das ofícinas de encadernação e typographia, medindo 8 metros de comprimento, 5 de largura e 5 1/2 de altura." Em Juiz de Fora, a Tipografia Brasil também publicava folhetos de propaganda para a cidade de Belo Horizonte, como A Flor, que circulou entre 1900 e 1910. (Linhares, 1947LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte. 1947. Joaquim Nabuco Linhares; estudo crítico e nota biográfica de Ceres Pimenta S. Castro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.). Podemos dizer que, embora os jornais estejam geralmente ligados a uma tipografia, há tipografias que imprimem mais de um título, o que demonstra maior potencial de ter o empreendimento como a principal atividade comercial e, por suposição, a existência de profissionais e de técnicas mais sofisticadas, como se pode verificar em São João Del Rei e Cataguases, por exemplo.

Ao mesmo tempo de divulgação formas de impressão consideradas mais modernas, constata-se que há tentativas de produção com técnicas que passam ao largo da tipografia, como a que é constatada em Santo Antonio dos Tiros, local em que o periódico O Filho do Bosque era produzido, considerado o “primeiro jornal mineiro estampado pelos processos mimeographicos”(Annuário de Minas Gerais, 1906, p.191). Essa informação possibilita ver a convivência entre a cultura impressa e manuscrita e, como nos salienta Roger Chartier (2002CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo. UNESP. 2002), a não exclusão de uma pela outra.

Na cidade de Belo Horizonte, o primeiro jornal produzido por um padre em 1895 “era impresso numa tipografia artesanal, por meio de uma máquina Liberty, movida a pedal no antigo largo da Matriz de Boa Viagem” (Castro, 1995, p.22). Esta tipografia também imprimia outros periódicos indicando que os jornais se diferenciam, mas são as mesmas máquinas que os imprimem. Jornal como O Fiore (1900), publicado inicialmente em italiano, é produzido em oficina artesanal, com prensas de madeira, por seu fundador, o italiano Carlo Massoti, o que indicia que as artes da impressão podem vir também com os imigrantes.

Poucas são as informações encontradas nas fontes pesquisadas sobre as técnicas de impressão, havendo alguns indícios sobre de onde veio o maquinário, e onde eram adquiridos os tipos para composição da matriz, mas um anúncio de Juiz de Fora mostra que este município pode ser um dos lugares de referência na divulgação de impressão de manuais para o oficio de imprimir: "Prevenimos aos srs. proprietários de typographias que acabamos de fazer nova edição de SPECIMENS que remettemos áquelles srs. que precizarem fazer de typos." (p.119) - Almanaque de Juiz de Fora. 1897

Anúncio de tipografia desta mesma cidade mostra as influências americanas nas técnicas utilizadas:

Juiz de Fora - Typographia Pereira. De Silva, Gomes e Pereira. Oficina de encadernação, pautação e riscação. Aperfeiçoado material americano, para execução de qualquer trabalho typographico. (A Actualidade 1892 ed.1 p.4)- HBN (grifos do autor)

Outro possível polo de produção seria a antiga capital da província, Ouro Preto. O anúncio a seguir revela pretensões de conquistar clientes fora do estado e no estrangeiro: “Encarregam-se de encomendas tanto para o Rio e estados, quanto para o estrangeiro cobrando modica comissão e garantindo presteza. (A Cidade 1902 ed.21 p.4)” HBN.

Anúncio da cidade de São João Del Rei ressalta as capacidades de suas oficinas e como se aceitam encomendas de grande porte. Observa-se que esta tipografia possuía uma capacidade de produção diferenciada.

São João Del Rei -“Typographa do Resistente. Dispondo de vastas oficinas montadas com diversas machinas para todos os serviços e um pessoal techinico numeroso e hábil, aceitas contrato a impressão de jornais de grande ou pequeno formato, para dentro da cidade ou para fora...” (O Resistente 1902 ed.303 p.4) - HBN - Grifos do autor

Anúncios de outras cidades revelam o tipo de máquina utilizado, indicando que oferecem rapidez e o melhor preço da produção e ressaltam que dispõem de pessoal técnico especializado. Outros anúncios mostram a presença das marcas Liberty, inglesa e Minerva, possivelmente a mesma fabricante de máquinas em geral, inclusive de impressoras, com origem no império Austro-Húngaro7 7 http://www.angelospricigo.com.br/. A relação entre indústrias e seus equipamentos e a cultura escrita não é foco deste artigo e precisa ser aprofundada. :

Paracatu - Anúncio: Typographia da Gazeta. Acham-se nesta typographia convenientemente montada com 3 prelos e uma maquina Minerva, poderá imcumbir-se de qualquer trabalho concernente a arte typographica - HBN. Grifos do autor

Alfenas: typographia do Commercio. G. Correia de Toledo. Este importante estabelecimento typographico, montado a capricho, com excelente material e dispondo de pessoal techino habilitado, acha-se em condições de satisfazer com prontidão e grande modicidade em preços qualquer encomenda concernente a arte typographica. (O Archivo 1915, ed.9 p.4). HBN. Grifos do autor

Cataguases - Typographia do Povo. Neste bem montado estabelecimento, possuindo umas das [...] das machinas inglesas libert e um excelente prelo [...] acha-se habilitado a fazer qualquer trabalho concernente a arte da typographia. Aprontam-se com rapidez quaisquer encomendas ... (O Povo 1889 S/E p.4) APM. Grifos do autor

Considerando que Ouro Preto, a antiga capital mineira, produzia 45 jornais e tinha várias tipografias, o anúncio sobre a energia gasta nas máquinas pode ser um indício sobre o que havia de mais moderno:

Ouro Preto: Typographia d’ O Movimento, montada com excelentes machinas movidas a vapor, grande sortimento de typos de diversas qualidades, emblemas, vinhetas etc.. (O Movimento 1890 ed.97 p.4). APM. Grifos do autor

Na descrição da Coleção da Tipografia Guimarães, feita no site do Arquivo Publico Mineiro8 8 Guia de Fundos e Coleções (cultura.mg.gov.br) , conta-se que esta é fundada em 1910 por José Guimarães “chefe de clicheria na Imprensa Oficial” e era considerada “ a maior empresa particular do ramo em Minas Gerais, suplantada em volume de produção e serviço apenas pela imprensa oficial” . Não muito diferente das ofertas feitas por várias tipografias de polos de impressão mais complexos do estado, a atividade de impressão desta empresa se liga não apenas a impressos a serem lidos, mas também a formulários para o comércio e indústria a serem preenchidos, o que mostra efeitos das atividades comerciais na produção da escrita burocrática e administrativa no estado. A tipografia Guimarães também é ponto de encontro artistas e intelectuais, sendo a oficina tipográfica um local onde outros tipos de sociabilidades da cultura escrita se desenvolvem. (www.siaapm.cultura.mg.gov.br/fundos_colecoes/brtacervo.php¿cid66)

Em termos de capacidade técnica, parece que a situação ainda era muito precária nas duas primeiras décadas do século XX, pois o recebimento, na capital, da Impressora Mariconi e vários equipamentos gráficos, em 1927, foi motivo de festa e comemoração na capital. Ceres Castro (1995), em prefácio do livro de Linhares (1947LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte. 1947. Joaquim Nabuco Linhares; estudo crítico e nota biográfica de Ceres Pimenta S. Castro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.) reeditado em 1995 ressalta que, numa “época marcada pela precariedade dos equipamentos gráficos”, este equipamento movimentou o parque gráfico e alavancou a produção do Diário da Manhã.(CASTRO, 1995,p.31).

Não se pode dizer que a atividade de impressão ligada a determinado periódico é estável, tendo em vista que a efemeridade é bem característica dos jornais do período, o que talvez explique as ofertas de venda de maquinário e tipos, como a que é feita em anúncio de São João Del Rei e Rio Novo que mostram, ao mesmo tempo, de onde vem seus artefatos, como as vinhetas francesas e material tipográfico americano e a marca das máquinas, como a Imperial. No anúncio de venda do município de Palma, aparece mais uma menção à circulação de material americano.

São João Del Rei - Typographia de obras. Vende-se por módico preço uma typographia de obras magnificamente montada, tendo duas machinas de impressão, uma do brochar, uma de curvar fios, uma de corta-los, etc. Além de 50 espécies de tipos phântasia ! Vende-se também separadamente: typos variadíssimos. Duas machinas "imperial" expendido sortimento de papel de impressão... (Astro do século 1893 ed.1 p.4) - HBN. Grifos do autor

Rio Novo - Anúncio: “Typo - Litographia mineira, vende-se. Por ter que se ausentar para a Europa seu proprietário. Material typographico inteiramente bom, na sua maior parte americano. Vinhetas francesas em coleções completas. (O Arauto 1897 ed.18 p.5) - HBN. Grifos do autor

Palma - Vende-se por 3:500$00, a dinheiro, a typographia d’A Cidade de Palma, a qual, há um anno, foi comprada por 6:500$000. Seu material é todo americano. (Gazeta de Leopoldina 1898 ed.14 p.4- Leopoldina MG. APM. Grifos do autor

Sobre a formação de tipógrafos, vale citar notícias de escolas em Juiz de Fora e a apresentação em Annuário de 1913 da cidade de Lavras, que tem em seu Ginásio várias oficinas voltadas para a formação técnica, inclusive a de tipografia e encadernação, o que também nos leva a supor que a profissão de tipógrafo e encadernador está na mesma ordem de importância das profissões de seleiro, sapateiro, marceneiro e carpinteiro, apresentadas na mesma noticia e que é possível viver do oficio de imprimir. 9 9 Segundo o Anuário de 1913, op.cit. Em 1900, Azevedo Junior funda a Associação Beneficiente Typográfica, para amparo e proteção aos seus membros10 10 A esse respeito ver DUARTE, R. G. C. A Experiência de ser tipógrafo e a ação da Associação Beneficiente Tipográfica no movimento operário de Belo Horizonte. (1897-1930). 2011. Universidade Federal de Uberlândia. 150 f. e, em 1905, esta associação passa a publicar sua revista. A existência de uma associação na capital indica um certo grau de profissionalização e de cooperação. Linhares (1947LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte. 1947. Joaquim Nabuco Linhares; estudo crítico e nota biográfica de Ceres Pimenta S. Castro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.) também informa que há outros beneméritos das artes gráficas, quando cita Zene Pereira, proprietário da Tipografia Athene e um dos protetores de todas as iniciativas ligadas à imprensa e que labutou na época em que os recursos gráficos eram mais difíceis. (p.182).

Em geral, as tipografias anunciam que oferecem rapidez e nitidez. Sobre os preços cobrados, além das expressões correntes - “preços módicos”, “razoáveis”, “baratíssimos” - aparecem apenas dois anúncios com o preço da impressão de centos de cartões:

Muzambinho - Anúncio: “Nesta typographia apronta-se com brevidade e perfeição toda e qualquer obra concernente à arte typographica, como sejam: recibos, facturas, cartões para convites, circulares, cartões de visita, cartões comerciais, participações de casamento etc. o preco das publicações é 200 reis por linha e metade nas repetições”. (O Muzambinho, 1897 ed.01 p.4) - HBN. Grifos do autor

Monte Alegre - Cartões de visitas e comerciais apromptam-se a 6$00 o cento. (O Sertão, 1898 ed.6 p.4) APM. Grifos do autor

Belo Horizonte não é a cidade mais expressiva em termos de ofertas de impressão, considerando os anúncios de que dispomos. Mesmo alguns jornais da capital eram impressos em outras cidades do interior do Estado, pois, segundo Linhares (1947LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte. 1947. Joaquim Nabuco Linhares; estudo crítico e nota biográfica de Ceres Pimenta S. Castro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.), muitas encomendas de impressão eram feitas em oficinas em Juiz de Fora, Ouro Preto, Curvelo, São João Del Rei, Cataguases. Parece não haver contratos regulares para impressão, pois um mesmo periódico, como a Revista da Faculdade Livre de Direito, de Belo Horizonte, vale-se de duas oficinas na cidade e uma tipografia mais conhecida, a Leuzinger, localizada no Rio de Janeiro. Da mesma forma, o jornal de propaganda Album de Minas (1903-1906), com pretensões de fazer o estado conhecido no Brasil e fora dele, editado por um poeta português Francisco Soucaseaux, foi impresso em três oficinas/empresas: Beltrão e Cia, Imprensa Oficial e Leon de Renes e Cia (RJ).Como a tiragem é bem alta ( 2000 a 3000 contra 1.000 ou 2000 de jornais mais perenes do período) e considerando o número que se publicava no período, pode ser que ficasse mais barato imprimir em oficinas que ofereciam melhor preço. Oficinas de jornais extintos parecem servir a outros periódicos, como O Estado de Minas ( 1905)” impresso nas máquinas que antes serviam ao Jornal do Povo, Commércio de Minas e Folha Pequena” (Linhares, 1947/ 1995LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte. 1947. Joaquim Nabuco Linhares; estudo crítico e nota biográfica de Ceres Pimenta S. Castro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995., p.106).

O possível subsídio a determinada tipografia também indica outras possibilidades financeiras para sua existência. Mesmo que a impressão pelo Estado ou município tenha que ser paga, vale evidenciar que a Imprensa Oficial, inicialmente em Ouro Preto e depois, em Belo Horizonte, vai permitir maior tempo de circulação dos impressos. No interior do Estado, há também tipografias dos municípios , como se pode constatar nos anúncios a seguir:

Campanha - “Typographia Municipal - Circulares, facturas, notas, cartões de visita, comerciais, cartas de enterro e de festa imprime-se nesta typographia”. (A Consolidação 1896 ed.6, p.4) - HBN

Conceição do Serro (1904) Typographia: Imprensa Official do Município. Anúncio: “prepara-se nesta typographia tudo que é concernente a arte typographica... (Conceição do Serro 1904 ed.4 p.4). HBN

Além Parahyba “Typographia: D’ O Município (imprime o almanaque) Anúncio: faz-se nesta typographia qualquer trabalho concernente a arte da typografia... (Almanaque de Além Parahyba, 1889, p.12). HBN

De um ponto de vista mais geral, no caso da capital do estado, chama atenção, no final do XIX e início do XX, a presença de oficinas próprias de alguns jornais e também a existência de maquinário próprio da imprensa ligada aos católicos. No início do século XX, a cena de impressão é dominada por oficinas de jornais maiores, por oficinas ligadas à igreja, a Imprensa Oficial e a Tipografia Beltrão. Várias publicações transitam por mais de uma delas. A imprensa especializada em jurisprudência ou direito (Fórum), além da igreja, também parece se constituir numa referência de autonomia de impressão. Destacam-se as impressões de vários periódicos feitas na Imprensa Oficial e na tipografia do Fórum, mostrando uma maior capacidade técnica dessas instituições.

Há outras tipografias que também são criadas no período, como a Tipografia de Joviano & Cia, cujo proprietário que era jornalista, inspetor escolar e autor de livros didáticos, conforme Frade (2010FRADE, Isabel. Arthur Joviano: um estudo sobre as relações entre autor, Estado, editoras, usuários e sobre o método de palavras em Minas Gerais, no início do século XX. In: SCWARTZ, Cleonara; PERES, Eliane; FRADE, Isabel (orgs.). Estudos de história da alfabetização e da leitura na escola. Vitória, ES: EDUFES, 2010.), e que teve intensa circulação e produção por várias publicações na época. Ao final da primeira década do século XX várias tipografias não aparecem citadas no repertório de Linhares (1947LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte. 1947. Joaquim Nabuco Linhares; estudo crítico e nota biográfica de Ceres Pimenta S. Castro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995./1995) e continua prevalecendo a Imprensa Oficial , ao mesmo tempo em que quatorze novas empresas aparecem no cenário, por volta de 1910-1920: a Tipografia Mineira, a Tipografia Comercial, a Tipografia Oliveira e Costa, Tipografia Ondina, Tipografia Gomes, Tipografia Mineira de Rodrigues e Cia, Tipografia Progresso, Tipografia Gibraltar, Tipografia Athene , Tipografia Gualberto, Tipografia Vitória, Tipografia Americana, Tipografia Artística, Tipografia Moderna.

Tipografias, livrarias, papelarias?

A tipografia como atividade de impressão poderia se sustentar, sem outras ofertas de venda? Os anúncios indicam a oferta de um amplo leque de gêneros e suportes a serem impressos em várias cidades , ou seja, é grande a oferta de impressões avulsas. No entanto, pode ser que uma tipografia não se sustentasse apenas com encomendas de impressão, havendo necessidade de outras atividades comerciais. Isso pode explicar um conjunto de anúncios que mostra uma parceria de tipografias com livrarias e papelarias, sobretudo no que diz respeito à venda de insumos, atingindo um espectro maior de ações em torno da cultura escrita, sobretudo a manuscrita. Assim, a tipografia também precisa oferecer objetos para se inscrever à mão nos suportes que vendem como papel almaço, penas, canetas, papeis, envelopes e tintas, entre outros:

Caratinga: “Casa S. Geraldo unindo-se a typographia Antonina adquiriu um excelente sortimento de papeis, cartões, envelopes, facturas, livros, tinta, papel carbono, lápis, penas, cadernetas, lousas, cadernos escolares, e um grande sortimento de livros”. (O Município 1927 ed.1 p.4/). HBN

Ouro Preto -“Vende-se nesta typographia a 1500 o kilo de ótima tinta de impressão ou a 33500 o barril visto nos ter vindo diretamente da Europa grande quantidade deste gênero”. (Jornal de Minas 1891 ed.183 p.3) - HBN

Em várias cidades, as tipografias eram lugares de impressão e também de venda de livros em geral:

Barbacena: “nesta typographia informa-se quem vende por preços baratos os seguintes livros: dicionário italiano - portuguez por R. E. Raqueni/ Atlas do Brasil por Homem de Melo/ compendio de geografia por Otoni/ Historia antiga por M. Maia/ pequena historia do brasil por Lacerda/ Geographia da infância por Lacerda/ geografia das províncias por Moreira Pinto.” (Popular ed. 35. p.4, 1890. APM

Juiz de Fora - Typographia Torres. Antiga do Diário da Torre. Completamente reformada executa com nitidez e arte todos os trabalhos que lhe forem confiados, especialmente livros, jornais e outras publicações. Situada no melhor ponto da cidade encarrega-se sob razoável comissão, da venda de livros, jornaes e outras publicações. (O Pobre 1899 ed.1 p.4) APM

Leopoldina - Typographia do Mediador. Nas officinas desta d’esta typographia aprontam-se qualquer trabalho concernente à arte typographica com esmero e prontidão. Facturas, circulares, cartões de visita, cartas de enterro, notas, recibos, cartões, talões, participação de casamento, circulares, programas. Vende-se livros uteis. (O Mediador 1896 ed.54 p.4). APM

A instituição livraria, então, é mencionada raras vezes e ressalta-se que em pouquíssimas cidades, como Juiz de Fora (3), Ouro Preto (3) , Belo Horizonte (2) e regiões com intensa vida comercial, educacional, cultural. Muitas vezes a instituição livraria, tipografia e papelaria se misturam.

Ouro Preto: Papelaria, Livraria e Typographia de Augusto de Oliveira Campos. Sucessor de Baião e Campos. Participa a seus amigos e fregueses que recebeu um bonito e variadíssimo sortimento de papel, objetos para escritório e desenho, chromos de surpresa fantasia e para felicitações, o que há de mais lindo no mercado do Rio de Janeiro. Outrossim previne, que tendo sua typographia bem montada, acha-se habilitado a aceitar qualquer trabalho concernente a arte. (O Estado de Minas 1893 ed.356 p.4). APM. Grifos do autor

Ouro Preto: Papelaria Beltrão. Livraria e Typographia. Objetos de escritório e artigos de fantasia para presentes. Completo sortimento de livros comerciais e em branco. Grande stock de papeis de todas as qualidades. (A Arte, 1905 ed.20 p.2) HBN. Grifos do autor

Bello Horizonte- “Papelaria e livraria Oliveira, Costa e Cia. Deposito de papeis, objetos de escritório, lytographia, typographia, encadernação, livros, etc.” (A Revista. 1925 ed.1 p.57).11 11 Escrita por Carlos Drummond e Martins de Almeida. HBN. Grifos do autor

Juiz de Fora - Typographia Torres. Antiga do Diário da Torre. Completamente reformada executa com nitidez e arte todos os trabalhos que lhe forem confiados, especialmente livros, jornais e outras publicações. Situada no melhor ponto da cidade encarrega-se sob razoável comissão, da venda de livros, jornaes e outras publicações. (O Pobre 1899 ed.1 p.4) APM. Grifos do autor

Embora sejam evidenciadas pistas sobre locais onde se encontram livrarias - “Muitas livrarias existem, nas cidades onde estão escolas superiores e institutos secundários, havendo grande introducçao de revistas e livros extrangeiros, de artes, lettras e sciencias (francezes sobretudo), no Estado” (Annuário de Minas Gerais, 1906Annuário de Minas Geraes. Bello Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, 1906. Disponível em: https://bndigital.bn.br/annuario-de-minas-geraes/
https://bndigital.bn.br/annuario-de-mina...
, p. 183) - apareceram poucas evidências sobre esta instituição ou de instituição com essa denominação.

Quando livrarias, papelarias e tipografias se misturam nas funções, ora se distinguem pela oferta de insumos, instrumentos e acessórios de escrita , ora pela venda livros, revistas, etc mas, não existindo livrarias e papelarias, a instituição tipográfica também oferece outros produtos:

Araguary - “livros à venda: nesta typographia encontram-se diversos livros a venda, como sejam: Almanachs Uberabense, Cantos e Contos Pampeiros.” (Araguary, 1895. ed.66. P.4 APM)

Leopoldina: Livros em branco, superiores encontra-se na Livraria da typographia da Gazeta de Leopoldina” (Gazeta de Leopoldina 1898 ed.17 p.4 APM).

Isso confirma que as atividades comerciais das tipografias não se sustentam apenas com impressão de jornais. No próximo tópico, serão analisados a relação entre a oferta de serviços avulsos e outros usos da cultura escrita.

O que as tipografias imprimiam e ofereciam aos seus clientes, além dos jornais?

Retomando as informações dadas por Hallewell (2005HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.) de que a produção impressa de periódicos em Minas Gerais ficaria abaixo apenas do Maranhão, Pernambuco e São Paulo, cabe perguntar, para além dos jornais, o que mais se imprime?

É difícil trabalhar com a ideia de editoras no período selecionado e podemos supor que as tipografias estavam ligadas às atividades editoriais de jornais e outros periódicos e que, para outros impressos como livros, possivelmente, ocupavam poucas funções que conhecemos, próprias do processo mais amplo de edição que se relaciona a captar textos, cuidar da produção impressa, divulgar, comercializar, conforme a ideia de circuito do livro proposta por Darnton (1995DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1995). Na ausência de editoras, podemos supor que as tipografias que aparecem nas fontes concentravam suas atividades no processo de reprodução, seja de jornais, impressos avulsos ou, em raros locais, de livros, como se verá adiante.

Com o apoio estatal ou subsidiados pelos autores, no início do século XX, os livros didáticos de autores mineiros têm a primeira impressão feita na Imprensa Oficial, mas depois são transferidos para outras editoras, como ocorreu com o trabalho de Artur Joviano e Anna Cintra que foram reeditados pela Editora Francisco Alves, do Rio de Janeiro. (FRADE, 2010FRADE, Isabel. Arthur Joviano: um estudo sobre as relações entre autor, Estado, editoras, usuários e sobre o método de palavras em Minas Gerais, no início do século XX. In: SCWARTZ, Cleonara; PERES, Eliane; FRADE, Isabel (orgs.). Estudos de história da alfabetização e da leitura na escola. Vitória, ES: EDUFES, 2010.). Frade e Maciel (2006FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva e MACIEl, Francisca Izabel Pereira (orgs.). História da alfabetização: produção, difusão e circulação de livros. (MG, RS, MT - Século XIX e XX. Belo Horizonte. UFMG/FAE. 2006. ) também registram que, na primeira década do século XX, uma sucursal da Livraria Francisco Alves se instala na Rua da Bahia, mostrando que era do Rio de Janeiro a iniciativa de editora de livros didáticos produzidos em Minas Gerais.12 12 Segundo estudos de Matarelli e Queiroz (2011), é apenas na década de 50 do século XX que aparece a primeira editora em Minas Gerais, a Itatiaia .

Antes de responder à questão sobre quais produtos ou gêneros de escrita são oferecidos nas tipografias, há anúncios muito detalhados que mostram como funciona a vida social de um município ou as expectativas de uso da escrita neles contidas. Nota-se uma maior complexidade de ofertas no que podemos chamar de “polo tipográfico” nas cidades de Alfenas, Cataguases e Campanha e São João D’El Rei, exemplificada abaixo

São João d’El Rei -“Typographa do Resistente. Dispondo de vastas oficinas montadas com diversas machinas para todos os serviços e um pessoal techinico numeroso e hábil, aceitas contrato a impressão de jornais de grande ou pequeno formato, para dentro da cidade ou para fora, e assim também de mapas, relatórios de companhias e associações, obras literárias, romances, poesias, etc. [...] talões-recibo, em grande ou pequenos cadernos, solidamente brochados, facturas e notas comerciais a diversas cores, prospectos e anúncios avulsos, circulares, folhinhas, memorandos, rótulos para bebidas e preparados industriais ou farmacêuticos, etiquetas para fazendas, cartazes de reclame, papel impresso para embrulho, cartões com memorandos para comercio, cartões de visita simples e a fantasia, participação de casamento e batizado, cardápios, cartas para enterro e convites para missa, bilhetes para espetáculos, ditos para sorteios, lotéricas etc. (O Resistente 1902 ed.303 p.4) - HBN

Pelo detalhamento dos anúncios é possível relacionar o porte das cidades, as capacidade técnicas de impressão e de arte tipográfica, suas atividades comerciais ou industriais e formas de vida cultural que supostamente guardam relação com a cultura escrita. No anúncio de São João Del Rei, por exemplo, verificamos a presença de vários jornais, fábricas de tinta, ginásios, teatro. No entanto, mesmo em cidades de pequeno porte aparecem ofertas reduzidas de impressão avulsa como, por exemplo, numa cidade que possuía, no período, apenas um periódico: “Alvinópolis - Anúncio: Lindo e variado sortimento de cartões de visita nesta typographia. cartões comerciais nesta typographia com preços nunca vistos. (O Alvinópolis, 1916, ed.2 p.3) HBN.

Para dar uma ideia geral das ofertas ou expectativas de encomendas e possibilidades de uso, foram construídas listas com classificação de possíveis gêneros em anúncios de tipografias publicados em jornais mineiros encontrados hemeroteca da Biblioteca Nacional e do Arquivo Público Mineiro, entre 1889 e 1930. A partir dos gêneros ou suportes foram elencadas algumas esferas de atuação com a escrita.

Certamente há alguns problemas de classificação sem exame dos produtos impressos e fronteiras pouco demarcadas, por exemplo, entre a esfera informativa e religiosa. Um exemplo é o uso do termo “circulares” sem qualificação e o uso especificado em determinada esfera, como no exemplo: “circulares de qualquer espécie com emblemas religiosos”. Na mesma linha, alguns gêneros são melhor qualificados como “ rótulos para bebidas e preparados industriais ou farmacêuticos” e outros aparecem de forma genérica, entre outros nuances. O termo memorando, designado nos dicionários do século XIX como “algo digno de ser lembrado” que evoca um texto memorialístico ou um diário, aparece sozinho, ligado ao comércio e até como material pronto oferecido em caixas.

O repertório de materiais a serem impressos mostra a predominância da esfera da vida financeira e comercial (311 ocorrências ) e cotidiana (com 187 ocorrências), seguidas da informativa (97), publicitária (52), religiosa (11) civil e jurídica (8) , escolar (4) e literária (2), que serão apresentadas num quadro resumo (Quadro 1) e comentadas a seguir.

Quadro 1-
Esferas, gêneros anunciados e ocorrências

Comercial e financeira

As ofertas em torno da vida comercial e financeira são predominantes, ao mesmo tempo em que são as mais diversificadas. Há indícios de empresas de tecido, de venda de café, de bebidas , produtos farmacêuticos e outros produtos industriais. Na diversificação de gêneros prevalecem aqueles chamados recibos, faturas e notas que deviam se apresentar na forma de talões com formulários, portanto, supunham preenchimento pela via manuscrita, o que faz dialogar dois universos de formas registro e de circulação dos textos, o manuscrito e o impresso. (CHARTIER, 2002CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo. UNESP. 2002). Alguns são muito específicos, como os relatórios de companhias, ofertados em tipografia de São João Del Rei

Vida cotidiana

A esfera do cotidiano envolve escritas e o ciclo da vida, marcado por ciclos biológicos, sociais, civis e religiosos, como nascimento, casamento, morte, acentuando-se mais a oferta de impressos relacionados a possíveis festas de casamento e batizado, embora apareçam enterros, mas é notada a intensa oferta de “cartões de visita” que parecem inaugurar certas sociabilidades: a de se anunciar por escrito, mesmo quando as cidades e sua população permitem comunicações orais e possivelmente a maioria dos seus habitantes se conhecem. Há cidades, por exemplo, cujas tipografias oferecem apenas cartões de visita, como Peçanha (O Echo da Mata 1891 ed. 9 p.4, APM) e Ubá (Gazeta de Ubá 1895 ed.35 p.4, APM)

Outros anúncios destacam que ter cartões é uma forma de ser “chic”, um comentário que pode estar relacionado a um estilo de vida que se quer apresentar. No anúncio a seguir é indicada variedade, em termos de cores, tipos de papeis ou ilustrações. Mesmo considerando que não eram muitos os que podiam escrever ou ler, chama atenção o fato de estarem oferecendo produtos impressos já prontos e outros a serem impressos sob demanda, o que nos leva para a hipótese de complementariedade entre os modos impressos e manuscritos de escrita.

São Domingos do Prata - Acabamos de receber um lindo e variado sortimento de cartões de visitas - que há de bom: cartões a fantasia para homens, superiores, cartões a fantasia com flores, o que pode haver de mais chic, cartões de Bristol superiores, participações de casamento, o que pode haver de lindo neste gênero, facturas pautadas de um e dois lados, notas do mesmo modo, cartões comerciaes de cores, cartões de gelatina etc. (O Prateano 1895 ed.58 p.4) APM. Grifos do autor

Embora pouco frequentes, aparecem evidências de entretenimento, como carnets e convites para baile ou convites para teatro, assim como gêneros como “rol de roupas”, este último publicado em Juiz de Fora, que almejam instituir uma ordem gráfica para o registro doméstico nas cidades de maior porte.

Informativa

Na esfera informativa, prevalecem as circulares e foi identificada uma oferta de circular para a igreja, o que deixa mais tênue a classificação por esfera. Eram circulares para comunicar o quê? São em número de 22 anúncios que mostram impressos a serem expostos, como cartazes, e apenas em um anúncio o cartaz é qualificado como cartaz de reclame, o que deixa na sombra os tipos de cartazes que circulavam . No entanto, não podemos deixar de reforçar que a maioria dos anúncios é publicada por jornais que se somariam a produtos avulsos, trazendo esta esfera para nível superior às outras, pois é grande o número de jornais (129 em 178 municípios) encontrados na pesquisa sobre indicadores de circulação da cultura escrita em Minas Gerais (GALVÃO e FRADE, 2019GALVÃO, Ana Maria; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Cultura escrita em Minas Gerais nas primeiras décadas republicanas. In: CARVALHO, Carlos Henrique; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. (Org.) História Geral da Educação em Minas Gerais: da colônia à República. Uberlândia: EdUFU, 2019 ).

Publicitária

A concentração da oferta de rótulos na esfera publicitária mostra um uso específico de impressão para produtos individuais como tecidos, remédios, bebidas, além de supostas impressões em papeis de embrulho e se cruza com os usos comerciais ou de divulgação empresarial. Não há indícios de cartazes impressos a serem expostos no espaço público para leitura. Certamente os jornais locais dariam conta de cumprir a função de propaganda, já que a impressão de anúncios avulsos parece tão reduzida.

Religiosa

Sobre a esfera religiosa, vários estudos mostram que em vários países da Europa e nos Estados Unidos, esta foi uma das instâncias que mais alavancou os índices de alfabetização (GRAFF,1990GRAFF, Harvey. O mito do alfabetismo. Revista Teoria e Educação. Porto Alegre. Pannonica. 1990. p. 30-64.). Embora apareçam convites para missas e haja o emprego de cadernos para a escrita manuscrita para documentação da igreja, há poucas ofertas para impressão e isso significaria uma utilização reduzida da escrita nos rituais religiosos . A oferta de livros impressos (possivelmente com conteúdo em branco) indica que a maioria é preenchida com a escrita manuscrita, conforme um único anúncio específico dirigido aos vigários, na cidade do Serro:

Serro: “Aos Vigarios. Typographia Serrana avisa aos senhores Vigarios que tem a venda livros impressos, com qualquer numero de folhas, para tomarem assentos de batizados, casamentos, óbitos e proclamas de casamentos (...). (O Argonauta 1921 ed.34 p.4) - HBN

Outra relação pode ser estabelecida entre a baixa oferta de impressão de materiais religiosos pode estar ligada a uma produção específica de impressos pelas próprias tipografias religiosas, para além do que é publicado em seus jornais, como ocorre na Diocese de Marianna. Tendo em vista algumas ofertas no campo religioso, como a venda de livros religiosos, cabe assinalar que estes se concentram na leitura e não na escrita, esta última, possivelmente reproduzida por pessoal da igreja católica, muito mais que pelos fiéis.

Civil e jurídica

A esfera jurídica, com possíveis documentos como estatutos, códigos e procurações precisa ser confrontada ao modo como funciona o campo, uma vez que muita documentação cartorial e judicial possivelmente é feita de forma manuscrita no período, o que dispensaria materiais padronizados, mas não se pode usar a mesma hipótese para estatutos, oferecidas por tipografias de Mar de Hespanha e de Patrocínio e para códigos, que exigiriam um conteúdo específico. As ocorrências, assim como a classificação das esferas, feita neste artigo, não dão visibilidade e também não explicam determinados usos, como o da impressão de passaportes que aparece somente em Campanha (Monitor Sul Mineiro 1893 ed.1182 p.4, HBN)

Indo além dos gêneros, alguns anúncios relacionam o tipo de papel com a esfera jurídica, por exemplo, quando informam que o papel Diplomata inglês ou o pautado dos dois lados podem ser usados para a escrita no foro, que, pelo visto, parece ser mais específico das atividades de escrita da comarca. A baixa oferta reforça a presença da escrita manuscrita nessa esfera e os livros de ponto, de registro e procurações anunciados certamente seriam completados com a escrita manuscrita.

Escolar

Tendo em vista outros estudos, sabemos que a esfera escolar é a que mais faz circular obras em formato livro, que dependem de uma atividade editorial mais complexa. (BATISTA e GALVÃO, 2009BATISTA, Antônio Augusto Gomes; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. (Orgs.). Livros Escolares de Leitura no Brasil: elementos para uma história. Campinas: Mercado de Letras, 2009.). No entanto, há outros formatos como formulários e mapas de desempenho a serem preenchidos, cuja origem da impressão são mais desconhecidos (Frade, 2009FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Suportes, instrumentos e textos de alunos e professores em Minas Gerais: indicações sobre os usos da cultura escrita nas escolas no final do século XIX e início do século XX. História da Educação, Pelotas n. 29, p. 29-55, set./dez. 2009 ). Para este tipo de material, destinado ao mercado escolar e de natureza mais burocrática e administrativa, há ainda poucos indícios. A baixa oferta nos anúncios deixa vários questionamentos: a sua impressão e compra ficava a cargo do Estado e de sua tipografia oficial? Se era o Estado que supria as escolas, isso explica o fato de terem sido localizadas apenas uma menção a mapas escolares e duas menções a diplomas, duas na cidade de Oliveira (mapas escolares e diplomas) e uma em São João Del Rei?

Literária

Na esfera literária, são mais raros os anúncios que falam da impressão de livros, opúsculos, excetuando-se as cidades de São João Del Rei que se oferece para imprimir “obras literárias, romances, poesias, etc.” (O Resistente 1902 ed.303 p.4, HBN) e Cataguazes onde “Executam-se quaisquer serviços typographicos como sejam: livros, opúsculos e avulsos” . (O Estandarte 1911 ed.1 p.4, HBN) . Nesse sentido, haveria pouca produção literária local ou os escritores encomendariam a impressão de suas obras em estados como o Rio de Janeiro?

A pesquisa sobre formatos ofertados mostra que a impressão de livros é vislumbrada na ofertas de 13 municípios, o que pode indicar alguma produção literária ou de instrução, nas cidades de Araguary, Barbacena, Campanha, Cataguazes Itabira, Itapecerica, Leopoldina, Januária, Juiz de Fora, Mar de Hespanha, Ouro Preto, Palmas e Uberaba. Talvez a publicação de folhetins nos próprios jornais abarcasse a produção literária escrita das localidades. Folhetins religiosos, por exemplo, são anunciados no próprio jornal D. Viçoso, como contos morais ou vida de santos. Outros periódicos, como o da cidade de Christina, anuncia “o jornal da cidade possui uma seção literária onde se publicam poemas e também o folhetim “Graziela” por A de Lamartine. (Gazeta da Cristina 1892 ed.9 p.2)

Mas as esferas se cruzam e precisam ser novamente relacionadas com outros fatores. No caso da oferta de impressão de estatutos e relatórios, fica a cargo do público visado a produção dos manuscritos. Este tipo de anúncio, dirigido a companhias e associações, um deles publicado em São João D’El Rei, mostra a imbricação entre as atividades econômicas e comerciais e o estatuto jurídico que envolve os escritos em cidades com indústrias e outras atividades financeiras. Não se apresentam as funções de cada impresso quando se anunciam as ofertas e é muito incomum uma especificação, como a que aparece numa cidade São Sebastião do Paraíso, localizada no Sul de Minas, que se relaciona caderno de recibos com os negócios do café: “cadernos de recibo com talões para colheita de café imprime-se nesta typographia. Trabalho limpo” (A Voz do Paraíso 1901 ed.9 p.4, HBN)

A esfera comercial e financeira se cruza com a publicitária e artístico-cultural, quando vemos anúncios, rótulos e etiquetas, talvez indicando uma produção artesanal ou industrial de remédios, tecidos e bebidas em algumas cidades do estado ou determinadas sociabilidades envolvendo entretenimento, como programação de teatro, bilhetes para circo ou teatro, carnets de teatro, carnets de baile, uso de menus cardápios em restaurantes ou segundo as fontes especificam “Menu para jantares” A existência de grupos teatrais ou musicais na cidade ou recebimento de companhias equestres (companhias circenses) também deve ser associada aos anúncios, para a compreensão sobre a que se referem tanto a cartazes (escritas expostas publicamente) ou de circulação individual, como os bilhetes ou programações que aparecem em Araxá, São João D’El Rei e Pomba:

São João D’el Rei - TEATRO MUNICIPAL. Sábado 20 de janeiro, grande festival artístico em beneficio da egreja matriz. Esplendido espetáculo variado pelo celebre ilusionista Faure Nicolay e suas festejadas filhas Rosinha e Paula, noite de maravilhas. O resto dos bilhetes encontram-se no teatro, preço e hora de costume. (A Pátria Mineira 1894 ed.221 p.3) - APM. Grifos do autor

Pomba - Teatro Municipal. Hoje, ás horas de costume, há espetáculo neste teatro, em beneficio da corporação musical - União dos Artistas. Pela programação que recebemos, o espetáculo de hoje será variadíssimo, pois além de um e de uma comédia, a corporação musical tocara excelentes e bem escolhidas peças. (Pátria 1897 ed.24 p.3) APM. Grifos do autor

Conclusão

Os estudos sobre produção, circulação e usos dos textos precisam se voltar para esferas mais amplas e para instâncias de produção específicas que revelam, como nos indicam, Chartier (2002CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo. UNESP. 2002, 1994), Petrucci (1999PETRUCCI, Armando. Alfabetismo, escritura, sociedade. Barcelona.Editorial Gedisa, 1999.) Darnton (1995DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1995,2010DARNTON, Robert. A questão dos livros. Passado, presente e futuro. São Paulo. Companhia das letras. 2010. ), Gomez (1995GÓMEZ, Antonio Castillo. Historia da la cultura escrita. Ideas para el debate. Revista Brasileira de História da Educação. N. 5. jan/jun. 2003. p. 93 a 124),a materialidade e os simbolismos de uma cultura escrita que se produz num tempo , aqui denominado “tempo da produção”, num tempo histórico e numa região.

Por outro lado, não se pode isolar a cultura impressa da manuscrita, uma vez que os usos da escrita implicam numa hibridização, sobretudo para atividades de preenchimento por escrito nos formulários impressos. A presença da escrita manuscrita é reforçada nos preenchimentos à mão de impressos e também na materialidade ou metáfora de ofertas de “livros em branco”.

Os suportes se misturam com os gêneros textuais oferecidos, mas com relação às formas materiais aparecem os termos cartões, blocos, cadernetas, cartazes, folhetos, prospectos, etiquetas, livros em branco, vales, bilhetes, que implicam em baixo volume de texto, além de livros em branco ( com 15 ofertas) e formulários, recibos, por exemplo, com textos a serem preenchidos pela escrita manuscrita. Com exceção dos cartazes que lembram escritas expostas, o restante é de consumo mais privado.

Embora tenham sido identificadas 10 ofertas de impressão no formato livro pelas tipografias de Campanha, Cataguazes, Itabira, Itapecerica, Januária, Juiz de Fora, Mar de Hespanha, Ouro Preto, Palmas e Uberaba, isso ainda parece reduzido, o que não significa que não havia demanda para impressão, seja para a esfera escolar ou literária. Isso pode se ligar à atividade editorial subsidiada pelo estado ou também à inexistência, em Minas Gerais, de editoras estrangeiras ou nacionais que já operavam no Brasil no século XIX, sobretudo no Rio de Janeiro e que certamente articulavam, além da função da impressão, as tarefas de captar textos, diagramar, divulgar e vender as obras .

Considerando as tradições de associar Estado, igreja e comércio como instâncias que antecedem a escola ou se somam a ela (Hébrard, 1990HÉBRARD, Jean. A escolarização dos saberes elementares na época moderna. Teoria e Educação, Porto Alegre, n. 2, 1990. p. 65-110) e que estariam ligadas aos usos da escrita, cabe perguntar: por que tão pouca oferta nas oficinas tipográficas, relacionadas à igreja, escola e literatura ? No caso da igreja e da escola, talvez sejam menos onerosos e mais reutilizáveis os materiais para a leitura do que para a escrita, além de ser mais perene a influência da escrita manuscrita na produção de documentos.

Ao verificar ofertas de produção dos impressos, vemos como a tipografia, gráfica ou editora se estabelecem numa relação com outros desenvolvimentos e sociabilidades envolvendo a escrita, não sendo, portanto, uma variável isolada (GRAFF, 1990GRAFF, Harvey. O mito do alfabetismo. Revista Teoria e Educação. Porto Alegre. Pannonica. 1990. p. 30-64., HÉBRARD, 1990HÉBRARD, Jean. A escolarização dos saberes elementares na época moderna. Teoria e Educação, Porto Alegre, n. 2, 1990. p. 65-110). Ao mesmo tempo, materiais impressos podem se instituir na concorrência com a cultura manuscrita e sua tradição.

Além das impressões sob demanda, há uma padronização de impressos ofertados, o que significa que estes devem ser usos mais demandados em uma cidade de grande porte e que certamente dependerão de um preenchimento manuscrito, como ocorre na cidade de Juiz de Fora que tem para pronta entrega recibos para aluguel e comércio, rol de roupas para famílias, procurações e notas de expedições para a estrada de ferro, entre outros.

No entanto, ao mesmo tempo em que as ofertas são um indício de uso ou os incentivam, é difícil analisar qual grupo faz uso dos impressos, embora se possam estabelecer relações entre os usos, o porte e atividades desenvolvidas nas cidades. Retomando os índices da alfabetização, GALVÃO e FRADE (2019GALVÃO, Ana Maria; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Cultura escrita em Minas Gerais nas primeiras décadas republicanas. In: CARVALHO, Carlos Henrique; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. (Org.) História Geral da Educação em Minas Gerais: da colônia à República. Uberlândia: EdUFU, 2019 :41) concluem que” para a maioria da população mineira (68,9%) a possibilidade de usar de modo autônomo a palavra escrita não era algo que fazia parte do seu cotidiano da comunidades e cidades onde viviam “. Assim, embora apareçam anúncios de diversos produtos e a oferta de preços módicos que traz uma ideia se consumo “popular”, certamente o público alvo era reduzido.

Até que ponto tipografia se confunde, na arte de imprimir, com a arte de divulgar e de oferecer impressos para a vida social, comercial, religiosa? O passeio pelos anúncios revela que expectativas de uso da escrita são construídas pela via da impressão e que a atividade tipográfica também repercute os usos da escrita que são feitos na época. Os anúncios escondem, ao mesmo tempo, parte dos escritos à mão que devem ter circulado no período.

Referências

  • BATISTA, Antônio Augusto Gomes; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. (Orgs.). Livros Escolares de Leitura no Brasil: elementos para uma história. Campinas: Mercado de Letras, 2009.
  • CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Universidade de Brasília, 1994
  • CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita São Paulo. UNESP. 2002
  • CHARTIER, Roger. Literatura e cultura escrita: permanência das obras, mobilidade dos textos, pluralidade das leitura. CHARTIER, R., RODRIGUES, José, MAGALHÃES, Justino. Escritas e cultura na Europa e no Atlântico Modernos. Centro de História da Universidade de Lisboa | Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Lisboa. 2020
  • DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1995
  • DARNTON, Robert. A questão dos livros. Passado, presente e futuro. São Paulo. Companhia das letras. 2010.
  • FRADE, Isabel. Arthur Joviano: um estudo sobre as relações entre autor, Estado, editoras, usuários e sobre o método de palavras em Minas Gerais, no início do século XX. In: SCWARTZ, Cleonara; PERES, Eliane; FRADE, Isabel (orgs.). Estudos de história da alfabetização e da leitura na escola Vitória, ES: EDUFES, 2010.
  • FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Suportes, instrumentos e textos de alunos e professores em Minas Gerais: indicações sobre os usos da cultura escrita nas escolas no final do século XIX e início do século XX. História da Educação, Pelotas n. 29, p. 29-55, set./dez. 2009
  • FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva e MACIEl, Francisca Izabel Pereira (orgs.). História da alfabetização: produção, difusão e circulação de livros. (MG, RS, MT - Século XIX e XX. Belo Horizonte. UFMG/FAE. 2006.
  • GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa. In: MARINHO, Marildes, CARVALHO, Gilcinei (orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2010
  • GALVÃO, Ana Maria de Oliveira e FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva Dossiê - Apresentação. Rev. bras. hist. educ., Maringá-PR, v. 16, n. 1 (40), p. 207-214, jan./abr. 2016. p. 207/208
  • GALVÃO, Ana Maria; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Cultura escrita em Minas Gerais nas primeiras décadas republicanas. In: CARVALHO, Carlos Henrique; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. (Org.) História Geral da Educação em Minas Gerais: da colônia à República. Uberlândia: EdUFU, 2019
  • GÓMEZ, Antonio Castillo. Historia da la cultura escrita. Ideas para el debate. Revista Brasileira de História da Educação. N. 5. jan/jun. 2003. p. 93 a 124
  • GRAFF, Harvey. O mito do alfabetismo. Revista Teoria e Educação. Porto Alegre. Pannonica. 1990. p. 30-64.
  • HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.
  • HÉBRARD, Jean. A escolarização dos saberes elementares na época moderna. Teoria e Educação, Porto Alegre, n. 2, 1990. p. 65-110
  • MATARELLI, Juliane; QUEIROZ, Sônia (org.) Editoras mineiras: panorama histórico. v. 1. 2ed. revisada. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2011.
  • PETRUCCI, Armando. Alfabetismo, escritura, sociedade. Barcelona.Editorial Gedisa, 1999.

Fontes

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  • Almanach Municipal de Barbacena. Barbacena. 1898. Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervodigital
    » http://bndigital.bn.br/acervodigital
  • Almanach de Juiz de Fora para 1897 - Publicação commercial, industrial, agricola e litteraria. Juiz de Fora: Matoso & Medeiros, 1897. http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/almanach-juiz-fora/214329
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  • Annuário de Minas Geraes. Bello Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, 1906. Disponível em: https://bndigital.bn.br/annuario-de-minas-geraes/
    » https://bndigital.bn.br/annuario-de-minas-geraes/

BNDigital

  • 1
    “reunir, em uma história de longa duração, os diferentes suportes de escrita e as diversas práticas que a produzem ou que dela se apropriam”
  • 2
    Conforme www.iof.mg.gov.br
  • 3
    Ouro Preto foi designada capital de Minas Gerais em 1823 e a capital foi transferida para Belo Horizonte em 1893.
  • 4
    Almanach Municipal de Barbacena. Barbacena. 1898Almanach Municipal de Barbacena. Barbacena. 1898. Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervodigital
    http://bndigital.bn.br/acervodigital...
    . Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervodigital
  • 5
    Não sabemos se o termo editado queria dizer impresso naquele local ou produzido no local , mas de qualquer forma, estes são indícios do parque editorial montado na cidade que recebeu, posteriormente, encomendas de impressão até da capital do estado
  • 6
    Para referenciar os anúncios será utilizada a abreviatura HBN para designar Hemeroteca da Biblioteca NacionalHemeroteca da Biblioteca Nacional - Publicações Seriadas | Biblioteca Nacional(https://bn.gov.br/)
    https://bn.gov.br/...
    e APM para designar o acervo do Arquivo Público MineiroHemeroteca do Arquivo Publico Mineiro - http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/jornais
    http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modu...
    .
  • 7
    http://www.angelospricigo.com.br/. A relação entre indústrias e seus equipamentos e a cultura escrita não é foco deste artigo e precisa ser aprofundada.
  • 8
    Guia de Fundos e Coleções (cultura.mg.gov.br)
  • 9
    Segundo o Anuário de 1913Annuário de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado. 1913. Disponível em https://bndigital.bn.br/annuario-de-minas-geraes/
    https://bndigital.bn.br/annuario-de-mina...
    , op.cit.
  • 10
    A esse respeito ver DUARTE, R. G. C. A Experiência de ser tipógrafo e a ação da Associação Beneficiente Tipográfica no movimento operário de Belo Horizonte. (1897-1930). 2011. Universidade Federal de Uberlândia. 150 f.
  • 11
    Escrita por Carlos Drummond e Martins de Almeida.
  • 12
    Segundo estudos de Matarelli e Queiroz (2011MATARELLI, Juliane; QUEIROZ, Sônia (org.) Editoras mineiras: panorama histórico. v. 1. 2ed. revisada. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2011.), é apenas na década de 50 do século XX que aparece a primeira editora em Minas Gerais, a Itatiaia

Editado por

Editora responsável:

Patrícia Weiduschadt

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Jul 2022
  • Aceito
    11 Fev 2023
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